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quaisquer meios existentes sem a autorização da autora. A violação
dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9. 610/98, punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
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Capa: Amanda Monteiro
Imagem da capa: Freepik
Edição e Formatação: Amanda Monteiro
Revisão: Amanda Monteiro
Está é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas
e acontecimentos é mera coincidência.
Sinopse
Playlist
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epilogo
Carta do Nicolas
Agradecimentos
Sobre a Autora
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Até que ponto os destinos são ligados?
Para Nicolas Marino o destino não existe! Sua vida e de todos
a sua volta, é feita de planos arquitetados e nada pode sair de seu
controle.
Com o casamento marcado e um acordo comercial fechado.
Estava tudo perfeito. Porém, não mandamos no destino!
Em uma noite qualquer, uma mulher misteriosa aparece para
consertar o frigobar de seu escritório, mas o que ele não sabia é que
ela traria uma notícia que mudaria sua vida.
Agnes Petrovic sempre teve uma vida dura, pois tinha que
trabalhar para garantir seu sustento. E quando uma amiga arma um
plano sem seu conhecimento, sua vida vira de cabeça para baixo.
Mundos diferentes.
Pessoas diferentes.
Ligados pela linha do destino, afinal, QUANDO O AMOR
ACONTECE ninguém manda no coração !
Para embalar a leitura, ouça a seleção de músicas que
inspiraram muito na escrita do livro.
Link da playlist: https://spoti.fi/39m176k
AGNES PETROVIC
CINCO ANOS ANTES

Minha vida não é como das adolescentes normais, que aos


dezessete anos está falando de namorados, andando pelos
shoppings, pensando nos crushs ou colando pôsteres de bandas na
parede do quarto.

Saio da escola e coloco o capuz do velho moletom. Pego


minha bicicleta e vou para loja ajudar meu avô na reforma. Somos
apenas eu e ele. Meus pais morreram quando eu tinha cinco anos.
Desde cedo aprendi o ofícioda reforma, conserto de móveis e
máquinas em geral.
Chego nos fundos da loja, pego a chave, abro a pequena
porta e entro colocando a bicicleta no canto.
— Vô! Cheguei. — Falo me aproximando dele, que me
abraça.
— Como está indo o dia, minha filha?
— Tranquilo. — Sorrio e vou trocar de roupa.
Prendo meus cabelos e coloco o macacão de trabalho.
Quando saio do banheiro, a campainha toca.
— Deixa que eu atendo! — Grito e vou até à porta. Vejo pelo
vidro uma mulher muito bonita, com cabelos longos negros, olhos
verdes e vestida com roupas caras. Ela está sorrindo. — Boa tarde.
— Boa tarde! Aqui que fazem consertos gerais? Tenho uma
caixinha, gostaria que vocês fizessem uma avaliação.
— Pode entrar. Coloca aqui no balcão, por favor! — Ela
coloca e desembrulha com cuidado. Quando olho, fico maravilhada
com o Castelo.
— É uma caixa de música. Está quebrada. — Ela pega a
bailarina e a chave. Dá corda e não toca.
— Posso! — Ela vira para mim. Olho atentamente e vejo uma
abertura atrás e sorrio. — Caixa de segredos! Aqui é o
compartimento e a segunda pista para a bailarina. — Olho para ela
que sorrir.
— Então é verdade. Você tem o dom. Sou Elizabeth.
— Agnes Petrovic. Muito prazer. — Ela fica sorrindo.
— A caixa era da minha mãe. Vou deixar tudo pago. Caso eu
não vir buscá-la, meu filho vai pegá-la. Ele tem a chave da parte do
segredo. Poderia guardá-la até ele pegar? — Balanço a cabeça
concordando. — Por favor, prometa que irá guardá-la! Tenho muito
carinho por ela!
— Eu prometo. — Sorrio. Ela paga à vista e vai embora.
Levo para minha mesa de trabalho e meu avô me fala que ela
é uma caixa cara, para não deixar na loja. A noite quando fechamos
a loja para irmos para casa, vejo a nota em cima do balcão.
Por que ela não levou? Como o filho dela vai saber que está
aqui?
Ela deve falar com ele. Pego a nota e coloca na gaveta da
caixa.

DOIS MESES DEPOIS

A caixa de música está em nosso apartamento e dona


Elizabeth não voltou. Espero pelo seu filho que tem a outra chave,
pois ela nunca disse o nome dele. Estou pensativa com os cotovelos
no balcão. Escuto a campainha tocar, levanto e vou atender. Giulia,
minha amiga da escola está parada na porta com o semblante
fechado. Ela é diferente de mim, pois é de famíliamuito rica e
tradicional. Mas está estudando na escola pública de castigo por
repetir de ano.
Quando o pai a deixa de castigo sem seus luxos, ela vem
aqui na loja para ficamos conversando enquanto trabalho.
— Oi Giulia! — Ela entra zangada.
— Oi! Meu pai quer que eu aprenda os negócios da família.
Me deu até essa revista. — Ela joga no balcão e a página abre onde
aparece um homem muito bonito, com cabelos e barba bem feitas,
terno preto e óculos escuros.
— Quem é ele? Parece um modelo de roupas de marca! —
Fico encantada.
— Outro empresário frio que como meu pai, só pensa em
dinheiro. — Ela falasem interesse. Se senta na cadeira e coloca os
braços no balcão.
Olho para as demais fotos e me perco em seus olhos azuis
esverdeados. Fico sorrindo e foleando as páginas.
— Posso ficar com a página?
— Que linda. Agnes se apaixonou! Amiga, aprende! Homens
como ele? Só amam o dinheiro. A vida para eles? É um acordo
comercial vantajoso. Você tem sorte, vai casar-se por amor, e eu?
Será um acordo que meu pai vai fechar. Se tiver sorte, será um
jovem e bonito. Na pior das hipóteses um velho babão. Pode ficar
com a revista.
Ficamos rindo e a tarde Giulia vai embora. Levei a revista para
o apartamento e antes de dormir, colei os pôsteres do homem de
negócios na porta de meu guarda-roupa.
Fico sorrindo olhando para meu crush.
AGNES PETROVIC

INGLATERRA – DIAS ATUAIS

Mais um dia frio.


Abri a loja e entrei fechandoa porta. Olhei as notas em cima do
balcão, tudo em dia. Me bate uma saudade quando olho para as
prateleiras e entre vários produtos antigos, vejo a foto minha e de
meu avô sorrindo. Atrás está a nossa van de entregas.
Desde quando meu avô morreu eu estou trabalhando na loja,
nosso apartamento está tão vazio sem ele e suas histórias. Olho
para os móveis reformadose me lembro do que ele dizia “que tenho
um dom”. Meu bisavô foi o fundador dessa loja, ele conseguia
consertar os relógios e caixas de músicas como ninguém. Meu pai
sempre fez reforma de móveis quando não estava trabalhando na
fábrica, mas ele não era como meu avô, que mesmo com a idade
avançada tinha alegria e satisfação de sorrir com o cheiro da
madeira lixada e a alegria de transformar o velho em novo.
Vou até os fundos e vejo a estante reformadaque será levada
hoje. Sessenta dias de trabalho pesado e está feita. Essa será
enviada pela transportadora.
Receberei o restante do pagamento quando a mercadoria
chegar em seu destino e vou pagar os fornecedores do material
para reforma.
Tudo vai bem.
Suspiro e meu telefone toca. O pego no bolso do moletom.
Olho para a tele e vejo o número de minha amiga Giulia, nos
conhecemos na escola.
— Oi, Giulia.
— Amiga estou indo para aíe preciso de um favor. — Ela fala
e desliga.
Duas horas depois, já despachei a estante para a
transportadora e a campainha toca. Deixo a atualização do livro de
registros de lado e vou atender a porta. Quando abro, Giulia entra
como um furacão.
— Amiga, preciso do seu carro emprestado. — Olho para ela.
Rica, com seus cabelos escovados, roupas caras e maquiagem. Ela
é acostumada a ter os melhores modelos de carro.
— Onde está o seu? — Limpo a mão em um pano que peguei
no bolso do macacão.
— Meu pai me colocou de castigo e eu preciso ir com minha
prima ao shopping. — Ela fala sem graça e eu levanto uma
sobrancelha.
— Pega um táxi. — Ela enche os olhos de lágrimas.
— Estou sem dinheiro, por favor, me ajuda. — Pego a chave
e dou a ela que me agradece. Me abraça e sai.
Trabalho normalmente o dia todo, parei e almocei voltando ao
trabalho em seguida. Termino duas reformas e tiro máscara de
pintura quando meu celular toca. Retiro as luvas e atendo.
— Oi!
— Por favor, pega seu carro no shopping. — Fico assustada.
— Giulia, o que houve?
— Desculpa amiga. Eu fugi do meu casamento com Nicolas
Marino.
— Você fezo quê? — Quase grito. — Seu casamento é daqui
a dois dias. Pelo amor de Deus. Você abandonou o pobre homem
no altar.
— Sim. Obrigada pelo carro, a chave está na loja de minha
prima. — Ela desliga na minha cara.
Meu Deus! O que vou fazer?
Olho para o relógio que marca nove e trinta da noite. Perdi a
noção do tempo e o shopping fecha às dez.
A loja está fechada desde as dezoito horas, mas fico
trabalhando nos fundos. Corro e pego o táxi. Ainda vestida com o
macacão de trabalho e com a noite fria, mas estou com pouco
tempo para pegar meu carro.
Chego à loja e pego a chave. A prima dela falou que Giulia
deixou o estacionamento pago, foi tudo premeditado. Preciso avisar
a esse homem para cancelar a cerimônia e a festa.
Saio e vou direto para o prédio comercial das indústrias
Marino. Na portaria o rapaz me deixou subir falando que estavam
me esperando. Fico confusa. Subi pelo elevador de serviço e
quando abre, vejo um corredor com flores e quadros caríssimos.
Tem uma porta de vidro escrito Empresas Marino com letras
douradas, que abre automaticamente. Quando entro na sala linda e
toda decorada, vejo uma secretária saindo de uma sala falandocom
alguém antes de fechar a porta.
— Sim, senhor Marino. Tudo será enviado conforme suas
ordens. — Ela fecha a porta e suspira de cara feia. Quando me vê,
sorrir. — A senhorita que vai consertar o frigobar do senhor Marino?
Graças a Deus! Pode entrar, pois o chefe está uma fera. —Ela não
me deixa responder, aproveito o mal-entendido e entro na sala. A
secretária fala que o técnico de refrigeraçãochegou. Quando entro,
ele me olha de cima a baixo. Fico paralisada, ele é mais bonito
pessoalmente.
— A senhorita conserta frigobar? Não responde, faz logo isso
e vai embora. — Respiro fundo.
— Conserto, mas não estou aqui para isso. — Ele me olha
arrogante naquela “pouco importa”.
— Então vai embora. — Respiro fundo,fechoos olhos e solto
a bomba.
— Giulia fugiu! — Ele estreita os olhos. — Por favor, cancele
tudo, ela não vai voltar. — Ele chega bem próximo, e é notório a sua
beleza. Já o tinha visto em algumas revistas financeiras, inclusive
tenho alguns pôsteres seu guardado. Ele era o meu crush da
adolescência.
— E você veio aqui me extorquir? Para não vender a notícia
para os jornais sensacionalistas? Muita coragem para uma operária
vim afrontar Nicolas Marino.
— Não! Você não ouviu? Giulia fugiu, ela não vai voltar!
— Escuta aqui sua “desclassificada”, com esse uniforme
ridículo,sai da minha sala antes que mande te jogar na sarjeta. E se
eu souber que tem um dedo seu nisso. Acabo com sua vida.
Saio trêmula de sua sala e pretendo nunca mais ver esse
homem. Porém a vida não é fácil e não conseguimos tudo que
desejamos.
No dia seguinte saiu uma nota de cancelamento do
casamento do grande empresário Nicolas Marino com Giulia Conte,
e os jornais falavam de uma mulher misteriosa ser o pivô da
separação.
Em duas semanas minha vida virou de cabeça para baixo, a
estante nunca chegou ao seu destino, o dono da empresa não tinha
seguro e não pagou a transportadora alegando não ser sua
responsabilidade. Estava com a dívida do frete, além dos
fornecedores da matéria-prima. Agora, além das promissórias da
loja, estava devendo o frete e os fornecedores.
Em um mês vendi meu carro e quando fui pagar a dívida,
descobrir que as promissórias haviam sido pagas. Mas quem
pagou? Como nada é tão ruim que não possa piorar, em um dia
estou trabalhando em um móvel e a campainha toca. Vou atender e
pelo vidro porta vejo o senhor Marino parado aguardando
impaciente para entrar. Retiro os óculos de pintura, as luvas e abro
a porta. Ele entra sem dizer um “bom dia”.
— Serei direito, Agnes Petrovic. — Olho surpresa e ele sorrir.
— Sei tudo sobre você e sua família.Então feche a porta. — O
observo de cima a baixo, ele está com um terno cinza que parece
ser muito caro, camisa branca e gravata preta. Cabelos bem
cortados em um corte moderno e barba bem feita. Ele faz um ar de
riso.
— O que você quer? — Pergunto desconfiada. Ele aponta
para a porta e a fecho.
— Giulia está morando com Antoni Vergal. Conhece?
— O rapaz que fez pequenas entregas e reformas quando
meu avô estava internado ou quando tenho muito trabalho. Ele me
ajuda. Não tive nada a ver com isso!
— Coincidência? Mas, estranho que ela fugiu com o carro
que você vendeu.
— Ela me ligou e pediu o carro para ir ao shopping porque o
pai dela a deixou de castigo. Vendi o carro porque precisava pagar
as promissórias, mas alguém as pagou.
— Eu paguei. — Ele joga a pasta em cima do balcão. E vejo
fotos minhas com meu ex-namorado. — Sou um homem de
negócios Agnes e você me deve. Sabe essa loja não cobrirá todos
os gastos, então podemos fazer um acordo.
— Acordo? De que tipo?
— Para começar, me conta onde Giulia está?
— Não sei. Espera? Você sabe com quem ela fugiu, mas não
sabe onde ela está? A prima dela deve saber.
— Alessandra não sabe, mas ela contou algo interessante
quando ameacei fecharsua boutique. Ela falouque você sabia, mas
que você não ia falar por que você e Giulia são muito amigas. E
uma esconde as sujeiras da outra.
— Ela mentiu! Eu não sei! — Grito.
— A conheço há muitos anos. Ela não é mentirosa e todas as
provas estão contra você, afinal Alessandra sabe o quanto pode
custar caro entrar em meu caminho. Mas, posso te oferecer um
acordo interessante, afinal você é uma mulher muito bonita e como
estou solteiro preciso de uma acompanhante, nada que alguns
treinos e roupas novas não te deixe melhor. Você é bonita,
desajeitada, mas isso não é problema. — Ele pega a ponta de meu
cabelo que sai da trança. Bato em sua mão.
— Fora! — Grito e ele puxa um ar de riso.
— Vou fazer de sua vida um inferno, você não devia ter se
metido em meu caminho, vai se arrepender. Ninguém tira o que é
meu e sai impune. — Ele fala baixo, de forma ameaçadora e sai.
Depois de um tempo me recupero do susto e pego a pasta
que ele deixou em cima do balcão. Olho todos os documentos e tem
tudo sobre mim, sobre meus pais, o apartamento e a loja. Tem
várias fotos minhas e no final cópias das promissórias pagas.
— Meu Deus! Que confusão Giulia me colocou?!
Em duas semanas tudo vai tornando-se pior. Os fornecedores
não me entregam, não tenho matéria-prima para fazer reforma e
atender os clientes, então fechei a loja. Estou no meu apartamento,
sentada no sofá olhando para o nada, até o telefone toca com um
número privado. Atendo quieta.
— Então Agnes, quer ouvir minhas propostas? Ou preciso
piorar mais a sua situação? — Continuo em silêncio olhando para o
nada. — Silêncio quer dizer sim. Ótimo! Jantar em meu apartamento
amanhã à noite, o motorista vai te buscar. Esteja pronta. — Ele
desliga e fico com os olhos marejados.
Como pude achar que um dia que amava esse homem?
Fecho os olhos e me encosto no sofá.
No dia seguinte um homem bateu em minha porta e se
apresentou como o motorista do senhor Marino. Passei o dia
angustiada, não comi e a noite bebi um copo de leite.
Peguei o celular e tranquei tudo. Fui levada a uma casa
pequena, distante da cidade em uma área verde muito bonita,
parecia um chalé.
— Chegamos, senhorita. — O motorista abre a porta do carro
e Nicolas está na varanda com as mãos no bolso da calça, muito
sério me olhando. Ele entra sem falar nada e o sigo.
— Boa noite Agnes. Vamos jantar e combinar os termos. —
Ele se vira sem esperar minha resposta. O sigo e vejo uma sala que
é confortável, e tem uma pequena mesa posta para dois.
— Não quero jantar. Fale suas condições para resolvermos o
pagamento e vou embora. — Ele se vira sério e seu olhar está
gelado, dou um passo atrás.
— Sabe Agnes, eu detesto mentiras. Então, última
oportunidade de falar a verdade. — Respiro fundo.
— Julia me ligou dizendo que o pai a deixou de castigo sem
dinheiro. Ela pediu meu carro emprestado para ir ao shopping na
loja de sua prima. — Sei que essa prima guarda dinheiro para
Giulia, penso.
— Senta e janta! — Ele puxa a cadeira e me sento. Ele
coloca a mão em meu ombro. Sinto um arrepio no corpo. —
Interessante sentimos a mesma coisa. — Ele fala próximo ao meu
ouvido indo sentar-se.
Como em silêncio. Estou assustada porque a empregada que
colocou o jantar, foipara a cozinha e depois ouvi o barulho do carro.
A casa está silenciosa, só os sons dos talheres quebrando o silêncio
e ele não me olha.
— Então Agnes! Como pretende me pagar?
— Vendo a loja e o apartamento.
— Vai viver nas ruas.
— Me viro. — Falo seria.
— Tem um probleminha no seu plano. Eu comprei a loja hoje
do banco. Um amigo me adiantou as promissórias e agora ela me
pertence. — Ele me olha sério e me levanto. — Senta! — Ele fala
alto.
— Vai se ferrar, seu idiota!
— Que educação ruim Agnes. Como posso pensar em te
apresentar como minha mulher? Sabe, isso nunca passou por
minha cabeça. Então senta e coma, por favor! — Ele olha sério e
me sento. Estou assustada e tremendo. Me sentei com medo de
minhas pernas falharem.
Comemos em silêncio. Estou sem fome e empurro a comida.
Terminamos e a mulher volta trazendo café. Assim que terminamos
ele levanta, vai até o aparelho de som o ligando e uma música
suave começa a tocar. Vem até mim e estende a mão. Olho
assustada.
— Deselegante não aceitar. — Pego sua mão e me levanto.
Ele me puxa colando os nossos corpos e está desconfortável,
porque estou excitada. Ele beija meu pescoço.
— O que está fazendo?— Ele fazum chiado para eu ficar em
silêncio e continua dançando. Ele passa suavemente as mãos em
minhas costas. Deixo me levar pela música e o balançar de nossos
corpos.
Começamos a nos beijar, sinto que estamos andando e que
minha perna bate em algo. Ele me deita devagar e meu cérebro
volta a funcionar.
— Para! Sai de cima de mim. — Paro o beijo e o empurro. Ele
se levanta, sento-me na cama e ele ficacom um sorriso debochado.
— Temos química! Para que negar? — Ele vai se
aproximando e estamos com o rosto próximo. — Sou um amante
generoso e pode ser muito prazeroso para nós dois. Boa noite,
Agnes.
— O quê? — Ele vira e sai. Escuto o barulho da porta sendo
trancada. Vou até à porta e bato. — Quero ir embora!
— Pode gritar! Estamos isolados aqui. Vá descansar, manhã
conversamos.
Chuto à porta e me sento na cama assustada.
AGNES PETROVIC

Dormi pela exaustão e acordei desorientada sem saber


onde estou. Me lembro que estou presa no chalé.

— Hum... — Resmungo, viro para o lado e vejo Nicolas


sentado na poltrona me olhando sério. — Que horas são?
— Sete da manhã. Tenho uma reunião de negócios não
posso ficar para te mostrar a casa. — Ele fica me olhando como se
procurasse algo em meu rosto. — Aqui será a sua casa.
— O quê?
— Agora você vive aqui!
— Não! Você mora aqui.
— Não se faça de desentendida. Você me deve Agnes e
muito. Agora você me pertence já que não tem como pagar. — Ele
sorrir e eu fico parada sem resposta. — Então Agnes você paga
como? O que você tem para me oferecer?
— Nunca!
— Um tempo muito longo e temos química. Para que negar?
Pode ser bom para nós dois. Você vai sair ganhando e quando
enjoar de você, te descarto com uma pensão generosa. — Fico com
os olhos marejados.
Ele me olha, se vira e sai fechando a porta devagar, me
deixando arrasada. Choro em silêncio humilhada. Depois de um
tempo, levanto-me, tomo um banho e lavo os cabelos para deixar
encaracolado. Eles vão até à cintura, mesmo tendo cortado as
pontas. Olho os produtos no banheiro, toalhas limpas... foi
premeditado e cai como uma ingênua.
— Tem que ter uma solução. Sempre tem. — Saio de toalha e
Nicolas está sentado na cadeira com uma caixa na mão.
— Seu telefone novo, mantenha ligado. — Não peguei. Ele
coloca na mesa ao lado da cama.
— Eu tenho um telefone e vou para casa! — Vou até o
armário e abro. — De quem é isso?
— Suas roupas, se não gostou posso comprar novas. Ficar
usando roupas de brechó não é mais sua vida. Agora você tem tudo
do melhor que o dinheiro pode comprar e eu vou querer meu
agradecimento na cama.
— Não sou esse tipo de mulher! — Ele se aproxima
lentamente e ficapróximo do meu rosto. Posso sentir sua respiração
e seu olhos gelados estão me hipnotizando.
— Você é uma vagabunda que viu a oportunidade de ficar
bem de vida, acreditou que me chantagear seria a salvação daquele
ferro-velho que você chama de comércio. Já vi prostíbulo melhor do
que aquele lugar, mas você é uma mulher bonita e fácil. — Levantei
a mão para bater em seu rosto e ele segura meu braço, me virando
de costas e me encostando na parede.
— Me solta! — Falo com medo.
— Nunca mais levante a mão para mim ou vou te punir.
— Vai me bater, seu covarde?! — Grito com ódio.
— Não bato em mulher, mas essa posição está me deixando
excitado. — Ele se esfrega em mim. — Posso possuir você e será
prazeroso.
— Isso é violação. — Falo tremendo e ele rir.
— Não é, e você sabe que se eu te excitar, você vai empurrar
seu corpo como uma gatinha manhosa querendo carinho. — Ele
puxa a toalha e leva a mão até minha intimidade. Começa a me
torturar. — Sua puta! Está ficando molhadinha. — Ele morde minha
orelha e me arrepio.
Meu corpo está tendo uma reação ao seu toque, mas minha
mente está apavorada. Será apenas físico, penso e começo a
chorar.
— Está vendo quem manda nesse corpo? Então, não se faça
de santa porque você não é. — Ele me solta e caio de joelhos
chorando. Meus cabelos vão todo para frente. Sinto quando ele
começa a arrumar os fios. — Adoro seus cabelos longos. Não lute
contra mim, você não vai sair ganhando com isso.
— Por que você está fazendo isso comigo?
— Você ajudou Giulia a fugir. Ela seria minha esposa, me
daria um filho e ações na empresa do pai dela.
— Eu não ajudei!
— Não minta para mim Agnes, tenho provas e não gosto de
mentiras. Se arrume para o café da manhã.
— Não vou.
— Pense bem! Se não tomar café, vou suspender todas as
suas refeições até eu voltar à noite, mas vai ter períodos que vou
ficar fora por uma semana.
Ele foiembora levando a caixa com o celular. Fico no quarto e
não vou tomar o desjejum. Quando me deu fome, abri a porta e
tinha um homem de terno parado na minha frente.
— Com licença! — Ele me olha sério.
— A senhora não pode sair. São ordens do senhor Marino.
— O quê? Se eu tiver sede ou fome?
— A senhora não terá alimentação, somente água que está
no frigobar do quarto. Volte. — O homem me encara sério. —Volte,
agora! Ou terei que levá-la a força.
— Não encosta em mim! — Entro fechando a porta.
Vou até o frigobar e abro. Várias garrafas de água mineral.
Bebo uma e me deito na cama. Estou com fome. Levanto-me, vou
ao banheiro, volto para o quarto e ligo a televisão para não
enlouquecer.
Começo a dormir de fraqueza, deixei uma garrafa perto da
cama e bebo em pequenos goles. Me escolho e durmo. A noite
chega e Nicolas não vem, e de manhã estou ficandofraca. Só quero
dormir.
— Agnes, por Deus! Por que você é teimosa? Não tem que
ser assim, você está dificultando a nossa situação.
— Me deixa dormir. — Me enrolo no cobertor e durmo
perdendo a noção de tempo.
— Acorda para jantar!
— Vai embora, me deixa dormir em paz. — Me enrolo mais
na coberta e fechoos olhos. Durmo fracapor causa da fome.Nunca
fiquei muito tempo sem me alimentar.
— Agnes, acorda! — Nicolas grita e me sacode.
— Me deixa morrer em paz. Até isso você quer me tirar?!
— Ninguém vai morrer. Chega, Agnes! — Sinto meu cobertor
ser puxado, mas não ligo. Ele me pega no colo, não abro os olhos
até sentir a água fria na minha cabeça e começo a me bater. —
Para!
— É só um banho e você está fedendo.
Fico quieta. Ele toma banho e coloca um roupão enquanto
estou sentada na banqueta de mármore no box, olhando para um
ponto qualquer da parede.
Ele vem com uma toalha, me seca, coloca um roupão em
mim e me pega no colo. Voltamos para o quarto. Tem uma mulher
trocando a roupa de cama, uma bandeja no armário e um cheiro
forte de café.
— O café, senhor. — Ela fecha a porta e saio de seu colo
cambaleando até a bandeja. Bebo todo o café e como o pão com a
mão.
— Come devagar ou vai passar mal. — Não ligo, acabo de
comer e meu estômago dói muito.
— Deus! — Coloco os braços na barriga tentando conter a
dor sentando-me na cama.
— Agnes! — Quando ele fala, começo a vomitar. — Chama a
empregada! — Ele grita na porta. Fico fazendo vômito e nada sai.
Ele sobe na cama, me puxa para o centro e me abraça. Estou
tremendo muito. — Calma! — Ele fala para me acalmar. Uma
mulher entra e começa a limpar. Fecho os olhos para dormir e
escuto uma voz.
— Ela ficou muito tempo sem comer, para ela tem que ser
algo leve, talvez amanhã ela consiga comer algo solido. Minha irmã
é enfermeira, senhor.
— Traga algo leve para ela. — Depois de um tempo, ele me
chama. — Agnes! Abre a boca. — Abro devagar e sinto uma colher
com algo doce e mole. — Mingau, não vai te fazer mal. Come. —
Como e volto a dormir.
Dois dias que uma mulher traz minha alimentação e sai. Estou
me sentindo fraca, levanto-me e vou ao banheiro.
Nicolas não vem aqui e está melhor assim. Ele levou o celular
senão ia chamar a polícia. Até parece que iam fazer algo. Ele é rico
e eu sou ninguém.
Coloco a mão no vidro da janela e sinto o calor do sol. Desde
aquele dia não tentei sair do quarto. Fico olhando o dia lindo de sol.
Aqueles dias que eu ia andando de bicicleta para a loja e via a vida
lá fora. Vivia, sorria e conversava. Agora estou aqui presa.
Escuto a porta se abrir, sei que é a moça que traz a comida,
ela faz isso todos os dias em silêncio. Não me viro, eles precisam do
emprego para se sustentar e tem que fazer mesmo contra a
vontade.
— Como você está se sentindo? — A voz de Nicolas me tira
dos pensamentos, mas fico em silêncio. — Não me responder vai
fazerseu dia melhor? — Ele falaem ironia e continuo com a mão no
vidro olhando o dia. Escuto ele bufar. — Vou à Austrália, ficarei fora
por duas semanas. — Não me viro. Estou cansada de mais para
querer uma briga. — Você pode andar pela casa. — Assim que ele
fala, me viro.
— O quê? — Ele está sério com as mãos nos bolsos da
calça.
— Você pode andar pela casa, mas não pode ir ao quintal,
somente comigo. Os telefones não funcionam, então não tem como
você ligar para alguém. Como se você tivesse para quem ligar, você
não tem amigos ou família.— Ele tira do bolso meu antigo celular e
coloca dentro do copo com água.
— Por quê? Por que você faz isso?
— Você merece, afinal ajudou a me tirar o que me valeria um
acordo comercial, não muito valioso, mas teria um filho de uma
famíliarica e tradicional. Sabe Agnes, meu mundo é diferente do de
vocês “pé de chinelo”, nós fazemos o que nos dá vantagem
financeira. Sentimentalismo é bobagem.
— Minha loja?
— Uma coisa que você se importa? — Ele rir. — Comprei do
banco, agora é minha. Ou você se comporta ou mandarei demolir
com o que estiver dentro. Essa bobagem de valor sentimental!
Aprenda Agnes, o que manda no mundo é o dinheiro. Se cuide não
quero te ver doente quando voltar. — Ele sai eu vou comer.
Dois dias depois de nossa conversa vou até à porta do quarto e
não tem ninguém. Saio e ando pela sala, tem um segurança na
porta de saída. Vou à cozinha e vejo uma senhora diferente da outra
que me levava comida.
— Está com fome? Quer algo especial. O patrão mandou
cuidar bem da senhora.
— Um café, por favor. — Sento-me na baqueta da ilha da
cozinha que fica entre os armários.
Tem um segurança na porta da cozinha nos olhando, ela
coloca o café e fala baixo.
— Não lute contra ele, vai ser pior. Nicolas adora um desafio.
— Ela coloca o café.
— Obrigada, vou fazer minhas refeições fora do quarto. —
Termino o café e volto para o quarto.
Vou ao banheiro e tem um espelho grande. Fico me olhando e
noto olheiras e o semblante cansado. Pego o vidro de sabonete e
jogo no espelho que se parte. Fico olhando meu reflexo no espelho
quebrado.
— Alguém para trocar o espelho. Senhora! Por favor, se
afaste devagar! — Escuto a voz do segurança. Vou andando de
costa e me olhando nos vários reflexos do que sobrou do espelho.
Nicolas que me aguarde! Se ele quer guerra, isso ele vai ter.
AGNES PETROVIC

Duas semanas e não posso do quintal.


Porém, fico na cozinha conversando com a senhora, seu nome
é Glória. Ela é muito carinhosa e não me sinto sozinha. Há muito
tempo não tinha carinho e companhia. Ela está sendo como uma
mãe para mim.
Olho para o relógio na parede, duas da manhã. Viro de novo
na cama e me lembro do meu avô.
Ele que me criou quando meus pais morreram no incêndio da
fábrica,eu tinha cinco anos. A vida ficouvazia. Não saia de casa ou
ia à escola, não tinha forças.Um dia estava deitada e ele entrou no
quarto.
— Filha, para mim também está doendo, mas temos que
reagir. — Olho para ele chorando.
— Como? Se dói tanto?
— Tirando força da dor, não a deixe te vencer. Sabe, a vida
nem sempre é boa e muitas vezes fazemoso que não é certo para
sobreviver.
— O senhor já fez isso alguma vez?
— Já. — Ele suspira e passa a mão nos cabelos brancos. —
Não me orgulho por muita coisa que tive que fazer na guerra, mas
sobrevivi, conheci sua vó. Tive sua mãe e agora tenho você. Sabe
Agnes, nem sempre na vida temos que fazero certo, mas as vezes
é preciso se sujar na lama, ser um soldado. Voltar da guerra em
pedaços, mas pedaços vivos. Porque um dia encontramos alguém
para amar e ele nos mostra que tudo que fizemoslá no começo por
pior que seja, valeu a pena.
Viro para o lado e durmo.
Acordo com a sensação de alguém me olhando. Engraçado
que quando estamos em algum lugar e olhamos fixo para alguém
ele nos olha de volta.
Abro o olho e Nicolas está sentado na mesma poltrona me
olhando sério, com seus olhos azuis acinzentados e frios.Olho para
o relógio, são oito da manhã.
— Bom dia, Agnes. — Odeio quando ele fala meu nome,
parece que está com raiva.
— Bom dia. — Ele levanta uma sobrancelha.
— Está bem?
— Sim.
— Vai dormir mais?
— Não. — Vejo sua irritação.
— Vai me responder com monossílabos.
— Talvez. — Ele se levanta da poltrona e sai bravo. Olho para
porta.
— É como dar pérolas para porco. — Deito-me de barriga
para cima e puxo parte da cortina. Dia nublado. Vou dormir. Fecho
os olhos e durmo.
Acordo sozinha. Olho o relógio, nove e trinta. Levanto e tomo
banho. Não lavo os cabelos por demorar a secar e não gosto de
secador, façoum coque. Coloco uma roupa que achei no armário e
vou para cozinha. Não vejo Glória.
— Onde está Glória?
— Foi trabalhar na minha casa, fiquei sabendo que vocês se
tornaram amiguinhas e aqui não é um lugar de recreio.
— E aqui? É o quê? — Falo e coloco a mão na cintura.
— Você sabe falar? Interessante!
— Não falode manhã, principalmente quando acordo com um
louco na beira da cama. — Pego o pote de café e olho para a
máquina. — Como se usa essa coisa?
— Use a imaginação. Você sabe mentir Agnes, deve
aprender a se virar. — Ele sai da cozinha. Idiota, penso e façouma
montagem com garfos em um copo e faço o café.
Volto para o quarto, ele está arrumando algo no guarda-
roupa. Fico parada olhando.
— Roupa de dormir para você. Vi em uma boutique em
Sidney, achei a sua cara. Ele vira um pedaço de pano ridículo para
mim.
— Não vou usar isso! — Ele rir.
— Você ainda não entendeu quem manda? Você está sendo
punida Agnes, sabe o que eu detesto? Mentira. O que custa você
dizer a verdade? Já te custou a liberdade, um dia de fome e agora
sua amiga da cozinha. Mudando de assunto. Aprendeu a usar a
cafeteira?
Dou os ombros e o deixo falando sozinho. Vou para sala e
noto um móvel coberto com um lençol branco no canto. Um piano
de calda, está coberto. Como não tinha notado isso?
Vou andando devagar e paro. Se ele notar meu interesse, ele
vai levá-lo. Volto para quatro, ele está banheiro. Vou até o vidro da
janela e coloco mão. Não está quente.
Escuto a porta trancar. Quando ele está aqui, não posso
andar. Quando me viro, ele está parado na porta.
— Você quebrou o espelho do banheiro. Por quê? Quando o
segurança me ligou mandei não colocar outro. Não poderia arriscar.
Não queria ver sua cara mentirosa? — Saio do canto e vou andar.
Ele me prende na parede. — Estou falando com você Agnes! Não
vai falar nada? Esquece!
Ele cheira meu pescoço e ficotoda arrepiada. Com o nariz ele
desce a gola da camisa e beija meu ombro.
— Pode ser bom Agnes, você teria o que quisesse. Iria para
um apartamento luxuoso, teria joias, roupas de grifes. Não é isso
que você queria experimentar? Essa vida de luxo? Posso te dar,
com muito prazer.
O que está acontecendo comigo?
Porque meu corpo reage a esse maluco?
Ele passa o nariz em meu pescoço e beija meu queixo. Fecho
os olhos e suspiro. Estou sozinha a quase dois anos, desde quando
meu ex terminou comigo e a carne é fraca. Nicolas é muito bonito e
cheiroso.
Estamos nos esfregando e nos beijando. Ele coloca sua mão
dentro de minha calça e começa a brincar com meu clitóris. Gemo.
Desço minha mão e abro o zíper da sua calça, puxando seu
membro para fora e começo a acariciar.
Ele coloca um dedo dentro de mim e começa com um vai e
vem. Vou acompanhando seu movimento, estamos muito sedentos
e fazemos movimentos rápidos. Ele geme e goza primeiro. Estou
quase lá, ele tira os dedos e se afastarespirando pesado. Olho sem
entender. Eu vou ficar assim?
— Você está de castigo Agnes! Adeus! — Ele vai até à porta,
destranca e sai. Eu fiquei frustrada, suja com seu esperma e me
sentindo um lixo, minhas pernas sedem.
Fico sentada no chão olhando para o nada me sentido suja, a
pior criatura da face da terra. Escuto um barulho de carro e sei que
ele foi embora.
Depois de um tempo olhando para o nada, levanto e vou
tomar banho. Fico chorando embaixo do chuveiro. Termino o banho,
me enrolo em uma toalha e pego as roupas que deixei no chão e
lavo no box. Vou até o quarto, coloco uma roupa limpa e volto ao
banheiro pegando a roupa molhada. Vou à porta do quarto e abro,
vejo um dos seguranças na porta.
— Bom dia. — Ele apenas me olha. — Onde posso colocar
para secar? — Ele vem até mim e estende a mão. Coloco em sua
mão e saio. Sei que eles têm ordem de não falar comigo.
Passou uma semana.
Faço minha comida, lavo as roupas e limpo a casa, pois Glória
não voltou. E desde aquele dia Nicolas não voltou. O piano coberto
no fundo da sala me intriga.
Deito-me por volta das nove da noite e tenho mais
lembranças de meu avô quando eu estava com sete anos e ele me
levou na loja para me ensinar a consertar moveis e máquinas em
geral. Me deu uma caixa cheia de ferramentas novas e ele estava
trabalhando em um piano. Ele me ensinou afinar e a tocar o velho
piano no fundo da loja. Se o da sala estiver bom... levanto-me num
pulo.
Eles são ricos, costumam deixar as chaves de afinamentoem
algum compartimento do piano. Corro até a sala e acendo a luz.
Estou de calça de moletom e camisa larga. Ando até o piano, puxo o
pano e fico maravilhada.
— Modelo apócope, meu Deus! — Levanto a tampa e vejo
um pequeno estojo vermelho. — Bingo!
Fico um tempo trabalhando e não sei que horas são, mas
deve ser madrugada. Ajusto os pedais que estavam soltos. Testo
tecla por tecla, som por som. Escuto um barulho, olho para trás e
tem uma segurança com cara de sono na porta.
Não me importo e continuo meu trabalho. No final estou com
dedos cortados, suja de poeira e graxa, mas consegui. Sento e
começo a tocar a sexta sinfonia deTchaikovsky.
Fecho os olhos e viajo a cada som. É como se meu avô
estivesse do meu lado me dando forças a cada melodia, a cada
tecla tocada. Termino sorrindo e limpo uma lágrima.
— Como? — Escuto a voz de Nicolas. Não me viro. Pego a
pequena caixa de veludo com as ferramentas e a fecho.
Recolocando dentro do piano. Fecho tudo e o cubro. Viro para ele
que continua parado me olhando.
— Não ganho a vida com o corpo e sim com meu trabalho. —
Ele me olha e não responde. Sorrio. — Os “pés de chinelos”
também têm um pouco de cultura. Sei que você conhece, mas toco
quase todas as sinfoniasTchaikovsky.
— A valsa! Você toca a valsa?
— Sim. Por quê?
— Toque para mim! — Poderia dizer não. Ele está com olhar
perdido. Vou até o piano e puxo o pano. Abri a tampa e olho as
teclas. Sento-me no banco e posiciono os pés no pedal. Respiro
fundo e me concentro.
Fecho os olhos e começo. Para mim as mais belas melodias.
Toco sem sentir. Viajo nas lembranças de meu avô batendo palmas
quando eu terminava e dizia que era como minha avó. Sempre viva
e lhe trazia esperança. Quando termino a última nota, que abri os
olhos, Nicolas está parado me olhando assustado. Limpo minhas
lágrimas.
— Com quem você aprendeu a tocar piano com perfeição?
— Com alguém que realmente me amou. — Fecho a tampa
do piano, levanto-me e vou para o quarto. Ele nada fala.
Tomo um banho e coloco uma roupa limpa. Camisa larga e
calça de moletom. Não dormir à noite toda, vou até à cozinha e vejo
várias sacolas em cima da mesa.
— Suas compras. Está se virando bem? — Não olho para ele,
pego uma maçã e como. Passo por ele e paro.
— Obrigada pelas compras. — Vou para o quarto, fecho a
cortina, retiro a calça ficando de camisa e calcinha. Deito-me na
cama e durmo muito bem, como não dormia em todos esses dias.
AGNES PETROVIC

Acordo meio sonolenta e sinto alguém me abraçando na


cama.

Estou sozinha há muito tempo e sinto falta de companhia e


carinho. Viro-me e Nicolas está me olhando. Quando vou falar
alguma coisa, ele me beija devorando a minha boca. Beija meu
ombro e coloco a mão em seus cabelos. Ele chupa meu seio por
cima do tecido me levando ao delírio.
Coloco a mão em sua pele morna. Ele levanta a camisa e
chupa fortemeu seio. Grito. Ele fazum caminho de beijos até minha
barriga e arranca a calcinha em um puxão.
Sinto quando ele abre a minha intimidade com a mão e sua
língua quente me devora. Estou gemendo muito. Ele coloca dois
dedos e chupa forte meu clitóris. Sinto meu corpo todo tremer como
se estivesse passando uma corrente elétrica. Fecho os olhos e
respiro com dificuldade. Ele retira a cueca rapidamente e pega algo
na gaveta ao lado da cama.
Escuto um barulho de plástico rasgando e sei que ele vai
colocar uma proteção. Olho o quarto que está em meia luz, ele está
sem roupa, com um corpo perfeito. Ele me puxa deixando parte da
parte do corpo em cima da cama e as pernas no chão se
ajoelhando.
— Cuidarei bem de você. — Ele entra em uma investida.
Mesmo estando lubrificada incomodou um pouco, mas ele não
parou. Entra e sai com força.A sensação é deliciosa, ele me beija e
sinto meu gosto na sua boca. Distribui beijos pelo meu queixo e
pescoço até chegar no seio e chupa forte o bico. Grito de prazer
com um pouco de dor por causa das suas investidas fortes. Estou
quase no ápice quando ele para rapidamente, me vira de bruços e
entra novamente sem aviso. Eu grito.
Ele segura meus cabelos sem machucar e suas investidas
são fortes.
— Calma, temos todo tempo do mundo. — Ele fala em meu
ouvido e gozei gritando seu nome. Ele continua investindo e para.
Me vira novamente de barriga para cima, coloco os meus pés em
seu ombro e ele entra novamente.
O sinto bem fundo. Ele faz com movimentos ritmados. Ele
investiu cada vez mais rápido, chega no ápice chamando meu nome
e desaba em cima de mim. Estou esgotada e sonolenta. Ele me
arruma na cama e me cobre. O sono me domina e perco a noção de
tempo. Acordo meio sonolenta quando sinto alguém me
observando, parece um dejavú. O vejo sentado na poltrona no canto
do quarto todo arrumado, me olhando com frieza. Quando vou falar,
ele se antecipa:
— Tenho uma reunião de negócios, não posso ficar. — Ele
ficame olhando como se procurasse algo em meu rosto. — Você foi
aprovada no teste da cama. O sexo foi ótimo. — Ele sorrir e eu fico
parada sem resposta. Fecho os olhos e as palavras do meu avô
vem em minha mente: “as vezes, temos que nos sujar na lama para
sobreviver, não me orgulho por isso, mas fizo necessário”. — Você
é uma mentirosa e interesseira. Queria o quê? Amor e carinho?
Mulheres como você, são para ser usadas e descartadas.
Conforme-se!
— Sou uma mentirosa. — Me encolho me enrolando no
lençol.
— O quê?
— Ajudei a Giulia a fugir. Eu menti. — Minha voz sai tremida.
Estou chorando e abaixo a cabeça. Sinto a cama afundar quando
ele se senta.
— Para onde ela foi?
— Não sei. — Uma lembrança vem em minha cabeça. — Na
minha loja tem um livro de registo e tem o endereço da famíliade
Antoni, talvez algum deles saibam para onde eles foram. — Sinto
quando ele toca meus cabelos e puxo meu corpo para trás saindo
de seu toque. — E sim você estava certo, eu queria saber como é a
vida de rico que Giulia sempre teve e eu não.
— Viu Agnes. Não é melhor falar a verdade? Como se sente?
— Vazia. Por favor, vai embora. Você já tem o que queria de
mim. Me deixa em paz! — Me encolho cobrindo a cabeça e choro.
— Agnes? — Não respondo e viro para a parede. Sinto
quando ele levanta e fecha a porta devagar. Choro até dormir.
Eu menti, assumi o que não fiz para não ser mais machucada.
Alguém abre a porta, se senta na cama e não me viro.
— Minha criança. — Escuto a voz de Glória. Levanto-me, a
abraço e choro muito. Ela faz carinho em meus cabelos. — Calma,
vai passar. Nick não é uma pessoa ruim, ele está perdido. Agora ele
vai achar um rumo.
— Quem me ajuda? — Volto a chorar.
— Filha, me fala a verdade! — Ela pede depois que paro de
chorar.
— Qual delas? A que realmente aconteceu ou o que tive que
falar com Nicolas para ele parar de me machucar com palavras e
atitudes? — Ela segura a minha mão.
— Apenas o que aconteceu. — Olho para ela e conto tudo.
Desde a ligação de Giulia me pedindo o carro até a noite
quando fui ao shopping e fui avisar ao Nicolas para cancelar o
casamento. Ela escuta tudo sem me julgar.
— Nicolas está errado no que está fazendo.
— Mas agora ele vai parar porque faleio que ele queria ouvir.
Que sou uma mentirosa, que ajudei e arquitetei tudo por dinheiro.
Sou tudo de ruim que ele colocou de conceito sobre mim. —
Lágrimas descem dos meus olhos. — Eu só queria ganhar a vida
honestamente, cuidar dos móveis antigos, ouvir música da minha
caixinha e tocar piano, quando as coisas estivessem ruins. Suponho
que pedi demais da vida? — Ela me abraça, depois me ajuda a
vestir e traz uma sopa quentinha.
Durmo quase o dia todo. Levanto e quando vou para cozinha
escuto Glória falando ao telefone.
— Amor, ele passou dos limites. A coitadinha está arrasada,
me lembra como dona Liza ficava quando aquele desgraçado a
machucava. — Ela fica quieta. — James, temos que fazer algo! Sei.
Eu vou ficar aqui e cuidar de Agnes. Tentar pôr um pouco de juízo
na cabeça de Nick, sabe que ele te escuta. Ela é inocente, tenho
certeza, sabe que não erro. Se cuida. Te amo.
Saio antes que ela me veja. Quem é James? Por que Nicolas
o escuta?
Vou dormir, acordo de manhã cansada e triste. O dia está
nublado. Tomo um banho e coloco uma roupa. Vou até à cozinha e
Glória está fazendo o café. Quando me vê, sorrir
.
— Bom dia. Está melhor? — O sorriso dela me faz bem.
— Bom dia, melhorando. — Ela sorrir.
— Então tome café e vamos ver o quintal. — Olho sem
entender.
— Sou prisioneira, não posso sair.
— Nick ligou e sim, você pode ir ao quintal. Anime-se criança!
Tudo vai melhorar. — Suspiro e me sento. Tomamos café e ela fala
do filho que é gerente da rede de hotéis na Grécia e como o avô de
Nick ajudou a cuidar da saúde e estudos de seu filho. E seu marido
James trabalha para Nicolas. Depois que notei que não tinha um
segurança na cozinha. — O cabeçudo está mudando. — Ela rir e
pisca.
Vamos para o quintal e tem dois seguranças lá. Ando um
pouco e começa a chover. Dona Glória corre para a varanda e eu
fico na chuva.
— Vem menina! — Fico rindo.
— Glória! Chuva não mata ninguém. Vem! Está ótima. — Ela
rir.
— Deixa de ser maluca, menina! Sai daí! — Fico rindo.
Abro os braços e fecho os olhos. Deixo a chuva levar minhas
mágoas, tristezas e dor. Amanhã será outro dia, novas lutas e
conquistas. Nada está perdido. Não enquanto eu puder lutar. Minhas
lágrimas se misturam a chuva que lava a minha tristeza.
Depois de um tempo, entro encharcada, tremendo e rindo.
Glória, rir também.
— Vai tomar um banho, sua maluquinha, vou fazer um leite
quente para você não gripar. — Entro e vou tomar banho.
Saio e tomo um leite quente com canela. Glória é como uma
mãe e senti falta dela. A noite vemos televisão e toco o piano para
ela que fica sorrindo.
— Dona Liza tocava piano. Era tão lindo.
— Que é ela? — Ela suspira.
— A mãe de Nick. Ela morreu há cinco anos. Sentimos muito
a falta dela. Depois de sua morte, Nick nunca mais foi o mesmo. —
Ela fala triste. — Vamos dormir criança. Boa noite. — Ela beija
minha testa, eu toco um pouco mais do piano. Vou deitar e sonho
com meu avô.
— Agnes, você tem o dom. — Olho sem entender. — Menina
você ainda vai mudar o mundo com esse seu brilho. — Ele beija
minha cabeça.
— Não tenho tanta força, vovó.— Ele rir.
— Não é mudar o mundo inteiro, mas quando você muda
alguém para melhor. Você mudou mundo. Pequenas ações são
essenciais para mudanças futuras.— Ele pisca.
Acordo sorrindo. Levanto e Nick está sentado no mesmo
lugar. Isso é estranho.
— Bom dia. Será que dá para você se sentar em outro lugar
ou parar de ficar com essa cara de velório? — Ele levanta a
sobrancelha. — Faz o que quiser não me importo.
— Acorda Agnes! Menina você está com febre. — Olho e
Glória está na beira da cama. Olho para a poltrona e Nick não está
lá.
— Tinha mais alguém no quarto? — Ela faz que não com a
cabeça. — Tive um pesadelo.
— Você está com um pouco de febre, deve ter sido a chuva.
Fica deitada, já volto. — Ela volta com um remédio e mingau. Comi
e dormir, acordei melhor só um pouco cansada.
— Agnes, você já foi mais forte! — Chamo minha atenção e
me levanto sorrindo.
— Está melhor? — Levo um susto. Olho Nick sentado. Juro
que vou jogar essa poltrona fora. — Glória me ligou, falou que você
teve febre. — Olho para ele que parece preocupado. Tudo teatro.
— Estou. É só uma febre, devo estar com a imunidade baixa.
— Levanto-me e vou ao banheiro. Volto e ele está em pé com as
mãos no bolso da calça. Passo novamente o ignorando.
— Acreditei que você fosse tentar fugir. — Não respondi. —
Se você se comportar, te levo para sair.
— Me deixa dormir e quando sair fecha a porta. — Não dou
importância para sua presença, pois estou cansada e gripada.
A única coisa que quero fazer é descansar em paz. Escuto a
porta encostar e volto a dormir. Tenho que traçar as estratégias,
levantar as trincheiras e ir à luta. Se ele quer uma mentirosa,
dissimulada, isso ela vai ter. Vou fazê-lo comer na minha mão e
quando isso acontecer, eu vou fugir. Nick que me aguarde.
NICOLAS MARINO

Sempre detestei mentiras e traições.


