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15NOV’23

José Rosinhas
curador

Cá… pela Cidade.


A trigésima exposição da Galeria D’Ar- Um núcleo de pinturas bastante perti- Neste projecto artístico, também não se
te Ortopóvoa, apresenta uma exposição nente nesta mostra e de uma qualidade poderia deixar de prestar tributo à gastro-
individual do Artista Plástico Afonso pictórica excelente e fresca na sua práti- nomia poveira e à Confraria dos Sabores
Pinhão Ferreira, intitulada “Cá… pela ca artística, são as quatro telas, intitula- Poveiros, como a Rabanada à Poveira e a
Cidade”. De referir de imediato que esta das respectivamente de “11 horas em 16 Pescada à Poveira. Pinturas que são enqua-
mostra surge no âmbito das celebrações de junho de 1973”, “Gaivotas poveiras”, dradas por molduras que servem ao espec-
do cinquentenário da atribuição do esta- “Mar da Póvoa 1” e “Mar da Póvoa 2”, são tador os sabores tradicionais e típicos da
tuto de cidade à Póvoa de Varzim. As co- trabalhos de média dimensão, mas com cidade. As molduras no percurso do autor
memorações estão a decorrer de 16 Junho uma carga afectiva muito importante e, em particular nesta exposição, comple-
de 2023 a 16 Junho de 2024. nessa ligação do autor à cidade e efectiva mentam e fazem parte da pintura. Falamos
Assim, o projecto artístico e o projecto na sua afirmação do grande Pintor que de arte contemporânea e de como levar o
curatorial apresentam catorze obras, des- é. A pintura “11 horas em 16 de junho de pensamento e a criatividade ao máximo.
de pinturas a óleo sobre tela a esculturas 1973”, transporta-nos para um local es- Continuando num processo de apresen-
em bronze. Todo o trabalho de produção pecífico da cidade e para as memórias de tação das obras, introduz-se nesta mostra
artística foi muito bem pensado, estuda- Afonso Pinhão Ferreira, onde às 11 horas uma das figuras mais representativas da
do e delineado para o espaço expositivo, o mesmo esperava pelo autocarro para cidade da Póvoa de Varzim, o pescador
mas acima de tudo foi delineado para ir da Póvoa onde estudava para Vila do sardinheiro, herói salva-vidas, Cego de
prestar tributo à Cidade. Poder-se-ia qua- Conde onde residia. Logo, somos convi- Maio (1817-1884) e que é homenageado
se dizer que se trata de uma exposição dados a visitar o local, e a criar laços com numa escultura de bronze pelo Pintor/
etnográfica, citadina e social. o quiosque e posteriormente também a Escultor Afonso Pinhão Ferreira. Deve-
Como breve nota biográfica do autor e sentarmo-nos na praia para contemplar -se salientar, mais uma vez, a qualidade
que o coloca na Cidade, de referir que o mar. ímpar do génio artístico e da composição
Afonso Pinhão Ferreira, natural de Con- O Prof. Doutor Luís Filipe de Sá Cesariny escultórica. Temos uma figura central, o
deixa-a-Nova, foi para Vila do Conde aos Calafate, figura de referência do panora- Cego de Maio, que salva uma embarcação
três meses de idade, para dar continui- ma da cultura portuguesa, foi escolhido e faz o enquadramento da composição
dade ao percurso de vida e à escolha do para homenagear a camisola poveira. O escultórica, onde a água – o mar – faz a li-
seu pai António Augusto Ferreira e da sua modelo que se identifica de imediato e gação à base da escultura. Se associamos
mãe Maria de Fátima Pinhão. que posou indirectamente para o pintor, o mar a uma força da natureza temos de
O projecto expositivo é bastante heteró- serve também de modelo para apresen- avaliar esta obra como uma das Obras do
geno, como deve ser quando se pretende tar a camisola. Esta tem a sua origem no percurso artístico do autor.
homenagear uma Cidade e as suas gen- primeiro quarteirão do século XIX e trata- O meu agradecimento ao meu Amigo
tes. Assim e tomemos como exemplo duas -se de um artigo do concelho certificado Afonso Pinhão Ferreira pela oportuni-
obras do autor, a “Tricana”, escultura de e com Indicação Geográfica Protegida. dade de trabalhar novamente com a sua
bronze, que representa a comunidade Nesta obra a pincelada de Afonso reforça Obra. E um agradecimento especial à
piscatória e o “Coro Capela Marta” que re- o ponto cruz da camisola de lã branca de equipa que acompanhou a produção des-
presenta a parte erudita da cidade. Há de fio grosso, da zona da Serra da Estrela, e ta mostra, à Dra. Margarida Lessa e ao
facto uma preocupação em homenagear o as cores da paleta do pintor vão ao en- Designer Acácio Viegas.
Coro e o seu fundador, António José Go- contro das cores utilizadas que são três:
mes Júnior (mais conhecido como Marta). o branco (a cor da malha), o vermelho e o
De dar nota que a “Associação Cultural preto (bordadas sobre a camisola, a pon-
Capela Marta” foi fundada na Póvoa de to de cruz).
Varzim a 19 de Março de 1951. Actualmen-
te o Coro Capela Marta tem, como Maes-
tro, Tiago Pereira (Póvoa de Varzim, 1987)
uma figura imprescindível para o sucesso
do coro, e que na pintura do autor tem
uma presença muito subtil, contrapon-
do-se aos vinte e cinco elementos do coro
que têm uma presença bastante forte e
que mostrando a primazia e a qualidade
da pintura do Pintor conseguimos reco-
nhecer todos os elementos do grupo. Nes-
sa descoberta da pintura somos levados a
descobrir também que o logotipo do coro
está no canto superior direito. Trata-se de
uma composição perfeita!
“Cego do Maio”

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