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ESCE

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Caso 1

João Tomás dos Santos Pina da Silva


7/março/2022
Caso ESCE
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• No regresso de Faro para Lisboa, após o encerramento da loja, o Jorge foi vítima de um
acidente de viação grave. A recuperação foi demorada (três meses) mas bem-sucedida, tendo
o Jorge ficado apto para o trabalho no dia 28/dezembro/2018 (6ªf), muito embora só se tenha
apresentado na empresa no dia 2/Janeiro/2019 (4ªf) – “o ano está a terminar e é período de
festas, regresso no início do ano”, pensou o Jorge. a) O que aconteceu ao contrato de trabalho do Jorge
na sequência do acidente de viação? Quando deveria o trabalhador ter regressado à empresa? Incorreu nalguma
falta? Presumindo que o trabalhador nunca gozou férias desde a sua contratação em 1/Abril/2018, diga,
quantificando, quando venceu o Jorge o direito a férias e o que ocorreu durante a sua ausência.
• No regresso dos EUA, após um período de formação profissional, António deparou-se com o
estaleiro encerrado por ordem da Câmara Municipal, em virtude do não pagamento das
respectivas licenças por parte da sociedade de construção. Esta situação perdura há três
meses, sendo que deixaram de lhe ser pagos os salários e nem a “ABC – investimentos
imobiliários, S.A.”, nem a sociedade de construção julgam ser seu dever retribui-lo. b) O que
acontece aos contratos de trabalho com o encerramento do estaleiro/obra? Pode o empregador deixar de retribuir?
Justifique.
• Após uma tempestade, as instalações da empresa ficaram danificadas. Em consequência,
apesar do esforço de todos os trabalhadores no sentido da minimização dos danos, o processo
produtivo parou por um período de um mês, isto é, o tempo necessário para proceder à
reparação das máquinas e das instalações. c) O que aconteceu aos contratos de trabalho aquando da
paragem da laboração? Justifique a sua resposta aludindo aos direitos e deveres das partes.

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Introdução - Objetivos da lição 09

• Procura-se responder às seguintes questões:

• Qual a noção de acidente de trabalho?

• Qual a situação de suspensão dos contratos de trabalho em


cada uma das situações do enunciado?

• Qual o procedimento que impende sobre o empregador?

• Que direitos assistem aos trabalhadores?

• Quais os atos proibidos e consequências em caso de


incumprimento?

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• a) O que aconteceu ao contrato de trabalho do Jorge na sequência do


acidente de viação? Quando deveria o trabalhador ter regressado à
empresa? Incorreu nalguma falta? Presumindo que o trabalhador nunca
gozou férias desde a sua contratação em 1/Abril/2018, diga,
quantificando, quando venceu o Jorge o direito a férias e o que ocorreu
durante a sua ausência.

• Tendo por base o disposto nos arts. 8.º, 9.º/1-a) e n.º 2-b), da LAT (L98/2009), o sinistro
em questão configura um acidente de trabalho, na medida em que o trabalhador exerce
a sua atividade fora do local de residência habitual e estaria de regresso a esta. O
empregador deverá comunicar o acidente, por via eletrónica, à seguradora e nas 24h
seguintes - art. 87.º/1 e 2, da LAT (L98/2009);

• Não há descaracterização do acidente de trabalho - art. 14.º, LAT -, nem existiu falta de
observância das regras de SST pelo empregador – art. 18.º/1, LAT;

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• Outras situações de suspensão:

• Greve (art. 536.º, CT);

• Por falta de pagamento da retribuição (arts. 294.º/5, 323.º/3 e 325.º, CT);

• Suspensão preventiva (art. 354.º, CT) e suspensão disciplinar (art. 328.º/1-e), CT);

• Suspensão por acordo das partes:

• Licença sem retribuição - art. 317.º, CT -, que justifica a contratação a termo – art.
140.º/2-c), CT);

• Impossibilidade de realização da prestação (arts. 294.º/1, CT):

• É uma situação superveniente (após o período experimental);

• Tem um carácter temporário, sob pena de caducidade da relação contratual;

• Não é imputável, pelo menos ao trabalhador (ver arts. 296.º-297.º e 298.º e ss., CT).

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• Há um facto respeitante ao trabalhador, que irá permitir a suspensão do


contrato de trabalho, se:

• Existir um carácter temporário - quando a impossibilidade superveniente do


trabalhador for absoluta e definitiva, para toda e qualquer outra atividade, de
entre as existentes no empregador, o contrato de trabalho caducará - arts.
296.º/1 e 4 e 343.º/b), CT;

• For uma impossibilidade prolongada - ausência por período superior a um


mês ou sempre que esta impossibilidade seja previsível arts. 294.º/1,
296.º/1 e 3, do CT;

• Não imputável ao trabalhador a título de culpa – ver o art. 14.º da Lei n.º
98/2009 (LAT), bem como os conceitos de dolo, negligência grosseira e
negligência simples (o art. 296.º/5, CT, remete para outras situações).

