Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Antecedentes históricos
1 Ver: BAUER, Letícia. O arquiteto e o zelador: patrimônio cultural, história e memória – São Miguel
das Missões (1937-1950). Porto Alegre, 2006. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
1200
2 BRAGA, Valter Rodrigues. Dossiê Ponto de Memória Missioneira, São Miguel das Missões/RS. 2011.
(texto mimeo.)
1201
Exposição foi
Localizar a pedra de gancho, que era arrastada por junta de bois que seguiam
baliza para marcar os trilhos das três primeiras hípicas (cancha de carreiras)
das comunidades de esquina São Miguel, esquina Campestre e propriedades
dos Oliveiras.3
1. Vista frontal da Pedra de Gancho, item musealizado pelo Ponto de Memória Missioneira.
Fonte: Arquivo do Museu das Missões (2011).
3 Idem.
4 Como nota Hugues de Varine (2000, p. 87-89), é preciso estar atento ao perigo de exploração político-
partidária sobre os museus comunitários, pois sua eficácia como meio de mobilização da população pode
1202
A partir desta conjuntura vivenciada em São Miguel das Missões também é possível
observar a confiança depositada pelos doadores de peças na iniciativa liderada pelo Sr.
Valter Braga, que demonstrou possuir habilidade suficiente para construir os arranjos
sociais que viabilizaram as doações.
Em relato sobre a trajetória do empreendimento, Braga oferece alguns detalhes
sobre este assunto:
Outras ações da Exposição poderiam ser descritas para melhor situar o leitor sobre
a sua trajetória, mas o espaço disponível não permite entrar em pormenores.
De todo modo, importante reafirmar que a criação da Exposição da Cultura
Missioneira não possuiu vínculos formais com iniciativas estatais na área de proteção
ao patrimônio. Na verdade, esta iniciativa comunitária parece ter surgido num ambiente
marcado por suspeitas e/ou insatisfações em relação às políticas oficiais de preservação
dos bens culturais existentes nas Missões. Um indicador disto pode ser encontrado no fato
de que o Museu das Missões, administrado pelo governo federal desde a sua criação, em
1940, jamais ter obtido doações de peças em volume tão expressivo quanto à Exposição
da Cultura Missioneira, ao passo que esta última viu crescer seu acervo em tais proporções
que hoje em dia enfrenta carência de espaço físico.6
Constatação análoga já havia sido feita por pesquisadores que atuaram junto a
moradores de São Miguel das Missões. Willians Fausto (2008, p. 07), por exemplo, aponta
que diversos miguelinos foram historicamente excluídos das decisões que envolvem o
patrimônio que faz fronteira com o quintal de suas casas e se encontra inscrito, desde
1938, no Livro Tombo de Belas Artes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan). Isto contribuiu, em certa medida, para a existência de vicissitudes
no relacionamento estabelecido por moradores da localidade com os bens culturais
patrimonializados através de ações encabeçadas pelo poder estatal na região missioneira.
Por um lado, os remanescentes das Missões Jesuíticas dos Guarani, declarados Patrimônio
Cultural da Humanidade, em 1983, se manifestam como uma espécie de ícone identitário
para os moradores de São Miguel das Missões; por outro, este grupo social se vê alijado
das decisões técnicas e políticas que visam gerir as utilizações deste mesmo patrimônio.
Esta situação conflitante revela, portanto, ao menos duas faces de um mesmo fenômeno,
6 Foi possível chegar a tal constatação no decorrer de uma série de aproximações realizadas junto ao Ponto
de Memória Missioneira, na condição de historiador que atua no Setor de Pesquisa do Museu das Missões
Ibram/MinC.
1204
(...) uma parceria que cabeu [sic] no coração dos miguelinos e foi capaz de
ver no semblante a alegria dos jovens aos idosos interagindo com a história, o
parabéns entoado é o afago demonstrando o caminho certo pela preservação
aprovando este projeto Ponto de Memória Missioneira.9
local construído especialmente para esse fim junto ao Ponto de Memória. Sua importância
para os idealizadores do empreendimento comunitário é especial, tendo em vista que dele
deriva a sua própria logomarca, como se pode observar na imagem abaixo.10
10 A logomarca foi confeccionada com a colaboração da equipe técnica do Museu das Missões. Registre-
se um agradecimento especial para a estagiária de História, Srª Ana Maria Becker Teixeira, responsável pela
arte final da logomarca.
11 Para informações sobre os Mbyá e suas referências culturais, ver, entre outros: BRASIL. Ministério da
Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Tava Miri São Miguel Arcanjo, Sagrada
Aldeia de Pedra: os Mbyá-Guarani nas Missões. Porto Alegre: Iphan, 2007.