Estou com o casamento marcado e como meu avô me ensinou,
sem sentimentos, só um acordo comercial. Gosto de minha vida
organizada. Tive várias conversas com Giulia que prefere morar em
um apartamento moderno a aqui na mansão ao qual ela chama de
mausoléu.
Teremos um casamento morando em casas separadas, mas
sem traições. Não suporto isso. Vi o que meu padrasto fazia com
minha mãe e nunca aceitei.
Mesmo separados, teremos uma vida de casal normal, até na
parte íntima. Giulia é bonita, de uma famíliatradicional, é uma
mulher de classe e educada. Com seus padrões sociais, vai se
portar bem em festas e eventos, não me dará trabalho. Na parte
íntima vamos nos entender bem, afinal ela tem amantes, mas vou
exigir que ela o largue quando nos casarmos.
Faltam dois dias para o casamento.
O pai de Giulia me liga confirmando o evento, que toda a festa
e lista de convidados está organizada. Achei estranho ele me ligar.
Fui pegar uma bebida no frigobar e está com defeito.
Vou fazer hora extra como todos os dias, afinal não tenho
interesse em voltar cedo para casa. Minha secretária me odeia,
pois, sempre fica depois do expediente. Ela anota tudo que falo e
assim que termino a orientação para os relatórios, vou ao banheiro.
Quando volto, tem uma mulher, com um macacão surrado e
uma trança mal feita. Ela é bonita, mal cuidada, mas tem uma
beleza que intriga. Falo do frigobar e ela fala que reforma de
móveis? Outra vez a seguradora mandou o profissionalerrado, essa
porra só me dá dor de cabeça.
Do nada, ela fala da fuga de Giulia e vejo que ela é uma
aproveitadora. A expulso da sala e ligo para meus advogados, no
dia seguinte tudo é confirmado. Giulia me abandonou e não estou
abalado com isso, estou aliviado.
Foi uma nota de cancelamento do casamento para os jornais
que estão falando de uma mulher misteriosa. Lembro da garota
chantagista e vou à loja de Alessandra, afinal ela deve saber de
algo. Tivemos um lance na faculdade e Alê é uma mulher ambiciosa,
mas na época nos curtimos bem. Entro na loja e uma vendedora
vem sorrindo.
— Bom dia, senhor. Posso ajudá-lo?
— Bom dia, a senhora Alessandra. — Ela fala para aguardar e
entra em uma porta. Depois de algum tempo, ela vem sorrindo.
— Nick, que surpresa agradável. — Ela beija meu rosto e
quando ela nota que estou sério recua.
— Temos que conversar em um lugar privado. — Ela fica
assustada, me leva para sua sala e sou direto. — Onde está Giulia?
— Não sei. — Ela fala nervosa.
— Você sabe! Afinal ela esteve aqui antes de fugir. — Antes
que ela negue jogo a pasta na mesa com fotos dela e Giulia na
praça do shopping. As duas estão conversando e sorrindo.
— Ela esteve aqui. Falou que uma mulher vinha pegar o carro.
Só isso que sei.
— Só isso? Sabe que odeio mentiras não é, Alê? — Vou me
aproximando e pego o celular. — Uma ligação para seu pai e ele
fechaessa espelunca que você chama de loja em nome dos nossos
negócios.
— Nick, não sei!
— Resposta errada Alê! — Quando destravo a tela e aparece o
nome do pai dela, ela quase grita.
— Agnes Petrovic! Foi ela que arquitetou com Giulia. Eu falei
com ela para não fazer, mas essa mulher a ajudou em tudo e só
viria buscar o carro. Elas são amigas de infânciadesde quando meu
tio colocou Giulia para estudar na escola pública em forma de
castigo. Essa tal de Agnes tem uma loja de usados no subúrbio e
sempre encobre tudo que minha prima faz. Uma sempre escode os
erros da outra.
— Você não está mentindo?
— Não estou. Por favor, Nicolas. Não liga para o papai. — Ela
fala quase chorando. Eu desligo o telefone e saio. Entro no carro e
falo com o motorista para irmos para empresa, mas antes ligo para
o meu detetive.
— Bom dia, Dominic. Descubra tudo sobre uma mulher
chamada Agnes Petrovic, ela tem uma loja de usados no subúrbio.
Pago dobrado para ter a informação até o final do dia, quero dados
bancários também. Até mesmo se ela deve uma xícara de açúcar ao
vizinho. Obrigado.
Agnes bagunçou a minha vida e vou fazer um inferno na dela.
Não haverá conversa, será tudo nos meus termos. Ela não manda
mais em sua vida.
As semanas estão passando, meu corpo e minha mente me
atormentam. Não gosto de mentirosos e trapaceiros, mas essa
mulher está entrando em minha mente como uma droga.
Me senti culpado por deixá-la com fome, mas tive que resolver
assuntos da empresa e demorou mais que o previsto. Como
consequência? Agnes fraca e doente.
Enviei Glória para o chalé e o tempo que ficaram juntas, pude
notar como elas estavam amigas e as separei. Agnes via em Glória
como uma mãe, pois ela perdeu os pais aos cinco anos de idade e
foicriada pelo avô. Ela teve uma vida difícil,posso até entender que
ela quer ter alguém que a banque, mas a mentira não aceito.
Um simples toque me faz sentir um adolescente e não um
homem de trinta e três anos. Quando aprendi contra a parede era só
beijos e nada mais. Acabou em uma liberação prazerosa para mim e
a deixei frustrada. Vou deixá-la de castigo até ela falar a verdade.
Fiquei uma semana sem ir ao chalé. Marquei um almoço com
Alessandra que me contou muita coisa sobre Agnes, confirmando
minhas suspeitas. Estou com saudades de Agnes, do seu toque e
de ouvir seus suspiros e gemidos.
Levanto e me arrumo para ir à empresa, mas no meio do
caminho peço para ir ao chalé. Quando chegamos, desci do carro e
escutei o som do piano. Ele estava parado desde quando minha
mãe morreu.
— Sexta sinfoniade Tchaikovsky. — Meus pés me guiaram até
a casa.
Quando abri a porta, vejo Agnes no piano de olhos fechados,
um sorriso discreto nos lábios envolvidos pela música que me
lembrou a minha mãe. Peço a valsa, ela toca com a mesma
emoção, depois sai, come uma fruta na cozinha e vai para o quarto.
Estou abalado. O segurança falou que ela trabalhou na afinaçãodo
piano a noite toda.
Fui para o quarto. A vejo deitada dormindo, tiro o sapato e as
roupas, me deitei, a abracei e dormi. Acordei e fiquei a olhando
dormir com um rosto sereno. Ela acordou e me olhou meio perdida,
a beijei e perdi o controle.
Foi a melhor entrega que já tive de uma mulher, os carinhos, os
gemidos, até o próprio ato, tudo foiverdadeiro. Ela dormiu. Eu fiquei
olhando a viga de madeira no teto. Como pode? Ela é uma
mentirosa, como isso aconteceu? Tenho que matar esse desejo.
Levantei-me com raiva de mim por me perder em seu corpo, me
visto e fico esperando-a acordar. Quando acorda, ela me olha
desconfiada.
Não medi palavras, sou cruel como um Marino sabe ser. Ela se
encolhe e começa a falar. Quando vou tocar seus cabelos em forma
de apoio, ela se afasta como se eu fosse uma doença. Fico com a
mão no ar. Ela chora e me pede para sair.
Fico observando-a encolhida na cama chorando, vê-la assim
está me machucando. Saio devagar, encosto a porta, dou ordem
aos seguranças e vou para o carro.
— Vamos para empresa. — Assim que saímos, pego o celular.
— Glória. Preciso que você fique com Agnes no chalé. Não.
Ela pode ir ao quintal só com você. — Desligo e lembro de suas
palavras. “Vazia”. E a formacomo ela se encolheu na cama lembrou
a minha mãe.
Minha mãe fugiu e se casou com meu pai, um operário.
Quando fizdez meses, meu pai foiatropelado na volta do trabalho e
minha mãe voltou para casa do grande senhor Marino. Meu avô que
me criou como seu filho.
Quando fiz cinco anos, minha mãe se casou com meu
padrasto. Foi um acordo comercial e eu não sabia na época como
funcionava, mas hoje sei como ela sofreu na mão daquele
desgraçado.
Meu avô me criou para ser um homem frio e cuidar dos
negócios da família.Quando Agnes me contou a verdade e pediu
para eu sair, lembrou a minha mãe quando dormia na mansão as
inúmeras vezes que seu marido a agredia. Uma vez entrei em seu
quarto e ela chorava enrolada no cobertor igual a Agnes.
— Essa trapaceira está acabando comigo. Isso só pode ser
castigo. — Vou para empresa e trabalho preocupado. Glória me
manda um áudio brigando muito. Perguntando o que eu fiz com a
pobre moça. Não respondi e a tarde ela manda um vídeo, quando
abro vejo Agnes na chuva sorrindo de olhos fechados e rodando
como uma criança.
— Glória, chuva não mata ninguém. Vêm! Está ótima. —
Escuto sua risada.
— Deixa de ser maluca, menina! Sai daí!
Fico sorrindo.
A noite quando estou em casa. Depois do banho, coloco um
roupão e vou para o quarto e recebo outro vídeo. Glória está
sentada no sofá enquanto Agnes toca piano. Batem na porta e
James entra carrancudo, ele sempre trabalhou para me avô.
— Boa noite, senhor Marino.
— Você só fala assim comigo quando está zangado. É por que
mandei Glória ficar no chalé? — Ele suspira e nega com a cabeça.
— Você tanto abominou as atitudes de seu avô que está
virando uma cópia exata dele. — Quando ele fala,ficoolhando sério
para ele.
— Não sou como ele.
— Não. Está superando, infelizmente.— Ele falatriste e se vira
para sair.
— Ela mentiu! — Quase grito. Ele volta.
— Desde quando você se tornou cego Nick? Me diz? Ferir
essa moça porque Giulia o deixou! Você se quer a amava! Então por
que disso tudo? Para satisfazer seu ego? Quando vai parar?
Quando quebrar uma pessoa que o único erro foi se meter no seu
caminho? Pessoas mentem o tempo todo. Já parou para pensar que
ela pode ser inocente?
— Ela não é. — Falo sem segurança.
— Júri, juiz e carrasco. Esperava mais de você. Seu pai foi um
homem justo, pensei que pelo menos isso você teria herdado dele e
que seu avô não tivesse te corrompido. Mas acredito que estou
errado. Boa noite, senhor Marino. — Vejo ele sair com raiva.
Até em minha casa Agnes me persegue.
Comi e vejo o novamente o vídeo dela sorrindo na chuva e
sorrio sem perceber.
— O que você está fazendo comigo, Agnes? — Me deito
pensativo e sonho com seu olhar de tristeza.
Acordo de mau humor. Vou passar no chalé antes de ir à
empresa. Meu celular toca. Abro a mensagem.
Bom dia, filho
Agnes está febril, nada sério, mas como você pediu para
avisar, estou fazendo.
Tomo meu cafée James continua zangado me olhando de cara
feia, isso está me deixando com mais raiva. Vou para o chalé e
quando chego no portão, Glória abre a porta limpando a mão no
avental.
— Bom dia, meu filho. — Ela me abraça. Pelo menos aqui não
vou ter James me condenando.
— Bom dia, Glória. Como ela está? — Ela sorrir.
— Bem. É só um resfriado, está descansando. Nada que uma
cama quentinha e uma sopa não resolva. Entra para tomar café. —
Ela anda na frente me puxando. Glória é uma mãezona.
Na cozinha ela me dá um café reforçadoe toda hora olho para
porta do quarto. Agnes não sai. Termino o café e vou vê-la. Ela
dorme tranquila, mas tem olheiras.
Não era para chegar a tanto, mas quando a toco meu corpo
fica em um frenesi que só se contenta com o dela.
Ela acorda, senta-se na cama, arruma os cabelos e fala
consigo mesma. Quando me vê ficaséria. Responde de formafriae
vai ao banheiro. Quando sai, me ignora e se deita. Fala qualquer
coisa comigo. Demoro um tempo a olhando dormir e saio. Vou à
cozinha encucado.
— Desfaz esse bico menino, vai ficar com rugas. — Glória fala
brincando descascando batatas.
— Ela está diferente. — Ela fecha o semblante.
— Se alguém tirasse sua liberdade, seu trabalho e te
humilhasse, você ia ficar feliz? — Olho para ela. — Recebemos das
pessoas aquilo que plantamos. Você era para saber disso.
— Está do lado dela?
— Estou do lado da razão, o que você fez não é certo e vai ter
consequências.
— Para ela está tendo.
— Para você também, mas você ainda não percebeu. — Fico
parado até ela me dá uma xícarade café.— Bebe. Espero que você
acorde antes que seja tarde e a perca de vez.
— Também a favor dela?
— Ela é um ser humano. E se errou? Quem não erra? Ela está
magoada e muito. Olha para ela, Nick! É uma criança! Uma menina
que cresceu sem os pais, apenas com o avô. Que aprendeu a
trabalhar quando deveria estar brincando. Ela tem mais marcas nas
mãos do que eu que sou velha. Pelo amor de Deus! Não seja cego!
Você está acostumado com mulheres fúteis, descartáveis, mas vou
te falar, mulher como aquela você não vai achar mesmo com todo
seu dinheiro. — Ela aponta em direção ao quarto e suspiro.
— Você sabe que não gosto de ser contrariado. Ela tirou o que
me pertencia.
— Giulia? Você está chateado por causa dela? Você já teve
gosto melhor.
— Não foi devido à situação com Giulia, mas ela bagunçou a
minha vida. — Ela rir.
— Àsvezes é bom um pouco de bagunça para agitar a vida, e
você está sendo um menino mimado.
— Sou um homem. — Fico chateado.
— Só posso te dizer que homem você não está sendo, fazendo
isso com Agnes!
— Tchau. — Me viro para sair.
— Ei, fala comigo direito menino! Ou bato na sua bunda. —
Olho para ela que está com as mãos na cintura. Ela deve ter um
metro e sessenta, no máximo. Vou até ela e beijo seu rosto. — Bem
melhor e não trabalhe muito. — Saio do chalé sorrindo.
Duas semanas que não vou ao chalé. Fiz duas viagens de
negócios, mas Glória sempre me passa foto ou vídeos do que
Agnes faz.
Abri uma foto em que ela está no sol da manhã com seus
longos cabelos soltos e fico sorrindo. Hoje vou fazer sua
transferência para o apartamento que seria de Giulia, dei toda
orientação para Glória fazer as malas.
Chego no chalé e escuto o piano.
— Agnes... — Sorrio e logo ficosério. Não posso ser gentil, ela
não merece isso. Desço do carro com raiva.
— Filho. — Glória abre a porta sorrindo e me abraça. A beijo
no rosto. — Está tudo pronto para partimos.
— Poder ir para o carro, quero ter uma conversa com Agnes.
— Ela me olha sério e sai. Falo com os seguranças para levar as
malas para o carro e abro a porta. A melodia fica mais alta.
A vejo sentada tocando de olhos fechados. Meu corpo reage
ao dela. Lembrando de como ela se entregou a mim. Ela termina e
sorrir.
— Bom dia, Agnes. — Quando falo, ela abre os olhos e me
olha séria.
— Bom dia, senhor Marino.
— Nicolas! Me chame pelo nome. Nós vamos embora, mas
você tem que se comportar e não tentar fugir, senão vou te castigar.
Entendeu? — Ela fica me olhando sem responder. — Agnes me dê
sua palavra de que não vai fugir!
— E você acredita em mentirosos? — Ela fica me encarando.
— Agora que você falou a verdade. — Ela fica em silêncio e
minha paciência está no limite. Chego próximo a ela. — Fale!
— Não. — Ela está com uma trança, sou rápido, seguro e puxo
seu cabelo. Ela desequilibra do banco e cai no chão. — Está me
machucando.
— Fala que você não vai fugir. — Ela segura no meu braço. —
Fala! — Sacudi sua cabeça.
— Para! Está doendo!
— Fala logo! — Puxo mais forte.
— Não vou fugir! Me solta! — Ela grita e eu a solto. Ela se
encolhe próximo ao piano.
— Agnes! Me desculpe. — Ela soluça. Me viro e Glória está na
porta com as mãos na boca e com os olhos marejados. Vou até à
porta e paro ao seu lado. — Cuide dela, vamos sair em vinte
minutos!
Estou no carro e Agnes entra com Glória que a abraça me
olhando de cara feia. Sempre abominei violência, não sei o que deu
em mim, quando estou perto dela perco o controle.
Olho para fora e suspiro.
Estou perdendo minha sanidade.
AGNES PETROVIC

Sempre amei meus cabelos longos, mas Nicolas está me


fazendo odiar seus cumprimentos.

Se já não me bastasse ser fraca aos seus encantos, agora ele


quer me obrigar a fazerpromessas que não pretendo cumprir. Estou
no carro tentando ignorar sua presença e Glória está me abraçando
para me proteger. Porém, não terei sempre ela por perto e vou ter
que aprender a lidar com isso, afinal nesse apartamento ela ficará
durante o dia e a noite terei que ficarjunto dele e não resistir a suas
investidas.
Devia ter aprendido com Giulia a ser esnobe e idiota. Agora
não estaria passando por isso, aceitaria de boa essas regras.
Chegamos ao prédio que é lindo e quando entro, vejo o porteiro me
olhar de forma estranha.
— Senhora! O elevador dos empregados é pelo portão dos
fundos. — Quando vou responder, escuto Nicolas falar seco e de
uma forma ríspida.
— Ela não é empregada! É minha namorada. — O porteiro fica
sem graça e eu fico olhando assustada para Nicolas que me abraça
pela cintura de forma possessiva.
— Desculpe, senhor Marino. Isso não vai se repetir. —
Subimos e quando entramos no apartamento, ele me leva até um
quarto.
— Esse será o nosso quarto, não virei sempre à noite, pois
tenho minha casa. Aqui será a sua. — Olho tudo enquanto ele vai
até o armário, pega um vestido vermelho e coloca sobre a cama. —
Hoje iremos jantar fora, à tarde a equipe do salão virá para te
arrumar.
— Não sei o que falar com eles para me arrumar. — Falo
baixo.
— Não se preocupe. Já estão todos sob minha ordem. — Ele
se aproxima e toca meus cabelos, me afasto. — Calma, se você não
for arredia não vou ser tão enérgico com você, nós podemos nos
dar bem, só depende de você.
Não respondo. Ele passa indo embora. Fico perdida no
apartamento, mas Glória me faz sentir em casa. À tarde chega
algumas pessoas com materiais, maletas e muitas coisas. Me
mandam tomar banho e lavar os cabelos com um xampu.
Cortaram as pontas dos cabelos e fizeram uma maquiagem
que quando me olhei no espelho não me reconheci.
— Senhor Marino foi bem específicocom os cuidados com
seus cabelos, apenas retirar as pontas e usar um produto que não
tirasse a beleza natural deles. Querida, quando você lavar seu
cabelo volta ao normal. Que desperdício, poderia fazer muitas
coisas com esses cabelos. — Ela fala enquanto pega algumas
presilhas, grampos cheios de pedras.
— Como o quê? — Ela me olha pelo reflexo do espelho e
sorrir.
— Primeiro, seu cabelo é muito grande. Sei que os homens
adoram, mas temos que nos sentir bem e não os agradar. Então, um
corte na altura dos ombros a deixaria mais jovem, além de mechas.
Seu cabelo é lindo e com as mechas você poderia abusar das
cores.
— Quais cores? — Ela gosta do meu interesse.
— Loiro não combina, porque seu cabelo é escuro. Branco iria
te envelhecer, mas cores, como azul, rosa ou roxo forte, ficaria
perfeito. Quantos anos você tem? Dezoito?
— Vinte e dois. — Ela sorrir.
— Parece ter menos. Foi um prazer trabalhar com a senhorita.
— Ela sorrir e sai.
À noite coloco o vestido e me olho no espelho.
— Quem é você? — Fico triste. — Não sei. — Sou tirada dos
meus pensamentos quando alguém bate na porta.
— Minha filha,você está linda! — Glória falasorrindo. — Agora
vou para casa, meu marido me espera. — Suspiro. — O que foi?
— Isso não sou eu! Isso tudo, eu sou uma artesã, sou uma
mecânica. Não isso! — Ela fica séria e se senta na beira da cama.
— Filha, Nick pode ser difícilquando quer, mas eu o nunca vi
agressivo ou abusivo. Algo em você faz ele ser assim, possessivo
ao ponto de ser irracional.
— A culpa é minha?
— Não é isso. Ele está sentindo mais do que demostra. Isso
está desestabilizando-o. Vou te contar um segredo. Se uma mulher
for esperta o suficiente, tem Nick nas mãos.
— Não sou esperta. — Ela sorrir.
— Você vive sozinha a quase três anos, mantém uma loja e um
apartamento. Ficou sozinha e conseguiu viver sem depender de
ninguém, só do seu esforço. E você me diz que não é esperta? Você
está agindo como ele e isso está o deixando com raiva e querendo
te dominar, mas é o momento de você se acalmar. Te falo com
convicção. Nick só vai fazer o que você quiser, mas para isso terá
que ter paciência.
— Ele é cabeçudo e dono da verdade.
— Normal em um homem, mas ele tem um fraco.— Ela aponta
para mim. — Use a seu favor. Boa noite, filha.
São nove horas e nada de Nick. Está na hora da troca de
segurança. Um deles me olha com cobiça, quando vou sair escuto
ele falando com o outro.
— Só mais uma dessas vagabundas que se prostituem por
dinheiro. Essa pelo menos é bonita e tem cara de santinha. — Vou
para o quarto e me deito. Acabei cochilando, acordo com uma
batida na porta.
— Senhora? O patrão pediu para levá-la ao restaurante. —
Levanto e me arrumo. Escovo os dentes, retoco o batom e ajeito os
cabelos.
Peguei o elevador cercada de seguranças e entrei no carro.
Chegamos a um lugar chique com uma mesa reservada no canto.
Vou andando e Nick vem ao meu encontro.
— Está linda, desculpa a demora, mas tive alguns problemas
com a empresa. Senta! — Ele puxa a cadeira e me sento.
— Obrigada.
— Tudo bem? — Confirmocom a cabeça. — Sorria Agnes, não
estou pagando para ter uma cara emburrada. — Suspiro. —Vamos,
você pode fazer melhor.
— Não estou a fim. — Falo triste.
—Você tem que estar a fim quando eu quiser, sorrir quando eu
disser e fazer o que eu quero. — Ele fala com raiva. Olho para o
outro lado. — Olha para mim, Agnes! — Fico com os olhos
marejados. — Não chora, não caio nessa.
— Preciso retocar a maquiagem. — Vou levantar e ele segura
meu braço.
— Senta!
— O que está acontecendo com você? — Ele fica sério.
— Nada. Vamos jantar, tive um dia difícil.— Comemos em
silêncio, uma coisa horrível. Ele me mandou beber um pouco de
vinho. Estava no automático.
Saímos do restaurante e Nick não falou nada. Apenas olhava
para a janela. Chegamos no prédio e subimos em silêncio.
Quando entramos no apartamento, ele foi até os seguranças,
falou algo e eles foram para o corredor. Fui para o quarto, tirei o
vestido, ele entrou e virei de costas.
— Pudor Agnes? Sério? — Não respondo. Quando viro, ele me
beija. Estou me entregando aos seus beijos, quando lembro de suas
palavras e o empurro.
— Não sou esse tipo de mulher! — Ele se aproxima com rosto
sério.
— Você ainda não entendeu? Por que resistir? Você me quer.
Podemos ter algo bom e prazeroso. E quando eu cansar, te deixo
com uma pensão generosa. — Fecho os olhos.
— Como você quer que seja diferente? Falei sua verdade,
mesmo assim você me acusa! O que você realmente quer de mim,
Nicolas?
Ele me solta, ficame olhando sério e sai. Fico parada não sei
por quanto tempo e vou para o banheiro. Prendo os cabelos e retiro
a maquiagem. Tomei um banho rápido, coloquei qualquer roupa,
deitei-me e dormi. Acordo com ele me abraçando.
— Agnes, porque você tinha que ser assim. — Escuto a voz
de Nicolas próximo do meu ouvido, tem cheiro de bebida. Ele me
abraça e estremeço. — Se você fosse diferente. Não gosto de te
machucar. Não quero te perder. Por que você tinha que ser uma
interesseira? — Quando viro de frente para ele, sinto seu beijo
suave e carinhoso. Tem um gosto doce de bebida — Deixe-me
matar o desejo que tenho por você? — Não respondo, ele me vira e
se deita sobre mim. Não resisto, minhas mãos vagueiam pelo seu
corpo. — Seja minha.
Fazemos amor de forma lenta e prazerosa. Dormimos
abraçados, não parecia ser o Nick que estou convivendo todas
essas semanas.
Estava feliz,mas isso iria mudar. Com Nick nada é estável ou
constante, sempre muda para pior.
AGNES PETROVIC
DOIS MESES DEPOIS

Fico debruçada no parapeito da janela do apartamento e


suspiro.

Há dois meses, Nick é atencioso e carinhoso comigo. Estou


dividida entre ir e ficar. Olho o pôr do sol e fico pensativa. Nesses
meses, ele cuidou de mim muito bem. Posso sair com Glória ou com
ele, mas sempre com os seguranças.
Fomos a restaurantes e festas, mas essa vida me incomoda e
às vezes, acredito que ele esqueceu o passado. Porém, eu quero
esquecer? Eu quero viver sempre marcada como trapaceira sem
escrúpulos? Será que ele realmente esqueceu?
Escuto uma conversa no cômodo que Nick usa para trabalhar.
Vou andando devagar e vejo uma brecha na porta. Paro e escuto
sua voz ao telefone.
— Não. Ela não é minha namorada. É uma mulher qualquer
que conheci. — Meus olhos enchem de água. Isso que ele pensa de
mim? Volta a falar — Não! Não vou me casar com ela! Claro!
Quando nós terminamos, se ela quiser ficar com você, não vejo
problemas. Mas, ela é numa mulher dispendiosa, prepare o talão de
cheques.
Saio e vou para a varanda. “Uma qualquer”. Sento-me na
cadeira e abraço as pernas. Coloco a cabeça em cima dos joelhos e
fico olhando para horizonte. Não sei quanto tempo se passou,
simplesmente perdi a noção.
— Agnes? — Olho para Nick que me olha preocupado. — Está
tudo bem?
— Está. — Falo no automático.
— Você parece doente. O anticoncepcional não está
melhorando seu ciclo? Posso marcar outro médico?
— Não estou doente. Estou de TPM e saudades de meu
apartamento e das fotos do meu avô. Aqui não tenho nada dele. —
Olho para o lado, desço as pernas para o chão e sinto um
formigamento por ficar muito tempo na mesma posição.
— Posso pedir aos seguranças para buscarem o que você
quiser.
— Posso ir com Glória? Sempre deixei tudo sem modificar
desde o dia que ele morreu, não gostaria que estranhos colocassem
a mão em seus pertences. — Minto pensando em uma forma de
fugir.
— Tudo bem, se quiser pode ir amanhã. Glória vai com você.
— Obrigada. Estou com cólicas, vou ficar deitada. — Ele beija
a minha testa e sai. Deito-me na cadeira e volto a olhar o horizonte.
A noite jantamos e vou me deitar cedo. Nicolas dorme aqui
quase todas as noites. Não dormi direito e de manhã acordei, mas
não abri os olhos.
Nick estava em pé ao lado da cama com as mãos no bolso me
olhando, continuei quieta. Não queria falar com ele, não queria falar
com ninguém. Ele beijou meus cabelos e saiu para trabalhar.
Levantei-me, tomei um banho e uma decisão. Hoje eu iria fugir
mesmo se Glória não me ajudasse. Após o almoço, fui com Glória
ao meu apartamento, quando abri a porta, as memórias vieram em
minha mente me trazendo um conforto para alma. Fechei os olhos,
absorvi aquela energia e decidi. Hoje eu teria a minha liberdade.
— Filha! Você está bem? — Abro os olhos e vejo Glória
preocupada.
— Estou. — Respondo triste.
— Não está. O que ouve? Você e Nick estão bem? Brigaram?
— Nunca houve eu e Nick. Sabe que eu o ouvi falar ontem no
celular com alguém? “Sou uma qualquer”, isso que ele julga que
sou! Eu me transformei em uma mentirosa e uma prostituta de luxo.
Eu não aguento mais isso! — Gritei e Glória me abraça. — Ele falou
para o amigo que sou cara e que quando ele me largar, seu amigo
pode ficar comigo. Como posso me apaixonar por alguém assim?
— O que você vai fazer?
— Fugir. Ir para longe onde ninguém possa me achar!
— Com que dinheiro? — Ela fala preocupada.
— Nunca confiei nos bancos, meu avô sempre me ensinou.
Tenho metade do dinheiro da venda do carro. Glória me ajuda? Por
favor! Ou eu vou acabar fazendo uma bobagem em minha vida.
Preciso de tempo para provar minha inocência e nessa vida que
estou tendo sempre serei errada.
— Mas você vai entrar em contato comigo?
— Vou, prometo.
— Então, eu te ajudo. — Glória fala com convicção.
Vou ao meu quarto e arrumo tudo em uma mochila. Pego um
moletom velho que usava para correr, o boné de meu avô e coloco
na bolsa. Pego o relógio e coloco no pulso. Vou até à sala e Glória
está sentada no sofá pensativa.
— Tem certeza? — Confirmo. — Então, o que eu faço?— Vou
até ela e a abraço.
— Só fica aqui e finge que não me viu sair
.
— Você vai voltar?
— Não sei, mas vou tentar limpar meu nome e seguir minha
vida. Não vou viver assim. Preciso me reestabelecer, por mais que
eu ame Nicolas. O que estamos vivendo é doentio.
— Se cuida e me liga. — A abraço novamente.
— Pode deixar. Liga para o Nicolas em quarenta minutos e
diga que eu fugi em um momento de sua distração. Não quero que
você seja prejudicada. — Tenho o número de Glória de cabeça e
assim que me estabelecer, vou ligar para ela. — Adeus e obrigada.
— Encosto a porta e saio.
Desço até a lavanderia que essa hora está deserta encosto a
porta e troco de calça correndo. Coloco o casaco de moletom com
um tamanho maior e o boné escondendo meus cabelos. Coloco o
capuz, pego a mochila e vou até à porta que tem nos fundos dela.
Todos pensam que essa porta é emperrada, mas meu avô e o
falecido síndico sabiam que não.
A empurro e ela abre. Saio nos fundos do prédio perto da
lixeira, fecho sem fazer barulho, abaixo a cabeça e vou andando.
Sei como passar sem ser notada e com essas roupas pareço um
rapaz. Vejo a pequena multidão para atravessar a rua, essa é minha
chance.
Corro e fico junto deles, e vai aglomerando mais gente. O sinal
abre e atravesso de cabeça baixa. Pelo canto do olho vejo o
motorista sentado no carro lendo jornal e dois seguranças na porta
de entrada/saída do prédio. O ônibus está parado, faço sinal e
entro. Pago o motorista e me sento de cabeça baixa.
Estou livre. Em quinze minutos estou na estação de trem.
Tenho vinte e cinco minutos de vantagem. Chego na estação e não
sei aonde ir, olho atentamente as placas de nomes e tenho uma
ideia.
Escolhi o nome da cidade que vou, são três horas de viagem
para uma cidade pequena sem saber o que me espera. Olho para o
relógio de pulso, são duas da tarde. A essa hora ele descobriu que
fugi. Espero que isso não prejudique a Glória.
No trem não retiro o capuz e mantenho a cabeça baixa.
Lembro da pasta sobre mim que Nicolas jogou sobre o balcão, tinha
fotos minhas até das câmeras de segurança das ruas onde passo
para ir trabalhar. Nicolas é rico, ele compra qualquer informação e
um vacilo ele me pega. Será pior porque ele deve estar furioso.
Chego à cidade tiro o casaco de moletom e amarro na cintura, mas
fico de boné.
Estou com medo do futuro, mas tenho que ter forças. Sempre
lutei sozinha e agora não será diferente.
Ando um pouco nas ruas e vejo uma lanchonete grande com o
letreiro colorido dizendo: “Família doceira”. Sorrio, pois, em cidades
pequenas é comum empresa familiar. Entro, me sento no canto
próximo ao quadro de aviso, peço um café e vejo um pequeno
anúncio entre um mar de papéis.
“Aluga-se sobrado pequeno, sala, cozinha e banheiro. Com
poucas mobílias, preço acessível.”
Vejo o valor e o telefoneembaixo do anúncio. Abro a mochila e
pego uma caneta para anotar e vejo a atendente trazendo meu café.
— Está interessada no apartamento? — Ela pergunta vendo o
número anotado no guardanapo. Faço que sim com a cabeça. Ela
sorrir. — A dona é Hanna, irmã de Gregory, o dono dessa
lanchonete. O apartamento pequeno. Era a casa de sua tia, ela
faleceu e seu pai dividiu em dois. A minha irmã e meu cunhado
alugaram a parte maior.
— Como posso achá-la? — Tento encurtar a conversa. Se não
daqui a pouco vou saber a vida de todos aqui.
— No salão, a segunda rua a direita. Você vai reconhecer logo,
ela é uma bela loira. Você é nova aqui? Por favor, diz que conhece
alguém que dirige minivan?! Meu chefe é o maior gato, mas anda
estressado porque tenho que fazer as tortas e levar para as
lanchonetes que fornecemos.Imagina! Gato e cozinheiro. Virava até
do lar se ele me quisesse. — Ela fala rindo e sai.
Bebo meu café, pago e vou até o lugar indicado. Chego no
salão e pela porta de vidro vejo uma loira linda de corte moderno.
Uma roupa justa e um avental. Ela me olha a sorri.
— Oi. Que mudar o visual? Veio ao lugar certo. — Fico
sorrindo.
— Oi. O apartamento ainda está vago? — Ela sorrir e limpa a
mão no avental.
— Minha próxima cliente chega em uma hora, te levo lá. — Ela
fecha o salão e vamos para uma casa. Duas ruas depois do salão
tem um sobrado lindo. Ela vai até o portão ao lado e abre. — Moro
na casa de baixo que é dos meus pais, com minha filha e meu
irmão. Esse aluguel é uma grana extra.
Subimos uma escada estreita e paramos próximo a uma porta
de madeira. Ela abre o apartamento pequeno, olho uma sala que
também serve de quarto, uma cozinha e um banheiro espaçoso.
A sala tem um colchão grande, um sofá-cama, um guarda-
roupa, uma mesa pequena e uma estante antiga. Tudo coberto por
plástico. O chão está com muita poeira.
Vou para a cozinha e tem uma bancada de mármore com duas
cadeiras, um fogão antigo, uma geladeira e um micro-ondas
pequeno.
— Funciona? — Aponto para o micro-ondas.
— Sim, mas precisa de conserto. O aquecedor está bom, mas
não está potente. No inverno pode não esquentar o suficiente.
— Conserto, sem problemas.
— Você? — Ela me olha assustada.
— Sim. Trabalhava com consertos e reformas de móveis. Vou
alugar o apartamento.
— Ótimo! Te entrego limpo em dois dias. — Sorrio.
— Preciso dele para agora. — Ela fica assustada.
— Mas está sujo! — Abro a mochila e pego o dinheiro referente
ao aluguel. Ela não pega.
— Eu mesma limpo, amanhã preciso ver o emprego de
motorista que a menina da lanchonete me falou. Vou limpar até à
noite e acredito que durante a semana arrumo o micro-ondas e o
aquecedor. Preciso que leve esse colchão.
— Tem certeza?
— Sim. Preciso saber onde tem um mercado. A propósito, sou
Agnes Petrovic. — Ela me estende a mão.
— Hanna D’ Angelis. Vou pedir a meu irmão para pegar o
colchão, você consertando os aparelhos me diz o preço que
desconto do aluguel. — Ela me dá as chaves e pega o dinheiro. —
Tem um mercadinho que você pode comprar o que precisa e a loja
da senhora Fernandes tem roupa de cama em um preço bom, ainda
dá tempo de pegar a loja aberta. Se você conseguir consertar isso,
vai ter bastante cliente, pois o senhor Fernandes que fazia esse
serviço faleceu há cinco meses.
Ela sai encostando a porta, sento-me no sofá e sorrio. Tenho
um lugar. Levanto e viro o sofá de cabeça para baixo e coloco o
dinheiro que trouxe preso no elástico, e saio para comprar o que
preciso.
Volto e começo a limpeza. Lavo o banheiro e coloco uma
cortina no espaço do box. Coloco meus produtos de higiene no
pequeno armário.
Preparo um balde com água e sabão. Coloco o colchão no
pequeno corredor que tem até a porta. Limpo e lavo tudo. Passo
pano no armário e coloco minhas poucas roupas, as toalhas e roupa
de cama que comprei na loja ao lado do mercado. Arrumo o sofá e
coloco um pequeno tapete na frente.
A campainha toca, abro e Hanna entra como um furacão.
— Meu Deus! Agnes está ficando lindo. Soube que você
comprou as cortinas no brechó. Quer ajuda?
— Claro! Preciso de uma escada.
— E um homem! Esse é meu irmão Gregory. — Quando ela
fala é que o vejo parado na porta me olhando sério de cima a baixo.
Ele é muito bonito. Alto, olhos verdes e cabelo loiro bem
cortado. Tem uma barba linda.
— Boa noite, sou Gregory. — Ele estende a mão e eu aperto.
Ele não solta a minha e fica me olhando sério.
— Agnes Petrovic. Você tem uma vaga de motorista? Gostaria
de tentar.
— Você? — Ele me olha desconfiado.
— Sim, eu! Uma mulher de vinte dois anos. Aprendi a dirigir
aos quatorze. Só não conheço a cidade, mas é questão de tempo.
— Vou te dar uma oportunidade. Se for bem, te pago por
semana e você fica.Se não, você recebe o dia e vai embora. O café
e por conta da casa, se você ficar trabalhando conosco, damos o
almoço. O pagamento é por semana e o turno é de oito da manhã
às quatro da tarde.
— Certo! Estarei lá amanhã.
— Entra logo Gregory para colocar as cortinas. Vou pedir a
mamãe para trazer algo para comermos. Agnes não deve ter feito
comida ainda.
Gregory e Hanna me ajudam no que faltae percebo os olhares
de desconfiança de Gregory sobre mim. Ele é diferente de Hanna
que confiou em mim de primeira.
Depois que eles foram embora, tomei um banho e liguei o
aquecedor. Na próxima semana vou consertá-lo e o micro-ondas.
Durmo tranquila. Amanhã terei um teste de trabalho e tudo dando
certo, reestruturarei novamente a minha vida.
AGNES PETROVIC

Estou em frente ao prédio da única pessoa que pode


explicar o que realmente aconteceu na minha vida. Fugi a mais de
dois meses e sinto falta de Nicolas, queria não sentir. Eu amo, mas
não vou viver aquela vida de mentiras.

Ele agora deve me odiar mais do que antes, mas como ele
mesmo disse: “medidas e atitudes precisam ser feitas doa a quem
doer.”
Há dois finais de semana que vejo a rotina deles, Antoni
passou por mim e não me reconheceu. Às vezes eu não me
reconheço quando coloco essas roupas.
Estou vestida como um rapaz, moletom largo, com um boné e
o capuz por cima. Ele sai e deixa o portão aberto, como sempre, e
não tem porteiro.
Entro e olho as caixas de correspondência confirmando o
número, subo e toco a campainha. Assim que ela abre, entro
assustando-a.
— Por favor, não nos roube, estou grávida. — Ela fala
chorando. Retiro o capuz e o boné.
— Oi! Giulia. Esqueceu dos amigos? — Falo em deboche.
— Agnes? O que aconteceu com você?
— Aconteceu você e Nicolas Marino. Conhece? Seu ex-noivo
que me acusou de te ajudar na fuga?
— O quê?
— Você não escutou? Ele me acusou de ser mentirosa!
— Você supera isso. — Ela fala indiferente.
— Supero isso? Enquanto você vive na sua bolha de
felicidade,ele me faliue pegou a minha loja. Eu estou fugindo como
uma criminosa por sua culpa!
— Você quer o quê? Que eu fale a verdade para meu marido
e estrague meu casamento? Eu nunca vou falar a verdade para
Nicolas ou para Antoni. Nunca!
— Não precisa, eu ouvi tudo. Como você pode Giulia? —Seu
marido chega e nós não havíamos percebido.
— Antoni? — Ela vai falar e ele a corta.
— Fala Giulia o que você fez! — Ele grita.
— Eu estava grávida, precisava fugir ou meu pai ia me
obrigar a abortar a nossa filha. Sempre deixo dinheiro guardado com
Alessandra. Pedi a carro de Agnes e fugi.
— Como Nicolas ligou sua fuga a Agnes?
— Falei para Alê que Agnes me ajudou. — Ela fala chorando.
— Ele se vingou em mim. Pegou tudo que eu amava.
Destruiu a minha vida por uma mentira sua. Meu Deus! A minha
loja! Eu vivo fugindo por sua causa! Eu acreditava que você era
minha amiga! — Falo com os olhos marejados.
— Agnes, como você está vivendo? — Antoni pergunta
preocupado.
— Dando meu jeito. — Respondo evasivamente. Eles não
podem saber que refiz a minha vida. Ninguém pode.
— Fica aqui em casa, o quarto de Antonella é espaçoso.
Vamos te ajudar. — Olho para ele e coloco o boné.
— Ninguém pode me ajudar. Eu preciso ir embora. Ele não
pode me achar. Se não vai ser pior que dá outra vez, agora ele deve
me odiar mais.
— Agnes quero te ajudar! Você me ajudou quando eu mais
precisei. Por favor, o que posso fazer por você? — Olho séria para
ele e recoloco o capuz.
— Fale a verdade para Nicolas, limpe meu nome. Não tive
nada a ver com o que sua mulher fez e paguei por ir isso. Ele não
vai me ouvir, mas a vocês sim.
— Não! Ele vai nos arruinar. Nicolas é vingativo. — Giulia fala
chorando.
— Eu sei o quanto ele pode ser vingativo, então para mim só
resta continuar fugindo. — Vou em direção a porta.
— Agnes! Vamos falar. Custe o que custar. Prometo.
— Obrigada, Antoni e adeus. — Saio e o escuto falandosério
com Giulia que chora e pede para ele não fazer isso.
Ela nunca foi minha amiga, agora só me resta seguir a vida e
daqui a alguns meses, vou pular para outra cidade. Se eles vão falar
a verdade? Não sei. Por mais que ame Nicolas, não vou viver
daquela forma nunca mais.
Peguei o ônibus de cabeça baixa. Tirando a cidade onde vivo
e a vizinha, eu só ando com moletom e boné para não ser
reconhecida. Não uso celular ou rede social, afinal não existo,
apenas me escondo.
Peguei o ônibus que passa em frente à minha antiga loja que
está fechada. Meu coração aperta e minha vontade é descer, mas
com certeza ele deixou alguém vigiando. Não tenho, mas essa vida.
Sou motorista e faço trabalho de consertos em geral. Desde
quando a tia de Gregory precisou de alguém para arrumar os canos
de sua casa e fiz o serviço. Ela falou com os amigos e apareceram
mais clientes. Todos idosos ou senhoras viúvas que não confiamem
chamar uma empresa que mandam um homem desconhecido para
entrar em suas casas.
Sempre ouvi meu avô quando ele dizia: “não confie nos
bancos, tenha sempre dinheiro em casa.” Chego na estação e
compro o bilhete. Quando entro no mesmo, sei que deixei minha
antiga vida para trás e depois de três horas de viagem, chego em
minha nova cidade.
Assim que chego em minha rua, desço o capuz e tiro o boné.
Solto o lenço dos cabelos que agora estão volumosos com o novo
corte e mechas azuis, e balanço a cabeça soltando mais os fios.
Vou passar na padaria e lanchonete do Gregory para ver se
ele vai precisar de mim no segundo turno. Nenhum funcionário
faltou, então comprei minha comida e fui para casa. Vou ficar na
cama a tarde toda, curtido minha tristeza.
Em casa liguei o aquecedor, coloquei a comida em um prato,
sentei-me no sofá e me cobri. Mas antes coloquei um filme no laptop
que Hanna me emprestou. Ela é como uma irmã, mas quer que eu
seja sua cunhada. Gregory é bonito, mas meu coração vagabundo
ama meu antigo algoz.
— Coração idiota! — Falo para mim mesmo e a campainha
toca.
Quem será? Me seguiram? Não é possível? Travo o filme,
coloco o prato no sofá e vou assustada até a porta. Olho pelo olho
mágico e vejo Gregory com duas bolsas e uma parece refrigerante.
Abro a porta e ele sorrir.
— Como tenho que voltar para loja e você comprou seu
almoço. Estou querendo companhia. — Fico parada olhando. Ele
quer falar mais alguma coisa, mas o quê? — Agnes está frio aqui
fora.
— Desculpa, entra. — Diferente de Nicolas, ele jamais
entraria sem permissão. Ele coloca tudo na bancada da cozinha e
vai ao banheiro lavar as mãos.
A cozinha está fria, mas meu quarto/sala está quente. Pego
uma cadeira e coloco o laptop. Vou até à cozinha e pego uma toalha
forrando a mesa de centro que comprei na loja de usados da outra
cidade. Ela é linda, toda bordada e bem grande. Estava um pouco
mal cuidada, mas fiz sua reforma. Agora estou reformando na área
do sobrado o guarda-roupa dos avós de Gregory, o pai dele tem
amor por esse móvel. Estamos comendo e não vejo o filme, só fico
pensando em meu encontro com Giulia.
— Terra para Agnes! — Escuto a voz de Gregory e viro
assustada. — Suponho que não ouviu minha pergunta.
— Não, desculpa. — Ele sorrir em compreensão.
— De que você está fugindo? — Olho espantada.
— Meu passado não é bonito e prefiro que você não saiba.
Pode ter consequências e não quero que você seja prejudicado.
— Então vamos esquecer isso. Segunda pergunta... amanhã
quero ir à boate e gostaria de te levar. Hanna também vai.
— Vamos. — Ele sorrir.
— Então amanhã à noite vamos nos divertir. — Ele lava a
louça e faz café na cafeteira nova que comprei, bebemos café e
conversamos. Quando dá a hora dele vai voltar para loja, o levo até
a porta, ele me beija no rosto e sai.
Um novo começo, isso que vou fazer. Abandonar o passado e
esquecer Nicolas Marino e Giulia.
NICOLAS MARINO

Há dois meses não consigo dormir em minha casa.


Estou sempre voltando para Agnes, isso está me deixando
enfurecido.Era para ser apenas físico,somente transa e nada mais.
Estou novamente no apartamento trabalhando. Há duas
semanas fomos a um coquetel e Agnes foi a sensação da festa.
Todos os homens a olhavam com cobiça, isso me deixava
irritadíssimo, mas ela nem sequer olhou para qualquer um deles.
Percebi que ela se sente à vontade quando vamos a algum
lugar simples. Ela não se sente confortávelem restaurantes de luxo.
Meu celular vibra em cima da mesa, é Raphaelo.
Desde a faculdade, nós trocávamos de mulheres e no coquetel
ele ficou louco por Agnes, mesmo dizendo que gosta de loiras.
— Oi! Raphaelo! — Atendi de mau-humor, sei que o tema será
“me apresente a Agnes”.
— Nick. Você já me atendeu melhor. Como está?
— Bem e você?
— Estou bem, mas quando você vai me apresentar a Agnes?
— Se depender de mim? Nunca! — Falo raivoso.
— Então ela é sua namorada? Até que enfim! O grande Nicolas
Marino está namorando sério.
— Não. Ela não é minha namorada. É uma mulher qualquer
que conheci.
— Sei. Você vai acabar se cansando com ela.
— Não. Não vou me casar com ela.
— Então se você a largar, posso investir?
— Claro! Quando nós terminarmos, se ela quiser ficar com
você, não vejo problemas. Mas ela é uma mulher dispendiosa,
prepare o talão de cheques.
— Ela é uma puta! — Ele rir alto. — Gosto das putas, não se
prende a sentimentos.
— Não. Você é um filho da puta. Ela é uma mulher decente. —
Ele solta uma gargalhada.
— Amigo. Você tem sentimento e não quer admitir. — Fico
quieto. — Vou te dar um conselho. Se você está realmente gostando
da moça, deixe o passado de lado e viva o que vocês sentem. Não
vale a pena ficar remoendo e depois se arrepender.
— Virou filósofo? — Falo em deboche.
— Não, mas não tive atitudes no passado e agora sofro por
não ter feito diferente. Sou seu amigo, então te digo não erre como
eu fiz. — Conversamos mais um pouco, depois desligo e fico
pensativo. Saio do quarto que uso para trabalhar e vou procurá-la.
— Agnes! — Chamo e ela não responde.
A encontrei triste olhando para o nada. Me doeu vê-la assim.
Julgo que Raphaelo tem razão, ela consegue me fazer sentir vivo
com sua alegria, todos os dias quando chego ela vem sorrindo, me
beija e falacomo foio dia. Àsvezes a vejo cantando enquanto ajuda
Glória na cozinha, a voz é horrível, mas alegria é contagiante.
Abaixo em sua frente e ela não me vê. Só depois de um tempo é
que ele percebe minha presença e diz que está com cólicas. Ela
está triste e pede objetos de seu avô para matar a saudade e
permito que vá buscar.
Nosso jantar é em silêncio, ela quase não come e vai dormir
cedo. Tomo um banho e me deito ao seu lado descansando. Assim
que ela tiver os pertences de seu avô, ficará mais feliz.
Levanto-me de manhã, me arrumo e antes de sair fico a
olhando dormir. Acabou. Vou conversar com ela a noite, devolver
sua loja e pedir para tentarmos um relacionamento normal. Vou dar
sua liberdade, o que estou está fazendo não é certo.
Não posso mais viver negando o que sinto, temos uma forte
atração e acredito que ela se arrependeu do que fez.
Vou para empresa e meu advogado me liga dizendo que
estava tudo certo com a loja de Agnes. O desgraçado contratante do
serviço estava com a transportadora e ambos deram um golpe. Com
o dinheiro da indenização, ela poderá reerguer seus negócios e
como vamos ficar juntos, vou ajudá-la a administrar. Fico sorrindo
até que meu celular toca, olho o visor. Glória?
— Aconteceu algo com Agnes? — Pergunto afoito.
— Ela fugiu.
— Maldita mentirosa! — Desligo sem falar mais nada e ligo
para Dominic. — Quero que encontre Agnes Petrovic, não deixe
pedra sobre pedra. — Escuto um sim senhor e desligo, ligando para
o banco em seguida. — Rodrigo, preciso de um favor. Bloqueie
todas as contas em nome de Agnes Petrovic. Obrigado. — Levanto-
me furioso. Como pude ser idiota? Ela não me ama, me enganou,
me fez acreditar na boa moça para fugir. — Você vai se arrepender
quando eu te encontrar!

