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RELATÓRIO DE ESTÁGIO E
MONOGRAFIA
2016
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
RELATÓRIO DE ESTÁGIO
2016
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VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
RESUMO
O presente relatório de estágio descreve as actividades desenvolvidas durante o
estágio curricular em Análises Clínicas, realizado no Laboratório SOERAD, em Torres
Vedras, nas áreas de Bioquímica Clínica, Hematologia, Imunologia e Gasimetria.
Durante o período de estágio, que teve duração de seis meses, desenvolvi uma
série de aptidões que incluem aptidões interpretativas, através da análise e resolução de
casos clínicos, aptidões sociais a partir do contacto directo com os utentes e com as
técnicas superiores que muito me ajudaram e que sempre se mostraram disponíveis para
esclarecerem as minhas dúvidas, e aptidões técnicas através do manuseio dos aparelhos
automáticos e da realização de procedimentos das técnicas manuais.
Na área da Bioquímica Clínica tive a oportunidade de proceder à determinação
de vários parâmetros químicos, em amostras de plasma, soro, urina, e outros líquidos
biológicos, com recurso ao aparelho automático RX Daytona e à realização de técnicas
manuais, nomeadamente a pesquisa de sangue oculto nas fezes.
Na área da Hematologia realizei o estudo dos vários componentes constituintes
do sangue, da coagulação, e da velocidade de sedimentação eritrocitária, com recurso
aos aparelhos automáticos Sysmex XT-1800i, Sysmex CA-500 e Sediplus S2000,
respectivamente, e aperfeiçoei técnicas manuais como são exemplos a coloração das
lâminas dos esfregaços sanguíneos, o teste de imumofenotipagem sanguínea do sistema
ABO e Rh, e a contagem dos reticulócitos.
Na área de Imunologia procedi à determinação automática dos parâmetros CK-
MB e Troponina I, e à realização de técnicas manuais, nomeadamente VDRL-RPR,
Monoteste, pesquisa de canabinóides na urina, e o teste imunológico da gravidez.
Por fim na área da gasimetria estudei a avaliação do pH e dos gases do sangue
arterial, através da determinação do pH, da concentração do ião bicarbonato, da pressão
parcial de dióxido de carbono, do excesso de bases, da pressão parcial de oxigénio, da
saturação do oxigénio, e da concentração das várias fracções de hemoglobina, pelo
aparelho automático Rapidpoint 400.
Durante o presente estágio também foram observadas as fases pré e pós-analítica
através da assistência de colheitas de amostras biológicas no posto de colheitas Doutora
Isabel Tinoco, e através da visualização, validação e interpretação de boletins de
resultados.
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VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
ABSTRACT
The present internship report describe the activities developed during the
traineeship in Clinical Analysis, that was developed in SOERAD Laboratory, in Torres
Vedras, on the areas of Clinical Biochemistry, Hematology, Immunology and
Gasometry.
During the traineeship, which lasted six months, I developed several skills,
which include interpretative skills, by analyzing and solving clinical cases, social skills
through the direct contact with the patients and with the clinical technicians that help me
a lot and always answer to my questions, and technical skills by handling the auto-
analyzers and by performing manual procedures.
In the Clinical Biochemistry area I had the opportunity to make the
determination of several parameters on plasma, serum, urine and other fluids, using the
RX Daytona auto-analyzer and performing manual procedures as the fecal occult blood
test.
In the Hematology area I accomplished the study of several components of the
blood, the study of coagulation and the study of erythrocyte sedimentation rate, using
the Sysmex XT-1800i, Sysmex CA-500, and Sediplus S-2000 auto-analyzers,
respectively, and I improved some manual procedures like staining of slides of blood
smears, the immunophenotyping test ABO and Rh system, and the reticulocytes count.
In the Immunology area I preceded the automatic determination of CK-MB and
Troponin I, using the auto-analyzer Mini-Vidas, and I perform manual procedures that
include VDRL-RPR test, Monotest, screen test of cannabinoids in urine and the immune
pregnancy test in urine.
Finally in the gasometry area I studied the evaluation of pH and gases on the
arterial blood, trough determination of pH, concentration of bicarbonate ion, carbon
dioxide partial pressure, base excess, oxygen partial pressure, oxygen saturation, and
concentration of the hemoglobin fractions, in the Rapidpoint 400 auto-analyzer.
During the traineeship, the pre and pos-analytical phase were also observed by
watching biological samples crops, in the crops post Isabel Tinoco Doctor, and by
visualization, validation and interpretation of results sheets.
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ÍNDICE
1. Fase pré-analítica………………………………………………………………………. 9
1.2.Triagem…………………………………………………………………………… 15
2. Fase analítica…………………………………………………………………………… 17
2.2. Hematologia……………………………………………………………………… 80
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Monoteste……………………………………………………………………........ 121
VDRL (Veneral Disease Research Laboratory) – RPR (Rapid Plasma
121
Reagin)…………………………………………………………………………………….
Diagnóstico imunológico da gravidez (DIG)…………………………………….. 123
5. Conclusão………………………………………………………………………………. 147
6. Bibliografia…………………………………………………………………….............. 148
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1. FASE PRÉ-ANALÍTICA
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A urina aleatória é uma amostra biológica que é colhida a qualquer hora do dia,
sendo muito utilizada na determinação da microalbuminúria, e da glicosúria nas provas
de tolerância à glucose oral.
A sua colheita é feita do mesmo modo que a urina tipo II.
A colheita das fezes é pedida mais comumente para a pesquisa de sangue oculto,
para a pesquisa de ovos, quistos ou parasitas ou para a realização de coprocultura.
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inconveniente para o utente, pois é um teste moroso, na medida em que o paciente tem
que ficar na sala de colheitas durante um período de duas horas, requer que sejam
realizadas duas a três (no caso das grávidas) colheitas de sangue com um intervalo de
uma hora, que o utente ingira uma solução aquosa glicosada, e realize uma preparação
prévia na qual deve estar em jejum pelo menos nas últimas 8 a 14 horas, não devendo
porém realizar uma dieta restrita em hidratos de carbono nem diminuir o ritmo de
exercício físico nos três dias que antecedem a prova.
O procedimento geral desta prova inclui o doseamento inicial da glucose na
urina seguida das colheitas de sangue em jejum e após a sobrecarga com glucose. No
entanto o modo de proceder é diferente no caso das grávidas e no caso dos adultos
diabéticos, não diabéticos e não grávidas. No caso das grávidas, o doseamento dos
níveis de glucose no sangue são avaliados em três tempos diferentes, nomeadamente aos
0, 60 e 120 minutos, enquanto os níveis de glucose na urina apenas são determinados no
tempo zero. O primeiro passo é a recolha de sangue para o tubo de soro e a recolha da
primeira urina da manhã para um frasco de urina do tipo II. Nesta última amostra, com a
ajuda de tiras-teste, procede-se à determinação dos níveis de glucose na urina com o
objetivo de se saber se é possível prosseguir a prova ou não. Caso o nível de glicosúria
for inferior a 120 mg/dL pode-se prosseguir a prova, realizando a sobrecarga com 75g
de glucose através da ingestão de um soluto glicosado, que não deve prolongar-se para
além de três minutos. Pelo contrário, caso o nível de glicosúria for superior a 120 mg/dL
não se pode efectuar a sobrecarga com glucose, tendo-se que enviar o sangue para o
laboratório para se proceder ao doseamento da glucose no sangue. Se o nível de glucose
no sangue for inferior a 120 mg/dL pode-se prosseguir a prova, realizando o
procedimento acima referido; caso o nível de glucose no sangue for superior a 120
mg/dL a prova não é executada.
No caso dos indivíduos adultos (diabéticos, não diabéticos e não grávidas) o
procedimento é semelhante ao descrito para o caso das mulheres grávidas com a
diferença de que os níveis de glucose no sangue e urina são determinados aos 0 e 120
minutos.
Tendo como base esta prova, é critério de diagnóstico de Diabetes Mellitus a
obtenção de um valor de glicémia aos 120 minutos após sobrecarga com 75g de glucose
superior ou igual a 200 mg/dL. Pelo contrário se o valor de glicémia aos 120 minutos
após a sobrecarga com 75g de glucose for inferior a 140 mg/dL considera-se que o
utente apresenta um grau normal de tolerância à glucose. Existem ainda casos de
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tolerância diminuída à glucose, em que os níveis de glucose aos 120 minutos após
sobrecarga com 75g de glucose não obedecem aos critérios de diagnóstico de Diabetes
Mellitus e são mais elevados que os considerados de referência, situando-se entre
valores de 140 mg/dL a 199 mg/dL.
No caso das grávidas, o diagnóstico de diabetes gestacional é realizado quando
dois ou mais dos seguintes critérios forem obtidos: valor da glicémia em jejum (tempo
zero) superior a 95 mg/dL; valor da glicémia ao fim de uma hora após sobrecarga com
75g de glucose superior ou igual a 180 mg/dL; ou valor da glicémia ao fim de duas
horas após sobrecarga com 75g de glucose superior ou igual a 155 mg/dL.
1.2. TRIAGEM
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2. FASE ANALÍTICA
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A Bioquímica Clínica é uma das várias secções pertencentes à fase analítica, que
por meio do emprego de metodologias e técnicas químicas, imunológicas e cinéticas,
permite a determinação de uma vasta gama de parâmetros no soro, plasma, urina ou em
outros líquidos biológicos, e a análise sumária da urina do tipo II, possibilitando o
diagnóstico, tratamento e monitorização de processos patológicos.
Na realização das análises químicas é utilizado o auto-analisador RX Daytona da
Randox (figura 1). Este equipamento permite a determinação de vários parâmetros em
várias amostras diferentes como soro, plasma, urina, sobrenadantes e líquido
cefalorraquidiano, através da execução de técnicas de espectrofotometria, cinética
enzimática, potenciometria indirecta e turbidimetria. Apesar de ter capacidade de
efectuar a determinação de um maior número de parâmetros, no laboratório SOERAD
apenas se realizam os seguintes testes: Fosfatase alcalina, Amilase, Alanina
aminotransferase (ALT), Aspartato aminotransferase (AST), Gama glutamil
transpeptidase (γGT), Bilirrubina total, Bilirrubina directa, Bilirrubina indirecta,
Colesterol total, Colesterol HDL (high- density lipoprotein), Colesterol LDL (low-
density lipoprotein), Triglicéridos totais, Creatina cinase (CK-NAC), Creatinina,
Glucose, Lactato desidrogenase (LDH), Ureia, Ácido úrico, Proteína C-Reactiva (PCR),
Imunoglobulinas do tipo A, G e M (IgA, IgG e IgM), Microalbuminúria, Ionograma
(Na+, K+ e Cl-) e iões Cálcio, Ferro, Magnésio e Fósforo inorgânico.
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AUTOMÁTICO RX DAYTONA
Espectrofotometria
A espectrofotometria é uma técnica laboratorial, que com recurso a
espectrofotómetros, permite a determinação da concentração de uma solução contendo
cromóforos, que são moléculas com capacidade de absorver radiação, com base na
interacção da matéria com a radiação electromagnética. Nesta técnica faz-se incidir
radiação electromagnética monocromática numa solução, e devido à presença do
cromóforo, parte da energia radiante é absorvida, enquanto a maior parte é transmitida e
reflectida pela superfície da cuvette ou pelo solvente. A energia transmitida é depois
captada e convertida por um fotodetector em energia eléctrica, cuja corrente é
directamente proporcional à energia transmitida. No final a percentagem de energia
transmitida é automaticamente convertida em valores de absorvência, que são exibidos
em algarismos.
Durante a realização desta técnica é necessário utilizar soluções de referência ou
também denominados brancos de amostra, cuja constituição é igual à amostra a analisar
com excepção do cromóforo, de modo a obviar o efeito de absorção de energia pelas
paredes das cuvettes e pelo solvente, fazendo com que a absorção medida corresponda à
diferença entre a energia incidente e transmitida unicamente pela amostra. Existem
ainda situações em que o reagente utilizado absorve energia na mesma região do
espectro electromagnético que a amostra, sendo neste caso necessário utilizar um branco
de reagente de modo a obviar o seu efeito de absorção da energia radiante.
A relação entre a energia absorvida pela solução e a sua concentração é
demonstrada pela Lei de Lambert-Beer na qual a concentração da solução é
directamente proporcional à energia absorvida, à sua absortividade molar (Ɛ) e ao
comprimento do feixe de luz que atravessa a solução (b).
A=Ɛ×b×c
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Cinética enzimática
Os métodos de cinética enzimática aplicados à clínica permitem determinar a
actividade catalítica das enzimas com utilidade diagnóstica e, deste modo, com base nas
alterações das suas actividades, concluir acerca da localidade e natureza de situações
patológicas.
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consequente redução de
absorvência é monitorizada a
340 nm e é directamente
proporcional à actividade da
enzima presente na amostra.
A lactato desidrogenase
converte o piruvato em L-
lactato enquanto o NADH é
oxidado a NAD+. A
Soro
Lactato consequente redução da
Plasma EDTA, Piruvato a lactato
desidrogenase absorvência é monitorizada
Heparina
espectrofotometricamente a
340 nm e é directamente
proporcional à actividade da
enzima presente na amostra.
A ureia é hidrolisada pela
urease levando à formação de
amónia e dióxido de carbono.
A amónia reage com o α-
oxoglutarato e este na
presença de glutamato
Soro
desidrogenase é reduzido a L-
Plasma
Ureia Urease glutamato enquanto o NADH
Heparina
é oxidado a NAD+. A
Urina
consequente redução da
absorvência é monitorizada
espectrofotometricamente a
340 nm e é directamente
proporcional à concentração
de ureia presente na amostra.
Turbidimetria
A turbidimetria é um método utilizado na medição da luz dispersa, no qual o
aumento da turvação, causada pela presença de partículas em suspensão, de uma dada
amostra causa uma diminuição da intensidade da radiação incidente devido à sua
dispersão, reflexão e absorção.
A turbidimetria, à semelhança da espectrofotometria, é a medida da luz
transmitida pela solução após incidência de radiação, sendo medida a um ângulo de
180ᴏ em relação à luz incidente. É determinada com recurso a espectrofotómetros ou
analisadores de química clínica automatizados e depende não só da concentração das
partículas em suspensão mas também do seu tamanho.
Assim, na imunoturbidimetria, após ocorrer a ligação antigénio-anticorpo, vai
haver a formação de complexos, que são insolúveis, e que após incidência de energia
radiante, causam a sua dispersão. No fim, a determinação da concentração destes
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Potenciometria indirecta
A determinação da concentração dos iões sódio, potássio e cloro nos fluidos
biológicos (soro, plasma e urina) é realizada com recurso à tecnologia ISEs, que tem
como princípio o uso de eléctrodos selectivos iónicos. Neste método a passagem dos
iões pelos respectivos eléctrodos vai causar a geração de um potencial cujo valor é
determinado em relação a um eléctrodo de referência, e varia logaritmicamente com a
concentração iónica, de acordo com a equação de Nernst:
RT log (μC)
E = Eᵒ + nF
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PARÂMETROS BIOQUÍMICOS
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Bilirrubina
A icterícia é um dos principais sinais de disfunção hepática, sendo causada pela
retenção sérica de bilirrubina e seus conjugados, pelo excesso de produção de
bilirrubina e seus conjugados ou pela deficiente depuração da bilirrubina e seus
conjugados. É caracterizada pela descoloração das mucosas, pela cor amarelada
apresentada pela pele e escleróticas, e em alguns casos pelo escurecimento da urina.
Clinicamente apenas é evidente quando a concentração de bilirrubina total no soro
atinge valores entre 2-3 mg/dL e não é um indicador específico de doença hepática,
podendo estar presente em outras doenças.
Clinicamente a hiperbilirrubinémia pode ser classificada como pré-hepática,
hepática ou pós-hepática, de acordo com o local em que ocorreu a desordem. Na
hiperbilirrubinémia pré-hepática, o erro ocorre antes do metabolismo hepático, sendo
caracterizada pelo aumento da bilirrubina não conjugada. Exemplos de patologias que
causam hiperbilirrubinémia pré-hepática são a anemia hemolítica e a icterícia fisiológica
do recém-nascido. A hiperbilirrubinémia hepática é causada pela ocorrência de um erro
primário ao nível do fígado, e que pode ser devido a alterações no metabolismo e
transporte da bilirrubina ou devido a lesões hepatocelulares. Os Síndromes de Crigler-
Najjar tipo I e II e o Síndrome de Gilbert são exemplos de patologias em que a
hiperbilirrubinémia é de origem hepática e é causada pela ocorrência de mecanismos
deficientes de conjugação, sendo deste modo caracterizados pelo aumento da bilirrubina
não conjugada. Existem ainda patologias, denominadas Síndrome de Dubin-Jonhson e
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Enzimas hepáticas
A determinação das enzimas hepáticas é muito útil na detecção de lesões
hepatocelulares que causam a citólise ou necrose celular, e na diferenciação de
patologias de origem funcional de patologias de origem obstrutiva.
