Você está na página 1de 63

Coesão Textual

A ligação, a relação, a conexão entre as palavras,


expressões ou frases do texto chama-se coesão
textual. Ela é manifestada por elementos formais,
que assinalam o vínculo entre os componentes
do texto.
Difícil? Talvez se torne mais claro ao longo dos
slides....
Leia o trecho a seguir:
“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde
canta a jandaia na fronde da carnaúba...”
O termo onde faz a conexão entre verdes mares
bravios de minha terra natal e canta a jandaia
na fronde da carnaúba e, ao fazê-lo, retoma o
primeiro segmento. Onde é um elemento coesivo
e a conexão entre as duas partes é um fenômeno
de coesão.
Há dois tipos principais de mecanismos de
coesão:
1. a retomada de termos, expressões ou frases já
ditos ou sua antecipação.
2. o encadeamento de segmentos do texto.
1. Coesão por retomada ou por antecipação
A) Retomada ou antecipação por uma palavra
gramatical (pronomes, verbos, numerais,
advérbios)
As maiores virtudes do homem público são a
sinceridade e a calma. Esta se conquista com
muito esforço, já aquela é inata.
Anáfora e Catáfora
Todos os termos que servem para retomar outro
são chamados de anafóricos. Já os que servem
para antecipar são chamados de catafóricos.
Aproveite que os russos não entendem nada de
lucro. Eles ainda fazem carros que duram pelo
menos 20 anos.
Nesta frase, eles é anafórico de russos.
Vocês farão o seguinte: lerão este pdf até o
final, depois esclarecerão suas dúvidas
comigo.
Nesta frase, seguinte é catafórico de lerão este
pdf... (não é necessário repetir o trecho inteiro,
ok?)
Observe outros exemplos de anáforas:

Beth está namorando. Ele é um cara legal.

Ele se refere a namorado contido no verbo


utilizado namorando.
Júlia e Nataly trabalham muito, Gisele quase não
o faz.

O verbo fazer aqui é um anafórico de trabalhar.


De fato, ele ficou muito ansioso pela ligação da
empresa; mas não foi tanto. Naquele dia ainda
jogou bola com os amigos e levou a namorada ao
cinema.

Foi refere-se a ficar que aparece na oração


anterior.
Porém devemos tomar cuidado com o uso de
anafóricos. Eles podem tornar o texto ambíguo se
forem usados de forma a poder se referir a dois
termos antecedentes distintos.
Sérgio resolveu conversar com Plínio sobre sua
participação na peça de Natal.

O termo sua pode tanto se referir a Sérgio quanto


a Plínio.
B) Retomada por palavra lexical (substantivo,
verbo, adjetivo)

Nesse caso, pode-se retomar um termo,


repetindo-o ou substituindo-o por um sinônimo,
por um hiperônimo ou hipônimo ou por uma
antonomásia.

(Ok. Você já sabe o que é sinônimo, mas não faz


a mínima ideia do que é o resto dos palavrões?
Calma! Será explicado.)
Hiperônimo: é um termo que mantém com outro
uma relação do tipo contém/está contido.
Traduzindo: hiperônimo é uma categoria grande
que contém vários outros elementos.

Exemplo: fruta – maçã (Fruta é hiperônimo de


maçã)
Flor – margarida (Flor é hiperônimo de margarida)
Hipônimo: é uma palavra que mantém com outra
uma relação do tipo está contido/contém.
Imagine o inverso de hiperônimo, pronto, é um
hipônimo....

Exemplo: Maçã – Fruta. Maçã é hipônimo de


fruta, assim como fruta é hiperônimo de maçã.

Caneta – Material escola. Caneta é hipônimo de


material escolar, assim como material escolar é
hiperônimo de caneta.
Antonomásia: é a substituição de um nome
próprio por um nome comum ou de um comum
por um próprio.

Exemplos: ex presidente de nove dedos – Lula


Picolé de chuchu – Alckmin
Ele é um Judas – traidor
Lia muito, toda espécie de livro. Policiais, então,
nem se fala, devorava.

O termo policiais é um hipônimo de livros, pois é


um dos gêneros de prosa escrita. (A imagem
abaixo é só para chamar atenção)
Porém, a repetição nem sempre deve ser vista
como um problema. Ela pode ser usada para
intensificar ou dar mais ênfase a certas palavras
ou expressões do texto.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”
Camões

(Correndo o risco de estar subestimando a


capacidade de compreensão dos meus alunos...)
O foco do trecho acima é a transitoriedade do
tempo e, com isso, de conceitos e essências. Por
conta disso, há a repetição do verbo mudar.
A elipse, ou o apagamento de um termo da frase,
que puder ser recuperado pelo contexto, é
também um recurso de coesão.
Caetano acordou cedo naquele dia. Ø Tomou
banho, Ø fez a barba, Ø preparou um belo café.
Porém, Ø lembrou que Flordêncio havia se
apoderado de seu lugar na empresa. Ø Estava
desempregado... Ø Voltou a dormir em meio a
lágrimas.

