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ESCE

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Caso 2

João Tomás dos Santos Pina da Silva


21/março/2022
Caso ESCE
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• O Rui, motorista de pesados para o transporte internacional, no dia 1 maio de 2017, já


de noite, cortou-se no fim de uma viagem e aquando da entrega do veículo. O superior
hierárquico disse-lhe: “isso não é nada, o teu turno acabou, vai à clínica aqui ao lado
coser o golpe na mão”. Ora, quando se dirigia para a clínica, o Rui escorregou no gelo na
passadeira, caiu e fraturou o cóccix. Na sequência desta fratura o Rui não pôde prestar
qualquer atividade durante 19 meses. A partir desta altura ficou apto para a realização
de trabalhos leves. Após dois meses uma junta médica determinou-o incapaz para a
condução de longo curso ou superior a duas horas. O empregador só deixou o Rui
regressar nesta altura e disse-lhe que perdera o direito às férias do ano anterior.
• Entretanto, porque a atividade de transporte rodoviário de longo curso sofreu uma forte
quebra, o empregador declarou a suspensão, com a alegação de crise económica, do
contrato do Rui e de mais 10 motoristas, a partir do dia 1 de março de 2019 e pelo
período de quatro meses. No caso do Rui e de outros dois colegas com a mesma
categoria, foi proposta formação profissional a ser prestada pelo IEFP, para a
reconversão destes em mecânicos.

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ESCE
Introdução - Objetivos da lição 09

• Procura-se responder às seguintes questões:


• Qual a noção de acidente de trabalho?
• Qual o âmbito subjetivo do regime dos acidentes de trabalho?
• Que comunicações deverão ser realizadas e em que prazo?
• Quais as situações de incapacidade?
• Que direitos assistem ao trabalhador e sobre quem incidem os
respetivos deveres?
• Qual a situação de suspensão dos contratos de trabalho patentes no
enunciado?
• Qual o procedimento que impende sobre o empregador?
• Que direitos assistem ao tranbalhador?
• Quais os atos proibidos e consequências em caso de
incumprimento?

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Alínea a) ESCE
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• O caso descrito configura um acidente de trabalho? O empregador agiu


corretamente?

• Tendo por base o disposto nos artigos 3.º/1, 8.º/1 e 2-a) e b), 9.º/1-f) e 2-d) e 10.º/1,
LAT + 283.º, CT, o sinistro em questão configura um acidente de trabalho, na medida
em que o 1.º ocorreu no tempo e local de trabalho e o 2.º a caminho do local onde
deveria receber 1.ºs socorros – noção: é um evento súbito e imprevisto, de origem
externa e lesiva do corpo do trabalhador, que ocorra no tempo e local de trabalho;

• .Não existiu “atuação culposa” do empregador, nem houve falta de observância das
regras de SST – 18.º/1, LAT;

• Dado serem ambos acidentes de trabalho, sobre o empregador recai um dever de


prestação de primeiros socorros e assistência médica, nos termos dos arts. 26.º e 27.º,
LAT, sendo que, ainda que devesse ter acompanhado ou transportado o trabalhador,
indicou o local de prestação dos cuidados médicos (28.º/1, LAT);

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Alínea a) ESCE
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• O caso descrito configura um acidente de trabalho? O sócio-gerente agiu


corretamente?

• No caso em apreço não existiu negligência grosseira, já que a simples desatenção do


trabalhador não configura uma situação de dolo ou negligência grosseira (artigo 14.º
LAT). O facto de o 2.º acidente ter ocorrido fora das instalações da empresa não
desresponsabiliza o empregador pela reparação dos seus danos;

• Ver arts. 78.º a 85.º, LAT:

– 78.º, garantias dos valores que visam fazer face ao ressarcimento de um sinistro;

- 79.º, obrigação de contratação de um seguro de AT, de declaração dos valores das


retribuições, sob pena de recair sobre o empregador o pagamento do remanescente;

- Fundo de Acidentes de Trabalho – DL142/99 (art. 1.º/1-a));

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Alínea b) – ESCE
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Incapacidade, comunicações obrigatórias e direitos do trabalhador