Quando ocorre uma lesão num órgão, existe a morte de algumas células que
causam o extravasamento do seu conteúdo para o meio exterior, nomeadamente de
enzimas. A AST e a ALT são as principais enzimas utilizadas para a detecção clínica de
lesão hepatocelular. Estas enzimas estão presentes no interior dos hepatócitos e são
responsáveis pela transferência do grupo amina de um α-aminoácido para um cetoácido.
No entanto não são específicas dos hepatócitos pois encontram-se também distribuídas
no interior de células de outros órgãos como o músculo-esquelético, o coração e os rins.
Porém a ALT é considerada mais específica que a AST pois encontra-se
maioritariamente no interior dos hepatócitos, ao contrário da AST cuja distribuição é
equitativa entre os vários órgãos.
Os seus níveis, em casos de hepatite viral, necrose celular induzida pela
exposição a drogas ou toxinas e isquemia hepática podem aumentar abruptamente,
podendo alcançar valores até cem vezes o limite superior de referência. Porém em casos
de lesões obstrutivas pode-se não observar aumento dos seus níveis ou observar apenas
um aumento ligeiro.
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seus níveis de actividade na urina são mais elevados e persistentes durante períodos de
tempo mais longos que os encontrados no soro.
Existem ainda outros métodos que podem ser aplicados na avaliação da função
pancreática como são exemplos a pesquisa de lípidos nas fezes, o teste da D-xilose e o
doseamento das isoenzimas da amilase. No entanto não serão abordadas detalhadamente
no presente relatório de estágio pois não são executadas no laboratório SOERAD.
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Creatinina
A determinação do valor da clearence da creatinina é o método mais utilizado
para o cálculo da Taxa de Filtração Glomerular. Este valor é obtido através de uma
expressão matemática, que está representada em baixo, e que relaciona a concentração
sérica de creatinina com a concentração urinária da creatinina excretada durante um
determinado período de tempo, geralmente vinte e quatro horas.
[Creatinina]urina × Vurina 1,73
×
[Creatinina]plasma × 1440 A
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Microalbuminúria
O doseamento da microalbuminúria consiste na determinação da concentração
de albumina na urina e é particularmente importante nos doentes diabéticos, pois estes
indivíduos possuem um elevado risco para o desenvolvimento de nefropatias devido ao
aumento progressivo da permeabilidade dos glomérulos. Assim, através do estudo da
proteinúria é possível avaliar e detectar precocemente alterações na função de filtração
glomerular, e através da adopção de programas de controlo dos níveis de glicémia mais
rígidos juntamente com tratamentos que previnem a hipertensão, atrasar a progressão
das lesões renais para situações de falência renal crónica.
Ureia
A determinação da concentração da ureia no soro é outro teste muito importante
utilizado para avaliar a função renal. A presença de elevadas concentrações de ureia no
plasma acompanhado de falência renal é denominada urémia ou síndrome urémico e
pode ser clinicamente classificada como pré-renal, renal ou pós-renal de acordo com as
causas que estão na origem do seu aparecimento. A urémia pré-renal é causada pela
diminuição do fluxo sanguíneo que irriga os rins, podendo ser devida a situações de
insuficiência cardíaca congestiva, hemorragias ou desidratação. A urémia renal é
consequência da ocorrência de uma disfunção renal que causa uma excreção deficiente
de ureia, podendo ser causada por casos de falência renal crónica ou aguda, nefrite
glomerular ou necrose tubular. Por fim a urémia pós-renal é devida à existência de
obstruções do fluxo urinário cujas causas podem incluir cálculos renais ou carcinoma da
bexiga ou próstata.
No entanto a concentração de ureia no soro não depende exclusivamente da
função renal, sendo influenciada também pela dieta do individuo, pela função hepática,
pelo grau de hidratação do indivíduo e pelo aumento do catabolismo proteico. Assim, a
principal utilidade clínica da determinação da concentração da ureia no soro assenta na
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Ácido úrico
A determinação do ácido úrico não é um indicador muito útil na avaliação da
função renal pois existem muitos factores não renais que influenciam a sua
concentração plasmática. No entanto a presença de elevados níveis de ácido úrico
podem indicar situações de gota, insuficiência renal e cálculos renais, enquanto a
presença de baixos níveis de ácido úrico (inferior a 2,9 mg/dL) podem indiciar um
defeito na reabsorção tubular renal de ácido úrico.
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Hiperglicémia
A hiperglicemia consiste num aumento patogénico dos níveis de glucose no
sangue. Existem vários distúrbios que causam hiperglicemia, sendo a diabetes mellitus a
mais importante e relevante clinicamente.
A diabetes mellitus é um grupo de doenças metabólicas caracterizada por
hiperglicemia, polidipsia, poliúria, polifagia e perda de peso, afecta milhares de pessoas,
tendo impacto não só na qualidade de vida das mesmas, mas também na economia do
país devido ao surgimento de complicações a longo termo que incluem retinopatia,
nefropatia e neuropatia periférica e autónoma.
As causas que estão na sua origem de desenvolvimento são várias, podendo
incluir a destruição das células β do pâncreas, a produção insuficiente de insulina, a
resposta ineficiente dos tecidos à acção da insulina, a existências de patologias no
pâncreas, e a produção de insulina não activa. Dependendo da causa, a Organização
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ou igual a 155 mg/dL ao fim de duas horas após sobrecarga com 75g de glucose. No
caso das grávidas de risco, que compreendem as mulheres obesas, com histórico
familiar de diabetes tipo 2 e com gravidez anterior com diagnóstico de diabetes
gestacional, a realização da PTOG é recomendada antes das 24-28 semanas de gestação.
Laboratorialmente a obtenção de concentrações casuais de glucose superior ou
igual a 200 mg/dL associada a sintomatologia característica da diabetes, de
concentração de glucose em jejum igual ou superior a 126 mg/dL, de concentração de
glucose aos 120 minutos após sobrecarga de 75g de glucose superior ou igual a 200
mg/dL ou valor de hemoglobina glicosilada superior ou igual a 6,5% constitui critério
de diagnóstico de diabetes.
A hemoglobina glicosilada é formada a partir da reacção não enzimática de
moléculas de glucose com grupos amina da cadeia β da hemoglobina, e depende
somente da concentração de glucose no sangue e do tempo médio de vida dos glóbulos
vermelhos, reflectindo assim a concentração de glucose das 6 a 8 semanas que
antecedem a colheita.
Nos últimos anos a determinação da concentração de hemoglobina glicosilada
tem tido maior importância não só no diagnóstico da diabetes, como na monitorização
dos doentes como avaliador de risco para o desenvolvimento de complicações micro e
macrovasculares, e apresenta vantagens relativamente ao doseamento da concentração
de glucose, como maior estabilidade pré-analítica, pois não necessita de jejum, e maior
estabilidade analítica pois não depende do exercício físico, da alimentação e da variação
diária da concentração de glucose. Contudo em indivíduos com patologias que afectam
o tempo médio de vida dos eritrócitos, a sua estrutura ou a estrutura das moléculas de
hemoglobina, o seu doseamento não é útil, sendo nestes indivíduos a determinação da
concentração de glucose, o método de diagnóstico a aplicar.
Hipoglicémia
A hipoglicémia é outro exemplo de desequilíbrio da concentração de glucose,
sendo caracterizado pela presença de baixas concentrações de glucose no sangue.
Existem várias causas que originam hipoglicémia e que incluem a ocorrência de
processos infecciosos generalizados como é exemplo a septicémia, o excesso de
produção de insulina, a ingestão de álcool em excesso, que pode inibir o processo de
neoglucogénese, tumores nas células β do pâncreas, deficiências no metabolismo das
hormonas glucocorticóides e da hormona do crescimento, a diabetes como consequência
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Metabolismo lipídico
Os lípidos são compostos orgânicos insolúveis em soluções aquosas, apresentam
estruturas químicas diversas e possuem várias funções vitais para o bom funcionamento
do organismo que incluem o armazenamento e fornecimento de energia, a manutenção
da estrutura das células e a participação nos processos de digestão e da condução
nervosa no sistema nervoso central.
Os lípidos mais importantes clinicamente são os triglicéridos, o colesterol e os
fosfolípidos. O seu importe para o organismo realiza-se quer através da dieta quer
através da sua síntese por parte dos hepatócitos. Depois de sintetizados, estes são
hidrolisados por acção de lipases e estereases de colesterol e absorvidos ao nível das
células da mucosa intestinal com a intervenção de ácidos biliares, que funcionam como
detergentes, permitindo a formação de micelas que ajudam na solubilização e facilitam
o transporte para a superfície do lúmen das células intestinais. Após a absorção, os
lípidos são transportados para todas as células do organismo, via corrente sanguínea, no
interior de estruturas denominadas lipoproteínas.
As lipoproteínas são estruturas esféricas compostas por lípidos e proteínas
denominadas apoliproteínas, têm como principal função o transporte dos lípidos no
plasma até aos vários tecidos do organismo, e são classificadas de acordo com base nas
suas densidades e das suas mobilidades electroforéticas. Assim, com base na densidade
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parte das IDL são removidas pelo fígado enquanto a restante é convertida em LDL após
a ocorrência de processos de hidrólise e de os triglicéridos serem substituídos por
colesterol esterificado.
As LDL formam-se a partir da lipólise das VLDL remanescentes e são
responsáveis pelo transporte do colesterol do fígado para as restantes células do
organismo. Estas partículas são constituídas maioritariamente por colesterol esterificado
e por pequenas percentagens de colesterol livre, triglicéridos e fosfolípidos, e pela
apoproteína do tipo B-100. Devido à existência de receptores específicos para as LDL, e
do seu reconhecimento pela apo B-100, estas lipoproteínas são facilmente internalizadas
pelas células, no interior das quais ocorre a degradação da apo B-100 e a formação de
colesterol livre resultante da hidrólise dos ésteres de colesterol. O colesterol livre é
depois utilizado pelas células na síntese das membranas celulares, das hormonas
esteróides e dos ácidos biliares, e como regulador da sua homeostasia através da
supressão da actividade da enzima responsável pela síntese de colesterol, a HMG-CoA,
do aumento da actividade da enzima que catalisa a esterificação do colesterol, a ACAT
(Acil-CoA: colesterol aciltransferase) (que previne que o excesso de colesterol livre seja
esterificado e armazenado), e da modulação no número de receptores de LDL presentes
na superfície das células (que evita a entrada e acumulação de elevadas quantidades de
colesterol no interior das células). Devido ao seu reduzido tamanho, estas lipoproteínas
podem também se infiltrar nos espaços extracelulares dos vasos sanguíneos, onde, após
se oxidarem, podem ser internalizadas e removidas do plasma, por macrófagos através
de receptores scavenger.
As HDL são as lipoproteínas de menor tamanho e maior densidade, são
sintetizadas no fígado e no intestino e têm como principal função o transporte do
excesso de colesterol presente nos tecidos extra-hepáticos de novo para o fígado.
A avaliação do perfil lipídico é muito importante para o cálculo do risco de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares e para o diagnóstico das hiperlipidémias,
e inclui a determinação da concentração do colesterol total, do colesterol HDL, do
colesterol LDL, dos triglicéridos, e nos casos mais complexos das apoliproteína A e B e
da lipoproteína a.
Ao longo dos anos têm surgido muitos estudos que sugerem a existência de uma
relação de proximidade entre elevados níveis de lípidos e a ocorrência de doenças
cardiovasculares, que continua a ser uma das principais causas de morte nos países
desenvolvidos. Esta relação é devida à deposição de lípidos, principalmente na forma de
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Sódio
O sódio é o catião mais abundante presente no espaço extracelular, sendo
responsável pela maior parte da osmolalidade do plasma. A sua principal função é a
manutenção da pressão osmótica do compartimento extracelular e a distribuição de água
nos compartimentos líquidos do organismo.
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de água. Esta patologia está muito associada com a ocorrência de doenças pulmonares,
doenças do sistema nervoso central e de infecções causadas por Pneumocystis carinii.
A hipernatrémia é caracterizada pela presença de concentrações elevadas de iões
sódio no sangue. As principais causas do seu aparecimento são a perda de elevadas
quantidades de água, a ingestão de baixas quantidades de água e o aumento da ingestão
ou retenção de sódio. Episódios prolongados de vómitos e diarreia, sudorese excessiva,
diabetes mellitus com deficiente excreção de ADH, síndrome de Conn e síndrome de
Cushing são outros exemplos de situações patológicas que causam episódios de
hipernatrémia.
Potássio
O potássio é o catião que se encontra em maior concentração no interior das
células e tem como principais funções a manutenção do volume intracelular e da
concentração de protões, e a regulação dos processos de excitação neuromuscular e
contracção do coração.
A manutenção da concentração dos iões potássio é devida aos processos de
reabsorção ao nível do túbulo proximal, e da acção da aldosterona que causa a sua
excreção ao nível do túbulo distal e dos ductos colectores em troca com a reabsorção de
iões sódio.
À semelhança dos iões sódio, erros na ocorrência dos mecanismos de controlo
causam desequilíbrios na concentração sérica dos iões potássio, que podem ser
divididos em dois grandes grupos, hipocaliémia e hipercaliémia.
A hipocaliémia, à semelhança da hiponatrémia, caracteriza-se pela presença de
baixas concentrações de potássio e pode ter como causas distúrbios gastrointestinais,
como vómitos e diarreia, que provocam a excreção dos iões potássio, por situações de
acidose tubular renal que causam diminuição da excreção de protões e em consequência
aumento da excreção de iões potássio, uma vez que os iões potássio trocam com os
protões, e por situações de hiperaldosteronismo, pois a produção aumentada de ADH
causa a retenção de iões sódio e em consequência o aumento da excreção de iões
potássio, uma vez que os iões potássio trocam com os iões sódio.
A hipercaliémia é a situação antagónica da hipocaliémia, surgindo quando estão
presentes no organismo elevadas concentrações de iões potássio. Exemplos de algumas
situações que podem estar na origem do seu surgimento são a realização de tratamentos
usando infusões intravenosas de potássio, a transferência de iões potássio para o líquido
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Cloro
O cloro é o anião mais abundante presente no espaço extracelular e tem como
principais funções a manutenção da osmolalidade, do volume sanguíneo e da
neutralidade eléctrica. À semelhança dos iões anteriormente referidos, a concentração
dos iões cloro também não sofre variações significativas devido à ocorrência dos
processos de reabsorção ao nível do túbulo proximal, aos processos de excreção pela
urina e suor, e pela acção da hormona aldosterona, que em situações de sudorese
excessiva, actua ao nível das glândulas sudoríparas, causando uma diminuição na
produção de suor e como consequência uma diminuição na excreção de cloro.
Estes iões, de modo a manter a neutralidade eléctrica dos fluídos, movimentam-
se na mesma direcção que os iões sódio, fazendo com que as causas do desequilíbrio da
concentração de sódio sejam também responsáveis pela ocorrência de alterações na
concentração dos iões cloro. Porém existem algumas situações excepcionais. A
hiperclorémia pode surgir em casos em que existe excreção excessiva de iões
bicarbonato, como são exemplos condições de acidose metabólica, patologias renais
como a acidose tubular renal ou a ocorrência de distúrbios gastrointestinais como a
diarreia. A hipoclorémia pode surgir em resultado de excreção excessiva de iões cloro,
como acontece nos casos de vómito prolongado, cetoacidose diabética e pielonefrite, ou
em resultado do aumento de retenção de iões bicarbonato, como são exemplos as
situações compensatórias da acidose respiratória ou alcalose metabólica.
Magnésio
O magnésio é o quarto catião mais abundante presente no organismo e é um
cofactor essencial para o funcionamento e activação de várias enzimas que participam
nos processos de glicólise, de transmissão neuromuscular e de síntese de hidratos de
carbono, lípidos e ácidos nucleicos. A manutenção da sua concentração no organismo é
quase exclusivamente por via do sistema renal através dos processos de reabsorção ao
nível do túbulo proximal, da ansa ascendente de Henle e do túbulo distal, e do processo
de excreção pela urina.
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Cálcio
O cálcio é um catião divalente muito importante nos processos de contracção das
células do miocárdio. A regulação dos seus níveis é devida à acção de três hormonas, a
PTH, a vitamina D e a calcitonina. A PTH é excretada quando ocorre diminuição dos
seus níveis no sangue, sendo responsável pela activação dos osteoclastos que degradam
a matriz óssea e causam a libertação de iões cálcio, e pela estimulação dos processos de
reabsorção por parte dos túbulos renais. Nos rins, a PTH vai ainda estimular a produção
de vitamina D, que aumenta a absorção deste ião ao nível dos intestinos e dos rins. Por
fim, a calcitonina não participa no mecanismo normal de regulação, sendo apenas
excretada em situações de hipercalcémia, onde é responsável pela inibição da acção da
PTH e da vitamina D.
