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Anais do XIV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 29 e 30 de setembro de 2009

ISSN 1982-0178

VÍNCULO E INSTITUIÇÃO: DESENVOLVIMENTOS TEÓRICOS NO


CAMPO DA PSICANÁLISE
Débora Ortolan Fernandes de Oliveira Antonios Terzis
Faculdades de Psicologia Psicanálise e Grupalidade
Centro de Ciências da Vida Centro de Ciências da Vida
deby_ortolan@yahoo.com.br aterzis@uol.com.br

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo ter desenvolvido técnicas interventivas específicas da
ampliar o conceito teórico de vínculo no contexto grupalidade, inclinou-se ao estudo das origens da
institucional, através do enfoque psicanalítico. sociedade humana, dos ritos e das religiões, da
Especificamente, procura desenvolver uma nova atividade artística criadora e, ainda, do
idéia no campo da psicologia dos grupos através do comportamento agressivo e autodestrutivo da
diálogo com alguns autores (Pichon-Rivière[1], civilização moderna.
Bleger[2], Kaës[3]), a partir de suas obras Freud [4] diz que a identificação é conhecida pela
psicológicas sobre o vínculo e a instituição. psicanálise como a mais remota expressão de um
Apresenta uma vasta revisão bibliográfica a respeito laço emocional com outra pessoa e é ambivalente
do vínculo na clínica tradicional, mas principalmente, desde o início, pois pode tornar-se expressão de
nos dispositivos plurais (instituição, grupo, família, ternura com tanta facilidade quanto se tornar desejo
casal). O trabalho pretende tornar possível o de afastamento de alguém. Além desse laço
conhecimento de uma parte importante da realidade emocional inicial na vida do sujeito, podem surgir
psíquica do inconsciente, colocando em perspectiva outros laços com qualquer nova percepção de uma
os conhecimentos psicanalíticos a cerca dos qualidade comum partilhada com outra pessoa.
fenômenos coletivos e explicitando a função Quanto mais importante a qualidade comum é, mais
transicional da instituição na formação da psique hu- bem-sucedida pode tornar-se essa identificação
mana. parcial, podendo representar assim o início de um
Palavras-chave: vínculo, instituição, psicanálise.
novo laço.
Área do Conhecimento: Ciências Humanas – Freud [4] pôde perceber que o laço mútuo existente
Psicologia – CNPq. entre os membros de um grupo é da natureza de
uma identificação desse tipo, baseada numa
1. INTRODUÇÃO importante qualidade emocional comum, e pode-se,
portanto, suspeitar que essa qualidade comum reside
Este é um estudo que tem por objetivo a elaboração na natureza do laço com o líder. Freud explicitou,
de uma pesquisa bibliográfica que articula o portanto, o que faz com que alguns grupos se
desenvolvimento do vínculo nas instituições com os mantenham e outros não, visto que os grupos
movimentos humanos e as condutas anômalas da dependem da identificação entre os membros e,
vida institucional, vistos a luz do enfoque principalmente, com o líder. O autor discute, ainda,
psicanalítico. Levando em consideração o aumento que é possível observar nos grupos a dependência,
da demanda das intervenções psicológicas, torna-se que sugere uma regressão da atividade mental a um
evidente a necessidade do desenvolvimento de estágio anterior do desenvolvimento, sendo uma
técnicas grupoterápicas, visto que o grupo possui característica essencial dos grupos .
uma realidade psíquica própria, não sendo redutível Apesar da riqueza da psicanálise clássica, passaram
à soma das realidades psíquicas individuais. Assim, a ficar evidentes as limitações e necessidades de
esse trabalho torna-se interessante àqueles que se inovações na própria técnica. Assim, enquadres
preocupam com a psicologia de grupos institucionais multipessoais passam a serem experimentados por
e o comportamento do homem como ser social. profissionais de reconhecido saber, em
1.1. Sobre o Vínculo conseqüência do confronto com situações em que a
compreensão possível no atendimento individual
Nos primórdios da psicanálise, Freud [4] já parecia insuficiente para dar conta de dificuldades
considerava que o grupo, a massa e a coletividade vividas pelo paciente quando inserido em
têm existência anterior ao indivíduo. Apesar de não experiências diversas de interação com outras
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pessoas, outros egos. Dessa forma, autores momento em que existe uma mútua representação
passaram a se debruçar ao estudo dos interna, ou seja, quando a existência de uma outra
acontecimentos nestes contextos (Folkes & Anthony pessoa deixou de ser indiferente e passou a ter
[5]; Bion [6]; Pontalis [7]; Anzieu [8]; Kaes [3]; Pichon- significado e despertar sentimentos, incluindo o
Rivière [9]; Bleger [10]; Terzis [11]). sentimento de pertinência [14].
