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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Disciplina: História do Pensamento Linguístico

Professor: Andrew Nevins

Aluna: Renata Miranda de Assis

Trabalho final sobre o linguista Leonard Bloomfield

Rio de Janeiro
2020
LEONARD BLOOMFIELD

Família

Leonard Bloomfield nasceu em 1887 em Chicago em Wisconsin. Seu pai,

Sigmund Bloomfield, tinha vindo para os Estados Unidos quando criança em 1868, de

Bielitz, uma cidade pequena e que hoje pertence à Polônia . A maioria das pessoas de

Bielitz falava alemão ou iídiche:em 1910, mais de 84 por cento da população falava uma

destas línguas, e a comunidade judaica naquele ponto foi estimada em 16 por cento.

O nome da família era "Blumenfeld" e fazia parte da comunidade judaica, mas


quando eles vieram para os Estados Unidos, mudaram o nome para “Bloomfield”.

Não muito tempo depois, o pai de Sigmund mudou-se com a família para

Chicago. Tal como acontece com muitos imigrantes de língua alemã, a língua da casa

continuou a ser o alemão, uma língua que desempenharia um papel importante na vida de

Leonard, bem como na de vários outros membros de sua família. A família Bloomfield

pertencia a uma comunidade não insignificante de imigrantes judeus da Europa de língua


alemã, cujo apego era mais à cultura judaica do que à sua religião, que se identificava

com o Iluminismo e que manteve um senso firmemente patriótico em relação à Alemanha,

pelo menos antes de os Estados Unidos entrarem na Primeira Guerra Mundial em 1917.

Enquanto crescia, Leonard tinha uma tia e um tio paterno que tornou-se bastante famoso.

O tio era Maurice Bloomfield, que havia estudado com os neogramáticos em Leipzig, e

foi um distinto professor de Sânscrito na Universidade Johns Hopkins. Sua vida e carreira

teriam um impacto significativo na vida de Leonard.

A tia de Leonard, Fannie, teve uma carreira notável como uma pianista

internacionalmente famosa. Ela começou a tocar piano aos 6, e aos 11 anos, sua mãe a

levou para a Áustria por cinco anos para estudar com o grande professor de piano Theodor

Leschetizky. A carreira dela foi brilhante; ela tocou em show com Paderewsky, e fez turnê

tanto no Estados Unidos e na Europa. Ela se casou com Sigmund Zeisler em 10 outubro

de 1885, um advogado de sucesso que e que esteve envolvido em vários casos

importantes, incluindo a defesa de os anarquistas militantes no caso de motim de

Haymarket em 1887.

O tio e a tia de Leonard eram, portanto, Maurice e Fannie; o pai dele, como dito,

foi Sigmund Bloomfield, que não tinha carreira nem intelectual e nem artística, e que se

casou com Carola Buber . Eles tinham três crianças, dois meninos e uma menina. Leonard

estava no meio. O mais velho era Grover, que se tornou químico, e o mais novo era Marie.

Em 1895, quando Leonard tinha oito anos, seus pais compraram o Elkhart Lake

Resort e o vizinho Hotel Schwartz, onde a família Bloomfield permaneceria por três

décadas. Elkhart era um resort onde as pessoas de Chicago e Milwaukee viriam para ficar

durante o verão. Também estava no coração da terra que 60 anos antes havia sido o lar de

vários das tribos algonquianas, incluindo os Menominee e os Potawatomi.


Carreira

Como seu tio Maurice Bloomfield, Leonard foi para a Universidade de Harvard

para seus estudos de graduação e recebeu seu diploma de bacharel em 1906, após três

anos de estudo. De certa forma, tio e sobrinho eram pólos à parte: um era aberto, brilhante

e muito sociável, enquanto o outro, o mais jovem era tímido, reservado e fechado para a

maioria das pessoas. Mas Maurice teve uma forte relação intelectual com Leonard, e sua

influência não é difícil de discernir, especialmente no início da carreira de Leonard.

Depois de se formar em Harvard, Leonard Bloomfield voltou para casa, e se

matriculou como estudante de graduação na Universidade de Wisconsin, que não está

muito longe de Elkhart. Em Madison, ele conheceu Eduard Prokosch, um jovem professor

que o impressionou muito. Prokosch tinha acabado de receber seu diploma em Heidelberg

estudando com Eduard Sievers. Quando Bloomfield chegou, Prokosch ensinava no

departamento germânico em Wisconsin, embora mais tarde assumisse um cargo na

Universidade de Yale.