A hipocalcémia é uma situação patológica caracterizada pela presença de
concentrações baixas de cálcio no sangue, e que aparece por exemplo em consequência
de casos de hipoparatiroidismo primário devido à baixa excreção de PTH que causa
excreção aumentada de cálcio por parte do sistema renal, de casos de rabdomiólise,
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onde os iões fosfato libertados das células destruídas se ligam aos iões cálcio,
provocando a diminuição da sua concentração na forma livre, e de casos de
hipoalbuminémia devido à redução da ligação dos iões cálcio à albumina.
A hipercalcémia contrariamente significa a presença de elevadas concentrações
de cálcio no sangue, e tem como principais causas o hiperparatiroidismo primário e as
patologias oncológicas. No hiperparatiroidismo primário há um aumento significativo
na produção de PTH enquanto nas patologias oncológicas, as células malignas
produzem um péptido de estrutura muito semelhante à hormona PTH e com capacidade
de se ligar aos seus receptores.
Fósforo
O fósforo é um anião que se encontra distribuído por todo o organismo,
desempenhando um papel muito importante nos mecanismos de transdução de sinais, e
sendo parte constituinte de várias moléculas, como os ácidos nucleicos, as enzimas, os
principais reservatórios de energia sob a forma de ATP, e os compostos importantes
para a sobrevivência das células como é exemplo o 2,3-bifosfoglicerato, responsável
pela modulação da afinidade da hemoglobina para as moléculas de oxigénio.
Visto os iões fósforo possuírem funções vitais para a sobrevivência do
organismo, é muito importante a existência de mecanismos de controlo da sua
concentração, como são exemplos o sistema renal devido aos processos de reabsorção e
excreção, a vitamina D que em casos de depleção de iões fósforo aumenta a sua
absorção no intestino e a sua reabsorção ao nível dos rins, e a PTH que é excretada na
presença de elevadas concentrações de fósforo, e que actua ao nível do sistema renal
para que ocorra a sua excreção.
No entanto, na presença de situações patológicas, os mecanismos de regulação
deste ião tornam-se ineficientes, surgindo casos de hipofosfatémia e hiperfosfatémia.
A hipofosfatémia é uma situação patológica que surge maioritariamente nos
indivíduos hospitalizados, ou em casos de cetoacidose diabética, doença pulmonar
obstrutiva crónica, asma, doenças inflamatórias crónicas, hiperparatiroidismo e
deficiência em vitamina D.
A hiperfosfatémia surge maioritariamente em indivíduos com insuficiência renal
aguda ou crónica, em recém-nascidos devido ao desenvolvimento imaturo do
metabolismo da PTH e da vitamina D, e em casos de leucemia linfoblástica devido à
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Tabela 7 – Patologias que causam desequilíbrio da concentração sérica do ião ferro e o seu
respectivo perfil dos vários marcadores que avaliam o estado do ferro no organismo.
Nível da Nível da
Condição Concentração Nível da Nível da saturação capacidade
patológica do ião ferro transferrina ferritina de de fixação
ferritina do ferro
Doenças
Diminuído Diminuído Aumentado Diminuído Diminuído
oncológicas
Normal ou
Hepatite viral Aumentado Aumentado Aumentado Aumentado
aumentado
Anemia Normal ou Normal ou
Aumentado Aumentado Aumentado
sideroblástica diminuído diminuído
Anemia Normal ou Normal ou Normal ou
Diminuído Diminuído
crónica diminuído aumentado diminuído
Síndromes infecciosos
Os síndromes infecciosos são inúmeros, podem ter várias etiologias e o seu
diagnóstico é complexo, envolvendo a realização de inúmeros exames. No âmbito das
análises clínicas, o diagnóstico de infecções e processos inflamatórios engloba a
determinação de uma vasta gama de parâmetros, como são exemplos a Proteína C
Reactiva e as Imunoglobulinas.
Proteína C Reactiva
A Proteína C Reactiva é sintetizada no fígado e tem a capacidade de se ligar a
polissacáridos presentes na parece celular dos microorganismos, opsonizando-os, e a
substâncias tóxicas libertadas por tecidos lesionados, activando a via clássica do
complemento, e promovendo, como consequência, a fagocitose e a lise de células
invasoras. É considerada uma proteína de fase aguda positiva, observando-se aumento
dos seus níveis na presença de qualquer processo infeccioso causado por
microorganismos ou de etiologia auto-imune, sendo por esta razão também muito
inespecífica e tendo um papel muito restrito na pesquisa da etiologia de processos
inflamatórios.
O seu doseamento é assim muito importante na detecção de infecções, lesões
tecidulares, processos inflamatórios e de doenças auto-imunes.
A sua determinação revelou-se também importante na avaliação de risco de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares, na medida em que estudos realizados
demonstram que a existência de níveis aumentados de Proteína C Reactiva aumentam o
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Imunoglobulinas
As imunoglobulinas são glicoproteínas sintetizadas pelos plasmócitos em
resposta à presença de antigénios e têm como principais funções o reconhecimento de
antigénios e a estimulação de mecanismos imunológicos eficientes capazes de destruir
os antigénios. Estas proteínas são constituídas por duas cadeias pesadas e duas cadeias
leves unidas por ligações dissulfito, e podem ser classificadas em cinco classes
denominadas IgG, IgA, IgM, IgE e IgD, de acordo com o tipo de cadeia pesada que
possuem.
As IgG são a classe de imunoglobulinas que existem em maior abundância no
sangue e são responsáveis pela opsonização dos agentes patogénicos, pela neutralização
de toxinas e pela activação do sistema do complemento. Na presença de situações
patológicas os seus níveis sofrem alterações, podendo o seu doseamento ser útil para o
diagnóstico de doenças hepáticas, gamapatias monoclonal, como é exemplo o mieloma
do tipo IgG, gamapatias policlonais e de infecções parasitárias, nos quais se encontram
valores aumentados de IgG; e em situações de imunodeficiência adquirida, mielomas
não-IgG e síndrome nefrótico nos quais se detectam níveis diminuídos de IgG.
As IgA são a classe de imunoglobulinas encontradas nas secreções das mucosas,
como são exemplos a saliva, as lágrimas, fluido vaginal e as secreções dos sistemas
respiratórios e digestivo, contribuindo para a sua protecção contra agentes patogénicos.
O seu doseamento é útil na detecção do síndrome nefrótico, leucemias linfoblásticas
agudas e crónicas e de síndromes de má absorção, nos quais os seus níveis estão
diminuídos; e em casos de cirrose portal, gamapatias monoclonal, como é exemplo o
mieloma do tipo IgA, gamapatias policlonais, doenças inflamatórios do tracto digestivo
e respiratório e imunodeficiência como o síndroma de Wiskott-Aldrich, nos quais os
seus níveis estão aumentados.
As IgM são as primeiras imunoglobulinas a aumentar de níveis em resposta à
presença de antigénios, estando aumentadas em casos de cirrose biliar primária,
Macroglobulinémia de Waldenström, infecções parasitárias como a malária e a
toxoplasmose, e em infecções virais como a rubéola, o citomegalovírus e os herpes.
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Por fim, as IgD e IgE não doseadas no laboratório SOERAD, no entanto as suas
determinações são importantes no diagnóstico de algumas situações patológicas. As IgD
são imunoglobulinas que, apesar de se conhecer pouco acerca das suas funções, estão
aumentadas em situações infecciosas, em doenças hepáticas e em infecções do tecido
conectivo. As IgE são imunoglobulinas que, em situações fisiológicas normais, estão
presentes em baixas concentrações, observando-se aumento dos seus níveis em
episódios agudos de asma, na ocorrência de reacções anafilácticas, febre dos fenos, e em
consequência de uma situação patológica mais rara, o mieloma do tipo IgE.
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Tabela 8 – Representação dos parâmetros determinados pelo analisador automático Aution Max
4280, os métodos utilizados e os valores correspondentes ao limite de detecção e ao valor limite.
Valor
Parâmetro Método utilizado Limite de detecção
limite*
Medição da reflectância a
Cor 635nm, 565nm, 430nm e a -
760nm
Gravidade Método do índice de
-
específica refracção
Reacção glucose oxidase-
Glucose 10 mg/dL 60 mg/dL
peroxidase-cromogéneo
Reacção de erro da proteína
Proteínas 5 mg/dL 25 mg/dL
do indicador de pH
Reacção da bilirrubina com
Bilirrubina 0,2 mg/dL 0,35 mg/dL
um sal de diazónio
Reacção do urobilinogénio
Urobilinogénio 0,2 mg/dL 1,5 mg/dL
com um sal de diazónio
Alteração de cor de
-
pH indicadores entre pH 4,5 e pH
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Detecção de actividade da Hemoglobina: 0,03
Sangue pseudoperoxidase da mg/dL; Eritrócitos: 10 0,045 mg/dL
hemoglobina eritrócitos/µL
Cetonas Reacção legal 5 mg/dL 7,5 mg/dL
Quantidade de
Nitrito Reacção de Griess bactérias: 105/mL; 0,08 mg/dL
Nitritos: 0,08 mg/dL
Detecção da actividade da 50
Leucócitos 25 leucócitos/µL
esterase nos leucócitos leucócitos/µL
*O valor limite representa o valor máximo considerado normal pelos autores do
manual de utilizador do aparelho automático Aution Max 4280. Os resultados com um
valor superior devem ser considerados positivos.
Cor
A cor da urina pode variar desde incolor até preto, dependendo da concentração
de elementos presentes na urina, do grau de hidratação, da actividade física, de
compostos ingeridos e da existência de determinadas condições patológicas.
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Aspecto ou turvação
A avaliação do aspecto ou turvação da urina é um passo muito importante para a
avaliação microscópica do sedimento urinário pois o aumento de turvação poderá
indicar a presença de elementos sólidos, que podem ser patológicos ou benignos,
possíveis de se encontrar na avaliação do sedimento urinário.
A existência de turvação depende essencialmente do pH da urina e da presença
de compostos sólidos dissolvidos, e deve ser avaliada a partir da observação da urina
contida num recipiente transparente, e contra uma fonte de luz.
As causas que estão na origem do aparecimento de turvação da urina podem ser
de natureza patológica e não patológica. As principais causas não patológicas incluem a
existência de cristais de fosfatos amorfos ou carbonatos em urinas alcalinas refrigeradas
ou conservadas incorrectamente, a presença de cristais de uratos em urinas ácidas
refrigeradas ou conservadas incorrectamente, e a presença de células epiteliais de
descamação e muco, de cremes vaginais e de contaminação fecal e seminal.
Relativamente às principais causas patológicas que estão na origem do aparecimento de
turvação na urina tem se a presença de leucócitos, eritrócitos, células epiteliais que não
de descamação ou muco, bactérias, leveduras, fungos, cristais anormais e lípidos.
Gravidade específica
A gravidade específica indica a densidade das substâncias químicas que estão
dissolvidas na urina, permitindo avaliar a função de reabsorção e o poder de
concentração do sistema renal, o estado de hidratação e possíveis defeitos na síntese ou
acção das hormonas antidiuréticas. Em condições fisiológicas normais, os valores da
gravidade específica situam-se entre 1,005 e 1,030. Porém em situações patológicas
como são exemplos a diabetes insipidus, pielonefrite e glomerulonefrite, os valores de
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Cheiro
O cheiro é uma característica física considerada com pouco significado clínico.
No entanto existem patologias que causam um odor característico, permitindo ao
analista orientar a sua investigação. Como exemplos tem se a urina dos indivíduos com
diabetes não controlada, que possui um odor adocicado devido à presença de cetonas
resultantes do catabolismo lipídico, os casos de fenilcetonúria, em que a urina possui
um odor a mofo, e as situações de infecção do tracto urinário, que causam a excreção de
urina com um odor fétido.
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Glucose
O método utilizado na determinação da concentração da glucose na urina é
denominado oxidase-peroxidase-cromogénio. Neste método a glucose sofre oxidação
por parte da glucose oxidase levando à formação de ácido glucorónico e peróxido de
hidrogénio. Seguidamente o peróxido de hidrogénio, por acção da peroxidase, oxida o
composto cromogénio (4-Aminoantipirina) causando a formação de um composto
colorido, cuja detecção é feita espectrofotometricamente e cuja absorvência é
directamente proporcional à concentração de glucose. Porém a presença de elevadas
concentrações de ácido úrico, bilirrubina e ácido ascórbico podem causar a obtenção de
valores falsamente diminuídos, pois são compostos que sofrem oxidação pela
peroxidase, e a presença de substâncias fortemente oxidantes como o hipoclorito e o
cloro, bem como uma urina com elevado grau de acidez (pH <4) podem causar a
obtenção de valores falsamente aumentados.
A determinação da concentração de glucose na urina é um teste muito utilizado e
de grande importância no diagnóstico de diabetes mellitus, pois situações de
hiperglicemia causam a saturação dos sistemas de transporte tubular renal e a sua
consequente incapacidade de absorver glucose. Também é um teste que permite a
monitorização do sistema renal destes doentes pois uma das complicações a longo prazo
é insuficiência renal, que quando instalada provoca uma deficiência na reabsorção de
glucose e outras substâncias por parte dos túbulos renais, levando ao aparecimento de
glucose na urina.
A glicosúria também pode ser observada em consequência de patologias como a
pancreatite, tumor pancreático, síndrome de Cushing e hipertiroidismo, devido à
diminuição de produção de insulina e à elevada síntese de hormonas hiperglicemizantes,
como a hormona do crescimento, epinefrina e cortisol, que provocam o aumento dos
níveis de glucose no sangue.
Contudo é possível detectar-se pequenas quantidades de glucose na primeira
urina da manhã em indivíduos saudáveis.
Proteínas
O método utilizado na determinação da concentração de proteínas na urina
baseia-se na reacção de erro da proteína do indicador do pH. Este teste é muito sensível
para a determinação da albumina e menos sensível para a determinação das globulinas,
proteína de Bence-Jones e das mucoproteínas, e sofre interferências em amostras de
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Bilirrubina
A bilirrubina directa na urina é determinada com base na sua reacção com um
sal de diazónio que resulta na formação de um composto castanho-avermelhado cuja
formação pode ser detectada espectrofotometricamente, e a sua intensidade
directamente proporcional à concentração de bilirrubina. Este teste sofre interferências
na presença de elevadas concentrações de ácido ascórbico, ácido úrico e nitrito,
podendo-se obter valores falsamente diminuídos, e na presença de urobilinogénio e
etodolac (anti-inflamatório não esteróide), podendo-se obter valores falsamente
aumentados. Também é possível obter valores alterados deste parâmetro caso a tira-teste
sofra acção da luz pois a bilirrubina sofre processos de degradação pela luz.
Em condições fisiológicas normais não se detecta presença de bilirrubina na
urina, devendo o encontro de pequenas quantidades de bilirrubina na urina ser
encarados como significativos. Situações patológicas que causam o aparecimento de
bilirrubinúria incluem cirrose hepática, hepatites, obstrução biliar e hepatocarcinomas.
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Urobilinogénio
O urobilinogénio é um produto resultante dos processos de redução da
bilirrubina por parte das enzimas da flora bacteriana intestinal. O seu método de
determinação baseia-se no mesmo princípio que o método utilizado para a determinação
da concentração de bilirrubina, sendo afectado pela presença de carbapenem (antibiótico
beta-lactâmico) e bilirrubina.
O aumento da sua concentração na urina surge em casos de doenças hemolíticas
devido à destruição de maior quantidade de eritrócitos, e em casos de doenças hepáticas
como a hepatite e a cirrose hepática. Contudo o urobilinogénio é um pigmento que
existe em pequenas quantidades na urina, sendo possível detectar a sua presença
também em indivíduos saudáveis, ou em situações de cansaço, obstipação ou após
realização de exercício físico ou ingestão de bebidas alcoólicas.
pH
A determinação do pH baseia-se na utilização de indicadores, nomeadamente o
verde de bromocresol e o azul de bromoxilenol, que alteram a sua cor de acordo com o
pH.
Em condições fisiológicas normais, o valor do pH da urina é aproximadamente
6, podendo variar num intervalo entre 4,5 e 8. A alteração do pH da urina para valores
inferiores e superiores dos limites de intervalo podem ser indicativo da presença de
situações patológicas que causam a formação de urinas ácidas e básicas.
A acidez da urina está associada à excreção de compostos derivados do fosfato e
a ácidos não voláteis como são exemplos o ácido pirúvico, o lactato e o citrato, e
surgem em casos de acidose sistémica, diabetes mellitus e acidose tubular renal. Porém,
neste último caso, pode não haver alteração do pH da urina devido a uma incapacidade
de excretar iões H+ por parte dos túbulos renais.