Considerando o caráter coletivo do desenvolvimento Levando em consideração a importância do estudo
humano, Pichon-Rivière [1] considera o vínculo como das relações vinculares, a partir de 1988, Psicanálise
uma estrutura complexa que inclui um sujeito e um das Configurações Vinculares (PCV) foi o nome
objeto em interação, com estruturas psicológicas utilizado pelos estudiosos da Argentina para
internas e externas que interferem entre si, estando organizar conhecimentos existentes e abrir campo de
em constante movimento. Pichon ampliou, portanto, estudo com uma visão mais ampla a respeito da psi-
o conceito de relação de objeto, propondo uma canálise, principalmente no âmbito dos grupos,
estrutura mais complexa, pois o vínculo é uma famílias, casais e instituições. A idéia foi articular as
relação particular do objeto que inclui a conduta, ou diversas configurações vinculares com o conceito
seja, manifestações não verbais, como o interjogo de básico psicanalítico: o inconsciente [1, 15, 16, 17].
olhares, que revelam afetos. Além disso, o vínculo A primeira grande contribuição da Escola de
está relacionado com a noção de papel, de status e Psicanálise das Configurações Vinculares foi consi-
de comunicação, pois, por meio da relação com outra derar que casal, família, grupo e instituição são
pessoa, repete uma história de vínculos diferentes configurações das manifestações
determinados em um tempo e em um espaço, de interindividuais que passam, então, a ser chamadas
forma que as pessoas se relacionam a partir de de configurações vinculares. Para essa Escola
modelos de vínculos [12]. Argentina o vínculo institui as modificações que não
Pichon-Rivière [1] também salienta que existe mais param de ocorrer nos três níveis (intra, inter e
de um tipo de vínculo e, ainda, que as relações que o transubjetivo) durante toda a vida do sujeito [1, 15,
sujeito estabelece são mistas, na medida em que 16, 17].
emprega, simultaneamente, estruturas vinculares
diversas. O vínculo considerado normal é aquele no 1.2. Sobre a Instituição
qual o sujeito e o objeto se diferenciam sem atingir a
máxima diferenciação, pois, como diz o próprio A relação entre a psicanálise e instituição foi,
Pichon, uma máxima diferenciação conduziria à historicamente, determinada pelas transformações
indiferença, à ausência de vínculo; ao contrário, no da instituição psiquiátrica, pela conceitualização de
vínculo patológico, não há diferenciação. Pelosi [13] doença mental e pela emergência das psicoterapias,
também afirma que todos os vínculos devem conter particularmente, as de grupo. A corrente psicanalítica
as formas boa e má que, unidas, compõem o vínculo inspirou as práticas e pensamentos a propósito da
normal, sendo que, quando há uma adesão extre- instituição no contexto de duas correntes: da
mada a uma das formas, deve-se suspeitar de “psicoterapia institucional” e das aplicações da
alianças patológicas. psicanálise às instituições assistenciais psiquiátricas.
Assim, não existem relações impessoais, pois além A partir de 1968, as pesquisas psicanalíticas se
do vínculo depender de um outro, esse também estenderam a outros tipos de instituições, porém
depende de outros vínculos considerados atuando de maneira a trazer uma presença
historicamente no sujeito. O acúmulo dessas consultiva ou no contexto de uma supervisão e
experiências vinculares constitui para Pichon-Rivière análise das relações de equipe [18]. Apesar disso,
[1] o inconsciente, que é, portanto, constituído por avanços metodológicos, clínicos e teóricos
uma série de condutas acumuladas em relação a possibilitam a aproximação psicanalítica dos grupos,
vínculos e papéis que o sujeito desempenha frente a além da extensão do campo da prática institucional
determinados sujeitos. Com isso, ao longo do tempo fora do ambiente psiquiátrico. Algumas das
os vínculos sofrem transformações, passando a ter formulações que contribuíram para esse avanço
novas configurações a partir das introjeções do que serão apontadas a seguir.
foi vivido [13].
