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Novas Demandas do Contexto Profissional:

as Habilidades Sociais Profissionais


CAPITÃO-TENENTE (T) CAMILA MENKES
Vinculada ao Serviço de Seleção do Pessoal da Marinha
Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ);
MBA em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV);
Mestranda em Psicologia Social na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Resumo As Habilidades Sociais


Estudos atuais apontam que a capacidade de interagir Profissionais
socialmente tornou-se fundamental para a obtenção do
sucesso profissional. Este artigo tem por objetivo rea- Uma série de mudanças no mundo do trabalho e nas
lizar uma revisão teórica acerca das habilidades sociais organizações estão afetando de forma notável as rela-
necessárias ao contexto profissional, levando-se em con- ções interpessoais que ocorrem nesse contexto, sendo o
sideração as mudanças organizacionais atualmente vi- trabalhador pressionado a responder de maneira eficaz
venciadas. Para tanto, os temas subjacentes a essas ques- às diversas demandas de relacionamento proporciona-
tões foram tratados da seguinte forma: (1) apresentação das pelo seu ambiente de trabalho. Algumas destas mu-
das principais mudanças organizacionais e como estas danças organizacionais são destacadas por Gil (1998):
afetam as relações interpessoais no mundo do trabalho;
(2) definição das principais habilidades necessárias ao a) desenvolvimento de novas formas de produção, com
contexto profissional; e (3) indicação do Treinamento importante concentração no setor de serviços, gerando
em Habilidades Sociais (THS) como uma ferramenta para maior quantidade de contatos interpessoais;
a melhoria do desempenho social dos trabalhadores.
b) novos tipos de trabalho que requerem maior valoriza-
ção do trabalho em equipe;
Introdução
c) incorporação de trabalhadores estrangeiros, gerando
As últimas décadas do século XX marcaram o início grande heterogeneidade étnica e cultural da força de tra-
de uma nova era: a sociedade pós-industrial. Nesses balho; e
novos tempos, o mundo passou a enfrentar problemas
complexos e instabilidade em níveis sem precedentes. d) fortalecimento de movimentos centrados na melhoria
da qualidade de vida no trabalho.
Grande parte das organizações passa a realizar ativi-
dades de elevada complexidade, em situações de insta- Essas novas demandas que surgem no mundo do tra-
bilidade e com poucas informações acerca das variáveis balho exigem que o profissional apresente, além das ha-
que podem interferir em seus processos. As organiza- bilidades motoras, técnicas e administrativas, um con-
ções precisam ser mais flexíveis e inovadoras, adaptan- junto de habilidades sociais necessárias para estabele-
do-se continuamente às novas exigências. cer relações interpessoais eficientes e satisfatórias no
âmbito do trabalho: as habilidades sociais profissionais.
O principal desafio nesse novo contexto refere-se à Del Prette & Del Prette (2008, p.89) definiram o con-
necessidade de adaptação das pessoas aos novos pro- ceito de habilidades sociais profissionais como sendo
cessos de trabalho que, mais do que nunca, remetem “aquelas que atendem às diferentes demandas interpes-
diretamente às relações interpessoais, com maior va- soais do ambiente de trabalho objetivando o cumpri-
lorização do trabalho em equipe, criatividade, intui- mento de metas, a preservação do bem-estar da equipe
ção e autonomia na tomada de decisões (DEL PRETTE e o respeito aos direitos de cada um”.
& DEL PRETTE, 2008). Contextos específicos requerem um conjunto de habi-
lidades sociais que podem ser cruciais para a qualidade
O mercado de trabalho restrito e competitivo passa dos relacionamentos.
a valorizar, além das competências técnicas, as habi- No contexto do trabalho, as seguintes habilidades
lidades de interação. Já não importa apenas o quanto sociais ganham relevância (DEL PRETTE & DEL PRETTE,
somos inteligentes, a nossa formação ou grau de espe- 2006):
cialização, mas sim a forma como lidamos com nós mes-
mos e com os outros: a capacidade de interagir social- a) manter relações produtivas e satisfatórias no ambien-
mente torna-se um grande diferencial. te de trabalho;

b) resolver conflitos interpessoais e intergrupais;