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• Efeitos:

• O tempo decorrido durante a suspensão é contabilizado para efeitos de


antiguidade (art. 295.º/2, do CT);

• Contudo, não conta como prestação efetiva de trabalho, suspendendo as


prestações principais do contrato de trabalho – as obrigações de prestação da
atividade e de retribuição (art. 295.º/1, do CT), nomeadamente para benefício dos
direitos decorrentes daquela, tal como as férias (arts. 295.º/1 e 244.º, CT);

• Mantêm-se os deveres acessórios da relação laboral, conquanto compatíveis com


a suspensão (ver os arts. 127.º a 129.º, CT), concretamente todos aqueles que
advenham da boa-fé contratual, pois o vínculo mantém-se entre as partes;

• O trabalhador deve regressar no dia útil imediatamente seguinte à alta


médica (297.º) - faltas injustificadas (249.º/1 e 3, 256.º e 351.º/1, 2-g) e 3, do
CT);

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• Férias vencidas no ano da suspensão, mas não gozadas, e sempre que a


impossibilidade do trabalhador só termine no ano civil seguinte, aplicam-se os
arts. 239.º/1, 2 e 6 e 244.º/1 a 3, do CT, dos quais resulta que:

a. O trabalhador poderá, ou gozar as férias do ano civil anterior que ficaram


suspensas, em data a acordar ou imposta pelo empregador, ou ser
retribuído pelo período em apreço - sempre com direito ao respetivo
subsídio. A escolha é do empregador e atendendo às necessidades
objetivas da empresa (244.º/2 e 3);

b. Suspensão (arts. 296.º/297.º) que perdura para lá do ano civil em que se


iniciou, aquando do regresso, a contagem do direito a férias adota um
regime igual ao do ano da contratação, ié, 2d/mês até perfazer seis
meses completos de trabalho, mas nunca mais do que 20 dias no
referido ano (239.º/1 e 2);
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b) O que acontece aos contratos de trabalho com o encerramento do ESCE
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estaleiro/obra? Pode o empregador deixar de retribuir? Justifique.
• O vínculo laboral mantém-se até ao limite extremo da sua provável utilidade para
as partes, pelo que o contrato de trabalho não pode terminar pela causa de
suspensão;

• Suspensão por encerramento temporário devido a facto imputável ao empregador


(309.º/1-b), CT), obriga este a retribuir 100% da retribuição, salvo se o trabalhador
prestar outra atividade durante a suspensão (art. 309.º/2, CT);

• Nos termos do art. 316.º/1, CT, o encerramento temporário é punido criminalmente


se não for cumprido o disposto nos arts. 311.º e 312.º, CT, embora o levantamento
da suspensão dependa de ato voluntário do empregador (art. 310.º, CT);

• Ver ainda os arts. 544.º/1 e 2 e 545.º, CT, e 57.º, CRP, concretamente a


responsabilidade criminal decorrente de uma atuação que configure lock-out;

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• Procedimento (311.º e 312.º):

• Requisitos prévios: não estar em curso procedimento para


despedimento coletivo ou extinção do posto de trabalho (359.º e ss), ou
para redução/suspensão por crise empresarial (298.º e ss), ou ainda
para férias (242.º) + por ex, interdição por autoridade administrativa;

• Comunicação / informação aos trabalhadores e dos seus representantes


(404.º) + parecer prévio da comissão de trabalhadores (10 dias para o
efeito);

• Prestação de caução por créditos laborais + compensações por


despedimento coletivo (ou declaração escrita de trabalhadores a
dispensar) – 312.º/5 + 7.º, DL260/2009;

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• Em caso de encerramento temporário de empresa / estabelecimento:

• O empregador vê a sua atuação limitada pelo leque de atos proibidos do art.


313.º/1, CT;

• São anuláveis, por iniciativa dos trabalhadores ou dos seus representantes, os


atos contrários ao art. 313.º, CT, ou que reduzam o património da empresa
(314.º/1 e 2, CT);

• O desrespeito pelo procedimento dos arts. 311.º e 312.º, CT, é passível de pena
de prisão ou de multa, nos termos do art. 316.º, do CT - ver ainda os arts. 544.º/1
e 2 e 545.º, CT, concretamente a responsabilidade criminal decorrente de uma
atuação que configure lock-out;

• Caso o empregador tivesse depositado a caução junto do IEFP, os trabalhadores


podiam ter recorrido à mesma para obtenção de pagamento de salários (art.
312.º/3, CT).

