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Máquina de morar um conceito a ser reconsiderado

Sâmia de Paulo Farrapo


R.A: 2019310207
Instituição de Ensino: Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas
Curso de Pós-Graduação em MBA em Gestão de Negócios Imobiliários
Orientador: Selvino Fachini
INTRODUÇÃO

O conceito de máquina de morar criado pelo arquiteto Le Corbusier


(1887-1965) defende a concepção de espaços projetados para a praticidade e
facilidades das atividades promovendo o conforto físico. Projetar espaços oportunos
à meditação em que exista beleza e traga ao espírito a calma indispensável. A
beleza e a ordem, seria a missão da arquitetura. O conceito culminou na sociedade
em meio a sua revolução industrial. O tradicional trabalho em lavouras ou artesanais
cedem espaço para o trabalho operário. Originados do campo e levados para
cidades propiciou o crescimento desassistido. O ritmo frenético de produzir o
máximo em menor tempo pelo menor preço ainda está impregnado na sociedade
atual. Tudo estaria correto até percebe-se que a qualidade foi perdendo espaço para
a lucratividade.

A especulação imobiliária margeia sobre essa problemática. Para conectar os


fatos foi realizado estudo literário que datam como ocorreu a perda da qualidade. A
literatura de Vargas e Araújo, Arquitetura e Especulação Imobiliária, publicada em
2014, ilustra como a arquitetura tornou-se mercadoria. Este mostra como a
lucratividade torna-se o ponto principal e passam a vender padrões de vida. Elenca
o distanciamento entre o arquiteto e o usuário, pois a construção arrivista está
comprometida somente com o proprietário rentista.

Para enaltecer a importância de ouvir o usuário na construção de espaços


com qualidade é realizado o embasamento teórico do livro Arquitetura Sob o Olhar
do Usuário, traduzido por Voordt e Wegen publicado em 2013. Nele contém a
descrição para um processo correto de produção da edificação e assim suprir as
necessidades dos futuros usuários é crucial a comunicação eficiente entre o mesmo
com o arquiteto.
DESENVOLVIMENTO

Rossetti (2007), faz abordagem que Le Corbusier (1887-1965) defendia seu


conceito “máquina de morar”, não deveria ser só uma casa bonita e confortável, mas
também ter em sua lógica funcionalidade e eficiência, estando perfeitamente apta
para atender às necessidades dos ocupantes.” Vargas e Araújo (2014), afirmam que
o conceito perdura desde 1910. A especulação imobiliária teve destaque
alavancando a economia do Brasil desde 1980. Decorrente no período industrial,
nomeado de rentista, as cidades cresceram sem acompanhamento e a produção
para alugar tornou-se possibilidade de investimento.

Conforme o autor supracitado a edificação passa a ser vista como produto


(valor de troca), convergia com a demanda de uma boa arquitetura com valor de
uso. Os consumidores individuais que almejam condições de conforto, eficiência,
imagem e liquidez, cede espaço para proprietários rentistas que buscam valor de
troca, desejando o aumento da renda ou riqueza, com isso exigem flexibilidade,
maior rentabilidade, baixo custo de produção, retorno imediato e liquidez. Também
para o estado que investe em moradias para a população de baixa renda, desejando
imagem e menor preço nominal.

Com a construção em grande escala, muitas vezes excedendo a demanda


real, anima a construção civil e a economia, porém interfere fortemente na dinâmica
das cidades, valorizando o solo urbano sem considerar a viabilidade econômica dos
investimentos e o desenvolvimento da sociedade. Sobre essa interferência conduz a
cidades segregadas, desiguais e de baixa qualidade ambiental urbana, promovendo
a deterioração de áreas urbanas centrais ao criar novas opções de assentamentos.
(VARGAS e ARAÚJO, 2014)

Vargas e Araújo (2014), afirmam que nessa busca o processo passa a ser
fragmentado e o projeto deixa de ser gerido pelo autor, em alguns casos a fachada
tem a sua criação individual. A unidade projetual é destruída. A arquitetura torna-se
mercadoria, as campanhas publicitárias e marketing tornam-se mais importantes
custando seis vezes mais do que o valor do projeto praticado no mercado.
Ibeling citado por Vargas e Araújo (2014), afirma que o mundo está cada vez
mais frenético e percebe-se a influência dos usuários pelos meios de comunicação.
Na década de 1950 a ligação do empreendimento com o arquiteto que o assina,
destacava como sua grife e o valor por ela adicionado.

