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PÍLULA TRIBUTÁRIA

VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO


TRIBUTÁRIO ATUAL - IBDT

Destaques do evento que ocorreu entre os dias 10 a 12 de


maio de 2023 na cidade de São Paulo.
1° PAINEL: A IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
DE ENCARGOS TRIBUTÁRIOS
"Em que medida o Direito deve se adaptar à realidade?"
Humberto Ávila abordou as diferenças entre definições reais e descritivas versus definições ideais e
especulativas e concluiu que a linguagem do direito é utilizada para direcionar o comportamento
das pessoas e não o contrário. Nesse sentido, teceu críticas aos argumentos que se utilizam da
necessidade de adequação do Direito à realidade atual para motivar a interpretação extensiva e
análoga dos dispositivos constitucionais que tratam sobre a instituição ou majoração de tributos. "O
princípio da Igualdade deve ser aplicado em conjunto com o da legalidade", defendeu.

"O princípio da igualdade deve ser aplicado com coerência sistêmica."


Luiz Eduardo Schoueri trouxe reflexões sobre os critérios definidos pela Constituição Federal para
autorizar a relativização do princípio da legalidade na majoração de certos tributos, como de
importação, exportação, IOF e IPI. Ressaltou a escolha do Constituinte particularizar o poder de
tributar com base na "função preponderante do tributo” e concluiu que o tratamento desigual aos
contribuintes desses impostos é justificado somente quando se está diante de função
regulatória (intervenção no domínio econômico). Com base nessa premissa, defendeu que apenas as
operações de créditos reguladas pela União podem se submeter ao IOF, caso contrário, o tributo
torna-se arrecadatório. No mesmo sentido, fez críticas à majoração da alíquota do Imposto de
Exportação sobre exportação de óleos brutos pela MP 1.163/2023, cuja exposição de motivos traz
como justificativa a perda de arrecadação do PIS/COFINS combustíveis, o que demonstra o caráter
arrecadatório da medida.
1° PAINEL: A IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
DE ENCARGOS TRIBUTÁRIOS
"Pensar em igualdade significa pensar também em diferença"
Tércio Sampaio Ferraz Jr. defendeu que devemos buscar um federalismo de equilíbrio e cooperação
dos entes federados, levando em consideração a autonomia de cada um e igualdade entre eles, para
uma atuação conjunta eficiente.

"A complexidade do sistema jurídico tributário é causa ou consequência da


desigualdade social?"