Mais de dois meses se passaram e Agnes desapareceu como
poeira ao vento.
Minha raiva está virando preocupação. Onde ela está vivendo?
Se alimentando? Não quero pensar na possibilidade de ela estar
morta. Sofro todas as noites sentido sua falta, as conversas, sua
entrega sempre sinceras. Como ela pode ser assim? Uma atriz
perfeita?
O telefone da mesa toca e atendo. Minha secretária está me
odiando novamente, estou de péssimo humor. Todos os dias
sentindo falta de Agnes trabalho até tarde da noite.
— Senhora Cruz. — Ela dá um tempo e escuro sua voz.
— Senhor Antoni e senhora Giulia estão querendo falarcom o
senhor, sei que eles não têm horário marcado, mas ele diz ser
urgente.
— Deixo-os entrar. — Fico pensativo. Eles podem saber de
Agnes.
Giulia entra quieta e aflita. Com uma pequena barriga de
gestação. Se Agnes não a tivesse ajudado, ela estaria grávida de
meu filho. Tem um homem atrás dela, reconheço pelas fotos do
dossiê feito pelos homens de Dominic.
— Bom dia, senhor Marino. Sei que o senhor é um homem
ocupado, mas preciso lhe falar. No sábado de manhã Agnes veio
nos procurar. Ela estava mal vestida e fugindo. — Ele fala com
tristeza e fechoos olhos. Deus como Agnes está vivendo? — Mas o
motivo de nossa visita é outra. Até dois dias eu não sabia o que sei
agora e se soubesse, jamais teria concordado com isso. Não quero
minha felicidade à custa da desgraça dos outros. Giulia, conte para
senhor Marino tudo que você me contou! — Ele fala enérgico, ela
chora baixo e começa a falar.
— Eu fiz um teste de farmácia e descobri que estava grávida
de Antoni. Se meu pai o descobrisse iria me forçar a abortar para
me casar com você, então eu fugi.
— Conte tudo, Giulia!
— Ele vai nos destruir, Antoni! — Ela fala em desespero.
Estou sem entender.
— Ele destruiu Agnes por sua culpa e minha. Eu fuiconivente
mesmo sem saber.
— Sei que Agnes ajudou Giulia a fugir.
— Não ajudou, ela não sabia. — O marido de Giulia fala e eu
fico espantado.
— Mas Alexandra falou que Agnes ajudou a arquitetar tudo!
— Falo enérgico.
— Ela não sabia, pedi para Alê colocar a culpa nela para
desviar atenção da minha fuga. Agnes nunca soube o que eu ia
fazer. Ela veio falar com você porque ela não queria ver seu
sofrimentopor ser abandonado. Essa é Agnes, sempre ajudando as
pessoas. Você foi a paixão de adolescente dela, desde quando viu
sua foto em uma revista que levei em sua loja. — Giulia fala e
começa chorar.
Fico paralisado. Ela não sabia? Lembro de sua voz quando a
humilhei depois do sexo, sua tristeza dizendo que estava se
sentindo vazia. O que eu fiz? Meu Deus! Fechos os olhos e abro
quando escuto a voz de Antoni.
— Se eu soubesse, jamais teria concordado com isso.
Quando eu mais precisei Agnes me ajudou, seu avô estava doente
e meu pai desempregado. Ela me pagava a metade de todo trabalho
mesmo ela fazendo sozinha para ajudar minha família.Eu nunca
permitiria isso. Agnes é boa e justa. Não merecia passar por todo
esse sofrimento.
Estou sem palavras.
— Por favor, Nicolas. Não prejudique Antoni, ele não tem
nada a ver com o que fiz. — Giulia fala chorando.
— Não farei, mas preciso encontrá-la.
— Ela falou que estava fugindo. Ofereci o quarto de nossa
filha, mas ela não quis. Senhor Marino, eu temo que ela esteja
vivendo nas ruas. — Fecho os olhos em desespero. — Farei
qualquer coisa para ajudar a encontrá-la.
— Se ela procurar vocês novamente de uma desculpa, mas
não a deixem ir embora. — Pego meu cartão na gaveta e entrego a
ele. — Me ligue em qualquer horário do dia ou da noite.
— Eu farei. O senhor tem a minha palavra. — Eles se
despedem e sai. Fico pensativo e o remorso me corrói.
Pego o celular e ligo para Dominic.
— Bom dia. Mudem o foco da procura. Veja em albergues e
abrigos, se não encontrar procure nas ruas. Por favorseja rápido. —
Desmarco meus compromissos e vou para casa.
— Filho, você chegou cedo! — Não falonada e abraço Glória.
— Filho o que aconteceu? — Vamos para a sala e lhe conto tudo,
ela escuta atentamente. — Ela me falou a verdade, eu acreditei.
— Nunca acreditei, sempre a julguei da pior forma possível.
Agora, ela pode estar vivendo nas ruas. — Glória sorrir, eu não
entendo.
— Você realmente acredita nisso? — Ela é uma sobrevivente.
Ela não chegaria a isso. Ela tinha um pouco de dinheiro guardado
no apartamento. Vou ser sincera, para mim ela está bem, só não
quer ser encontrada. — Ela para um pouco e suspira. — Agnes
ouviu sua conversa com Raphaelo, isso a deixou arrasada. Você a
colocou como uma dessas moças que se vende por luxos. Ela é
uma moça descente, ficou assustada por estar apaixonada e você
só a usava.
— Era mais que isso, eu ia devolver sua vida para termos um
relacionamento. Ela te liga? — Glória pensa um tempo e confirma
com a cabeça. — Você me deixaria falar com ela?
— Ela me liga todo domingo. Diz que está bem e que para eu
não me preocupar. Acredito nela.
Passo uma semana miserável, desmarquei todos os meus
compromissos. Mal dormi de sábado para domingo. Fico esperando-
a ligar, Glória falou que ela liga sempre no mesmo horário. Quando
ela liga, Glória faz o sinal de silêncio para mim, ela coloca no viva-
voz.
— Glória, bom dia. Estou com saudades. — Escuto sua voz e
quero falar com ela. Glória faz que não com a cabeça.
— Também estou com saudades de você e de nossas
conversas. — Escrevo uma pergunta no papel e viro para ela que ler
e pergunta. — Onde você está? — A linha fica em silêncio.
— Ele me descobriu? Meu Deus! Está no viva-voz? — Agnes
quase grita.
— Filha, me escuta! — Glória súplica.
— Ele não pode me achar. Não aguento mais esse
sofrimento. Adeus Glória! Desculpa, não vou ligar mais, não se
preocupe, estou me virando.
— Agnes, por favorme escura. — Falo gritando e ela desliga.
— Porra! — Bato o copo de suco em cima da mesa com força e
acaba quebrando. — Ela fugiu de novo.
— Você não devia ter escrito essa pergunta, ela está arisca e
com medo. — Olho para ela nervoso e saio da cozinha.
Depois daquele domingo, ela não ligou mais. As buscas
sempre dão em nada. Desbloqueie suas contas, mas ela não as
usa. Pago sua conta de celular na esperança de que ela reative o
número, peguei um hacker para ter acesso a suas redes sociais e
ela não utiliza. É como se ela não existisse.
Há quase dois meses e agora sei a verdade. Estou me
corroendo de remorso. Olho a loja fechada e meu motorista abre a
porta, acendo a luz e tudo está sem vida. Vou até o escritório e vejo
um livro grande de registros. Olho para a estante e vejo a foto de
Agnes criança sorrindo, e abraçada com seus pais.
— Senhor, vamos procura algo específico?
— Não, vamos para o apartamento dela. — Olho novamente
a foto e saio. Estamos em frente ao prédio dela e subimos. Abro o
apartamento.
— Procure aqui na sala, mas não desarrume nada, vou
verificar os quartos. — Vou até às portas e quando abro a primeira
tem uma cama de casal bem arrumada. — Aqui não é seu quarto.
— Falo e vou para o próximo.
Quando abro, vejo a cama de solteiro com uma colcha
bordada e entro. Abro as gavetas e olho os papéis. Algumas notas
fiscais e listas de compras. Olho tudo e nada que possa me dizer
onde ela está.
Levanto-me e vou até o guarda-roupas, quando abro fico
paralisado, várias fotos minhas coladas nas portas pelo lado de
dentro. Algumas têm corações. Com data de cinco anos atrás,
lembro das palavras de Giulia “ela queria te ajudar, você foia paixão
dela quando adolescente.”
— Deus! Não pode ser! — Meus olhos ficaramparados e algo
que vejo em seu armário. Pego a caixa na mão e coloco em cima da
cama, abro o compartimento e pego a bailarina. Coloco no topo do
castelo e pegou a chave dando corda. Quando termino, a música
começar a tocar. — Ela consertou! Sento-me em sua cama e minha
mente volta há cinco anos.
— Mãe a senhora precisa se divorciar, ele vai acabar sendo a
sua morte.
— Não posso, seu avô o deixou responsável por quarenta
porcento das ações da empresa que um dia foramminhas, mas não
posso ter acesso. Seu eu me divorciar, ele fica com tudo e vende
para um rival. Eu tenho que pensar no seu futuro.
— Ele ainda está te batendo?
— Não, desde quando você o ameaçou, mas não vamos falar
disso. Eu encontrei.
— O quê? Deve ser algo bom para a senhora está tão
animada.
— Sim. Vem comigo. — Ela me puxa pela mão até seu quarto
e para na frente da caixa de música. Ela ama esse castelo. — Achei
um homem que pode consertar.
— Mãe, sei que você ama essa caixa, que foi da sua mãe,
mas já colocamos na mão dos melhores joalheiros e ninguém
conseguiu.
— Sim, mas esse, dizem que ele tem uma neta de dezessete
anos, ela tem o dom. — Faço cara de deboche. — Sei que você não
acredita nisso, mas tenho certeza de que ela vai conseguir.
— Uma criança! — Ela rir.
— Apenas onze anos mais jovem que você. Seu ancião de
mente. — Fico rindo e ela me dá uma chave. — Guarde com você é
a cópia, caso eu perder a minha. Promete?
— Prometo! — Almoçamos juntos e no dia seguinte a
encontraram morta no carro na garagem do prédio do meu padrasto.
Asfixiada pelo gás porque o aquecedor estava ligado.
Ele foi suspeito nas investigações, mas acabou sendo
inocentado. Na leitura do testamento, eu fuiseu herdeiro legal e seu
marido perdeu o controle sobre as ações da companhia. Paguei seu
direito e nunca mais vi sua cara.
Soube que ele morreu em um cassino em Vegas.
A música para de tocar me tirando das lembranças.
Levanto-me, abro um dos compartimentos e vejo um papel
amarelo. Abro e está no primeiro nome de minha mãe, pagamento a
vista, conserto feito por Agnes Petrovic e garantia de três meses.
— Minha mãe estava certa, ela conseguiu. — Sorrio.
Coloco tudo nas gavetas, guardo a bailarina, pego a caixa de
música e vou para casa. Minha mãe estava certa e vou acreditar no
que Glória falou.
Ela está bem, é uma sobrevivente.
BÔNUS
GIULIA CONTE

Olho para a escola toda pichada.


Alunos com roupas que parecem os panos que as
empregadas limpam nosso chão. Olho para o motorista que não
expressa nada.
Estou de castigo por repetir de série e vou estudar um ano na
escola pública. Um movimento ao meu lado direito chamou atenção.
Um menino de calça e capuz chega de bicicleta, e a coloca presa na
grade. Olha o relógio de pulso e puxa um capuz.
— Uma menina? — Ela me olha, dá um pequeno sorriso e
pega sua mochila surrada. Entra correndo na escola.
Vou desanimada, porque essa é minha punição e se eu
quiser sair desse chiqueiro, preciso mostrar nota e esforçopara meu
pai. Abri a porta e vi o pior lugar do mundo. Um corredor muito
grande, com as paredes pintadas de cores escuras, antiga e com
pichações.
Esse lugar é o inferno.
Ando e não sei onde tem nada, até que avisto um funcionário
que logo fico sabendo ser da secretaria. Ele me guia até a sala que
também não está em melhores condições.
Sento-me em uma cadeira e sou praticamente invisível. Vejo
a menina da bicicleta sentada na primeira carteira, próximo à porta e
perto dela tem uma cadeira vazia. Me levanto e olho para todos os
lados, vou me aproximando e me sento. Chegam todas as espécies
de alunos e muitos vão para o fundo da sala.
O professor entra desanimado, dá um "bom dia" e fica
escrevendo no quadro, enquanto a turma fala. Não estou
acostumada a isso, minha vontade é de chorar e pedir ao meu pai
para voltar para minha escola cheia de luxos. Salas limpas e
pessoas que são do meu padrão social.
Bate o sinal do recreio e todos saem correndo sem
autorização do professor.
— Professor, posso tirar uma dúvida? — A menina estranha
se levanta, escuto o professor a chamar de Agnes. Elas ficam
conversando e o professor resolve uma questão explicando. A
menina agradece e guarda o material na mochila. E quando ela vai
sair a chamo.
— Agnes? — Ela me olha. — Sou nova aqui, pode me
ajudar? — Ela sorrir e confirma com a cabeça.
Desde aquele dia Agnes me ajudou em tudo na escola, desde
saber os lugares que eu podia ir, até como estudar para as matérias.
Ela tirava ótimas notas, mas assim que o sinal tocava, ela pegava a
bicicleta e saia rápido.
Em pouco tempo éramos amigas e Agnes era bem diferente
de mim. Suas mãos eram calejadas por trabalhar com seu avô em
uma loja de reforma de móveis usados. Conheci o local em um dia
de chuva que dei carona para ela e depois disso, a cada castigo de
meu pai estava na loja a observando trabalhar e conversando.
No ano seguinte voltei para escola particular, mas continuei
indo na loja a cada novo castigo e Agnes me ajudava no dever de
casa.
Minha amizade com ela era diferente dos ricos que me
cercavam. Com Agnes era amizade verdadeira, ela gostava de mim
não pelo que eu tinha ou podia comprar. Anos se passaram e sua
loja passou a ser me refúgio a cada novo castigo. Como corte de
mesada, celular, viajem ou roupas novas. Com Agnes eu ria,
conversa e me divertia, sem ela nunca pedir nada em troca.
Hoje não tinha castigo, mas eu queria alguém para conversar.
Uma pessoa que não falasse futilidades, então fui à loja de Agnes.
— Oi. Giulia. — Ela abre a porta e entro zangada.
— Oi, meu pai quer que eu aprenda os negócios da família.
Me deu até essa revista. — Joguei-a no balcão e a página abre no
empresário do ano, e vejo os olhos de Agnes brilhar.
— Quem é ele?
— Outro empresário frio como meu pai, só pensa em
dinheiro. — Ela vira todas as fotos e a vejo sorrindo. Pobre Agnes,
não sobreviveria um ano nesse nosso mundo.
— Posso ficar com a página?
— Que linda. Agnes apaixonou! Amiga, aprende! Homens
como ele? Só amam o dinheiro. A vida para eles? É um acordo
comercial vantajoso. Você tem sorte, vai casar-se por amor, e eu?
Será acordo que meu pai vai fechar. Se tiver sorte será um jovem e
bonito. Na pior das hipóteses, um velho babão. Pode ficar com a
revista.
Nos anos seguintes seu avô ficoudoente e ela assumiu a loja
de vez e seu namorado a abandou, porque ela não tinha tempo para
ele.
— Ele é um idiota egoísta, você precisava do apoio dele.
Quem ele pensa que é? — Falo nervosa.
— Não posso deixar meu avô. Ele é a única famíliaque me
resta. — A campainha toca e ela vai até à porta. Abre e vejo um
rapaz, estou olhando fixo e ele a abraça. — Antoni, deixa te
apresentar minha amiga Giulia. — Ele me abraça e fico encantada.
Ficamos conversando e a noite vou embora. Ele domina
meus pensamentos, mas não posso me dar esse luxo, pois ele é
pobre e meu pai jamais o aceitaria. Mas, posso apenas ficarcom ele
sem ninguém saber.
Passo a ir à loja, principalmente quando Agnes está no
hospital com seu avô e fico esperando sua volta. Um dia tomo
coragem e trocamos telefone.
Sempre nos falamos e marcamos encontro. O avô de Agnes
morreu e ela assumiu a loja sozinha. Antoni sempre ajudava quando
tinha muitas reformas. Estávamos juntos há três anos, mas nunca
oficializei o namoro e Antoni estava me cobrando, pois ele queria
casamento, eu não podia dar-lhe isso. Meu pai me comprometeu
com o grande empresário e arquiteto Nicolas Marino e em poucos
meses seria nosso casamento.
Ele havia comprado um apartamento, roupas e joias. Íamos
morar em casas separados, eu teria mordomias e teria que lhe dar
um filho. Nosso casamento seria real, mas não queria morar
naquele mausoléu que ele chama de casa. Nicolas exigia fidelidade
e ele também seria fiel, mas eu queria manter Antoni. Fiz a minha
proposta no motel que sempre nos encontrávamos, e ele ficoumuito
zangado com minha atitude.
— Não, eu não serei seu amante! Eu te amo. Deus! Por que
não me apaixonei por Agnes? — Doeu muito ouvir isso.
— Minha vida é assim Antoni, fuicriada para isso e não posso
decepcionar meu pai. Seja meu amante? Posso dar luxo a sua
família. — Ele me olha com nojo.
— Sou trabalhador e honesto. Não um cafetão de luxo.
— Você está me chamando de prostituta?
— Me diz a diferença? Só por que você e rica com classe?
Você está se vendendo como carne de açougue. Eu te amo, quero
que seja a mãe de meus filhos, mas não vou me humilhar a ser um
amante comprado. — Ele está saindo do quarto de motel que
sempre nos encontramos.
— Vai ficar com Agnes! — Ele me olha com lágrimas nos
olhos.
— Adeus, Giulia! — Sai me deixando desolada
Depois de duas semanas, alguma coisa está errada. Meu
ciclo que é regular, está atrasado. Compro um teste de farmácia e
suspiro com o bastão do teste de gravidez na mão. Estávamos nos
prevenindo, mas o remédio falhou. Se meu pai souber, ele vai me
obrigar a tirar o bebê e me casar com Nicolas.
Tive uma briga com meu pai que me deixou de castigo e só
tinha uma saída, minha prima Alê, que tem uma boutique. Sempre
deixei parte do meu dinheiro em sua conta, preciso chegar até ela,
mas como? Olho o dinheiro que escondi, vou pegar um ônibus, mas
ir para onde?
— Agnes, só ela pode me ajudar. — Pego o celular e ligo. Ela
atende rápido.
Peço seu carro e invento uma desculpa, ela não iria me apoiar
em deixar Nicolas. Agnes não conhece o mundo dos ricos, se eu
falaralguma coisa, ela vai supor que devo conversar com meu noivo
e para quê? Ele vai ameaçar destruir a mim e a Antoni. Não posso
arriscar.
Vou até o shopping e pago o estacionamento com o dinheiro
que tenho. Ando até a loja da Alê e a vejo no balcão falando com
sua vendedora. Ela me vê entrar e sorrir vindo até mim.
— Giulia. — Não a deixo falar e a arrasto para fundo da loja.
— Estou fugindo, preciso de meu dinheiro. — Ela me olha
séria.
— Por quê? Você tem a sorte grande de casar-se com
Nicolas, o sonho de consumo de qualquer “mortal”. — Ela fala em
deboche fazendo aspas com os dedos.
— Fica com ele para você. Eu tenho que fugir. Estou grávida
e meu pai vai me mandar abortar. — Ela me olha preocupada.
— Te dou tudo que tenho no caixa da loja e um cheque, mas
Giulia, Nicolas vai acabar com minha loja se souber que te ajudei.
— Agnes Petrovic. — Ela me olha e rir.
— Sua amiguinha pobretona? Nicolas se quer vai olhar para
cara dela. — Sorrio.
— Por isso, diga que ela me ajudou, que tramou tudo. Nicolas
não vai ligar para uma pobretona de subúrbio e ele será todo seu. —
Vejo seu sorriso se alargar. Ela e Nicolas tiveram um lance na
faculdade e o sonho de minha prima é ser a senhora Marino.
— Feito. — Ela vai para o fundo da loja e volta com uma
bolsa e me dá. Preenche um cheque. Pego as chaves do carro
popular de Agnes.
— Ela virá buscar, já paguei o estacionamento. — Saio da
loja e almoçamos na praça de alimentação jogando conversa fora.
Depois chamo um táxi. Assim que entro no carro ligo para Agnes,
que atende rápido.
— Oi.
— Por favor, pega seu carro no shopping. — Ela fica
assustada.
— Giulia, o que houve?
— Desculpa amiga, fugi do meu casamento com Nicolas
Marino.
— Você fez o quê? — Ela grita. — Seu casamento é daqui a
dois dias. Pelo amor de Deus. Você abandonou o pobre homem no
altar.
— Sim. Obrigada pelo carro, a chave está na loja da minha
prima. — Desligo o telefone em sua cara e ligo para Antoni.
Conto que fugi, que estou grávida e quero me casar com ele.

Seis meses que minha vida está muito diferentedo que estou
acostumada, mas estou feliz. Meu marido foi comprar café da
manhã para comemorarmos nossos meses de casado e estou a
cada dia mais apaixonada. Meu pai me deserdou e minha mãe falou
que quando Antonella nascer, ele vai me aceitar. Ela já o viu falando
da neta, até comprou alguns presentes e mandou entregar como se
fosse a minha mãe.
Estou preocupada com Agnes, seu telefoneestá sem sinal ou
fora da área de cobertura. Ela deve estar com raiva do que fiz com
ela, mas conhecendo Agnes, ela vai me perdoar. Nicolas nunca iria
se interessar por uma operária de mãos calejadas e sem graça.
Tocam a campainha me tirando dos pensamentos.
— Já vou amor. — Abri sem olhar e entra um rapaz
maltrapilho. Ele vai nos roubar. — Por favor, não nos roube, estou
grávida. — Falo chorando e o rapaz retira o capuz, e o boné.
Me assusto ao ver Agnes, ela está diferente. Brigamos e
quando faloque não vou falarcom meu marido, ele tinha chegado e
estava escutando tudo. Olho para seu rosto e posso ver seu olhar
de decepção e o de Agnes pelo que eu fiz. Ela vai embora, mas
Antoni promete falar a verdade para Nicolas.
— Por quê? Se você tivesse me ligado, eu iria te buscar na
loja de Agnes. Giulia por que você fez isso? — Começo a chorar
vendo seu olhar acusador.
— Ele ia nos arruinar. Eu nunca pensei que ele fosse fazer
isso como Agnes.
— Não pensou? Como não? Você mesmo disse que ele iria
me arruinar, então isso não se aplica a Agnes?
— Já olhou para ela? Não tem classe, etiqueta, não é bonita,
vive com roupas de brechó. O que Nicolas iria querer com uma
mulher como ela? — Antoni me olha em reprovação.
— O que um homem quer de uma mulher, Giulia? Ainda mais
de uma que julga interesseira! O que ele queria de você? O que te
daria em troca? Pensa? — Tive uma leve tontura e sentei colocando
a mão na barriga.
— Deus! Agnes não sobreviveria em um mundo como o
nosso!
— Agnes é uma mulher decente, preferiu viver nas ruas a se
sujeitar a isso. — Fico desesperada. Agnes vivendo nas ruas?
— Meu Deus! Traz ela de volta! — Falo chorando. — Eu não
pensei nisso. O que eu fiz?— Antoni sai e ficochorando. Depois de
um tempo ele volta e me coloca na cama.
— Não a encontrei. Vamos resolver isso, mas se acalma! Isso
não faz bem para nossa filha. — Confirmo e durmo.
Na segunda pela manhã vamos até o prédio da empresa
Marino. Tentei convencer meu marido de não ir, mas ele está
determinado a arrumar a confusão que fiz e limpar o nome de
Agnes, mesmo que tenha que sofrer as consequências.
Chegando no andar de suas empresas e tudo está impecável.
As empresas do Nicolas são muito produtivas e ele é um empresário
muito respeitado. Paramos em frenteà sua secretária e meu marido
fala que a conversa é urgente. Depois de um telefonema somos
autorizados a entrar.
Nicolas está sentado em uma mesa cheia de papéis e um
computador moderno está a sua frente. Ele nos olha sério. Parece
estar cansado, mas seu olhar é gelado. Não passa nada do que ele
pensa. Ele nos analisa dos pés à cabeça e Antoni começa a falar.
— Bom dia, senhor Marino. Sei que o senhor é um homem
ocupado, mas preciso lhe falar. No sábado de manhã Agnes veio
nos procurar. Ela estava mal vestida e fugindo. — Ele fala com
tristeza. — Mas o motivo de nossa visita é outra. Até dois dias eu
não sabia o que sei agora e se soubesse, jamais teria concordado
com isso. Não quero minha felicidade à custa da desgraça dos
outros. Giulia, fale para senhor Marino tudo que você me contou! —
Ele fala sério comigo e volto a chorar. Confesso tudo que fiz e a
inocência de Agnes.
Terminamos e vamos embora. Estou em silêncio enquanto
Antoni dirige.
— Você também notou? — Pergunto e olho para meu marido.
— Ele está possessivo com Agnes. — Antoni confirma e terminamos
o resto da viagem em silêncio.
Depois daquele dia, ela não nos procurou e sempre tento ligar
para seu número, mas ninguém atende.
AGNES PETROVIC

Abro a porta do guarda-roupas e olho para o interior do


armário.

Não tenho roupas para ir em uma boate, nunca fuiem um lugar


desses. Passo a mão em meus cabelos mais volumosos, com o
novo corte e as mechas azuis. Queria cortar os cabelos no ombro
estilo Chanel, mas Hanna me convenceu ao contrário. Suspiro.
— Por que fui aceitar esse convite se não tenho roupas? —
Fico pensativa, até que a voz de Hanna me tira dos pensamentos.
— Agnes! Abre a porta! Está pesado! — Vou correndo e a vejo
com muitas roupas e uma bolsa no chão. — Me ajuda! Sua fada
madrinha chegou! — Ela entra. — Bom! Decidi me arrumar aqui e te
arrumar. Afinal quero que você fique estonteante e pegue logo meu
irmão de jeito. Vamos menina! Hora se brilhar. Tome um banho
enquanto arrumo tudo aqui. Venha com roupa de baixo e toalha.
Não esqueça de lavar os cabelos.
Saio do banheiro. Hanna escova meus cabelos, faz uma
maquiagem e vai se arrumar. Ela estava com os cabelos prontos e
maquiada.
— Agora as roupas. — Ela pega vestidos, shorts e tops.
Coloridos e brilhosos. Mas gostei dos vestidos, apesar de pensar
que falta pano. — Qual você gostou?
— Esse. — Pego um vestido preto rodado. Hanna bate palmas
e tira uma caixa da bolsa.
— Para você, peguei o número dos seus sapatos no arquivo
dos uniformes na loja de meu irmão. Toma, coloca! — Ela fala
animada. Fico rindo e calço. — Se meu irmão não te conquistar, ele
vai ser muito banana. — Ficamos rindo, até que escuto baterem na
porta. Ela abre e fico boquiaberta com Gregory. Lindo, cabelo loiros
com gel e roupas esportes.
Se meu coração idiota não tivesse se apaixonado por Nicolas,
eu poderia dar uma oportunidade para nós dois. Porém, tenho que
admitir que tudo que passei com Nicolas me fez ver que eu consigo
viver longe da loja. Engraçado que antes disso, sempre acreditei
que não saberia viver sem meu mundinho.
— Agnes! Você está linda. — A voz dele me tira dos
pensamentos.
— Só Agnes? Nossa, irmão você é sem graça. — Hanna passa
e bate com a bolsa no ombro de Gregory que ri e me estende a
mão, e a seguro.
No carro fiquei no banco de trás e vejo como Gregory me olha.
Confesso que estou com medo de alguém me conhecer ou de
Nicolas está lá. Não! Nicolas não iria se misturar com simples
mortais. Olho pela janela e fico lembrando das duas festas e dos
restaurantes que ele me levava. Me sentia totalmente fora do meu
ambiente.
Na primeira vez que saímos, ele foi extremamente grosseiro,
mas depois que bebeu foi carinhoso na cama e nos meses
seguintes foi tudo diferente. Ele era carinhoso, tranquilo e
compreensivo. Nas festas ele nunca me deixava sozinha, estava
sempre segurando na minha cintura, parecia outra pessoa até
escutar sua conversa no telefone. Fui muito boba em pensar que
existia um relacionamento.
— Chegamos! — Gregory fala estacionando.
Olho para a grande fila da boate. Estou começando a acreditar
que não foi uma boa ideia, mas Hanna conhece o segurança que
rapidamente nos tira da fila. Entramos e a música eletrônica está
alta. Hanna sai dançando e me puxando. Pega uma cerveja para ela
e me oferece um, faço que não com a cabeça e Gregory pega.
Depois de duas horas estou louca para ir para casa. Sento-me
em uma pequena mesa e Gregory me acompanha, enquanto Hanna
dança. Ela está um pouco alta de bebida.
— Você não está gostando?! — Gregory fala e olho para ele.
— Supus que você ia gostar, afinal moças novas como você gosta
desse ambiente. Também não curto todo esse barulho, isso é mais
vibe da minha irmã. — Ele fala próximo de mim e fico com uma
sensação de que estou sendo vigiada. Paro de ouvir o que Gregory
está falando, olho tudo em volta e não vejo nada. Olho para Gregory
que está chegando perto demais e me beija. Que boca maravilhosa.
Ele me puxa levemente, aprofunda o beijo me abraçando e colando
nossos corpos. Que beijo delicioso, mas a lembrança do olhar
carinhoso de Nicolas vem em minha mente me dando um balde de
água fria e me afasto arrumando a roupa. Gregory me olha
atentamente. — Você está apaixonada por alguém? — Confirmo
com a cabeça e ele segura a minha mão.
Depois de uma hora vamos embora e Gregory está pensativo.
Eu só lembro de Nicolas, enquanto Hanna está bêbada ao meu lado
chorando. Em resumo, a noite foi um desastre. Ele para em frente a
nossa casa.
— Quer ajuda com Hanna? — Ele sorrir.
— Posso levá-la sozinha. — Ele me olha, me analisando. —
Será que um dia... — Ele não termina a frase.
— Gostaria que sim, ainda amo meu ex, se é que posso
chamá-lo assim, afinal a situação entre nós, começou de forma
errada e sempre me pergunto se tivesse acontecido da forma certa,
ainda estaríamos juntos. — Paro e suspiro. — Acredito que nunca
aconteceria da forma certa, meu mundo e o dele são
completamente diferentes. Obrigada pelo convite.
— Um fiasco, mas posso compensar. Podemos ir ao shopping
ou caminhar, fazer trilha. — Sorrio e confirmo com a cabeça. Ele
segura a minha mão e beija. — Não vou desistir de você, mas
podemos ser amigos e quem sabe um dia não possa nascer o amor
dessa nossa amizade. Boa noite, Agnes.
— Boa noite, Gregory. — Saio e ajudo ele a tirar Hanna do
carro.
Ela está chorando se perguntando: “Por que Raphael a
abandonou quando ela mais precisou dele?” Gregory está sério.
Ajudo a levá-la para e dentro de casa, e Gregory me leva até a porta
de casa e beija a minha testa. Entrei e tranco a porta. Tomei um
banho e me deito olhando para teto pensando em Nick.
Deixa de ser idiota! A essa hora ele deve estar com ódio de
você e com uma mega modelo ao lado. Demoro a adormecer com
meus pensamentos confusos.
Acordei tarde, tomei meu café e fiquei na cama. Estou de folga
nessa segunda e vou tirar o dia para mim. A tarde estava assistindo
filme quando a campainha toca, vou até à porta e pelo olho magico
vejo Hanna de casaco e calça jeans, com cara de ressaca e abro a
porta.
— Oi, Hanna. — Ela sorrir e me abraça.
— E aí? Fala que pegou meu irmão de jeito, que já fez algum
sobrinho e que já marcou o casamento? — Ela entra e se senta no
sofá. Fecho a porta.
— Nos beijamos, mas foi só isso.
— Só? Gregory está ficando mais velho e lento. — Fico rindo.
— Não é ele o problema, gosto de outro. — Ela me olha séria.
— O homem de quem você está fugindo!— Fico paralisada. —
Notei que você fugia de alguém no dia que alugou o apartamento,
sou sua amiga e posso ajudar. Eu não vou falarcom ninguém. Juro.
— Olho para ela nervosa e fecho os olhos. —Agnes não vou te
julgar, mas suponho que você precisa desabafar. Eu sei que você
vai a outra cidade, todo domingo no mesmo horário. É para falar
com alguém? — Soluço. Ela levanta correndo e me abraça. —
Calma, estou falandonisso porque quero te ajudar. Pode confiarem
mim.
— Como você descobriu?
— Quando você chegou, estava muito assustada e sempre
olhando para todos os lados. Vi quando você saiu da cidade, estava
de moletom e boné, não queria ser reconhecida. Ele é um
perseguidor? Te agrediu? Meu tio é policial ele pode te ajudar, mas
damos queixa. Ele tem bastante conhecimento, te daremos
proteção. — Limpo as lagrimas e olho para ela.
— Ele não me agrediu. — Não posso contar do sequestro, não
quero que Nicolas seja caçado ou que use seu conhecimento contra
Hanna e sua família. Vou contar apenas parte da história. — Minha
amiga da onça era noiva dele e pegou meu carro emprestado para
fugir sem me avisar.
— Que vaca! Me dá o nome que dou na cara da vadia. — Fico
rindo limpando as lagrimas.
— A idiota aqui foi avisar ao noivo abandonado que passou a
acreditar que eu era cúmplice. Ele pagou as duplicatas de minha
loja e me chantageou para ficar como acompanhante dele. Ele era
carinhoso, atencioso e amoroso, mas eu sempre pensei que
começamos errado. Ele não ia aceitar que eu o deixasse, então fugi.
— Resumo a história.
— Entendo. Qual o nome dele? — Fico pensando se respondo
ou não.
— Nicolas Marino. — Ela me olha algumas vezes, retira o
celular do bolso da calça e digita. Depois de um tempo vira para
mim, tem uma foto de Nicolas de smoking. Fico sorrindo.
— Nicolas Marino das empresas Marino? — Confirmo com a
cabeça. Ela lê a reportagem. — Sua amiga era a Giulia Conte, a ex-
noiva e você é a misteriosa mulher pivô da separação?
— Sim. — Ela está vendo as fotos e coloca a mão na boca
virando o celular para mim. Vejo a foto de uma festa onde ele
segura minha cintura, estou de lado. Uma das poucas fotos que ele
permitiu tirar. — Nicolas não gosta de tirar fotos em eventos. Vou
todo domingo para outra cidade ligar para Glória, a governanta dele
que me ajudou a fugir, mas agora Nicolas sabe que ligo para ela e
deve estar me procurando. Não vou ligar mais.
— Ontem?
— Fui atrás de Giulia, ela fugiu com Antoni. Ele me ajudava
quando tinha muito trabalho. Sabia o endereço dos pais dele e em
alguns domingos eu viajava para a cidade onde eles moram, até
que o segui e descobri onde eles moram.
— Você foi tentar convencê-la a falar a verdade para Nicolas?
— Confirmo com a cabeça e volto a falar
.
— Ela disse que não ia falar, que não ia prejudicar o
casamento dela, mas Antoni chegou e ouviu tudo. Falou que ia
conversar com Nicolas. Acredito que ele sabendo a verdade vai
parar de me procurar. — Fico triste, mas é melhor assim. Penso e
Hanna me tira dos pensamentos.
— Ele vai saber a verdade, mas acredito que ele vai te
procurar, não costumo me enganar e acho que ele sente algo por
você. — Fico olhando para ela e julgo que só se for remorso, mas
duvido que ele tenha isso. Nicolas é um jogador e não gosta de
perder.
— Talvez, mas realmente preciso resolver minha situação com
Nicolas. Talvez até uma separação e quem sabe seu irmão e eu não
tentamos. — Ela sorrir e me abraça.
— Sabe que quero sua felicidade, seja com meu irmão ou com
seu Nicolas, mas vou ficar feliz em te ver feliz. Seu segredo está
guardado, não se preocupe.
Ficamos mais um tempo conversando e ela vai embora.
Diferente de minha amizade com Giulia, sinto que posso confiar em
Hanna.
NICOLAS MARINO

Passaram-se três meses desde quando Giulia e seu marido


me procuraram, e não tenho uma pista se quer de onde Agnes
possa estar.

Todos os dias me agarro a esperança de que Glória me deu


sobre ela ser uma sobrevivente e não quer ser encontrada. Então
está disfarçando as pistas, mas deixei meu detetive e sua equipe
sobreaviso. Estou em um shopping popular avaliando a ampliação
da praça de alimentação.
Uma de nossas construtoras está com o projeto e a planta feita
por Raphaelo está impecável, pois ele é o melhor nesse tipo de
projetos. Estou olhando o movimento das pessoas enquanto os
engenheiros apontam para todos os lados, apresentando as
mudanças. Uma parede de vidro que deixará com uma bela vista da
praça e do chafariz do outro lado da rua.
Um movimento na multidão me chama atenção, uma mulher
com os cabelos longos e volumosos. O cabelo é lindo, mas está
com umas mechas azuis horrorosas. Não sei o que esses jovens
têm na cabeça. Penso e lembro de minha mãe que me chamava de
“ancião de mente” sorrio e continuo a olhar a mulher, que está a
uma distância considerada. Algo nela me prende a atenção.
Desde quando Agnes fugiu, nenhuma mulher me chama
atenção. Parece um castigo por minha soberba, mas essa está me
deixando excitado mesmo à distância. Meus pés começam a andar
em direção a mulher que está com um macacão de serviço verde
com letreiros laranja, uma cor horrível. Peguei fetiche por operárias,
sou patético. Ela paga o caixa e agradece. Quando vira sorrindo não
acredito no que vejo.
— Agnes? — Falo baixo e nossos olhos se encontram. Vejo
seu medo. Ela se vira e corre. — Agnes! — Grito e saio correndo
empurrando as pessoas que me xingam. A vejo entrar em uma porta
que está escrito “somente funcionários”Não ligo e entro correndo.
— Agnes! Está tudo bem? — Escuto uma voz preocupada.
— Sim. Só não vi a mercadoria.
— Quer que eu ligue para Gregory?
— Não. Ele está ocupado, não vamos fazer confusão por isso.
Meu pé está legal, posso dirigir de volta. — A vejo falando com um
senhor, ela está sentada no chão massageando o pé.
— Agnes? — Ela me olha séria e desconfiada. — Você está
bem? — Vou me aproximando, o senhor pede licença e sai. Ela
levanta e bate a mão tirando a sujeira do uniforme.
— Ótima. — Ela responde sem dar muita conversa.
— Eu estava te procurando, fiquei preocupado. Você não deu
notícias.
— Para você me sequestrar de novo? Ou para me dar de
presente a algum amigo? Afinal sou uma “mulher dispendiosa”. —
Fico na defensiva, ela escutou mesmo a conversa Raphaelo, como
Glória havia me falado e vou com calma.
— Antoni e Giulia me procuraram. — Ela se senta novamente
no chão massageando o pé e finge que não me escuta. — Tudo
mudou, agora sei a verdade.
— A verdade? A mesma que eu te falava e você dizia que era
mentira? E você acredita agora por quê? Porque não sou eu que
faleipara você, afinalsou uma mentirosa. Sinceramente Nicolas, vai
embora. Refiz minha vida, tenho um emprego. Vai viver a sua e me
deixa e paz.
— Refez sua vida? Como motorista de uma empresinha? —
Falo com desdém e ela se levanta furiosa.
— Um emprego descente, onde pago minhas contas, sem ter
que ficar me deitado por dinheiro. Ah! Esqueci, em seu mundo as
pessoas se vendem, afinal, sua ex-noiva você comprou em um
leilão. Para você isso é descente e normal. — Quando ela fala, fico
parado olhando essa Agnes que conheci antes de tentar moldá-la.
Mudo de tática.
— Nós precisamos conversar civilizadamente. Tenho que
resolver assuntos sobre sua loja. Venha, meu motorista nos leva. —
Ela encruza os braços.
— Não vou a lugar nenhum com você e muito menos com seu
motorista. Pensa que esqueci da última vez que fui burra ao entrar
naquele carro? — Lembro que dá última vez a prendi no chalé de
minha mãe. Ela está arisca e com razão.
— Agnes, a situação está diferente. — Ela nega com a cabeça
e seus olhos ficam marejados.
— Nada mudou. Não vou a lugar nenhum com você. A loja é
sua, faça o que quiser com ela. Estou em horário de trabalho. Adeus
Nicolas! — Ela se vira para eu não ver a tristeza em seu rosto
quando fala que não quer a loja, ela sabe que esse é meu trufo
sobre ela. Seguro seu braço e sinto uma descarga elétrica em meu
corpo, acredito que ela também sentiu.
— Agnes, por favor! Vamos conversar! — Ela puxa o braço e
me olha séria.
— Não temos mais nada o que falar, você tem sua verdade.
Viva com ela. Adeus. — Ela anda para parte dos caminhões de
entrega e vai falar com alguém assinando algumas pranchetas.
Peguei o celular, disco o número do detetive e volto para dentro
do shopping.
— Dominic! Procure em que cidade fica a empresa Família
doceira. Agnes trabalha lá. Quero toda rotina dela. Obrigado. —
Desligo e volto onde estão os seguranças me procurando. — Estou
bem, vamos embora.
Domingo de manhã estou na cozinha bebendo um café
enquanto Glória canta fazendo o almoço. Pego a pasta de Agnes e
vou ler. Ela alugou um pequeno espaço onde vive e trabalha para
um homem chamado Gregory D’ Angelis, vejo as fotos deles dois
sorrindo. Ele é loiro, alto, cabelo bem cortado e barba bem feita.
Pego as fotoscom desgosto e vejo seu olhar de interesse em minha
mulher. Desgraçado! Está tentando ganhar espaço com ela.
— Filha! Meu Deus, que saudades! — Glória fala alto. Olho
para ela que está no celular. Faço sinal, ela coloca no viva-voz.
— Glória estava morrendo de saudades, salva meu número
novo.
— Número? — Ela me olha espantada.
— Sim. Ele me achou! E como sei que essa hora ele deve
saber até o que como no café da manhã, não preciso me privar de
ter um celular e falar com você! — Levanto a pasta e mostro para
Glória que nega com a cabeça em reprovação. Velhos hábitos de
meu avô.
— Me fala tudo filha! Eu sempre soube que você estava bem.
— Você sempre acreditou em mim. — Fico quieto só
escutando. — Glória, eu tenho uma vida longe da minha loja, mas
sinto saudades de lá. Aqui eu tenho amigos de verdade e não uma
como Giulia que me colocou como para-raios. Você acredita que
quando falei para ela que Nicolas me culpou, ela me disse que eu
superava? Perdi tudo, devido a seu egoísmo.
— Minha filha, Giulia é ruim. — Glória fala com tristeza.
— Acreditava que ela era minha amiga, sempre gosto das
pessoas erradas, mas isso vai mudar. Tenho uma amiga, a Hanna e
você precisa ver o irmão dela. — Ela fala sorrindo, eu viro a foto
dele para Glória que fazum sinal de positivo com o dedão e junto as
sobrancelhas com raiva.
— Como ele é? — Gloria pergunta animada.
— Um amor de pessoa. Bonito, educado e carinhoso. Queria
ter o conhecido antes de tudo isso, ele gosta de mim. — Ela suspira
e amasso uma folha que estava na mão.
— E você? Gosta dele? — Ela suspira novamente e estou
louco de ciúmes.
— Como amigo. Meu coração é um idiota. Ele gosta de quem
me fez sofrer, mas vou mudar isso. Refiz minha vida profissional e
agora vou, refazer a pessoal. Quero virar a página e reescrever
minha história. Quero ser feliz, amada e ter uma família.Ah! Glória,
tenho tantos sonhos. Vou fazer tudo novo, trabalhar e ter uma vida.
— Sorrio. Tenho uma chance e não vou deixar escapar.
Elas conversam sobre tudo e no final ela desliga prometendo
que vai ligar de novo, e Glória fala que vai salvar o número dela.
— Filho! Você tem uma chance sobre esse rapaz, mas é
melhor ser rápido, afinal ela está perto dele e você longe, mas
dessa vez faça o correto ou vai perder para esse russo aí. — Ela
fala apontando para a foto em minhas mãos. Fico pensando em um
plano.