Segundo Osorio [19], o homem tem uma tendência
Do ponto de vista dinâmico, o vínculo sustenta-se por inata a agrupar-se para assegurar a sua
uma série de estipulações inconscientes tais como sobrevivência e também para instrumentalizar seu
acordos, pactos e regras de qualidade afetiva. Desse domínio e seu poder. A instituição, seja ela a família,
modo, pode-se dizer que há vínculo a partir do um clube, uma associação empresarial, é o
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arcabouço e o esqueleto do corpo comunitário, ou quando se pretende sair das malhas do que já é
seja, é o que sustenta e possibilita o exercício das conhecido. A psicanálise “extramuros” (fora do
funções sociais que dão sentido ao périplo existencial setting tradicional do consultório), sua inserção
de todos os indivíduos. institucional, seu vínculo com os trabalhos em grupo
Bleger [10] define instituição como uma organização são algumas dessas dificuldades, que para
permanente de algum aspecto da vida coletiva, encontrarem soluções precisam ser investidas e
regulada por normas, costumes, ritos e leis. Kaës pesquisadas. É importante pensar o que a
[20] aponta que ela segue as suas leis próprias, o psicanálise pode trazer para as instituições, porém é
que comprova a complexidade da instituição, ainda mais importante pensar o que as instituições,
considerando que cada uma tem o seu como campo possível da experiência clínica, podem
funcionamento próprio. Segundo o autor, sem as contribuir para o futuro da psicanálise.
instituições o mundo se constituiria apenas de
relações de força e nenhuma civilização seria
possível. Assim, o trabalho coletivo do pensar realiza 2. MÉTODO
uma das funções capitais das instituições que é
fornecer representações comuns e matrizes Pode-se descrever essa pesquisa a partir do prisma
identificatórias aos seus membros. Além disso, o metodológico, no qual insere-se em uma
homem encontra nas instituições suporte e apoio, investigação crítico-analítica teórica delimitativa de
segurança, identidade e inserção social. uma parcela de textos que fazem incursões
significativas de estudiosos do vínculo nas
Dessa forma, a instituição é uma formação da instituições, principalmente das escolas francesa e
sociedade e da cultura, segue a sua lógica própria se latino-americana. Os textos teóricos utilizados
opondo, portanto, àquilo que é estabelecido pela constituíram instrumentos de estudo, que nos deteve
natureza. À medida que a instituição é um conjunto em contato com uma produção recente.
das formas e das estruturas sociais instituídas pela
lei e pelo costume, ela regula as relações humanas, Revisando as composições que determinam a
preexiste e se impõe aos homens [20]. Assim, o literatura especializada em tal área do saber,
estudo do vínculo nas instituições se faz necessário. pudemos analisar, discutir e desenvolver conceitos e
idéias que compõem a Psicologia das Instituições e
Além dessas, articulam-se, nos últimos anos, seus estudos. Porém, é evidente que esta pesquisa
diversas construções teóricas de psicanalistas fran- faz parte de uma etapa de uma investigação que
ceses assim como latino-americanos em torno da deveria se ampliar no sentido de elaboração de
questão das instituições, incluindo os grupos e os novos conceitos que poderão ser desenvolvidos para
vínculos. Procura-se legitimar cada vez mais este compreender a vivência institucional e suas
novo enfoque teórico-clínico sobre o espaço do grupo peculiaridades.
na psicanálise contemporânea.