Bloomfield tornou-se um germanista e permaneceu envolvido no ensino de

línguas germânicas durante a maior parte de sua carreira. No entanto, pensemos nele mais

como um dos fundadores da linguística como disciplina, como um estudioso no campo

das línguas indígenas americanas e, acima de tudo, como o autor de estudos extremamente

influentes.

Bloomfield ficou em Wisconsin por dois anos e depois mudou-se para Chicago,

onde obteve seu PhD da Universidade de Chicago em 1909. Em 1909, então, Bloomfield

era um jovem com pouca posição no campo próprio, mas com fortes credenciais que

ganhou por ser o aluno do mais destacado professor de indo-europeu do país. Ele ensinou

alemão por um ano em Cincinnati e depois se tornou professor assistente de filologia

comparada e alemão na Universidade de Illinois.


Esta ainda era a época em que um americano com um novo PhD iria para a

Europa para estudar com os homens que realmente escreveram os textos que ele tinha

lido. Para avançar em sua carreira, Bloomfield precisava fazer exatamente isso, e assim

ele passou o ano acadêmico de 1913-1914 em Leipzig e Göttingen, quase literalmente

seguindo os passos de seu tio. Bloomfield estudou com August Leskien, Karl Brugmann

e Hermann Oldenberg, e ele também assistiu às palestras de Wundt em Leipzig, palestras

que também tiveram um enorme impacto sobre ele. Em Leipzig, encontrou com outros

jovens linguistas que se tornariam famosos em seu tempo.

A 1ª Fase de Bloomfield

O primeiro Bloomfield foi um linguista alemão treinado em linguística

neogramática clássica, mas muito muito impressionado com o desenvolvimento de

Wundt e de suas ideias sobre psicologia; a melhor imagem que temos do primeiro

Bloomfield vem de seu primeiro livro, Uma introdução à linguagem, que foi escrito

durante o período em Illinois. Foi um grande sucesso - e embora pareça muito moderna

aos nossos ouvidos hoje, grande parte dela se baseia em uma concepção de psicologia do

século XIX.

Quando lemos Uma introdução à linguagem, encontramos um jovem ansioso

para deixar claro que a linguística é uma ciência moderna. Bloomfield propunha uma

interpretação psicológica da língua, pois, de acordo com o linguista, não havia maneira

de fazer linguística sem passar pela interpretação psicológica; tomando cuidado para não

cair no “conhecimento popular”.

Bloomfield estudava como as estruturas revelavam a maneira como os humanos

analisavam sua experiência de mundo. Isto é, como eles transformavam o que estavam

vivendo em enunciados, usando o termpo apercepção para se referir a esse grau de


consciência do falante na hora de formular tais enunciados, alegando haver uma relação

entre os elementos de uma frase e um tom psicológico distinto.

A 2ª Fase de Bloomfield

Em sua segunda fase, Bloomfield se volta contra todos os ensinamentos que

havia absorvido até então. Em 1921, Bloomfield mudou-se para a Ohio State University,

onde ficau por seis anos. Ele foi muito influenciado durante seus anos lá pela filosofia

behaviorista de Albert Paul Weiss, psicólogo do estado da Universidade de Ohio. Weiss

nascera na Alemanha, e embora tenha vindo para os Estados Unidos quando criança, ele

falava alemão em casa, como Bloomfield fazia. Uma estreita amizade cresceu entre Weiss

e Bloomfield. Mesmo antes de Bloomfield chegar ao estado de Ohio, Weiss estava

sofrendo de graves doenças cardíacas, o que o obrigou a ficar em casa a maior parte do

tempo. Bloomfield e sua esposa Alice eram frequentemente convidados da família Weiss

e as visões de Weiss sobre o behaviorismo e como fazer ciência tiveram um enorme

impacto sobre Bloomfield.

Nessa fase, Bloomfield tenta mostrar que a linguística é o contrário de tudo que

ele mesmo havia proposto. Ele tenta eliminar o foco sobre o lado psicológico do falante,

sem levar em consideração as ideias e pensamentos envolvidos no contexto de fala, ou

seja, o Bloomfield acredita que não há nada além do que se vê no momento do ato da fala.

A 3ª Fase de Bloomfield

A terceira fase se dá início em meados da década e 30. Logo depois, em 1940,

se muda para Yale. Nesse momento, Bloomfield revisa toda sua trajetória. Retoma seus

conceitos da primeira fase.