Misabel Derzi refletiu sobre a condição do sistema jurídico na perspectiva da desigualdade social, e
discorreu sobre o papel do Direito como normatizador da realidade, a partir de determinados
signficados e significações, trazendo indagações sobre como podemos aplicar o Princípio da
Igualdade em um País extremamente desigual. Nessa perspectiva, concluiu que a complexidade do
atual sistema jurídico-tributário é consequência do fenômeno da desigualdade social e regional,
citando como exemplo a concessão, arbitrária ou legal, de incentivos fiscais estaduais, que traduzem
a a competição dos Entes Federados na busca de maior desenvolvimento. Para a Jurista, a
simplificação do sistema jurídico deve ser aplicada com cautela, pois pode "igualar o inigualável",
tal como, em sua opinião, acontece na PEC45. Nesse sentido, demonstrou preocupação de que, na
referida proposta, o Estado menos desenvolvido não só corre risco em relação a sua receita, como ao
cuidar dos serviços correspondentes a seus encargos, consumirá imposto na qualidade de
consumidor, com carga mais elevada.
2° PAINEL: A IGUALDADE E O MÍNIMO EXISTENCIAL
O mínimo existencial na delimitação do fato gerador do imposto de renda (ADI 5422)
Fernando Aurélio Zilveti abordou sobre a decisão do STF acerca da inconstitucionalidade do
imposto de renda sobre pensão alimentícia, que, no seu entender, foi conforme à Constituição
Federal, pois considerou a verba como a menor quantidade de renda absolutamente necessária para
a sobrevivência digna do contribuinte. Ainda, na visão do palestrante, a decisão também preconiza a
igualdade de gênero, mitigando o caráter discriminatório das leis que tributavam pensão alimentícias,
criadas em um contexto legislativo eminentemente masculino.
Dedutibilidade de despesas médicas e educação (ADI 4927)
Paulo Victor Vieira da Rocha propôs uma análise crítica da jurisprudência e concluiu que há
incoerência na limitação de dedutibilidade de despesas médicas em contraposição à de educação.
Para o advogado, o legislador confere tratamento desigual às referidas despesas sem justificativa, vez
que, em ambos os casos, as despesas se relacionam a direitos assegurados pelo princípio da
dignidade da pessoa humana.
Igualdade e solidariedade: salário-maternidade x salário paternidade (Tema 72 STF)
Adriana Reis de Albuquerque defendeu a natureza de benefício previdenciário do salário-
maternidade, em contraposição ao entendimento do STJ. Demonstrou, ainda, a diferença entre o o
julgado do tema pelo STF, que além da analisar a inconstitucionalidade pelo viés formal, concluindo
que o §2°, do art. 28 da Lei 8.212/91 criou nova fonte de custeio não prevista na CRFB, afastou a
cobrança por vício de ordem material, representado pelo desestímulo à contratação de mulheres, o
que foi acertado para a palestrante, pois "a interpretação da norma não pode perpetuar as
desigualdades existentes".
Extensão de licença e salário maternidade quando mãe e/ou bebê são hospitalizados
Fabiana Del Padre Tomé analisou o julgamento da ADI 6327 e concluiu que o STF decidiu conforme à
Constituição, buscando trazer tratamento igualitário a todos os destinatários, em detrimento da
estrita legalidade, sob o argumento de que o legislador não tem condições de prever a evolução
social para trazer previamente uma disciplina apropriada para aquelas situações. Na visão da
Professora, "não se atinge igualdade quando nivelamos todos sem considerar suas
peculiaridades".
3° PAINEL: SEGURANÇA JURÍDICA E IGUALDADE
Modulação de efeitos no STF em matéria tributária e a igualdade
Daniella Zagari defendeu que a modulação de efeitos é medida excepcional, que não pode ser vista
como poder discricionário do STF: Seus fundamentos devem estar presentes e a ponderação deve
ser feita de modo claro e transparente. Para a Advogada, o Supremo tem adotado comportamento
incongruente em relação ao tema. Como exemplo, citou o Tema 69 de Repercussão Geral, em que a
jurisprudência contrária do STJ serviu de fundamento para a modulação. Em contrapartida, no Tema
881, o STF optou por não modular, ao argumento de que a jurisprudência da Corte Superior quanto à
necessidade de rescisória para desconstituir a coisa julgada é irrelevante.
Coisa julgada em matéria tributária (segurança jurídica e igualdade: Temas 881 e 885 do
STF)
Leandro Paulsen abordou os reflexos da não modulação dos efeitos em relação ao julgamento da
coisa julgada, destacando os possíveis problemas em relação à regra transitória. Em sua visão, a
mudança de posicionamento quanto à desconstituição automática da coisa julgada individual deveria
produzir efeitos prospectivos, a partir da publicação dos acórdãos dos temas 881 e 885.
Fernanda Camano complementou as ponderações anteriores, atentando pela oposição de Embargos
de Declaração pelo contribuinte, no dia 09/05, visando à modulação de efeitos. Ressaltou, ainda, a
problemática gerada em torno da retroatividade do entendimento, que pode aumentar o
contencioso judicial, já que nem sempre é simples saber se as coisas julgadas individuais são
alcançadas por precedentes novos do STF e STJ, levando à necessidade de os contribuintes
socorrerem ao judiciário em busca da validação dos efeitos da suas respectivas decisões.
Coisa julgada e juízo subsidiário de legalidade: o caso do IPI
Leonardo Branco fez uma retrospectiva da jurisprudência do STJ sobre a incidência do IPI na
revenda de importados, fazendo um paralelo com os temas 881 e 885 do STF, sobre desconstituição
automática da coisa julgada sem ação rescisória. Alertou para a aparente contradição em relação ao
tema, já que no dia 09/05/2023 foi publicado o acórdão do STJ julgando procedente a Ação
Rescisória n° 9065 para desconstituir a coisa julgada do contribuinte em relação à tese do IPI na
revenda, atingindo período integral de 5 anos para trás do ajuizamento da referida ação, (2005 a
2013), portanto, ainda mais prejudicial que a aplicação dos temas 881 e 885 do STF.
4° PAINEL: REFORMA TRIBUTÁRIA - REGRESSIVIDADE E
ADEQUADA REPARTIÇÃO DOS ENCARGOS
Federalismo e reforma tributária
Leonardo Alvim refletiu sobre as possíveis consequências que a reforma tributária relativa à
instituição de imposto sobre o consumo gera sobre o pacto federativo: ela reforça ou agride a
autonomia dos entes? Na sua visão, a reforma é positiva nesse ponto, pois a desigualdade entre os
municípios se reduz por dois caminhos: (i) possibilidade dos municípios tributarem todo consumo
dos seus cidadãos; e, (ii) distribuição da cota-parte entre os municípios pela população.
Tributação sobre o consumo
Heleno Taveira Torres levantou críticas à falta de transparência sobre a proposta de criação do
imposto sobre consumo. O Professor levantou pontos de dúvida que, até o momento, não há
respostas a respeito da reforma, como: A base de cálculo, método de determinação da não
cumulatividade, incentivos fiscais e forma de compensação da perda de arrecadação dos Estados de
origem.
Não cumulatividade na Reforma Tributária
Valter Souza Lobato defendeu que os atuais textos das propostas não sugerem alterações
relevantes para resolução dos problemas existentes sobre a não-cumulatividade. Alertou para a
possibilidade de se criar a técnica do “split payment”, admitindo-se o crédito ao adquirente apenas
quando comprovado o pagamento pelo fornecedor. Na sua visão, tal sistemática transfere o risco de
sonegação do Estado para o setor privado, podendo gerar problema grave de fluxo de caixa para as
empresas e prejudicar a competitividade, na medida em que pequenas empresas poderão não ser
contratadas como fornecedores, sob o receio de não arcarem os tributos e os adquirentes não
poderem apropriar o respectivo crédito.
Entre a neutralidade e a regressividade tributária. Perspectivas das propostas de reforma
Pilar Coutinho Elói fez reflexões sobre o sistema de alíquotas diferenciadas versus a proposta de
cashback para devolução dos tributos a pessoas menos favorecidas e concluiu que o fato de não
termos uma tradição de acompanhamento de política pública fiscal favorece a insegurança e
especulação. Na sua visão, as alíquotas e um sistema de cashback provavelmente darão espaço a
lobby mas em menor grau ao que se tem atualmente.
5° PAINEL: DEBATES E PROPOSTAS PARA APRIMORAMENTO DA
LEGISLAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA
Elidie Palma Bifano Souza Lobato discorreu sobre a Emenda Aditiva n° 3 ao PL 2337/2021, que propôs
a declaração consolidada de empresas do mesmo Grupo Econômico, levantando, incialmente, as
principais dificuldades na implementação, tais como a definição de grupo (econômico ou de fato), o
nível de integração entre as empresas (meramente econômico ou político) e o tratamento de verbas
diferidas na tributação individual e de prejuízos fiscais anteriores à consolidação. Concluiu, porém, que
a medida possui mais aspectos positivos, pois traria simplificação e eficiência aos negócios,
aumentaria a eficiência tributária, mitigaria planejamentos tributários abusivos, reduziria a burocracia,
otimizando o SPED (bloco K, DFs consolidadas), bem, como·facilitaria a fiscalização e reduziria custos
de demandas.