Contrariamente urinas alcalinas estão associadas a casos de infecções
bacterianas do tracto urinário, ao síndrome de Fanconi, uma doença hereditária que se
caracteriza pela disfunção do túbulo proximal, e a situações patológicas que causam
alcalose respiratória e metabólica. Também o armazenamento durante um longo período
de tempo, mesmo a temperaturas baixas, causa a alcalinização das amostras, sendo
recomendado, por este motivo, que a determinação do pH das amostras de urina seja
realizada em amostras frescas.
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Sangue
A determinação de sangue na urina inclui a pesquisa da presença de eritrócitos,
hemoglobina ou mioglobina. O método utilizado pelas tiras-teste consiste na reacção
entre o hidroperóxido de cumeno e o cromogéneo 3,3’,5,5’-tetrametilbenzidina
catalisada pela pseudoperoxidase da hemoglobina, havendo a formação de um composto
de coloração azul cuja intensidade é directamente proporcional à concentração de
sangue presente na amostra de urina. A área de teste possui maior sensibilidade para a
detecção de hemoglobina e mioglobina relativamente a eritrócitos, sofrendo
interferências na presença de elevadas concentrações de ácido ascórbico e proteínas, e
de valores aumentados de gravidade específica, podendo obter-se valores falsamente
diminuídos.
A presença de eritrócitos e hemoglobina na urina podem surgir em casos de
cálculos renais, tumores do tracto urinário, traumatismos vasculares, pielonefrites,
cistite, litíase renal, síndrome nefrótico e, nas mulheres durante o período menstrual,
tratando-se nesta situação de uma contaminação.
A presença de mioglobina na urina está associada à prática de exercício físico
intenso e à existência de situações patológicas que causam a destruição do tecido
muscular como são exemplos traumatismos musculares, distrofia muscular progressiva
e polimiosite.
Corpos cetónicos
Os corpos cetónicos produzidos pelo organismo são o ácido acetoacético, o
ácido beta-hidroxibutírico e a acetona. Estes compostos são produtos do catabolismo
lipídico sintetizados em situações de baixa concentração de hidratos de carbono. Em
condições fisiológicas normais a quantidade de corpos cetónicos existentes no plasma e
na urina é muito baixa, não sendo, em muitos casos, possível detectar-se a presença de
corpos cetónicos na urina. No entanto em casos de jejum prolongado, excesso de
exercício físico, diabetes mellitus descompensada, deita rica em lípidos, vómitos
prolongados e doenças que afectam o armazenamento da glucose soba forma de
glicogénio, existe a diminuição da concentração de glucose no sangue e a consequente
formação de corpos cetónicos que ao atingirem um determinado limiar, são eliminados
pela urina.
A determinação da cetonúria é útil em indivíduos com diabetes mellitus na sua
fase aguda, com sinais e sintomas de cetoacidose, com concentração de glucose no
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sangue superior a 300 mg/dL, e nas grávidas. O método utilizado no seu doseamento na
urina baseia-se na reacção de legal, na qual a reacção entre os corpos cetónicos e o
nitroprussiato de sódio em meio alcalino provoca a formação de um complexo de cor
violeta cuja intensidade é directamente proporcional à concentração dos corpos
cetónicos na amostra. A área de teste possui maior sensibilidade ao ácido acetoacético
relativamente à acetona, não reage com o ácido β-hidroxibutírico e sofre interferências
com a presença de elevadas concentrações de fenilcetona, cefalosporina, L-DOPA e
enzima redutora de aldose, podendo obter-se valores falsamente aumentados.
Nitritos
O teste de pesquisa de nitritos na urina possui um papel muito importante no
diagnóstico de infecções bacterianas do tracto urinário pois permite a detecção de
bactérias na urina através da reacção de Griess. Neste método, os nitritos reagem com a
sulfanilamida em meio ácido levando à formação de um sal diazónico, que
posteriormente reage com o dicloridrato N-1-naftiletilenediamina, formando-se um
composto de coloração vermelha. Este teste reage unicamente com o nitrito, a
intensidade da cor do composto de coloração vermelha formado não é directamente
proporcional à quantidade de bactérias presente na amostra, e sofre interferências na
presença de elevadas concentrações de ácido ascórbico e de valores aumentados de
gravidade específica, podendo obter-se valores falsamente diminuídos.
A obtenção de um resultado positivo é indicativa de presença de bactérias,
porém um resultado negativo não implica a inexistência de bactérias na urina pois as
bactérias presentes podem não possuir a enzima responsável pela redução dos nitratos a
nitritos, como são exemplos as bactérias pertencentes aos géneros Staphylococcus sp.,
Enterococcus sp., e Streptococcus sp., ou, alternativamente, um resultado negativo pode
ser resultado da retenção da urina na bexiga durante um curto período de tempo,
fazendo com que na amostra esteja presente uma quantidade de bactérias indetectável
pelo método presente na tira-teste.
Leucócitos
A determinação do número de leucócitos na urina é realizada através da
detecção da actividade da esterase, que é uma enzima presente nos leucócitos,
especialmente nos fagócitos. Neste teste há a formação de um composto violeta, cuja
intensidade é directamente proporcional à quantidade de leucócitos presente na amostra,
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Células epiteliais
A existência de células epiteliais nas amostras de urina não está associada
directamente a situações patológicas, sendo muito comum a sua presença em mulheres
devido à contaminação vaginal.
No exame microscópio do sedimento urinário a quantificação das células
epiteliais é reportada como raras, algumas ou muitas.
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Eritrócitos
Os eritrócitos (figuras 10 e 11) são células anucleadas, de tamanho reduzido, e
de várias formas, como redondas, crenadas ou esbatidas, fazendo com que em alguns
casos seja difícil a sua identificação. A sua presença na urina pode ocorrer em situações
fisiológicas normais, resultando de contaminação menstrual ou da prática de exercício
físico, ou em consequência de situações patológicas como obstrução por cálculos renais,
traumas vasculares, pielonefrites e cistites.
A quantificação dos eritrócitos é reportada de forma quantitativa e resulta da
média da contagem dos eritrócitos realizada em 10 campos. Assim, os eritrócitos podem
ser descritos como raros, caso estejam presentes <2 ou 2-4 eritrócitos, alguns, caso
estejam presentes 4 a 10 eritrócitos, ou muitos, caso o número de eritrócitos seja
superior a 10. A presença de raros eritrócitos, geralmente <2 por campo, pode ocorrer
em indivíduos sem que esteja associado a ocorrência de patologia. Contudo a existência
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Leucócitos
Os leucócitos (figura 12) são células nucleadas, de maior dimensão que os
eritrócitos, e podem estar presentes na urina em condições fisiológicas normais, em
baixas quantidades, geralmente num número inferior a 5 por campo.
O aumento do número de leucócitos na urina (figura 13) é observado em
inúmeras patologias, nomeadamente pielonefrite, cistite, prostatite, uretrite,
glomerulonefrite, infecções do sistema renal, e tumores.
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Cilindros
Os cilindros são as únicas estruturas provenientes exclusivamente do sistema
renal, sendo formados a partir da precipitação de mucoproteínas, nomeadamente da
proteína Tamm-Horsefall, em situações de estase urinária, diminuição do pH da urina, e
na presença de elevadas concentrações de sais e proteínas. Existem vários tipos de
cilindros, como são exemplos os hialinos, os granulares e os celulares.
Os cilindros hialinos (figuras 14 e 15) possuem uma matriz clara e gelatinosa,
não apresentam inclusões celulares, surgindo na urina como resultado de situações que
provocam um aumento da permeabilidade dos glomérulos, que podem ou não serem
patológicas. Como tal estes cilindros podem aparecer na sequência de episódios de
febre, desidratação ou stress, fazendo com que a sua presença em alguns casos não seja
de origem patológica.
Figura 14 – Cilindro hialino (I) (×400). Figura 15 – Cilindro hialino (II) (×400).
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Cristais
Os cristais são resultado da precipitação de compostos orgânicos, sais
inorgânicos e compostos iatrogénicos devido à ocorrência de alterações na temperatura,
pH e na concentração de solutos.
Existem vários tipos de cristais, patológicos e não patológicos, que dependendo
da sua constituição auxiliam na detecção de erros hereditários do metabolismo, e de
patologias hepáticas e renais. Na avaliação do sedimento urinário, estes elementos são
reportados como raros, alguns e muitos, com excepção dos cristais patológicos que
devem ser contabilizados e registado o número observado por campo.
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Por fim, os cristais de tirosina (figura 25), leucina e bilirrubina (figura 26) são
raramente observados, surgindo em patologias hepáticas graves.
Bactérias
Na avaliação do sedimento urinário a observação de bactérias é importante
essencialmente no diagnóstico de infecções do tracto urinário, sendo reportadas como
raras, algumas ou muitas.
Em amostras de urina normal colhidas para contentores estéreis, geralmente não
se observa a presença de bactérias.
A bacteriúria surge maioritariamente em consequência de contaminação fecal,
vaginal e uretral, infecções do tracto superior e inferior urinário, bacteriúria
assintomática e amostras não frescas e não refrigeradas.
As infecções do tracto urinário são caracterizadas pela presença de bactérias e
leucócitos na urina (figura 27). No entanto, a avaliação do sedimento urinário não
permite a identificação do microorganismo nem auxilia no seu tratamento. Para tal,
sempre que se suspeita de infecção do tracto urinário, procede-se à cultura da urina, à
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Leveduras
A candida albicans é um exemplo de levedura possível de se encontrar em
amostras de urina, podendo aparecer na forma de levedura (figura 28) ou hifa septada
ramificada (figura 29), em casos de infecções severas. A população mais
frequentemente associada ao seu aparecimento são os diabéticos descompensados,
devido à elevada concentração de glucose na urina, os indivíduos imunocomprometidos,
nos quais é responsável por infecções disseminadas e graves, e nas mulheres com
candidíase vaginal, sendo nestes casos o agente etiológico.
Tal como as bactérias, infecção por leveduras apenas é considerada quando há
presença de microorganismos e leucócitos, sendo reportadas como raras, algumas ou
muitas.
Parasitas
O parasita maioritariamente encontrado em amostras de urina é a Trichomonas
vaginalis, responsável por uma doença sexualmente transmissível, causando na maior
parte dos casos inflamação vaginal sintomática na mulher, e inflamação uretral e
prostática assintomática nos homens. Estes parasitas apenas são encontrados na forma
de trofozoíto, possuindo uma forma de pera e contendo flagelo e membrana ondulante.
Exemplos de outros parasitas que podem ser encontrados na urina são o
Enterobius vermicularis, por contaminação fecal, e o Schistosoma heamatobium. O
Schistosoma heamatobium é o agente etiológico da Esquistosomose urinária ou vesical,
afecta maioritariamente nas regiões de África e Médio Oriente e é contraído através da
ingestão de água contaminadas com caracóis ou lesmas infectados.
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Filamentos de muco
O muco é uma substância de natureza proteica produzido pelas células epiteliais
do tracto urinário inferior e pelas células tubulares renais, e consistem em estruturas
filiformes irregulares e incolores. A sua presença não possui significado clínico
relevante, porém é importante não confundir estes elementos com cilindros hialinos, que
em alguns casos surgem na sequência da presença de processos patológicos.
Na avaliação do sedimento urinário, os filamentos de muco são reportados como
raros, alguns ou muitos.
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2.2. HEMATOLOGIA
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2.2.1.2. Descrição dos métodos utilizados pelo aparelho automático Sysmex XT-
1800i
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corrente eléctrica contínua, que causa o alinhamento das células. De seguida, as células
atravessam um pequeno orifício, no qual a sua passagem provoca um aumento da
resistência, devido à sua baixa capacidade condutora de corrente eléctrica, provocando
interrupção do circuito eléctrico e originando impulsos eléctricos. A amplitude dos
impulsos eléctricos são, posteriormente, directamente proporcionais ao volume da
célula, e o número de impulsos gerados durante um intervalo de tempo directamente
proporcional ao número de células que atravessaram o orifício.
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Hb (g/dL)
HGM (pg) = ×10
GV (×1012 /L)
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Anemia
A anemia é a condição patológica mais comum que afecta a série eritrocitária,
sendo caracterizada pela presença de concentrações de hemoglobina inferior aos valores
normais de referência. As causas que estão na origem do seu aparecimento são variadas,
e, com base no tamanho dos eritrócitos e na concentração de hemoglobina, pode ser
classificada em três tipos. Assim, tem-se anemia microcítica e hipocrómica, caso a
maioria dos eritrócitos possuírem reduzido tamanho e concentração de hemoglobina,
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Anemias microcíticas
As anemias microcíticas são o tipo de anemia mais comum, atingindo um
elevado número de pessoas em todo o mundo. As principais causas que estão
subjacentes ao seu aparecimento são a ocorrência de alterações estruturais da membrana
dos eritrócitos, como é exemplo a eliptocitose hereditária, ou a deficiência nos níveis de
ferro.
• Anemia ferropénica
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Anemias normocíticas
As anemias normocíticas são características de várias situações patológicas
incluindo insuficiência renal, anemias hemolíticas, anemia das doenças crónicas e
infiltrações na medula óssea.
A anemia devido à insuficiência renal surge maioritariamente por via de perdas
de sangue, por exemplo em consequência do aumento da permeabilidade dos
glomérulos, ou por deficiências na produção ou função da eritropoietina.
No caso de infiltrações na medula, a existência de anemia normocítica é devida à
diminuição de produção de eritrócitos em consequência da substituição de tecido
medular por células neoplásicas ou tecido fibroso.
Por fim, as anemias hemolíticas são caracterizadas pelo aumento da taxa de
destruição dos eritrócitos pelos macrófagos do sistema reticuloendotelial, causando
como consequência a diminuição da concentração de hemoglobina no plasma. A
hemólise pode ser do tipo intravascular ou extravascular. Nos casos de anemia
hemolítica intravascular os eritrócitos são destruídos quando ainda estão na circulação
sanguínea, enquanto na anemia hemolítica extravascular, os eritrócitos são destruídos no
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Anemias macrocíticas
A macrocitose é caracterizada pela existência de eritrócitos com tamanho
superior ao considerado normal. As causas que estão na origem do seu aparecimento são
variadas, incluindo erros na síntese do ADN dos percursores eritrocitários, originando a
anemia megaloblástica, hiperestimulação da eritropoiese, e reticulocitose.
Clinicamente este tipo de anemia é caracterizado por pancitopenia, aumento dos
valores de VGM e RDW, valores normais de HGM e CHGM (normocromia),
poiquilocitose com presença de numerosos macrócitos ovais e dacriócitos, e algumas
células fragmentadas.
• Anemia megaloblástica
A anemia megaloblástica é causada por deficiências em vitamina B12, e em
folatos.
A deficiência em vitaminal B12 é responsável pelo aparecimento da anemia
perniciosa, sendo causada por vários factores, nomeadamente pelo deficiente aporte
nutricional, por exemplo nas dietas vegetarianas, ou pela existência de patologias ou
condições gastrointestinais que dificultam e diminuem a absorção da vitamina B12 como
são exemplos a doença de Crohn, as patologias que causam uma menor expressão do
factor intrínseco de Castle, gastrectomias e infecção por Helicobacter pylori.
A deficiência em folatos surge maioritariamente nas mulheres grávidas, devido
ao aumento das necessidades de folatos para a síntese de ADN do feto, em casos de
alcoolismo, e em casos de ingestão de certos fármacos como são exemplos os
anticonvulsionantes, antituberculoestáticos e os contraceptivos orais.
• Hiperestimulação da eritropoiese
A hiperestimulação da eritropoiese é um fenómeno observado em casos de
anemia aplásica. Este tipo de anemia é caracterizado pela destruição das células
estaminais hematopoiéticas, mediada por linfócitos T citotóxicos em resposta a
estímulos, que podem possuir várias origens, desde infecções bacterianas ou virais, a
exposição a determinadas drogas ou fármacos. Como consequência não ocorre
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formação das formas maduras das células produzidas na medula óssea, havendo
diminuição do número de leucócitos, eritrócitos e plaquetas (pancitopénia).
• Reticulocitose
Hemoglobinopatias
Drepanocitose
A drepanocitose é a mais frequente das patologias hereditárias hematológicas do
tipo qualitativo, é causada pela substituição do aminoácido ácido glutâmico pelo
aminoácido valina no codão 6 do gene que codifica para a cadeia beta da hemoglobina,
e é caracterizada pela existência de anemia microcítica e hipocrómica, ausência de
eritrocitose, e eritrócitos em forma de foice resultante da polimerização das moléculas
de hemoglobina S em condições de baixa oxigenação. As suas manifestações clínicas
são variadas consoante o grau de mutação, sendo a forma mais agressiva e grave
característica dos indivíduos homozigóticos.
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Talassémias
As talassémias são um dos conjuntos de patologias mais importantes
pertencentes às hemoglobinopatias do tipo quantitativo, podendo ser de dois tipos, alfa-
talassémia e beta-talassémia.
A alfa-talassémia é caracterizada pela ausência ou diminuição na síntese das
cadeias alfa-globínica.