Sigal [21] discute a relação entre a psicanálise e a Essa revisão teórica se preocupou em vincular-se às
instituição é extremamente delicada, visto que, reflexões analíticas qualitativas do material abordado,
freqüentemente, a psicanálise penetra na instituição sendo que o presente estudo efetuou um
como uma nova sofisticada nosografia, interna à levantamento de livros e textos que enfocam
ordem médica. Ela institui-se desta forma como uma questões do vínculo, da grupalidade e da instituição.
nova variante do saber, cujo uso contribui para a A outra etapa do estudo configura-se na análise dos
manutenção do poder exatamente onde sempre conceitos levantados, através da qual refletiu-se e
esteve. Portanto, corre-se o risco de que a descreveu-se, a partir da teoria pesquisada, os
psicanálise, ao invés de contribuir para o acesso à fenômenos institucionais.
verdade do sujeito, venha a se converter em
pedagogia obscurantista, a serviço de uma 3. DESENVOLVIMENTO
adaptação mais eficiente do sujeito a seu meio e
contrariando qualquer possibilidade de ques- É possível perceber que a psicanálise freudiana foi
tionamento. extremamente ampliada até alcançar os paradigmas
atuais. Essa ampliação é uma tentativa de romper
Dessa maneira, a autora enfatiza que o objetivo da com a psicanálise hegemônica e é, ainda, uma
psicanálise não é dar conta dos múltiplos conflitos tentativa de buscar a multiplicidade e a diversidade.
institucionais, pois isso a conduziria ao reducionismo, Para isso é necessário o diálogo com outros
mas sim procurar compreender os fenômenos conhecimentos e com outros contextos (que não o
plurais. Apesar disso, muitas são as dificuldades
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setting tradicional), de forma que se torne possível A tolerância aos aspectos indesejáveis do outro pode
ampliá-la sem deixar de se configurar como causar inúmeras dificuldades comunicativas,
psicanálise. principalmente mal-entendidos, pois, no fundo, cada
Esse desenvolvimento da psicanálise permitiu aplicá- um continua com a própria idéia como padrão de
la aos grupos e às instituições. Porém, Hur [22] conduta a ser seguida, não havendo, de fato,
compreende que a psicanálise de grupos e aceitação e respeito com relação à divergência [12].
instituições não é meramente uma psicanálise Os pactos inconscientes desempenham, então, um
aplicada aos grupos ou ao social, pois ao refletir e papel significativo nas dificuldades comunicativas
intervir nessas realidades, acaba por gerar novas dentro de uma instituição, visto que representam
reflexões que contribuem e alteram esse campo do acordos que exigem tolerância. Os membros das
conhecimento.
A importância dos conceitos psicanalíticos instituições, que têm consciência dos principais
específicos para processos mentais que se dão aspectos individuais e grupais, podem apresentar
coletivamente reside não só no fato de se referirem menos contratos inconscientes e, portanto, menos
às representações, fantasias e ansiedades, mas dificuldades na comunicação, isso porque a vida e a
principalmente no fato de enfatizarem e procurarem capacidade comunicativa tornam-se extremamente
compreender a produção coletiva dessas. Não diferentes, quando se considera ou não o outro real
parece possível, hoje, avançar no conhecimento do externo.
Além disso, foi possível estabelecer um paralelo,
homem, da sociedade e da instituição, enquanto a através das leituras, entre os conceitos dos
construção teórica da ponte indivíduo-sociedade não diferentes autores. Enquanto para Pichon [1] o
for investida de grandes e renovados esforços. vínculo tem a sua maneira própria de funcionamento,
Assim, o trabalho nas instituições tem se mostrado sendo que é considerado patológico quando não há
um desafio por ser um objeto de estudo recente diferenciação entre o sujeito e o objeto, Bleger [2]
dentro do enfoque psicanalítico. Considerando descreve o conceito de sociabilidade sincrética, que
também que cada instituição produz o seu próprio é uma não individuação, uma não relação que se
saber, de acordo com seus objetivos e com a impõe como estrutura básica. É um tipo de relação
realidade sócio-histórica das pessoas que atende, o que se baseia na imobilização das partes não
trabalho desenvolvido se torna ainda mais complexo. diferenciadas do psiquismo. Apesar disso, o autor
Esse trabalho deve ser uma construção singular que considera necessário um certo nível de sociabilidade
possibilite o encontro e a emergência dos sujeitos sincrética para que ocorra uma integração entre os
envolvidos na instituição e a emergência de uma membros de um grupo.
