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A APRENDIZAGEM DO /TH/ NO INGLÊS COMO L2 POR FALANTES DE PORTUGUÊS

BRASILEIRO

por

Renata Miranda de Assis Salgado

Programa de Pós-graduação em Linguística


Disciplina: Aquisição de Linguagem
Professores: Alex Carvalho e Aniela Improta

Universidade Federal do Rio de Janeiro


Centro de Letras e Artes
Faculdade de Letras
A APRENDIZAGEM DO /TH/ POR FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRO

Renata Miranda de Assis Salgado

Introdução

Estima-se que sejam faladas cerca de 6000 a 7000 línguas ao redor do mundo.
Entre essas, apenas 50 a 100 línguas possuem os sons do /th/. Algumas línguas, como
por exemplo o inglês, possuem os dois sons do /th/, sonoro [ð] e surdo [θ], outras
possuem apenas um som ou outro. Sendo assim, podemos afirmar que os sons θ e ð
não são comuns na grande maioria das línguas faladas no mundo.
A língua portuguesa é uma dessas línguas em que nenhum desses dois sons são
produzidos. Portanto, é muito natural que falantes do português como L1 tenham
dificuldades em fazer os sons do /th/ de modo perfeito. Algumas pessoas
conseguem. Já outras poderão passar anos para conseguir ou nunca conseguirão.
A área do ensino de segunda língua (ESL) recebeu uma das primeiras
contribuições em pesquisas em 1953, quando Weinreich comparou como funciona o
sistema da língua e disse que a interferência da língua materna era responsável pela
não aquisição de algumas estruturas da segunda língua (L2). No que tange à
fonologia, isto quer dizer que o aprendiz de L2 não seria capaz de produzir os sons
que não acontecem em sua língua materna, pois ele não consegue fazer distinção das
características dos mesmos. Além disso, Robert Lado (1957) argumenta que a
transferência entre as propriedades da primeira língua (L1) e a segunda língua (L2) é
um fator determinante na aprendizagem de uma L2. A pouca capacidade do aprendiz
de perceber os distintos sons na L2 está relacionada com o processo de aquisição de
um sistema fonológico diferente. Portanto, os elementos semelhantes ou parecidos
da L1 e L2 são mais fáceis de serem adquiridos enquanto que os elementos diferentes
são mais difíceis ou até mesmo impossíveis de aprender.
“Certainly transfer is one of the explanations of why Brazilian EFL learners have
problems to acquire the th phonemes, since /θ/ e /ð/ are nonexistent in the
Portuguese inventory “
(REIS, 2010)
De acordo com um estudo publicado por Flege (1987), o aprendiz de uma L2 faz
adaptações ao aprender fonemas que não estão presente na sua L1, ou seja, sempre
poderia tentar encontrar um som da L2 equivalente parecido ao da sua L1, e assim
poderia substituí-lo, causando um desvio. Como o fonema do ‘th’ não existe no
português, há uma tendência dos aprendizes brasileiros em substituir esses sons.
Resumidamente, pesquisas apontam que os aprendizes buscam construir o
sistema sonoro da L2 com base no sistema da sua L1. E isso dificulta a aquisição das
estruturas que diferem entre a L1 e a L2.

1. As Fricativas Interdentais da Língua Inglesa

As fricativas interdentais, no caso os sons do /th/, são fonemas formados por um


atrito produzido por uma obstrução parcial do fluxo de ar vindo dos pulmões em nosso
trato vocal. Esses sons são produzidos em nossa cavidade oral, quando a ponta da língua
é colocada entre os dentes frontais superiores e inferiores e o ar que passa por essa
pequena constrição é forçado para fora.

As fricativas interdentais inglesas são classificadas em dois tipos: surdo/ não


vozeado /θ/, como por exemplo, as palavras think /θɪŋk/ (pensar) e three /θri:/ (três); e
o fonema sonoro/ vozeado /ð/,como em they /ðeɪ/ (eles, elas) e that /ðæt/ (aquele).
Dificilmente, tais sons são produzidos com acurácia por falante de PB aprendendo inglês
como L2. O aprendiz não possui em seu inventário fonológico da língua materna um
som com características similares ao da L2, gerando interferências na produção desses
sons.

2. Objetivos e hipóteses sobre a reprodução do /th/ por falantes de PB

O presente estudo tem como objetivo investigar como se dá a produção do


fonema /th/ no inglês como L2 por falantes de PB. Devido à dificuldade da produção
do determinado fonema por esses falantes, postula – se a seguintes hipóteses:

a) existência de uma adaptação fonológica do /th/ sonoro [ð] para uma semelhança
com os sons /d/, /z/ e /v/ do português;

b) existência de uma adaptação fonológica do /th/ surdo [θ] para uma semelhança
com os sons /s/, /f/ e /t/ do português;
c) existência de uma adaptação fonológica com a produção de um único som que dê
contas das variantes surda[θ] e sonora[ð];

d) generalização do /th/ depois do momento de aquisição, ou seja, em casos como


apartheid e thyme, o falante as produziria fazendo uso do fonema /th/ ao invés do /t/.