• Há incapacidade temporária absoluta (ITA), seguida de incapacidade temporária parcial


(ITP) e, posteriormente, incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual (IPA
ta) – art. 19.º, LAT;

• ITA de 19 meses + ITP de dois meses: artigos 19.º/1 e 2 + 20.º + 21.º/1 a 3, LAT // IPP –
Incapacidade permanente absoluta, a partir do dia seguinte ao da alta (arts. 19.º/1 e 3 +
20.º + 21.º/1 a 3 LAT);

• A empresa deverá procurar uma ocupação compatível para o Rui enquanto não estiver
totalmente recuperado (incapacidade parcial), nos termos do art. 44.º, LAT – de
fevereiro a março/2019;

• Assim que a incapacidade temporária tivesse ultrapassado os 12 meses de duração, a


seguradora terá comunicado ao Tribunal (art. 90.º/3, LAT), sendo que, após 18 meses
consecutivos desta incapacidade, só não existiu conversão para incapacidade
permanente se o MP prorrogou a temporária até 30 meses (art. 22.º, LAT)

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Alínea b) ESCE
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• Descrição das prestações devidas ao trabalhador sinistrado – cuidados


médicos, reparações monetárias, etc (arts. 23.º, ss, LAT) – 25.º/1, 35.º, 38.º a
43.º, 47.º/1-a) a c) e j), 2, 48.º/1, 2, 3-b), d) e e), 4, 50.º, 52.º e 69.º, LAT.

• Prestações em espécie (25.º-46.º, LAT):

• 25.º, elenco geral das prestações;

• 27.º, lugar da sua receção / prestação;

• 29.º, dever de assistência;

• 35.º/2, 3 e 7, alta médica e relatório;

• 39.º, transporte e estada – prestações que poderão ser vitalícias;

• 44.º/1 e 2 – ocupação e formação de requalificação, a qual acresce (não substitui)


a devida anualmente (131.º/2, CT);

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Alínea b) ESCE
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• Prestações em dinheiro (47.º-77.º, LAT):

• Até março/2019 – 47.º/1-a), 48.º/1 e 3d) e e), 48.º/4, 50.º/1 e 3, 71.º/1 a 3, 72.º/2 e
3, LAT;

• A partir de abril/2019 – 47.º/1-c) e d), 48.º/2 e 3-b) e c), 50.º/2, 51.º, 52.º;

• Formação profissional de reabilitação / requalificação – 47.º/1-j), 69.º/3 (1,1 x


€443,20 – IAS/2022);

• Beneficiários – 57.º (2133.º e 2157.º, Ccivil), 63.º (FAT é o último beneficiário).

• A partir de abril/2019 e aquando do regresso do trabalhador, deve o


empregador cumprir o disposto nos arts. 154.º a 166.º, da LAT (ver 155.º/1 e 2,
156.º, 157.º/1 a 3 e 158.º).

• Comunicações obrigatórias: pelo sinistrado (art. 86.º/1.º, LAT), pelo


empregador (art. 87.º/1 e 2, LAT), pela seguradora (arts. 90.º/1 e 92.º, LAT).

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Alínea c) ESCE
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• Dado que o contrato do Rui esteve suspenso, será que perdeu mesmo
as férias do ano anterior? Quando vencerá novo direito a férias?

• O contrato de trabalho do Rui esteve suspenso por impossibilidade sua (art.


294.º/1, do CT), nos termos dos arts. 296.º/1, 3 e 5 e 297.º, do CT (superior
a um mês);

• Ora, o tempo decorrido é contabilizado para efeitos de antiguidade, mas


não como prestação efetiva de trabalho, pelos menos para benefício dos
direitos decorrentes daquela, tais como a retribuição e as férias (arts.
295.º/1, 2 e 4, do CT);

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Alínea c) ESCE
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• Assim sendo, no tocante às férias já vencidas no ano da suspensão, mas não


gozadas no mesmo, e sempre que a impossibilidade do trabalhador na prestação da
atividade só termine no ano civil seguinte, aplicam-se os arts. 239.º/1, 2 e 6 e 244.º/1
a 3, ambos do CT, dos quais resulta que:

• Sempre que a suspensão (nos termos dos 296.º/297.º) perdure para lá do ano
civil em que se iniciou, a contagem do direito a férias adota um regime igual ao
do ano da contratação, isto é, à razão de dois dias por mês, até perfazer seis
meses completos de trabalho, mas nunca mais do que 20 dias no referido ano
(239.º/1 e 2);

• O trabalhador poderá, ou gozar as férias do ano civil anterior que ficaram


suspensas, em data a acordar ou imposta pelo empregador, ou ser retribuído
pelo período em apreço, e, em qualquer dos casos, com direito ao respetivo
subsídio – entendo que a escolha é do empregador e atendendo às
necessidades objetivas da empresa.

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Alínea d) ESCE
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• Caracterize a suspensão do contrato de trabalho do Rui e dos outros


dois colegas (fundamentos, processo, direitos e deveres,…), sabendo
que auferem a retribuição base de €1.200,00/mês e que o empregador
lhes reteve a quantia que lhes era destinada por parte do IEFP.

• O vínculo laboral mantém-se até ao limite extremo da sua provável utilidade


para as partes, pelo que o contrato de trabalho não pode terminar pela causa
de suspensão, salvo se lhe suceder um despedimento coletivo ou extinção do
posto de trabalho; aferir dos efeitos típicos/gerais do regime da suspensão
(arts. 294.º e 295.º, CT) e da proibição do lock-out (544.º e 545.º, CT, 57.º,
CRP) – isto é, de encerramento da empresa por iniciativa exclusiva do
empregador sem que estejam provadas razões ligadas à normal execução da
atividade da empresa;

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Alínea d) ESCE
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• A presente situação, segundo o empregador, enquadra-se num caso de crise


empresarial:

• Requisitos positivos – que deverão verificar-se (298.º, CT):

• Motivo de mercado – ver 359.º/2-a);

• Afetação grave da atividade normal da empresa;

• Assegurar a viabilidade da empresa e manutenção de postos de trabalho;

• Situação contributiva regularizada;

• Requisito negativo – não se pode verificar (298.º-A, CT)

• Inexistência de dívidas fiscais e parafiscais;

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Alínea d) ESCE
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• A medida tem de ser precedida de um procedimento próprio, tal como previsto


nos arts. 299.º e 300.º, CT, no âmbito do qual se procura um acordo, de modo
a encontrar medidas que minorem os efeitos negativos da suspensão.

• Procedimento:

• Comunicação (a quem – 299.º/1, 3 e 4; como e o quê / conteúdo – 299.º/1, 301.º


e 302.º);

• Consulta, informação e negociação – 299.º/2, 300.º/1 e 2, CT;

• Decisão (com ou sem acordo) – 300.º/3 a 6, CT. Duração máxima de seis meses
ou um ano, prorrogáveis por um período de seis meses (301.º, CT). Plano de
formação, parecer dos trabalhadores ou seus representantes (404.º/b) e a), CT) e
sua intenção - 302.º + 132.º, CT.

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Alínea d) ESCE
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• Direitos / deveres das partes durante o período de suspensão – 302.º a 306.º


+ 307.º/1, CT, nomeadamente no tocante ao direito à compensação retributiva:

• Entre o SMN e 2/3 da retribuição, mas nunca superior a 3 SMN’s (305.º/1-a), 3 e 5


+ 325.º);

• A compensação retributiva é comparticipada a 70% pela SS (305.º/4);

• Se for prestada formação pelo IEFP, este entregará 15% de IAS (€443,20) ao
trabalhador, e outro tanto ao empregador (art. 305.º/5.º, CT);

• Dos €1.200,00 de salário, os trabalhadores recebem €800,00 (€240,00


suportados pelo empregador e €560,00 pela SS), quantia a que deveria acrescer
o montante de €66,48, pago pelo IEFP (o empregador recebe outro tanto);

• Férias (€800), subsídio de férias e subsídio de Natal (ambos €1.200) – art. 306.º,
CT.

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