Duas semanas e Agnes liga apenas para Glória, mas não
pergunta por mim. Estou parado próximo à casa onde ela alugou a
parte de cima, cheguei há vinte minutos e está escurecendo. Ela
está em casa, posso ver a movimentação pela janela. Abro o portão
e subo as escadas. Chego em sua porta e toco a campainha.
— Estou indo Hanna! — Ela grita abafado e abre a porta com
um sorriso lindo, que morre no rosto ao me ver. — Nicolas? — Entro
sem dar tempo de fechar a porta.
— Oi, Agnes. Uma vez que você não me procurou para
resolvemos a situação da loja, eu tomei a liberdade de vir por conta
própria. — Ela continua com a porta aberta.
— E entrar sem ser convidado? — Ela fala fechando a porta. —
Então fale!
— Não vai me oferecer algo para beber?
— Você não é visita e não é meu amigo.
— Vamos dar uma trégua? — Ela me olha séria. Faz que sim
com a cabeça e aponta para uma porta. Entro em uma pequena
cozinha. Sento-me em uma banqueta, ela vai até à geladeira e pega
uma jarra de suco. Coloca na mesa, com dois copos e senta me
esperando falar. — Nunca houve perda do móvel, o dono da
transportadora, com o dono da estante te deram um golpe. Meus
advogados conseguiram pegar uma indenização. Hoje você tem um
bom dinheiro no banco. Preciso que você vá até meu escritório
assinar alguns papéis. — Ela escuta atentamente como se decidisse
algo mentalmente.
— Posso ir na sexta depois do trabalho, vou falarcom Gregory.
— Ainda tem a loja. — Fico observando sua reação, ela dá um
pequeno sorriso e fica séria. Ela sabe que a loja era meu trunfo
quando a chantageava e pela experiência que tenho com os
negócios, ela vai fingir não ter interesse.
— Não a quero, ela é sua. Pode ficar. — Ela se levanta
visivelmente nervosa.
Que previsível, minha doce, Agnes.
Levanto-me e vou atrás dela, que se vira e vou andando
lentamente. Ficamos presos pelo olhar, ela não desvia e vejo desejo
em seus olhos.
Me aproximo e ela coloca a mão em meu peito para me fazer
parar sem sucesso. Vou descendo lentamente para um beijo. Seus
olhos estão fixos no meu e passa a língua suavemente nos lábios.
Muito sexy. A campainha toca. Agnes se desvia de mim e vai para a
sala e abre a porta.
— Agnes! Está tudo bem? Tem um carro estranho perto do
portão. — Escuto a voz de uma mulher.
— Tudo bem Hanna. Nicolas que trouxe alguns documentos e
está de saída.
— Boa noite. — Entra na sala uma mulher de calça jeans e
camiseta. Com os cabelos longos e uma leve maquiagem, fica me
olhando seria na defensiva. Elas são amigas e pelo seu olhar, fica
claro que está defendendo Agnes.
— Boa noite. Agnes te espero na sexta em meu escritório. —
Olho em seus olhos e ela morde o lábio inferior.
— Irei depois do meu trabalho. — Despeço-me e saio sorrindo.
Ela está magoada, mas ainda sente algo por mim. Não vou
perder as esperanças e vou ajeitar tudo. Assim que ela chegar,
minha secretária vai embora e terei todo tempo para reconquistá-la.
AGNES PETROVIC

Sexta de manhã.
A semana passou rápido e estou preocupada com esse
encontro com Nicolas. Por mais que ele saiba a verdade, não confio
no que ele possa fazer e pior, não confio em mim mesma. Pois, o
que sinto por ele é muito forte.
Trabalho em horário normal e deixo a van na empresa. Vou
para casa, tomo um banho e coloco um vestido rodado e curto, e
uma sapatilha. Pego uma mochila e coloco umas roupas, a
campainha toca. Abro a porta e Hanna entra rapidamente e
visivelmente nervosa.
— Amiga, tem certeza de que você vai? Sei que você não me
contou tudo, mas se encontrar com esse homem é seguro? — Olho
para ela que está preocupada.
— Sim. Nicolas não vai me machucar, não fisicamente. — A
olho e suspiro. — Se eu não aparecer para trabalhar na segunda ou
não ligar dando notícias, fala com seu tio da polícia.
— Certo. Você não está mais sozinha, sabe disso? — Confirmo
com cabeça e ela me abraça. — Resolve isso logo com ele e volta
para ser minha cunhada. — Ficamos rindo e a campainha toca. —
Está esperando alguém?
— Não. — Abro a porta e tem um chofer? O reconheço. É o
chofer de Nicolas, ele me olha envergonhado.
— Senhorita Petrovic, sou o chofer do senhor Marino. — Ele
faz uma saudação. Me lembro muito bem dele.
— Boa tarde. Avisa o senhor Marino que você perdeu tempo
em vir me buscar. Estou indo da forma tradicional.
— Mas senhorita, estou cumprindo ordens. — Suspiro. Por que
Nicolas tem que ser uma pessoa difícil?Ele pega um telefone e
posso ouvir sua voz alterada. Isso vai ser mais complicado do que
pensei. Olho para Hanna que está de braços encruzados ouvindo a
conversa. — O patrão que falar com a senhorita.
— Boa tarde. — Escuto seu bufar.
— Agnes quero seu bem-estar, são quase três horas de trem
até chegar aqui. Com o motorista você terá mais conforto, sei que
dei motivos para não confiar em mim, mas estou tentando mudar o
que fiz de ruim no passado. Aceite a carona. — Suspiro.
— Ela não está mais sozinha, meu tio é delegado. Só para te
avisar. — Hanna grita e Nicolas bufa.
— Agnes, tranquiliza a sua amiga, isso não é um sequestro.
Você estará de volta para trabalhar, se você quiser continuar.
— Vou com seu motorista, mas preciso de uns vinte minutos.
— O tempo que você precisar Agnes. Dessa vez vou fazertudo
diferente, vou ser melhor. Prometo. — Ele desliga e devolvo o
telefone para o motorista, que faz uma saudação e sai. Hanna me
olha preocupada e vou até ela.
— Preciso resolver isso, Hanna. Ainda tem meu antigo
apartamento, quero alugar. Nicolas falou que tenho uma
indenização pela fraude que sofri. Eu quero comprar aquela casa
que está à venda e morar aqui. — Ela sorrir.
— Sério?
— Sim. Quero trazer os móveis do apartamento, meu piano da
antiga loja. Preciso organizar minha vida, mas antes preciso resolver
com Nicolas. Sabe que eu ainda tenho sentimentos por ele. Tenho
que ver se vou ficar com ele ou virar a página.
— Você o ama. — Ela afirma e eu confirmo com a cabeça. —
Cuidado para não se machucar.
— Infelizmente, não posso te prometer isso. — Nos
abraçamos, pego minha mochila e desço entrando no carro. Hanna
fica no portão com um olhar preocupado.
Estamos em uma viagem tranquila. Estou cansada e acabei
dormindo. Acordei com o motorista me chamando, avisando que
chegamos e estamos em uma garagem.
Agradeço e entro no elevador de serviço. Coloco a mochila nas
costas e espero chegar no andar do escritório dele.
Fico pensando da última vez que estive aqui não deu em boa
coisa. Desço no vigésimo primeiro e vou até à porta de vidro escrito
“Construtora Marino”, um grande letreiro dourado. O andar todo e
da empresa de Nicolas.
Quando chego próximo, à porta de vidro abre e a secretária me
olha séria. Depois de um tempo sorrir.
— Senhorita Petrovic, senhor Marino a aguarda. — Ela vai até
à porta, me anuncia e deixa aberta para eu entrar. Fechando e
seguida.
Como dejavú, Nicolas sai do banheiro, mas dessa vez sorrindo.
— Não vim para consertar o frigobar. — Ele rir alto e vem até
mim. Me abraça e pega minha mochila, colocando em uma cadeira.
Que Nicolas e esse que não conheço? Ele volta e me dá um
selinho.
— Como está Agnes? Está linda. Jantou? — Faço que não
com a cabeça. — Venha! — Ele segura minha mão e me coloca
sentada na cadeira. — Vamos resolver as condições da loja e
depois podemos jantar.
— Não estou arrumada para isso. — Ele sorrir.
— Em minha casa. — Gelo, o maldito apartamento, penso e
ele parece notar. — Vendi o apartamento Agnes. Minha casa é
antiga, como Giulia falava: “o mausoléu”. Por isso comprei o
apartamento, também quero te mostrar algo e Glória está louca para
te ver. — Quando ele fala em Glória sorrio.
— Estou com saudades dela.
— Ela de você. Não se preocupe, pode ir embora a hora que
quiser. — Confirmo com a cabeça.
Ele explica tudo e mostra os valores em minha conta referente
a indenização pela fraude. Fico sorrindo, vou poder adiantar uma
boa parte da casa e com o aluguel garanto as parcelas do
financiamento.
— A loja, estou te devolvendo. Só você assinar os papéis,
pode ler e me devolver na semana que vem.
— Não a quero. Só vou pegar o piano e alguns objetos de valor
sentimental. Eu tenho uma vida longe disso tudo, e por mais que
você ache medíocre, me estabilizei. Sempre tive medo do mundo
fora da loja, mas graças a suas atitudes e de Giulia, vi que consigo
sobreviver sozinha. — Estou morrendo de saudades de minha loja,
mas não posso demostrar. Não sei o quanto posso confiar nesse
novo Nicolas.
— Agnes é um passo muito grande. Por que não pensa e dar a
resposta depois? — Ele fala preocupado e nego com a cabeça.
— Quando eu fugi, pensei que não conseguiria. Comprei o
bilhete para a cidade que vivo porque é bem longe dessa. Tinha
apenas parte do dinheiro da venda de meu carro e para sumir, eu
não poderia usar banco. Não tinha trabalho ou um lugar para viver,
estava com medo de ter que viver nas ruas. Estava sozinha desde
quando meu avô morreu, mas naquele dia eu realmente me senti
solitária. Eu não tinha ninguém por mim e se algo acontecesse
comigo, seria apenas uma indigente. — Ele se levanta e vem até
mim. Se agacha e me abraça.
— Sinto muito ter feito isso tudo em sua vida. Estava errado e
fiz um erro em cima de outro. Me perdoe?
— Já perdoei, mas não tenho uma vida aqui. Não tenho mais
nada nessa cidade. — Ele levanta a cabeça e me olha nos olhos.
— Nem a mim? Olha nos meus olhos e diz que não sente nada
por mim? — Fico parada olhando.
Todos esses meses eu senti saudades dele. De todos os bons
momentos que passamos. Tento apagar o que sinto, mas é muito
forte. Vejo ele se aproximar lentamente, não tenho reação, quero
muito sentir seus lábios nos meus. Fechos os olhos e sinto quando
sua boca encontra a minha.
Ele devora a minha boca com intensidade e sinto sua língua
pedir passagem. Abro a boca começando em uma dança sensual.
Ele me levanta sem parar o beijo e desce a alça de meu vestido.
Começa a beijar meu ombro e fala em um sussurro rouco.
— Sinto sua falta. — Ele me beija com paixão, eu o abraço
com as pernas. Senti muita falta desse cheiro, desse gosto e da
pegada.
— Nick. — Ele me deita no sofádeitando-se em cima de mim e
sorrir. Volta a me beijar, sua mão levanta meu vestido até a cintura,
colocando a mão dentro de minha calcinha. Desce uma trilha de
beijos até chegar no seio. Ele prende o bico no dente e dou um
pequeno gritinho. Ele conheça a lamber e chupar com força
beirando a dor. Adoro quando ele faz isso e introduz dois dedos. Eu
grito de prazer e seguro seus cabelos, querendo mais. Sinto quando
ele desce a minha calcinha, abro sua camisa, minhas mãos
vagueiam pelo seu corpo enquanto ele beija minha boca com
paixão, e seus dedos estão me enlouquecendo de prazer. — Quero
você! — Abro o cinto de sua calça e desço com a cueca. Ele retira a
camisa jogando no chão.
Ele toma novamente a minha boca e se posiciona na entrada
da minha intimidade, que está muito molhada. E me penetra com
força.Nicolas sempre foi intenso quando faz amor, gosto disso. Ele
me beija e me possui com investidas rápidas e ritmadas. Quando
chegamos ao auge, ficamos abraçados seminus no sofá do seu
escritório.
— A secretaria? — Falo nervosa e ele sorrir beijando meu
ombro.
— Foi embora e trancou a porta. Tenho a chave.
— Foi premeditando? — Ele rir e beija meu ombro novamente.
— Sim e não. Sim, porque quero uma chance com você e não,
porque não queria perder o controle, mas você me tira qualquer
senso de sanidade. — Ele aconchega mais em mim. — O que sinto
por você é diferente que senti com outras mulheres e não consigo
ficar longe. No passado eu sempre voltava para você. Me dê uma
oportunidade?
— Vamos tentar e ver se dar certo. — Ele me abraça mais
forte. Ficamos deitados nos curtindo e depois nos arrumamos.
Vamos para garagem, o motorista está nos esperando e abre a
porta do carro.
Durante a viagem para sua casa, Nick fica o tempo todo
abraçado fazendo carinho. Está tudo diferente de meses atrás, fico
com esperança que dessa vez pode dar certo.
O carro para e escuto um barulho de portão pesado se abrindo
e volta andar com um leve balanço, que parece uma estradinha de
pedra. Depois de um tempo, paramos e a porta é aberta. Ele sai e
me dá a mão para eu sair. Quando olho a casa em minha frentefico
sem palavras, as luzes iluminam uma casa antiga, parece uma
mansão que vi nos filmes. Tem dois homens de ternos parados na
varanda e um fala ao telefone.
— Meu Deus! Que lugar lindo! — Solto sua mão e vou andando
até a grande porta de madeira bordada e coloco as mãos sorrindo.
— Isso é perfeito.
— Aqui era a casa do meu avô, onde cresci, mas tenho casas
em outros países. Como muitos de meus negócios estão nessa
cidade, eu moro aqui por enquanto. — Eu viro sorrindo até que a
porta abre e tem um homem de terno.
— Senhor!
— Sem formalidades James! Essa é Agnes. Agnes esse é
James, ele era mordomo de meu avô. É como um pai para mim. Às
vezes é rabugento, mas você costuma.
— Nicolas não sei por que ainda me preocupo com você? — O
mordomo fala em um resmungo.
— Glória te coloca de castigo se você não o fizer. — Fico rindo,
não conhecia esse Nicolas.
— Filho! Até que fim chegou cedo, sabe que fico preocupada.
— Ela para de falar quando me vê, coloca as mãos na boca. —
Filha! Meu Deus! — Corre e me abraça. — Senti tantas saudades.
Como você está? — Ela segura a minha mão e me olha. — Está
mais magra. Tem se alimentado direto? Agora que você está aqui
vou cuidar muito bem de você. Vamos crianças!
Entramos e fico olhando tudo. A casa é linda, estilo vitoriano,
tem duas escadas no rol que vai para o andar de cima, cheia de
quadros. Olho para o teto todo bordado, estilo barroco.
— Aqui é maravilhoso! — Olho para Nicolas que está sorrindo
e me estende a mão. Seguro e ele me leva para uma sala com
grossas cortinas de veludo vinho e móveis de madeira maciça bem
conservados. Olho e vejo um piano de calda, maravilhoso. — Oh!
Meu Deus! — Vou até o piano e passo a mão.
— Era de minha mãe, por isso te pedia a valsa de Tchaikovsky,
ela sempre tocava para mim. — Vou até ele e o abraço.
— Sempre que quiser, toco para você. — Ele sorrir e me beija.
Segura na minha mão e me leva até o andar de cima, passamos por
um corredor longo com várias portas e quadros na parede. Ele abre
uma das portas e vejo um quarto lindo, todo masculino.
— Esse é meu quarto, ali é o banheiro. Tome um banho, depois
vamos jantar. — Ele me leva até a porta e beija. — Volto daqui a
pouco, pode ficar à vontade. — Entro no banheiro e fico encantada
com o local. Tudo arrumado de forma impecável.
Retiro a roupa e ligo o chuveiro. Espero a água esquentar e
quando entro, sinto a ducha quente em minha pele. Relaxo, pego o
sabonete líquido e sinto o perfume de Nicolas. Vou tomar um banho
relaxante, depois matar a saudade de conversar com Glória e
aproveitar o tempo que vamos ficar juntos.
NICOLAS MARINO

Saio de meu quarto sorrindo. Estou me sentindo vivo.


Vou até à cozinha e peço para Glória arrumar o jantar no
terraço e arrumar o quarto no segundo andar que era de minha
mãe. Caso Agnes não queira dormir no meu quarto. Vou dar-lhe
escolha, dessa vez vou fazer diferente.
Vou até o escritório e coloco os documentos no cofre, com a
pasta de investigação de Agnes. Ela não pode ver esses
documentos sobre sua vida, senão vai ficar muito zangada e não
quero desentendimentos.
Subo e quando volto ao quarto, ela sai do banheiro secando os
cabelos com uma toalha. Vestida de calça jeans surrada e uma
camiseta, linda com sua simplicidade. Essa é minha Agnes, penso
sorrindo. Vou até ela e a beijo.
— Se quiser descer e ficar com Glória na cozinha, fique à
vontade. Vou tomar um banho e jantamos no terraço. — Ela sorrir e
confirma com a cabeça.
Vou para o banheiro e quando saio do banho. Ela não está no
quarto. Ando até o closet, abro a porta e entro. Vejo a caixa de
música de minha mãe. Vou conversar com ela depois do jantar.
Pego uma camisa polo, uma calça jeans, um sapato confortável e
me perfumo.
Saio do quarto, desço a escada e posso ouvir a conversa
animada entre às duas na cozinha e as risadas de Glória, Agnes e
James.
Essa casa nunca foi alegre, meu avô a transformava em um
mausoléu. Somente a minha mãe trazia vida e quando ela morreu,
tudo ficou sombrio até hoje. Chego na cozinha sorrindo e ficamos
conversando. Agnes é muito animada, senti faltade sua companhia.
Depois que conversamos, pegamos o elevador até o terraço e
quando chegamos, posso ver alegria de Agnes ao olhar tudo. A
mesa está na parte coberta. James chega trazendo o jantar.
Jantamos e animada ela fala como o avô a ensinou a consertar
objetos antigos e a dirigir aos quatorze anos.
— Ele dizia que eu sou uma alma antiga em um novo corpo.
Que tinha o dom. — Quando ela fala isso lembro da minha mãe e a
caixinha de música. Ela dizia que quem tinha o dom conseguiria
consertar. — Gosto desse serviço me sinto viva, entende?
— O que você faz hoje, gosta? — Ela me olha e sorrir.
— Dá para pagar as contas e guardar um dinheiro, não posso
reclamar e Gregory é um ótimo patrão. — Fico sério, pois até aqui
comigo ela se lembra do desbotado.
— Onde você guarda dinheiro? Suas contas não tiveram
movimento por meses.
— No colchão. — Quando ela fala, solto uma risada e ela
começa a rir. — É sério! Fica no colchão. No banco para fazer
depósito é rápido, mas quando precisa? Não parece que você é o
dono do dinheiro. Eu deixo parte lá e parte comigo, assim consegui
fugir. — Ela fica calada e o clima fica estranho. Mudo de assunto.
— Vamos tomar café e tenho algo para te mostrar.
Tomamos caféenquanto ela falados serviços extras que faz na
cidade. Os idosos e as viúvas preferem que ela conserte os
equipamentos em vez de pedir a uma empresa que vai mandar
homens desconhecidos.
— Já voltou, quero te mostrar algo. — Vou até meu quarto,
abro o closet e volto com a caixa de música, e coloco na mesa.
— Você a trouxe. — Ela abre um dos compartimentos e pega
a chave e a bailarina, e a coloca no topo do castelo. Dar corda e
quando a música começar a tocar, ela sorrir. Quando a música
termina, ela volta falar. — A dona a deixou na loja para conserto há
cinco anos e nunca voltou, ela deixou a nota em cima do balcão
sem que víssemos. Ela disse que seu filho iria buscar, que eu o
reconheceria porque ele tem a segunda chave, mas esse filho
nunca apareceu.
Assim que ela termina de falar, tiro a chave e uma foto de
minha mãe do bolso da calça. Mostro para ela que coloca a mão na
boca.
— Você é o filho, mas onde ela está?
— Minha mãe morreu no dia seguinte, a acharam morta no
carro ligado na garagem do prédio do meu padrasto.
— Sinto muito.
Pego a minha chave e coloco na fechadura. Dou corda e não
toca.
— Sua chave não é de corda da parte da frente. Essa caixa
não é só um porta joias é um porta segredo, por isso o conserto é
difícil,se não souber como fazer você a estraga. — Ela tira à
bailarina e vai na parte de trás. Escuto um estalo e o castelo abre.
Tem outra pista de dança perto, ela coloca a chave em uma
fechadura ao lado e sorrir.
— Dê corda! Você é o filho dela. E pelo até onde meu avô me
ensinou, ela deixou algum segredo. Então! Só você pode abrir.
Dou corda e a bailarina começa a dançar. Quando a música
acaba, ouço um pequeno estalo onde é a pista e abre lentamente.
Vejo um papel dobrado. Pego tremendo. Fico um tempo olhando
para o papel até que Agnes segura a minha mão.
— Você não está sozinho, estou aqui. — Penso durante um
tempo e estendo para ela.
— Poderia ler, por favor? — Ela pega, abre e ler em voz alta.
Nicolas,
É estranho colocar Nicolas em uma carta, porque você sempre
será meu pequeno Nick.
Filho, deixei esse bilhete para que você o encontre na hora
certa e se você encontrou, é porque está tentando dar um sentido
em sua vida. Talvez esteja tentando mudar o que meu pai tenha te
ensinado.
Decidi ser necessário tirar seu padrasto das empresas e tenho
que fazer algo que talvez você não entenda, mas espero que
compreenda um dia. Estou cansada de viver assim, amargurada.
Sinto muitas saudades de meu grande amor.
Você é o que tenho de mais precioso na vida, você sempre foi
a razão de minha alegria e o motivo para eu viver, mas a vida
resolveu me dar mais um golpe e não tenho mais forças para
resistir. Me perdoe.
Cuide da empresa, mas não viva para ela. Tenha uma vida,
tenha filhos e ame. Se case por amor e não por acordo comercial,
como foi comigo. Quando esses acordos acontecem, muitos sofrem
no processo, principalmente os filhos.
Há muito tempo, fui feliz e amada. Nicolai, meu grande amor,
me deu o maior presente e o mais valioso de todos, que é você.
A vida é curta Nick, então viva intensamente, ame e seja feliz.
Adeus.
Eu te amo.
Elizabeth Marino
Agnes termina de ler e estou chorando. Minha mãe se matou
para que eu ficasse livre do acordo que meu avô fez com meu
padrasto. Sua morte me daria controle majoritário das ações,
conforme seu testamento.
— Meu Deus! — Levanto e coloco as mãos na cabeça. — Ela
se sacrificou por mim.
— Calma, Nick. Não vou te deixar sozinho. — Ela me abraça
por trás, viro de frente e abraço chorando. — Ela te amava e se
sacrificou por esse amor.
— Obrigado Agnes por estar comigo. — Beijo seus cabelos.
Ficamos abraçados em silêncio. Apoio é tudo que preciso agora. Me
sinto sozinho como nunca me senti na vida.
Pegamos o elevador e descemos. Mostrei para Agnes onde
vai ser o seu quarto e vou para meu. Tomo um banho, coloco a
calça de pijama e olho para teto.
Estou com um vazio no peito que nada preenche, sinto falta
de Agnes em meus braços, não sei como pedir para dormir em sua
cama.
— O grande Nicolas Marinho, com medo! Chega a ser irônico.
— Falo triste.
Saio devagar, abro a porta e meus pés me levam até a porta do
seu quarto. A porta abre sem eu bater e Agnes está com uma
camisa velha. Ela estende a mão para mim e assim que seguro, sou
puxado para dentro e conduzido até à cama. Me deito em silêncio,
ela se deita do meu lado, nos cobre, me abraça e me aconchegando
em seus braços e durmo.
Acordei de madrugada e Agnes está abraçada a mim. Fico
lembrando das palavras da carta “tentando dar um sentido em
sua vida, talvez esteja tentando mudar o que meu pai tenha te
ensinado.”
Ela encontrou Agnes primeiro, “tentando dar sentido a minha
vida?” Agnes lhe deu esperança e está me dando apoio mesmo
depois de tudo que fiz. Como ela pode ser bondosa assim? Sempre
vivi com pessoas que ajudam por interesse, mas ela ajuda por amor.
Fui um cego em não ver como ela realmente é. Tenho uma
chance e vou fazer todo possível para não a perder
.
AGNES PETROVIC

Ter Nick como namorado é mais difícil do que pensei. Olho


para ele de cara amarrada e passando as mãos no cabelo.

— Agnes sejamos sensatos, você não precisa voltar. Posso te


dar tudo que você quiser.
— Não quero nada financeiro, eu quero sentimentos. Tenho
um trabalho, uma vida lá fora. Não vou viver com você me
bancando.
— O que tem demais? Não estamos juntos? Tenho suficiente
para bancar o que você quiser. Casa, carros uma vida de luxo.
— Não vamos chegar a lugar nenhum assim.
Tenho que estar às oito da manhã em meu trabalho. Então vou
embora hoje e volto na sexta à noite.
— Vai ficar com ele! Aquele desbotado. Não vou aceitar
migalhas. Vai! — Ele grita e eu fico surpresa.
— Gregory? Você está com ciúmes dele? Ele é só meu
amigo. Não temos nada.
— Ele não olha para você como amigo. Eu sou homem e sei
quando olhamos com desejo. Ele te quer. Você é minha! — Ele grita
e suspiro.
— Para acontecer alguma coisa os dois tem que estar de
acordo. Vivo lá há seis meses. Você acha que se eu estivesse com
Gregory estaria aqui com você? — Ele fica calado, isso me
entristece. É isso que ele pensa de mim?
— Não, você não é assim.
— Quando cheguei na cidade, Gregory estava sem motorista
e fazia às duas funções. Ele me deu uma oportunidade sem me
conhecer e dei minha palavra de que não ia deixá-lo na mão. É
trabalho, nada mais. Entende? Nick? — Ele sorrir quando o chamo
de Nick e me abraça.
— Desculpe, para mim esse negócio de ser namorado é
novo. Eu sou ciumento e falo sem pensar.
— Você ia ser marido de Giulia. Você a amava ou tinha algum
sentimento? Você me odiava por ela te largar.
— Era um acordo comercial, eu viveria aqui e ela no
apartamento que levei você. Ela teria luxos, empregados e me daria
um filho. Esse era o acordo.
— Você seria feliz com isso?
— Se o negócio desse certo? — Ele dá de ombros.
— Sem amor?
— Ambos os lados sairiam ganhando. — Ele fala com
indiferença.
— Menos a criança. — Ele me olha surpreso. — Um filho de
contrato. O que seria da criança? Um pai viciado em trabalho e uma
mãe fútil.
— Nunca tinha pensado nisso. — Ele vai até o outro lado do
quarto e me olha assustado. — Por que você me faz ver que a vida
que eu julgava ser perfeita era uma bagunça?
— Suponho que seja destino. Conheci sua mãe e esperei
você ir pegar a caixinha de música. Mesmo sem saber que você era
o filho dela.
— Se Giulia não foge e coloca a culpa em você, talvez eu
nunca iria achar o bilhete da minha mãe. Nossas vidas são ligadas
desde antes de nos conhecemos.
— Então confia em mim. Sei que você é rico e para mim não
faz diferença. Você está acostumado com mulheres que são
sustentadas por homens poderosos e eu estou acostumada a me
sustentar. Sou trabalhadora, operária, com orgulho. Pago minhas
contas e coloco comida na mesa com meu suor.
— Eu sei e tenho orgulho de você, mas continuo não
gostando do Gregory. — Ele faz uma careta e me abraça.
— Temos o dia todo e a tarde vou embora, mas volto na
sexta. — Fico sorrindo,
— Venha conhecer o jardim, quero te mostrar algo. — Ele fala
sorrindo e saímos pelas escadas de acesso dos fundos. Chegamos
ao jardim e ele segura a minha mão.
— Apesar de morar aqui, raramente venho no quintal. Vivo
mais na empresa do que em casa. Desde que minha mãe morreu
não tinha mais motivo para voltar para casa cedo. Minha secretaria
me odeia, mas acredito que agora ela vai gostar de mim, pois vou
sair nos horários certos e sexta mais cedo para nos encontrarmos.
Ficamos em silêncio e olho tudo com um sorriso no rosto. É
lindo esse lugar, escuto um barulho de água.
— Tem uma fonte?
— Sim, vamos lá. — Andamos e quando chegamos perto, fico
maravilhada.
— É linda.
— Nuca vi graça, mas minha mãe a adorava. — Ele fala
indiferente.
— Peixes! Tem peixes, Nick! — Grito e fico rindo.
— Semana que vem podemos vir mais cedo e você os
alimenta. Você é simples, na primeira vez que saímosa levei em um
restaurante caro e vi seu nervosismo. Não ficou à vontade ou feliz,
mas jantar no terraço ou ver essa fonte te dá felicidade.
— Não me sinto à vontade em lugares caros, não sou chique
e não sei me vestir da forma que vocês gostam. E aquela comida
era horrível,não tinha gosto. — Paro de falarquando um movimento
na água me chama atenção. — Nick! Olha um vermelho. — Olho
para todos os lados e os peixes pulam se exibindo.
Passamos um dia agradável. Toquei piano, ficamos
namorando e a tarde vou embora morrendo de saudades e louca
para voltar, mas não posso abrir não de minha vida. Nicolas gosta
de controlar e se eu deixar, vai mandar até no que tenho que vestir.
Isso me faz mal. Chego em casa, entro e tranco porta. Pego o
celular e jogo a mochila no sofá. Sento-me e ligo para ele que
atende no primeiro toque.
— Nick, cheguei bem. Vou adiantar meu uniforme para
amanhã e te ligo antes de deitar-se.
— Vou ficar esperando. — Ele fica em silêncio, como se
quisesse falar algo e suspira. — Até mais tarde. — Falo um até e
desligo sorrindo.
Estou separando o uniforme quando a campainha toca. Vou
abrir e é Hanna.
— Amiga, me conta tudo. — Ela entra sorrindo trazendo um
dos bolos que Gregory faz que adoro. Faço suco e conto tudo para
Hanna, até da nossa discussão. Ela fica séria.
— Ele gosta de você, mas acredito que tudo isso é novo para
ele. Você vai ter que ter paciência e ser firme no que quer.
— Como você consegue ser sábia assim? — Ela sorrir triste.
— Nem sempre fui, sou mãe solteira e talvez Anna Raphaela
nunca conheça o pai.
— Quem é o pai dela? — Ela pensa como se medisse o que
vai falar. — Se não quiser falar, não precisa.
— Estou pensando na maneira certa de falar sem te chocar.
— Não vou te julgar Hanna. Você sabe da minha história com
Nicolas e agora que estamos juntos, você não está me condenando,
mesmo sabendo de nosso passado.
— Conheci Raphael em uma boate, sexo sem compromisso,
mas fizemos a bobagem de trocar telefone. Então o que era casual,
virou corriqueiro. Toda semana a gente se encontrava na boate e
íamos para o motel. Depois de seis meses juntos, eu me apaixonei.
Em uma noite durante o sexo devo ter falado que o amava. Ele
sumiu, não atendia minhas ligações para nossos encontros. O
remédio falhou e descobri a gravidez. Liguei muito para ele e nada.
Depois, quando estava perto de Anna nascer, liguei e alguém
atendeu. Tive esperança de que mesmo que não ficaríamosjuntos,
minha filha iria conhecer o pai, mas o número estava com outra
pessoa. Ele desfezpara não ter mais contato comigo. — Ela chora a
abraço.
— Sinto muito, Hanna. — Ficamos abraçadas. — Não tem
possibilidade de você encontrá-lo?
— Não sei nem se o nome dele realmente é Raphael ou se
era um nome falso. Nunca falamos nossos sobrenomes. Sou muito
boba, dei o nome de minha filhade Anna Raphaela para ela ter pelo
menos isso do pai. Ainda sou apaixonada pelo traste.
— Ele nunca te falou no que trabalhava?
— No ramo de construção, julgo que no administrativo.
— Nicolas é do ramo das construções, ele pode ajudar.
— Não precisa, se ele quisesse me encontrar teria atendido
as ligações. Ele sabe em que cidade vivo e nunca me procurou em
cinco anos. Raphael é passado. — Converso mais um pouco com
Hanna e ela vai embora.
Antes de dormir, liguei para Nick e ficamos conversando. Ele
fica lamentando porque não estou ao seu lado e eu também estou
sentindo sua falta. Porém não vou ceder, preciso reorganizar a
minha vida e não vou desistir.
Pela manhã vou para o trabalho e Gregory está falando
pouco e vai para sua sala. Depois de um tempo, bato na porta.
— Entra! — Entro, ele me olha sério e suspira. — Agnes eu
não tenho que me meter em sua vida, estou chateado, mas não é
sua culpa. Sei que não mandamos nos sentimentos, então cuidado!
Não quero te ver sofrer. Você é uma boa garota e não me iludiu.
— Me desculpa, Gregory. — Ele levanta e me abraça.
— Somos amigos, lembra? — Ele beija minha cabeça. —
Sabe que torço por sua felicidade. Acho bom aquele engomadinho
te tratar bem ou quebro a cara dele. — Fico rindo.
— Okay.
— Boa menina, agora vamos ao trabalho. — Ele solta do
abraço e saio de sua sala rindo.
A vida podia ser mais fácil. Eu poderia ter me apaixonado por
Gregory, mas meu coração ama Nicolas e nada muda isso.
AGNES PETROVIC
UM MÊS DEPOIS

Sábado à tarde.
Amarro o roupão. Hoje temos uma festa beneficente e em um
dos quartos da casa, está uma equipe de maquiadores e
cabeleireiros me esperando. Todos sob a ordem do meu namorado
sobre como devem me arrumar.
— Você aguenta Agnes, é só uma festae Nick vai estar do seu
lado. — Falo comigo mesma e suspiro. Prendo mais o roupão.
Nicolas conhece bem o que precisa ser feito,mas diferentedas
maquiagens de Hanna, eles me colocaram como uma boneca.
Cheia de pintura, como foi na última festa. Não conseguia rir,
parecia que meu rosto ia quebrar de tanto que minha pela ficoudura
e repuxada.
Vou andando até o quarto, bato e entro em seguida. Tem duas
mulheres e um homem que logo veio sorrindo.
— Boa tarde, senhorita. Estamos com instruções do senhor
Marino referente ao seu cabelo, escova e penteado. Sem
modificaçãode fiosou cortes, sente aqui. — Ele me conduz até uma
cadeira e começa a passar as mãos nos meus cabelos. —
Maravilhoso e com um corte perfeito.As mechas? Nem tanto. — Ele
pega um laptop, coloca em cima da mesa, começa a digitar e vira
para mim. — O penteado está a sua escolha, mas na minha humilde
opinião, esse vai ficar perfeito. Pois, você tem um rosto de menina.
Esse vai te dar um visual mulherão sem ser vulgar.
— Gostei. Vai ficar perfeito.
— Ótimo. Vamos meninas. A senhorita tem que ficar
estonteante para seu bofe. Mostrem as maquiagens e esmaltes.
Senhor Marino odeia atrasos. — Elas abrem as maletas, vejo muitas
cores e fico perdida.
— Espera. Nicolas não escolheu a maquiagem?
— Meu amor, ele só deu orientação para não estragar seu
cabelo. Mandou trazer esse arsenal de vestidos para sua escolha.
— Ele aponta para o lado e vejo um suporte de varal com vestidos
de várias cores. Ele sempre escolhia tudo antes. Levanto e vou
olhar os vestidos. Tudo com etiqueta da loja. Isso deve ser
caríssimo. — Senhor Marino pediu a melhor moda de Paris. Vinte e
cinco vestidos dos melhores estilistas. O homem tem bom gosto,
sortuda. Não tenho essa sorte, gato e com bom gosto.
— Espera um pouco, preciso resolver algo. — Saio correndo
descalça pelo corredor, desço a escada e chego no escritório do
Nicolas. Bato de leve na porta e escuto um entre. Assim que entro
ele me olha sorrindo. Quando me vê aflita, fica preocupado. — Nick
os vestidos?
— Não gostou? — Ele pega o celular e disca rapidamente. —
Minha mulher não gostou dos vestidos. Eu pedi os melhores e mais
recentes da moda de Paris. O que vocês me mandaram? — Ele fala
com raiva.
— Nick eu gostei. — Falo apertando as mãos.
— Ela gostou. Meus advogados vão fazer a transferência do
que ela escolher. Obrigado. — Ele desliga sorrindo.
— Nick, é uma fortuna em roupa! — Ele olha sem entender e
fica sério. — Tem mais de vinte vestidos de grife, em anos de
trabalho só consigo comprar a alça de um daqueles. — Ele rir alto.
— São vinte cinco e todos seus. Na próxima festa mando trazer
mais.
— Nick, é uma festade aproximadamente três horas. Para que
eu preciso de vinte e cinco vestidos de grife? Só vou usar um, não
tem como alugar? — Falo nervosa. Ele rir, se levanta e me abraça.
— Minha Agnes, para que alugar? Se você quiser todos os
vinte e cinco são seus, dessa vez quero que você escolha sua
roupa. — Coloco a cabeça em seu peito. — Não gostou? Peço para
trazer de outros estilistas, mas esse é o melhor.
— Eu não sei escolher roupas como essas. — Falo triste. Ele
solta do abraço, coloca a mão em meu queixo levantando e me olha
com carinho. — Escolho motor, peças e matéria-prima, mas não sei
me vestir assim. Estou apavorada. Estou com medo de te
envergonhar. — Ele beija meus lábios e sorrir.
— Então vamos fazero seguinte, eu escolho o vestido e você a
maquiagem, e o penteado. Okay? — Confirmo com a cabeça. —
Ânimo minha pequena valente. Estarei ao seu lado. — Começo a rir.
— Vamos.
Saímos de mãos dadas até o quarto e o rapaz quando entro
está afoito.
— Senhorita, ainda vou ter um infarto. — Ele olha para Nicolas
e para de falar. — Fiz algo errado? — Ele pergunta preocupado.
Todo mundo tem medo de Nick?
— Não. Está perfeitoe Nick vai me ajudar a escolher o vestido.
Vamos! — Falo animada e ele sorrir.
— Vamos começar pelos cabelos, enquanto senhor Marino
escolhe sua roupa. Você vai ficar um arraso. — Ele começa a
escovar meus cabelos enquanto uma das mulheres faz as minhas
unhas. Pedi apenas um esmalte claro. Olho Nicolas que pega três
vestidos e olha atentamente. Dos três ele vira para mim um de
branco com alças nos ombros e um corpete bordado com pedras.
Muito lindo, com decote não muito ousado e um corte perfeito.
Sorrio em aprovação.
Ele coloca separado e vem até mim. Me beija e sai. Peço uma
maquiagem leve e fazem um penteado moderno. Quando o rapaz
termina, agradeço e vou me vestir. Vou para o closet e me olho no
espelho de corpo todo.
— Essa sou eu! — Falo surpresa. Ficou perfeito.
Estou girando quando algo me chama atenção em uma das
prateleiras. Uma caixa de música em forma de piano. Ela é muito
antiga, está com a pintura velha, na cor escura com dourado. Esse
quarto foi da mãe de Nick, ele me falou que ela tinha dois quartos.
Um, no andar de cima e outro no de baixo, só que nunca entendi o
porquê, deve ser coisa de gente rica.
— Agnes! — Saio do meu transe da caixinha e olho para Nick.
Está lindo vestido com um smoking preto e sorrio. Volto a olhar para
a caixa de música. — Minha mãe adorava essas caixas. Ela
comprou algumas em um mercado de antiguidades uma semana
antes de sua discussão com meu avô. Ele infartou naquele dia e
ficou em coma por meses. Amanhã você a pega se quiser tentar
consertar! Ela não funciona, agora estamos atrasados e você está
perfeita.
— Você está lindo. — Vou até ele e o beijo que me puxa
intensificando o beijo e me encostando na porta do closet. Ele para
e beija suavemente meu pescoço.
— Se não tivéssemos atrasados... Vamos logo! Preciso
representar o instituto de caridade de minha mãe, mas antes... —
Ele tira um estojo do bolso e abre. Tem uma joia linda em ouro
branco com diamantes.
— Não posso usar isso. Nick se eu perder? — Ele sorrir.
— O seguro cobre. É meu presente para você. — Fico
preocupada. O que vou fazer com essa joia caríssima?
— Mas depois você deixa em seu cofre? — Ele confirma e o
deixo colocar, em seguida coloco os brincos.
A festa está belíssima. Eu me sento um peixe fora d'água, mas
diferente das outras festas que fui das outras vezes, aqui as
pessoas são mais gentis. Nicolas me apresentou a todos como sua
namorada e agora ele está no palco fazendo um discurso.
— Boa noite! Obrigado por estarem aqui nessa noite fazendo
parte do sonho de minha falecida mãe. Elizabeth Marino, fundou
esse instituto quando eu tinha três anos. Ela se preocupava com
jovens que são mães solteiras ou viúvas e não tem o apoio de suas
famílias. Meu pai foi um operador de máquinas das indústrias
Marino e faleceuem um atropelamento quando eu tinha dez meses,
e quando fiz um ano meio, meu avô nos acolheu e me criou como
um filho. Muitas das moças que o Instituto Elizabeth acolhe não têm
o apoio de seus familiares e algumas são de famíliashumildes que
as apoiam, mas não tem muito para ajudar. Nossa instituição hoje
tem creche/escola e as mães têm emprego garantido em nossas
fábricas, além de contado com seus filhos nos horários do
expediente. Garantimos cesta básica e acompanhamento médico
para as família
s cadastradas em nossa instituição. Hoje com suas
doações, iremos ampliar os atendimentos médicos e daremos
melhores condições de vidas a essas famílias.Muito obrigado, por
manter vivo os ideais de minha mãe e por ajudar todas as famílias
que nos procuram em busca de auxílio. — Todos aplaude de pé e
Nicolas agradece voltando para a mesa. Segura a minha mão e
vamos para a pista de dança. Posso senti-lo tenso, deve ser por
causa das lembranças da sua mãe.
— Ela devia ser uma mulher maravilhosa e preocupada com o
bem-estar do próximo. — Falo baixo em seu ouvido.
— Meu avô só não acabou com o instituto porque ganhava
incentivos fiscais, e sua filha era bem vista socialmente como a
salvadora dos necessitados. Isso dava um status para os Marinos.
— Ele fala em meu ouvido — Ele era um homem calculista e me
treinou para ser como ele. Em estudar as fraquezas e as
possibilidades, mas eu mantenho a instituição porque é o que restou
da lembrança de minha mãe. Esse instituto e ajudar as pessoas era
o seu sonho, essas mulheres conseguem seguir suas vidas de
forma digna, graças ao ideal de minha mãe. Eu a amava Agnes e
fazia qualquer coisa para vê-la feliz.
A música acaba e vejo o semblante triste de Nick que pede
para eu esperar enquanto vai pegar uma bebida para nós dois.
Estou pensativa sobre o que ele me falou, até que uma voz me tira
dos pensamentos.
— Pode usar diamantes e última moda de Paris, mas ainda é a
mesma operária pobretona, desajeitada, com cara de menina suja.
— Me viro e vejo Alessandra.
— Sou operária, mas honesta e não jogo minhas
responsabilidades no nome dos outros, Alessandra. — Ela fica
pálida e a encaro. Quando ela vai responder, um senhor muito
bonito, com barba bem feita e cabelos cortados. Usa um terno
impecável e para ao seu lado.
— Alê, minha filha! Você não me apresentou a sua amiga. —
Ele me olha com interesse, mas demostra respeito, diferente de
Alessandra que está séria.
— Papai essa é.
— Agnes Petrovic, minha namorada. — A voz de Nicolas faz
Alessandra estremecer. Ele me dá uma taça de champanhe e me
segura pela cintura. — Saymon Heinz. Não nós encontramos há
algum tempo. — O pai de Alessandra sorri e estende a mão para
Nicolas, e aperta. Depois segura minha mão e a beija sorrindo.
— Tem sorte meu amigo, uma mulher com a mão calejada de
trabalho. Mulheres assim são valiosas e raras. Pena que minha filha
puxou a futilidade da mãe. Agnes nunca tenha vergonha de um
trabalho honesto, independe do que você faça para viver. — Ele
sorrir e se despede de nós. Quando Alessandra vai passar, Nicolas
solta minha cintura e segura firme no braço dela. Quando ele fala
me dar um arrepio, pois era esse tom frio que ele usava quando me
julgava como uma mulher sem escrúpulos.
— Eu sei o que você fezcom Giulia, então vou te dar um aviso.
Fique longe de Agnes, não caio mais nas suas armações. Você
nunca teve contato com ela e tudo que você falou era mentira.
Então, estou te dando um aviso! Não se aproxime de nós
novamente.
— Vai fechar minha loja? — Ela fala em deboche. Nicolas fica
com aquele olhar de ódio que tanto temia.
— Fuad Bin quer uma quarta esposa. — Ela engole seco e fica
apavorada. — Sabe que posso convencer seu pai que o casamento
será ótimo para nossos hotéis em Dubai e Fuad ficou muito
interessado em você na última visita. Ele não ficouincomodado com
o vexame que você deu e falou que mulheres como você tem como
moldar com castigos e disciplinas. Que ele te faria uma ótima
esposa honrada, obediente e fiel.
— Ele tem idade para ser meu pai e tem famade ser cruel com
suas três esposas. — Ela fala apavorada e Nicolas sorrir.
— Boatos dos fofoqueiro
s. — Nicolas responde com
indiferença. — Mas se pensar em se levantar contra Agnes, você vai
descobrir na própria pele que os boatos podem ser verdadeiros. —
Ele solta o braço de Alessandra que sai pálida. — Vamos para casa!
Essas pessoas por mais que se mostrem boas, não são. Somos
ruins, perversos e maldosos, vemos e tiramos vantagem de tudo e
de todos. Não somos como você, nenhum de nós. Não se engane.
— Estamos no carro. Nick está calado durante a viagem e muito
pensativo.
— Obrigada por me defender, tirando Hanna há muito tempo
que luto sozinha. — Ele me olha e sorrir. Aproximo os nossos rostos
e o beijo. Nick me puxa para seu colo e beija meu pescoço. Vejo
quando sua mão vai até um botão e sobe uma proteção, nos
isolando de seu motorista.
— Agora você vai descobrir por que escolhi esse vestido. —
Ele desce a alça, coloca meu seio na boca chupando forte, seguro
seus cabelos e empurro meu corpo para frente em aprovação.
Suas mãos levantam meu vestido, ele me coloca deitada no
banco e retira a minha calcinha lentamente, e guarda no bolso.
Desce o rosto entre minhas pernas, mas antes me olha e posso ver
seu desejo. Sinto quando ele lembre meu clitóris e suga forte. Me
controlo para não gritar com o prazer intenso e sinto quando ele
entra com dois dedos. Ele me tortura com os dedos e a boca até
que chego ao auge do prazer, estou respirando pesadamente. Ele
se senta no banco, me puxa para seu colo e me beija. Sinto meu
gosto em seus lábios. — Estamos chegando em casa, essa noite vai
ser muito prazerosa para nós dois. — Voltamos a nos beijar até que
o carro para, ele ajusta meu vestido e abaixa um pouco o vidro. —
Obrigado Alonso, bom descanso. — Ele volta a subir o vidro e
algum tempo depois saímos do carro.

Acordo e olho para lado. Nick está dormindo de costas, fico
admirando seus músculos e sorrio. Seu cabelo está bagunçado e a
noite foi maravilhosa, me aconchego mais a ele e durmo.
Domingo à noite volto para meu apartamento, arrumo meu
uniforme para trabalhar no dia seguinte. Pego meu caderno de
anotações e vejo o material que tenho que comprar. Coloco a folha
no bolso do macacão e sorrio.
— A vida está sendo boa, estou apaixonada e feliz.Tenho meu
trabalho. Tudo está perfeito. — Sorrio e coloco tudo na cadeira. Vou
ao banheiro e antes de deitar-se, mandei uma mensagem para Nick
que responde rapidamente. Fico sorrindo e durmo.
Acordo antes do celular despertar e tomo um banho. Coloco o
uniformee façoum café.Confiroa lista no bolso do uniformee pego
os documentos, e a chave da van. Saio e vou para o trabalho.
Faço as entregas na cidade vizinha e por volta das quatro da
tarde acaba o expediente. Saio do shopping onde fiz as últimas
entregas de bolo e vou nas lojas de peças. Tenho que entregar
alguns serviços e amanhã conserto o aquecedor da senhora
Mercedes. Olho para céu limpo da tarde, mas está uma leve brisa
fria. Fico observando as pessoas andando e algumas com crianças,
e sonho com o dia que terei meus filhos.
Vou andando distraída cantando baixo uma canção que toca
nos fonesde ouvindo, olho para céu e sinto uma pancada na perna,
e sou levantada do chão. Foi muito rápido e sinto o impacto quando
caio e tudo fica somente escuridão.
NICOLAS MARINO

Estou sentado na mesa do meu escritório sorrindo e olhando


para aliança de noivado com um rubi.

Em duas semanas Agnes vai fazer vinte e três anos. Vou fazer
meu pedido de casamento, sei que ela vai aceitar e pretendo
realizar nosso casamento em no máximo três meses.
Levanto e olho para a cidade sorrindo. Nicolas Marino
sorrindo? O que uma pequena operária está fazendo com o temido
homem de negócios? Está virando minha cabeça. Meu telefonetoca
me tirando dos pensamentos.
— Alô. — Falo aflito.
— Bom dia. Senhor Nicolas?
— Sim.
— Falo do hospital municipal, a Senhorita Agnes sofreu um
acidente e o seu número estava como contato de emergência.
— Ela está bem?
— Não podemos dar informaçõespelo telefone,são normas do
hospital.
— Tudo bem, me passa o endereço. Estou indo. — Anoto o
endereço e chamo o motorista. Chego afoito no hospital e vou até à
recepção. Uma atendente me olha sem interesse. — Minha
namorada está nesse hospital, sofreu acidente. Seu nome e Agnes
Petrovic. — Ela olha para a tela do computador e digita.
— O médico vem falar com o senhor. — Fico andando de um
lado para outro até que meu telefone toca em sinal de mensagens.
Pego do bolso e quando desbloqueio a tela, fico paralisado olhando
as mensagens.
O que é isso? Olho todas as fotos. Como ela pode fazer isso?
— Acompanhante de Agnes Petrovic? — Vou até o médico
meio perdido — Senhorita Agnes não sofreu nenhuma fratura.
Apenas alguns arranhões pela queda e um hematoma onde a roda
da moto bateu em sua perna, quando o motorista derrapou e caiu.
Fizemos todos os exames, ela está bem. Agora iremos fazer uma
ultra para confirmar se está tudo bem com o bebê.
— Bebê?
— Ela também não sabia da gravidez, está com
aproximadamente seis semanas. Queremos ter certeza de que o
feto esteja bem para dar alta. — Paro de escutar o que o médico
está falando. Ela tomava medicação, mas dizem que os métodos
anticoncepcionais não são cem por cento infalível,mas essa criança
não pode ser minha. Nunca fizermosnada sem proteção do remédio
ou preservativos. Ela estava com Gregory antes do voltar para mim.
Foi isso! Eu nunca lhe perguntei com medo da resposta, mas Agnes
estava sozinha, perdida e triste. Aquele desgraçado a seduziu. — O
senhor pode vê-la. — O médico fala me tirando dos pensamentos.
Vou seguindo sem saber o rumo.
Ele abre a porta e vejo Agnes com o olhar perdido. Com as
mãos na barriga, ela me olha e sorrir. Entro sério no quarto.
— Nick. Um bebê! — Fala mesmo assustada, mas sorrindo. E
fico olhando sério para ela. — Nick?
— Gregory já sabe que vai ser pai? — Ela me olha espantada.
— O quê?
— Esse filho é dele! — Aponto para sua barriga. — Você devia
ter me falado que ficou com ele, teríamos feito um exame antes de
ficarmos juntos.
— Eu não fiquei com Gregory! — Sorrio sem vontade.
— Agora vai dizer que esse filho é meu? Acha que acredito
nisso? Você ficou mais de seis meses nessa cidade, sozinha, triste
e com medo. Encontrou um amigo, um amante para esquecer o
canalha que eu fui. Eu nunca iria te recriminar por isso. Não sou
arcaico em pedir castidade, pois antes não tínhamos um
relacionamento, mas por que você não me falou? Por quê? Agora
pensa que vou acreditar que esse filho é meu? Eu sempre usei
preservativos, Agnes. Sempre! — Ela chora muito. — Adeus! —Não
espero resposta ou mentiras. Como queria que esse filho fosse
meu, mas nunca admiti traição.
Saio do hospital furioso. Se encontrá-lo, sou capaz de matá-lo
e deixar essa criança sem um pai. Ela devia ter me falado que teve
um envolvimento com Gregory. Estávamos separados, ela estava
sozinha e desprotegida. Ele deve ser aquele tipo de homem
carinhoso, eu teria entendido, mas o desgraçado me mandou uma
foto dos dois juntos em uma boate e a outra eles estão se beijando.
Não sou hipócrita de acreditar que uma mulher com a beleza
de Agnes não iria ter um relacionamento enquanto não estávamos
juntos. Entro no carro.
— Vamos para casa. — Fechei o vidro de ligação entre o
motorista e o passageiro, e fico olhando para o nada. Um filho de
outro homem, não posso aceitar isso. Peguei o celular e ligo para
meu advogado. — Dr. Charles, preciso de documento de uma
pensão em nome de Agnes Petrovic. Sim. O da loja ela não assinou
a documentação, preciso que o senhor a contate. Ainda tem as joias
e roupas. Quero que tudo seja entregue para ela o mais rápido
possível. Obrigado.
Chego em casa e vou direto para o escritório. Depois de um
tempo, escuto uma batida na porta e Glória entra como um furacão.
— O que deu na sua cabeça? Deixar Agnes sozinha naquele
hospital!
— Ela ligou para reclamar? — Ela estreita os olhos.
— O hospital me ligou e liguei para Hanna. O que você tem na
cabeça? — Glória grita e isso me dá raiva.
— Ela está grávida dele. — Grito de volta.
— Grávida?
— Esperando o filho do maldito do Gregory. — Joguei tudo da
mesa no chão em um acesso de fúria. Começo a socar a mesa.
— É seu filho! Ela não esteve com Gregory. — Glória a defende
e isso me dá mais ódio.
— Você sempre defende a pobre operária órfã e trabalhadora,
do monstro Marino que está destruindo a sua vida! — Pego uma
garrafa e jogo na parede. Glória está parada me olhando séria. —
Ele me fez assim, eu sou o que ele queria para que minha mãe não
sofresse. Eu só queria ter uma vida organizada, não preciso de
amor. Não acredito nessa bobeira. Teria meu herdeiro, mas não!
Agnes sai daquele maldito subúrbio e vira a porra da minha vida de
cabeça para baixo. Tentar fazer meu coração de pedra querer bater
e depois enfia a faca nele com essa traição. Eu daria tudo a ela,
tudo no mundo. — Fico respirando cansado enquanto Glória me
olha. Vejo James na porta com um olhar preocupado. Eles e
Raphaelo são minha família, tudo que me resta.
— Ela não queria dinheiro, filho. Quando você vai aprender
isso? Ela quer amor!
— Isso eu nunca sentir por nenhuma mulher! Por que seria
diferentecom ela? — Respiro cansado. — Vou para a Grécia, vocês
podem ficar aqui. Preciso falar com Raphaelo.
— Não vou abandonar Agnes. — Glória fala triste.
— Por isso vou embora. Não posso te privar de ter contato com
o filho deles. Eu que estou sobrando aqui, não posso viver com essa
traição. Não de minha Agnes.
— Sabe que não vamos te abandonar. — Vou até Glória e a
abraço. — Filho, sei que você está errado e espero que você
descubra rápido. Antes de perder a mulher que te ama e seu filho
para o outro, que só está esperando uma oportunidade para tê-la
para si.
No dia seguinte vou para a Grécia administrar as minhas
empresas daquela região, e deixo Raphaelo com as empresas da
Inglaterra. Não quero mais viver nesse país. Fui para o hotel que é
administrado por Júnior, filho de Glória e James.