. Ana Cláudia Utumi destacou a necessidade de alterações na legislação do Imposto de Renda para
regularização do registro de ágio na aquisição de participações societárias no Brasil por subsidiárias
de grupos multinacionais estrangeiros, na medida em que atualmente não há previsão legal para
discriminar o capital estrangeiro em relação ao capital nacional, no tocante ao aproveitamento do ágio.
Em sua opinião, o fato de uma empresa ter acionistas estrangeiros não é motivo para ser
desconsiderada como real adquirente de participação societária, para fins de dedutibilidade do ágio -
empresa operacional, devendo ser garantido direito aos acionistas de amortização do ágio. A ausência
de tal regularização prejudica a realização de investimentos estrangeiros no Brasil, pois gera
insegurança aos investidores.
6° PAINEL: ESTADO DE DIREITO E LEGALIDADE TRIBUTÁRIA / TENSÕES
ENTRE AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA (LEGALIDADE) E DISPUTAS
JUDICIAIS CONCEITUAIS (FORMALISMO) NO STF
Legalidade e capacidade contributiva: os principais casos de iniquidade tributária na
jurisprudência recente do STF
Cleucio Santos Nunes propôs uma análise crítica da jurisprudência do STF em relação à promoção de
uma tributação mais justa e equitativa, pois quando o legislador não o faz, cabe ao Supremo que analise
e determine a correção essa falta. Trouxe exemplos que demonstram, a seu ver, o comportamento em
sentido contrário à busca pela tributação equitativa adotado pelo tribunal: não tem apreciado o mérito
de Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) em que se questiona a mora na implantação
do IGF (ADO nº 31/15 e 55/19); reconheceu a mora do legislador em instituir o ITCMD sobre bens
localizados no exterior, que resulta em tratamento tributário diferenciado para o contribuinte realiza a
doação desses bens (ADO 67/22), mas impediu a cobrança pelos estados até que ´fosse instituído.