As cadeias alfa-globínicas são codificadas por quatro genes alfa, podendo a
mutação afectar um gene, ou todos os genes, originando diferentes fenótipos clínicos e
hematológicos. O défice de síntese de cadeias alfa, quando acentuado, provoca a
formação de homotetrâmeros de hemoglobina, HbH, resultante do excesso de síntese de
cadeias beta, que causa a baixa oxigenação dos tecidos devido à sua alta afinidade para
as moléculas de oxigénio, e o aumento da taxa de destruição dos eritrócitos devido à
deposição de corpos de inclusão.
Clinicamente, à excepção dos casos em que ocorre mutação em todos os genes
codificantes, nos quais há morte do feto, todos os fenótipos são caracterizados por
anemia microcítica e hipocrómica.
A beta-talassémia é caracterizada pela ausência ou diminuição da síntese das
cadeias beta globínica, originando diferentes fenótipos. Indivíduos heterozigóticos para
a mutação geralmente são assintomáticos, apresentando eritrocitose, anemia microcítica
e hipocrómica e níveis de hemoglobina A2 superior a 3,5%; enquanto os indivíduos
homozigóticos para a mutação apresentam o mesmo fenótipo hematológico que os
indivíduos heterozigóticos juntamente com esplenomegália e hepatomegália,
deformações ósseas e eritropoiese extramedular.
A principal complicação que surge em consequência desta patologia é a
destruição dos percursores eritrocitários devido à precipitação do excesso de cadeias
alfa que ocorre no seu interior.
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• Leucemias
As leucemias são um grupo heterogéneo de doenças malignas caracterizadas
pela infiltração de células neoplásicas do sistema hematopoiético na medula óssea,
sangue, timo e gânglios linfáticos. As células neoplásicas têm capacidade de replicação
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• Síndromes Mieloproliferativos
Os síndromes mieloproliferativos são causados por mutações nas células
percursoras hematopoiéticas, que provocam a proliferação e a produção de grandes
quantidades de eritrócitos, granulócitos e plaquetas.
Existem quatro principais síndromes mieloproliferativos, a leucemia mielóide
crónica (figuras 36 e 37), a policitémia vera, a trombocitémia essencial e a mielofibrose
primária.
cromossoma Filadélfia. Por fim a fase de crise blástica, ou também denominada fase de
leucemia aguda, é a que possui maior taxa de mortalidade devido ao aparecimento de
infecções, hemorragias e falência orgânica, em consequência da predominância de
células muito imaturas na medula óssea e sangue periférico.
Policitémia vera
A policitémia vera é caracterizada pela presença de eritrocitose acompanhada de
elevada concentração de hemoglobina, leucocitose e trombocitose. A sua origem está na
grande maioria dos casos, associada à mutação JAK (Janus tyrosine cinase) 2 V617 na
qual à substituição de uma guanina por timina no exão 14 do gene JAK2, que causa a
substituição de um resíduo de aminoácido valina por um resíduo de aminoácido
fenilalanina na posição 617, de uma proteína pertencente à família das Janus cinases.
Em consequência da ocorrência desta mutação há alteração da cascata de sinalização
JAK/STAT que provoca uma activação constante da eritropoiese intrínseca.
O diagnóstico desta patologia é realizado através da combinação de vários
critérios estabelecidos pela organização mundial de saúde, que incluem o aumento da
massa eritrocitária superior a 25%; níveis de hematócrito superior ou igual a 60% nos
homens ou superior ou igual a 56% nas mulheres; ausência de causas de eritrocitose
secundária; detecção de esplenomegalia no exame físico; presença da mutação JAK2
V617F; trombocitose; neutrofília; e crescimento de BFU-E na ausência ou em
ambientes com níveis reduzidos de eritropoietina. O diagnóstico de policitémia vera é
executado quando se observa presença dos quatro primeiros sinais; ou na presença dos
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três primeiros sinais juntamente com a mutação JAK2 V617F; ou na presença dos três
primeiros sinais juntamente com pelo menos dois dos três últimos sinais.
À semelhança da leucemia mielóide cronica, a policitémia vera também possui
várias etapas denominadas fase assintomática, fase eritrocítica, fase inactiva, fase de
metaplasia mielóide e fase de leucemia aguda. Na fase assintomática apenas se detecta
esplenomegalia e trombocitose ou eritrocitose isolada; na fase eritrocítica observa-se
eritrocitose, trombocitose, leucocitose, esplenomegália e hemorragia; a fase inactiva é
caracterizada pela manutenção dos níveis da massa eritrocitária; as fases de
mielodisplasia e leucemia aguda ocorrem em sequência da evolução da doença,
podendo evoluir também para casos de mielofibrose.
A existência de uma elevada massa de eritrócitos faz com que estes doentes
possuam um elevado risco de ocorrência de eventos trombóticos, como são exemplos o
AVC (acidente vascular cerebral), enfarto agudo do miocárdio e embolia pulmonar, que
além de poderem provocar sequelas físicas e emocionais graves, podem causar a morte.
Trombocitémia essencial
A trombocitémia essencial é um síndrome mieloproliferativo que afecta a
linhagem megacariocítica, sendo caracterizada pela presença de trombocitose
acompanhada de plaquetas gigantes e fragmentos de megacariócitos, basofília, anemia
microcítica e hipocrómica, devido à ocorrência de hemorragias, e em alguns casos
leucocitose.
A principal causa que está na origem desta patologia é a ocorrência da mutação
JAK2 V617F, estando presente em 50% dos casos. Contudo nos casos em que não se
detecta a mutação JAK2 V617F o diagnóstico desta patologia torna-se de difícil
execução.
O avanço da tecnologia e do conhecimento acerca da fisiopatologia deste
síndrome mieloproliferativo têm permitido a detecção de novas mutações, como são
exemplos as mutações MPL W515L/K/A presente em 5% dos doentes, a mutação CALR
presente em 70% dos doentes, e a mutação JAK2 do exão 12, que é específica desta
patologia, mas que apenas está presente em 3% dos doentes que não possuam a mutação
JAK2 V617F.
O diagnóstico desta patologia é realizado com base em critérios estabelecidos
pela organização mundial de saúde, que incluem a presença de um número elevada de
plaquetas (geralmente superior 450×109/L), a não evidência de trombocitose reactiva, a
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Mielofibrose primária
A mielofibrose primária é um síndrome mieloproliferativo caracterizado pelo
aumento da proliferação da linhagem megacariocítica e granulocítica devido à
ocorrência de mutações nas células hematopoiéticas, como são exemplos a mutação
JAK2 V617, observada em cerca de 50% dos doentes, a mutação MPL observada em
11% dos doentes, a mutação ASXL1 observada em 40-50% dos doentes, e a mutação
CALR observada em 86% dos doentes que não possuem a mutação JAK2 V617.
Esta patologia é caracterizada também pela ocorrência da evolução de um
estadio pré-fibrótico para um estadio fibrótico. O estadio pré-fibrótico representa a
primeira fase da doença, sendo caracterizado pela existência de hipercelularidade
medular devido ao aumento da proliferação dos megacariócitos e dos neutrófilos. O
estadio fibrótico representa a fase evolutiva da doença e é representado pela existência
de leucoeritroblastose no sangue periférico, anemia, poiquilocitose com predominância
de dacriócitos, leucocitose ou leucopénia, trombocitose ou trombocitopenia, anisocitose
plaquetária, e hematopoiese extramedular que leva ao aparecimento de
hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, e efusão pleural.
O diagnóstico desta patologia, à semelhança dos exemplos de síndromes
mieloproliferativos referidos anteriormente, também se baseia em critérios
desenvolvidos pela organização mundial de saúde, que incluem aumento da proliferação
da linhagem megacriocítica e a existência de displasia medular acentuada com aumento
da reticulina; ausência de critérios de diagnóstico de leucemia mielóide crónica,
policitémia vera, síndrome mielodisplásico ou outra neoplasia mielóide; presença da
mutação JAK2 V617F ou outra associada ao aparecimento desta patologia;
leucoeritroblastose no sangue periférico; aumento da concentração sérica de lactato
desidrogenase; anemia; e hepatoesplenomegália detectada no exame físico. O
diagnóstico de mielofibrose primária é realizado quando os três primeiros critérios de
diagnóstico juntamente com dois dos quatro últimos critérios estão presentes.
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• Síndromes mielodisplásicos
Os síndromes mielodisplásicos são um conjunto heterogéneo de patologias
caracterizadas pela existência de hipercelularidade medular, pela alteração dos padrões
de maturação de uma ou mais linhagens celulares, e pela presença de citopénias no
sangue periférico devido à hematopoiese ineficaz ocorrente em consequência de
mutações genéticas, tratamentos quimio- e radioterápicos, ou mais raramente, exposição
a elementos ambientais.
Em 2008, a Organização Mundial de Saúde classificou os diferentes síndromes
mielodisplásicos com base na morfologia celular, etiologia e apresentação clínica, sendo
a anemia refractária, a anemia refractária com sideroblastos em anel, a anemia
refractária com excesso de blastos e a citopénia refractária com displasia multilinhagem,
alguns exemplos (tabela 10).
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e as plaquetas, como é exemplo o teste com a ristocetina, entre o factor von Willebrand
e o colagénio, e entre o factor von Willebrand e o factor VIII. A contagem das
plaquetas, nesta patologia não é um teste muito útil na diferenciação dos vários tipos e
sub-tipos pois todos eles são caracterizados pela presença de quantidades normais de
plaquetas, à excepção da doença de von Willebrand sub-tipo 2B que apresenta
trombocitopenia.
Trombocitose
A trombocitose surge quando ocorre aumento do número de plaquetas (superior
a 400×109/L) no sangue periférico, e é classificada em dois tipos denominados essencial
ou primária, e relativa ou secundária.
A trombocitose essencial ou primária é marcada pela presença de plaquetas em
número superior a 1000×109/L e surge principalmente em casos de síndromes
mieloproliferativos como são exemplos a trombocitémia essencial, a policitémia vera e
mielofibrose primária.
A trombocitose relativa ou secundária é caracterizada pela presença de número
de plaquetas até 800×109/L, surgindo maioritariamente em casos de doenças
inflamatórias crónicas, após hemorragias agudas, anemia hemolítica, anemia
ferropénica grave e após esplenectomia.
Trombocitopénia
A trombocitopenia ocorre quando existe uma diminuição do número de
plaquetas (inferior a 150×109) no sangue periférico, e pode ser devida a uma diminuição
na produção de plaquetas, ao aumento da sua destruição, ou à sua distribuição anormal
devido por exemplo ao aumento da sequestração esplénica, em situações de
esplenomegalia.
A diminuição da produção de plaquetas pode ter como causas a aplasia medular,
a existência de infiltrações medulares como são exemplos as neoplasias hematológicas,
ou a ocorrência de processos de trombopoiese ineficaz devido à deficiência em vitamina
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Homeostase secundária
A homeostase secundária consiste no processo da coagulação e culmina na
formação de trombina, responsável pela conversão do fibrinogénio em fibrina.
O processo da coagulação envolve a acção de uma série de proteínas, que a
partir de uma sequência complexa de reacções químicas permite a formação do coágulo
de fibrina. Por forma a melhor compreender todo este processo, recorre-se ao estudo da
cascata de coagulação.
A cascata de coagulação (figura 39) é constituída por duas vias principais, a via
extrínseca e a via intrínseca, e pela via comum resultante da convergência das vias
principais.
Via intrínseca
Na via intrínseca, inicialmente os factores XII e XI são activados na presença de
calicreína, quininogénio de alto peso molecular e colagénio subendotelial, causando a
formação dos factores XII e XI activados. O factor XI activado, posteriormente,
converte o factor IX em factor IX activado. O factor IX activado, no final, na presença
de cálcio, factor VIII activado e fosfolípidos provoca a activação do factor X, resultando
na formação do factor X activado, que é parte constituinte do complexo protrombinase.
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Via extrínseca
A via extrínseca é iniciada pela activação do factor VII, na presença de cálcio e
do factor tecidular, resultando na formação do factor VII activado. Posteriormente, o
factor VII juntamente com o factor tecidular e o cálcio, transformam o factor X em
factor X activado, que juntamente com o factor V activado, fosfolípidos e cálcio
formam o complexo protrombinase na via comum.
Via comum
A via comum inicia-se com a formação do complexo protrombinase, que é
responsável pela conversão da pró-trombina em trombina. A trombina irá,
posteriormente, degradar o fibrinogénio causando a libertação de monómeros solúveis
de fibrina denominados fibrinopeptido A e fibrinopeptido B, que acabam por
polimerizar e formar a fibrina insolúvel. Também por acção da trombina, há activação
do factor XIII que promove a formação de ligações covalentes cruzadas entre os
polímeros de fibrina, estabilizando-os.
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ou o caulino. Desta reacção resulta a activação da via intrínseca, com a formação dos
factores XII activado, XI activado, e IX activado. Posteriormente é adicionado cálcio,
que juntamente com os factores X e V activados forma o complexo protrombinase, que
converte a protrombina em trombina. A reacção finda com a conversão do fibrinogénio
em fibrina por acção da trombina.
A determinação deste parâmetro permite, assim, o diagnóstico e monitorização
de patologias genéticas ou adquiridas que envolvem as vias intrínseca e comum, bem
como a monitorização da terapia com heparina, e a detecção do anticoagulante lúpico.
Os valores deste parâmetro encontram-se elevados em situações patológicas que
provocam a diminuição dos níveis da precalicreína, quininogénio de alto peso
molecular, e dos factores VIII, IX, XI, XII, fibrinogénio, protrombina, v e X; nos casos
de Hemofilia, devido à diminuição da actividade dos factores VIII ou IX; em casos de
Coagulação intravascular disseminada; e na presença do anticoagulante lúpico
observado em casos de lúpus eritematoso sistémico, e associado à ocorrência de abortos
e a tromboses vasculares.
Homeostase terciária
A homesotase terciária é a última etapa da coagulação e consiste na fibrinólise, a
qual é característica pela destruição do coágulo de fibrina de modo a manter a
permeabilidade e evitar a oclusão permanente dos vasos sanguíneos.
A destruição do coágulo de fibrina é catalisada por uma enzima denominada
plasmina, que deriva da conversão do plasminogénio por parte do activador do
plasminogénio tecidular (t-PA) e pela urocinase (u-PA). Da fibrinólise resulta a
formação de fragmentos, denominados D-dímeros, que são posteriormente eliminados
do organismo.
No laboratório SOERAD não é realizado o estudo da homeostase terciária,
porém é importante a sua referência neste relatório de estágio pois é uma etapa muito
importante na manutenção do equilíbrio da homeostase, juntamente com as fases de
homeostase primária e secundária.
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Sistema ABO
Os antigénios do grupo sanguíneo ABO estão distribuídos ubiquamente pelo
organismo, são codificados por um único gene, o gene ABO, presente no cromossoma
9, e são transmitidos hereditariamente, sendo transmitindo um alelo de cada progenitor,
dos três alelos constituintes do locus ABO, dando origem a quatro fenótipos, o fenótipo
A, fenótipo B, fenótipo AB, e fenótipo O (tabela 13).
Tabela 13 – Representação dos fenótipos ABO obtidos de acordo com os alelos herdados de
ambos os progenitores.
Alelos ABO herdados pela mãe
A B O
Alelos ABO
A A AB A
herdados pelo
B AB B B
pai
O A B O
Sistema Rhesus
O sistema Rh é um dos sistemas sanguíneos conhecidos mais complexos do
organismo humano, devido ao elevado polimorfismo dos genes que codificam os
115
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116
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
uma gravidez em que o feto fosse RhD positivo, fica grávida de um feto RhD positivo.
Em consequência há produção por parte da mulher grávida, de anticorpos imunes anti-D
que atravessam a placenta, opsonizam os eritrócitos fetais, causam a sua destruição por
parte do sistema imunitário, e a sua remoção pelo sistema reticulo-endotelial fetal,
levando, nas formas mais severas, à morte do recém-nascido.
Assim, a descoberta e o desenvolvimento de metodologias que permitem a
realização da fenotipagem ABO/RhD, permitiu o desenvolvimento de medidas
profilácticas, como a administração de imunoglobulina anti-RhD no início da gravidez,
e consequentemente possibilitou a prevenção da aloimunização materna e, a
consequente diminuição de mortes dos nados-vivos por doença hemolítica do recém-
nascido.
Laboratorialmente, a determinação do Rh é realizada em paralelo e de forma
semelhante à fenotipagem ABO, sendo que a obtenção de hemoaglutinação corresponde
a um resultado Rh positivo, e a ausência de hemoaglutinação corresponde a um
resultado Rh negativo. Neste último caso, procede-se à lavagem das células sanguíneas
com soro fisiológico e envia-se para o laboratório de Lisboa para confirmação do
resultado e para a pesquisa de D fraco.
Na figura 41 está representada um exemplo de um resultado do teste de
fenotipagem ABO/RhD.