GRÉCIA – QUATRO MESES DEPOIS

Estou vivendo uma vida reclusa. Glória me liga todos os dias,


mas a proibi de falar sobre Agnes. Pego a pasta enviada por
Dominic e abro. Pego uma foto e olho atentamente seu sorriso, e
sinto saudades.
— Sou um doente. — Recolocou a foto na pasta. O tempo que
estou fora do país fico acompanhando o desenvolvimento da
gravidez de Agnes. Com os relatórios de meu investigador e sua
equipe. Ela não se casou com Gregory. Por que não? Talvez ela
tenha dúvidas de que ele seja o pai. Agnes jamais colocaria essa
responsabilidade em cima de alguém sem ter certeza, então existe
uma possibilidade de que eu seja o pai. — Não crie esperanças,
Nicolas. Você não nasceu para isso!
Saio do escritório e vou para o hotel. Tomo um banho e peço o
jantar no quarto. Estou pensativo até que batem na porta. Vou abrir
e Raphaelo entra sorrindo.
— Vamos sair seu ermitão, chega de ficar entocado! — Olho
para ele de cara feia.
— Pedi o jantar no quarto. — Ele rir.
— Nicolas você não faz meu estilo. Está tentando me seduzir
com jantar no quanto? Essa é antiga, você já foi melhor. E se fosse
loiro quem sabe te daria uma chance. Gosto de loiras. — Ele rir e
pisca jogando charme.
— Vai se foder, Raphaelo!
— Cancelei seu jantar, vamos para o bar do hotel. Arrumar
umas mulheres. Só um aviso: você volta para casa amanhã! —
Bufo.
— Glória te mandou? — Ele passa as mãos no cabelo e sorrir.
— A coroa é uma psicopata em potencial. Ela foi gentil e
carinhosa quando pediu para eu te buscar. “Vá lá e traga meu
menino, se tem amor as suas bolas!” Porra Nicolas! Só tem loucos
na sua vida. — Fico rindo. Bem do jeito da Glória, ela que me liga e
a proibi de falar do bebê de Agnes.
— Vou me arrumar. — Em meia hora estamos no bar do hotel
bebendo e comendo. Raphaelo está animado com as mulheres.
— Tem uma morena te olhando. — Olho sem interesse. —
Cara, essa sua história com Agnes, você precisa resolver essa
porra.
— Ela devolveu tudo que mandei lhe entregar, as joias, a loja e
roupas. Ainda mandou o documento da pensão rasgado em
pedaços e me mandou para o diabo que me carregue. — Ele rir.
— Ela é uma mulher honesta. — Ele bebe seu uísque.
— Grávida de outro homem?
— Já pensou em fazer o DNA? Essa criança pode ser sua! —
Fico parado olhando para ele. — Vai viver nessa dúvida? Sabe qual
é meu maior medo? É um dia encontrar um moleque por aíparecido
comigo. Se for uma menina pior ainda, vou pagar meus pecados de
garanhão. — Ficamos rindo.
— Você não teria a abandonado? Mesma sabendo que o filho é
daquele desbotado? Tenho provas que eles ficaram juntos. — Falo
com raiva
— Com provas também ficariana dúvida, mas pediria um DNA.
Depois do resultado, tomaria minha decisão. — Ele fala pensativo.
— Desde quando o grande pegador Raphaelo ficou assim? —
Ele suspira.
— Desde o dia que perdi a mulher da minha vida por medo. A
quase cinco anos conheci uma mulher em uma boate, sexo sem
compromisso. Ela era uma mulher linda, inteligente e independente.
Depois do sexo maravilhoso trocamos telefone, ficamos por meses
marcando para sair sem compromisso. Em uma noite no sexo, ela
falou que me amava e o babaca entrou em desespero por sentir a
mesma coisa. — Ele bebe um gole da sua bebida, olha para o nada
e suspira. — Me desfiz do único número que podia ter contato com
ela. E são cinco anos pensando que seu eu não tivesse feito isso,
estaria com ela e feliz. Fui um idiota e nem sei por onde começar a
procurar.
— Meus detetives podem ajudar a encontrá-la. — Ele rir.
— São cinco anos, não posso bater em sua porta e dizer: Me
arrependi, vamos continuar de onde paramos. Ele era linda e já
deve estar casada. — Ele levanta e faz brinde. — Aos babacas que
tomam decisões erradas.
Terminamos a bebida e Raphaelo acaba dormindo bêbado em
meu quarto. Fico olhando a rua. Chegou a hora de voltar, vou pedir
a Agnes um DNA, sei que vai ser uma guerra, mas meu amigo está
certo. Não posso viver nessa dúvida.
Na semana seguinte voltei para Inglaterra e estou pensando
em uma justificativa para procurar Agnes, e propor um exame de
DNA.
Glória me recebeu de braços abertos e pedi a Dominic um
dossiê atualizado da vida de Agnes. Agora sei que ela se estruturou
na cidade do pai do seu filho.
Pego a pasta que minha secretária me entregou após o almoço
e fico olhando a foto da casa nova. Ela financiou com o dinheiro da
indenização da fraude e alugou seu antigo apartamento. A loja, ela
deixou fechadae judicialmente sou o dono. Ela só pediu autorização
ao meu advogado para pegar o piano antigo e alguns objetos de
valor sentimental.
Pedi fotos da casa e entraram quando ela saiu com a amiga.
Vários cômodos ainda não estão com a mobília arrumada, no seu
quarto tem uma grande cama de casal, com uma colcha de retalhos.
Pego a aproxima foto e vejo um quarto azul com nuvens na parede,
o quarto do bebê. Ela está arrumando com ajuda do Gregory.
— Maldito! Tem sorte de ter Agnes. — Pego a pasta e coloco
na minha maleta.
Hora de ir para casa e pensar em uma formade abordar Agnes
para fazer o pedido de DNA. Se ela não aceitar, vou exigir. Pois, se
ela não se casou com Gregory, é porque ela tem dúvidas de quem é
o pai.
AGNES PETROVIC

Minha perna e cabeça estão doendo. Estou enjoada. Abro


os olhos devagar e vejo que estou em um hospital.

— O que houve? — Vejo soro no meu braço.


— Senhorita Agnes, você sofreu um acidente. Vou chamar o
doutor. — Uma enfermeira muito mal-humorada fala e sai.
Depois de um tempo, entra um médico de meia-idade que
nem sequer fala seu nome. Fico tentando ler no crachá no bolso do
jaleco.
— A senhorita sofreu um acidente, mas não teve nenhuma
fratura. Só alguns pequenos cortes devido à queda, mas estamos
aguardando a autorização do setor de ultrassonografia para
sabermos se está tudo bem com o bebê.
— Que bebê?! — Grito e o médico me olha.
— A senhorita está grávida. Segundo o exame de sangue, de
seis semanas, mas tenho que fazera ultra para confirmarse o bebê
está bem e lhe darmos alta. Já ligamos para o número que tinha
muitas chamadas em seu celular, mas sugiro que a senhora coloque
senha de bloqueio. — O médico sai e fico com as mãos na barriga
até que a porta abre e Nicolas entra com um semblante fechado.
Nós nunca falamos em filhos, estou assustada, mas feliz de estar
esperando um bebê do homem que amo.
— Um bebê. Nick? — Ele começa a me acusar de tê-lo traído
e não me dá oportunidade de me defender. Vai embora sem ao
menos me ouvir ou explicar do porquê ele acredita que o bebê é de
Gregory.
Depois de um tempo, me levam para fazer a ultra e a médica
fala que meu bebê está bem. Quando me levam para enfermaria,
Hanna está na recepção e vem me abraçar ignorando o enfermeiro
que está empurrando a cadeira de rodas.
— Amiga, está tudo bem? — A abraço e choro.
— Senhora, preciso levar a paciente para enfermaria até que
o médico lhe dê alta. — Hanna me acompanha até a enfermaria,
mesmo sobre os protestos do enfermeiro.
— Onde está Nicolas? Glória me ligou pedindo para ficarcom
você e antes de chegar aqui, ela me ligou novamente e falou que
ele está transtornado.
— Estou grávida. — Falo chorando.
— Ele te abandonou? Vou matar o desgraçado. — Hanna fala
alterada. — Maldito covarde! Vou falar umas boas verdades na cara
dele!
— Ele julga que o bebê é de Gregory. — Falo chorando e ela
me abraça.
— Ele está inventando para correr da responsabilidade!
— Não! Ele estava transtornado. Hanna aconteceu alguma
coisa. Ele não me falou, mas eu sei.
— Calma, depois vamos resolver isso. Agora se acalma. Isso
não faz bem para o bebê. — Depois de duas horas, tenho alta.
Alguns remédios e um atestado de quinze dias de repouso.
Hanna me leva para casa e pedi para ela não falar nada
sobre o bebê com Gregory. Quero conversar pessoalmente com ele.
Marco uma consulta e estou com alguns exames de
acompanhamento e vitaminas.
Quinze dias passaram rápido e hoje é meu aniversário. Volto
a trabalhar na segunda e Hanna sempre comigo, e muitas vezes ela
traz a pequena Raphaela, que é uma menina tranquila. Estou
adorando a atenção que ela está me dando, isso está me ajudando
a superar o abandono de Nicolas.
Glória me liga várias vezes por semana e esteve aqui em
casa. Ela falou que Nicolas está na Grécia, que voltou
descontrolado do hospital e quebrou alguns objetos no escritório em
um ataque de fúria por ter sido traído.
Gostaria de saber o que aconteceu, mas ele se quer me deu
o direito de responder. Hanna está na cozinha e eu estou no sofá
vendo um filme, até que a campainha toca me tirando do
pensamento.
— Deixa que eu atendo. — Hanna sai da cozinha correndo.
Nesses quinzes dias, ela não me deixa fazer quase nada. —
Agnes, esse moço falou ser advogado do Nicolas. — Ela fala e tem
um senhor de terno azul na porta, cabelos grisalhos e óculos, e dá
um pequeno sorriso. Me levanto e vou até ele.
— Sou doutor Charles Johnson, advogado do senhor Marino
e preciso falar com a senhora.
— Boa tarde, entra por favor. — Hanna faz sinal que vai sair
para me dá privacidade. — Por favor, fica. — Suplico. Ela se senta
ao meu lado e segura a minha mão. Ele se senta no sofá e abre
sua maleta.
— Desculpe a demora para entrarmos em contato. O senhor
Marino me pediu a pouco tempo e como ele não está no país,tenho
que resolver por e-mail. — Ele pega alguns papéis. — São para a
senhora assinar. Esse é para transferência da loja para seu nome. O
senhor Marino pagou o seguro e os impostos estão em dia. —
Seguro o papel e ele pega mais um. — Esse é para a entrega das
roupas, sapatos e joias que ele comprou para a senhora. E o
terceiro, é uma pensão por tempo indeterminado. Se a senhora
julgar que o valor está abaixo do esperado, tenho ordem para
corrigir para a quantia que a senhora escolher, dentro de um limite
que foi previamente estipulado pelo senhor Marino.
Pego os papéis tremendo e meus olhos ficam marejados.
Quando lembrei de suas palavras: “quando me cansar de você lhe
dispenso com uma pensão generosa”. Isso que somos?
Dispensáveis? Ele está dispensado nosso filho como uma nada.
— É melhor o senhor se retirar! — Hanna fala séria com o
advogado e tomo três respirações. Sou forte, posso lutar e posso
falar por mim.
— Doutor Charles. Primeiro devolvo o documento da loja,
preciso que o senhor me deixe seu cartão para que eu te ligue para
pegar meu piano e os objetos de valor sentimental. Depois o senhor
Marino faz o que quiser com ela. — Entrego o documento. —
Segundo não quero roupas, sapatos e joias. Ele pode dar tudo isso
para a próxima mulher que ele iludir e a abandonar e terceiro. —
Rasgo o documento da pensão e devolvo os pedaços para o
advogado que está de olhos arregalados. — Ele que faça bom
proveito desse maldito dinheiro, porque não vamos precisar dele
para nada. Então o senhor pode falar para ele com todas as letras
que “ele pegue seu dinheiro e vá para o diabo que o carregue!” —
Grito e o senhor fica assustado.
— Senhora, posso sugerir que pense com calma?
— Não preciso do dinheiro dele, nós não precisamos dele e
se ele não nos quer em sua vida? Eu também não quero nada dele.
Esses são meus termos. Está tudo aí. Preciso de seu número.
Assim que resolver com a transportadora, lhe aviso e preciso que o
senhor anote tudo que eu pegar na loja. Vou assinar um documento
que contenha essa lista e acabou meu contato com o senhor
Marino. Obrigada pelo seu tempo e por favor vai embora! — O
advogado deixa seu cartão e sai.
— Agnes, tudo bem? — Vou até Hanna e a abraço.
— Não, mas vai ficar bem. Chega de ser a vítima. Preciso de
alguém que façafrete. Amanhã vou voltar a ter o controle de minha
vida. Estou me mudando para cá, aqui que vou criar meu bebê e
sozinha. Vou falar com seu irmão
hoje, chega de ter medo. Tenho que ser forte pelo meu bebê.
— Você não está sozinha, estou com você. Tenho certeza de
que meu irmão e nossa famíliatambém estarão ao seu lado. —
Suspiro e sorrio. — Minha família me apoiou mesmo que as
pessoas maldizendo que sou mãe solteira. Eles vão te apoiar, pois,
você é da família.
— Obrigada, Hanna.
A conversa com Gregory não foi fácil, ele queria saber o
porquê de Nicolas me abandonara grávida, e não falei. Ele não
precisa saber disso, mas depois ele me deu apoio e disse que se eu
quisesse continuar trabalhando, que ele não ia me demitir. Pedi sua
ajuda para resolver a compra da casa, aluguel de meu apartamento
e pegar alguns pertences na loja.
Passaram-se dois meses desde o dia que o advogado de
Nicolas foi me procurar. Voltei a trabalhar e estou agendando as
consultas médicas. Marquei para ir depois de o expediente na
imobiliária com Hanna e Gregory para ver a casa.
Fiquei encantada, apesar do mato alto e as paredes sujas por
fora. Quando o rapaz da imobiliária abriu meu coração, ficou em
alegria. A casa é belíssima, com quartos bem divididos, uma
cozinha e sala ampla. Na sala tem uma porta muito grande de vidro
com uma pequena varanda, que dá para o quintal e pensei em um
jardim.
Fechei com a imobiliária e a família de Hanna está me
ajudando. Eles limparam o quintal, pintaram a casa por dentro e por
fora. Minha barriga está aparecendo e Gregory me pediu uma
chance e quer assumir o bebê. Não acho justo, ele não é o pai. Ele
entendeu, mas disse que não vai desistir.
Passou mais um mês desde aquele dia e estamos em mais
uma consulta. Hoje Hanna não pôde vir comigo, sempre marco para
depois do meu expediente de entrega. Gregory que está sentado ao
meu lado lendo uma revista, eles não me deixam vir sozinha.
— Escolheu um nome? — Ele me olha sorrindo.
— Paolo se for menino, era o nome de meu avô. Se for
menina, Elizabeth o nome da avó. — Omiti o fato de ser o nome da
mãe de Nicolas.
— Lindos nomes.
— Senhorita Petrovic! — Levanto e Gregory vai comigo para
o exame. Entrei na sala com pouca iluminação e a enfermeira pede
para colocar o roupão que a médica vai chegar.
Assim que a médica chega, pede para se deitar na maca e
começa a fazer o exame. Mede o bebê, tudo em silêncio.
— Está tudo bem com o bebê, vamos ouvir o coração. —
Quando ela liga o som, escuto seu coração bater rapidamente e fico
com os olhos marejados. Gregory está sorrindo. — Papai e mamãe,
querem saber o sexo do Bebê? — Confirmocom cabeça, pois estou
chorando de emoção. — É um menino. Já escolheu o nome.
— Paolo. — Gregory fala sorrindo e a médica escreve em
cima da foto o nome e me dá os parabéns. Ela sai, me sento na
cama e Gregory me abraça. — Parabéns Saí-azul. Um menino. —
Ele fica sorrindo. Fico maravilhada com sua alegria.
Na semana seguinte, vamos à loja. Pego o piano, as
ferramentas e tudo que é de valor sentimental. Assino os papéis
onde está a lista de tudo que peguei e saio. Fecho as portas e pela
última vez, olho para lugar que um dia foi mais que meu local de
sustento. Foi o meu lar. Coloco a mão na porta trancada para me
despedir.
— Agora vou começar um novo ciclo. Obrigada por um dia
ser meu sustento e meu porto seguro. Para muitos apenas tijolos,
mas para mim? É uma vida. Adeus! — Suspiro, limpo uma lágrima e
Gregory me abraça. — Estou bem, acabou. Não tenho mais nada
que me prenda a essa cidade, vou começar uma nova vida. Por mim
e pelo meu filho. — Olho para o advogado. — Obrigada por
disponibilizar seu tempo de boa vontade. — Ele aperta a minha mão
e vamos embora para começar de novo. Dessa vez não garanto que
não vou errar, mas vou viver e lutar para ser feliz.
Farei pelo meu filho.
NICOLAS MARINO

Estou andando no jardim da mansão e uma bola vem rolando


até meu pé. Quando vou abaixar, tem um menino muito parecido
comigo, aparenta ter cinco anos. Quando vou falar, ele arruma a
franja e sorrir.

— O senhor veio para o aniversário de minha irmã? — Antes


que eu responda, escuto a voz de Gregory.
— Paolo, meu filho! Não fale com estranhos!— O menino sorrir
e pega bola.
— Pensei que ele era seu amigo, papai.
— Ele não é ninguém que você precise conhecer. Vai ficarcom
sua mãe e sua irmã que papai já vai brincar com você. — E passa a
mão nos cabelos do menino com carinho.
— Tá bom. — Ele sai correndo para uma mesa e vejo Agnes
sorrindo com uma bebê no colo.
— Você os abandonou! Não pode vir aqui! Eu sou o pai dele
agora! Agnes é minha esposa. Nós temos uma vida, uma família.
— Não! Ele é meu filho!— Grito e Agnes me olha com tristeza.
— Você nunca acreditou em mim. Agora tenho alguém que me
ama de verdade. Tenho uma família. V
ai embora Nicolas, por favor!
— Agnes! — Acordo gritando e todo suado
Levanto e desço as escadas descalço. Sigo em direção ao
escritório e pego a ficha que mandei fazer de Agnes todos esses
meses. Hábitos de meu avô. Vigiar e controlar. Mesmo estando
longe, mas sempre perto sem que seja notado. Aprendi com ele que
devemos manter as pessoas sobre controle e no momento que não
o fiz, perdi Agnes. Quero me aproximar, mas meu orgulho não
deixa. Preciso desse DNA, isso vai me afastar de vez.
Sei que ela vai mentir dizendo que a criança é minha e estou
me sentindo sozinho, vou querer que seja meu filho. A deixei entrar
em minha vida e virar minha cabeça e como retorno tive uma
traição. Deveria ter feito o que senhor Marino sempre me ensinou:
“Aprenda, Nicolas! Dinheiro é o que controla tudo. Nunca dê opções,
intimide, conquiste e destrua tudo e todos que não seguir suas
regras. Você é um Marino, você tem força e poder. Conquiste,
suborne e se não conseguir ter o que você quer? Destrua o que
impede de pegar o que é seu!”
Ela comprou uma casa com o dinheiro da indenização. Está
alugando o apartamento que era do seu avô. Levou toda a mobília
para casa nova, está refazendo sua vida com aquele maldito do
Gregory. Podia destruí-lo, mas isso vai machucar Agnes e não
posso fazer isso com ela, nunca com minha pequena valente.
Olho suas fotos de vestido de gravidez, cabelos soltos sem
aquelas horríveis mechas coloridas. Em uma das fotos, ela está
sorrindo com o pai do filhodela, como eu queria estar no lugar dele.
Esse sorriso ser para mim. Essa criança ser minha.
Estou vivendo um inferno de vida, só trabalho e durmo tarde
para acordar e pensando em Agnes. Que me trocou e engravidou
daquele maldito Gregory.
Tomo um banho e não espero meu café da manhã. Chamo o
motorista e vou cedo para o escritório. Raphaelo chegou a uma
semana da Grécia e todas as empresas estão em ordem por lá.
Minha secretária chega e peço um café. Estou concentrado nos
contratos internacionais para ampliação da rede de hotéis que as
empresas Marino tem sociedade. Meu avô sabia como aplicar os
negócios e mover a peças certas a seu favor. Sou tirado de meus
pensamentos quando ouço um burburinho.
— O senhor não pode entrar aí. — A porta se abre e Gregory
entra raivoso.
— Seu filho da puta cretino, seja homem uma vez na vida! —
Olho para ele em deboche.
— Não estou me metendo em sua vida feliz com Agnes e seu
filho. — Falo em desdém. — Senhora Cruz, nos deixe a sós.
— Sim, senhor Marino. — Ela sai fechando a porta.
— Meu filho? Se fosse meu filho não estaria aqui te
confrontando, seu verme. Você é igual ao maldito que abandonou a
minha irmã. — Olho sem entender. — Cheio de galanteios, mas
depois abandona o próprio filho a sorte!
— Ele não é meu filho! É seu! — Grito. Ele me olha e rir sem
vontade.
— Me diz como? Se nós apenas nos beijamos em uma boate.
Se ela tivesse me aceitado, com certeza ela não estaria indo para o
sexto mês de gravidez. — Pego o celular da mesa, destravo e
mostro para ele.
— Então por que você me mandou essas fotos?! — Grito. Ele
olha o celular e o pega da minha mão olhando as fotos.
— Essas fotos são antigas. Agnes tinha chegado à cidade há
um mês. E meu telefone foi clonado, pode pesquisar, tenho o
boletim de ocorrência e tudo registado. Quem fez isso devia ter
alguma fotodesse dia e mandou com meu número para prejudicar o
relacionamento de vocês.
— Recebi a foto no dia que Agnes sofreu o acidente. — Falo
mais para mim mesmo.
— E você não acreditou nela? Que o filhoé seu? — Ele coloca
as mãos na cabeça. — Meu Deus! O que você pensa dela? Você a
abandou no hospital. Você é pior que eu pensava.
— Quem você pensa ser para me julgar? — Levanto e ele me
encara.
— Vou ser aquele que vai quebrar a sua cara, seu filhoda puta
se você não assumir seu filho. — Saio de trás da mesa e vou para
próximo dele, que está com uma expressão de ódio. — Isso iria
machucar Agnes. Eu a amo e não quero vê-la sofrer.
— Ela é minha mulher e carrega meu filho, não diga na minha
cara que a ama. — Grito e ele rir.
— Você foi a alguma consulta? Estava lá com ela na primeira
vez que ouviu o coração de Paolo? — Olho assustado e cambaleio
me segurando na mesa. — Ela escolheu o nome do avô que a
criou. Você não estava lá quando ela mais precisou de apoio.
— Paolo? — O nome do menino do meu sonho. Meu filho!
Sendo criado por Gregory. Deus, não! Olho assustado para ele. —
Por que você veio?
— Para você fazer o certo, assumir seu filho. Por que juro por
Deus, que se você não fizer? Vou conquistar Agnes, me casar com
ela, assumir Paolo como meu filho e acabo com sua raça se tentar
chegar perto minha família. — Ele sai batendo a porta.
Fecho os olhos. Não pode ser! Armaram para mim e eu não
percebi. Quem quer me separar de Agnes? Giulia está bem com seu
marido e filha. É outra pessoa. Tenho que descobrir.
Eu sempre usei preservativo, mas dizem que não e infalível.
Não lembro de ter sido alguma vez sem proteção.
Vou até o sofá e me sento. Lembranças da vez que nos
reconciliamos está em minha mente, como fizemos sexo aqui no
sofá de uma forma intensa e…
— Não coloquei preservativo. Uma única vez, fizemos o nosso
filho. — Fico sorrindo. Olho o relógio. Quase hora do almoço. Ligo
para minha secretária. — Cancele todos os meus compromissos de
hoje. Vou sair.
Chamo o motorista e solicito para irmos até à cidade que
Agnes mora. Chegamos antes de seu horário de saída do trabalho.
Peco para estacionar em uma rua antes de sua casa e vou
caminhando. Quando chego, abro o portão de sua nova casa e
entro no quintal.
Ela fez um jardim, tem uma árvore de alguma fruta próximo à
varanda que está com um balanço. Olho atentamente, ela está
adaptando a casa para Paolo, meu filho. Vou até à varanda e me
sento.
Penso em Gregory e tenho que ter cuidado com ele. Porque
não vai medir esforços para conquistar minha mulher. Estou quase
perdendo os dois. Quem iria querer prejudicar nosso
relacionamento? Fiquei tão cego que não vi o que estava na minha
frente o tempo todo. Quem fez isso sabia que eu seria ciumento e
irracional. É alguém que me conhece.
Sou tirado dos pensamentos por um barulho de motor. Vejo
Agnes entrar na garagem do lado esquerdo da casa e onde estou
não dá para ela me ver. Ela desce do carro popular e pega uma
sacola.
— Meu filho, julgo que Gregory está tentando nos engordar. —
Ela fala sozinha e sorrir. — Mãe vai descansar um pouco. Vamos
comer e ver televisão. Depois vamos olhar suas roupinhas que a
senhor Mercedes entregou. Estou ansiosa. — Ela alisa a barriga por
cima do macacão, vem andando de cabeça baixa e não me vê.
Quando chega no degrau é que ela percebe que tem alguém em
sua varanda e me olha fechando o semblante.
— Oi, Agnes. Precisamos conversar.
— Aquela conversa onde você me acusa e não tenho o direito
de me defender? Estou cansada Nicolas, preciso descansar e
comer. Meu filho não pode esperar. — Ela passa abrindo a porta e
não dou tempo de fechar. Entro e ela me olha de cara feia. — Você
não foiconvidado, de novo. Mas isso não é problema para o grande
Nicolas Marino.
Ignoro e a sigo. Ela vai para cozinha que ainda tem alguns
móveis forado lugar. Coloca a sacola no balcão e abre a janela. Faz
tudo sem me olhar.
— Agnes, eu preciso falar com você! — Ela passa por mim
como se eu não estivesse lá. — Sei que você está chateada. —
Ela me olha com raiva.
— Chateada? Você sabe? Você não sabe de nada! Eu que fui
acusada. Difamada e abandonada. Você chega aqui com esse
discurso? Agora resolveu acreditar que meu filho também é seu? Ou
está aqui para querer me punir? Quer saber? Eu que estou cansada
de você e de sua superioridade. De saco cheio. — Ela grita.
— Ele também é meu filho! — Aponto para sua barriga.
— Não! Você disse que era de Gregory? Disse não! Me acusou
sem direito de defesa. — Ele suspira. — Vai embora, esse filho é
só meu. — Passa a mão na barriga.
— Posso pedir um DNA dele ainda na barriga.
— O quê? — Ela pergunta confusa.
— É meu direito, já que fiquei na dúvida. — Falo arrogante, ela
vem e começa a me dar tapas.
— Somente você tinha dúvidas, seu babaca. Eu sempre soube.
Eu não sou a vadia que você pensa. Filho da puta!
— Calma, Agnes. — A seguro preocupado.
— Que direito você tem de me pedir calma? Sai da minha
casa, da minha vida e da vida de meu filho. Pega seu maldito
dinheiro e vai para o diabo que o carregue! Nos deixa em paz! Você
não nos quis em sua vida, agora eu não quero você nas nossas! Vai
embora! — Ela grita. Fico furioso e façoo que sei de melhor, que é
intimidar.
— Você acha mesmo que algum juiz vai deixar meu filho com
você? Pensa que não vão ficar ao meu favor e me dar a guarda de
Paolo. — Ela fica pálida, e me arrependo do que falei. — Agnes!
Não vou fazerisso. — Ela não me escuta e vejo lágrimas banhando
seu rosto.
— Você vai tirar meu bebê de mim... Meu Deus! — Vejo
quando ela fecha os olhos e vai caindo. Corro para a segurar.
— Agnes! Agnes! — Pego o celular e ligo para o motorista.
Peço para colocar o carro em frente ao portão dela, a peguei no colo
e quando saio, tem vários vizinhos me olhando. Entro no carro. —
Rápido para o hospital mais próximo. — Coloco-a em meu colo, o
bebê está se mexendo muito. — Me perdoa filho,vai ficartudo bem.
— Falo com a mão em sua barriga.
Chegamos no hospital, a colocam em uma maca e a levam
para emergência. Fico na recepção fazendo a ficha. Ando nervoso
de um lado para outro. Deus! O que eu fiz?
— Acompanhante de Agnes Petrovic! — Vou até o médico.
— Sou noivo e pai do bebê. — O médico me olha sério.
— Eles estão bem. — Solto o ar. — Mas ela teve uma carga de
estresse, isso não é bom. Ela está no sexto mês e deve ter repouso
absoluto a partir de hoje. Nada de sobrecarga emocional ou trabalho
para não ter um parto antecipado, pois ela está com descolamento
de placenta.
— Sim senhor, obrigado. — Quando viro, sinto um soco na
cara e cambaleio para as cadeiras
— Filho da puta! O que você vez com minha Agnes e meu filho.
— Gregory está furioso vestido com um uniforme de trabalho.
— Seu filho? — O médico pergunta confuso.
— É minha mulher e meu filho! E não vou deixar você os levar
de mim. — Vou para cima dele com socos.
Caímos no chão rolando e destruído tudo com nossos corpos.
Escuto a gritaria e não ligo. Ninguém vai roubar minha família.
Ninguém!
BÔNUS
GREGORY D’ ANGELIS

Não me conformo com isso que o canalha está fazendo


com Agnes. Ela está no quinto mês de gravidez. Ele não a procura,
ela não quer falar no assunto e apenas diz que Paolo é somente seu
filho.

Eu a amo. Quero assumir Paolo como meu filhoe formaruma


famíliacom ela, mas ela não acha justo me jogar a responsabilidade
de assumir o filho de outro homem.
Tem alguma coisa nessa história que Agnes não conta, mas
vou descobrir. Sou tirado de meus pensamentos quando ela entra
sorrindo em meu escritório.
— Bom dia, Gregory! O filho do senhor Malcon está indo
muito bem como meu substituto na licença. Ele é ótimo na direção.
— Bom dia. — Fico sorrindo. Ela está linda com essa
barriguinha de grávida. Agnes é pequena, parece frágil, mas é uma
mulher forte. Está fazendo serviços de reparos e consertos.
Financiou a casa que estava à venda e está organizando tudo. —
Sábado vou lá para colocarmos os móveis no lugar.
— Obrigada, Gregory. Não sei o que seria de mim sem sua
ajuda. — Ela senta e eu me lembro de quando tivemos a conversa
em seu apartamento.
— Agnes, sei que você não gosta de falar nesse assunto,
mas por qual motivo aquele idiota não quer saber do filho dele? —
Ela suspira.
— Ele pensa que o traí.
— Com quem? Você só tem olhos para ele. — Passo a mão
na barba e olho espantado para Agnes. — Ele julga que o filho é
meu? — Ela abre os olhos em prantos. — Filho da puta! Vou matar
o desgraçado.
— Gregory, por favor. Deve ter sido um mal-entendido. Nick é
ciumento e não ver as coisas direito. Ele vai cair na real.
— Agnes, você está com quase seis meses e Paolo vai
nascer sem o pai.
— Esse filho é só meu. Eu vou criá-lo.
— Me dá uma chance. Eu vou criá-lo com meu. Ele nunca vai
precisar saber do canalha do pai. — Ela sorrir.
— Queria poder mandar no meu coração. Já seria seu desde
quando você me levou para sair naquela boate. Vou trabalhar, mas
antes preciso comer. — Ela sai alisando a barriga e fico pensativo.
Tenho que fazer alguma coisa.
Uma hora depois da saídade Agnes, pego meu carro e vou à
cidade. Paro em um estacionamento e vou até o prédio, fico olhando
a faixada. O homem é milionário e abandona o filho à própria sorte.
Com ódio pego o elevador e vou para o andar das empresas
Marino. Quando a porta abre, vejo o luxo do lugar. Empregados para
todos os lados com suas roupas sociais me olham de forma
estranha porque estou com um uniforme.
Ando ignorando todos, vejo a porta de vidro que abre
automática e uma senhora que está sentada à mesa me olha.
— Bom dia. Senhor Marino, se encontra?
— Bom dia. Sim. O senhor tem hora marcada? — A ignoro e
entro sem dar importância aos seus apelos.
Depois de nosso confronto saio revoltado. Clonaram meu
número para prejudicar o namoro deles. Quem seria mesquinho a
esse ponto?
Pego o carro e volto para cidade. Às quatro e meia, Agnes
chega e peço para ela ir ao escritório para conversarmos e sou
direto.
— Agnes, sei que você não queria, mas fuiconfrontarNicolas
Marino. — Ela vai falar e eu levanto a mão. — Me deixa terminar.
Por mais que não goste dele, acredito que ele devia ter te
perguntado primeiro antes de te acusar. Lembra quando você
desconfiou que estavam nos vigiando na boate? — Ela confirma
com a cabeça. — Nicolas me mostrou uma fotonossa que enviaram
para o celular dele e foi no dia do seu desentendimento no hospital.
Era uma foto nossa na boate enviada do meu número.
— Mas como? — Ela se senta na cadeira em frente à minha
mesa e fica com um olhar perdido.
— Meu celular foi clonado. Mandaram as fotos para ele como
se fosse eu. Por isso, não acreditou que o filho era dele.
— Ele devia ter me perguntado.
— Concordo, mas agora sabemos o motivo de tudo.
— Isso não muda nada e conhecendo Nicolas, ele não vai me
procurar e não vou atrás dele. — Ela vai até à porta. — Te espero
no sábado para terminarmos a arrumação.
— Pode deixar, e pega. — Levanto a sacolinha para ela cheia
de vasilhas. — Para Paolo.
— Obrigada. — Ela sorrir, me abraça e sai.
Estou trabalhando, adiantando as encomendas para o dia
seguinte quando Marcelo, o filho do senhor Malcon entra correndo.
— Greg, Agnes passou mal. Os vizinhos a viram ser
carregada por um homem em um carro estranho.
— Para onde? — Só poder ser Nicolas. Vou matar esse
desgraçado.
— Foi para o hospital estadual. — Não o deixo terminar, pego
o carro e dirijo rápido para o hospital.
Chegando lá, me informaram que ela estava na ala particular.
Pego o elevador e quando chego, vejo o desgraçado falando com o
médico.
Meu ódio aumenta, não respondo por mim. Dou um soco nele
que cambaleia, levanta-se e começamos a brigar no chão
derrubando as cadeiras da ala de espera. Escuto as pessoas
gritando, mas continuo socando o desgraçado que revida, estamos
trocando socos iguais a dois moleques de rua. Até que, somos
separados pelos seguranças.
— Desgraçado.! O que você fez com Agnes e Paolo?! —
Grito sendo seguro por dois seguranças e ele por mais dois.
— Eles são meus e vou cuidar deles.
— Você a colocou doente! Ela estava bem. — Somos
arrastados para uma sala e depois de um tempo, chega o delegado
que é meu tio.
— Quero os dois calados, aqui é um hospital! Pelo amor de
Deus! Gregory você sempre foicontrolado. Então, para com isso? E
o senhor fica quieto.
— Desculpa, tio. A culpa foiminha, eu bati nele. Por causa de
Agnes. — Falo cabisbaixo.
— Te entendo, mas se ele registar queixa não posso fazer
nada.
— Não vou fazer. — Nós dois olhamos para Nicolas que está
limpando o sangue da boca. — Não quero que Agnes fique triste.
Vou assumir os estragos que fizemos brigando.
— Mais do que sua obrigação.
— Cala a boca Gregory! — Meu tio grita. — Sei que você
ama essa moça, mas ela é decente para jogar-lhe a
responsabilidade de um filho de outro homem. E você deve respeitar
isso. Se ele é o pai de bebê? Têm mais direitos do que você, ela
querendo ou não. Pelo menos ele não vai registar queixa de
agressão, então por tudo que é mais sagrado, fica calado! —
Ficamos em silêncio até que alguém bate na porta e entra. É um
policial .

— Chefe, temos um problema. Tem repórteres na porta do


hospital. São muitos e estão falando que a operária grávida do
herdeiro do império Marino, está aqui.
— Meu Deus! — Meu tio coloca as mãos na cabeça. — Não
deixe que eles entrem no hospital. Temos que fazer alguma coisa.
— Aqui tem um heliporto? — Olho para Nicolas.
— Sim. Por quê?
— Posso resolver isso, mas antes, Agnes precisa de alta. Vou
pedir ao meu amigo Raphaelo para agilizar um helicóptero.
— Quero vê-la. — Ele me olha sério e afirma com a cabeça.
Nicolas vai atender o telefone no outro lado da sala, fala com
meu tio e sai. Fico lá esperando para falar com Agnes. Depois de
um tempo Nicolas volta com a roupa respingada de sangue?
— Agnes teve uma crise nervosa, agora está sedada. Você
pode falar com ela. Tem uma enfermeira particular que mandei
trazer, ela entrou pelos fundos do hospital.
Levanto-me sem falarnada e passo por ele indo ao quarto ver
Agnes. Tem uma mulher de meia-idade sentada em uma poltrona
que me olha atentamente.
— Oi. Saí-azul. — Ela fica sorrindo. A chamo assim desde
quando ela colocou as mechas azuis, mesmo sem elas, ainda gosto
de chamá-la, afinal ela é pequena e frágil como um passarinho. —
Você nos deu um susto.
— Desculpa. — Ela responde meio lenta e eu a abraço.
— Passaram a notícia de sua gravidez para impressa. Sinto
muito.
— A senhorita Petrovic, não pode ser incomodada com
assuntos externos. São ordens do senhor Marino. Ela teve uma
crise nervosa e não deve ser perturbada. — Olho de cara feia para a
mulher que não se importa.
— Quando procurei Nicolas essa manhã, não pensei que
pudesse dar essa confusão. Desculpa.
— Não é sua culpa, é minha. Eu deveria ter feitoele me ouvir
e não fugir. — Ela sorrir fraca.
— Não é culpa de ninguém. Descansa! — Beijo sua testa e
ela fecha os olhos. Quando viro, Nicolas está sério no canto do
quarto. Vou até ele e o olho nos olhos. — Cuide bem dela e de
Paolo, ou acabo com sua raça.
Não espero resposta, saio do quarto do hospital determinado.
Se Nicolas não a fizer feliz, vou lutar por ela e conquistar seu amor
.
Custe o que custar.
NICOLAS MARINO

Saio da sala nervoso.


Agnes acordou e está querendo sair do hospital. Corro pelo
corredor até que sou parado pelo médico.
— Senhor Marino. Não costumamos abrir exceções para
pacientes ter enfermeiras particulares, mas a enfermeira Dafne é a
melhor e não vai deixar esses abutres chegarem próximo de sua
noiva.
— Obrigado, posso vê-la? — O médico me olha preocupado e
suspira.
— Ela está muito nervosa. Pegamos a tentando fugir. Por isso
concedi e arrumei pessoalmente uma enfermeira. O estado de sua
noiva é complicado e o nervosismo pode afetar a gravidez. Ela está
com um descolamento de placenta e vai precisar de repouso
absoluto por algumas semanas. Além de medicação e
acompanhamento médico. O senhor deveria pensar em uma clínica
de repouso.
— Agnes não precisa disso!
— Senhor, é só uma sugestão. Porque ela precisa de um lugar
calmo e sossegado. De alguém que cuide dela o dia e a noite ou
pode colocar a gravidez em risco. — Passo a mão várias vezes no
cabelo.
— Ela terá repouso, atenção, acompanhamento e medição
adequada em minha casa. — O médico sorrir e confirma, me
deixando passar. — Por favor, dê alta para ela. Meu amigo está
providenciando um helicóptero.
— Iremos providenciar tudo. — O médico sai, chego próximo
ao quarto e posso ouvir a voz de Agnes muito nervosa.
— Estou bem e não quero fugir! Quero ir para minha casa. Eu
tenho uma vida!
— Calma, tudo vai ser resolver. — Escuto a voz tranquila da
enfermeira. Entro e ela me olha séria.
— EnfermeiraDafne,poderia nos deixar a sós? — Ela confirma
com a cabeça e sai. — Você está bem, Agnes? — Ela me olha, mas
não responde. Suspiro. Vai ser mais difícildo que pensei. — Agnes,
precisamos ter uma conversa civilizada. — Ela bufa.
— Não quero conversar com você, nem olhar para sua cara.
Vai embora e me deixa em paz!
— Preciso te tirar desse hospital.
— Vai me manter prisioneira até Paolo nascer e depois falar
para juiz que sou uma mãe mentalmente perturbada? Sai! — Ela
grita.
— A imprensa está lá fora.
— O quê?
— Alguém vendeu a nossa história para imprensa.
Provavelmente a mesma pessoa que tentou nos separar.
— Não foi Gregory! — Ela o defende e fico foi raiva.
— Claro que não foi seu queridinho, sempre defendendo o
Gregory.
— Sai! Vai embora! Sai da minha vida! Eu vou embora desse
lugar, vou para longe criar meu filho em paz. — Ela volta a gritar e
eu fico desesperado quando tenta puxar o acesso da mão.
— Não, faz isso. — Seguro sua mão tentando impedir.
— Seu filho da puta, a culpa é sua. — Ela me dá um tapa no
rosto com a mão pulsionada.
— Calma! — Grito e ela começa me dar vários tapas. Vejo a
hora que a pulsão rompe e o sangue começa a escorrer
respingando nas minhas roupas.
Saio de seus ataques e consigo alcançar a campainha. Só
me dá tempo de desviar do suporte de soro que ela joga em cima de
mim.
Entram dois enfermeiros e o médico que aplica uma
medicação, ela começa a ficar lenta. Os enfermeiros fazem o
curativo no braço dela enquanto o médico vem falar comigo.
— Senhor Marino. Temos ótimas clínicas que podem cuidar
dela até o bebê nascer. O estado que ela se encontra pode ser
perigoso para a criança. — O médico fala preocupado.
Olha para Agnes dopada. A culpa é minha, ela estava
tentando uma vida normal até eu me intrometer e falar o que não
devia. Suspiro.
— Não as preocupe doutor, Agnes não é perigosa. Ela está
nervosa, mas em casa ela estará bem e com pessoas que a amam.
— Mesmo assim, chamem um terapeuta. Fisicamente ela
está bem, mas a saúde mental está abalada, isso pode prejudicar a
gestação.
— Obrigado, doutor. — Meu telefone vibra e vou para
corredor.
— Oi! Raphaelo. Conseguiu? Quanto tempo? Obrigado. Nada
bem? Fodi tudo! Preciso de mais um favor. A terapeuta de minha
mãe. Liga para ela e ver se consegue uma consulta urgente.
Obrigado amigo, não sei o que seria de mim sem sua ajuda. Se
prepara para ser padrinho do meu filho. — Ficamos rindo e desligo o
telefone. Gregory não vai ser o padrinho de Paolo.

Vou até à sala e falocom Gregory. Ele conversa com Agnes e


eu fico em um canto do quarto. Quando ele sai me ameaça.
Não tenho muito tempo, vi como ele ama Agnes. Se eu não
corrigir as coisas agora, ele vai tomar meu filho e Agnes de mim.
Saio do quarto e deixo a enfermeira Dafne com ela. Glória
não vai aceitar que outra pessoa cuide de Agnes, ela a tem como
uma filha e vai querer arrancar a minha cabeça, pois nesse
momento ela quer arrancar as minhas bolas.
Quando falei para ela que tínhamos nos separados, ela mais
uma vez foi a favor de Agnes. Por que não escutei a Glória? Ela
sempre foisensata. Sempre tentou me alertar sobre o bebê, até que
a proibi de falar sobre a criança que para mim, foi fruto de uma
traição que nunca existiu.
Chego próximo da janela e um dos meus seguranças me
barra.
— Melhor não, senhor Marino. — Ele chega na janela e vejo
várias luzes de fotos.Suspiro. Odeio a mídia.Volto para o quarto de
Agnes e a enfermeira está arrumando as cobertas enquanto ela
dorme.
Sento-me ao seu lado e coloco a mão na barriga. O bebê
mexe e fico sorrindo. Quantas vezes sonhei com esse momento.
Estraguei tudo outra vez. Levanto e beijo a testa de Agnes.

— Perdoe-me. — Sento na cadeira ao lado, fico segurando a


sua mão e suspiro. Acabei dormindo e acordo com a porta sendo
aberta.
— Boa noite. — Raphaelo entra sorrindo e vem até mim.
Levanto e o abraço.
— Boa noite, amigo. Obrigado por me ajudar. — Ele solta do
abraço e sorrir.
— É meu afilhado! Meu amigo vai ser pai. Jamais perderia
isso. O grande Nicolas Marino, pai? Que bom que ainda não tenho
filhos,mas vamos ao que interessa. Vamos tirar Agnes dos olhos da
mídia. Falou com Glória? Ela me ligou várias vezes falando que
você não atende o telefone.
— Dormi. Agora não quero falar com ela.
— Mais tarde vai ser pior. — Ele fala rindo. — Resolve tudo
com o hospital, meu motorista levou a terapeuta para sua casa, sem
levantar suspeita para imprensa. Amanhã ela poderá atender
Agnes.
— Obrigado, amigo.
— Não me agradeça, estou fazendo tudo pelo garoto do
dindo. — Ele pisca e sai rindo. Depois de duas horas estamos no
helicóptero indo para mansão. Olho para Agnes sedada.