O símbolo Ø sinaliza onde houve apagamento no


texto acima.
2. Coesão por encadeamento de segmentos
textuais
A) Conexão

Conectores ou operadores discursivos são


palavras ou expressões responsáveis pela
concatenação, pela criação de relação entre os
segmentos do texto.
* então, portanto, já que, com feito, porque, ora,
mas, assim, dessa forma, isto é...
Sendo responsáveis, também, por uma relação
semântica (de significado) entre as partes do
texto.
* causa, finalidade, conclusão, contradição,
condição etc...
I – Argumentação orientada no sentido de uma
conclusão.
Há operadores discursivos que orientam uma
conclusão de pensamento indicando argumentos
mais fortes...
*até, mesmo, até mesmo, inclusive.
Outros introduzem um argumento, deixando
subentendido a existência de uma escala com
outros argumentos mais fortes.
*ao menos, no mínimo, no máximo, quando
muito.
Ela tem todas as qualidades para vencer na vida,
é bonita, inteligente, charmosa e até rica.
Ela é uma ótima aluna. No mínimo, fará uma boa
universidade.
Ele é um péssimo vidente. Advinha, quando
muito, se vai chover.
II - Há também as conjunções argumentativas
que ligam argumentos em favor de uma
conclusão.
* e, também, ainda, nem, não só... mas também,
tanto... como, além de, além disso, a par de.
É preciso trabalhar muito para vencer na vida e
também criar suas próprias oportunidades.
III – Disjunção argumentativa: introduzem
argumentos que levam a conclusões opostas.
*Ou, ou então, quer... quer, seja... seja, caso
contrário.
É preciso manter, a qualquer custo, o plano de
estabilização econômica. Ou, então, será
inevitável volta da inflação.
IV – Conclusão: introduzem uma conclusão em
relação a enunciados anteriores.
* portanto, logo, por conseguinte, pois (indica
conclusão quando não introduz a oração)
O Chico foi o funcionário que mais vendeu planos
de internet nesse mês. Deveria, portanto, ser o
funcionário do mês.
V – Comparação: estabelecem comparação de
superioridade, inferioridade ou igualdade entre
dois elementos sempre com vistas a uma
conclusão a favor ou contra.
*tanto... quanto, tão... quanto, mais... (do) que,
menos... (do) que.
“O material do Estado é tão bom quanto
qualquer outro, não há motivo para não usá-lo.”
VI – Explicação ou justificação: explicam ou
justificam o que foi dito anteriormente.
* porque, já que, que, pois.
A alegria do pobre já acabou, pois já gastou todo
seu FGTS.
VII – Contrajunção: contrapõem enunciados de
orientação argumentativa contrária.
* mas, porém, contudo, todavia, no entanto,
entretanto.
Juquinha das cabritas é um bom jogador, mas é
indisciplinado.

Vander Kreisson é indisciplinado, mas é um ótimo


jogador.
* embora, ainda que, mesmo que, apesar de que.

Embora Juquinha das cabritas seja um ótimo


jogador, ele é indisciplinado.

Mesmo que Vander Kreisson seja indisciplinado,


ele é um ótimo jogador.
VIII – Argumento decisivo: é introduzido como um
acréscimo.
* aliás, além do mais, além de tudo, além disso,
ademais.
Temer é o Brasil dando certo. Seu governo está
realmente empenhado em investir no povo:
congelou os investimentos em educação e saúde;
aprovou a reforma do Ensino Médio. Além disso
quer estabelecer a lei do sexagenário, digo,
reforma da previdência.
IX – Generalização ou amplificação: generaliza
ou amplifica o que foi dito anteriormente.
* De fato, realmente, aliás, também, é verdade
que.
O povo sofrerá com esta medida. Aliás, ele
sempre sofre quando o governo diz que quer
cortar gastos.
X – exemplo: especificação ou exemplificação do
que foi dito anteriormente.
* por exemplo, como.
Mesmo os alunos que estudam bastante, como o
Lucas, o Fabiano e a Maria, podem errar as
questões da prova.
XI – retificação (não confundam retificar com
ratificar): introduzem uma correção, um
esclarecimento, um desenvolvimento ou uma
redefinição do primeiro enunciado.
* ou melhor, de fato, pelo contrário, ao contrário,
isto é, quer dizer, ou seja...
Vou passar de ano. Ou melhor, vou tentar.
XII – Explicitação: introduz uma explicitação,
confirmação ou ilustração do que já foi dito.
* assim, desse modo, dessa maneira.
Foi trabalhoso preparar a aula. Desse modo,
estou mais cansada que o habitual.
B) Justaposição

Nesse caso, a coesão se faz pelo


estabelecimento da sequência do texto, que é
organizado com ou sem sequenciadores.
Podendo ter como substituto dos sequenciadores
a pontuação.
Preciso sair imediatamente. Tenho um
compromisso.
Os operadores de sequenciação podem ser dos
seguintes tipos:
1. sequência temporal

João teve uma profunda decepção amorosa.


Alguns anos antes, ele já vivera uma situação
semelhante.
2. ordenação espacial

À esquerda, via-se uma porta, que abria para um


jardim florido.
3. especificação da ordem do assunto.

Falarei primeiro sobre o romantismo, em


seguida sobre o realismo e por fim sobre
simbolismo e parnasianismo.
4. (Finalmente) mudança de tópico ou introdução
de um novo tema.

Parece-me que a Reforma do Ensino Médio é um


desdobramento do Projeto Escola sem Partido. À
propósito, garantirão que todos tenham acesso à
todas as opções de curso ou o ensino técnico
será predominante nas escolas públicas?
Oh glória!!!!

A quantidade de conectores e sequenciadores é


muito grande. Ficaria mais exaustivo ainda se
fossem enumerados todos aqui. Porém, espero
que esse pequeno/grande resumo seja suficiente
para que vocês possam prestar mais atenção à
forma como os textos organizam e relacionam as
ideias apresentadas, sendo possível, desta
forma, perceber os posicionamentos adotados
pelos escritores.

Você também pode gostar