117
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2.3. IMUNOLOGIA
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No aparelho automático Mini Vidas, para cada teste, são realizadas duas
medidas de fluorescência na cuvette de leitura, a primeira correspondente ao branco da
cuvette, ou seja antes do substrato ser adicionada à sandwich; e a segunda efectuada
após inoculação do substrato com a enzima. O valor final de fluorescência é o resultado
da diferença das duas medidas referidas anteriormente.
Terminado o teste, os resultados são calculados automaticamente pelo auto-
analisador, em relação a uma curva de calibração pré-definida no sistema informático,
correspondente às duas medidas de fluorescência.
Na tabela 14 estão respresentados os valores de referência dos parâmetros
determinados pelo aparelho automático, os valores de sensibilidade e linearidade dos
métodos utilizados na sua análise, e os tipos de amostras biológicas em que podem ser
determinados.
119
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Porém é importante referir que a sua elevação não ocorre unicamente em casos
de EAM, verificando-se também em casos de miocardite, embolismo pulmonar e
insuficiência renal.
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Monoteste
O Monoteste é utilizado no diagnóstico de Mononucleose Infecciosa, em
indivíduos com sintomatologia clínica sugestiva, através da detecção qualitativa de
anticorpos heterófilos IgM em amostras de sangue total, plasma ou soro.
Este teste baseia-se num método imunocromatográfico, no qual a amostra
biológica migra por capilaridade numa membrana impregnada com antigénios
heterófilos na zona de teste. Deste modo, na presença de anticorpos heterófilos, há
formação de complexos anticorpo-antigénio, cuja visualização é possível com o
aparecimento de duas linhas vermelhas nas zonas de teste e controlo da cassete. Nestas
situações o teste é então considerado positivo. Na ausência de anticorpos heterófilos, na
cassete apenas irá aparecer uma linha vermelha correspondente ao controlo, sendo o
teste considerado negativo. Nos casos negativos é importante ter em consideração
alguns aspectos como o estadio da doença, visto que numa fase muito inicial a produção
de anticorpos pode não ser suficiente para a sua detecção através deste teste, e a idade
do individuo, pois em crianças e jovens adultos a produção deste tipo de anticorpos é
em baixas quantidades, originando resultados com menor positividade. Como tal, em
casos de suspeita de mononucleose pelo vírus de Epstein-Barr heterófilos negativo, é
aconselhável para confirmação de diagnóstico a detecção de anticorpos específicos do
vírus Epstein- Barr, como são exemplos os anticorpos anti-VCA, anti-EA e anti-EBNA.
Durante a realização deste teste pode ainda ocorrer situações em que não surge a
linha do controlo, sendo o teste considerado inválido.
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No entanto, é importante referir que este teste apresenta algumas limitações que
incluem a não indicação, num resultado positivo, da concentração das substâncias, e da
via de administração; a não distinção de situações de abuso, de situações em que estas
substâncias sejam usadas como medidas terapêuticas; e a obtenção de resultados falsos
negativos na presença de canabinóides em concentrações abaixo do limite de detecção
125
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do teste. Deste modo caso seja necessário confirmar algum resultado ou realizar a
quantificação dos canabinóides presentes na urina, é obrigatório o recurso a outros
métodos, sendo o mais recomendável a cromatografia gasosa acoplada a espectrometria
de massa.
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2.4. GASIMETRIA
pH
O pH é um parâmetro que reflecte a actividade dos iões hidrogénio, na formal do
logaritmo negativo da concentração destes iões.
Diariamente, no interior do nosso organismo são produzidos grandes
quantidades de iões hidrogénio, em consequência das reacções metabólicas. Contudo,
em condições fisiológicas normais, não se observam alterações significativas do valor
de pH, sendo este mantido num intervalo muito restrito. Tal facto é devido à acção dos
tampões, e de mecanismos pulmonares e renais, que são os responsáveis pela regulação
do equilíbrio ácido-base, e que desta forma providenciam um ambiente óptimo para o
metabolismo celular.
127
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Princípio de medição:
A determinação do pH realiza-se com recurso a um eléctrodo de pH, o qual é
constituído por um fio de prata/cloreto de prata envolvido numa solução tampão, e uma
membrana permeável aos iões hidrogénio. O fio de prata/cloreto de prata consiste no
eléctrodo de referência e possui potencial constante e conhecido, e a solução tampão
consiste num electrólito com valor de pH conhecido. Assim, quando a amostra
biológica entra em contacto com a membrana permeável, a passagem dos iões H+ por
esta membrana provoca a formação de um potencial de membrana, que depois é
conduzido pelo condutor de prata/cloreto de prata para um voltímetro, onde é
comparado com o potencial do eléctrodo de referência. O potencial final medido é a
diferença entre o potencial do eléctrodo de referência e o potencial da amostra, e é
directamente proporcional à concentração de iões H+. Visto que o pH é igual ao
logaritmo negativo da concentração de iões H+, sabendo a concentração de iões H+ e
aplicando a expressão logarítmica é possível obter o valor de pH da amostra.
Na tabela 16 estão representados os valores de referência do parâmetro pH para
o aparelho automático Rapidpoint 400, e para amostras de sangue arterial.
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VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
Princípio de medição
O método que está na base da determinação da pressão parcial de dióxido de
carbono é a utilização de uma célula electroquímica, a qual é constituída por um
eléctrodo de medição, que consiste num eléctrodo de pH, por um eléctrodo de
referência, e por uma membrana permeável ao dióxido de carbono. O eléctrodo de
medição está envolvido numa solução tampão, enquanto o eléctrodo de referência está
envolvido por uma solução de cloreto e bicarbonato.
A pressão parcial do dióxido de carbono será directamente proporcional à
alteração de pH da solução de cloreto e bicarbonato detectada pelo eléctrodo de
medição, em consequência da passagem de dióxido de carbono pela membrana
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permeável para a solução de cloreto e bicarbonato, na qual altera a actividade dos iões
hidrogénio.
Na tabela 17 estão representados os valores de referência da pressão parcial de
dióxido de carbono para o aparelho automático Rapidpoint 400, e para amostras de
sangue arterial.
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Princípio de medição
O valor de concentração dos iões bicarbonato é determinado automaticamente
pelo auto-analisador, através do recurso a algoritmos matemáticos. No aparelho
automático Rapidpoint 400/405 o princípio de cálculo é a equação de Henderson-
Hasselbalch, resolvida segundo o logaritmo da concentração de bicarbonato, e a partir
do cálculo dos valores de pH e pressão de dióxido de carbono.
A concentração do ião bicarbonato resulta então da aplicação da seguinte
expressão:
[HCO-3] = 10(pH - 6,11) × pCO2 × 0,0307
Excesso de base
O parâmetro excesso de base designa a quantidade de ácido (valor de B.E.
positivo) ou de base (valor de B.E. positivo) necessária para repor o pH na parte
metabólica.
A sua determinação é útil na detecção de desequilíbrios ácido base de origem
não respiratória, estando os seus valores fora do intervalo de referência em casos de
perturbações metabólicas, como são exemplos a diabetes mellitus, ou situações de
acidose ou alcalose metabólica; perturbações renais; perturbações intestinais que
envolvam a perda de suco gástrico (que leva à perda de iões H+) ou secreções duodenais
(perda de iões HCO-3), perturbações hepáticas; e em consequência de administração de
iatrogénicos, como são exemplos as infusões com lactato ou malato.
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Oxigénio
O oxigénio é um gás que desempenha um papel crucial na sobrevivência dos
organismos vivos, intervindo na cadeia respiratória mitocondrial que culmina na
produção de energia sob a forma de ATP.
A principal fonte de oxigénio do ser humano é o ar atmosférico, que é
constituído por aproximadamente 78% de azoto, 21% de oxigénio, e pequenas
percentagens de dióxido de carbono e outros gases, principalmente gases inertes.
O caminho percorrido pelo oxigénio desde os pulmões até às mitocôndrias
celulares é longo e depende dos sistemas respiratórios, cardíaco, e circulatório, e da
capacidade de transporte da hemoglobina. Assim, após a inspiração do ar atmosférico,
este é transportado para locais de pressão mais baixa, nomeadamente os alvéolos
pulmonares. Durante este percurso, ocorre diminuição da pressão parcial do oxigénio,
que diminui dos iniciais 160 mmHg no ar circundante para 100 mmHg nos alvéolos, em
consequência da diluição do ar inspirado pelo ar retido da última expiração, e da sua
saturação com vapor de água. De seguida, ao nível dos alvéolos ocorrem as trocas
gasosas pulmonares, durantes as quais há aumento de perfusão dos pulmões e a
passagem do oxigénio dos alvéolos para o sangue capilar, devido à diferença de pressão
parcial do oxigénio existente entre a ramificação capilar venosa (40 mmHg) e os
alvéolos (100 mmHg). Nos capilares, o oxigénio é transportado até todas as células do
organismo, nas quais irão ocorrer novas trocas gasosas, em que há passagem do
oxigénio do sangue para as células, e passagem do dióxido de carbono das células para
os capilares sanguíneos.
A molécula responsável pelo transporte do oxigénio no sangue é a hemoglobina,
tendo capacidade de ligar reversivelmente quatro moléculas de oxigénio.
A capacidade da hemoglobina de fixar as moléculas de oxigénio depende do pH,
da pressão do dióxido de carbono, da pressão do oxigénio, da concentração de 2,3-
134
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Princípio de medição
A determinação da pressão parcial de oxigénio é feita com recurso a células
electroquímicas constituídas por um amperímetro, por um cátodo de platina, um ânodo
de prata, uma solução de electrólitos, por uma membrana permeável ao oxigénio, e por
uma tensão de referência colocada entre o ânodo e o cátodo. Assim, a pressão parcial de
oxigénio será directamente proporcional à corrente gerada pelo fluxo de electrões, entre
o ânodo e o cátodo, formados em consequência da redução do oxigénio no cátodo.
Na tabela 20 estão representados os valores de referência da pressão parcial do
oxigénio para o aparelho automático Rapidpoint 400, e para amostras de sangue arterial.
Saturação do oxigénio
A saturação do oxigénio indica a relação entre a hemoglobina oxigenada e a
hemoglobina não oxigenada e permite avaliar a capacidade dos pulmões de oxigenar o
sangue. A sua determinação é realizada através da aplicação da seguinte fórmula
matemática.
Concentração da oxihemoglobina
sO2 = Concentração da oxihemoglobina+concentração da desoxihemoglobina × 100
136
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
Derivados da hemoglobina
A hemoglobina é o principal parâmetro avaliador da capacidade de transporte de
oxigénio do organismo.
O valor da concentração de hemoglobina determinada nos hemogramas é a soma
do valor da concentração de todas as fracções de hemoglobina, que incluem a
oxihemoglobina (fracção de hemoglobina ligada ao oxigénio), a desoxi-hemoglobina
(fracção de hemoglobina oxigenável mas que não se encontra ligada ao oxigénio), a
meta-hemoglobina (fracção de hemoglobina em que o ião ferro está no estado de
oxidação +3), a carboxi-hemoglobina (fracção da hemoglobina ligada ao monóxido de
carbono), e a sulfa-hemoglobina (fracção de hemoglobina ligada a átomos de enxofre).
Em condições fisiológicas normais, o valor em percentagem, de todas as
fracções de hemoglobina, excepto a oxi-hemoglobina, é muito baixo, fazendo com que
o aumento dos níveis das fracções de hemoglobina não oxigenáveis seja indicativo da
presença de algumas situações patológicas, pois a hemoglobina diminui a sua
capacidade em transportar o oxigénio, podendo causar hipoxia e cianose. Assim, a
presença de valores aumentados de meta-hemoglobina surgem em casos de meta-
hemoglobinémias congénitas, após o contacto com substâncias tóxicas, como são
exemplos os nitratos, os nitritos e os corantes de anilina, e em consequência da
administração de certos fármacos como a prilocaína, resorcina, fenacetina e
nitroglicerina; o aumento dos níveis da fracção carboxi-hemoglobina é observado em
indivíduos fumadores, em vítimas de queimaduras, ou em trabalhadores industriais ou
agrícolas que estejam expostos a monóxido de carbono; por fim níveis elevados da
fracção sulfa-hemoglobina são detectados em consequência de medidas terapêuticas
com sulfonamidas e antidiabéticos orais.
Em todas as situações referidas anteriormente, a determinação da concentração
das fracções de hemoglobina é de extrema importância no diagnóstico pois, em alguns
casos, a concentração da hemoglobina total pode estar dentro do intervalo dos valores
de referência, no entanto a capacidade de transporte de oxigénio está diminuída devido à
presença de valores aumentados de fracções não oxigenáveis de hemoglobina.
Princípio de medição
A determinação da concentração das várias fracções de hemoglobina realiza-se
com base em métodos espectrofotométricos, em que o comprimento de onda de
137
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3. CONTROLO DE QUALIDADE
Os sistemas de controlo de qualidade desempenham um papel muito importante
na avaliação da qualidade dos resultados obtidos através da detecção de erros analíticos
e da implementação de acções correctivas. Neste âmbito existem dois programas, o
controlo de qualidade interno e a avaliação externa da qualidade.
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medição de uma mesma amostra estão dispersos em redor de um valor médio. São como
tal responsáveis por alterações na precisão do método analítico, podendo ser
identificados através da análise das cartas do controlo interno. Os erros sistemáticos são
caracterizados pela ocorrência de um desvio da média dos valores obtidos ao valor
convencionalmente verdadeiro, afectam a exactidão do método analítico e são
detectados preferencialmente pelos processos de controlo externo da qualidade.
No laboratório SOERAD, antes do início do dia de trabalho, em todos os
aparelhos automáticos procede-se à análise das amostras controlo, e à sua interpretação
através de representações gráficas.
Na área da Química Clínica, existem três amostras de controlo correspondentes
ao controlo universal, que permite o controlo de vários parâmetros e que existe em dois
níveis, o normal e o patológico alto; o controlo específico do parâmetro
microalbuminúria, existente em dois níveis, o normal e o patológico alto; e o controlo
específico dos parâmetros Proteína C Reactiva e Imunoglobulinas, existente em três
níveis, patológico baixo, normal e patológico alto.
A análise das amostras controlo universal permite o controlo dos parâmetros
fosfatase alcalina, ALT, AST, amilase, bilirrubina directa, bilirrubina total, cálcio,
colesterol, creatinina, gama-glutamil transferase, glucose, ferro, lactato desidrogenase,
magnésio, fósforo, sódio, potássio, cloro, triglicéridos, ácido úrico, ureia, CK total, e
colesterol HDL, é realizada todos os dias, no inicio do dia de trabalho, utilizando-se os
diferentes níveis de controlo em semanas alternadas.
O controlo específico do parâmetro microalbuminúria também é analisado todos
os dias, utilizando-se ambos os níveis de controlo em semanas alternadas.
Existem ainda parâmetros, nomeadamente o cálcio, fósforo e imunoglobulinas,
cujo controlo é analisado apenas nos dias de segunda e quinta-feira, ou apenas em
situações de atendimento permanente como no caso da amilase, da lactato
desidrogenase e do magnésio.
O aparelho automático Aution Max 4280 responsável pela análise da urina do
tipo II, também possui amostras de controlo interno, denominados AUTO CHECK I e
AUTO CHECK II. Estas amostras controlo têm diferente composição e consistem em
amostras liofilizadas de urina humana contendo substâncias químicas e bioquímicas, e
constituintes de origem humana, e têm como principal objectivo verificar a precisão e
rigor do aparelho automático e das tiras de teste.
140
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muitas vezes têm como principais causas anomalias no aparelho automático, como são
exemplos a contaminação de cuvettes, o entupimento de tubos, pipetas tortas, e soluções
de lavagem mal preparadas e/ou contaminadas. Nestes casos é necessário contactar a
assistência técnica do aparelho automático, procedendo-se posteriormente à análise dos
controlos e à realização da calibração.
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4. FASE PÓS-ANALÍTICA
145
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VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
5. CONCLUSÃO
O estágio curricular realizado no âmbito do mestrado em Análises Clínicas foi
uma experiência muito enriquecedora, tanto a nível profissional como pessoal. Conheci
pessoas fantásticas, boas profissionais, boas colegas, e que me ensinaram imenso, tendo
a disponibilidade de responder a todas as minhas dúvidas.
O contacto com os utentes possibilitou o desenvolvimento das aptidões
comunicativas, no sentido de ter que adaptar o discurso para os diferentes tipos de
utentes, e o conhecimento das suas histórias clínicas, juntamente com a realização de
técnicas laboratoriais a diferentes amostras biológicas, permitiu aplicar o conhecimento
adquirido durante a fase curricular, e assim proceder à validação técnica de resultados.
Durante o presente estágio curricular tive também oportunidade de desenvolver
capacidades de organização de tarefas a realizar no laboratório, e de trabalho autónomo.
