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Outra figura jurídica com caraterísticas semelhantes é a figura da tutela que, por sua vez, é
uma forma de suprir a incapacidade do menor, funcionando nos casos em que as
responsabilidades parentais não podem, em absoluto, ser exercidas pelos progenitores e
não tiver sido constituído um vínculo de apadrinhamento civil. No entanto, não temos neste
instituto a presença de uma dimensão afetiva que se deseja para o Apadrinhamento Civil e,
ao contrário deste, não tem um caráter tendencialmente permanente, uma vez que cessa
com a maioridade.
O Apadrinhamento Civil surgiria assim de forma a fazer face aos pressupostos demasiado
exigentes da adoção restrita, situando-se num patamar entre esta e a tutela, criando-se uma
relação jurídica nova no direito português.
2. Natureza do instituto
A natureza deste instituto jurídico tem sido alvo de várias discussões na nossa doutrina. A lei
é omissa quanto à apresentação de uma noção de relação jurídica familiar, sendo que
apenas nos fornece aquelas que são consideradas fontes de relações familiares (cf. artigo
1576º do CC) - o casamento, o parentesco, a afinidade e a adoção. A Proposta de Lei
desenhava já o apadrinhamento civil enquanto uma relação parafamiliar, que não pretendia
ascender a um vínculo semelhante ao da filiação e cujos laços com a família biológica não se
cortariam.
Maria Margarida Silva Pereira pronunciou-se também já sobre este instituto, defendendo
não se estar no domínio das relações familiares pelo facto de o padrinho civil poder sempre,
no seu interesse, e só de acordo com ele, pôr fim ao apadrinhamento, nos termos do artigo
25.º da LAC. Refere ainda a autora que o papel do padrinho não se pode equiparar ao de
relação familiar pois admitir que assim fosse seria dizer que a família afinal pode ser
circunstancial e isentar-se das suas funções para com as crianças em razão de vários
fundamentos.
Jorge Duarte Pinheiro, por outro lado, considera que o apadrinhamento civil não é apenas
mais uma relação familiar, mas sim uma nova relação familiar inominada, a par das
nominadas. É seguido por Rui do Carmo que também considera que o apadrinhamento civil
faz parte das relações familiares pois depende de uma intervenção estatal para a sua
constituição e revogação, a sua duração ultrapassa o período de menoridade do afilhado e o
seu objetivo é o da integração familiar do afilhado junto dos padrinhos.
3.2. Já no Brasil existe um regime mais informal, chamado “Apadrinhamento Afetivo”, que
consiste num programa social onde há cooperação com alimentação, vestuário,
educação e saúde por parte de voluntários em parceria com algumas instituições de
acolhimento de forma a proporcionar a crianças institucionalizadas um ambiente mais
próximo ao ambiente familiar. Diz-se afetiva porque acima de tudo a guarda continua
sempre a pertencer à instituição de acolhimento, apesar de ser expectável que a
criança possa participar na vida familiar do padrinho (em férias escolares, ocasiões
especiais, entre outras)
O principal requisito geral para se ser padrinho está previsto no artigo 4º da LAC:
Quanto aos requisitos gerais para se ser afilhado, estes estão previstos no artigo 5º LAC:
1
Quanto ao requisito da idade, Guilherme de Oliveira considera que ainda que o menor se
emancipe pelo casamento por via do artigo 1649º do código civil, se, em algum caso, o
Apadrinhamento Civil apresentar reais vantagens para o jovem, não se veem razões para
excluir a sua aplicação.
Torna-se interessante sublinhar aqui que, para além do requisito da idade máxima, foi
inicialmente ponderada uma idade mínima para o afilhado, de modo a que se encaminhassem
as crianças mais novas para o instituto jurídico da adoção, no entanto este aspeto acabou por
não ser transposto para a versão final da lei.
6. Habilitação e designação
A habilitação “consiste na certificação de que a pessoa singular ou os membros da família que
pretendem apadrinhar uma criança ou jovem possuem idoneidade e autonomia de vida que
lhes permitam assumir as responsabilidades próprias do vínculo de apadrinhamento civil.” (Art.
12º da LAC)
Trata-se de uma primeira fase da constituição do vínculo de apadrinhamento civil e que cabe
ao organismo competente da segurança social ou a instituições que tenham celebrado acordos
com aquele organismo.
A doutrina tem elogiado bastante esta circunscrição regional da escolha do padrinho, pois um
dos pressupostos principais deste regime é que não se cortem laços entre a criança e os seus
pais.
Note-se ainda que a escolha dos padrinhos é feita com respeito pelo princípio da audição
obrigatória e da participação no processo da criança ou do jovem e dos pais.
O regime prevê ainda um apoio ao apadrinhamento, que tem com objetivo criar ou intensificar
as condições necessárias para o sucesso da relação de apadrinhamento e avaliar o êxito do
vínculo estabelecido. Trata-se de um mecanismo da competência das comissões de proteção
de crianças e jovens ou da delegação competente da segurança social, consoante onde tenha
sido celebrado o compromisso de apadrinhamento.
Este apoio termina quando a entidade responsável concluir que a integração familiar normal
do afilhado se verificou, ou passados 18 meses da constituição do vínculo.
Efeitos principais:
Os afilhados, passam a viver com os padrinhos que têm de velar pela sua segurança, saúde,
prover o sustento, dirigir a educação, representar e administrar os bens. Por outro lado, os
afilhados, devem obediência, embora devam ter em conta a sua opinião e reconhecer-lhe uma
progressiva autonomia.
Podem existir restrições nos termos do art. 7 n.º 1 LAC – no compromisso de apadrinhamento
civil ou decisão judicial –, tendo em vista assegurar os direitos dos pais do menor ou mesmo
deste.
