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Dilermando Cardoso: As Pequenas Alegrias é que Tornam a Vida

Suportável

No início dos anos 2000, o escritor e bancário aposentado Dilermando


Cardoso manteve, durante dois anos, uma coluna intitulada “Casos &
Crônicas”, abordando em grande parte suas memórias em relação a
lembranças, fatos, boatos e personagens da vida política bom-despachense no
passado recente. No início de 2023, Dilermando escreveu e publicou um
romance regional sertanejo, o Sertão Meu: Gerais, inspirado no Engenho do
Ribeiro. Para ele, segundo seu avô, o sertão começava em Dores, logo do
outro lado do São Francisco, aqui era “gerais”. Dois dos capítulos podem ser
lidos aqui, na página Recanto das Letras:
<https://www.recantodasletras.com.br/causos/3365392>>. A edição foi restrita,
mas Dilermando alegou que colocou alguns exemplares nas escolas e na
biblioteca municipal. O ilustrador é o mesmo do livro do Vander. São cinquenta
personagens no livro (conforme Dilermando explicou em entrevista a Dênis da
Central FM). O principal personagem é o coronel Firmino, que arbitrava tudo.
Do lado feminino há uma menina suave, doce, Lena. O bandidão da história,
Serafim, era um bate pau, trabalhava armado para os fazendeiros. Serafim era
o matador.

Como a coluna fez sucesso, no ano de 2008 Dilermando reuniu as


crônicas em um simpático livrinho de capa azul, “Crônica de Bom Despacho”,
um volume com as melhores crônicas publicadas. Mamãe tem uma lembrança
afetiva muito boa dessas crônicas, por isso comprei o livro para ela.

Mamãe tem uma lembrança bastante curiosa de uma crônica de


Dilermando. Era a história de uma encenação de teatro escolar da paixão de
Cristo onde, empolgado com o papel, rapaz que fazia o soldado romano
passou a bater com realismo o chicote nas costas do aluno que fazia Jesus
Cristo. E lá pelas tantas, o aluno que interpretava o Cristo deixou a cruz no
chão, passou a gritar palavrões e correu atrás do soldado para revidar as
chicotadas que lhe ardiam no lombo! Não encontrei, no entanto, tal crônica
entre as publicadas. No entanto, há uma com uma temática semelhante,
intitulada “Contrarregra”. Dilermando contou que ficou como contrarregra em
uma peça encenada na escola. Dilermando passou, então, a exercitar dotes
artísticos: competia a ele abrir cortinas, cuidar do som, luzes, cenários, bem
como um par de roldanas. As roldanas faziam com que Cristo subisse aos céus
no clímax, através de uma corda passada entre as pernas do Cristo-ator. Ele
assim definiu apoteótica cena final:

Tudo transcorreu sob controle, até a cena final, quando a mais de dois
metros suspenso no palco –em emocionada ascensão –o aluno Cristo perdeu
o equilíbrio, ficando dependurado de cabeça para baixo. Seminu, ele gritava
sacrilegamente: “_Pelo amor de Deus, alguém bambeia a corda, porque tá
enforcando meu pinto!” O desastre poderia ter sido contornado, em parte,
fechando a cortina da boca do palco; mas caprichosamente, também ela
emperrou...enquanto a seleta e religiosa plateia, composta inclusive por freiras
e noviças atônitas, não sabia se vaiava ou se aplaudia. Foi aquele Auto da
Paixão, Morte e, infelizmente, Ressureição de Cristo, meu primeiro e último
trabalho em teatro, para felicidade geral dos atores e atrizes.

Como se vê, ele supera o caso que ficou na imaginação de minha mãe.
Vale a pena, então, conferir o novo livro de Dilermando, para que ele nos divirta
com mais casos como este!

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