Em conclusão, a realização do estágio curricular complementou a minha
formação teórica e prática, e cimentou a minha certeza em relação ao meu futuro
profissional, que agora sei, passará por tornar-me uma técnica qualificada na área das
Análises clínicas.
147
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
6. BIBLIOGRAFIA
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VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
MONOGRAFIA
GALACTOSÉMIA CLÁSSICA: DA RESTRIÇÃO DIETÉTICA
ÀS NOVAS ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS
2016
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VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
RESUMO
152
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
ABSTRACT
153
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
ÍNDICE
1. Introdução……………………………………………………………………………… 155
1.3. Metabolismo da galactose………………………………………………………... 156
1.4.Tipos de galactosémia…..………………………………………………………… 157
2. Galactosémia clássica…………………………………………………………………... 159
2.1. Caracterização do gene GALT……………………………………………………. 159
2.2. Caracterização estrutural da enzima GALT……………………………………… 159
2.3. Principais mutações associadas ao aparecimento da galactosémia clássica……... 162
2.4. Efeitos de mutações na estrutura e função das variantes GALT…………………. 166
2.5. Fisiopatologia e apresentação clínica…………………………………………….. 169
2.5.1. Complicações neurológicas e psiconeurológicas……………………………. 170
2.5.2. Complicações ósseas………………………………………………………… 172
2.5.3. Disfunção gonadal…………………………………………………................ 174
2.6. Diagnóstico………………………………………………………………………. 175
2.6.1. Diagnóstico bioquímico e enzimático……………………………………….. 176
2.6.2. Diagnóstico molecular……………................................................................. 179
2.6.3. Diagnóstico pré-natal………………………………………………………... 180
2.7. Rastreio neonatal…………………………………………………………………. 180
2.8. Terapia – restrição dietética………………………………………….................... 182
2.9. A galactosémia clássica em Portugal………………….......................................... 185
3. Novas alternativas terapêuticas ………………………………………………………... 188
3.1. Mutações de splicing – oligonucleótidos antisense……………………………… 188
3.2. Mutações missense – chaperones químicos/farmacológicos (Arginina)…………. 192
3.3. Inibidores da enzima GALK……………………………………………………... 194
3.4. Moléculas que mimetizam a acção da enzima superóxido dismutase (SOD)……. 196
4. Conclusão……………………………………………………………………................. 199
5. Bibliografia…………………………………………………………………………….. 202
154
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
1. INTRODUÇÃO
155
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
1.1.METABOLISMO DA GALACTOSE
Figura 1 – Metabolismo da galactose: (1) antes de entrar na via de Leloir, a β-galactose é convertida em α-
galactose pela galactose mutarotase; (2) a α-galactose é fosforilada a galactose-1-fosfato pela galactocinase;
(3) a galactose-1-fosfato uridiltransferase transfere um grupo UMP para a galactose-1-fosfato para formar
glucose-1-fosfato e UDP-galactose; (4) a UDP-galactose 4’-epimerase converte a UDP-galactose em UDP-
glucose. Em alternativa à via de Leloir existem três outras vias metabólicas da galactose: (5) a via de
conversão da galactose em galactitol catalisada pela aldose reductase, (6) a conversão da galactose em
galactonato catalisada pela galactose desidrogenase, e (7) a conversão da galactose-1-fosfato em UDP-
galactose pela UDP-glucose/galactose pirofosforilase (Coelho et al. 2015).
156
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
1.2.TIPOS DE GALACTOSÉMIA
A galactosémia consiste num grupo de doenças genéticas causadas por mutações
nos genes que codificam para as enzimas da via de Leloir, sendo caracterizadas pela
incapacidade do organismo em metabolizar a galactose, tendo maior impacto nos
recém-nascidos e crianças uma vez que a galactose, juntamente com a glucose, é a
principal componente do leite (Coelho et al. 2015).
Actualmente são conhecidos três tipos de galactosémia, denominados
galactosémia tipo I ou clássica, galactosémia tipo II, e galactosémia tipo III.
A galactosémia tipo I ou clássica é a patologia mais comum e sobre a qual existe
maior conhecimento, e será o objecto de estudo da presente monografia.
A galactosémia tipo II é causada por mutações no gene GALK, que codifica a
enzima galactocinase, e caracteriza-se por níveis plasmáticos elevados de galactose. O
principal sintoma corresponde ao aparecimento de cataratas em idade precoce, mas os
fenótipos clínicos apresentam gravidade intermédia. Porém, a sintomatologia
característica desta patologia é em muitos casos, atenuada pela realização de uma dieta
restrita em galactose, de modo a evitar a acumulação desta hexose e de produtos do seu
metabolismo, nomeadamente galactitol, no organismo (Timson 2015).
A galactosémia tipo III foi a última patologia a ser descoberta, e é causada por
mutações no gene GALE, que codifica a enzima UDP-galactose 4-epimerase, e pode
157
VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
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VIII Mestrado em Análises Clínicas Helena Lima
2. GALACTOSÉMIA CLÁSSICA
Figura 2 – Representação do gene GALT humano. Os exões estão numerados em numeração romana, os
intrões estão representados como caixas brancas, e as zonas não codificantes estão a sombreado (Leslie et al.
1992).
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Estes dois centros metálicos possuem funções importantes e distintas: o ião ferro
é essencial para a estabilização da estrutura dimérica, enquanto o ião zinco possui um
papel vital para a actividade da enzima, orientando os resíduos para o local activo da
enzima (McCorvie e Timson 2011).
No presente ano de 2016, McCorvie e colegas conseguiram determinar a
estrutura cristalográfica da enzima GALT humana, a qual apresenta diferenças
estruturais significativas do modelo homólogo bacteriano ao nível da ligação metálica e
da interacção entre os dímeros.
À semelhança da enzima da Escherichia coli, estes investigadores demonstraram
que a enzima GALT humana é um homodímero de massa molecular 87 205 Da, e
possui dois sítios activos, em que cada um é formado por ambas as subunidades
diméricas e nos quais a histidina 186 possui um papel catalítico importante através da
ligação ao grupo UMP. Uma das grandes diferenças estruturais desta enzima foi
observada ao nível da interface entre as duas subunidades, a qual é constituída por
apenas uma ponte salina na bactéria, enquanto no Homem existem duas pontes salinas
inter-diméricas estabelecidas pelos resíduos Asp113 – Arg228 e His114 – Glu220. Na
enzima humana, as duas pontes salinas parecem substituir o centro metálico de ferro,
que está presente na bactéria e ausente na forma humana, pois conferem estabilidade à
estrutura dimérica através da geração de uma cadeia rica em folhas β que une as duas
subunidades. A outra grande diferença detectada foi a presença de um único centro
metálico constituído por um ião zinco em cada monómero. Este facto deve-se à
presença dos resíduos Asn72 e Ser135 na forma humana em substituição dos resíduos
Cys52 e His115 da forma bacteriana, que estabelecem ligações por ponte de hidrogénio
com os resíduos Asn182 e Cys75, respectivamente, substituindo as interacções do ião
zinco. Segundo estes autores, na forma humana, o ião zinco parece ter um papel
importante na estabilização da proteína, uma vez que a deficiência de zinco aparenta
exacerbar os efeitos negativos de muitas enzimas mutantes.
Este estudo demonstrou ainda que a ligação do grupo UMP à enzima causa
alterações na sua conformação tridimensional, tornando-a numa estrutura mais
compacta, com menor flexibilidade, especialmente na zona envolvida na ligação deste
grupo, e com maior resistência à degradação.
Todas as descobertas feitas por estes investigadores acerca da estrutura
tridimensional da enzima GALT humana são muito importantes pois permitirão
entender melhor, ao nível da proteína, as consequências moleculares causadas pela
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CLÁSSICA
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qual a substituição do resíduo glutamina 188 pelo resíduo arginina causa a produção de
enzimas GALT não funcionais ainda não está claramente esclarecida, porém têm
surgido novos conhecimentos que, aos poucos, podem vir a responder a esta questão.
Elsevier e colegas, no seu estudo que tinha como principal objectivo descobrir se in vivo
ocorre dimerização entre subunidades wild-type e subunidades mutantes
(nomeadamente subunidades mutantes p.Q188R e p.R333W), observaram que há
formação de heterodímeros, e que o heterodímero formado por uma subunidade GALT
mutante p.Q188R e uma subunidade GALT wild-type possui cerca de 12-16% de
actividade comparativamente ao homodímero wild-type, enquanto o heterodímero
formado por uma subunidade GALT mutante p.R333W e uma subunidade GALT wild-
type possui cerca de 50% de actividade comparativamente ao homodímero wild-type.
Estes dados levaram os autores a sugerir que a subunidade mutante p.Q188R exerce um
efeito dominante negativo na dimerização de ambas as subunidades. Segundo os
autores, este efeito é concordante com a localização do resíduo de arginina 188, pois por
homologia à estrutura da enzima GALT da Escherichia coli, sabe-se que este resíduo é
um ponto importante na estabilização da estrutura secundária da enzima, pois está
envolvido na formação de uma das nove ligações constituintes das estruturas em folhas
beta, presentes no core das subunidades (Elsevier e Fridovich-Keil 1996). Também
Field e colaboradores demonstraram que este resíduo se encontra localizado próximo de
um tripéptido altamente conservado, constituído pelos resíduos Histidina-Prolina-
Histidina, localizado no centro activo da enzima, e detentor de um papel essencial para a
actividade catalítica da enzima (Field et al. 1989).
Contrariamente, a mutação p.S135L está associada a fenótipos de gravidade
intermédia, sendo responsável pela síntese de enzimas GALT com valores de actividade
diminuídos em alguns tecidos (Riehman et al. 2001). Está relatado que ao nível dos
eritrócitos e linfoblastos de galactosémicos homozigóticos para esta mutação não é
detectada qualquer actividade de enzima GALT, porém ao nível dos leucócitos é
detectada enzima GALT com valores de actividade catalítica de 5%. A razão pela qual a
ocorrência desta mutação apenas causa redução da actividade da enzima GALT em
certos tecidos não está claramente esclarecida, porém foi proposta uma teoria. De modo
a tornar a enzima funcional, tem que ocorrer ligação de um grupo hidroxilo ao resíduo
de aminoácido Serina 135. Esta ligação sendo dependente da existência de iões zinco,
não vai ocorrer ubiquamente com a mesma eficácia, pois os níveis de zinco diferem de
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tecido para tecido, fazendo com que a estabilidade e a função catalítica da enzima
GALT sejam diferentes nos vários tecidos do organismo (Elsas e Lai 1998).
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etária, com o mesmo genótipo, mas que não fazem qualquer restrição alimentar. Estes
investigadores observaram que nenhuma das crianças, até à idade em que este estudo foi
realizado, apresentava deficiente função hepática, presença de cataratas, e deficiente
desenvolvimento cognitivo, social e da linguagem. Observaram ainda que as crianças
com galactosémia Duarte respondem mais eficientemente à dieta restrita em galactose
que os doentes com galactosémia clássica, pois detectaram níveis normais de galactose-
1-fosfato e galactitol urinário, ao contrário do que acontece nos indivíduos com
galactosémia clássica, que apesar da realização da dieta restrita em galactose, possuem
sempre níveis de galactose-1-fosfato e galactitol urinário elevados. Os resultados
levaram estes autores a concluírem que a galactosémia Duarte possui um bom
prognóstico, não provocando o aparecimento de sinais e sintomas característicos da
galactosémia clássica. Porém ressalvam a importância da realização de mais estudos,
nomeadamente a doentes com galactosémia Duarte adultos, de modo a aferir e estudar
quais as possíveis complicações a longo prazo que possam surgir em consequência
desta patologia, bem como o impacto dessas complicações na vida destes doentes
(Ficicioglu et al. 2008).
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destes dois tipos de mutação causa a produção de uma enzima GALT com
especificidade de tecido. A presença destas mutações inibe a produção da enzima
GALT ao nível dos eritrócitos mas não ao nível de outras células, fazendo com que o
doente apresente ausência de sintomas e complicações a longo-termo característicos da
galactosémia (Cocanougher et al. 2015).
A grande maioria das mutações causadoras de galactosémia ocorre em locais do
gene GALT que codificam para estruturas fora do sítio activo da enzima, causando
diminuição da actividade enzimática, e alteração na estabilidade e flexibilidade
estruturais, através da alteração global da rede das ligações por ponte de hidrogénio e
hidrofóbicas (Facchiano e Marabotti 2009; Acierno et al. 2009).
Bosch e colaboradores, durante o estudo do espectro mutacional de
galactosémicos holandeses, detectaram a presença de cinco mutações causadoras de
galactosémia clássica, nomeadamente p.R51Q, p.S135W, p.K229N, p.Q252H e
p.X380C, que provocam a formação de enzima não funcional, com consequente
ausência de actividade enzimática, e o aparecimento de fenótipos graves, impedindo o
correcto e normal desenvolvimento físico e cognitivo dos doentes (Bosch et al. 2005).
Garcia e colegas, no decurso do estudo das mutações presentes nos doentes com
galactosémia clássica brasileiros, demonstraram que a ocorrência da mutação
IVS3+1G>A não permite o reconhecimento da região 5’-GU do dador de splice do
intrão 3 por parte das subunidades constituintes do spliceossoma, responsáveis pelo
processo de splicing, havendo em consequência a excisão do exão 3 da molécula de
mRNA, e a síntese de uma proteína truncada. Também a existência da mutação p.M1T,
que afecta o codão iniciador, impede a leitura e o reconhecimento do próximo codão
iniciador AUG, levando em consequência à produção de proteínas não estáveis e não
funcionais (Garcia et al. 2016).
McCorvie e colegas, no ano 2013, estudaram os efeitos estruturais e funcionais
resultantes da ocorrência das mutações p.D28Y, p.L74P, p.F171S, p.F194L e p.R333G
na enzima GALT. Através da realização de técnicas de biologia molecular e químicas,
estes investigadores observaram uma série de alterações: a) as variantes p.D28Y and
p.R333G apresentam alterações na carga global e nos valores de pI dos resíduos de
aminoácidos constituintes, modificando em consequência a estrutura primária da
enzima; b) as leveduras que continham plasmídeos com os genes GALT mutantes
apresentaram níveis de actividade enzimática significativamente mais baixos que as
leveduras contendo plasmídeos com o gene GALT wild-type; c) a expressão de enzimas
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2.6.DIAGNÓSTICO
Na prática clínica, o diagnóstico da galactosémia não é simples, uma vez que
não sendo a galactosémia uma condição patológica singular e existindo ainda poucos
conhecimentos bioquímicos, clínicos e fenotípicos das outras formas variantes de
galactosémia, os resultados obtidos pelos vários testes podem ser confusos, não
permitindo a realização de um diagnóstico diferencial. Adicionalmente, a elevada
heterogeneidade alélica do gene GALT confere heterogeneidade fenotípica e origina a
formação de enzimas GALT com diferentes valores de actividade, podendo existir por
exemplo indivíduos com galactosémia Duarte com valores de actividade da enzima
GALT quase indetectáveis (Pyhtila et al. 2014; Liu et al. 2015).
Contudo, na grande maioria dos casos, as investigações laboratoriais iniciais
revelam muitas vezes insuficiência hepática, através da obtenção de valores aumentados
de bilirrubina conjugada e não conjugada, e de níveis aumentados das transaminases e
de aminoácidos no plasma, particularmente fenilalanina, tirosina e metionina; doença
tubular renal apresentando acidose metabólica, galactosúria, glicosúria, albuminúria e
aminoacidúria. Pode também ocorrer disfunções hematológicas, nomeadamente anemia
hemolítica e eventos hemorrágicos em consequência da deficiente produção de factores
de coagulação por parte do sistema hepático (Walter et al. 1999).
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Ao longo dos anos têm surgido vários métodos que permitem a realização do
doseamento de galactose-1-fosfato, nomeadamente métodos cromatográficos,
enzimáticos, fluorimétricos e, mais recentemente, a espectrometria de massa. Chen e
colaboradores desenvolveram um método de diluição isotópica de quantificação de
galactose-1-fosfato eritrocitária por Cromatografia Gasosa acoplada a Espectrometria de
Massa (GCMS), após trimetilsilação da galactose-1-fosfato. Durante este estudo, das
amostras de sangue proveniente de indivíduos com galactosémia clássica, de indivíduos
controlo e de indivíduos suspeitos de galactosémia clássica, foram inicialmente obtidos
hemolisados, aos quais foram adicionados galactose-1-fosfato marcado com isótopos de
carbono 13 (que servirá como padrão interno na técnica de cromatografia gasosa), e
BSTFA + TMCS (N,O-bis (trimetilsilil)trifluoroacetamida + Trimetilclorosilano),
responsável pelo processo de trimetilsilação das hexoses fosforiladas (entre elas a
galactose-1-fosfato). De seguida, as amostras foram injectadas no cromatógrafo, no qual
foi possível separar completamente a galactose-1-fosfato das restantes hexoses
fosforiladas trimetilsilazadas, nomeadamente a galactose-6-fosfato, a glucose-1-fosfato,
a glucose-6-fosfato e a manose-1-fosfato. Posteriormente, com recurso à espectrometria
de massa e usando o método de diluição isotópica, obteve-se um pico de razão
massa/carga correspondente à galactose-1-fosfato, tendo sido possível,
consequentemente, a sua quantificação. Estes investigadores, e paralelamente a este
método, realizaram também a quantificação da galactose-1-fosfato pelo método
enzimático da galactose desidrogenase, não tendo sido obtido valores significativamente
diferentes por ambas as técnicas. Os autores demonstraram ainda que este método é
linear até uma concentração tóxica de galactose, e possui elevada precisão e
sensibilidade, levando-os a concluir que este método pode ser aplicado na prática clínica
para o doseamento da concentração da galactose-1-fosfato (Chen et al. 2002).