As ideias propostas nessa fase são externalizadas em um texto chamado

Menomini Morphophonemic, uma de suas últimas publicações. O ponto central desse

breve artigo é a análise morfofonêmica da língua Menomini. De acordo com o autor, a

análise de frases, palavras compostas e palavras simples em Menomini apresenta pouca

dificuldade analítica - é fácil ver onde fazer os cortes para identificar essas peças. Elas

podem ser divididas em subpartes identificáveis que variam consideravelmente em sua

forma na superfície, dependendo das combinações em que aparecem.

Em sua terceira fase, Bloomfield se une a Sapir e seus alunos para desenvolver

modos complexos de análise e explicações para o tratamento das línguas nativas

americanas. Nos Estados Unidos, havia a necessidade de se compreender as línguas

ameríndias analfabéticas e ágrafas e é nesse contexto que os trabalhos de Edward Sapir e

de Franz Boas, especialistas em línguas ameríndias, começam a se sobressair e a dar força

ao movimento estruturalista que buscava descrever as línguas referidas de maneira

sincrônica.

Bloomfield possuía também um vasto trabalho acerca da análise linguística,

buscando sintetizar teoria e prática. Almejava um sistema básico que fosse capaz de ser

envolver conceitos aplicáveis à descrição de qualquer língua.

Livro Language

Em 1933, Bloomfield publica seu trabalho mais importante: um livro


simplesmente intitulado Language. A obra dá início à ideia estruturalista americana e
possui grande conhecimento técnico sobre a investigação linguística. O livro é uma
espécie de manual para os linguistas americanos.

A obra de Bloomfield é notável pela sua posição de despojamento filosófico e


rigor técnico. A própria ideia do que é estrutura difere na Europa e nos Estados Unidos.
Os estruturalistas europeus entendem que estrutura é uma combinação solidária entre
partes que constituem um todo. Dizem, ainda, que a relação de oposição e contraste entre
as partes constituintes do corpus é imprescindível para a palavra seja uma coisa e não
outra, já que uma palavra é o que ela não é. Já para os americanos, seguidores das ideias
de Bloomfield, a estrutura será a distribuição dos elementos e as possibilidades de
associação e substituição. Os americanos observam muito que a questão da posição
ocupada por certo elemento é a responsável pela sua definição dentro do conjunto no qual
está presente. A escola linguística difundida por Bloomfield nos Estados Unidos teve
alguns méritos. Dentre eles, pode-se destacar sua ideia em relação à possibilidade de uma
investigação linguística para todas as línguas do mundo, contrário à ideia de que a
Linguística deveria ficar apenas no indo-europeu. Além disso, é mérito da escola
Bloomfieldiana o desenvolvimento de técnicas descritivas em Linguística. Também tem
participação na amostragem de que os estudos da Linguística podem servir muito bem ao
ensino de línguas estrangeiras. O próprio Bloomfield iniciou esse tipo de estudo.

Outro mérito de Bloomfield foi mostrar que o estudo da linguagem deve ser feito
a partir de uma análise objetiva, ao invés do certo e errado adotados pela gramática
tradicional. Deve-se a ele ainda o estabelecimento dos constituintes dos sintagmas na
instauração da gramática de constituintes imediatos.

A Criação da Sociedade de Linguística Americana

Quando uma nova área de estudo surge tudo é muito abstrato, ou seja, não se

tem estabelecido os princípios do trabalho daquele campo de estudo, quais suas fronteiras

com outras disciplinas próximas, entre outros fatores. Além disso, os profissionais ficam

sem espaço para expor seus achados/questionamentos e afins. Seguindo esse raciocínio,

para Bloomfield, fez – se clara a necessidade da sociedade de linguística americana.

A sociedade de linguística americana foi fundada em 1824 e teve seu primeiro

congresso em Nova Iorque, com a participação de 69 pessoas apenas, pois naquela época

não era fácil atravessar o país e muito menos viajar através dos países. Então, em 1928,

cursos passaram a ser oferecidos em instituições fomentadas pela tal sociedade para

promover a difusão da nova ciência, linguística, que tão pouco era conhecida por leigos

que não estavam cientes sobre a ciência do estudo da língua.


Bibliografia

Bloch, Bernard (1949). «Leonard Bloomfield». Language.

Fought, John G. 1999a. Leonard Bloomfield: Biographical Sketches. Taylor & Francis.

John A. & Laks Bernard. Battle in the Mind Fields. Chicago, IL: The University of
Chicago Press, 2019.

Rogers, David E. 1987. “The influence of Pāṇini on Leonard Bloomfield.” Robert A.


Hall, Jr., ed., Leonard Bloomfield: Essays on his life and work, 89-138. Philadelphia:
John Benjamins.

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