Tenho uma luta pela frente,Agnes está com medo de arriscar


novamente. Não consigo controlar o que falo, meu avô me ensinou
a achar saídas que sempre fosse ao meu favor e infelizmente estou
fazendo isso com a pessoa que é importante para mim. Estou
destruindo tudo como um carro desgovernado. Suspiro.
Chegamos à mansão e os enfermeiros arrumaram a maca
transporte para casa e vejo a doutora Rúbia, que vem andando
séria. Ela é uma senhora de meia-idade e minha mãe confiava.
— Sr. Marino. Boa noite. Ela será minha paciente? — Ela fala
apertando minha mão.
— Boa noite, doutora. Agnes está precisando de seu auxílioe
só confio na senhora. Assim como minha mãe também confiava.
Vamos deixar Agnes confortável no quarto e conversar no escritório.
— Ela confirma com a cabeça e ajuda a deixar Agnes confortável.
Deixei a enfermeirano quarto enquanto Glória está no corredor com
o semblante fechado comigo, dou um beijo em seu rosto e ela me
abraça. — Sabe que você tem total autonomia para ficar com
Agnes, a enfermeira é só para não te sobrecarregar.
— Vocês vão ficar bem filho, é só uma fase. Tenha fé. —
Glória fala abraçada comigo.
Não posso falar para ela que perdi a fé há muito tempo,
quando perdi meu avô e minha mãe. Solto do seu abraço e vou até
à sala. A doutora está me esperando, façoum sinal e ela me segue
até o escritório. Fecho a porta e a médica senta me olhando séria.
— Doutora, preciso de seu tempo integral com Agnes, pago o
que for necessário para que a senhora fique à disposição aqui e na
mansão. — Ele me olha seria como se me analisasse e ajusta os
óculos.
— As consultas serão em meus termos. Tenho meus
pacientes e não vou abrir mãos deles, então Nicolas estou aqui em
nome de minha amizade com sua falecida mãe. Meus termos são:
Primeiro, as primeiras consultas serão duas vezes por semana. Vou
aumentar se eu julgar necessário, não quero pressioná-la a falar, ela
precisa confiare se abrir. Segundo, vou deixá-lo assistir às seções e
terceiro, nada que ela falar poderá ser usado contra a sua pessoa
no futuro.
— Não sou essa espécie de ser humano e depois do que falei
duvido que Agnes desabafe na minha frente. Então sejamos
práticos, tem uma câmera no quarto e ligo com seu consentimento.
Sabe que a respeito como pessoa e como profissional. — Ela
confirma com a cabeça, é uma mulher muito séria.
— O senhor pode não ser, mas seu avô era, e tentou moldá-
lo usando seu amor por Elizabeth. Então não que seja por maldade,
mas quando você se sente pressionado a perder o quer, você reage
e ataca sem medir as consequências. Estou certa?
— Sim. Ameacei tirar meu filho de Agnes e fazer o DNA dele
ainda na gestação. Ela está desesperada por minha causa. Até me
agrediu no hospital totalmente fora de si. Às vezes, sou como um
furacão, saio destruindo tudo ao meu caminho e não tenho controle.
— Poderíamos marcar uma sessão de terapia, sabe que
posso te ajudar. — Suspiro.
— Para mim não tem mais jeito doutora.
— Tem, mas depende de sua decisão. Sabe que se quiser
marcamos uma consulta, estarei lá por você como estive com sua
mãe. — Agradeço e conversamos mais um pouco.
Quase não durmo a noite e acordo cansado. Meu amigo
Raphaelo está na frentedas empresas e a imprensa sensacionalista
está nervosa atrás de pistas da nova “Cinderela” e minha vida está
uma confusão. Não sei o que fazer para resolver
.
Tomo um banho e James chega com meu café. Ligo o
computador e a câmera do quarto. Vejo Agnes abraçada com Glória
chorando muito.
— Bom dia. — Olho para James e o abraço. — Calma filho,
tudo vai se resolver. — Me sinto perdido igual quando meu avô me
fazia chantagem para eu agir como ele queria, sempre usando
minha mãe e o maldito do meu padrasto. — A doutora está indo vê-
la agora Nicolas. Ela vai melhorar. — Suspiro e agradeço.
Tomo meu dejejum observando e escutando tudo do quarto.
Ela chora, falacom a doutora e conta que ameacei tirar a guarda do
nosso filho.
Quando a sessão está terminando, ela ainda está encolhida e
quase não fala. Dorme e quando acorda, começa a falar de sua
família.Com muita dor em sua voz e depois da sessão, ela começa
a comer. A enfermeira ajuda a tomar banho e depois se senta
próximo à cama. Ela fica deitada olhando para o nada.
Escuto uma batida na porta e James entra.
— Filho, a doutora quer falar com você. — Agradeço e vou
para sala. A vejo tranquilamente bebendo seu chá.
— Bom dia, Nicolas. Julgo que seja boa tarde. — A
cumprimentei e me sento. — Minha avaliação inicial. Ela vai precisar
de mais de duas sessões por semana pelo menos por duas
semanas e essa amiga a Hanna. Elas são muito ligadas, ela fala
dela e de uma criança. Isso vai ajudá-la a ter mais confiança em
você. — Estou esperando seu julgamento, mas ela toma seu chá e
me olha. — Sabe que a gravidez não ajuda muito, os hormônios nos
deixam sensíveise chorona. Com a situação que ela está passando
em não poder trabalhar e perder os amigos, está sendo muito difícil.
Então, precisamos dessa moça aqui. Pelo menos alguns dias da
semana. Ela me falou que ela é cabeleireira e mãe solteira. Vai ser
bom ter alguém jovem para falar de bebês. Vou ficar mais dois dias,
desmarquei meus pacientes e vou fazer chamada de vídeo com
alguns. Fica tranquilo, logo ela vai estar bem.
Ficamos conversando e almoçamos juntos. Agnes comeu um
pouco com Glória e está sentada na varanda do seu quarto.
Vou para o escritório e ligo o computador com a câmera do
quarto e fico observando. Ligo para meu amigo.
— Nicolas, como ela está? Precisa de algo? — Ele sempre foi
um grande amigo, muito ao contrário do que meu avô me ensinou.
As pessoas são peças para serem usadas.
— Ela está melhorando, vou trabalhar de casa. Com está a
imprensa? — Ele suspira.
— Venderam um peixe grande. Quem fez isso, sabia o
impacto da notícia.Aciona os advogados, porque vai ser problema e
nunca deixe Agnes sem segurança. Vou ser sincero, quem fez isso
quer prejudicar Agnes e o bebê. Parece ser pessoal. Acha que foi o
amigo dom Juan dela?
— Não! Por mais que eu não goste dele. Ele jamais iria fazer
algo que a prejudicasse. Preciso trazer a irmã dele para cá.
— Eu ia visitar meu afilhado e levar alguns presentes, mas
agora já tenho mais um motivo.
— Ela tem uma filha. Parece que o pai da menina a abandou
grávida. Foi uma gravidez de risco, Agnes me contou.
— Que tipo de canalha faz isso com sua mulher e filho? Se
ele não queria casamento, não precisava abandonar a filha. É um
desgraçado. Sempre vi o sofrimentode minha mãe até que meu avô
nos achou quando meu pai faleceu. Eu era uma criança, mas
lembro como minha mãe trabalhava para me sustentar antes disso.
Conversamos um tempo e ligo para os advogados. Não quero
falar com Gregory e como a mulher tem um salão, vou pagar todas
as despesas para ela ficar aqui com Agnes e um depósito generoso
para ela não ficar sem ganho com uma criança para criar.
Três semanas e o progresso de Agnes está muito bom. A
doutora irá fazer as consultas duas vezes por semana. Hanna está
ficando na mansão pelo menos quatro dias por semana com a
pequena Anna Raphaela, que está sendo alegria da casa. É uma
menina muito comunicativa e feliz. Ela conversa comigo e com a
enfermeiraDafne, é uma criança doce e traz alegria para essa casa.
Hanna foi dura comigo, apesar de não gostar de suas
palavras, a entendo. Pois, ela ama Agnes e a quer ver feliz. Ela é
uma mulher direta e fala sem rodeios.
Olho para as notícias dos jornais à minha frente.
“Empresário
do ramo de construçãosofregolpe da
barriga?”
“Seráque é filho
do empresário?
Grandeempresário
das
empresasMarino
engravidou
uma operária.
Seráque é herança
de família?”
— Odeio esses jornais sensacionalistas. — Meus advogados
estão trabalhando nisso e vou afundar essa maldita coluna de
fofocas.Sou tirado dos meus pensamentos quando ouço barulho de
briga. Abro a porta e vejo Raphaelo e Hanna discutindo? De onde
eles se conhecem?
— Não venha se fazer de santo Raphael, Raphaelo, ou seja,
que porra é seu nome! Foi você que trocou de número de celular
para não me atender e nesse momento também ficou sem saber de
sua filha. Então não se faça de coitado, porque se Anna Raphaela
não conhece o pai é por sua culpa.
— Filha? — Os dois me olham.
— Anna Raphaela é minha filha. — Ele fala atordoado e fico
parado olhando sem reação.
— Foi você que nos abandou, por mais que eu te amasse eu
não ia te obrigar a casar. Queria que nossa filha conhecesse o pai,
mas foi você que nos afastou de sua vida, então senhor Raphael
não venha me jogar a culpa por você ser um filha da puta covarde.
— Ela grita e sai deixando Raphaelo paralisado. Eu fico sem
entender porra nenhuma do que está acontecendo.
Levo meu amigo para o escritório e dou uma bebida. Ele bebe
e fica olhando para o nada. Eu pensando que tinha problema, meu
amigo também está em uma enrascada.
— Quando eu desfiz do número, abandonei minha própria
filha.Eu que tanto abominei o que meu pai fezcom minha mãe, fiza
mesmo com Hanna. — Ele me olha com olhos marejados. —Tenho
uma filha! Uma gestação que não acompanhei, ela estava
crescendo sem mim. O que eu fiz? — Ele bebe, coloca o copo no
chão e coloca as mãos na cabeça.
AGNES PETROVIC

Estou cansada de ficar deitada olhando para as pinturas do


quarto.

Cruzo as pernas, há semanas eu tinha uma vida normal, um


trabalho e uma gravidez tranquila. Que estava indo tudo bem até
Nicolas Marino voltar de Deus sabe onde querendo a posse de meu
filho. Graças a Gregory e seu senso de justiça.
— Estou feita de homens. — Falo sozinha e Paolo chuta. —
Você não meu filho, mas seu pai e seu tio Gregory estão querendo
me enlouquecer.
Hoje Hanna não vem, há dois dias ela descobriu que o
grande amigo e sócio de Nicolas é o famoso Raphael que a
abandonou sem saber que ela estava grávida.
— Seu pai e seu amigo são dois idiotas. — Coloco a mão na
barriga e Paolo chuta forte.
Fico rindo com minha rotina de conversar com a barriga
enquanto a enfermeira Dafne está no jardim. Tem dias como hoje
que é tedioso. Suspiro e lembro de minha conversa com a doutora
Rúbia.
Acordo meio lenta. Me lembro de estar no hospital e ter
agredido Nicolas. Joguei algo em sua direção e dois enfermeirosme
aplicaram alguma coisa.
— Uma clínica. Meu Deus! Ele me internou. Vai tirar meu
bebê de mim. — Começo a chorar.
— Nicolas fala muitas sandices, mas ele seria incapaz de
fazer isso. E aqui não é um sanatório, é um dos quartos de
Elizabeth, da ala inferior. — Viro devagar e uma mulher muito
elegante, cabelo de corte até os ombros e óculos fica me olhando.
— Sou a Dra. Rúbia, fui a psicóloga de Elizabeth, ela era minha
amiga.
— A senhora que vai me atestar como incapaz? — Falo triste.
— Não! Atesto Nicolas como incapaz e com complexo de
Deus. Ele sabe muito bem que se usar minhas conversas para
alguma coisa arranco a cabeça dele. Estou aqui para te ajudar e a
seu bebê. Qual o nome dele ou dela?
— Paolo. É um menino. — Ela sorrir.
— Meu filho é médico, excelente cirurgião cardíaco.Você já
comeu? — Confirmo com a cabeça e continuo encolhida. —
Homens são assim. Se não tiver uma mulher para guiar, cai no
barranco. Me fale sobre você Agnes!
Fico em silêncio e acabo dormindo. Acordo meio lerda e a
mulher está no mesmo lugar. Suspiro.
— Meus pais eram operários e quando eu tinha cinco anos.
Teve um incêndio na fábrica,os dois morreram e eu fiquei com meu
avô. Ele não deixou me levarem para lares adotivos. Quando ele ia
trabalhar, eu ficavacom a vizinha que cuidava de crianças e quando
fizsete anos, a vizinha se mudou. Então, depois da escola eu ficava
na loja com meu avô. Desde pequena eu era fascinadacom a forma
que ele cuidava da madeira e transformava móveis velhos em
novos, e comecei a me interessar pelo serviço. Quando eu fazia
esse tipo de trabalho esquecia da dor e do sofrimento. A loja era
meu refúgio e meu avô o porto seguro, mas ele adoeceu e fiqueisó.
Quero ir para casa, quero minha vida de volta. Hanna vai me ajudar.
— Infelizmente isso não pode mais acontecer. — Sento
arrumando os cabelos e olho para mulher.
— Eu vou fugir, me esconder, deixar tudo isso para trás e
criar meu filho.— Ele fecha o semblante.
— Você sabe quem foi Valentino Marino? — Nego com a
cabeça. — Avô de Nicolas. Um homem frio e calculista capaz de
tudo para obter poder. Ele criou um verdadeiro império e Nicolas
herdou tudo com sua morte e de Elizabeth, sua única filha.
— O que eu tenho a ver com esse homem? — Ela aponta
para minha barriga.
— O herdeiro de todas as corporações Marino. Todo o
legado. Um varão. Agnes você sabe no que está metida? O que
está em risco? Como Nicolas se arriscou deixando você trabalhar no
que gostava? Voltar para sua vida? Quando você está em nosso
mundo não tem volta. Valentino criou um império, mas ele deixou
muitos descontentes por suas atitudes e Nicolas herdou não só seu
império, mas também sua legião de inimigos.
— Eu não quero viver nesse mundo de vocês. Eu quero me
esconder! — Grito e ela continua calma.
— Se esconder onde Agnes? E de quem? De Nicolas? Você
julga que ele é o perigoso? — Ela puxa um jornal e joga na cama.
Quando pego, coloco a mão na boca. — Seu rosto está em cada
jornal de fofocado mundo. Você é a operária grávida do herdeiro de
todo o império dos Marinos. Uma jovem mulher que não tem onde
se esconder porque todos, e quando digo todos, são gente da pior
espécie que quer pôr as mãos em seu bebê para usar contra
Nicolas. A criança que você carrega vale muito, é um objeto de
barganha que quem a pegar poderá ter dinheiro, poder ou até
mesmo vingança.
— Por que minha barriga dói? Isso não acontecia antes.
— Você teve um descolamento de placenta, devido ao
estresse. Você deve ter repouso absoluto, para não prejudicar o
bebê.
— Não posso ficar aqui, não ao lado de Nicolas! — Fico
apavorada.
— Não seja egoístaAgnes! Se não pensa em você, pense em
Paolo. Ele é seu filho e longe do pai é um alvo fácil. Se você não
tivesse nas capas de todas as revistas, até que seu plano de se
enfiar em qualquer buraco daria certo, mas essa criança vale mais
que um bilhete de loteria premiado. Então pense nele! Vocês
precisam de proteção e só Nicolas pode fazer isso. Você gostando
ou não. — Me encolhi na cama e começo a chorar. Sei que ela tem
razão, abraço minha pequena barriga. — Estarei aqui para te ouvir
Agnes, não vou deixar ninguém usar nada de nossas conversas
contra você, nem mesmo Nicolas. Sou profissionale fuimuito amiga
de Elizabeth, ela jamais iria gostar de ver a mãe de seu neto sofrer,
você pode confiar em mim como profissional. Você tem alguma
amiga de confiança?
— Hanna e sua filha Raphaela.— Ela suspira.
— Vou ver com Nicolas a possibilidade dessa moça e sua
filha ficarum tempo com você, mas não podemos deixar isso vazar
para a impressa. Nossa próxima conversa será amanhã, mas se
você quiser antes, pode falar com a enfermeira Dafne ou Glória que
estarei aqui por você. — Ela beija meus cabelos e sai.
Um pássaro canta alto no jardim. Saio de meus pensamentos
e me sento na cama. Olho meu estojo de ferramentas para
pequenos consertos, levanto e passo a mão na capa da pequena
caixa que meu avô me deu de presente de aniversário de dez anos.
Tem todos os tipos de ferramentas delicadas para objetos menores,
serve para consertar relógios antigos e caixa de música. Levando e
olho para a porta que dá para o jardim. Não vejo Glória ou a
enfermeira, e lembro do dia da festa beneficente que vi a caixinha
de música.
— Vamos pegar a caixinha no closet. — Vou andando
desconfiada e abro a porta. Vejo uma escada pequena de alguns
degraus. Pego a escada e levo até o lado que tem a prateleiras,
estou distraída e localizei a caixa. Coloco a escada no chão e coloco
o primeiro pé.
— Agnes! — Escuto a voz de Nicolas e me desequilibro no
susto. Sinto quando ele me segura e pega no colo. — Pelo amor de
Deus! Que me matar do coração? Só você ficar um minuto sozinha
que vai fazer bagunça! — Ele me coloca na cama, me olhando
sério. Fico olhando para seus olhos. Há muito tempo não estava tão
perto desse cretino gostoso. Meus hormônios estão nas alturas e
esse físico,cheiro e beleza está me deixando louca para pular nele.
Suspiro. — Agnes? Está sentindo algo?
— Não! — Só tesão. Penso. — Você me assustou!
— Você ia subir em uma escada! — Desde o hospital não
tenho contato com Nicolas.
— Estava me vigiando? — Ele cruza os braços e fica com o
semblante fechado.
— Você parece uma criança arteira, pensa em Paolo. —
Olho para os músculos do braço, ele podia ser feio, assim eu não
fico com fogo. Solto um longo suspiro — Agnes? V
ocê está bem?
— Eu ia pegar a caixa de música. Hanna trouxe meu estojo
de ferramentas e queria fazer algo para distrair o tempo. —
Desconverso, ele me olha sério e balança a cabeça. Vai até o closet
e traz a caixa.
— Obrigada. — Pego eufórica de suas mãos e coloco em
cima da cama. Tento abrir a tampa. — Travada! — Vou pegar o
estojo, ele pega e me dá. Abro e pego meu aparelho de ampliação,
algumas ferramentas e em pouco tempo estou abrindo e
consertando. Ela é de um mecanismo simples e tinha algumas
peças soltas. Estou quase terminando e sinto dor nas costas por
está sentada na cama. Me estico e vejo Nicolas olhando
atentamente para caixa.
— Como você consegue fazer isso?
— Eu gosto e muito. — Fecho, dou corda e começa a tocar.
— Coloco a mão na barriga. — Você está quietinho. O que foi?— O
bebê não se mexe. — Está dormindo? — Passo a mão várias vezes
e nada.
— Deve estar dormindo. — Nicolas fala e ele chuta forte.
Olho espantada para ele.
— Fala alguma coisa. — Ele me olha sem entender. — Só
fala, narra alguma coisa, revista de economia, qualquer coisa. — Ele
começa a falar várias frases e o bebê se meche muito. Seguro sua
mão em cima da barriga e ele fica quieto. Olho para ele que está
meio espantado. — Fala alguma coisa homem!
— Oi! Paolo, aqui é o papai. — Ele para de falar quando o
bebê se mexe. — É normal ele se movimentar assim? — A barriga
virou toda para o lado que estava a mão de Nicolas.
— Ele reconhece a sua voz. Como? — Fico rindo. Ele coloca
às duas mãos na minha barriga e fala novamente. O bebê se move.
— Senhorita Agnes, trouxe seu almoço. — A enfermeiraentra
e Nicolas retira a mão como se estivesse fazendo algo errado.
— É normal ele se mover, afinal o espaço está ficando
pequeno. — Ele confirma com a cabeça e chama a enfermeira que
sai e Glória entra sorrindo.
Ela me ajuda a guardar as ferramentas e colocou a caixinha
de música ao lado da cama. Almoço e durmo. Acordo cansada.
— Está quase na hora do seu passeio no jardim. — Olho para
cadeira de rodas ao lado da cama e o desânimo me bate.
— Hoje quero dormir. — Viro para o lado e durmo. Acordo e
está no por sol. A enfermagem Dafne não está no quarto, abro a
porta que dá para o jardim, pego um roupão e coloco.
Saio no jardim e vou andando até a fonte.Sento-me no banco
próximo e fico olhando os peixes e sorrindo. Esqueço do mundo
ouvindo os pássaros e passando a mão na barriga. Que paz!
— Agnes! — Olho para o lado e vi os lindos olhos azuis
esverdeados de Nicolas, que está com as sobrancelhas juntas e
cara de preocupação. Se aproxime e me abraça? — Achei que você
tinha fugido.
— Só queria ver os peixes em paz, sem enfermeira ou
alguém me vigiando. — Ele solta do abraço e vejo alguns
seguranças falando no celular. Volto a olhar para fonte. Quero ficar
sozinha. Já sei a pergunta que Nicolas vai fazer. Se estou bem?
Antes que ele faça,já respondo. — Sim, estou bem. Só cansada de
ser uma inútil. — Levanto-me e vou andando devagar para o quarto
o deixando sentado.
A noite janto no quarto e vou dormir cedo. Amanhã tenho
consulta com a nova obstetra, agora tudo será da forma de Nicolas
e tenho que me acostumar ao seu mundo.
NICOLAS MARINO

Há duas semanas foi o dia da consulta de Agnes.


Ela está bem, mas precisa de repouso e nada de
aborrecimentos. Sua gestação está de proximamente sete meses e
algumas semanas. Preciso falar com ela sobre o casamento. Na
consulta ouvi pela primeira vez o coração do meu filhoe a sensação
é incrível.Não acredito que perdi todo esse tempo, deveria ter agido
de cabeça fria, mas fui impulsivo e acabei perdendo meses de
desenvolvimento da gestação de Paolo.
Meu filho!
Olho para o contrato pré-nupcial em cima da mesa. Pedi para
o advogado dar mais a Agnes do que Giulia teria, mas a
conhecendo, não vai aceitar ficar com nada. Pois, não é
gananciosa. Porém, se aceitar de casamento terá minhas regras,
não posso deixá-la desamparada. Tenho que convencê-la que esses
termos são o melhor para ela como a senhora Marino. Agnes ainda
é muito jovem e não tem experiência em meu mundo, é uma presa
fácilpara qualquer predador e como sou um bom jogador, tenho que
pensar nos meus interesses que é ter Agnes e meu filho ao meu
lado.
Ando de um lado para outro. Pedi para Glória trazê-la para
conversamos. Depois do dia que a vi tentando subir em uma
escada, estou mais atento as telas do computador e naquele dia, foi
a vez de ficarmos mais próximos desde quando a tirei do hospital.
Vejo quando ela sai do quarto com Glória e desligo o programa que
me dá visão do seu quarto. Depois de um tempo, escuto uma batida
na porta.
— Entre! — Agnes entra vestida com um macacão bege e
vejo sua barriga. Parece que está maior a cada dia. Ela está com
uma trança muito parecida com a do dia que a vi pela primeira vez,
mas está com mais peso. Vou até ela, a coloco sentada na cadeira
em frente a minha mesa e me sento. — Precisamos falar de um
assunto importante. Nosso casamento. — Ela olha assustada. — No
dia que você sofreu o acidente, eu ia te pedir em casamento.
Comprara um anel. — Pego a caixinha na gaveta e abro com o
anel. Ela olha e ficando séria.
— Você é louco? Qual o seu problema? Diz que ia me pedir
em casamento e chega no hospital me acusando que o traí? Que
Paolo era filho de Gregory. Que diabos passa na sua cabeça? —
Dígito no computador e viro as fotos que está ela com Gregory.
Outra eles estão se beijando. Ela ficaséria. — Nesse dia eu saícom
Gregory para irmos à boate, foi um dia depois que fui ao
apartamento de Giulia, tive a sensação de que estava sendo
vigiada.
— Recebi essas fotos enquanto estava esperando notícias
suas no hospital e o médico falou que você estava grávida. Eu só
liguei os fatos. — Falo e dou os ombros como se não tivesse
importância.
— Ligou os fatos? Você se quer me perguntou, chegou me
acusando. Tinha acabado de descobrir à gravidez e sofrido um
acidente que poderia ter prejudicado meu bebê. Você só pensou
que poderia ter sido traído? Quando foi que eu te dei motivos para
não acreditar em mim? Eu não menti para você!
— Mas também não me falou que beijou o seu amiguinho. —
Falo em deboche e ela estreita os olhos.
— Eu lhe perguntei quem você levou para cama quando eu
estava foragida?Então, por que eu precisava te falaralguma coisa?
E eu não fui para cama com ninguém a não ser você. Seu
descontrolado. E se eu fosse, não era da sua conta porque até
então eu era sua acompanhe de luxo. — Ela falaexaltada e tenta se
levantar.
— Calma é só uma conversa, não te chamei para brigar.
— Mas eu quero brigar! Sinceramente, quando nos
conhecemos eu fui te avisar para livrar esse seu traseiro de ser
ridicularizado por ser abandonado. E o que você fez? Me ameaçou,
roubou minha loja, me prendeu, me fez ser sua acompanhante e
depois ficou igual a cachorro arrependido quando descobriu a
verdade. Verdade que eu falei e você não acreditou! — Ela bate a
mão no próprio peito. — Mas a idiota apaixonada aqui caiu
novamente nos encantos do Don Juan, pensando que seria feliz
com o amor da sua vida e mais uma vez. Adivinha? O grande
senhor Marino recebe fotosde qualquer indivíduoe a mentirosa sou
eu novamente.
— Recebi do número do Gregory. Ele me falou que o número
dele foi clonado.
— Eu sei, ele registrou queixa, mas me pergunto, se eu
tivesse falado que o número dele foi clonado, você ia acreditar? —
Olho para ela e suspiro. Vai ser difícil.— Claro que não! Agnes a
rainha das mentirosas ataca novamente. Eu traio, engano e
trapaceio. Faço tudo para ter uma vida fácil, afinal, em sua cabeça
doente só quero seu maldito dinheiro. Seu cretino! — Coloco as
mãos nos olhos, os fechos e suspiro.
Essas cinco semanas foram cansativas, mas preciso deixá-la
desabafar. Escuto um choro? Abro os olhos e Agnes está chorando.
Que porra!
Levanto-me e vou até ela. A pego no colo e me sento no sofá.
Fico fazendo carinho em suas costas como apoio.
— Desabafa, você vai se sentir melhor. Se quiser deixo você
jogar algo em cima de mim. — Ela rir e chora. — Algo leve. Me
desculpa, Agnes por te fazer sofrer. — Ele funga e se agarra mais a
mim. Depois de um tempo, ela para de chorar. — Está melhor? —
Ela confirma com a cabeça, a coloco sentada no sofá, vou até o
frigobar e pego uma garrafa de água. Abro e ela bebe. Arrumo as
almofadas, a coloco deitada e me sento na outra ponta. Suspiro. —
Sei que você tem muita mágoa por minha culpa, mas precisamos
nos casar.
— Pode registrar Paolo, não vou te negar te ter acesso a ele.
Até mesmo porque preciso está sobre proteção.
— Minha famíliaé tradicional e não assumimos filhos sem
casamento e comigo não vai ser diferente. O contrato de
casamento. — Levanto-me, pego o papel na mesa e o coloco na
sua frentesem dar tempo de argumentos. São meus termos agora e
não vou dar-lhe opção. — Leia e se não concordar com alguma
coisa me fala. — Vou até minha cadeira e me sento. A observo
atentamente, pois quero analisar suas expressões. Ela fecha o
semblante quando lê.
— Por que de tantos números nessa conta que você abriu
para mim?
— Eu seu dinheiro mensal.
— Para despesas da casa? É muito dinheiro. — Sorrio por
sua simplicidade.
— Não é para despesas da casa, é para você comprar
roupas, sapatos ir ao salão... comprar roupas de bebê. — Ela rir.
— Da para comprar uma loja por mês, não preciso de tanto
dinheiro. — Ela volta a ler. — O que eu vou fazer com dois hotéis?
— Ela quase grita e me olha assustada. — Você ia dar isso para
Giulia? E ela te largou assim mesmo? Ela sempre foi gananciosa.
— Não. Ela só teria a pensão com um valor menor que esse,
mas quero garantir seu futuro e dos nossos filhos.
— Filhos? Só temos Paolo!
— Leia o contrato até o final. — Ela ler e fica olhando para o
papel com as sobrancelhas juntas. — Temos química e muito forte,
então vamos ter uma vida de casal normal sobre o mesmo teto e
mais crianças vão acabar vindo. — Ela morde o lábio inferior,
sempre fazisso quando está excitada e não percebe. Agnes é muito
fácil de ler e sou um jogador nato. Não quero perdê-la e não vou
medir esforços para isso.
— Perfeito até quando? Até alguém falar algo inventado sobe
mim e você acreditar? — Ela nega com a cabeça. — Minha resposta
é não. Se fosse alguns meses atrás, estaria feliz em me casar com
você, mas agora e ainda com esse contrato, que parece mais que
você está me comprando.
— Em meu mundo as coisas são feitas assim. Fazemos
acordos e contratos. Somos práticos. — Ela bufa e analiso sua
postura. Está tenta ceder. Vou pressioná-la. — Então me diga quais
são seus termos e coloco no contrato.
— Queira saber por que você tinha ódio de mim? Quando
estava naquele chalé, você voltava sempre com raiva. Por quê? —
Ótima estratégia, quer arrancar a verdade. Penso e sorrio.
— Pesquisei sobre sua vida.
— Eu sei. Você me deu uma pasta, mas sei que tem mais
coisas. Porque se você sabia até do meu café da manhã, então
você sabia onde Giulia estava, mas queria saber de mim. Por quê?
— Sempre soube onde Giulia estava, mas ela não me
interessava, você sim. Eu queria você Agnes e me odiava por isso,
ainda mais o tipo de mulher que eu julgava que você era.
— Uma interesseira, mentirosa, sem escrúpulos. — Ela se
levanta com os olhos marejados e vai até à janela. Giro a cadeira e
fico a observando. Ela está tensa. — Como você chegou a essa
conclusão sobre mim? Não foi com os investigadores.
— Não. Tive uma fonte.
— Quem? Giulia? — Ela me olha séria.
— Não. Giulia quando foi ao meu escritório com o marido
deixou claro que você é boa e justa. Ela gosta de você da maneira
dela.
— Gosta? Duvido muito! Quem me difamou? — Não
respondo. — Ótimo, não vai ter negociação de contrato de
casamento. — Ela fala seria. Agnes me pressionando? Adorei. Vou
ceder para ela pensar que ganhou, assim tenho pontos com ela.
— Alessandra.
— Nunca tive contato direto como ela. A única vez que fui a
sua loja foi para buscar meu carro. Por que diabos ela iria inventar
mentiras sobre mim? — Dou uma risada.
— Ela queria o lugar de Giulia e queria ter certeza de que
você estava fora do caminho. — Ela se olha e rir.
— Só pode ser piada. Onde eu ia chamar atenção de um
homem como você? Ou qualquer outro ricaço? — Ela abre os
braços mostrando que não tem atrativos e sorrio de sua
simplicidade. Nem mesmo pensava em me seduzir.
— Saymon Heinz ficoumuito interessado em você, e desde o
divórcio com a mãe de Alessandra, nunca o vi com tanto interesse
em alguém, ainda mais uma jovem. Saymon é muito discreto. Você
é linda Agnes e tem uma bondade e uma pureza que atraiu gente
como eu. Sem escrúpulos e que vive na escuridão. Você é como
uma chama que atraí as mariposas. Alessandra acreditava que o
simples fato de você ser uma operária era um ponto contra você e
me envenenou com mentiras, mas quanto mais convivia com você
pensava que podia ser uma máscara. Que logo iria ver seu lado
ruim, mas você sempre mostrou o contrário.
— Mas qualquer mínima prova, você se volta contra mim.
— É mais fácil acreditar que uma pessoa é corrupta que
honesta. Fui criado e treinado para controlar, mas você bagunçou a
minha cabeça e a minha vida. Tem horas que não sei o que pensar
ou agir com você. Mudamos o que no contrato? — Ela me olha
séria.
— Não quero seus hotéis e esse dinheiro todo. — Olho para
ela.
— Retiro os hotéis, mantenho o dinheiro. É necessário. — Ela
vai falar e a corto. — Agnes, como minha esposa você vai precisar
de roupas e acessórios. Quando descobri sua gravidez, vivi durante
quatro meses na Grécia. Você como minha esposa vai nessas
viagens de negócios, festas. Depois do nascimento de Paolo você
precisa de aula de etiquetas e moda. Posso te ajudar com as
roupas, mas você precisa aprender ter seu gostoso próprio. Além
dos cartões, deixarei dinheiro com você. — Ela confirma com a
cabeça.
— Os filhos? Você só queria um com Giulia. Por que mais
filhos comigo? — Sorrio e me levanto.
— Minha linda e pequena Agnes. Giulia seria um contrato e
um filho apenas um herdeiro, mas nós temos uma química, nossos
corpos se desejam estar juntos, unidos em prazer. — Me aproximo,
ela continua a me olhar e morde o lábio inferior. — Desejo você,
como nunca desejei ter uma mulher em meus braços, em meu corpo
e em minha vida. — Tomo posse de seus lábios e encosto nossos
corpos. Senti muita saudade desse contato. Paro o beijo e seguro
seu rosto. Ela suspira. — Vai dar tudo certo. Vamos almoçar. — Ela
rir. — Tem um restaurante bem tranquilo que tenho ações, você vai
gostar do ambiente. Já que a médica te liberou com moderação.
Você deve estar cansada de ficar em casa, então vamos sair? —
Ela sorrir. Tenho que ir com calma para conquistar novamente a
confiança dela.
— Vou tomar um banho e me vestir. — Ela fala animada e
quando vai sair, segura a maçaneta, para na porta e me olha. — E
não vou me casar com você. — Fico sorrindo e ela fecha a porta.
— Ah! Minha pequena Agnes, você ainda vai dizer sim. Tenho
todo o tempo para te conquistar novamente e fazer a coisa certa.
Fico sorrindo. Eu sou um bom jogar e sei conquistar o que
desejo e quero Agnes Pretrovic definitivamente em minha vida e não
vou desistir de minha pequena valente.
AGNES PETROVIC

Olho para baixo maravilhada.


Para quem nunca voou de avião, estou de helicóptero. Sorrio e
olho para Nicolas que está com um ar de riso me olhando.
O barulho é muito alto, mesmo com o abafador. Olho tudo pela
janela. A cidade parece um brinquedo de lego com seus minúsculos
prédios. Depois de um tempo descemos em um heliporto de um
prédio. Nicolas me ajuda pegando no colo e quando me coloca no
chão, arrumo meu macacão de grávida.
— Gostou do passeio? — Fico sorrindo.
— Adorei. Nunca voei antes. — Ele me olha surpreso. —
Trabalhava pelo sustento, andei de ônibus, trem, metrô. De bicicleta
então, sempre foi meu principal meio de transporte, menos no
inverno. A neve não ajuda. Já andei de moto com meu ex-
namorado. E dirijo van, mas voar e a primeira vez. — Falo sorrindo
e Nicolas fica me olhando sério.
— Vou pedir aos meus advogados para resolver seu
passaporte depois que Paolo nascer, vamos mudar isso e você terá
muitos carimbos em seu passaporte. Vou te mostrar o mundo. —
Sorrio feliz. — Venha. — Vejo muitos seguranças diferentes e travo.
Nicolas sempre andou com os mesmos seguranças e no tempo que
ficamos juntos eram os que vieram no helicóptero, mas esses não
conheço, ele percebe minha preocupação. — São segurança do
pai/tio de Raphaelo.
— Pai e tio? — Ele rir de minha confusão.
— O pai biológico de Raphaelo abandou a sua mãe grávida,
eles passaram muitas dificuldades financeiras, a mãe dele
trabalhava em um café.A famíliadela não apoio a gravidez sem pai,
ela teve ajuda de uma amiga que nunca a abandonou. Quando
Raphaelo fez oito anos, ele morreu e seu avô descobriu que seu
primogênito abandonara um filhoa sorte e procurou até encontrar. O
tio dele era gêmeo e se apaixonou pela sua mãe, eles são casados
e tem mais dois filhos. — Ele rir. — Peça a sua amiga Hanna para
fazer o grau de parentesco, vai te garantir boas risadas, parece um
enigma matemático. Hoje vamos com os seguranças de Francesco
e seu motorista. Não quero paparazzis nos incomodando.
Pegamos o elevador e descemos até a garagem onde tem um
carro nos esperando. Somos seguidos por mais dois carros e depois
de um tempo chegamos. O carro para e Nicolas espera o motorista
abrir a porta, e saímos em outro estacionamento.
— Venha! — Ele segura a minha mão e passamos por uma
porta. Fico paralisada.
— Que lugar lindo. — Solto a mão de Nicolas e olho o
ambiente rústico, porém muito chique. O que me chamou atenção
foi o gigantesco aquário com os mais variados peixes ornamentais
de vários tamanhos. Tem um tronco no meio e vejo um camarão
nadando. Tem peixes coloridos e fico sorrindo.
— Sabia que iria te agradar, você gosta dos peixes da fonte do
jardim. Venha! — Ele me conduz para uma mesa perto do aquário e
fico olhando. Esqueci que ele está sentado na minha frente. —
Agnes precisamos escolher nosso almoço.
— Só um minuto. São muitos, que lindo. — Perdi a noção do
tempo, até que olho para Nicolas que está me olhando e sorrindo.
— Quero te apresentar a chefe gourmet Priscilla Martinelli. Ela
é especialista em comida italiana e irmã caçula de Raphaelo, apesar
de gêmea de Pierre, ele nasceu primeiro.
— Oi, Nicolas que prazer! Quando me ligaram falando que
você viria com Agnes, vim para cozinhar para vocês pessoalmente e
conhecê-la. Afinal ela que fez o encontro entre nossa famíliae
minha sobrinha Anna Raphaela. — Ela faz uma saudação para
Nicolas e me abraça.
— Obrigado por fechar o restaurante, minha noiva não
precisa ser incomodada por ninguém.
— Sempre que quiser, Agnes tem créditos com nossa família.
— Ela vai em direção a cozinha e fico sorrindo olhando tudo. Nicolas
me olha atentamente.
— O que foi?
— Gosto de sua simplicidade. Vamos almoçar. — Ele estende o
cardápio e fico olhando todos os pratos. Peço o que conheço, uma
lasanha especial e cara demais. Nicolas pede vários tipos de
saladas e massas. Vinho e suco para mim. — Me conta sobre sua
vida!
— Trabalhava desde criança. — Balanço os ombros com
indiferença.Ele segura a minha mão. — Não era ruim, me sentia útil
e viva. Gostava do meu trabalho e sempre passei despercebida na
escola. Menos por Giulia. Quando ela me viu pela primeira vez
julgava que eu era um menino.
— Quando você foi na casa dela, eles acreditaram que você
estava vivendo nas ruas. — Ele fala tenso.
— Sei me esconder bem com roupas, afinal sempre fui
operária. Não poderia gastar dinheiro com acessórios ou objetos de
beleza. Passar maquiagem para lustrar móveis? Não! — Ficamos
rindo. — E você? Me fala sobre seu passado. — Ele fica sério.
— O básico que falei no meu discurso. Meu pai era um
operário polonês, seu nome era Nicolai Kowalcyzk, meu nome é em
homenagem a ele.
— Espera! Seu nome é Nicolas Marino Kowalcyzk? —
Interrompi e ele rir.
— Nicolas Kowalcyzk Marino, mas quase não uso o segundo
nome. Paolo vai ser Marino, mas voltando. Ele morreu atropelado
quando eu tinha oito meses, nunca pegaram o motorista e quando
fizum ano e três meses, meu avô acolheu minha mãe e a mim. Meu
avô foi um pai exemplar, me ensinou tudo que sei hoje, sempre
esteve ao meu lado. Quando eu fiquei adolescente, eu não queria
ter responsabilidade com os negócios e minha mãe não se separava
do meu padrasto, mas morava na mansão. O casamento deles foi
um acordo comercial e ele a machucava muito, então ela o deixou.
O casamento era só no papel. Meu avô me chamou e me mandou
escolher em assumir meu lugar como um Marino ou ele iria mandar
minha mãe para o apartamento de meu padrasto sem direito a volta.
— Isso é cruel. — Um garçom se aproxima, mostra a garrafa
de vinho, Nicolas confirma com a cabeça e ele despeja o líquido na
taça.
— Não em meu mundo, ele estava cuidando de meus
interesses mesmo sem eu saber. Por sua sabedoria herdei um
império. — Coloco a mão na barriga, ele percebe meu nervosismo.
— Não vou fazer isso com Paolo ou com nossos outros filhos.
Posso ter aprendido muita coisa com ele, mas vou tentar ser
diferente. — Ele me olha sério. — Por que se escondia com roupas
largas para ir à escola?
— Não tinha tempo para perder com namoricos ou conversas.
Ia para escola de bicicleta e tinha que estar na loja na parte da
tarde. Meu avô estava envelhecendo e o trabalho principal ficou
comigo. Nossa sobrevivência dependia do meu esforço com para
manter as contas e as entregas em dia para não faltar alimento. —
Falo indiferente.
— Sinto muito por você passar por isso. — Ele segura a minha
mão.
— Não era ruim, tínhamosum ao outro e a nossa loja passou a
ser nosso porto seguro quando tudo estava ruim. Aquela loja é mais
que um local físico.Passei muitos momentos bons naquele lugar, o
valor sentimental e o carinho que tenho por tudo que tem ali dentro,
não tem dinheiro no mundo que compre. Porque cada máquina,
móvel ou peça, foi suor de Paolo Petrovic. É como se ele estivesse
presente falando “Agnes, não desista”. Você entende? — Ele beija
minha mão e sorrir. — Ali é minha história de vida. Pode ser curta,
mas tudo ali tem lembranças boas e me ajudou a seguir.
Conversamos sobre tudo. Durante o tempo que ficamos junto
não conhecia esse Nick sereno e tranquilo. Parecia outro homem.
Comi minha lasanha, a salada, o peixe e ainda pedi duas
sobremesas, e bebi uma jarra de suco. Nicolas olhava tudo
atentamente sorrindo.
Quando voltamos para o carro mal conseguia manter meus
olhos abertos e fiquei tirando um cochilo. Quando pegamos o
helicóptero para voltar, estava praticamente dormindo em seu colo.
Não vi quando chegarmos, mas acordei sonolenta na cama. Nicolas
estava dormindo do meu lado, sua mão estava em cima de minha
barriga e Paolo estava se mexendo muito. Ele sente quando o pai
está por perto, suspiro e volto a descansar.

UMA SEMANA DEPOIS

Estou com Hanna no jardim da mansão sentada em um banco


perto da fonte. Os seguranças estão para todos os lados e hoje
Anna Raphaela está com a avó paterna que está morrendo de
amores por ela ser a primeira neta, e ainda tem o nome igual.
— Acredita que Anna Raphaela está sendo mimada por todos?
Os tios que são primos, os avós e a bisavô. Ela é a sensação da
família.
— E Raphaelo? — Ela amarra a cara e se senta ao meu lado.
— Está arrependido depois de quase cinco anos.
— E você?
— Amo o traste, mas não falei nada. Quero namorar alguém
novo e não vou voltar para Raphaelo, não confio nele. Pode quem
quiser me chamar de errada, mas durante cinco anos fui mãe e pai
de Raphaela. Sempre foi primeiro para ela e depois para mim.
Pesquisei sobre a vida dele agora que sei quem ele é. Descobri que
ele é um playboy pegador e saia com várias modelos. Teve uma
vida enquanto eu era taxada como a mãe solteira, a vagabunda que
abriu as pernas sem proteção, a mulher que devia ter evitado,
pensado antes de “virar os olhos”. — Ela faz aspas com os dedos.
— Agora eu preciso viver um pouco. Ele está arrependido? Ótimo.
Mas ele teve cinco anos para me procurar e não o fez.Se não fosse
você fugir de Nicolas e ir para nossa cidade, talvez minha filha
jamais iria conhecer o pai e por mais que ele diga que se enganou e
que me ama, não estou segura a aceitar isso. Eu precisava desse
apoio quando minha filha estava na incubadora, cheia de agulhas
lutando para viver. Quem estava lá foi meu irmão, minha prima e
toda a minha família.Que em momento algum me julgou por ter um
filho sem pai.
— Sinto muito, amiga. Você falou isso para ele? — Pergunto
assustada.
— Claro que sim! Ele ficou com cara de cachorro arrependido.
Mas vamos falar de coisas boas, viu os seguranças do pai dele?
Cada gato lindo. Quero viver um pouco. Amo minha filha e durante
mais de quatro anos só vivi para ela e não me arrependo, mas
agora está na hora de Raphaelo fazer o papel dele.
— Nicolas me falou de um parentesco maluco deles. — Ela rir.
— A mãe dele se casou com o tio, que é a cara do pai porque
eram gêmeos. Então vamos aos parentescos, se eu não me perder:
o tio de Raphaelo é também padrasto dele, então seus irmãos
também são primos e sua mãe é tia também, mas os irmãos deles
são tios e, ao mesmo tempo primos de Anna Raphaela. Seu avô
também é tio/avô. — Começo a rir.
— Que loucura, meu Deus! — Ficamos rindo e ela me olha
séria.
— E você e Nicolas se acertaram? — Olho para fonte.
— Ele fezo pedido, mas não vou me casar com ele. — Suspiro
e ela rir.
— Beleza, mas tirou o atraso? — Olho para ela assustada. —
Sejamos práticos, ele é um homão e pai do seu filho. Parece ter
pegada porque você voltava alegrinha no final de semana. — Estou
rindo alto. — Estão em uma casa, não fazendo nada. Seria bom
fazer algumas coisas juntos.
— Tipo o quê? Pular em cima dele? — Ela rir.
— Pega o touro a unha, senta, rebola e faz o peão te dar
prazer. Na gravidez ficamos taradas. Então, amiga pega esse
homem e se senta em cima dele.
— O quarto dele é no andar de cima. — Estou segurando a
barriga de rir.
— Melhor ainda. Você vai séria, apenas de calcinha. Tropeça,
cai no pau dele e só sai depois que ele estiver murcho.
— Meu Deus! Hanna por que não te conheci antes? —
Gargalho alto.
— Amiga! Sou prática. Já viu como ele te olha com cara de
lobo mal? Então seja a chapeuzinho vermelho, monta no lobo e
gasta as energias do homem. Seja uma mulher fatal. Gestante
também é sexy e tem libido, então se aproveita disso e pega Nicolas
de jeito. — Ficamos rindo e mudo de assunto.
— Como está Gregory?
— Chato e mal-humorado. Ele falou para Nicolas de Paolo e
pensou que ele não iria atrás da mulher e do filho dele? Ele fez o
certo, mas sofre. E pior que está querendo matar Raphaelo e fica
sendo mal-educado com Priscilla.
— Conheci Priscilla, ela parece ser legal.
— Ela é ótima e está buscando Raphinha para ficar com a
famíliadeles. Uma vez que Gregory quer matá-lo de porrada, ele
não está indo buscar a filha. Acho que ele começou com o pé errado
com Priscilla, mas eles têm muito em comum. Ela é dona de um
restaurante de comida italiana e mestre gourmet. Além de ser
centralizada como meu irmão. Penso que eles foram feitos um para
o outro, só falta meu irmão deixar de ser besta.
— Estiva lá com Nicolas. É lindo o restaurante dela. —
Ficamos conversando um tempo e à noite, Nicolas pede a um dos
seguranças para acompanhar Hanna em uma boate. Isso vai dar
problemas para Raphaelo, pois conhecendo Nicolas a essa hora
seu amigo já sabe em qual boate ela está.
Pego meu livro favorito para ler, mas estou cansada. Deito-
me de barriga para cima e fico olhando para o teto. A enfermeira
Dafne está na casa da famíliade Raphaelo, pois ela ajudava a
cuidar de Anna que se apegou a ela e como não preciso mais de
sua companhia como no início, ela não fica aqui todos os dias.
— Vou ler! — Falo quando sinto que alguém pega o livro.
Acredito ser Glória, até que escuto a voz de Nicolas.
— Leio para você. Chegue um pouco para o lado. — Abro o
olho e ele está tirando os sapatos. Me afasto para ele se sentar na
cama, ele se encosta na cabeceira e estica as pernas.
Me encosto nele e escuto sua voz grossa lendo suavemente.
Vou me acalmando até que durmo.
NICOLAS MARINO

Um mês se passou e mais uma vez pedi a Agnes em


casamento e ela disse não.

