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Variáveis Relevantes No Tratamento Da Má Oclusão de Classe II
Variáveis Relevantes No Tratamento Da Má Oclusão de Classe II
Resumo
* Professor titular da disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo (FOB-USP). Chefe do departamento de
Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva.
** Pós-doutorando da disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo (FOB-USP).
*** Doutoranda da disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo (FOB-USP).
**** Professor titular da disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo (FOB-USP).
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Variáveis relevantes no tratamento da má oclusão de Classe II
elásticos
distalizadores funcional mecânica
intermaxilares
aparelhos aparelhos
funcionais funcionais aparelhos
removíveis fixos extrabucais
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Variáveis relevantes no tratamento da má oclusão de Classe II
7mm
7mm Overjet
Overjet
7mm
Overjet
7mm 7mm
Extração Distalização
3,5mm
Distalização
Mesialização
7mm 7mm
Distalização
10,5mm
3,5mm
Distalização
7mm
Retração 3,5mm
3,5mm
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Influência do padrão facial no tratamento da continuou a ser uma meta de tratamento que de-
má oclusão de Classe II veria ser alcançada, independentemente do tipo de
Embora diversos autores tenham se empe- má oclusão. Em 1953, Cecil Steiner25 desenvolveu
nhado em caracterizar, cefalometricamente, a má um método de diagnóstico e planejamento que
oclusão de Classe II, Keeling et al.18 demonstraram considerava a influência não apenas do padrão fa-
existir uma pobre associação entre as característi- cial, mas também da discrepância anteroposterior
cas oclusais e a morfologia craniofacial observada entre as bases ósseas, no resultado final do trata-
nas telerradiografias. Portanto, se um mesmo tipo mento. Embora o padrão facial e a discrepância
de má oclusão pode se desenvolver dentro das entre as bases ósseas influenciassem no diagnós-
mais diferentes morfologias craniofaciais, pensou- tico da extração, Steiner não conseguiu prever a
se que estes diferentes padrões faciais poderiam dificuldade que a realização de extrações no arco
ter influências distintas sobre os resultados do tra- inferior poderia criar quando aplicadas na corre-
tamento ortodôntico. ção da má oclusão de Classe II, visto que o seu
Um dos primeiros pesquisadores que associou o método de diagnóstico levava em consideração
padrão facial com os resultados do tratamento or- apenas a complexidade do tratamento do arco in-
todôntico foi Charles Tweed26,27, ao perceber que, ferior, não considerando a dificuldade de se corrigir
para se obter perfis harmônicos e estética facial a discrepância anteroposterior dos arcos dentários.
agradável, a posição dos incisivos inferiores ao final Portanto, nos casos de Classe II em que a correção
do tratamento deveria variar em função dos dife- da discrepância cefalométrica requeria extrações,
rentes padrões faciais, sendo que os pacientes com o reposicionamento mais para lingual dos incisivos
um padrão mais vertical deveriam apresentar os in- inferiores aumentava ainda mais a discrepância
cisivos inferiores mais verticalizados em sua base anteroposterior entre os segmentos anteriores dos
óssea, enquanto os pacientes com um padrão mais arcos, comprometendo, por vezes, os resultados
horizontal deveriam ter o incisivos inferiores um do tratamento25. De fato, os estudos que sucede-
pouco mais vestibularizados em relação ao plano ram essa época evidenciaram a maior dificuldade
mandibular26,27. Dessa forma, começou-se a estabe- de se corrigir a relação anteroposterior de Classe
lecer uma relação entre o padrão facial e a indica- II quando extrações eram realizadas no arco infe-
ção de extrações dentárias, visto que a tendência rior6,15. Como consequência, a realização de ex-
de maior verticalização dos incisivos inferiores nos trações com o único propósito de corrigir a dis-
pacientes com um padrão facial mais vertical fazia crepância cefalométrica passou a ser questionada
com que a realização de extrações de pré-molares no tratamento da Classe II, sobretudo quando um
inferiores fosse efetuada com maior frequência nes- excelente alinhamento dentário estava presente.
