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CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS ( CEJ)

D I R E I T O S U B S TA N T I V O D O T R A B A L H O

O REGIME JURÍDICO DO TRABALHO INTERMITENTE E A SUA


APLICABILIDADE PRÁTICA

VÍTOR PALMELA FIDALGO


D O C E N T E DA FA C U L DA D E D E D I R E I TO DA U N I V E RS I DA D E D E L I S B OA
M E M B RO D O I N S T I T U TO D E D I R E I TO D O T R A BA L H O ( I DT )
§ 1. Definição e Admissibilidade

O trabalho intermitente surge – job on call -quando a atividade do trabalhador é sujeita a


significativos períodos de interrupção.

Existem duas fases neste tipo especial de contrato de trabalho:


I. a fase de inatividade, onde o trabalhador aguarda por ser chamado, ou pela retoma da
sua prestação ao serviço;

II. a fase onde se realiza, efetivamente, a prestação laboral.


§ 1. Definição e Admissibilidade (cont.)

Distancia-se do regime laboral paradigmático, que pressupõe a ocupação do trabalhador em todo


o período de duração do contrato.

Não coloca em causa o direito/dever de ocupação efetiva e a assiduidade.

Consiste, por isso, numa modalidade especial de contrato de trabalho (situação especial de
organização e duração do tempo de trabalho).

Ao contrário do que sucede noutras jurisdições, o contrato de trabalho intermitente não se


encontra sujeito a reserva de convenção coletiva.
§ 1. Definição e Admissibilidade (cont.)
O regime do contrato de trabalho intermitente tem a sua génese no art. 8.º da Lei n.º 4/2008, de 7 de
fevereiro, relativa ao contrato de trabalho dos artistas e outros trabalhadores do espetáculo.

O seu regime vem previsto nos arts. 157.º a 160.º, do Código do Trabalho.

Tem tido pouca expressão a nível jurisprudencial (embora discutido de forma lateral, vide Ac. STJ 22-
nov.-1995, (Matos Canas), Proc. 0036957; Ac. STJ 20-nov.-2013, (Mário Belo Morgado), Proc. 2867/06).

A inatividade inerente ao regime jurídico do trabalho intermitente não se confunde com a


desocupação eventual intrínseca a algumas prestações laborais, como é o caso do empregado de mesa
ou de loja, que poderá apenas prestar a sua atividade por solicitação do cliente.
§ 1. Definição e Admissibilidade (cont.)

Para que se possa constituir um contrato de trabalho intermitente terá de existir um requisito prévio
essencial: o empregador exercer uma atividade empresarial com descontinuidade ou intensidade
variável.

O trabalhador terá de celebrar um contrato de trabalho por tempo indeterminado (art. 157.º, n.º 2).

É a inatividade que molda todo o regime deste tipo especial: é requisito e características da prestação
laboral, moldando, direta ou indiretamente, todo o quadro legal, nomeadamente (i) a forma do
contrato, (ii) o período de prestação do trabalho; e (iii) a retribuição.
§ 2. Modalidades

Existem duas categorias tipológicas de contrato de trabalho intermitente:


I. Trabalho intermitente alternado (art. 157.º, n.º 1, primeira parte);
II. Trabalho intermitente à chamada (art. 157.º, n.º 1, segunda parte).

As partes poderão adotar fórmulas mistas , desde que respeitados os períodos de prestação e a
antecedência mínima, presentes no n.º 2 do art. 159.º.

No caso do contrato de trabalho dos profissionais de espetáculo, o art. 8.º, n.º 4, da Lei n.º
4/2008, prevê apenas a modalidade de contrato de trabalho intermitente à chamada.
§ 3. Delimitação de figuras próximas

Distinção entre trabalho intermitente e trabalho a tempo parcial vertical?

Distinção entre trabalho intermitente e contratos a termos sucessivos?

Distinção entre trabalho intermitente e contrato de trabalho temporário?


§ 3. Delimitação de figuras próximas
(cont.)
Questão específica quanto à distinção entre trabalho intermitente e trabalho a tempo parcial
vertical?

A solução do art. 150.º, n.º 3, não poderá deixar de ter consequências legais: (i) aplicação, por
analogia, dos arts. 159.º, n.º 2 e 160.º, n.º 1 e n.º 2, que constituem as principais garantias do
trabalhador pela inatividade; (ii) pagamento da compensação pela inatividade.
§ 4. Forma e formalidades

O contrato de trabalho intermitente é sujeito a forma escrita (art. 158.º, n.º 2).

Se a forma escrita for desrespeitada, o contrato considerar-se-á celebrado sem o período de


inatividade.

A mesma cominação se prevê para a omissão de uma formalidade obrigatória prevista na alínea
b) do n.º 1 do art. 158.º, que exige que o contrato de trabalho intermitente contenha a
“indicação do número anual de horas de trabalho, ou do número anual de dias de trabalho a
tempo completo”.
§ 5. compensação retributiva no
período de inatividade
O contrato de trabalho intermitente prevê uma compensação prevista para os períodos de
inatividade (art. 160.º, n.º 2).

Teleologia: disponibilidade do trabalhador para, durante o período de inatividade, retomar a


prestação laboral efetiva.

Esta será, no mínimo, correspondente a 20% da retribuição base auferida, devendo ter
periodicidade igual à retribuição (art. 160.º, n.º 2).
§ 5. compensação retributiva no
período de inatividade (cont.)
Porém, se o trabalhador exercer outra atividade durante o período de inatividade, o montante da
correspondente retribuição é deduzido à compensação retributiva (alteração leva a cabo lei Lei
n.º 93/2019, de 4 e setembro).

Pretende-se que com esta alteração o regime do contrato de trabalho intermitente seja mais
aliciante para os empregadores.
§ 6. A afetação da intermitência nos
direitos e deveres do trabalhador
Nos termos do art. 160.º, n.º 1, “Durante o período de inatividade, o trabalhador pode exercer
outra atividade, devendo informar o empregador desse facto”.

Lida a contrario, esta disposição indica que o estatuto legal do trabalhador coincidirá com aquele
que é estabelecido para os restantes trabalhadores. Contudo, o período de inatividade
influenciará, inevitavelmente, o regime jurídico aplicado (exemplo: prémios de produtividade).

O trabalhador intermitente não ficará privado de exercer outra atividade durante o período de
inatividade. E as cláusulas de exclusividade serão admitidas?
Obrigado.

V ÍTOR PALMELA F IDALGO


vitorpalmela@fd.ulisboa.pt

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