Puxo mais uma caixa. Estou cheio de poeira olhando os


móveis que foi da casa de meus pais. Minha mãe guardou tudo no
sótão, inclusive minhas roupas de bebê.
Todas as noites, leio para Agnes e dormimos na mesma cama.
Mesmo sem contato íntimo está sendo uma experiência única.
Sorrio e puxo o plástico de uma cômoda simples e sobe muita
poeira. Bato as mãos em meu jeans e abro a primeira gaveta. Vejo
um uniforme?Pego, retiro da embalagem plástica e leio o nome que
está bordado no bolso.
— Nicolai Kowalcyzk. Era de meu pai. — Fico segurando
pensando o quanto minha mãe o amava que guardou seu uniforme
da fábrica têxtil. Dobro e coloco novamente a embalagem com
cuidado, o depositando na gaveta e fechando.
Vou para a próxima gaveta e acho uma caixa muito bonita
envolta em plástico. Encontro mais três caixas em outras gavetas e
as coloco em pilhas no chão. Quando vou fechara gaveta, vejo uma
caixinha de música pequena envolta em papel transparente que me
chama atenção.
— Agnes vai gostar dessa. — A pego e coloco com as pilhas.
Às duas caixinhas que eram de minha mãe deixei no quarto
que Agnes está. Ela fica ouvindo a música, isso a deixa tranquila e
faz bem para meu filho.
Cubro novamente o móvel, pego as caixas e saio do sótão
trancando a porta. Vou direto para o quarto de Agnes. Bato na porta
e escuto um entra.
— Agnes, poderia abrir para mim? — Escuto seus passos e ela
abre. Entro equilibrando as caixas e colocando em cima de sua
cama. Ela olha curiosa. — Fui ao sótão pegar algumas roupinhas de
quando eu era bebê, já que na semana passada trouxeram as
roupas do enxoval que você comprou. — Ela vem sorrindo e olha
para caixa. — Achei essa caixinha, era da minha mãe. Se você
quiser. — Ela pega a caixinha maravilhada.
— Vamos ver as roupinhas?
— Vou tomar um banho, vai separando que já volto. Quer que
chame Glória? — Ela confirmacom a cabeça enquanto está curiosa
com a caixa.
Saio, mas antes passo na cozinha e falo com Glória que vai
para o quarto de Agnes. Vou para meu quarto e tomo um banho.
Coloco uma roupa leve.
— Vou à empresa na semana que vem. — Falo para mim
mesmo quando fechoa porta do closet. Vou para o quarto de Agnes
e escuto ela e Glória animada. Entro e elas estão com um álbum
meio amarelo nas mãos.
— Nicolas meu filho, venha ver suas fotos de bebê. — Agnes
vira para mim uma foto que estou no colo de minha mãe e ao seu
lado está um homem muito parecido comigo. É meu pai, minha mãe
sempre mostrou fotos sem que meu avô soubesse.
— Esse é meu pai. — Falo e olho para Agnes que sorrir.
— Você é muito parecido com ele, mas tem os olhos de sua
mãe. — Glória fala sorrindo e fico olhando as fotos enquanto elas
separam as roupas.
Vejo minha mãe sorrindo em todas as fotos. Diferente da
mulher que conheci, que só sorria quando estava comigo. Ela o
amava muito, mas o destino não os deixou juntos. Me pergunto
como seria se eu tivesse crescido com meu pai. Glória e James o
conheceu e falaram que ele era um homem justo e trabalhador.
— Filha, vou lavar as roupinhas pessoalmente, algumas têm
que clarear e vão ficar perfeitas. — Olho para Glória sorrindo
colocando as roupas nas caixas e a ajudo a levar para a lavanderia.
Quando volto, vejo Agnes intrigada com a caixinha nas mãos.
— Não é uma caixa de música, é um porta-joias e está
trancada! — Ela coloca na mesa do quarto e vai até a sua caixinha
de ferramentas. Pega alguma chave, senta-se na cadeira e começa
a trabalhar. — Por que está trancada? Onde está a chave? —
Sento-me e fico observando-a tentando abrir a caixinha sem
danificá-la. — Consegui! — Ela abre e pega uma pequena fita. —
Que isso?
— Uma fita das câmeras de segurança? Estranho está nos
pertences de minha mãe! — Pego e coloco no bolso da camisa. Ela
remonta a caixinha e ficamos conversando. Ela olha novamente
minhas fotos de bebê.
— Penso que Paolo será assim, muito parecido com você. —
Ela fala sorrindo e depois de um tempo, Glória chega com seu
lanche da tarde. Ela come e se deita para descansar. Me deito ao
seu lado e acabo dormindo um pouco. Estou descansando e me
recuperando das semanas que Agnes teve a crise de nervoso.
Levanto-me, fico a olhando dormir e sorrio. Essa pequena
mulher virou meu mundo de cabeça para baixo. Saio do quarto e
vou para escritório.
Leio alguns contratos, passo alguns e-mails e analiso os lucros
das filiais. James me traz um café, agradeço e volto a trabalhar.
Depois de algum tempo me alongo sentado na cadeira. Sinto algo
no bolso e pego.
— A fita? Porque minha mãe iria trancar isso em uma caixinha
e colocar no sótão? — Vou até o armário onde estão os
computadores das câmeras de segurança e vejo o
compartilhamento. Inseri a fita e vou para o laptop em cima de
minha mesa. Ligo a imagem, vejo minha mãe e meu avô aqui no
escritório. Olho a data. — O dia que eles discutiram e meu avô
infartou ficando em coma. Desde esse dia minha mãe desligou as
câmeras do escritório e as que tem pela casa. — Ela nunca me
falou o motivo da briga, mas quando Glória me ligou avisando que
meu avô foi levado para o hospital, minha mãe estava desolada.
Deixo a fita carregar e aumento o volume para ouvir o que eles
estavam falando.
Vejo quando ela entra nervosa.
— Pai! Diz que é mentira! O senhor não fezisso! — Minha mãe
grita, meu avô a olha friamente e arruma o terno.
— Fiz o que Elizabeth?
— O senhor mandou matar Nicolai? Pai, por tudo que é mais
sagrado, não pode ter sido o senhor! — Minha mãe está nervosa
andando de um lado para outro.
— Quem lhe falou isso?
— Não importa. Foi o senhor? Por favor, pai? — Ele fazaquela
pose de superioridade.
— O que importa? Nicolas é um homem feito,criado como um
Marino e não um operador de máquinas. — Ele fala indiferente.
— Foi o senhor! Meu Deus! Eu o amava. O senhor privou
Nicolas de crescer com um pai. — Ela chora muito.
Ele não pode ter feito isso! Penso desnorteado.
— Fiz o que era necessário, Elizabeth. Nicolai era um pobre
operário, cheio de orgulho e honestidade. Eu oferecimuito dinheiro
para ele te largar com Nicolas para eu criar meu neto, mas ele me
enxotou. Eu! Um Marino, sendo escorraçado por um operário!
Jamais deixaria meu neto crescer como um pobre. Quem ele
pensava que era? Você é a dona de um império, uma mulher que
nasceu para ser rica e não ficar vivendo em um apartamento
pequeno lavando uniforme! — Minha mãe se senta no sofá e chora.
— Eu amava Nicolai, meu Deus! O senhor destruiu a minha
vida, matou o homem que eu amava e tudo em nome do dinheiro!
Em nome da grandeza dos Marinos. — Ela chora, mas ele não sai
da mesa com sua pose. Não consigo desligar a gravação, estou
parado olhando para homem que amei como um pai. O homem que
destruiu minha família.— Meu casamento? Não foi um acordo? Ele
tem algumas provas contra o senhor! — Minha mãe afirma e ele
passa a mão no peito.
— Ele descobriu e me chantageou. Por isso que tem no
contrato de casamento que se você se divorciar, ele fica com
quarenta por cento do império Marino. — Minha mãe limpa as
lágrimas.
— O senhor deu as ações de minha mãe? — Ela fala triste.
— Não! Tem um testamento, com sua morte, Nicolas será
herdeiro de tudo e isso garante que seu marido não tente nada
contra você. — Ele continua passando a mão no peito.
— Então só a minha morte livra Nicolas desse sangue suga.
— Sim. O que você vai fazer? Falar com Nicolas? — Minha
mãe se levanta.
— Não, ele te ama como se fosse seu verdadeiro pai. Não vou
tirar isso dele!
— Foi para seu bem! — Ele grita.
— Meu bem? Eu perdi o homem que amava quando meu filho
tinha oito meses e quando Nicolas fez um ano e três meses, o
senhor chegou com sua pose e um advogado com um documento
dizendo que ia tirar meu filho de mim se eu não voltasse para casa,
mas para Nicolas o senhor disse que voltei de vontade própria.
Porque estava passando privações e aos olhos dele virou um
salvador. O assassino do pai dele!
— Eu fiz o que era necessário, você morava naquele
apartamento horrível,até um puteiro era melhor que aquele lugar, e
meu neto crescia entre as escórias. Um Marino vivendo em uma vila
operária. — Quando escuto isso, lembro o que falei da loja de
Agnes e lembro de seu olhar sofrido.
— Meu Deus! Eu sempre o admirei. Acreditava que o senhor
me amava e queria me proteger.
— Elizabeth, amor! Isso não existe. O poder move o mundo.
Poder que eu dei para seu filho, meu único neto e herdeiro.
— O que o senhor fezcom meu filho? Por que eu permiti isso?
— Minha mãe se levanta e vai em direção a porta.
— Elizabeth? Filha? — Ela se vira com tristeza. — Você vai
falar com Nicolas? Vai contar a verdade?
— Não. Isso iria destruir meu filho.Ele te ama e não quero que
fique amargurada como eu. A partir de hoje para mim o senhor
morreu no mesmo dia que mandou assassinar Nicolai. Adeus
senhor Marino. — Ela sai e fecha a porta.
Vejo a hora que meu avô coloca a mão no peito e se deita
sobre a mesa.
— James! — Ele grita e James entra para socorrê-lo.
Desligo a imagem. Ele destruiu tudo! Minha famíliame privou
de crescer com meu pai, tudo por dinheiro. Tudo para manter o
império Marino.
Olho para seu quadro em cima da lareira e seu olhar frio. Eu
sentia sua falta, chorei quando ele morreu. Chorei por um monstro.
Em meu peito a dor cresce e me sufoca, minha ira aumenta
querendo se libertar. Estou olhando para seu quadro. O odeio com
todas as minhas forças.
— Odeio você seu desgraçado! — Vou até o bar, pego uma
garrafa e arremesso no quadro o espatifando em pedaços. —
Maldito! Você me tirou tudo! Tudo! — Grito e começo a arremessar
tudo que acho na frente em seu quadro. — Você me transformou em
um monstro sem sentimentos! Seu assassino! — Grito em plenos
pulmões e conheço a chutar. A socar tudo está na minha frente.
Subo na lareira e soco o quadro até minhas mãos sangrarem.
Gritando que ele um assassino e perco a noção do tempo, até que
escuto uma voz me chamar.
— Nicolas. — Olho e é Agnes. Está com uma camisola de
algodão simples e uma trança mal feita. — Desce, por favor. Suas
mãos estão sangrando, nos deixa cuidar de você.
Olho para lado dela está Glória com lágrimas descendo dos
olhos e James preocupado.
— Ele matou meu pai. Tirou minha família de mim. O
testamento que ele fez foi a sentença de morte de minha mãe. —
Falo chorando.
— Sua mãe nos fez prometer nunca te contar o que foi falado
nessa discussão, ela não queria que você sofresse.
— Vem Nick, vamos cuidar de você. Por favor! — Agnes fala
com lágrimas descendo de seus olhos. Olho aéreo. Destruí a vida
de Agnes. Fui como ele, peguei sua loja e chamei de lixo. O local
que ela tem um laço sentimental. — Nick!
Desço da lareira e deixo os três me levarem para um quarto.
Glória cuida de minhas mãos que estão sagrando e Agnes fica o
tempo todo junto comigo. Quando termina, me deito na cama e
Agnes se deita de frente para mim me dando apoio silencioso.
Passo a mão em seu rosto.
— Fui cruel com você. — Coloco o dedo em seus lábios a
silenciando. — Fui como ele, te humilhei, tomei seu lugar de
trabalho que você amava. Fui mesquinho e egoísta. Um moleque
mimado que brincou de Deus com sua vida. Me perdoa!
— Já perdoei, eu amo você. — Ela beija meu lábio em apoio e
me abraça. Ficamos trocando carinho até que em algum momento
adormeci.

Sinto meu celular vibrar no bolso da calça.
Acordo e olho para o lado onde Agnes se deita e está vazio.
Estou com dor de cabeça e minhas mãos estão enfaixadas. Meu
celular vibrar novamente e pego com certa dificuldade, por causa
dos curativos em meus dedos. Olho para tela e vejo o nome de
Raphaelo. São quase onze da manhã.
— Fala Raphaelo! — Fico paralisado com a notícia, até que
escuto um grito de Agnes. Jogo o celular ligado em qualquer lugar e
saio correndo.
Quando chego a cozinha, Agnes está sentada no chão, tem
várias fotos espalhadas e ela está chorando muito. Sento-me no
chão e abraço. Seja o que for e quem fez isso, vai pagar caro e
conhecer toda a ira de Nicolas Marino.
AGNES PETROVIC

Olho para Nicolas dormindo e lembro da madrugada


anterior. Acordei com seus gritos de desespero. Fui para o
escritório, Glória estava na porta e não me deixou entrar.

A porta estava aberta e James estava lá dentro para proteger


Nicolas, e tinham dois seguranças no corredor. Glória me abraça.
— Ele descobriu o que o senhor Valentino fez. Nicolas viu a
fita da discussão de dona Elizabeth com o pai. Senhor Valentino
mandou matar o Nicolai. — Ela fala chorando e fico chocada.
Olho para dentro do escritório e vejo tudo quebrado. Nicolas
está de joelho em cima da lareira socando o quadro do seu avô e
suas mãos estão sagrando. Vejo seu desespero e lágrimas descem
de meus olhos, por me sentir impotente em não poder ajudá-lo.
Ele grita muito, até que ele para de socar e fica parado
olhando para o nada. Vou até ele que nos deixa levá-lo para meu
quarto. Cuidamos de seus ferimentos e fico lhe dando apoio e
carinho, até que ele adormece e volto a dormir.
Acordei com fome e olho para o relógio. Mais de dez da
manhã e olho Nicolas dormindo. Ele está com olheiras. Fico
pensando em seu sofrimento em saber que toda sua vida foi uma
mentira manipulada por seu avô.
Levanto-me, vou ao banheiro e escovo os dentes. Arrumo os
cabelos e coloco um vestido. Saio do quarto e vejo dois seguranças
no corredor. Desde quando ocorreu o vazamento de minhas fotos
para os jornais de fofoca,Nicolas redobrou os seguranças da casa,
pois Raphaelo acredita ser pessoal e direcionado a mim. Ando
descalça até a cozinha e Glória está fazendo o almoço.
— Filha. — Ela vem até mim e me abraça. — Vou fazer algo
para você comer. Tem salada de frutas. — Aceito e me sento para
comer, até que um segurança chega com a correspondência.
— Dona Glória. Todo a correspondência foi verificada
conforme ordens do senhor Marino. — Ele entrega a Glória e sai.
Ela olha os envelopes. — Esse é para você.
— Para mim? — Pego e coloco na mesa. Acabo de comer e
vou abrir o envelope. Viro o conteúdo na mesa e são fotos? Quando
pego a primeira, fico assustada. — Não! Meu Deus! Por favor. —
Viro todas e são fotos da loja de meu avô em chamas. Tudo
destituído. Levanto com as mãos na boca e minhas pernas falham.
Caio sentada no chão e as fotos ficam espalhadas. — Não! — Grito
e choro copiosamente.
Tudo destituído! Toda a história de vida de meu avô. As
máquinas ou móveis comprados com nosso suor. Não pode ser!
Sinto quando alguém me abraça.
— Calma, Agnes, estou aqui.
— Tudo destruído. Tudo que era do meu avô. Cada
pedacinho de suas lembranças. Está tudo destruído. Meu Deus! A
loja era tudo que eu tinha dele. Não pode ser verdade! Por favor! —
Falo chorando.
— Não tinha nada lá. Está tudo no depósito do cais de
minhas empresas. Eu mandei tirar todos os móveis e os
maquinários. — Ele falatentado me consolar, mas não abranda meu
sofrimento.
— Nossa história toda destruída, a loja era tudo que sobrou
de meu avô. Por que estão fazendo nisso comigo? — Falo
desnorteada e sinto quanto ele me pega no colo.
— Glória chama o médico, rápido. — Sinto quando sou
levada no colo e depositada na cama. Nicolas fica abraçado comigo
enquanto choro, perdi a noção de tempo até que sinto ele levantar e
falar com alguém. Sinto quando ele passa a mão no meu rosto. —
Vai ser só para te acalmar, não vai fazer mal para nosso filho. —
Sinto uma picada em meu braço e vou relaxando até dormir.
Àsvezes tento acordar, não consigo abrir os olhos, mas sinto
que Nicolas está ao meu lado. Ele afaga os meus cabelos e escuto
suas palavras de consolo, beija suavemente meu rosto. Tento abrir
os olhos, mas não consigo e caio novamente na escuridão.
— Raphaelo! Preciso de todos os meus investigadores, quero
que peguem o mandante. Você tem razão, é pessoal! As fotosforam
direcionadas a Agnes. Sim, quero todos sendo vigiados dia e noite.
Quem fez isso vai pagar! — Escuto a voz alterada.
— Nick? — Falo baixo e sinto quando sou abraçada.
— Você não está sozinha, estou aqui. Não tinha nada loja.
Assim que você saiu do hospital, dei ordens para retirar tudo e levar
para o depósito. Fiz o mesmo com os móveis da casa que você
financiou. Descansa. Vai ficar tudo bem! Pierre está trazendo a
enfermeira Dafne. — Suspiro e passo a mão em seu rosto.
— Pierre?
— Irmão de Raphaelo. Fica calma, tudo vai ser resolvido. —
Ele fala com carinho e a sonolência está voltando.
— Amo você. — Volto a dormir. Fico muito tempo assim.
Acordo e não tenho forças para levantar ou abrir os olhos, e
volto a dormir. Perco a noção do tempo entre acordar e dormir, e
acordo sonolenta.
— Calma, querida. Vou te ajudar. — Olho para enfermeira
Dafne. — O calmante não foi forte, mas você está abalada. — Ela
me ajuda a ir ao banheiro e tomar banho. Coloco uma camisola e
me deito. Estou sem força para levantar novamente e Glória traz
uma sopa.
Termino de comer e volto a dormir. Fico entre o dormir e
acordar e às vezes, abri os olhos e vi Nicolas deitado ao meu lado
com o olhar preocupado. Outras vezes, abri os olhos e ele estava
dormindo sempre ao meu lado, me dando apoio nesse momento
difícil.Às vezes acordo e a enfermeira me ajuda com comida. Sopa
ou suco e volto a dormir. Escuto algumas vezes a voz de Nicolas
falando com alguém.
Abro os olhos. O quarto está vazio e em silêncio. Estou com
uma camisola rosa que não me lembro de vestir. Sento-me na cama
e tento levantar-se. Vou andando devagar e chego à porta. Lembro
do piano da sala. Gosto de tocar para me alegrar, passo a mão na
barriga e meu bebê se mexe. Sorrio. Me sinto sem forças, mas
tenho que superar por meu bebê.
Abro a porta e vou andando devagar até a sala e escuto
vozes. Acredito ser Nicolas. Ele está falando com quem? Cheguei
na porta e o vejo sentado no sofá abraçado com Glória e chorando.
Estou sem reação e ele volta a falar.
— Ela me perdoa e me ama. Desde que entrei em sua vida
só trago sofrimentoe perdas. Isso deve ser sina dos Marinos. Trazer
sofrimento, dor e desgraça. Meu Deus, Glória! O que sinto por
Agnes é o que nunca senti por nenhuma outra mulher, antes eu
achava que era desejo, mas tenho certeza que a amo.
Quando escuto o que Nicolas falou, fico paralisada com a
mão na boca.
Nicolas me ama?
NICOLAS MARINO

Fiquei arrasado com a descoberta do meu passado e Agnes


ficou me consolando, dando apoio, carrinho e amor.

Adormeci e sinto meu celular vibrar no bolso da calça. Acordo,


olho para o lado onde Agnes estava e está vazio. Estou com dor de
cabeça e minhas mãos estão enfaixadas. Meu celular vibra
novamente e pego com certa dificuldade por causa dos curativos em
meus dedos. Olho para tela e é Raphaelo. São quase onze da
manhã.
— Falo Raphaelo!
— Nicolas, a seguradora acabou de me ligar. A loja de Agnes
pegou fogo. Tudo foi destruído! O prédio está condenado com risco
de desmoronamento. — Fico paralisado com a notícia.
Como vou falar isso para Agnes? Deus! Está acontecendo tudo
ao mesmo tempo.
— Não! — Escuto o grito de Agnes e fico desesperado.
Jogo o celular ligado saio correndo. Quando chego na cozinha,
Agnes está sentada no chão chorando muito e tem várias fotos de
sua loja em chamas espalhadas. Sento-me no chão e a abraço.
Agnes está inconsolável. A pego no colo e a levo para o quarto.
Peço a Glória para chamar o médico e fico deitado tentando
acalmá-la, mas ela está muito nervosa. Escuto a porta ser aberta.
— Filho o doutor, chegou! — Levanto-me e vou falar com o
médico.
— Bom dia, doutor. Ela está muito nervosa com a notícia de
que sua loja pegou fogo. — O médico de meia idade ajusta os
óculos e olha para Agnes que está olhando para o nada, e lágrimas
descem de seus olhos.
— Bom dia, Nicolas. Esse nervosismo todo não faz bem para
o bebê, além do mais ela teve há alguns meses um deslocamento
de placenta. Vou administrar um calmante injetável, mas pelo seu
estado deverá ficar mais sonolenta que o normal. Peça para Glória
uma alimentação leve e repouso. — Falo com Agnes e ele aplica o
sedativo. Ela adormece. — Estarei à disposição, me ligue se
precisar a qualquer hora.
— Obrigado, doutor. — Deito-me ao seu lado. Falo palavras de
conforto, enquanto faço carinho em seus cabelos.
Deus! Quem iria querer prejudicar Agnes? Ligo para Pierre que
atende no segundo toque.
— Nicolas. Como ela está? E o bebê? Está tudo bem?
— Ela está dopada e muito abalada. Preciso que traga a
enfermeira Dafne para cuidar de Agnes.
— Vou providenciar tudo, não se preocupe. Meu irmão está
na frente de todo processo do seguro e do registro de ocorrência.
Cuida dela e nós vamos resolver aqui.
— Obrigado.
Depois de um tempo Glória entra e deixo ela com Agnes. Vou
até meu quarto, tomo um banho e me visto. Pego algumas roupas e
levo para o quarto de Agnes. Quando entro, vejo Glória fazendo
carinho em seu rosto e com os olhos marejados.
— Ela vai ficarbem, só precisa de nosso apoio. — Ela levanta
e me abraça. — Obrigado, por estar sempre ao meu lado.
— Sabe que o tenho como meu filho. Vou trazer seu almoço.
Depois que ela sai do quarto, pego meu celular e ligo para
Raphaelo.
— Raphaelo, preciso de todos os meus investigadores. Eu
quero que peguem quem fez isso. Você tem razão, é pessoal! As
fotos foram direcionadas a Agnes. Sim, quero todos sendo vigiados
dia e noite. Quem fez isso vai pagar! — Estou alterado, até que
escuto a voz de Agnes e desligo o telefone. — Você não está
sozinha, estou aqui. Não tinha nada loja. Assim que você saiu do
hospital, dei ordens para retirar tudo e levar para um depósito. Fiz o
mesmo com os móveis da casa que você financiou. Descansa. Vai
ficartudo bem! Pierre está trazendo a enfermeiraDafne.— Suspiro
e passo a mão em seu rosto.
— Pierre? — Ela fala sonolenta.
— Irmão de Raphaelo. Fica calma, tudo vai ser resolvido.
— Amo você. — Ela fala embolado.
— Te amo. — Respondo, mas ela estava dormindo
novamente. Fico deitado com ela, até que Glória traz meu almoço.
Sento-me próximo de Agnes e almoço. Coloco a bandeja no móvel e
ligo novamente para Raphaelo.
— Nicolas, estou resolvendo as papeladas da seguradora e
meu irmão está a caminho com a enfermeira Dafne.
— Agradeço, meu amigo.
— Como ela está? E você, está bem? — Suspiro.
— Minha vida foi uma mentira e descobri da pior maneira
possível. Precisamos marcar um dia para conversarmos depois que
tudo isso passar, mas primeiro preciso achar o responsável pelos
ataques a Agnes.
— Seja lá quem for essa pessoa a odeia, acionei todos os
seus detetives. Eles estão investigando próximo da loja, alguém
deve ter visto alguma coisa. — Ele fala preocupado.
— É provável, mas vamos incentivar as pessoas a falarem.
Coloque uma recompensa pelas informações.
— Certo. Te manterei informado. Vamos pegar esse louco
desgraçado.
— Obrigado, meu amigo. Como está você e Hanna?
— Porra! Está difícil.Acredita que soquei um cara na boate
que ela estava de beijos, e a arranquei de lá? — Começo a rir, pelo
menos algo me faz rir. — Amigo da onça, rindo da minha desgraça.
Cara, até eu reconquistar essa mulher vou estar de cabelos
brancos. Tive que tirar ela no ombro igual a homem das cavernas.
— Um conselho: Vá com calma. Se não fica levando um não
na cara igual a mim.
— Agnes não aceitou seu pedido de casamento?
— Não. Ela nem sequer quis olhar o anel. Comprei outra
aliança acredita? Mas vou com calma, queria me casar antes do
meu filhonascer, mas está quase impossível.— Ficamos um tempo
conversando. Depois que nos despedimos, tomo um banho, deito-
me ao lado de Agnes e coloco a mão em sua barriga. — Meu filho,
sei que comecei fazendo tudo errado com a mamãe, mas vou
corrigir. Tentarei ser um bom pai, não quer dizer que eu não vá errar,
mas vou fazer o meu melhor. Para você, seus irmãos e sua mãe. —
A barriga se mexe. Fico sorrindo e adormeço.
No dia seguinte ela come outra refeição leve e ligo
constantemente para Dominic que tem uma suspeita e vai trabalhar
nisso, os outros detetives acharam uma pista. Deixo Agnes
dormindo e vou para meu escritório. Já retiraram tudo que quebrei
em um ataque de fúria e vejo o quadro do meu avô que danifiquei.
Vou até à lareira e fico olhando para seus olhos no quadro. Me
lembro quando eu era criança que ele jogava bola comigo, me
ensinou a andar de bicicleta. Ele era rígido, mas me amava de sua
forma doente.
— Não serei mais como o senhor me ensinou. Amor não é
bobagem. É um sentimento puro e nobre. Eu me apaixonei pelo tipo
mulher que o senhor iria odiar, mas por ela eu vou mudar. Ela me
ensinou a amar e em nome desse amor, não vou lhe guardar ódio.
Sei que o senhor me amou à sua maneira. — Vou até o corredor e
faço sinal para dois seguranças. — Por favor, retire o quadro de
meu avô e entregue a James. Peça a ele para embrulhar com
cuidado e depois solicitar que seja colocado no sótão.
— Sim, senhor Marino. — Eles entram e retiram o quadro. Os
vejo levando para outro cômodo e um terceiro segurança foichamar
James. Suspiro, pego meu celular e vou para sala do piano.
Seleciono um número que está na discagem rápida.
— Alô.
— Doutora Rúbia a senhora tem algum horário vago? — Ela
sorrir.
— Todas as consultas de Agnes estão agendadas, mas ela
está solicitando a minha presença?
— Não. É para um paciente novo. — A linha ficaem silêncio e
respiro fundo tomando coragem. — Para mim. Preciso de ajuda
para mudar, não quero ser mais assim. Sei que vai ser um processo
difícil e sou um paciente teimoso. — Ela rir
.
— Gosto dos pacientes teimosos. Podemos agendar essa
semana, após a consulta de Agnes.
— Lhe agradeço muito. Até a nossa consulta.
— Até. — Ela desliga e quando viro Glória está me olhando.
— Preciso mudar, talvez o dano que senhor Valentino fezseja
irreversível,mas tenho que tentar. Não quero ser assim, mesquinho,
ruim e sem coração. Agnes merece alguém melhor, mas sou egoísta
para deixá-la ir e quero que ela fique comigo.
— Não é egoísmo, meu filho. Você está tentando mudar para
ser melhor para ela e seu filho. Isso é lindo. Você está
reconhecendo seus erros. Quando senhor Valentino estava
internado, dona Liza descobriu que ele colocava câmeras pela casa
e achou a fita da gravação do dia da briga deles. Ela nos fez jurar
que jamais iríamos falar para você o que acontecera. Achei que ela
destruiu a fita, mas acho que talvez ela tenha guardado para que um
dia você descobrisse a verdade. — Coloco o celular em cima do
piano e passo as mãos no cabelo.
— Ele matou meu pai por causa de um sentimento doentio
por mim e por minha mãe. Não quero ser doente assim, mas talvez
o que sou nunca tenha cura. Então o que posso oferecer para
Agnes? Ou para Paolo? Deus! Essa raiz de raiva, ódio e sede de
poder tem que sair de mim. Eu não quero ser assim!
— Você deu o primeiro passo que é querer mudar. Muitos
podem querer te ajudar Nicolas, mas se você não reconhecer que
precisa de ajuda, de nada adianta. A doutora Rúbia vai te ajudar,
James e eu estaremos aqui por você. Sabe que Agnes não vai te
abandonar.
— Ela é tem um coração bom e generoso, consegue amar
alguém como eu. — Abaixo a cabeça e suspiro cansado.
Com trinta e quatro anos estou me sentindo um ancião, mas
não fisicamente e sim no emocional mental. Glória me abraça e
choro. Ela me leva até o sofá e fica me consolando.
— Coloca para fora tudo isso de ruim, tudo vai melhorar meu
filho.
— Estou casando Glória, cansado de tudo isso. Fui privado
de crescer com meu pai por egoísmo e mesquinharia de meu avô,
mas não consigo odiá-lo. Porque me lembro dos treinos de hóquei e
das competições que ele sempre estava lá, sorrindo e vibrando. De
quando eu ficava doente e acordava com ele dormindo ao lado da
cama. De tudo de bom que ele fezpara mim, mas agora sei que ele
matou meu pai. Então como passo amar alguém como ele?
— Senhor Valentino tinha muita coisa ruim, mas ele te amava
e amava dona Liza da maneira dele. Não estou o inocentando do
que fez, mas para ele foi por amor, um amor doentio, de posse e de
querer controlar. Você não deve querer odiá-lo, pois Valentino era
um homem vazio e para ele amar era ter posse e manter ao lado
dele independente do que ele tinha que fazer.
— Não posso ser assim com Agnes. Mas, como ela vai
acreditar em mim? Desde quando nos conhecemos só fizo caos em
sua vida. A sequestrei, humilhei e abandonei. Quando volto, fiz
como um menino mimado que quando não consegue o que quer faz
ameaça. Disse que ia lhe tirar Paolo. Acredita? A mesma atitude
que meu avô fezcom minha mãe, eu fizcom Agnes. A história só se
repetiu.
— Mas você tem a chance de fazer diferente, pois Agnes te
ama.
— Ela me perdoa e me ama. Desde quando entrei em sua
vida só trago sofrimento e perdas. Isso deve ser sina dos Marinos.
Trazer sofrimento, dor e desgraça. Meu Deus, Glória! Sinto por
Agnes o que nunca senti por nenhuma outra mulher, antes eu
acreditava que era desejo, mas tenho certeza que a amo.
— Também amo você. — Escuto a voz de Agnes e a vejo em
pé na porta. Descalça e segurando na parede. Está sorrindo com
olheiras e um semblante cansado. Me levanto e a abraço.
— Me perdoe, Agnes. Por tudo que fiz você passar, sei que
talvez nunca possa reparar o mal que te fiz, mas vou viver todos os
dias da minha vida te amando e tentando ser melhor, por você. Eu
te amo.
— Sim. — Ela fala e dá um pequeno sorriso. A levo até o
sofá.
— Obrigado, por me perdoar. — Ela me beija suavemente.
— Sim. Aceito me casar com você. — Levanto correndo e
veja Glória sorrindo.
— Glória liga para Priscilla e peça para fazer todo orçamento
do nosso casamento. Vai ser no máximo em quinze dias.
— Podemos esperar.
— Não. Estou esperando esse sim há muito tempo, não vou
deixá-la mudar de ideia. — Volto e a abraço. — Você está fraca e
precisa descansar. — Ela sorrir.
— Preciso tocar piano. Por isso vim para cá. — A ajudo a
levantar e fico ao seu lado, enquanto ela toca uma linda melodia.
Enchendo a sala de música e minha vida de alegria.
NICOLAS MARINO

Três semanas desde o ataque à loja e estou trabalhando de


casa.

Não quero ficar longe de Agnes, ela está se recuperando e me


mudei para seu quarto no primeiro andar. Estamos arrumando o
quarto de Paolo ao lado do meu e assim que ele nascer, vamos
voltar para o nosso.
A qualquer momento chega o laudo e as provas que preciso
para pegar o desgraçado que está fazendo isso com minha mulher.
E essa pessoa vai pagar caro por isso.
Bato os dedos impacientemente na mesa. Nosso casamento
vai ser no sábado e está próximo de Paolo nascer. Vai ser uma
cerimônia no jardim e uma festa no salão principal. Convidei um
importante colunista social para fazer a cobertura do casamento
para assim acabar com o falatório dos sensacionalistas.
Ontem foi o dia da consulta com a doutora Rúbia e está
sendo difícilfalar, mas ela falou que estou evoluindo. Pois, foi a
primeira vez que me abri. Ela me deixa a vontade para falar quando
me sentir confortável. Foi difícilfalar sobre meu avô e suas atitudes.
Sobre minha decepção em descobrir o que ele fez, mas acho que
no fundo sabia do que ele seria capaz. Por amá-lo preferia não ver .
Levanto-me, vou até a grande janela e olho para o jardim.
Agnes está sentada no banco com Glória, elas estão pegando o sol
da manhã. Seus longos cabelos estão soltos, ela está com um lindo
vestido rodado. Glória fala algo, ela sorrir e passa a mão na barriga
com carrinho. Suspiro. Ela consegue me fazer querer ser melhor a
cada dia, mas sei que o monstro que foi cultivado por meu avô ainda
vive dentro de mim e vou controlá-lo. Porém não agora, pois hoje
vou precisar de toda frieza que só um Marino pode ter. Saio de
meus pensamentos com uma batida na porta.
— Entre. — Me viro e o chefe de meus detetives entra sério.
Ele é aposentado da polícia e ótimo em descobrir o que ninguém
mais descobre.
— Bom dia, senhor Marino. Tenho todas as provas que
precisa. — Faço sinal para que se sente.
— Bom dia. — Pego o envelope e vejo todas as informações.
— Tinha uma desconfiançae mesmo sem suas ordens, segui
meus instintos. O indivíduo foi perfeito em todos os sentidos e não
deixou rastros, mas errou quando enviou o bilhete de recortes e o
senhor foi sábio em me enviar sem abrir. Assim não contaminou as
evidências com outras impressões digitais. — Sorrio.
Há duas semanas eram apenas suspeitas sem provas, mas na
segunda chegou mais uma correspondência em nome de Agnes.
Dei ordens para que tudo fosse verificado antes de ser aberto ou
entregue a Glória, e a nova ordem é que tudo deveria ir para as
suas mãos e assim foi feito.
— Obrigado, Dominic. Pedirei aos meus advogados um
acréscimo no depósito por seus serviços. E lhe espero para meu
casamento no sábado à tarde.
— Obrigado, senhor Marino. É sempre um prazer trabalhar
para o senhor. Jamais perderia seu casamento. — Conversamos
mais um pouco e ele vai embora. Olho novamente para as provas,
pego o telefone e faço uma ligação.
Trabalho até a hora do almoço e vou almoçar com Agnes que
está feliz conversando com Glória. Raphaelo está resolvendo a
papelada do seguro e todo o processo para a reconstrução da loja.
Quero lhe fazer uma surpresa. Antes de chegar na cozinha, escuto
sua risada animada e quando chego na porta. Ela vem sorrindo e
me beija.
— Obrigada por trazer os móveis que eu comprei para o
quarto de Paolo. Glória arrumou todas as roupinhas. Ficou lindo. —
Ela me abraça feliz. A alegria de Agnes é contagiante. — Vamos
almoçar.
— Você foi no andar de cima? — Pergunto e me sento
esperando o almoço. Depois que minha mãe morreu, sempre que
estou em casa almoço na cozinha para ter a companhia de Glória e
James. Agora com Agnes, ela também gosta desse hábito.
— Fui de elevador. Glória foi comigo. — Ela fala como uma
criança que fez algo escondido dos pais e coloca o cabelo atrás
orelha.
— De elevador não tem problemas, mas não pode usar a
escada.
— Não se preocupa meu filho, estou tomando conta dessa
mocinha muito bem. — Glória falarindo e servindo os pratos. James
se junta a nós.
— Sábado será o grande dia. Priscila e Gregory estão
arrumando tudo em relação ao buffet, acredito que eles serão um
casal.
— Espero que sejam. — Falo com frieza e todos me olham.
— Eles têm muito tem comum. — Falo em defesa e Agnes sorrir.
Quero que Gregory passe a gostar de alguém e saia do meu
caminho.
— Gregory merece ter alguém que o ame de verdade. E
Priscilla entende de cozinha, acho que eles serão um casal perfeito.
— O restante do almoço foi de sorriso e conversa. Fico olhando
como Agnes sorrir. Ela gostou de Raphaelo ser o padrinho do nosso
filho, já que ela chamou Hanna para ser a madrinha.
— Se fosse menina, qual seria ao nome? — No meio de toda
essa confusão, esquecera de perguntar.
— Elizabeth, escolhi o nome de sua mãe se fosse menina. —
Seguro sua mão e beijo. — A conheci pouco, mas ela foi muito
educada e agradável comigo. Não ligou de que a atendi com um
macacão de trabalho.
— Minha mãe era uma mulher simples e amável. Ela iria te
adorar como nora. — Depois do almoço Agnes foi dormir. Essa
semana ela está se sentindo cansada, o médico falou que está
próximo do bebê nascer e que isso é comum. Fico observando
enquanto ela dorme e arrumo a gravata. Hora der ir. Sento-me na
ponta da cama e acaricio os cabelos de Agnes. Beijo sua cabeça. —
Te amo, mas o vou ser um Marino para te proteger. — Me levanto e
saio fechando a porta.
Chego no corredor e faço sinal para o segurança me
acompanha.
— Boa tarde, senhor Marino.
— Boa tarde. Prepare tudo, estamos de saída. Quero
esquema máximo na casa e nenhuma correspondência ou pessoa
externa pode ter acesso a minha mulher. — Escuto um sim senhor e
vou até o escritório. Pego o envelope e coloco na pasta.
Em meia hora estamos saindo com segurança. Meu destino é
a empresa Heinz. Entramos no estacionamento e pegamos o
elevador. Estou em total frieza e controle. Quando as portas se
abrem, chego no andar da diretoria. Os seguranças me guiam para
sala de reunião e abrem a porta.
— Nicolas Marino. Que devo o prazer de sua visita? —
Saymon Heinz vem sorrindo e continuo sério. Aperto sua mão.
— Negócios, velho amigo. Apenas negócios. — Ele me
encara e seu sorriso morre no rosto.
— Aconteceu algo? Agnes e o bebê? — Ele fala preocupado.
— Estão ótimos, te espero no casamento. — Ele sorrir.
— Sabe que adoro casamento. Posso levar minha
namorada? — Confirmo com a cabeça. — Pretendo assumir nosso
relacionamento, mas minha filha será um problema. — Ele aponta
para uma cadeira e nos sentamos. — Sabe como ela é
preconceituosa, como a mãe dela. — Ele suspira cansado. —
Sophia é secretaria de um pequeno escritório. Uma mulher
descente, trabalhadora e de caráter. Estamos apaixonados, eu
quero um relacionamento sério e filhos. Você me conhece Nicolas,
sabe como sou reservado. Sei que terei uma briga com Alessandra,
mas é a minha vida e não vou abrir mão do meu grande amor.
Mesmo que minha filhajulgue que não é certo porque Sophia é uma
moça simples e não de famíliarica. Em meu primeiro casamento, fui
nessa de sociedade e só tive sofrimento.
A copeira serve o café e quando ela sai. Voltamos a
conversar.
— Pretende casar Alessandra com quem? — Ele me olha
sem entender. — Fuad Bin fez uma proposta. Ele disse que
consegue controlá-la.
— Não! Por Deus! Ele tem costumes antigos e iria acabar
matando a minha filha com suas punições e regras de submissão.
Alessandra é birrenta, mas não é uma pessoa ruim.
— Não é? — Abro a pasta e pego o envelope. Passo para ele
que me olha sem entender. — Sua filha mandou fotos de Agnes em
uma festa com seu amigo no dia que descobri que ela estava
grávida do meu filho. E eu? Como idiota, cai como um patinho e
perdi o acompanhamento de quase seis meses de gestação do meu
filho. Mas confesso que fui um babaca ciumento. Como ela me
mandou a fotos? Pagou um hacker para clonar o telefone de
Gregory e me mandar as fotos no dia que Agnes sofreu um
acidente. Suspeito, não acha? Ela vendeu a história para as colunas
de fofocae expôs Agnes e meu filho há semanas de comentários
maldosos em jornais. Ela tinha um informante onde Agnes fazia o
pré-natal. Foi ele que informou quando ela deu entrada no hospital e
lhe vendeu as fotos.— Ele abre o envelope, olha as fotose começa
a ler o documento.
— Meu Deus! — Ele se levanta.
— Ateou fogo na loja de Agnes e mandou as fotos da loja em
chamas para minha casa, diretamente para minha mulher. — Ele me
olha apavorado. — Que teve uma crise nervosa. Ela poderia ter
abortado meu filho e você diz que Alessandra não é ruim? — Bato
na mesa. — Há uma semana chegou essa carta. — Pego a foto e
viro para ele. “Você e esse bastado vão morrer”, leio em voz alta. —
Mandei direto para meu investigador e adivinha de quem era as
impressões digitais.
— De minha filha! Deus! — Ele fecha os olhos.
— Vou te dar uma opção: Case ela com Fuad Bin e deixe
bem claro que ela tem que viver em rédeas curtas. Você julga que
Valentino Marino era ruim? Ele não chega aos meus pés. Acabo
com seus negócios e te ponho na miséria. Ninguém! Ninguém
ameaça minha mulher e meu filho! Você sabe o que um Marino
pode ser capaz para proteger os seus. — Soco a mesa e ele abre o
casaco. Anda de um lado para o outro.
— Posso colocá-la em uma clínica de repouso em outro país.
Por favor, Nicolas? Em nome de nossa amizade. — Olho para ele
que está desesperado.
— Traga-a aqui, quero lhe falar! — Ele pega o celular e liga
para o segurança. O clima da sala está tenso, ele pega novamente
as fotos, os laudos e ler tudo. Vejo sua preocupação.
Depois de meia hora Alessandra entra sorrindo.
— Papai, o senhor me chamou? — Quando ela me vê,
congela e olha para o material em cima da mesa. Saymon se
levanta.
— Diz que você não fezisso?! Diz que é mentira! — Ele exige
e ela sorrir.
— Por que negar se tudo está aí? — Ela fala em deboche.
— O que você fez Alessandra? Agnes está grávida, ela
poderia perder o bebê! — Ele grita com raiva e ela olha indiferente.
— Menos um pobretão no mundo. — Fico com ódio por ela
falar assim de meu filho. Levanto e Saymon faz sinal para mim.
— Como você pode falar isso? Deus! Que tipo de monstro
você é? — Ela rir.
— Ah, papai! Você faz doações para instituições de caridade,
para quê? Ajudar as escórias? Gentinha que não tem onde cair
morta e fica dependendo de sua caridade. Agnes nunca devia ter
saído do esgoto. Eu tenho classe, dinheiro, sou capacitada para ser
uma Marino. Não sou igual a você que ficade caso com a secretária
pobretona — O barulho do tapa ecoa pela sala e Alessandra coloca
a mão no rosto.
— Nunca mais fale de assim de Sophia. Quem diabos você
pensa que é? Meu Deus! Como eu não vi que você é assim? Você
destruiu a loja de Agnes. Ela nunca te fez nada, é uma mulher
honesta e trabalhadora.
— Pensa que não sei?! Que se não fosse Nicolas recolher
esse lixo chamado Agnes, seria você. Eu vi seu interesse na festa.
Interesse pela escória! — Ela grita. Saymon coloca as mãos na
cabeça e me olha. — Você pensa que vai se casar com Sophia?
Manchar a família com um monte de mestiços. Eu mato essa vadia.
— Não se aproxime de Sophia.
— Como você vai me impedir? — Ela fala rindo. Saymon me
olha sério.
— Aceito sua proposta, vou ligar hoje mesmo para Fuad Bin e
o casamento será em uma semana.
— Não! Não vou me casar com ele. A terceira esposa dele foi
açoitada a chicote. Pai, por favor. — Ela tenta chegar próximo de
Saymon, que se afasta. — Pai, ele é um monstro!
— Você também, você quase fez Agnes abortar o bebê e
acha isso normal? Você ameaçou matar Sophia e julga que não é
como ele? Ou pior? Ele vai te controlar.
— Ele vai tirar meus direitos de existência! Pai, por favor!
— Está decidido. Você ficará sob segurança máxima e será
levada ao Oriente Médio em uma semana para casamento. Ele vai
te disciplinar, afinal em seu país esse é seu direito como marido e
eu não perco a amizade com Nicolas. — Ela me olha e faz cara de
nojo.
— Você gosta da escória igual a sua mãe. — Me levanto e
olho sério em seus olhos.
— Pedirei uma punição pessoalmente a seu futuromarido em
nome de nossa amizade e parceria nos negócios. — Ela fica pálida.
— Tirem-na daqui! — Falo para os seguranças que a levam aos
gritos e Saymon está desolado.
— Como não vi que minha filha era assim? Meu Deus! Ela é
perigosa.
— A coloque na clínica para tratamento psiquiátrico. — Ele
suspira.
— Obrigado, meu amigo. Ela nunca poderá sair de lá, pois é
muito perigosa. Sophia e eu queremos nos casar e ter mais filhos.
Alessandra é descontrolada, será uma ameaça para seus próprios
irmãos.
— Sinto muito, Saymon.
— Peço perdão a você e a Agnes. Meu Deus! Agnes poderia
ter perdido o bebê.
— Você não teve culpa, meu amigo. Eu nunca teria
desconfiado dela, mas Dominic foi esperto e começou a ligar os
fatos.
— O acidente de Agnes. Foi minha filha?
— Julgo realmente ter sido um acidente. Esse foi o único que
não tinha a assinatura dela, acabou sendo uma coincidência ruim
quando ela mandou as fotos. Coisa do destino. — Falo cansado. —
Você sempre será bem-vindo em minha casa, mas sua filha? A
quero bem longe de Agnes e dos meus filhos.
— Obrigado. — Me levanto e ele estende a mão.
— Obrigado e mais uma vez te peço perdão em nome de
minha filha. — Aperto sua mão e vou embora.
Durante a volta para casa, tudo passa como um borrão. Não
consigo observar nada, estou com os pensamentos distantes.
— Chegamos senhor. — A voz de meu motorista me tira dos
pensamentos.
— Obrigado.
Saio do carro e olho para o casarão dos Marinos. A história de
várias gerações passou por essas paredes, agora entendo o valor
sentimental que Agnes tem por sua loja. Entro e paro observando a
sala. Peças que vi todos os dias parecem ter um significado
diferente agora.
— Filho? Está tudo bem? — Olho para Glória na porta da
cozinha e a abraço. — Agnes está descansando. Vou avisar que
você chegou.
— Estou bem, mas não fale com Agnes ainda. Quero pensar
um pouco. — A solto e vou para o escritório. Entro e encosto a
porta. Vou até o bar e pego um uísque puro. Sento-me em minha
cadeira e fico olhando para local onde estava o quadro de meu avô.
Me desligo em pensamento até que batem na porta. — Entra! —
James entra preocupado.
— Nicolas! Você está bem? — Sorrio.
— Estou. Foi Glória que te mandou? — Ele confirma com a
cabeça. — Pega uma bebida e se senta. Vamos conversar. — Ele
vai até o bar e pega uma bebida. Senta-se na cadeira próxima à
mesa.
— Senhor Valentino fazia muito isso, mandava eu pegar uma
bebida e falava dos planos. — Olho para James. De todos os
empregados, apenas três suportaram meu avô. Ele, Glória e
motorista.
— Como ele era? — Ele me olha. — Meu pai, como ele era?
— Ele sorrir.
— Um homem justo, honesto e que lutava pelos direitos dos
operários da fábrica. Ele era sindicalista. Foi em uma das
manifestações do sindicato que ele conheceu sua mãe, na época
ela estava cuidado da parte administrativa das fábricas. Eles se
conheceram na reunião do sindicato. Eles se amavam. Sabe
Nicolas, qualquer homem teria aceitado o dinheiro de seu avô, mas
ele lutou pelo amor de sua mãe e defendeu sua família.
— E meu avô mandou assassiná-lo! — Bebo a meu uísque.
— Sim, mas como ele era sindicalista, ligaram a alguma
represália e ninguém foi punido. No final, ficou como acidente. —
Ele fica pensativo e bebe um pouco da bebida.
— Não consigo odiar meu avô. Me lembro como ele era
bondoso comigo, das vezes nos treinos, quando ele saia mais cedo
do trabalho para me buscar na escola ou quando eu ficavadoente e
ele brigava com os médicos e dormia na minha cama quando eu
tinha febre. Ele nunca deixou que a babá ficasse comigo quando eu
estava doente. — Ele sorrir.
— Senhor Valentino era um homem complexo. Dona
Elizabeth ficou arrasada quando descobriu que ele foi o mandante
da morte de Nicolai, pois ele era um pai exemplar acima de qualquer
suspeita. Ele a ameaçou porque julgava que seria melhor para
vocês, pois para ele, sua mãe não voltava para casa por orgulho.
Vou te dar um conselho. Aceita? — Confirmocom a cabeça. — Não
tenha raiva ou mágoa dele. O que ele fezfoierrado, mas ele amava
vocês da maneira dele.
— De uma forma doentia.
— Não nego, mas tem coisas sobre seu avô que você não
sabe. Antes de você nascer, nós planejamos ter um filho. Glória fez
o tratamento e quando Junior nasceu tinha problemas no coração.
Valentino fez de tudo para que meu filho tivesse as melhores
clínicas e tratamentos. Eu como mordomo, nunca teria dinheiro ou
conhecimento, e provavelmente meu filho iria morrer. Ele pagou
tudo.
— Por isso você nunca foi embora? Por gratidão?
— Sim. Quando meu filho estava fora de perigo eu perguntei
a ele quanto devia. Para ele descontar de meu salário. Sabe qual foi
sua resposta? — Faço que não e ele sorrir. — Que iria abrir uma
poupança em nome de meu filho e o que seria descontado de meu
salário iria para essa conta para garantir uma boa faculdade para
Junior. Meu filho se empenhou e quando se formou, ele deu um
cargo na rede de hotéis dos Marinos. Um cargo baixo e falou que
ele seria promovido por mérito e não por ser seu afilhado. Somos
gratos a ele até hoje. Ele tinha muitas coisas ruins, mas tinha um
lado humano. Então, não se prenda a maldade que ele fez e sim as
boas lembranças. Dona Elizabeth escondeu a verdade de você
porque ela sabia que você o amava e não queria que você odiasse.
— Não o odeio. — Suspiro e bebo mais um pouco. — Não
consigo odiá-lo por mais que eu tente. Agnes está me estragando.
— Ele rir alto.
— Você está melhorando, está menos chato e rabugento. Ela
está fazendo milagres. — Fico rindo.
— O quadro? Está no sótão?
— Não. Tomei a liberdade de mandar reformar. Chega daqui
a duas semanas. — Sorrio.
— Quando chegar o recoloque em seu lugar. Muito obrigado.
James.
— Sempre as ordens. — Bebemos e jogamos conversa fora.
Depois de um tempo, ele se retira e fico perdido em
pensamento. Até ouvir a quinta sinfonia de Beethoven. Ela dá
ênfase nas primeiras notas, e começa a tocar com suavidade e
perfeição.
— Agnes. — Abro a porta e vou andando. Paro na porta da
sala. Ela está concentrada tocando nota por nota e fico sorrindo.
Depois de quase sete minutos, ela termina e bato palmas.
— Nick. — Ela se levanta, vem correndo me abraça. — Não
sabia que você chegou.
— Estava resolvendo algumas coisas, você tocou
perfeitamente. — Ela sorrir. — Poderia tocar mais. — Ela volta para
o piano. Me sento no sofá e fico observando fascinado.
Em menos de uma semana estaremos casados e em breve
nosso filho irá nascer para alegrar mais os nossos dias.
BÔNUS
ALESSANDRA HEINZ

Tenho tudo que o dinheiro pode comprar.