3 – Metodologia

Uma coleta de dados será feita através da produção de 21 participantes visando


entender quais os mecanismos que os participantes usam como bengala para a
produção de um som que não possuem em sua língua materna. Além disso, também
será observado se, depois que são expostos ao /th/, os falantes tentam produzir esse
som mesmo em contextos que ele não é previsto, como thyme, aparthaeid e Thomas,
os falantes conseguem ter a percepção que o som é diferente da grafia ou se há uma
generalização da produção do /th/. Os participantes são alunos de um renomado curso
de inglês da cidade do Rio de Janeiro, todos com quatro anos ou mais estudo formal da
língua inglesa.

Para a coleta de dados, montou – se um experimento em que os participantes


eram expostos a pequenos trechos de vídeos em que um falante nativo de inglês
produzia o som /th/ sonoro e surdo, e também o som /t/ em uma palavra grafada com
th. Após a exibição de cada trecho, o participante deveria clicar em um botão e
reproduzir a sentença a que acabou de ser exposto. Cada participante assiste a vídeos
que englobam as três condições, como pode – se observar abaixo:
O experimento tem como objetivo gerar dados que possibilitem a análise da
capacidade de percepção e produção do participante.

4 - Resultados Esperados

Espera – se observar amostras de dados, fornecidas pelos participantes, que


corroborem as hipóteses postuladas. Primeiramente, dados que indiquem que alguns
falantes de PB fazem uma adaptação fonológica dos sons [ð] e [θ]. Sendo assim, palavras
como think e that seriam adaptados para o português e seriam produzidas com sons
presente nessa L1, como por exemplo, /f / e /s/. Portanto, prevê – se encontrar
produções de dados como: /fɪŋk/ ou /sɪŋk/ e /dðæt/ ou /zðæt/. Além disso, acredita –
se que outros falantes não consigam perceber a diferença entre o /th/ surdo e sonoro.
Sendo assim, eles produzem um único som para ambos os contextos.
Por último, crê – se que alguns falantes, após serem expostos ao /th/ e o terem
adquiridos em sua interlíngua, façam uma generalização desse som. Sendo assim,
acabem por produzi - lo em contextos não esperados. Logo, seriam encontradas
produções de dados que se assemelhassem a [θaɪm] e [θɒməs] ou [ðaɪm] e [ðɒməs].

Assim, espera – se dos dados obtidos corroborem os estudos mencionados


anteriormente. Isto é, reafirmem as dificuldades existentes ao se tentar produzir sons
que não estão presentes no inventário fonológico de sua L1.

5 - Discussão

A pronúncia do “th” em inglês por falantes de PB foi por ser um fator


característico da dificuldade que alguns alunos que estudam a língua inglesa como LE
têm ao pronunciar este som. Várias observações feitas por mim, como professora de
inglês como L2, ocorreram para que tal tópico merecesse ser levado em consideração
como assunto de pesquisa.

Minhas reflexões para essa pesquisa são baseadas em situações de produção do


/th/ dentro de sala de aula. O estudo sobre a reprodução dos sons das palavras em inglês
é de grande valia para o ensino da língua. Fugindo do apontamento de erros, o presente
estudo está voltado para a compreensão dos possíveis desvios de pronúncia que os
alunos cometem com relação ao /th/.

Tenho a consciência de que a melhoria da pronúncia dos alunos é um aspecto


que objetiva a confiança deles ao usarem a língua como forma de
comunicação. Acredito que esta pesquisa possa capacitar mais os professores de inglês
a entender os desvios cometidos pelos seus alunos na hora de produzir o /th/, e quais
ferramentas – adaptação fonológicas – eles utilizam ao pronunciar este som.
Referências Bibliográficas

Broselow, E. An Investigation of transfer in Second Language Phonology.International


Review of Applied Linguistic, 22. 253-269. 1984;
Flege, J. E. Effects of equivalence classification on the production of foreign language
speech sounds. In A. James & J. Leather (Eds.), Sounds patterns in second language
acquisition (pp.9-39). Dordrecht: Foris. 1987;
GIEGERICH, H. J. English phonology: An introduction. Cambridge: Cambridge
UniversityPress, 1992;
Hassinger-Das, B., Toub, T. S., Hirsh-Pasek, K., & Golinkoff, R. M. (2017). A matter of
principle: Applying language science to the classroom and beyond. Translational Issues
in Psychological Science, 3(1), 5–18.
LADO, R. Linguistics across cultures.Ann Arbor, Mich.: University of Michigan Press.
1957;
REIS, M. S. The perception and production of English interdental fricatives by Brazilian
EFL learners.Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2006;

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