te grupo. Portanto, as extrações realizadas no arco Além de serem utilizadas para a correção da
inferior visavam não apenas corrigir o apinhamen- discrepância cefalométrica, as extrações dentárias
to, mas também a discrepância cefalométrica por também auxiliam no controle da dimensão verti-
meio do reposicionamento dos incisivos inferiores cal20. Considerando que a posição dos incisivos in-
em sua base óssea. Porém, a posição dos incisivos feriores é mais verticalizada e que o controle da al-
inferiores foi considerada de tal importância que tura facial é mais crítico nos pacientes com padrão
muitas extrações passaram a ser realizadas no arco facial vertical, a indicação de extrações envolven-
inferior, tendo como único propósito a correção da do o arco inferior nesse grupo de pacientes pode
discrepância cefalométrica11,23,26,27. ser considerada maior do que em pacientes com
Seguindo os conceitos da mecânica ortodôntica padrão mais horizontal ou equilibrado26. Porém,
de Tweed, a correção da discrepância cefalométrica independente do padrão facial, extrações no arco
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Variáveis relevantes no tratamento da má oclusão de Classe II
inferior não deveriam ser realizadas, no tratamento deletéria de um padrão facial desfavorável do que à
da má oclusão de Classe II, com o único propósito dificuldade de correção da relação molar de Classe
de corrigir a discrepância cefalométrica ou contro- II, imposta por esse protocolo de tratamento. Para
lar a dimensão vertical, visto que a dificuldade de investigar esta hipótese, Janson16, em 2004, avaliou
correção da discrepância anteroposterior entre os pacientes com má oclusão de Classe II completa,
arcos torna-se significativamente aumentada em re- tratados com extrações de dois e quatro pré-mola-
lação ao protocolo de tratamento com extrações de res. Os resultados desse estudo mostraram que, em
dois pré-molares superiores5,6,15,16. Por outro lado, se média, os pacientes tratados com quatro extrações
o tratamento da Classe II é realizado sem extrações, apresentaram um padrão facial mais vertical, quan-
a necessidade de movimentação para distal dos mo- do comparados aos pacientes tratados com duas
lares superiores não apenas compromete o controle extrações superiores. Contudo, o padrão facial não
da dimensão vertical20, como também dificulta a apresentou uma correlação significativa com os re-
correção da discrepância anteroposterior entre os sultados oclusais, que foram mais satisfatórios no
arcos, quando comparado ao tratamento com duas grupo submetido ao protocolo de extrações de dois
extrações superiores14. Sendo assim, o tratamento pré-molares superiores. Esse estudo confirma a hi-
da Classe II com extrações de dois pré-molares pótese de que a qualidade dos resultados oclusais
superiores tanto propicia um maior controle da obtidos com o tratamento da má oclusão de Classe
dimensão vertical20, por não requerer movimento II com extrações é mais influenciada pelo protocolo
para distal dos molares superiores, quanto também de extrações aplicado do que pelo padrão facial do
favorece a correção da discrepância anteroposterior paciente. Dessa forma, resultados oclusais excelen-
entre os arcos, quando comparado ao tratamento tes podem ser obtidos no tratamento da má oclu-
da Classe II sem e com quatro extrações8,14. Pode- são de Classe II em pacientes com padrões faciais
se, então, especular que os resultados oclusais do discrepantes desde que o protocolo de extrações
tratamento da Classe II com extrações de dois pré- aplicado favoreça a eficiência da correção da relação
molares superiores tendem a ser menos influencia- anteroposterior de Classe II (Fig. 6).
dos pelo padrão facial, propiciando uma maior taxa Pode-se, portanto, considerar que, se os resulta-
de sucesso até mesmo nos casos em que o padrão dos oclusais não são significativamente influencia-
facial é mais vertical. Deve-se, ainda, considerar dos pelo padrão facial do paciente, esse parâmetro
que, em relação ao tratamento da Classe II com pa- não deve ser utilizado para justificar a realização
drão facial vertical, estudos têm demonstrado que de extrações no arco inferior, visto que o protocolo
a utilização do AEB com direções de força cervical de extrações de quatro pré-molares dificulta signi-
ou occipital não produz alterações significativa- ficativamente a correção da relação anteroposte-
mente diferentes nas dimensões verticais da face. rior de Classe II5,8,15, diminuindo a taxa de sucesso
Embora o tratamento da má oclusão de Classe II do tratamento dessa má oclusão, por requerer do
com extrações de dois pré-molares superiores pro- paciente um elevado grau de colaboração3,7.
duza uma maior proporção de sucesso oclusal5,8,15, a Quando a má oclusão de Classe II é tratada sem
crença com relação à influência negativa do padrão extrações ou com extrações de dois pré-molares
facial mais vertical sobre os resultados do tratamen- superiores, a ausência de extrações no arco infe-
to poderia tornar o protocolo de quatro extrações rior sugere que semelhantes graus de apinhamen-
preferível para esses casos. Especulou-se, então, que to e discrepância cefalométrica estejam presentes.
os resultados menos satisfatórios, decorrentes do tra- Contudo, o propósito de movimentação dentária
tamento da Classe II com extrações de quatro pré- no arco superior é substancialmente diferente en-
molares, poderiam estar mais associados à influência tre esses dois protocolos de tratamento14, visto que
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A B C
E F G
H
FIGURA 6 - A diferença no padrão facial não influencia significativamente a qualidade do término do tratamento, sendo que o protocolo de extrações
de dois pré-molares superiores propicia melhores resultados oclusais. Na figura 6D, a telerradiografia mostra uma má oclusão de Classe II esquelética
com padrão de crescimento em direção vertical e uma grande deficiência esquelética da mandíbula, enquanto na telerradiografia da figura 6H nota-se
uma má oclusão de Classe II dentária com padrão de crescimento equilibrado e nenhuma deficiência mandibular. Apesar da discrepância no padrão
facial, em ambos os casos a extração de dois pré-molares propiciou excelentes resultados oclusais.