O doseamento do galactitol urinário é exemplo de outro teste que é utilizado no
diagnóstico de galactosémia clássica. Muitos são os estudos que demonstram que nos
indivíduos com galactosémia clássica os níveis deste metabolito, mesmo realizando uma
dieta alimentar restrita em galactose, mantêm-se em níveis significativamente elevados
quando comparados aos de indivíduos saudáveis. Um dos métodos mais utilizados para
o doseamento do galactitol na urina é também a Cromatografia Gasosa acoplada a
Espectrometria de Massa com diluição isotópica (Elsas 2007; Fridovich-Keil e Walter
2008).
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2.7.RASTREIO NEONATAL
O aparecimento na década de 60 do século XX dos programas de rastreio
neonatal de inúmeras doenças metabólicas hereditárias, nomeadamente a galactosémia
clássica, permitiu o diagnóstico e a implementação de medidas terapêuticas antes do
aparecimento dos primeiros sinais e sintomas. A detecção e o tratamento precoces
levaram a que, nos últimos anos, ocorresse diminuição do índice de mortalidade e
diminuição da gravidade das complicações a longo prazo, conduzindo
consequentemente a um melhoramento na qualidade de vida destes doentes. Está
descrito que por cada mês de atraso no diagnóstico e tratamento de doenças metabólicas
hereditárias, há redução significativa do quociente de inteligência, aparecimento de
casos graves de atraso no desenvolvimento mental, doenças hepáticas, doenças renais,
deficiências visuais, doenças cardíacas, e agravamento do estado económico e
financeiro do país (Hatam et al. 2013).
O método de rastreio neonatal da galactosémia clássica actualmente mais
aconselhável deve ser feito a partir de uma amostra de sangue, a qual deve ser colhida a
partir do calcanhar do recém-nascido. A amostra biológica é depois depositada num
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mg), nestes três doentes adolescentes, não causou alterações físicas, oftalmológicas, e
bioquímicas, levando-os a sugerir que a restrição total de galactose na dieta, incluindo
fruta e vegetais, não é necessária, sendo a dieta restrita em lactose suficientemente
eficaz no tratamento da galactosémia clássica. Contudo, estes autores alertam para o
facto de, caso a dieta restrita em galactose seja abolida, ser necessária a realização de
estudos de monitorização, que incluam exames físicos, bioquímicos e psicológicos, de
modo a avaliar a evolução clínica dos doentes (Bosch et al. 2004).
Estes resultados estão de acordo com a ausência de casos de cataratas e doenças
hepáticas reportados na literatura do Reino Unido, onde o consumo de frutos e vegetais
é uma realidade, e apenas a restrição em alimentos que contém maior quantidade de
lactose é aplicável (Bosch 2011).
Adicionalmente, o aparente aumento da tolerância à galactose com o aumento da
idade, devido possivelmente à diminuição na produção endógena de galactose, apoia a
tese de que a restrição alimentar de frutas e vegetais não acrescenta valor terapêutico à
dieta restrita em lactose, já que na literatura é reportado um caso de dois adultos
galactosémicos homozigóticos para a mutação p.Q188R, que suspenderam o tratamento
dietético aos 3 anos de idade, apresentando uma ingestão diária de galactose entre 2690
e 9000 mg de galactose. Estes doentes não apresentam sinais de cataratas e doença
hepática, nem anomalias neurológicas e psicológicas, e possuem níveis de galactose-1-
fosfato eritrocitária e de galactitol urinário dentro dos valores considerados normais
(Bosch 2011).
Contudo, na literatura é aconselhável não generalizar a abolição da dieta restrita
em galactose, pelo menos até se compreender totalmente a fisiopatologia do
aparecimento das complicações a longo prazo. Para tal, é necessário a realização de
mais estudos com fim de investigar novos biomarcadores da toxicidade da galactose, e
de entender os efeitos bioquímicos e clínicos da galactose exógena tanto nas crianças
como nos indivíduos adultos com galactosémia clássica (Bosch 2011).
Outra grande questão que também se coloca em relação ao tratamento dietético
relaciona-se com os indivíduos com galactosémia Duarte que apresentam níveis de
actividade da enzima GALT de 14-25%, e diz respeito à necessidade de realização, por
parte destes doentes, de uma alimentação restrita em galactose durante toda a vida.
Existe uma enorme controvérsia entre os vários centros metabólicos e os centros de
rastreio neonatal espalhados pelo mundo acerca desta questão, na medida em que parte
dos centros recomendam a não realização de uma dieta pobre em galactose enquanto
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outra parte aconselha a realização de uma dieta alimentar restrita em galactose pelo
menos durante o primeiro ano de vida (Fernhoff 2010).
Actualmente, a escolha relativamente à aplicação do tratamento dietético durante
o primeiro ano de vida a um doente com galactosémia Duarte recai, geralmente, sobre
os profissionais de saúde e os pais. Assim, caso se opte por não sujeitar o recém-nascido
com galactosémia Duarte a uma dieta restrita em galactose, é aconselhável realizar o
doseamento da galactose-1-fosfato eritrocitária aos 12 meses de idade de forma a
observar se os níveis deste índice bioquímico se estão aproximar dos valores de
referência (<1,0 mg/dL). Caso se opte por sujeitar o recém-nascido com galactosémia
Duarte a uma dieta restrita em galactose, é recomendável primeiramente obter uma
linha de base do nível de galactose-1-fosfato eritrocitária na altura do diagnóstico e após
a introdução dos alimentos sólidos (por volta dos seis meses de idade da criança); e
seguidamente, aos 12 meses de idade, introduzir na dieta alimentar, de uma forma
gradual, alimentos que contenham galactose e medir o nível de galactose-1-fosfato
eritrocitária um mês depois. Nesta fase, caso a concentração de galactose-1-fosfato se
encontre dentro do intervalo dos valores de referência, a dieta restrita em galactose não
é retomada; pelo contrário, se o valor da concentração de galactose-1-fosfato obtida for
superior aos valores de referência, a dieta restrita em galactose deve ser retomada e o
doente deve ser monitorizado para que as possíveis complicações a longo prazo sejam
detectadas precocemente (Fridovich-Keil et al. 2014).
O aparecimento de casos clínicos que relatam situações de indivíduos com
galactosémia Duarte que realizam uma dieta não restrita em galactose e que não
apresentam complicações a longo prazo característicos da galactosémia clássica torna
urgente o encontro da resposta à questão “Será que os doentes com galactosémia Duarte
devem seguir uma dieta restrita em galactose?” De facto Ficicioglu e colegas no seu
estudo que englobou trinta crianças com galactosémia Duarte, com idades entre 1 e 6
anos, observou que estas crianças, realizando uma dieta alimentar não restrita em
galactose, apresentam, relativamente a indivíduos controlo, níveis normais de galactose-
1-fosfato eritrocitária e galactitol urinário, e níveis superiores de galactose plasmática e
de outros metabolitos da galactose, nomedamente galactonato urinário, galactonato
eritrocitário, galactitol eritrocitário, e galactitol plasmático. Contudo, apesar do aumento
verificado dos índices bioquímicos, estas crianças não exibiram sinais e sintomas de
falência hepática, problemas oftalmológicos e anomalias neurológicas. No entanto, estes
resultados levantam outra questão. Será que a exposição das células a elevados níveis de
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do pé, para uma ficha com papel de filtro adequado. A colheita do sangue é actualmente
efectuada nos Hospitais, Maternidades ou Centros de Saúde, entre o terceiro e sexto dias
de vida, devendo, após a colheita, ser enviada para o Laboratório Nacional de Rastreios,
onde é feita a determinação de metabolitos que possibilitam a detecção de condições
patológicas (Vilarinho et al. 2006).
A galactosémia clássica, apesar de ser uma doença hereditária do metabolismo,
não está incluída na lista de doenças rastreadas pelo Programa Nacional de Diagnóstico
Precoce. No entanto, todas as amostras que apresentem níveis aumentados dos
aminoácidos fenilalanina e/ou tirosina são rastreadas para a galactosémia clássica
através da determinação semi-quantitativa da actividade da enzima GALT pelo teste de
Beutler, seguido da quantificação dos níveis de galactose total. Segundo o relatório de
2014 do Programa Nacional de Diagnóstico Precoce, nesse ano foram estudados 83.100
recém-nascidos, tendo sido identificados dois novos casos de galactosémia clássica,
com um tempo médio de início de tratamento de 11 dias após o nascimento (Vilarinho
et al. 2015).
No nosso país, a mutação prevalente no gene GALT responsável pelo
aparecimento da galactosémia clássica é a p.Q188R. Coelho e colegas, num estudo
realizado em 42 doentes portugueses com galactosémia clássica, identificaram a
presença de 14 mutações diferentes, em que a maioria é do tipo missense e o genótipo
prevalente é a homozigotia para a mutação p.Q188R. Surpreendentemente, a segunda
mutação detectada em maior frequência (8.0%) foi uma variação intrónica c.820+13a>g
(IVS8+13a>g), tendo sido identificada num doente homozigótico e em cinco doentes
em heterozigotia composta com outras mutações. Seguidamente, com frequência igual a
4%, as terceiras mutações maioritariamente detectadas foram as p.S135L e p.G175D. A
mutação p.S135L foi encontrada em heterozigotia com as mutações p.Q188R e p.F171C
em indivíduos com ascendência africana, enquanto a mutação p.G175D apenas foi
detectada em Portugal. Juntamente com esta última mutação também as mutações
p.P185S, p.R259W e p.F171C foram identificadas exclusivamente na população
galactosémica portuguesa (Coelho et al. 2013). Contudo, curiosamente, em Portugal não
foram detectadas as mutações p.K285N e p.L195P, cuja prevalência é elevada no
continente Europeu, nomeadamente em Espanha (Gort et al. 2009). Estes últimos
autores demonstraram que, no país irmão, a mutação p.L195P é a segunda mutação
mais prevalente, com uma taxa de 15,7%, seguida da mutação p.K285N que possui uma
taxa de prevalência de 9,8%. Estes resultados levaram os autores a sugerir que, apesar
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(ARGININA)
A galactosémia clássica é causada maioritariamente pela ocorrência de mutações
missense no gene GALT. Através da realização de estudos estruturais e funcionais
demonstrou-se que a ocorrência deste tipo de mutação é responsável pela síntese de
proteínas GALT misfolded, cujos perfis cinéticos, de susceptibilidade à degradação
proteolítica, de estabilidade conformacional, de ligação ao substrato, e de agregação,
estão alterados (McCorvie et al. 2013; Coelho et al. 2014).
A descoberta de que as mutações missense potenciam os processos de agregação
proteica em solução foi muito importante não só na evolução do conhecimento da
fisiopatologia da galactosémia clássica, pois provou-se que contribui para o
desequilíbrio da homeostase celular (aumentando, por exemplo o stress do retículo
endoplasmático associado à acumulação de proteínas unfolded no lúmen do retículo
endoplasmático) mas também no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas
(De–Souza et al. 2014).
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Outro exemplo de uma possível estratégia terapêutica que pode ser aplicada no
tratamento da galactosémia clássica é a utilização de pequenas moléculas,
nomeadamente MnTnBuOE-2-PyP5 +
e MnTE-2-PyP5 +, que actuam mimetizando a
acção da enzima superóxido dismutase, diminuindo o stress oxidativo celular através da
eliminação de espécies reactivas de oxigénio e azoto (Batinic-Haberle et al. 2012).
Apesar dos inúmeros estudos que são realizados e do enorme desenvolvimento
tecnológico que permitiu tornar métodos bioquímicos e moleculares mais sensíveis e
precisos, actualmente ainda existe uma grande lacuna acerca do conhecimento dos
processos constituintes da fisiopatologia da galactosémia clássica. Hoje em dia sabe-se
que a acumulação de compostos resultantes do metabolismo da galactose assume um
papel preponderante no aparecimento de complicações a longo prazo (Fridovich-Keil e
Walter 2008). Contudo, na última década, através da utilização de modelos
geneticamente modificados de Drosophila melanogaster novos factos têm sido
descobertos acerca da fisiopatologia da galactosémia clássica. Lucioni et al, estudando o
impacto de oxidantes e anti-oxidantes alimentares na sobrevivência e desenvolvimento
de Drosophila melanogaster que não expressa a enzima GALT, medindo a acumulação
de biomarcardores de stress oxidativo, e quantificando os níveis de expressão de genes
envolvidos na resposta ao stress oxidativo (GSTD6 e GSTE7), concluíram que um dos
mecanismos de toxicidade da galactose na ausência de síntese da enzima GALT é a
indução do estado de stress oxidativo. Estes investigadores observaram que na presença
de galactose e de compostos oxidantes, a taxa de sobrevivência de espécies larvares e
adultas mutantes de Drosophila melanogaster é significativamente menor à taxa de
sobrevivência de espécies larvares e adultas wild-type; na presença de galactose e
compostos oxidantes os níveis dos biomarcadores de stress oxidativo GSSG e CySS
aumentaram significativamente em ambos os genótipos; e na presença de galactose as
espécies mutantes apresentaram níveis de expressão dos genes GSTD6 e
GSTE7significativamente mais elevados que as espécies wild-type (Jumbo-Lucioni et al.
2013).
Tendo em conta as descobertas feitas no seu estudo anterior, Lucioni et al, no
ano 2014, propuseram e provaram que a síntese de compostos capazes de restabelecer a
homeostase redox celular poderá representar outra alternativa terapêutica para os
indivíduos com galactosémia clássica. Estes investigadores demonstraram que na
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4. CONCLUSÃO
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agente terapêutico ou como ferramenta de estudo dos genes, tendo sido já aprovado pela
Food and Drug Administration a comercialização do primeiro oligonucleótido
antisense, o Vitravene, para o tratamento da retinite por citomegalovírus. Contudo, para
que o uso de oligonucleótidos antisense seja considerado uma estratégia terapêutica
eficaz no tratamento de doenças hereditárias do metabolismo, como a galactosémia
clássica, é necessário realizar estudos que visam optimizar o seu design de modo a
aumentar a sua eficiência terapêutica e especificidade, e diminuir os seus efeitos
tóxicos. Uma possível estratégia que está a ser investigada para diminuir a sua
toxicidade, e que parece promissora, é a construção e utilização de nanopartículas, que
contêm no seu interior o fármaco, e que permitem o transporte mais eficiente e
direccionado dos oligonucleótidos até às células alvo, e o aumento do seu tempo de
exposição.
Outro exemplo de alternativa terapêutica para a galactosémia clássica que foi
aqui descrito foi o uso de chaperones químicos/farmacológicos, como é exemplo a
arginina, capazes de prevenir a formação de agregados proteicos. Os agregados
proteicos resultam de erros de função dos complexos moleculares responsáveis pelo
controlo de qualidade do processo de folding das proteínas, estando na base do
aparecimento de inúmeras patologias neurodegenerativas como são exemplos a doença
de Alzheimer, a doença de Parkinson, a diabetes tipo II e a encefalopatia espongiforme
bovina. Também na galactosémia clássica existem evidências de que a agregação de
proteínas misfolfded, resultantes essencialmente de mutações missense, está envolvida
na sua fisiopatologia. Como tal, pensa-se que uma das estratégias terapêuticas passará
pela utilização de chaperones químicos/farmacológicos que, ao contrário da terapia
antisense, apresenta a vantagem de não ser específica para uma determinada mutação
podendo ser eficaz terapeuticamente num maior número de casos.
A administração de inibidores da enzima GALK também tem sido estudada
como uma nova alternativa terapêutica para a galactosémia clássica. A sua acção visa
inibir a formação de galactose-1-fosfato catalisada pela enzima galactocinase, um dos
principais compostos resultantes do metabolismo da galactose associado ao
aparecimento das complicações a longo prazo. Até agora, os resultados dos estudos que
investigam o potencial terapêutico dos inibidores da enzima GALK parecem
promissores, demonstrando que a inibição farmacológica da enzima galactocinase
juntamente com a realização da restrição dietética é eficaz na redução da acumulação de
níveis tóxicos de galactose-1-fosfato em células provenientes de doentes com
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