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Atualizado às: 20 de dezembro, 2007 - 12h55 GMT (10h55 Brasília)
Resumo
A Tensão Pré-Menstrual (TPM) é uma síndrome comum em mulheres na fase reprodutiva, sendo
caracterizada por sintomas físicos e emocionais que ocorrem de forma cíclica durante a fase lútea
do ciclo menstrual. Mulheres que apresentam sintomatologia mais severa são classificadas como
portadoras de Distúrbio Disfórico Pré-Menstrual (DDPM). Ambas as situações clínicas podem se
manifestar com uma grande variedade de sintomas, incluindo depressão, labilidade emocional,
distensão abdominal, mastalgia, cefaleia e fadiga. O manejo e tratamento adequados dos
sintomas pré-menstruais têm sido uma grande incógnita para os clínicos. Porém, com base em
vários estudos científicos realizados na última década, hoje há critérios diagnósticos para a forma
mais severa desta condição clínica, a DDPM, assim como novas estratégias terapêuticas. Esta
revisão apresentou uma descrição prática e compreensiva do que os clínicos necessitam saber
para diagnosticar e tratar os sintomas pré-menstruais, assim como critérios diagnósticos para
diferenciação de TPM e DDPM.
Introdução
A Tensão Pré-Menstrual, também conhecida como TPM, acomete milhões de mulheres durante a
vida reprodutiva em todo o mundo. Essa síndrome é caracterizada pela recorrência dos sintomas
durante a fase lútea do ciclo menstrual e tem início geralmente entre 25 e 35 anos. Mulheres que
apresentam sintomatologia mais severa podem ser caracterizadas como portadoras de Distúrbios
Disfóricos Pré-Menstruais (DDPM). Em ambos os casos, os sintomas normalmente diminuem
com o início do sangramento menstrual. Cerca de 85% de todas as mulheres que menstruam
relatam apresentar pelo menos um ou mais sintomas pré-menstruais. Porém, somente cerca de 2
a 10% das mulheres que menstruam relatam sintomas incapacitantes. Mais de 200 sintomas têm
sido associados com a TPM, porém os mais descritos são irritabilidade, tensão e alteração do
humor1.
Definição
TPM
De acordo com recente protocolo publicado no Royal College of Obstetricians and
Gynaecologists (RCOG)2, a TPM é uma síndrome composta por manifestações físicas,
emocionais e comportamentais que acomete mulheres em fase reprodutiva na ausência de doença
orgânica ou mental que possa simular os sintomas. Essas manifestações clínicas ocorrem
regularmente durante a fase lútea do ciclo menstrual (após ovulação) e desaparecem ou reduzem
significativamente ao término do sangramento menstrual3. A sintomatologia e seu grau de
intensidade podem variar de mulher para mulher. Os sintomas da TPM se distinguem das
alterações fisiológicas do ciclo menstrual, pois causam alterações nas atividades diárias da
paciente e, geralmente, antecedem a menstruação. Os sintomas, descritos abaixo, ocorrem na
ausência de tratamento farmacológico e melhoram ou desaparecem após quatro dias do início da
menstruação: - sintomas emocionais: depressão, agressividade, irritabilidade, ansiedade,
confusão mental e isolamento social; - sintomas físicos: mastalgia, distensão abdominal, cefaleia
e edema de extremidades.
DDPM
Conhecida como uma forma severa da TPM, a DDPM é caracterizada por sintomas físicos e
comportamentais mais graves, causando importante alteração na vida social das portadoras
durante a fase lútea do ciclo menstrual. Acredita-se que esses sintomas são resultantes da
interação entre os neurotransmissores do sistema nervoso central e os hormônios normalmente
produzidos durante o ciclo menstrual. O tratamento geralmente baseia-se na mudança do estilo
de vida, no uso de medicações sintomáticas e, quando necessário, no uso de antidepressivos
específicos5. Os sintomas geralmente ocorrem na semana que antecede a menstruação e
desaparecem nos primeiros dias após o início do sangramento. Os sintomas podem afetar a vida
pessoal da mulher em seu trabalho, na escola, em atividades do dia-a-dia ou, até mesmo, nos
relacionamentos interpessoais. Para que se caracterize o quadro como DDPM, a paciente deve
apresentar pelo menos cinco dos seguintes sintomas: - depressão importante associada a
desilusão ou falta de solução para sua dor; - tensão e ansiedade em excesso; - importante
labilidade emocional; - irritabilidade e raiva; - diminuição do interesse em atividades do dia-a-
dia ou isolamento social; - falta de energia; - mudança de apetite (para mais ou para menos); -
mudança no sono (hipersonia ou insônia); - sensação de perda do controle; - dificuldade de
concentração; - sintomas somáticos, como distensão abdominal, mastalgia, cefaleia ou dores nas
articulações
Conduta
Terapia medicamentosa
O tratamento inicial baseia-se em medidas não farmacológicas. Após período de dois a três
meses, nos casos sem melhora dos sintomas ou nas pacientes que preencham os critérios para
DDPM, inicia-se a terapia medicamentosa (Tabela 1)1.
Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS)
Essas drogas são consideradas de primeira linha no tratamento da TPM grave ou DDPM6,7,
sendo eficazes no alívio dos sintomas físicos e comportamentais, com taxas de sucesso descritas
entre 50 a 70%8(A). Seu mecanismo de ação não está esclarecido, mas sabe-se que não se baseia
em suas propriedades antidepressivas e ansiolíticas, uma vez que são necessárias de 4 a 6
semanas de uso da medicação (como antidepressivo), e para o início dos efeitos na TPM, é
necessário apenas o período de 24 a 48 horas. Supõe-se que a droga possua capacidade de alterar
o metabolismo da alopregnanolona. As drogas podem ser utilizadas de forma contínua ou
intermitente. A terapia intermitente é tão eficaz quanto a terapia contínua e apresenta a vantagem
de representar menor custo mensal e menor incidência de efeitos colaterais. Existem dois
regimes intermitentes: o uso durante 12 a 14 dias na fase lútea do ciclo e o uso apenas nos dias
de manifestação da sintomatologia. Em ambos os regimes, a terapia é descontinuada no 1º ao 3º
dia da menstruação. Apesar de bem toleradas, essas drogas apresentam alguns efeitos colaterais,
sendo os mais comuns: fadiga, cefaleia, boca seca, tonteira, diminuição da libido, sensação de
tremor e sudorese4, 8. Ansiolíticos O alprazolam apresenta propriedade ansiolítica, com efeito
clínico comprovado nos sintomas de tensão, ansiedade e irritabilidade. Entretanto, essa
medicação é considerada como de segunda linha de tratamento por sua capacidade de causar
dependência 4 (B). A buspirona possui efeito ansiolítico sem o efeito da dependência8. Análogo
do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) Considerada como droga de terceira linha de
tratamento, seu uso é resguardado para casosmuito graves, refratários ao tratamento
convencional2,5(A). O uso do análogo de GnRH traz como consequência de suas propriedades
antiestrogênicas manifestações clínicas como fogachos, atrofia vaginal e osteoporose. Caso a
duração do tratamento seja superior a seis meses, recomenda-se realizar a reposição hormonal
com tibolona ou estrogênio 1,2,5,8. DanazolAndrogênio sintético que inibe a secreção de LH e
FSH, suprimindo a função ovariana. Seu uso é limitado, devido aos seus efeitos androgênicos e
antiestrogênicos, como amenorreia, acne, aumento de peso, retenção urinária, fogachos, secura
vaginal e labilidade emocional1, 5 (A). Bromocriptina Agonista da dopamina, responsável por
reduzir os níveis séricos da prolactina. Reduz a mastalgia, porém o mecanismo de ação não é
compreendido. Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas e vômitos 5,9 (C).
Espironolactona Diurético poupador de potássio, responsável por redução de edema, redução do
desconforto mamário, redução da distensão abdominal e melhora da acne. O uso prolongado
dessa droga pode estar associado a efeitos colaterais como letargia, cefaleia e irregularidade
menstrual. Assim sendo, seu uso é recomendado somente na fase lútea5(C)
Paiva SPC, Paula LB, Nascimento LLO
Bromocriptina
Parlodel 2,5 mg/dia Náuseas, tonteira C
Diurético
Espironolacton 50 a 100 mg/dia Efeitos antiestrogênicos, C
hipercalemia, cefaleia,
letargia e
irregularidade menstrua
Progesterona A
DIU-Mirena 52 mg Levonorgestrel l (LNG) Spotting
ACO
Etinilestradiol 20 μg Cefaleia, náuseas, B
mastalgia e dor
abdominal
+ Drospirenona 3 mg
Conclusão
A TPM é uma síndrome comum em mulheres na fase reprodutiva. Mulheres que apresentam
sintomatologia mais severa são classificadas como portadoras de DDPM. Ambas as situações
clínicas podem se manifestar com uma grande variedade de sintomas, incluindo depressão,
labilidade emocional, distensão abdominal, mastalgia, cefaleia e fadiga. O manejo e tratamento
adequados dos sintomas pré-menstruais têm sido uma grande incógnita para os clínicos.
Mulheres com sintomas leves devem ser instruídas a realizar mudanças em seu estilo de vida,
como manter uma dieta saudável, praticar atividade física regular e atividades para redução do
estresse. Mulheres com sintomatologia mais intensa devem fazer uso de medicação, suplementos
e vitaminas, além de realizar mudanças em seus hábitos. Porém, é importante que o clínico esteja
sempre atualizado e saiba dos riscos inerentes ao uso de medicamentos comumente utilizados
atualmente, principalmente com relação às terapias alternativas e complementares.
Leituras suplementares
Tensão Pré-Menstrual (TPM): uma revisão baseada em evidências científicas FEMINA| Junho
2010| vol. 38| nº 6315
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