1207
Além da Pira Cultural, a imagem acima exibe instrumentos utilizados por artistas
miguelinos durante suas apresentações e encontros musicais, incluindo as três primeiras
edições do Gaitaço Missioneiro. O evento está incluído no calendário oficial de eventos
do município e ocorre em alusão ao Dia do Músico e à Santa Cecília, sua padroeira
segundo a tradição católica. Com a continuidade do Gaitaço, cuja quarta edição ocorrerá
em 18 de novembro de 2012, o Ponto de Memória busca valorizar expressões culturais
regionais, especialmente a música (tradicionalista e nativista), a trova gaúcha em suas
diversas modalidades (Gildo de Freitas, Mi Maior de Gavetão e Trova Martelo) e a
declamação de poesias.
Além de auxiliar na manutenção de suas programações culturais, foi mencionado
no Plano de Trabalho que os recursos do prêmio também seriam utilizados para adquirir
materiais e equipamentos destinados à manutenção e à conservação do acervo. Este
trabalho preventivo contribuiria para sensibilizar os moradores de São Miguel das Missões
sobre os significados da preservação do patrimônio cultural que eles compartilham.
Em suma, os itens de despesa previstos na execução do Plano de Trabalho do Ponto
de Memória foram os seguintes: manutenção das ações de memória social; programações
culturais regulares; ampliação do acesso, educação e formação de público; aquisição,
preservação, inventário e documentação de acervo; ações de difusão, divulgação e
promoção.
É preciso deixar claro que o Ponto de Memória Missioneira, assim como outras
iniciativas comunitárias de memória, dispõe de dotação orçamentária limitada. As verbas
disponíveis são irregulares e provém basicamente da colaboração voluntária dos próprios
moradores de São Miguel das Missões. Exceção feita ao fornecimento de matéria-prima
para a realização do Ritual da Erva Mate, atividade que tem recebido incentivo de uma
empresa ervateira com sede em Cerro Largo/RS.
Apesar de se encontrar acessível todos os dias para visitação, não há cobrança de
ingresso no Ponto de Memória. Todas as suas atividades são abertas ao público e gratuitas,
haja vista que o empreendimento não possui fins lucrativos. A caixa de contribuição
1208
espontânea destinada aos turistas geralmente recebe quantias irrisórias e não dá conta de
custear o seu funcionamento.
O prêmio alcançado através do edital, portanto, tem sido fundamental para
atender algumas demandas básicas do Ponto de Memória, como a aquisição de um
computador com impressora, uma máquina fotográfica, equipamentos e materiais para
a manutenção do espaço e a conservação do acervo, entre outras ações já mencionadas.
Mas a sustentabilidade do empreendimento não depende somente de recursos financeiros
e esta questão continua a ser um constante desafio para os seus gestores.
Mesmo sem a pretensão de esgotar os temas levantados até aqui, a seguir serão
apresentadas as considerações finais sobre o Ponto de Memória Missioneira.
Considerações finais
conectadas, desde o início, com a própria realidade social da qual emergiram, sendo que
os seus protagonistas também se mostraram capazes de preservar e divulgar um conjunto
de bens culturais nos quais boa parte da comunidade se reconhece e com os quais se
identifica. Tais características do Ponto de Memória têm permitido a construção de uma
narrativa museal peculiar sobre a experiência histórica da região missioneira, levando em
conta, sobretudo, aspirações do próprio cidadão miguelino.
Referências
BAUER, Letícia. O arquiteto e o zelador: patrimônio cultural, história e memória –
São Miguel das Missões (1937-1950). Porto Alegre, 2006. Dissertação (Mestrado em
História). Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
BRAGA, Valter Rodrigues. Dossiê Ponto de Memória Missioneira, apresentado ao
Setor de Pesquisa do Museu das Missões (IBRAM/MinC). São Miguel das Missões/
RS. 2011. (texto mimeo.)
BRASIL. Câmara dos Deputados. Legislação sobre Patrimônio Cultural no Brasil.
Brasília: Edições Câmara, 2010.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto Brasileiro de Museus. Plano Nacional Setorial
de Museus (2010-2020). Brasília-DF, 2010.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Tava Miri São Miguel Arcanjo, Sagrada Aldeia de Pedra: os Mbyá Guarani nas
Missões. Porto Alegre: Iphan, 2007.
PESSÔA, José. (org.). Lucio Costa: Documentos de trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro:
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2004.
SILVA, Willians Fausto. Patrimônio a contragosto: a presença de bens culturais na
vida cotidiana de São Miguel das Missões. Dissertação de mestrado em museologia e
patrimônio. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008.
VARINE, Hugues de. Ecomuseus. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 27, jan./jun. 2000,
p. 61-90.
VIVIAN, Diego Luiz Vivian. Dossiê Ponto de Memória Missioneira, apresentado à
COMUSE/IBRAM. São Miguel das Missões, 2011. (texto mimeo.)