Vargas e Araújo (2014), afirmam que na maioria dos casos os usuários não
têm contato com o arquiteto. A palavra cliente deriva do latim, cliens, que significa
escutar. A palavra padrão deriva do latim, pater, significa protetor dos clientes. Em
meio a essa ambiguidade Johnson citado pelo autor supracitado, afirma que desde o
século XVII, o arquiteto está como ouvinte, ao mesmo tempo, o cliente atual é o
patrão.

Rogers citado por Voordt e Wegen (2013), diz que “a forma segue o lucro” é o
verdadeiro princípio estético do nosso tempo, construir a maior área possível pelo
menor investimento e no prazo mais curto. Empresas que vendem projeto e
construção muitas vezes oferecem plantas padronizadas. São plantas sem relação
com nenhum projeto ou terreno, assim descreve Van de Haarschot (1998).

Franck e Lepari citado por Voordt e Wegen (2013), defendem que os espaços
sejam pensados de dentro para fora, pois, possibilitando sensações espaciais
ligando aos indivíduos e inspiram um clima confortador, um espírito alegre e
sensações de apoio. O espaço tem que partir dos desejos do cliente, do terreno e do
contexto, conforme o diálogo entre o arquiteto e o cliente. Máquina de morar é um
conceito a ser reconsiderado na indústria da construção.

Van Duin citado por Voordt e Wegen (2013), em sua análise de uso afirma
que a quantidade de espaço necessária para determinada atividade não determina
qualidade. Flexibilidade e multifuncionalidade trazem satisfação de um mesmo
espaço para diversas necessidades, afirma Hertzberger citado por Voordt e Wegen
(2013).

Martins (2005), descreve os parâmetros para identificar qualidade. A


necessidade de uma qualidade funcional na edificação é oferecer apoio às
atividades desejadas, criação de ambientes agradáveis, torna-se símbolo positivo
para retorno econômico e sendo oportuno entre preço e desempenho. A edificação
deve suportar o uso previsto e contribuir para saúde e bem-estar, fazendo uso ótimo
de capital, mão-de-obra e materiais. Hertzberger citado por Voordt e Wegen (2013),
defende a arquitetura humanista, baseada no respeito aos indivíduos, seus valores e
sua dignidade.

Voordt e Wegen (2013), consideram as expectativas dos usuários é o primeiro


paradigma da arquitetura. Além da função de proteger seu território ou domínio em
relação à privacidade. Tem a função social proporcionando bem-estar, comunicação
e qualidade de vida. Função cultural ao atender exigências, fatores estéticos,
ambientais e desenho urbano, incluindo noções de civilização sem causar incômodo
nem prejudicar o meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As construções precisam ser vistas além de seus valores monetários. A


edificação é mais que uma fonte econômica, ela oportuniza encontros, sedia
momentos, abriga pessoas protegendo-as das intempéries e conecta vidas. Isso não
pode ser deixado para trás na concepção de um projeto, mas essa importância nem
sempre está contida no programa de necessidades dos proprietários rentistas.

As novas construções anseiam por espaços que sejam pensados sobre a


arquitetura humanista. Faz-se necessário uma construção pensada conforme as
condições financeiras estendendo a oportunidade de qualidade a todos. Para isso a
reaproximação do arquiteto com o usuário é preciso. Os custos devem ser ajustados
sem deixar de cumprir as normas e especificações técnicas, que garantem
segurança e conforto. A satisfação do cliente é o sucesso de uma edificação e a
superação das expectativas torna-se o melhor marketing de vendas. (MARTINS,
2005)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CONSULTADAS


Voordt. Theo J. M. van der, Wegen. Herman B. R. van. Arquitetura sob o olhar do
usuário: programa de necessidades, projeto e avaliação de edificações. São
Paulo: Oficina de textos, 2013
Vargas. Heliana Comin, Araujo. Cristina Pereira de (org.). Arquitetura e
especulação imobiliária. São Paulo: Manole, 2014.
MARTINS, Petrônio G.; LAUGENI, Fernando P. Administração da Produção. São
Paulo: Saraiva, 2005. Disponível em:
<https://www.academia.edu/32439501/Administracao_da_producao_Petronio_G_Ma
rtins_Fernando_P_Laugeni_pdf>. Acesso em: 03 de agosto de 2020.
Rossetti, Carolina Pierrotti. Flávio de Carvalho: questões de arquitetura e
urbanismo. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Escola de Engenharia,
Universidade de São Paulo, São Carlos. Disponível em:
<http://livros01.livrosgratis.com.br/cp030158.pdf>. Acesso em: 18 de setembro de
2020.

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