lógica discursiva que aponte para a alteridade. Bleger [2] divide em dois os níveis de identidade
Sustentar que essa lógica que permite a diversidade grupal, sendo o primeiro um tipo de relação na qual
e a diferença é possível, é tarefa primordial do olhar há uma tendência à integração ou interação dos
psicanalítico dentro das instituições. indivíduos, e o segundo a identidade grupal sincréti-
Pichon-Rivière [1] ampliou o conceito de relação de ca, na qual não há limite entre as identidades, sendo
objeto, propondo uma estrutura mais complexa, que que a identidade dos integrantes reside no seu
inclui o sujeito e o objeto em interação, com pertencimento ao grupo.
estruturas psicológicas internas e externas que Kaës [19] faz um paralelo entre a sociabilidade
interferem entre si, estando em constante sincrética de Bleger e a relação isomórfica, conceito
movimento. Dessa forma, ele propõe que tanto o utilizado por ele para descrever o estado do vínculo
sujeito quanto o objeto se influenciem mutuamente, como aquele que sustenta a relação entre o sujeito e
sendo que essa influência pode se estender ao longo o grupo. Isomórfica é a conseqüência da
da vida, visto que as pessoas se relacionam a partir indiferenciação entre o corpo e o espaço, entre o eu
de modelos de vínculos já experienciados e o outro. O autor acredita que tais estados tornam
anteriormente. Compreender os vínculos indiscerníveis os limites do sujeito e da instituição, e
estabelecidos dentro de uma instituição torna-se o que sofre nessa vinculação é a tentativa de fazer
extremamente importante para que exista a emergir os limites. O sofrimento nasce, portanto, do
possibilidade de se desenvolver vínculos mais esforço para se libertar do indiferenciado e das
saudáveis.
O vínculo é estabelecido a partir de uma espécie de angústias de dissolução.
contrato inconsciente, mediante acordos e pactos Pode-se verificar a relação entre os conceitos de
também inconscientes. Esses pactos resultam de vínculo patológico, sociabilidade sincrética e relação
aspectos não compartilháveis de cada um, o que isomórfica, que se baseia na indiferenciação entre o
implica concessões para satisfazer o desejo do outro. sujeito e o objeto. Porém, apesar de patológico é
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essencial que haja um certo nível de indiferenciação [3] Kaës, R. (1997), O grupo e o inconsciente do
para que o sujeito possa se envolver com o grupo, ou grupo: elementos de uma teoria psicanalítica de
seja, o que diferencia o vínculo saudável do vínculo grupo. Casa do Psicólogo, São Paulo, SP.
patológico é o grau de diferenciação estabelecido [4] Freud, S. (1921). Psicologia de grupo e análise
entre o sujeito e o objeto. do ego. Edição Standard Brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Imago, Rio de Janeiro, RJ.
[5] Foulkes, H & Anthony, E. J. (1972) Psicoterapia
Em 1930, Freud [23] ressalta no seu trabalho “O mal- de grupo. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro,
estar na civilização” que o futuro da humanidade
RJ.
depende de como os homens enfrentam as
perturbações coletivas. O acelerado avanço da [6] Bion, W. R.(1975) Experiências com grupos.
ciência e da tecnologia têm representado um Imago, Rio de Janeiro, RJ.
isolamento da sociedade pós-moderna, além de uma [7] Pontalis, J. B. (1963). Le petit groupe comme
crescente desvalorização da experiência no sentido objet. Lês Temps Modernes, 211, 1057-1069.
coletivo. Terzis [24] alerta para o fato de que sem [8] Anzieu, D. (1993) O grupo e o inconsciente do
experiência social o sujeito corta, progressivamente, grupo. Casa do Psicólogo, São Paulo, SP.
os laços de identificação com o outro, o que significa
um prejuízo no seu desenvolvimento, visto a [9] Pichon-Rivière, E. (2000) O processo grupal.
importância dos vínculos. Martins Fontes, São Paulo, SP.