Há ainda limitações decorrentes da lei que equiparam o padrinho ao tutor ao determinar que,
certos atos, ficam dependentes de autorização do Ministério Público - art. 7.º e 8.º LAC.
Um dos aspetos principais é que, no apadrinhamento civil, não se quebram os laços com a
família natural pelo que são previstos na LAC vários direitos dos pais. Apenas podem ser
afetados o direito de contactar e visitar o filho caso esteja em causa a segurança ou saúde
física ou psíquica da criança.
Os direitos que constam no art. 8.º LAC podem ser reconhecidos a qualquer pessoa relevante
para a criança – avós, tios, etc..
Esta opção legislativa prende-se com o facto de, mesmo quanto os pais estiverem inibidos das
responsabilidades parentais, serem obrigados a prestar alimentos – art. 1917.º CC.
Por outro lado, os afilhados também respondem, subsidiariamente, relativamente aos filhos
dos padrinhos.
Benefícios recíprocos:
A lei equiparou padrinhos/madrinhas e afilhados a pais e filhos – ex: art. 23.º LAC - regime de
faltas, de assistência na doença, etc.
Foi discutida a questão de saber se os padrinhos deviam receber algum subsídio específico (no
acolhimento recebem, sendo que acabou por não se atribuir porque há uma ideia de
voluntariedade e altruísmo e essencialmente porque o enfoque maior é o bem-estar da
criança e podia até haver conflito com o direito/dever a alimentos; provavelmente também
por questões governamentais e de gestão de fundos)
Impedimento ao casamento:
Absolutos (Da pessoa que casa com qualquer outra
pessoa). Ex.: menor de 16 anos
Dirimentes
Relativos (Da pessoa que casa com aquela em específico
Impedimentos com quem quer casar). Ex.: parentesco na linha
Impedientes reta
(Suscetíveis de dispensa). Ex.:
maior de 16 e menor de 18.
Por outro lado, caso tenha sido realizado sem a dispensa, não determina a sua invalidade mas
apenas tem efeitos sobre a capacidade de receber benefícios ou doações por parte do outro
cônjuge durante o casamento.
Modificação do vínculo?
Crítica: GUILHERME DE OLIVEIRA entende que devia ter sido prevista a possibilidade de
revisão, à semelhança do que acontecia com a adoção restrita, sendo certo que, de alguma
forma, se pode ultrapassar esta questão ao considerar que há vários fundamentos que
permitem a revogação e consequente extinção do vínculo. Contudo, a eficácia tem efeitos
temporais diversos (na revogação é ex nunc e na revisão é ex tunc).
Não obstante, embora seja tendencialmente permanente, pode vir a terminar por revogação
judicial – art. 25.º LAC, sendo que, antes de operar esta revogação pode ser determinado que
os serviços de mediação intervenham, sendo que a concretização (da revogação e da
constituição do apadrinhamento civil) está sujeita a registo obrigatório e não pode ser
invocado antes de concretizado esse registo.
O certo é que, ao contrário da adoção, não é irrevogável (a adoção foi na tentativa de criar um
laço semelhante ao da filiação biológica) e se assim fosse, talvez pudesse haver mais
investimento afetivo na relação. Por outro lado, para garantir a proteção da infância, não pode
ser permitia a revogação sem qualquer pretexto e num regime livre.
QUESTÃO: O que fazer quando apenas um dos padrinhos violou os deveres? A revogação deve
dar-se relativamente a ambos ainda que isso prejudique aquele que cumpriu diligentemente
ou apenas diz respeito ao padrinho que violou os deveres e pode levar à situação de apenas
um dos padrinhos ter o exercício das responsabilidades parentais embora vivam em conjunto?
No caso de extinção do apadrinhamento civil por motivos não imputáveis aos padrinhos, a lei
consagra direitos específicos quanto aos padrinhos – art. 26.º LAC – para assegurar as
expectativas que foram criadas que podem cessar caso o seu exercício se torne contrário aos
interesses da criança.
CONCLUSÕES:
1) Desconhecimento da figura quer por parte do público em geral quer dos próprios
institutos envolvidos – segurança social -;
2) Desinteresse pelos possíveis padrinhos motivado pela possível 2.ª causa - relação que
se mantém com os pais biológicos do afilhado;
3) Relação entre os padrinhos e os pais biológicos e o dever de cooperação entre ambos
nomeadamente o direito de visita que deve ser entendido como um direito de tutela
da criança;
4) Falta de apoio financeiro (no acolhimento familiar há, na adoção não);
Recurso:
MP entendeu que devia ser aplicada medida de confiança com vista à adoção quanto a
ambas as menores;
Acórdão:
Entende que não se verificam os pressupostos para a adoção e que não estavam
irremediavelmente comprometidos os vínculos com a mãe (embora com o pai, admita
que sim) – quanto à menina vítima de abusos sexuais, que acabou também por referir
que não queria afastar-se e deixar de ter contactos com a mãe;
Considera, por isso, que é de manter a sentença recorrida na parte em que determina
a aplicação da medida tutelar cível de apadrinhamento civil;
Entende que a medida de apoio junto da mãe, por 1 ano, também não salvaguarda os
interesses da menor que não foi abusada, por não ser exequível mantê-la sem
contacto com o pai que vive na mesma casa, sendo que a mãe sempre se ausentaria
(trabalhava por turnos) e ela teria que ficar com o pai;
Tribunal revoga a medida quanto à criança não abusada, “aproveitando-se” do prazo
que faltava para terminar a prorrogação da medida de acolhimento familiar, sugerindo
que, no período de tempo restante, fosse aferida da situação atual do relacionamento
e condições dos pais para, após, se aplicar uma medida de promoção e proteção
consentânea com a proteção desta criança.