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Variáveis relevantes no tratamento da má oclusão de Classe II
o tratamento sem extrações envolverá uma mo- muito promissor. Quando as variáveis cefalomé-
vimentação para distal de todo o arco superior e, tricas que definem o padrão facial foram utiliza-
consequentemente, um menor controle da altura das para prever os resultados do tratamento de
facial29, enquanto o tratamento com duas extrações pacientes com má oclusão de Classe II, apenas
superiores tenderá a manter o molar superior numa 18% das variações nos resultados do tratamento
mesma posição, possibilitando um melhor controle puderam ser explicadas pelas variáveis cefalo-
da altura facial29. Portanto, poder-se-ia esperar que métricas19. Realizando um estudo semelhante,
pacientes com má oclusão de Classe II tratados sem Zentner et al.30 concluíram que as variáveis cefa-
extrações tivessem um padrão mais horizontal do lométricas que definem a morfologia craniofacial
que pacientes tratados com duas extrações superio- são insignificantes como preditivas do sucesso do
res. Embora o padrão facial não pareça exercer uma tratamento ortodôntico. Depreende-se, portanto,
influência significativa sobre os resultados oclusais que o padrão cefalométrico não constitui um pa-
do tratamento16, Simão24, em 2006, realizou um râmetro confiável para a predição dos resultados
estudo sistemático avaliando a influência das carac- do tratamento, devido à fraca associação estabe-
terísticas cefalométricas na taxa de sucesso do trata- lecida entre eles19,30. De fato, sob o ponto de vista
mento da Classe II, realizado sem e com extrações das relações oclusais, o protocolo de tratamento
de dois pré-molares. Os resultados desse estudo pode influenciar significativamente os resultados
mostraram que o padrão cefalométrico dos pacien- da correção da Classe II, enquanto o padrão cefa-
tes não influenciou significativamente os resultados lométrico não apresenta uma significativa associa-
oclusais obtidos com os dois diferentes protocolos ção com a qualidade dos resultados. Considerando
de tratamento avaliados. Por outro lado, o tipo de assim, a escolha do protocolo de tratamento da
protocolo de tratamento utilizado na correção da Classe II não deveria ser influenciada pelo padrão
má oclusão de Classe II foi o único fator que in- cefalométrico do paciente, mas sim pelo grau de
fluenciou significativamente a qualidade dos resul- eficiência do protocolo na correção da relação an-
tados oclusais, sendo que os pacientes tratados com teroposterior dos arcos.
extrações de dois pré-molares superiores mostra-
ram melhores resultados em relação aos pacientes CONCLUSÃO
tratados sem extrações. Essa constatação corrobora Os resultados oclusais do tratamento da má
o estudo de Janson et al.14, que demonstrou a maior oclusão de Classe II são significativamente in-
eficiência do tratamento da Classe II com extrações fluenciados pelo protocolo de tratamento utiliza-
de dois pré-molares em relação ao protocolo sem do. Embora os resultados do tratamento da Classe
extrações. Portanto, o tratamento ortodôntico da II possam ser influenciados por outras variáveis
má oclusão de Classe II em pacientes com padrões – como a severidade da má oclusão, o grau de co-
faciais discrepantes pode produzir resultados oclu- laboração e a idade do paciente –, o padrão facial
sais excelentes se o protocolo de tratamento apli- não exerce uma influência significativa. Portanto, a
cado favorecer a eficiência da correção da relação escolha do protocolo de tratamento da má oclusão
anteroposterior de Classe II (Fig. 6). de Classe II, sobretudo no que se refere à realiza-
ção ou não de extrações dentárias, deve se basear
Predição cefalométrica dos resultados do mais na severidade da relação oclusal da má oclu-
tratamento da má oclusão de Classe II são do que no seu padrão facial.
A predição dos resultados do tratamento orto-
dôntico a partir das variáveis cefalométricas não
Enviado em: abril de 2009
tem se revelado um instrumento de prognóstico Revisado e aceito: maio de 2009
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16. JANSON, M. R. P. Influência das características cefalomé- Guilherme Janson
tricas na proporção de sucesso do tratamento da Classe II Departamento de Ortodontia - FOB/USP
com extrações de dois e de quatro pré-molares. 2004. 131 Alameda Octávio Pinheiro Brisolla 9-75
f. Dissertação (Mestrado)-Faculdade de Odontologia de Bauru, CEP: 17.012-901 - Bauru / SP
Universidade de São Paulo, Bauru, 2004. E-mail: jansong@travelnet.com.br
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