[10] Bleger, J. (1992) Psico-higiene e psicologia
Além disso, como cada instituição apresenta suas
institucional, 3ª ed., Artes Médicas, Porto Alegre,
próprias normas e leis de funcionamento torna-se
extremamente complexo o estudo dos vínculos [11] RS.
Terzis, A. (2009) As atuais condições das
institucionais, ainda que sejam mais vastos os estu- praticas analíticas de grupo. VII Congreso
dos sobre os vínculos e as instituições, Brasileirio de Psicanálise das Configurações
separadamente. Além disso, é essencial que o intuito Vinculares. Serra Negra, SP.
da elaboração dos trabalhos seja constituir uma [12] Fernandes, W. J. & Svartman, B. (2003)
Psicologia comprometida com as demandas da Contribuições de autores argentinos à
realidade brasileira. psicanálise vincular. Em W. J. Fernandes, B.
Svartman & B. S. Fernandes (Orgs.) Grupos e
Considera-se que todos os conceitos psicanalíticos Configurações Vinculares. Artmed, Porto Alegre,
estudados nesse trabalho tornam possível o RS.
conhecimento de uma parte importante da realidade
psíquica do inconsciente e das subjetividades nas [13] Pelosi, R. M. (1997) As transformações dos
instituições, que mal seriam acessíveis de outra for- vínculos. Revista Associação Brasileira de
ma. Ainda, esses conceitos e outros podem gerar Psicoterapia Analítica de grupo, 6, 71-73.
novos campos de pesquisa, colocando em [14] Puget, J. & Berenstein, I. (1993). Psicanálise de
perspectiva a função transicional da instituição na Casal. Martins Fontes, São Paulo, SP.
formação da psique humana. Esse foi, portanto,
[15] Puget, J. & Berenstein, I. (1997) Lo vincular,
apenas uma breve exposição que deve ser
amplamente aprofundada, sendo necessário que clínica y técnica psicoanalítica. Paidós, Buenos
pesquisas de campo e revisões bibliográficas Aires.
ampliem esses conhecimentos a fim de compreender [16] Rojas, M. C. (2000) Itinerário de um vínculo:
todos esses conflitos vinculares. transferência. Em Berenstein, I. et. al. Clínica
familiar psicoanalítica. Estrutura y acontecimien-
to. Paidós, Buenos Aires.
REFERÊNCIAS
[17] Puget, J. (2002) La perspectiva vincular -
Incertidumbre: estado, situacion, principio.
[1] Pichon-Rivière, E.(1988) , Teoria do Vínculo, 3ª Jornada AAPPdeG. Buenos Aires.
ed., Martins Fontes, São Paulo, SP.
[18] Kaës, R. (2002) O interesse da psicanálise para
[2] Bleger, J. (1995), Temas de Psicologia: considerar a realidade psíquica da instituição.
Entrevista e Grupos, 7ª ed., Martins Fontes, São Em O. B. Correa (Org.) Vínculos e Instituições:
Paulo, SP. Uma escuta psicanalítica, 1ª ed., Escuta, São
Paulo, SP.
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[19] Osorio, L. C. (2000) Grupos – Teorias e Práticas: Terzis (Org.), Psicanálise, grupalidade e cultura,
Acessando a era da grupalidade. Artmed, Porto 2ª ed., Magister-Baron, Campinas, SP.
Alegre, RS. [23] Freud, S. (1930). O mal-estar na civilização.
[20] Kaës, R. (1991) Realidade psiquica e sofrimento Edição Standard Brasileira das obras
nas instituições. Em R. Kaës, J. Bleger, E. psicológicas completas de Sigmund Freud.
Enriquez, F. Formari, P. Fustier, R. Roussillon et Imago, Rio de Janeiro, RJ.
al. (Orgs.) A instituição e as instituições. Casa do [24] Terzis, A (1998). O espaço psíquico institucional:
Psicólogo, São Paulo, SP. início e término. XIII Congresso Latino-americano
[21] Sigal, A. M. (1989) Psicanálise, grupos, de Psicoterapia Analítica de Grupo. Montevideo.
instituição pública. Revista Percurso, 2, 40-45.
[22] Hur, D. U. (2007) Psicanálise, grupalidade e
cultura: desafios na contemporaneidade. Em A.

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