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c) O que aconteceu aos contratos de trabalho aquando da paragem da ESCE
laboração? 09

• O vínculo laboral mantém-se até ao limite extremo da sua provável utilidade


para as partes, pelo que o contrato de trabalho não pode terminar pela causa
de suspensão, salvo se lhe suceder um despedimento colectivo ou extinção
do posto de trabalho – ver 311.º/1; aferir dos efeitos típicos/gerais do regime
da suspensão (arts. 294.º e 295.º, CT) e da proibição do lock-out (544.º e
545.º, CT, 57.º, CRP) – ié, de encerramento da empresa por iniciativa
exclusiva do empregador sem que estejam provadas razões ligadas à normal
execução da actividade da empresa;

• A presente situação, segundo o empregador, enquadra-se num caso


encerramento da actividade por “caso fortuito” (fenómenos naturais – ver
309.º/1-a) e 294.º/1), o qual cessa apenas quando o empregador o comunicar
expressamente (310.º);

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Alínea c) ESCE
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• A medida depende de um procedimento próprio, tal como previsto nos arts.


311.º e 312.º, CT, no âmbito do qual não há obrigação de obtenção de um
acordo entre trabalhadores e empregador, mas tão só a obrigação de
prestar caução que garanta os créditos laborais, bem como a de retribuir
75% da retribuição mensal auferida pelo trabalhador – art. 309.º/1-a), CT; à
retribuição será deduzida toda e qq. quantia auferida pelo trabalhador no
exercício de outra atividade (309.º/2);

• Mas a presente situação poderia ainda enquadrar-se num caso de crise


empresarial e numa tentativa de “assegurar a viabilidade da empresa”
(motivos de mercado – ver arts. 359.º/2-a)) + 294.º/1 e 2-a), 298.º/1, CT -, e
que respeita a duração máxima permitida (art. 301.º/1);

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• O recurso à suspensão por crise empresarial ou lay-off obriga a:

• Requisitos positivos – que deverão verificar-se (298.º, CT):

• Motivo de mercado, … – art. 359.º/2, CT -, ou catástrofes, …;

• Afetação grave da atividade normal da empresa;

• Assegurar a viabilidade da empresa e manutenção de postos de


trabalho;

• Situação contributiva regularizada (dívidas fiscais e parafiscais);

• Requisito negativo – não se pode verificar (298.º-A, CT)

• Ter recorrido a medida semelhante antes de decorrido metade do


período utilizado;

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Alínea c) ESCE
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• A medida tem de ser precedida de um procedimento próprio, tal como previsto


nos arts. 299.º e 300.º, CT, no âmbito do qual se procura um acordo, de modo
a encontrar medidas que minorem os efeitos negativos da suspensão.

• Procedimento:

• Comunicação (a quem – 299.º/1, 3 e 4; como e o quê / conteúdo – 299.º/1, 301.º


e 302.º);

• Consulta, informação e negociação – 299.º/2, 300.º/1 e 2, CT;

• Decisão (com ou sem acordo) – 300.º/3 a 6, CT. Duração máxima de seis meses
ou um ano, prorrogáveis por um período de seis meses (301.º, CT). Plano de
formação, parecer dos trabalhadores ou seus representantes (404.º/b) e a), CT) e
sua intenção - 302.º + 132.º, CT.

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Alínea c) ESCE
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• O plano de formação deverá ser objeto de informação e consulta aos representantes dos
trabalhadores e aprovado pelo IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional),
conforme o disposto no art. 302.º, CT, nomeadamente porque pressupõe a elevação das
competências e empregabilidade dos trabalhadores, no âmbito da atividade contratada
(ou noutra área a justificar), TIC’s, línguas estrangeiras ou SST (133.º, CT);

• Aferir dos direitos e deveres das partes durante o período de suspensão – 302.º a 306.º
+ 307.º/1, CT, nomeadamente no tocante ao direito à retribuição – entre o SMN e 2/3 da
retribuição, mas nunca superior a 3 SMN’s (305.º/1-a), 3 e 5 + 325.º) -, o qual é
comparticipado a 70% pela SS (305.º/4). Se for prestada formação pelo IEFP, este
entregará 30% do IAS (€443,20), nos termos do art. 305.º/5.º, CT. Direito a férias;

• Pelo art. 303.º, CT, o empregador fica obrigado ao cumprimento de alguns deveres e
proibido de práticas conducentes à diminuição do património da empresa e das garantias
dos trabalhadores - a ACT determine fiscaliza (art. 307.º/2 e 3, CT).

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