O que eu pedir, meu pai e minha mãe me dão. Desde pequena
sempre foi tudo o que eu queira, como é da maneira que eu falo.
Gosto de ser a princesa mimada e diferente da minha prima que
adora viver com a gentinha, isso não me agrada.
— Alê, vamos! Não podemos demorar. — Minha mãe me
chama entrando no meu quarto. Reviro os olhos em deboche.
— É sério? Festa beneficente? Só mais uma maneira de
arrancar dinheiro do papai. Odeio gente pobre.
— Não começa! Sabe que isso é importante. Seu pai está
conseguindo entrar como sócio nas redes de hotéis Marino, e
agradar ao Valentino Marino é o ideal.
— Doar dinheiro para essa gentinha vai agradar a Valentino
Marino? Como?
— A filhadele é uma grande dama da sociedade e reconhecida
pelo lado humano. A fundação Elizabeth Marino está no topo das
fundações beneficentes e seu pai vai fazer uma grande doação.
— Para ficar bem com os Marinos?
— Seu pai não é assim. Ele acha que somos ricos e que temos
que ajudar os poucos afortunados.Ele sempre ajudou indiretamente
com doações, mas Valentino está solicitando sua presença. Isso é
importante para a filha dele, ajudar a ralé. Pierre está esperando
para maquiar e arrumar seus cabelos.
Após estar maquiada, coloco um vestido de grife. Se vou para
uma festa, tenho que ser a mais bela. Quando desço, meu pai está
na sala. Ele e minha mãe estão tendo uma pequena discussão. Há
dois anos eles estão em um casamento de aparências. A minha
mãe está se envolvendo em escândalos com seus amantes e isso
mancha a imagem do grande Saymon Heinz. Ele é um bom pai,
mas antiquado em vários assuntos. Ele passa a mão nos cabelos e
suspira.
— Os Marinos não gostam de escândalos. Então chega Alexia,
vamos resolver logo essa separação! Vou ceder aos seus termos. —
Minha mãe sorrir e quando chego próximo, meu pai sorrir para mim.
— Querida, você está belíssima.
— Obrigada, pai. Vamos? — Sorrio.
Vou fazer o papel de mulher feliznesse lugar para agradar meu
pai, ele é ótimo pai, um pouco ausente, mas é melhor que a mamãe.
Chegamos a um hotel com muito luxo, todo de vidro fumê e na
recepção, um segurança confirma nossos nomes na lista. Quando
entro ficomaravilhada com a decoração, um garçom vem e nos leva
até uma mesa que tem uma mulher e um rapaz muito bonito. Com
um corte moderno, barba bem-feita e olhos azuis meio verde. A
mulher está segurando sua mão sobre a mesa, ela tem os cabelos
negros e os olhos são semelhantes ao dele. Deve ser a mãe. Ela
está com uma roupa de grife e um colar de diamante.
— Boa noite, Elizabeth. — A mulher solta a mão do rapaz, se
levanta a abraça meu pai.
— Saymon, que bom que você veio, meu pai ficará muito feliz.
Venha meu filho! Deixa-me te apresentar um dos grandes
colaboradores da nossa fundação.— O rapaz se levanta e vem até
nós. — Saymon gostaria de apresentar meu filho, Nicolas Marino.
Nicolas esse é Saymon, sua esposa Alexia e sua filha Alessandra.
Não prestei atenção na festa ou em qualquer outra coisa a não
ser em Nicolas Marino. Precisava descobrir tudo sobre ele, eu o
queria e como tenho tudo que quero. Com ele não será diferente.
Durante a festa,ele dá atenção a sua mãe e dança com ela. Depois
fica de conversa com meu pai e o senhor Valentino. Parece que
meu pai será sócio nas redes de hotéis Marino e essa parte é
administrada por Nicolas e um amigo de faculdade, que está
estagiando. Segundo a conversa que escutei, ele é o primogênito da
família Martinelli.
Nicolas é educado, mas não olha muito para mim. Saio da
festa frustrada. Quando chego em casa, vou para a frente do
computador pesquisar tudo sobre Nicolas. Descubro em qual
faculdade ele estuda e vou me mudar para lá. Sorrio, tomo um
banho, retiro a maquiagem e vou dormir.

Estou há alguns meses na mesma faculdade que Nicolas e
meus pais se divorciaram. Estou vivendo com meu pai, mas tenho
um quarto no apartamento de minha mãe. Fiquei sabendo que vai
ter uma festa da faculdade e Nicolas vai estar lá com seu amigo.
Vou nessa festa vestida para matar e ele será meu.
Chego à festa e está a mesma bagunça de sempre. Muitos
bêbados, música alta e entre as pessoas, vejo seu amigo Raphaelo
bebendo e agarrado a uma loira. Enquanto Nicolas está com uma
cerveja e com cara de entediado. Me aproximo e ele me reconhece
da festa. Temos uma conversa animada. No final da festa vamos
para seu apartamento e temos uma noite regada de muito sexo.
Nicolas é maravilhoso na cama e estou apaixonada.
Com o passar dos meses vamos a boates, festas e noto que
ele não gosta muito desses lugares. Porém, não vou mudar meu
gosto por ele. Nicolas é reservado e faz muitas viagens a negócios.
Ele está viajando e estou me arrumando para ir à uma boate para
beber e me divertir. Meu celular toca e vejo o número de minha
prima Giulia.
— Oi, prima. Até que fimlembrou de mim, afinalvocê vive com
a ralé.
— Não fala assim da Agnes, ela é uma boa amiga. Ela não é
interesseira e gosta de mim como pessoa e não pelo meu dinheiro.
— Que seja! Vou para a boate agora. Nos falamos mais tarde.
— E Nicolas?
— Está viajando. Estamos juntos e ele não oficializou nada,
então vou viver. — Conversamos e vou para inauguração da boate.
A noite foi regada de bebida e dança. Saí às quatro da manhã
bêbada e fui para casa de minha mãe. Deito-me na cama e durmo
com a roupa que cheguei. Acordo por causa de uma pancada na
porta e minha mãe entra como um furacão.Minha cabeça dói muito.
— Alê! O que você tem na cabeça? Você está com o solteiro
mais cobiçado da sociedade e faz essa merda! — Ela joga o jornal
ao lado da cama e quando pego, tem várias fotos minhas na
inauguração da boate e em outras estou bêbada dançando.
— Não o trai, só me diverti.
— Se divertiu? Valentino Marino odeia escândalos! Ele
escondeu o primeiro casamento da filha por ser com um operário.
Você acha que ele vai deixar seu neto ficar com uma mulher que
fica sendo fotografada bêbada em boates?
— Tá mãe, me deixa dormir. — Ela sai batendo a porta e viro
para lado voltando a dormir.
Quando Nicolas voltou de viagem ele estava diferente, mais
sério. E depois de duas semanas, ele pediu um tempo no que
tínhamos por que tinha que se dedicar mais as empresas de sua
família.Ele trabalhava direto com meu pai nas suas redes de hotéis.
Passei a morar mais na casa de meu pai, pois assim, tinha
mais contato com Nicolas. Tinha certeza de que ninguém iria tirá-lo
de mim.
Depois da formatura, a meu pedido, papai abriu uma boutique
em um dos shoppings mais carro da cidade. A loja me rendia um
bom dinheiro e passei a frequentar boates mais distantes de classe
baixa. Assim não teria a possibilidade de ser novamente flagrada
bêbada ou saindo com alguém para me divertir.
Estou sempre nas sombras vigiando Nicolas Ele é sempre
discreto, mas seu amigo é um mulherengo nato e o vi algumas
vezes na boate que frequento. Tem semanas que o vejo com uma
loira muito bonita, deve estar querendo se amarrar.
Depois de Alguns anos, Valentino Marino sofreu um infarto e
ficou em coma vindo a falecer. Logo depois de alguns meses
acharam a mãe de Nicolas morta dentro de um carro. Fui nos dois
enterros e pude ver como isso o abalou. Ele estava arrasado,
abraçado a governanta que não me lembro o nome, mas ele sempre
falava sobre ela quando estávamos juntos. Ele tem muito carinho
por ela. Não sei como um homem rico pode ter afeto a ralé? Ele
sempre falava no mordomo com a admiração, que o tem como um
pai e o filho do mordomo é afilhado de falecido alentino.
V
A cada ano que se passa, Nicolas está mais distante e só se
concentra no trabalho. Afinal com a morte da mãe aos vinte e oito
anos, ele passou a ser um dos homens de negócios mais ricos da
Europa. Dono de um verdadeiro império que vai de fábrica têxtil,
redes de hotéis e construtoras.
Estou organizando a novas peças da temporada
outono/inverno de minha loja, quando meu celular toca e vejo o
número de minha prima. Ela deixa dinheiro em minha conta, pois
meu tio sempre a coloca de castigo sem acesso as suas contas
bancárias. Para não ficar sem dinheiro, ela deixa mensalmente parte
da mesada comigo.
— Oi, Giulia. — Falo sem interesse observando as peças que
tiro da caixa.
— Alê, preciso conversar!
— Está de castigo de novo? Por que você não conversa com
sua amiguinha operária pobretona?
— Não fala assim de Agnes! — Ela me reprende e gargalho.
— Sejamos sinceros, sua amiga se veste com roupas usadas.
— Ela precisa sobreviver. — Sei que ela não gosta que fale mal
de Agnes.
— Que seja! Está de castigo? Precisa de dinheiro?
— Não. Estou indo para ir, para almoçamos e conversar. —
Depois de meia hora estamos em um restaurante de luxo. Bebo
meu suco enquanto minha prima está visivelmente nervosa. —
Conheci um rapaz. Ele é ajudante de Agnes.
— Deve ser o namorado dela ou algum peguete. — Ela bufa.
— Agnes tem namorado. Gostei dele e o seu nome e Antoni.
— Gostou? Então pega, nada te impede, você não está
comprometida. Aproveita enquanto seu pai não te noivou com
ninguém. Vou te dar um conselho, pode ser pobre, mas se é
gostoso e você está a fim? Pega e depois larga. Aproveita e se
diverte, já que você gosta de viver no meio da gentinha.
— Papai não pode saber.
— Não vou falar nada. Pobre costuma ter uma pegada
gostosa. Agora entendo porque a mãe de Nicolas se casou com um
operário. — Ficamos rindo e conversando.
Sempre pergunto sobre Nicolas e meu pai que sem saber de
minhas intenções, me falatudo que sabe sobre ele. Giulia está cada
vez mais envolvida com os pobres e seu amante operário quer dar o
golpe casando-se com uma mulher rica. Sempre incentivo para ela
continuar, mas apenas por diversão. Casamento tem que ser com
alguém de nosso meio social.
Minha vida está o mesmo marasmo, até que tive a
oportunidade de ir para Dubai com meu pai e meu Nicolas. A
reunião foi horrível, além de ficar sob o olhar de cobiça de um sheik
com idade para ser meu pai.
A noite eles estão em uma reunião e vou para o bar do hotel.
Aqui é permitido beber, mas com restrições.
— Países atrasados. — Peço uma bebida e no final da noite
estou bêbada e cantando no corredor. Até que meu pai me leva para
o quarto. Acordo com dor de cabeça e uma ressaca. Escuto a voz
de Nicolas, levanto-me e vou até porta que dá para sala.
— Saymon, somos amigos há muito tempo, mas não quero que
sua filha esteja presente nas próximas negociações. Por sorte que
Fuad Bin está interessado em Alessandra para ser sua quarta
esposa, senão teríamos perdido o contrato.
— Não vou me casar com ele. — Saio do quarto e Nicolas me
olha com desprezo.
— Controle sua filha. — Ela sai me ignorando.
— Pai?
— Fica tranquila, não vou fazer isso. Descansa e não sai do
quarto.
Depois daquele dia, Nicolas ficou cada vez mais distante até o
dia que chegou um convite em minha casa e meu mundo desabou.
— Não! Ele é meu! — Arranco as roupas e jogo no chão. Estou
quebrando tudo do meu quarto. Ela não pode ficar com ele, Nicolas
é meu! Sento-me no chão, cansada. — Ninguém vai ficar com ele.
Ninguém! — Tem que ter um jeito, lembro do caso de minha prima e
sorrio. — Você não perde por esperar.
Formo um plano em minha cabeça, vou incentivá-la a ficarcom
seu operário como amante. Nicolas odeia escândalos e gente
gananciosa.
O casamento foimarcado e o miserável do pobretão é honesto,
não quer ser bancado. Mas minha querida priminha vai cair de boba
porque depois do casamento, vou encorajá-la a procurá-lo e vou
mandar um detetive tirar fotos, e vender para os tabloides de
fofocas.Será o escândalo do ano. O grande Nicolas Marino sendo
traído.
Dois dias antes do casamento, minha prima fugiu com seu
operário e mandou colocar a culpa na sua amiga pobretona.
Quando Nicolas apareceu para saber o que aconteceu, me fiz de
vítima e coloquei a culpa em Agnes. Finalmente os ventos estavam
a meu favor. Teria meu lugar de direito como a senhora Marino.
Semanas depois recebi uma ligação de Nicolas marcando um
almoço. Ele marcou no restaurante mais caro da cidade, pois
sempre teve ótimo gosto. Cheguei antecipadamente e tinha uma
mesa reservada. Estava feliz, pois hoje ele ia me pedir em namoro.
Nicolas chegou com seu terno caro e porte imponente. Ele é
lindo e concentrado. O amo desde a primeira vez que o vi. Dessa
vez vou fazer diferente, vou fazer ser tudo que ele quiser
.
— Alessandra. — Ele beija meu rosto e se senta. Estou com
mil borboletas no estômago, esperei muitos anos por esse
momento. — Vamos fazer nosso pedido para conversarmos.
— Claro. Como você quiser. — Pedimos o nosso almoço e vejo
Nicolas olhando sempre para o celular.
— Meu tempo está curto, Alê. Sinto muito pelo almoço corrido.
Preciso sabe mais informações sobre Agnes Petrovic.
— Agnes? — Meu sorriso morre no rosto.
— Sim. Amiga de Giulia.
— Eu a conheço. O que você quer saber? — Bebo meu vinho e
o sabor não é mais o mesmo. Ele desce amargo.
— Como ela é? — Olho seria para ele. Agora é minha chance
de tirá-la do caminho. O conheço e se ele tiver interessado, vai ficar
decepcionado.
— Uma interesseira. Ela é amiga de Giulia para tirar vantagem
e minha prima como uma boba, vive gastando dinheiro com ela.
Sabe como essa gente é? Ver um rico e quer tirar dinheiro.
Também, coitada não tem onde cair morta, não podemos julgá-la
por querer uma vida melhor. — Vejo seu semblante fechar e trincar
o maxilar. Consegui!
Meses se passaram e Nicolas não me procurou. Sai com
alguns amigos para ir à uma boate distante e um homem loiro muito
bonito me chamou atenção. Vou seguindo e de repente congelo
quando a vejo.
— Que mundo pequeno. — Sorrio e pego o celular.
Vou tirar algumas fotos dos dois conversando. Fico em uma
posição que ela não me veja, pois, talvez me reconheça. Tiro várias
fotosaté que ele a beija? Aproveito a distração do casal e tiro várias
fotos. Isso pode ser útil um dia.

Chegou mais um dia de ir naquelas festas horrorosas de
doações que meu pai adora. Mais uma vez a fundação Elizabeth
Marino.
Vou animada porque vou ver Nicolas, mas chegamos
atrasados e após seu discurso, o vejo dançando com Agnes? Fico
com um ódio mortal. Não pode ser! Eles estão dançando e ele fala
alguma em seu ouvido. Ela fica sozinha, a ofendo e Nicolas me
ameaça, mas não vai ficar assim. Vou separá-los.
Pago um detetive para verificar onde Agnes vive, pois sua loja
está fechada. Descobri que mesmo namorando Nicolas, a idiota
está trabalhando e vivendo e uma cidade pequena. Seu patrão é o
loirão lindo da boate.
— Te peguei, Agnes! — Sorrio olhando as fotos do celular.
Paguei a um hacker para clonar o número do chefe dela, seu nome
é Gregory. Assim que o número foi clonado, mandei as fotos da
boate. — Nicolas é ciumento e possessivo. Tchau Agnes. — Falo
sorrindo esperando o caos acontecer.
Depois de alguns meses, meu pai me fala que Nicolas está
vivendo na Grécia, mas sei que Agnes está naquela cidade
pequena. Paguei o mesmo detetive e descobri que Agnes está
grávida.
— Quem diria que ela ia dar o golpe da barriga com filho de
outro? — Fico rindo. Passo a pagar um funcionáriodo hospital onde
ela faz o pré-natal e acompanho tudo de perto, mesmo estando
longe.
Os dias estão tranquilos e acompanho Agnes de longe. Ela
nem sequer notar que está sendo vigiada. Arrumo a nova coleção
no estoque. Nicolas chegou na semana passada e estou esperando
que ele me ligue, agora com Agnes grávida de outro, o caminho
está livre.
Meu celular toca e pego em cima da mesa.
— Tenho notícias novas e fotos. Se a chefia não quiser, vou
vender para outro.
— Não ligue para esse número! O que você tem?
— O ricaço chegou com a mulher grávida desmaiada aqui no
hospital. Vou mandar as fotospara a chefiaver que são boas. — Ele
desliga.
Odeio essa gente. O celular toca e vejo as imagens de Nicolas
com Agnes no colo.
— Não! Ela não pode pegar o que é meu! — Grito e me sento
no chão do estoque da loja. — Vou me vingar dessa maldita! —
Retorno a ligação. — Quantas fotos e quanto você quer? Pago
assim que receber tudo. — Ele me envia várias fotose a informação
que Agnes está na ala particular. Faço a transferência e ligo para
um conhecido de um jornal sensacionalista. — Tenho a notícia do
ano! O grande empresário Nicolas Marino engravidou uma operaria.
Sim. Tenho provas. — Envio as fotos e agora quero ver o circo
pegar fogo.
Tenho notícias de Nicolas pelo meu pai que de inocente me
contou que Agnes está grávida e o filho é de Nicolas. O grande
herdeiro dos Marinos e Agnes teve tanta sorte que é um menino.
Nicolas está extremamente protetor com ela, ninguém da imprensa
tem acesso, mas os jornais sensacionalistas não estão deixando
essa história morrer. A grande “cinderela moderna”. O escândalo do
ano.
Seu cão de guarda Raphaelo está em frente ao império Marino
junto com Júnior, o filho do mordomo. Nicolas sempre gostou da
gentinha. Meu pai sempre me mantém atualizada. Muito inocente,
afinal ele não suspeita do que a filha dele é capaz.
Tenho que atingir Agnes de alguma forma.Sem acesso é difícil
chegar até ela, mas formo um plano. Pago alguns drogados para
atear fogoem sua antiga loja e ficode longe. Quando a loja está em
chamas, tiro várias fotos e vou para casa. Imprimi tudo e pago
alguém para colocar um envelope endereçado a Agnes na caixa do
correio da mansão Marino.
Duas semanas e nada de Agnes. Estou com um ódio mortal.
Até onde sei, ela só sai com Nicolas e com muitos seguranças. Ele
a protege como se fosse a mulher mais valiosa do mundo. Aquela
maldita operaria saiu do esgoto para acabar com meu futuro. Penso
raivosa enquanto colo o papel de ameaça. Ela não pede por
esperar. Nicolas não a deixa sozinha e quando fizer, acabo com ela
e essa criança.
Depois de algumas semanas, meu pai recebe um convite de
casamento de Nicolas para minha infelicidade.Meu pai está de caso
com uma secretária negra. Tudo bem que ele queira ter seus casos,
mas está seguindo os passos de Nicolas, agora só falta noivar com
essa pobretona.
Faltam poucos dias para o casamento de Nicolas e tudo que fiz
contra aquela maldita não surtiu efeitos. Mas vou nesse casamento
acabar com essa festa. Sou tirada dos pensamentos quando me
celular toca e vejo o número da segurança de meu pai.
— Oi, sim. Estarei a caminho. — Me arrumo e vou para
empresa de meu pai. Assim que saio em seu andar, vejo muitos
seguranças e paro.
— Vamos senhora. — Vou a contragosto para sala de reunião.
Quando entro, vejo Nicolas com um olhar frio e as fotos em cima da
mesa. Então ele descobriu? Faço uma cara de deboche. Depois de
uma discussão, sou arrastada do escritório de meu pai pelos
seguranças sobre ameaça de se casar com aquele sheik asqueroso.
O dia do casamento deles está chegando. Estou presa na casa
do meu pai com muitos seguranças e sem aceso a celulares. Não
existe a menor possibilidade de fuga, mas tem que ter uma saída.
Batem na porta de meu quarto e meu pai entra.
— Filha? — Viro de costas fazendo birra. Ele suspira e escuto
quando ele se senta na cama. — Amanhã será sua transferência
para uma clínica na Rússia. — Então tenho uma chance de fugir.
Penso e sorrio. — É numa clínica de repouso.
— Não sou louca! — Grito e viro para meu pai.
— Não é minha filha, mas você é perigosa. Sabe que Nicolas
em nome de nossa amizade me deu essa opção. Lá é um lugar
sossegado, em uma cidade pequena e tranquila.
— O senhor vai me esconder? Me trancar em um manicômio?
— Não! É uma clínica de repouso. Lá você terá tratamento e
cuidados. — E poderei fugir no transporte. Penso sorrindo.
— Tudo bem, pai. O senhor quer o melhor para mim. Obrigada.
— Sorrio, ele levanta e me abraça.
O dia de ser levada chegou. Me despeço de meu pai sem
deixar transparecer minha ira. Odeio todos, mas sorrio e o abraço
com a promessa de que ele sempre irá me visitar.
Entro no carro tranquilamente com os seguranças e depois de
um tempo estamos em uma rodovia pouco movimentada. Já
verifiquei a porta do meu lado e não está trancada. Fico tranquila
olhando a rua. Tem um carro com vários seguranças nos seguindo.
Quando o homem do meu lado atende o telefone, tenho minha
chance. Destravo a porta do carro e pulo.
Tudo foi muito rápido, sinto um impacto e uma dor alucinante
explode em todo meu corpo, e tudo se apaga.
NICOLAS MARINO

Enfim o dia do casamento chegou.


Arrumo a gravata e em menos de uma hora Agnes será minha
esposa. Sofri para consegui esse sim. Coloco o terno importado.
Hoje é o dia mais esperado por mim, pois assim que ela falar “sim”
perante o juiz. Ela será oficialmente a senhora Marino e nada pode
dar errado.
O esquema de segurança está organizado e quem vai fazera
cobertura do casamento é um colunista muito respeitado. Priscilla
providenciou tudo e o desbotado do Gregory fez o bolo. Por mais
que eu não vá com sua cara, tenho que admitir que ele fez um
excelente trabalho. Ele que vai me entregar Agnes no altar. Ela fezo
convite por ele ser seu amigo e a ter apoiado na gravidez. Mesmo
tendo sentimentos por ela, ele me falou a verdade sobre Paolo.
— Tudo bem! Ele tem créditos, mas não tanto. — Falo
sozinho e coloco o relógio. Claro que Agnes não pode saber que
para mim, é uma afronta. Aquele idiota, ele vai entregá-la em
minhas mãos.
Saymon Heinz não virá ao casamento. Ele me ligou há dois
dias para avisar que Alessandra sofreu um acidente grave. A
estavam levando para aeroporto. Segundo seu pai, ele falouque ela
seria internada para tratamento, pois nos últimos dias ela estava
agressiva e descontrolada. Ela implorou e disse que ia mudar, mas
quando ele não retrocedeu, ela novamente ameaçou destruir a
todos. Até a atual namorada do pai.
No meio do caminho ela tentou fugir do carro em movimento,
pois estava em uma rua com pouco veículos, mas ela caiu do carro
e foi atropelada por outro que vinha atrás. Segundo Saymon, ela foi
levada para hospital, mas está em coma profundo, além de sofrer
múltiplas fraturas. Está respirando por aparelhos, sem chances de
acordar. Suspiro. Meu amigo tem esperanças, mas mesmo que ela
sobreviva, nunca mais poderá sair de uma cama, pois afetou a
coluna. Ela ficará acamada enquanto viver. Esse foi o castigo de
toda a sua maldade.
— Nicolas, está na hora. — James me chama e abre a porta.
— Você está impecável, mas a gravata está torta. — Ele ajeita
minha gravata desde quando coloquei meu primeiro terno.
— Obrigado, James. Glória está pronta? — A pedi para me
levar até o altar. Me lembro como ela chorou emocionada.
— Sim, mas Agnes vai atrasar. Coisa de noiva. — Suspiro
cansado. Só quero me casar rápido para ela não fugir de mim, mas
tenho que cumprir o protocolo social.
Descemos e quando chego ao jardim fico encantado com a
arrumação. Priscilla foi perfeita com tudo. Tem cadeiras arrumadas
com tecidos fazendoum corredor, que está protegido com um tecido
branco e flores. No meio tem um tapete vermelho e no final um
púlpito que está com um arco de flores silvestres. Ando olhando
tudo e depois volto para casa. Vou ao salão principal que não é
usado há muito tempo e quando entro, fico fascinado.
A mesa principal com vinte cadeiras douradas está arrumada
com três colunas de vidro, de aproximadamente dois metros de
altura. Sendo que o meio e o topo estão enfeitados de flores
brancas. Os candelabros de cristal do teto estão ligados e as
grandes cortinas de veludo verde musgo, estão afastadas dando
mais claridade ao salão.
Ao lado tem mais algumas mesas menores enfeitadas com
flores naturais e com um bolo de cinco andares branco, todo
enfeitadode florese com noivos no topo. Olho a noiva que está com
ferramentas na mão, na sua frente tem um piano e segurando no
seu pé está o noivo. Dou uma risada alta.
— Gostei, afinal me rastejei para ter esse sim.
— O mestre de cerimônia está só esperando a noiva dizer
que pode começar. — James fala sorrindo.
Depois de meia hora de atraso, estava nervoso acreditando
que Agnes decidiu não se casar. Estou andando de um lado para o
outro no escritório e James entra.
— Vamos, já estão todos em seus lugares. — Suspiro aliviado
e vou correndo para próximo de Glória, que está falando com um
dos funcionários de Priscilla.
— Maravilha! O noivo chegou. Vou avisar a todos. — Ele fala
pelo rádio e escuto uma melodia suave sendo tocada. — Podem
sair, devagar. — Dou o braço a Glória e vamos andando em direção
ao tapete vermelho. — Esperem um pouco! — Ele organiza outros
pares atrás de nós. — Vamos fotografo,se posicione! — Ele fala
com o fotógrafo e nos dá a orientação. — Toda vez que ele quiser
tirar uma vai levantar a mão, então vocês param para as fotos.
Assim que chegarem no altar, vou liberar o próximo casal. Vamos
pessoal! Nada pode dar errado! Esse casamento vai ser um arraso!
— Ele grita e faz sinal para irmos andando.
Pareceu uma eternidade chegar no altar. Depois a cada casal
que ia chegando, mais um mar de fotos. Aquilo estava me deixando
cada vez mais impaciente, até que ouvi a marcha nupcial.
A olho e ela está linda. Com um vestido branco, um corpete
bordado em pedras e uma saia longa rodada. Que deixa a barriga
avantajada sem apertar, e está com uma maquiagem leve e um
lindo penteado com flores no cabelo. Ela anda devagar de braço
com Gregory e carregando o buquê. Faz todas as paradas para as
fotos e segura a barriga. Achei estranho esse movimento.
— Parabéns, cuide bem dela! — Gregory fala ao me entregar
Agnes e fica ao lado. Seguro sua mão e beijo. Pego o buquê e
coloco no altar. Ela novamente segura a barriga.
— Está tudo bem? — Ela sorrir e confirma com cabeça.
Apesar da maquiagem, estou achando que está meio pálida.
O mestre de cerimônia sorri e começa seu discurso sobre o
amor. Olho para Agnes que solta o ar pela boca. O que está
acontecendo? Será que quer mudar de ideia?
— Senhor Marino! — Olho para o mestre de cerimônia
desnorteado. Ela não pode ter mudado de ideia.
— Sim! — Falo e todos riem.
— Calma, primeiro me deixe fazer a pergunta. Nicolas
Kowalcyzk Marino, aceita Agnes Petrovic como sua legítimaesposa,
para amar e respeitar, na saúde e na doença? Na riqueza ou na
pobreza até que a morte os separe?
— Sim.
— Agnes Petrovic, aceita Nicolas Kowalcyzk Marino como
seu legítimoesposo, para amar e respeitar? Na saúde e na doença?
Na riqueza ou na pobreza até que a morte os separe? — Agnes
segura no meu braço e se curva um pouco. — Senhorita Agnes?
— Agora não! — Todos ficam calados.
— Não! Como não! Você aceitou! Por que mudou de ideia?
Agnes? — Estou assustado e ela se curva.
— Deus! Não agora! — Por que ela só fala isso?
— Ela entrou em trabalho de parto. — Glória grita e olho para
Agnes que continua curvada. A pego no colo.
— Amor, está doendo muito? — Ela está chorando
— Calma, vamos para o hospital. Arrumem o carro! Meu filho
está nascendo. — Grito para os seguranças e o resto foisó correria.
Chegamos ao hospital. Deixei a bolsa de roupas de meu filho
em casa e solicitei aos seguranças para trazer. Foi um sacrifício
para Agnes tirar toda a roupa tendo contrações e depois de quase
quatro horas de trabalho de parto, o pequeno encrenqueiro que não
deixou os pais se casarem nasceu.
— Oi, meu filho! — Falo abobalhado enquanto ele mama.
Estou todo amassado, meu casaco do terno não sei onde está e
minha gravata está jogada no sofá do quarto que Agnes.
— Ele parece com você. É lindo! — Agnes fala sorrindo.
— Você está bem? — Ela sorrir.
— Só um pouco cansada, mas estou bem e feliz.
— Não nos casamos!
— Casamo-nos depois, não precisa de cerimônia. — Ela fala
e volta a olhar para Paolo.
— Não! Vamos casar-nos agora!
— Não precisa, Nicolas! Estamos em um hospital. Paolo
nasceu. Casamo-nos outro dia, mês ou ano. Não tem problema. —
Ela fala normalmente.
— Não! Eu sofri para ter seu sim, agora não vou renunciar a
isso. Estão todos lá fora.
— Nicolas! Aqui é um hospital, jamais permitiram isso. — Ela
fala assustada.
— E seu eu conseguir? Você casa comigo?
— Sim, mas não acredito que você consiga. — Saio e Glória
entra no quarto para ficar com Agnes. Vou falar com o diretor do
hospital. Bato na porta e entro.
— Boa noite, Boris. Preciso de um favor. — Ele é um médico
de meia idade, me olha e tira os óculos.
— Nicolas, boa noite. Parabéns pelo garotão. — Ele levanta e
me abraça. — Bebês chegam em horas inesperadas, chegou na
hora de seu casamento. A noiva disse o sim?
— Não. — Ele rir.
— Suspeitei. A sala de espera está cheia de gente com roupa
de festa. Então o que posso fazerpor você? — Ele senta e fazsinal
para me sentar. Sento impaciente.
— Preciso me casar. — Falo cansado. — Antes que minha
noiva decida fugir novamente.
— De você? — Ele fala espantado e confirmo com a cabeça.
— Ela disse não três vezes ou foram quatro? Quando fiz o
pedido de casamento. — Ele está de olhos arregalados. — Na
primeira oportunidade ela vai dizer: “Depois nos casamos”. Aliás, ela
já falou ainda agora. Entende? — Ele me olha como se eu tivesse
duas cabeças, afinal qual mulher ia dizer não a mim?
— Entendo, ela teve parto normal e até que foi rápido para o
primeiro filho. Amanhã estará de alta. Você pode se casar.
— O senhor não entende! Se não for hoje, amanhã ela vai
dizer que só daqui a cinquenta anos. Tudo bem que ela é nova, mas
não tenho esse tempo todo para esperar. — Ele fica pensativo.
— E você quer casar agora? No hospital? Antes que a
mocinha fuja do compromisso? — Confirmo com a cabeça. —
Entendo! — Ele fica pensativo. — Com duas condições: nada de
algazarras. Aqui é um hospital e quero participar, afinal temos uma
moça que disse não ao grande Nicolas Marino. — Ele fica rindo e
suspiro aliviado.
Saio correndo e tem um dos meus seguranças no andar.
— Traga o mestre de cerimônia, o colunista e veja se todas
as testemunhas estão aqui. É urgente!
— Sim, senhor! — Vamos para os elevadores e desci no
andar de Agnes, e Raphaelo vem falar comigo.
— Parabéns, papai. — Ele me abraça. — Glória passou a foto
do garotão antes de chegarmos no hospital.
— Preciso de sua ajuda. Organiza todo mundo, mas sem
barulho e peça para o fotógrafo fazer a transmissão pelo telão. —
Ele me olha sem entender. — Vamos nos casar aqui no hospital,
não vou deixar mais Agnes fugir de mim.
— Meu Deus! Amigo estamos na mesma situação. — Ele
olha para Hanna que acaba de sair do quarto de Agnes sorrindo e
se senta ao lado de Dominic. — Vou acabar dopando essa mulher e
a levando para nos casarmos no México. Hanna está me
enlouquecendo. Vou falar com James.
— Peçam para trazê-lo. — Ele confirma e entro no quarto.
Agnes está dormindo e Glória está ao lado do berço de acrílico
sorrindo para meu filho que dorme.
— Ele parece com você. Parabéns, filho. — Ela me abraça e
fala rindo. — O rapazinho atrapalhou a casamento.
— Só atrasou, James está chegando. Vamos nos casar aqui
no hospital. Não vou deixá-la sair de minha vida nunca mais. —
Glória sorrir em aprovação.
Uma hora e meia depois tínhamos uma câmera no quarto que
faria a transmissão ao vivo para os convidados, que estavam na
festa em minha casa. O mestre de cerimônia, o colunista e as
testemunhas chegaram. Paolo dormia tranquilamente no berço e
todos já estavam no quarto, incluindo doutor Borges. Vou até o
mestre de cerimônia.
— Pelo amor de Deus, eu já disse sim. Então vamos para
parte que faltou. — Ele me olha sem graça e confirma.
Coloco o casaco do terno e James arruma a maldita gravata.
Não adianta falar para não ajeitar. Paro ao lado de Agnes na cama,
ela arruma a camisola do hospital e ligam o telão. A festa está
acontecendo em minha casa e todos param de falar.
— Boa noite. Vamos continuar. Agnes Petrovic, aceita Nicolas
Kowalcyzk Marino como seu legítimoesposo, para amar e respeitar,
na saúde e na doença? Na riqueza ou na pobreza, até que a morte
os separe? — Quando Agnes vai responder, Paolo começa a chorar.
— Ele quer mamar ou é a fralda? — Olho para Glória em
desespero.
Ela o pega do berço, ela ficafazendosom baixinho e entrega a
Agnes que vai amamentar. Cadê minha resposta? Depois de todo o
sacrifícioe nada do meu “sim”. Agnes o coloca no peito, levanta a
cabeça, me olha e sorrir.
— Sim.
— Uhuuuuu!!! — Gritam e batem palmas pela transmissão do
telão.
— Eu os declaro, marido e mulher! Pode beijar a noiva. —
Beijo seus lábios e os cabelos de meu filho. Todos que estão no
quarto me abraçam.
— Parabéns, Nicolas. Até seu filho estava de complô pelo
não. — Doutor Boris me abraça sorrindo.
Depois de meia hora, estamos só nos três no quarto. Agnes
voltou a dormir e fico olhando meu filho dormir no berço. Ele é lindo
e agora sou pai. Olho para Agnes com seus longos cabelos
espalhados no travesseiro.
— Obrigado, por me amar e por me dar mais do que imaginei
que um dia pudesse ter. Te amo. — Ela abre os olhos e sorrir.
— Também. — Ela volta a dormir e fico sorrindo. Minha
família, minha esposa e meu filho.
No dia seguinte voltamos para casa e ainda estavam
limpando o que sobrou da festa. À noite, recebi o e-mail da
reportagem onde falava do meu casamento dos sonhos, que acabou
no hospital com o nascimento do herdeiro do império Marino. Tem
uma foto linda nossa no altar.
— Em plena lua de mel e minha mulher de resguardo. — Fico
sorrindo.
Estamos casados e isso é que importa. Consegui conquistar
Agnes que é a dona do meu amor e a razão da minha felicidade.
NICOLAS MARINO
CINCO ANOS DEPOIS

Ajudo Agnes a subir no palco.


Ela está linda, com um vestido azul, cabelos escovados em um
penteado simples e uma leve maquiagem. Estamos casados há
cinco anos e nesse tempo. Ela fezaula de etiqueta, moda e hoje faz
suas próprias escolhas de roupas.
Porém, ainda mantêm suas raízes e muitas vezes compra
relógios antigos ou caixinhas de músicas com defeitopara lembrar o
tempo em que ela era apenas uma operária e não esposa do
empresário Nicolas Kowalcyzk Marino. Passei a usar o sobrenome
de meu pai com muito orgulho, pois ele foi um homem descente e
merece ser lembrado como tal.
Vejo quando ela sorrir e passa a mão na pequena barriga de
gestação. Nosso terceiro filho Nicolai. Ela que escolheu o nome,
assim como o de Paolo e da pequena Elizabeth. Em homenagem a
minha mãe.
— Boa noite a todos. Agradeço de coração todas as doações
ao Instituto Paolo Petrovic. A generosidade dos senhores, vai ajudar
muitas pessoas que moram nas ruas e muitos imigrantes que assim
como meu avô, que teve ajuda de um ser humano de bom coração,
que lhe deu abrigo e trabalho quando ele não tinha um lar. Meu avô
fugiu de seu país após a guerra, tentando ter uma vida melhor, mas
a vida foi dura para ele. Até que meu bisavô lhe deu uma
oportunidade de ter um teto e um trabalho. E mais tarde, ele se
apaixonou por sua filha, se casou e teve uma família.Ele lutou e
trabalhou duro com suas mãos, que eram calejadas, mas sempre
estava com um sorriso no rosto e a esperança no coração. Porém ,a
vida foi difícile sua esposa, minha avó, morreu do coração. Para
sua tristeza, anos depois, um incêndio na fábrica têxtil matou sua
única filha e seu genro. Deixando sua neta de cinco anos e órfã. —
Ela limpa uma lágrima, bebe um pouco de água e volta a falar. —
Muitas assistentes sociais o aconselharam a me colocar em lares
adotivos, que seria melhor para mim, mas ele não desistiu e me
levava para a nossa loja. Com ele aprendi a ser mecânica e
marceneira. Com as nossas mãos e suor de nosso rosto de forma
honesta e simples, vivemos. Há cinco anos um incêndio destruiu o
prédio que era a nossa loja, e meu marido Nicolas Kowalcyzk
Marino, o reergueu para que pudéssemos ajudar ao próximo. Aqui
nessas paredes, mesmo renovadas, está a história dos Petrovic’s.
Aqui será o lugar onde muitas pessoas poderão ter uma profissão,
abrigo e alimentação. Muito obrigada por fazerem parte do nosso
sonho e por ajudar a construir o futuro dessas pessoas. — Todos a
aplaudem e a ajudo a descer do palco enxugando suas lágrimas
— Você foifantástica,meu amor. — Beijo seus lábios e a levo
para nossa mesa.
— Parabéns. — Saymon Heinz sorrir de braço dados com
sua esposa Sophia, que está grávida do segundo menino.
— Obrigada. Sinto muito por sua perda. — Agnes fala triste,
ela conseguiu perdoar Alessandra.
— Ela estava sem atividade cerebral, desligar as máquinas foi
o mais sensato. Fica vegetando em uma cama de hospital não é
vida para ninguém. — Ele suspira. — Seu bebê é para quando?
— Dezembro. O seu?
— Agosto, mas estou me sentido enorme. Apesar de Saymon
dizer que estou linda. Preciso sentar-se, meus pés estão me
matando. — Elas ficam rindo e vamos para nossa mesa.
Na mesa ao nosso lado, vejo Hanna e Raphaelo brigando por
alguma coisa.

UMA SEMANA DEPOIS

Preciso escrever um e-mail urgente. Me concentro e escrevo


metade da mensagem e...
— Papai, papai, papai! — Olho para a pequena Liz com seu
cabelo todo bagunçado. — Polô bagunçou meu cabelo.
— Paolo! Filho não pode fazer isso! — Ele me olha zangado.
Está com quatro anos e meio. Se parece muito comigo, é muito
levado e elétrico.
— Papai, Liz derrubou meu lego. — Olho para Liz que faz
cara de coitada com os olhos iguais ao da mãe.
Ela está com três anos, a diferença de idade entre os dois é
pouca, mas Paolo é mais maduro em comportamento.
— Eu queria ajudar, Polô não deixa. — Olho para meu filho
que está zangada e o chamo.
— Filho! Sei que você fica zangado, mas Liz é sua irmãzinha
pequena e indefesa. Você é o irmão que está me ajudando a tomar
conta dela, enquanto a mamãe está com visitas. — Ele me olha e
bufa.
— Tá bom. Vem, que arrumo seus cabelos. — Liz vai pulando
descalça, com seu jeitinho de menina sapeca igual a mãe.
— Vamos ao e-mail. — Releio tudo novamente. Falta pouco e
assinar. Estou concentrado.
— Papai! — Quase caio da cadeira de susto com o grito de
Paolo e coloco a mão no peito com o coração acelerado. — Liz
jogou massinha na cara do vovô Valentino! — Olho e tem uma
massa grudenta e verde escorrendo no quadro do meu avô. Saio
correndo, tiro o porta-retrato com a foto de meus pais mais e subo
na lareira. Estou tirando a massa.
— Papai! Isso faz o quê? — Quando olho, ela está quase
apertando o botão que desliga o computador.
— Não! — Desligou! Fecho os olhos, perdi o e-mail todo! — O
senhor deve estar rindo de mim. — Falo para o quadro de meu avô,
essas crianças me deixam maluco. Desço da lareira e vejo minha
calça jeans cheia de massinha. Meu Deus, que essa reunião de
Agnes acabe logo!
Depois de uma hora e várias tentativas, o bendito e-mail é
enviado. Espero que esteja bom, mas não deu para escrever como
eu queria. Escuto uma batida na porta.
— Vovô James. — Os dois saem correndo e James os
abraça. Ele fala algo e os dois saem. James entra sorrindo.
— Dia difícil?— Levando e mostro minha calça melecada de
massinha verde. Ele rir. — Ela faloupara você não comprar, mas as
crianças te enrolam. Agnes está chamando na sala de música. —
Vou andando sem paciência. Estou descabelado, com as roupas
cheias de massa verde quando escuto uma melodia do piano,
parabéns para você? Meu aniversário foi há duas semanas e disse
que não queria comemoração. Afinal estou com trinta e nove anos,
e casado com uma jovem mulher de vinte e oito.
Congelo na porta ao som de parabéns para você. E seguro o
braço do James.
— Por que não me falou? — Ele rir.
— E perder a cena do grande senhor Marino descabelado e
cheio de massinha verde parecendo o Shrek? Nunca! — Ele fica
rindo e estou parado na porta com os olhos arregalados.
— Parabéns papai! — Meus filhos gritam. — Eu guardei
segredo da mamãe. — Paolo fala pulando feliz.
Olho para Agnes, Glória, Raphaelo, Hanna, Priscilla, Gregory,
doutora Rúbia e seu marido. Além de muitas crianças. Olho para
minhas roupas, Deus! Pareço um mendigo.
— Quer tomar um banho? Esperamos. — Olho para Agnes
que fala sorrindo. Estou meio abobalhado e confirmo com a cabeça.
Subo a escada, derrotado. O grande Nicolas Marino
descuidado, isso após cuidar dos filhose ainda é visto por todos os
amigos de uma forma maltrapilha. Que derrota!
Tomo um banho quente e demorado. Na esperança de
quando descer, todos tenham ido embora. Coloco uma roupa
esportiva e me olho no espelho.
— Estou parecendo gente! — Falo e acabo de me arrumar.
Desço e assim que chego na sala, vejo uma mesa linda e estão
servindo bebidas.
— Ele chegou! Vamos lá gente. Parabéns para você. —
Raphaelo puxa o coro e amarro a cara enquanto todos cantam.
Agnes me abraça.
— Parabéns, amor. — Fico abraçado e sinto seu perfume,
não tem como ficar zangado com minha mulher. As crianças
abraçam minhas pernas, solto Agnes e os pego no colo.
— Eu sei guardar segredos. — Paolo fala todo orgulhoso. E
vou curtir a festa com minha família e amigos.
As crianças correm felizes pela casa que hoje é um lar. Agnes
trouxe paz e alegria para essa casa, que um dia era apenas um
mausoléu, cheio de más recordações e tristeza.
A vida às vezes nos prega peças. Acreditava que teria uma
vida organizada, com tudo arquitetado, até uma jovem operária
invadir meu escritório e virar tudo de pernas para o ar, mas não foi
só a minha vida!
Agnes com pequenos gestos, atitudes, amor e bondade.
Quebrou um círculo de ódio, raiva e vingança. Com seu amor, ela
transformou o antigo Nicolas em um novo que sabe amar e acredita
na felicidade.
DE: Nicolas Marino
PARA: Valdirene Silva
ASSUNTO: Agradecimento

Cara Val,
Serei íntimo ao lhe chamar de Val, pois você foi minha
defensora contra as ideias poucos diplomáticas de minha criadora
(que ela não leia isso).
Sou lhe grato por todas as horas que você leu, organizou e me
defendeu das loucuras e decisões, no momento de raiva que ela
tinha por minha pessoa.
Não consigo entender essa mulher, mas lhe dou créditos.
Afinal, fiquei um tempo sem falar e sim, estava zangado. Até que
resolvi contar minha história e você estava presente nas
madrugadas dizendo: “Mulher, quero mais do Nicolas”. Isso me fez
falar constantemente para que minha história fosse escrita.
Muito obrigado por suas madrugadas comigo, por lutar e
acreditar que o grande Nicolas Marino tem um coração. Que
encontraria a rendição e que iria amar e ser amado.
Preciso terminar esse e-mail, pois Paolo e a pequena Liz não
param de gritar “papai” e estão me enlouquecendo.
Muito obrigado.
Do seu eterno “Bichinho de goiaba”.

Nicolas Marino.
Agradeço a Deus por colocar em minha vida pessoas que
considero especiais.
Agradeço a meu marido e a minha irmã Maria Angélica, pelo
apoio nas horas difíceis.
Agradeço a Valdirene Silva. Minha sister, minha anjinha, Beta e
revisora, que mais uma vez segurou na minha mão e disse: “Mulher
você consegue”. Que ficou nas madrugadas relendo os capítulos,
trocando ideias e quando leu Nicolas pela primeira vez falou:
“Mulher, não pode ser um conto! Tem história para um livro”. E
assim nasceu a história de Nicolas. Agradeço por sua paciência por
todas às vezes que tive que refazer os capítulos e ela lia com
dedicação me puxando as orelhas quando necessário.
Agradeço a Amanda Monteiro. Minha sister, pelas lindas capas,
arte em geral que ela faz com dedicação e carinho. Pela
diagramação e revisão. Por sempre fazer de boa vontade e de
coração a cada ideia nova de arte que tenho.
Agradeço a Kamila Cardoso. Minha sister por ler, perguntar e
me ajudar com seus questionamentos no momento certo.

Agradeço as meninas do Grupo do WhatsApp Debate Literário:


Talita, Ju Lisboa e Aline. Pelos debates no grupo sobre os capítulos,
pelos pedidos de spoilers e por todas às vezes que queriam bater
em Nicolas. Agradeço a nossa Mah (Marcela Meireles) que sempre
faz brincadeiras para animar o grupo e no meu aniversário fez uma
gincana maravilhosa.
Agradeço a minha leitora Raidalva, que me acompanha desde
quando comecei a escrever. Sempre comentando a cada capítulo,
pedindo maratona e me incentivando a escrever novas histórias.
Agradeço a todas as minhas leitoras do Wattpad pelo carinho,
por cada voto e comentário.
Agradeço a todos que direta ou indiretamente participaram no
processo de escrita dessa história e que Deus abençoe a todos.
Edith Teófilonasceu no Rio de Janeiro. É casada e mãe de
dois filhos. Contadora. Começou a escrever quando suas amigas:
Amanda, Kamila e Val resolveram escrever um conto, que acabou
virando a Duologia Hackeando o Amor .

SUAS REDES SOCIAIS

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Romances da Edith Teófilo
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SINOPSE:
Anne bastarda de nascimento. Sem direito a reconhecimento, a
amor, carinho e a uma família. Luta para mudar sua vida.
Allan homem simples e justo. Um fazendeiro que luta para dar
uma vida melhor para seus filhos longe das humilhações que são
infligidos devido aos atos impensados de sua falecida esposa.
Duas pessoas machucadas pela vida.
Duas almas procurando paz e consolo.
Quando uma brincadeira acaba sendo a única salvação para
um deles a vida fica boa para os dois.
SINOPSE:
Tic...tac...tic..tac
Quanto tempo nós temos?
Não sabemos, mas o amor verdadeiro é eterno...
Um amor além da vida, além do tempo, além do homem.
Um amor para sempre...
Não importa quanto tempo passe, mas Anna e Louis vão se
encontrar novamente para viver seu grande amor.
SINOPSE:
Samir, o sheik da Tribo do Sul tinha uma solução para a guerra
que parecia não ter fim com o Norte.
Um casamento. Só assim ele teria a paz e sua amada Zaira,
mas a vida resolveu lhe pregar uma peça. Na noite de núpcias, ele
descobre que a noiva era a meia irmã de sua adorada e pela
tradição, ela não poderia ser devolvida.
Como ele poderia resolver essa situação sem uma iminente
guerra?
Eleonora vai a um chá da tarde com seu pai, o líderda Tribo do
Norte e acorda bêbada na cama de um homem que não conhece.
E agora? O que fazer?
Dois corações que não se conhecem.
SINOPSE:

Abigail Wright estava desesperada e orando


por uma solução. Sua fazenda estava caindo. Seu
gado e seus cavalos iam morrer de fome e ela não
sabia como sobreviver sozinha no inverno.
A ajuda divina chegou?
Um homem louco e armado procurando a
senhora Wright?
No desespero, Jeff invade a fazenda de
Abigail. Ele precisava salvar sua esposa que não
conseguia dar à luz ao seu bebê.
Em um ato de desespero ele fez uma
exigência:
— Vamos logo! Se minha mulher morrer, a
senhora também morrerá!
O que o destino reserva para os dois?
Será que as orações de Abigail serão
atendidas?
SINOPSE:
Os senhores devem estar se perguntando quem eu sou?
Para o meu pai, sou princesa. Uma das joias mais preciosas
em seu reino. Porém sou diferente dos meus irmãos, fisicamente
sou como minha avó materna.
Por ter essa aparência, minha tia alimentou um ódio mortal por
mim e em nome desse sentimento maldoso ela moldou seu filho:
Mohamed
Meu perseguidor.
O nome de minha grande mágoa por muitos anos.
Esse é o nome do homem que um dia terá meu coração.
Meu nome é Helena, e essa é a minha história.

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