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Em outro estudo, Sarriera et al. (2000) elaboraram um Outro aspecto a ser considerado é a necessidade de
programa de inserção no mercado de trabalho para adoles- mudança no tipo de formação que é proporcionada aos
centes, composto de três módulos: projeto ocupacional, universitários de hoje. As Universidades precisam se
habilidades sociais e conhecimentos/atitudes relativos ao adaptar às novas demandas organizacionais, passando
trabalho. Os resultados confirmaram o desenvolvimento a considerar em seus currículos, além dos aspectos téc-
das habilidades sociais, tendo sido promovidas mudanças nicos da formação profissional, os aspectos interpes-
em cinco dos sete itens avaliados: vencer dificuldades em soais que, certamente, serão exigidos de seus futuros
lidar com entrevistas de emprego, sentir confiança para profissionais como um diferencial competitivo nas mais
buscar emprego, ter habilidades de enfrentar compromis- diversas seleções de emprego.
sos, falar com chefes e lidar com críticas. Ao valorizar as habilidades sociais no contexto pro-
Outros programas também têm sido utilizados visan- fissional, as organizações possibilitarão a realização
do o desenvolvimento da capacidade de interação social de um trabalho efetivo, proporcionando, além de me-
no ambiente profissional, como o Individual Coaching lhorias no desempenho profissional, maior realiza-
for Effectiveness, que possui avaliações sistemáticas ção pessoal e profissional para seus funcionários.
que comprovam sua eficácia (PETERSON, 1996). O par-
ticipante típico desse programa submete-se a uma ses-
são inicial de um ou dois dias de avaliação diagnós-
tica e feedback, seguida de uma fase de treinamento, Referências
que envolve um dia de treinamento por mês durante os
seis meses seguintes. Nesse treinamento, objetivos de Bibliográficas
aprendizagem comportamental específicos são desen-
volvidos para cada indivíduo e definidos em termos de
comportamentos desejáveis no trabalho. ARGYLE, M. (1967/1994). Psicologia del comporta-
O Consortium for Research on Emotional Inteligence in miento interpersonal. Madrid: Alianza.
Organizations patrocinou uma revisão da pesquisa de
treinamento e desenvolvimento para identificar os fa- ARGYLE, M. (1981). Social skills and work. London:
tores que contribuem para uma aprendizagem social e Methuen & Co.Ltd.
emocional mais eficaz em locais de trabalho (CHERNISS
et al., 1998). Essa revisão levou a uma série de diretri- CABALLO, V. E. (2003). Manual de avaliação e trei-
zes práticas de base empírica. Dentre outros aspectos, namento das habilidades sociais. São Paulo: Livraria
as diretrizes incluem a avaliação das forças e limites Santos Editora.
de cada pessoa com relação às competências fundamen-
tais; a determinação de objetivos claros e possíveis de CHERNISS, C. (2002). Competência social e emocio-
serem atingidos; a utilização de métodos experimen- nal no local de trabalho. Em Bar-On, R. & Parker, J.D.
tais; a viabilização de oportunidades para a prática do (Orgs). Manual de inteligência emocional: Teoria e
aprendizado; e a condução de pesquisas de avaliação aplicação em casa, na escola e no trabalho. Porto
constantes. Alegre: Artmed.
Diante da intensa demanda de convivência social e
da necessidade de relações interpessoais mais satis- CHERNISS, C., GOLEMAN, D., EMMERLING, R., CO-
fatórias, pode-se afirmar que o THS tem se mostrado WAN, K., & ADLER, M. (1998). Bringing emotional
uma prática efetiva em promover o desenvolvimento intelligence to the workplace. New Brunswick, NJ:
interpessoal no contexto profissional. Consortium for Research on Emotional Intelligence
in Organizations, Rutgers University.

Considerações Finais DEL PRETTE, A.& DEL PRETTE, Z.A.P. (2003). No con-
texto da travessia para o ambiente de trabalho: Trei-
A questão das novas demandas do mundo do trabalho namento de habilidades sociais com universitários.
possibilita a reflexão acerca da importância das habili- Estudos de Psicologia, 8, 413-420.
dades sociais nessa nova realidade. Saber relacionar-
-se passa a ser tão ou mais importante do que apenas DEL PRETTE, A..& DEL PRETTE, Z. A. P (2006). Rela-
saber fazer. Entretanto, nem todos apresentam as habi- ções interpessoais e habilidades sociais no âmbito
lidades sociais requeridas em seu contexto profissional, do trabalho e das organizações. Texto online, dis-
daí surge a importância de que as empresas utilizem ponibilizado em http://www.rihs.ufscar.br, em de-
ferramentas válidas que possam desenvolver algumas zembro de 2006.
destas habilidades.
O Treinamento em Habilidades Sociais é uma destas DEL PRETTE, A. & DEL PRETTE, Z. A. P. (2008). Psico-
ferramentas. Resta reconhecer se as empresas estão logia das relações interpessoais: Vivências para o tra-
dando a devida atenção às habilidades sociais necessá- balho em grupo. 7 ed. Petrópolis, RJ: Vozes.
rias ao desempenho específico de cada função; se estão Del Prette, Z.A.P. & Del Prette, A. (2001). Inventário
disponibilizando recursos para que o THS seja desen- de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette): Manual de
volvido e, ainda, se as condições e o ambiente de traba- aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa
lho são capazes de proporcionar estímulos que visem à do Psicólogo.
manutenção e à generalização dos resultados esperados.

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