Epistemologicamente, são tensões entre o texto e a decisão concreta


João Maurício Adeodato discorreu sobre as razões que levam a decisões tão diversas sobre os mesmos
temas, ressaltando o absoluto predomínio de opiniões não fundamentadas e arbitrárias. Concluiu que as
decisões devem se fundamentar no conhecimento do direito, opinião todos têm, conhecimento é mais
difícil, não consiste apenas na atribuição de significado às palavras, é preciso partir da análise dos fatos
(referente empírico) e conjunto de enunciados aceitos por todos os participantes.
6° PAINEL: ESTADO DE DIREITO E LEGALIDADE TRIBUTÁRIA / TENSÕES
ENTRE AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA (LEGALIDADE) E DISPUTAS
JUDICIAIS CONCEITUAIS (FORMALISMO) NO STF
Devido processo legal na cobrança do crédito tributário: entre a desjudicialização, a
“criatividade” judicial e o estrangulamento da legalidade
Paulo Cesar Conrado refletiu sobre os desvios de legalidade cometidos nas cobranças de créditos
tributários. Isso porque, mesmo com o trânsito no Poder Judiciário, na prática, identifica-se diversas
ilegalidades processuais no trâmite de execuções fiscais, a exemplo do prosseguimento da ação sem
citação e com inobservância e desvios dos requisitos da Lei 6.830/80. Para o Jurista, "o que vemos é
uma priorização da eficiência em detrimento da legalidade e o devido processo legal."

As “deslegalizações” em matéria tributária autorizadas pelo STF


Clara Mendes Moreira fez uma análise crítica das normas constitucionais a respeito da legalidade e da
jurisprudência do STF, concluindo que o Supremo banalizou a legalidade tributária, criando exceções que
franqueiam o executivo traçar alíquotas, violando separação de poderes e a lógica do sistema,
prejudicando o planejamento do contribuinte. Finalizou questionando se devemos "aceitar a
jurisprudência ou permanecer questionando em que maneira o STF tem reescrito clausulas da
Constituição sem que haja autoridade para tanto?"
7° PAINEL: LEGALIDADE E LIBERDADE NO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

ADI 2446: limites ao planejamento tributário


Ricardo Mariz de Oliveira elencou fundamentos determinantes do voto da Ministra Carmen Lúcia na ADI
2446, pelos quais foi reconhecida a constitucionalidade do § único do art. 116, CTN : não foi descumprido
o princípio da legalidade; através dele não pode ser aplicada a analogia; ainda não pode ser aplicado
porque depende de edição da lei; se destina a assegurar a plena efetividade dos princípios da legalidade
e lealdade; o ato de desconsideração é previsto em lei; é limitado aos atos que visam à dissimulação;
não proíbe o planejamento tributário; não proíbe a economia fiscal por forma coerente com o
ordenamento jurídico a obtenção de situação menos onerosa, por evitar a ocorrência do fato gerador; a
elisão fiscal é lícita; elisão é distinta de evasão; não dispõe de espaço sobre interpretação econômica; a
norma é combate à evasão por via dissimulação. Ressaltou que, "havendo propósito negocial, é
evidente que não está presente a simulação, mas não é requisito para que o planejamento seja licito
e não simulado, pois a economia tributária está amparada pela legalidade".
Flexibilização da legalidade na jurisprudência do STF e os efeitos disso para o planejamento
tributário
Martha Toribio Leão discorreu sobre a denominada "legalidade suficiente", critério que vem sendo
adotado pelo STF em suas decisões, segundo o qual a lei não precisa estabelecer todos os elementos da
obrigação tributária, basta prever parâmetros que poderão ser complementados por normas infralegais,
ressaltando suas consequências negativas para o planejamento tributário: (i) uso de princípios sem
embasamento legal, baseado em critérios marcados pela vagueza (operação societária anormal, não
habitual); e, (ii) uso de métodos argumentativos que se afastam do sentido preliminar do texto legal para
conferir máxima eficiência a outros princípios (promoção de interesses relevantes para aquele
intérprete). Concluiu que resulta numa "banalização da legalidade, não mais se reconhece o texto da
lei como razões para a tomada de decisão, a lei não vincula o comportamento, se torna adpatável a
partir dos interesses de quem a interpreta e aplica ao caso concreto".
7° PAINEL: LEGALIDADE E LIBERDADE NO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Opções fiscais e a ADC 66: calibração do "intolerômetro" ao planejamento tributário
Luis Flávio Neto esclareceu que a tolerância ao planejamento tributário no sistema jurídico está atrelada
às restrições atribuídas à liberdade do contribuinte resguardada da interferência do Estado, que jamais
poderá ser aniquilada, uma vez assegurada pelo texto constitucional, diferenciando as duas categorias
de planejamento tributário: (i) em sentido estrito: marcado pelo subjetivismo, em situações que a lei não
proíbe mas também não autoriza determinado comportamento; (ii) em sentido amplo: nos casos que o
legislador estabelece opções fiscais ao contribuinte, que pode escolher a mais econômica
tributariamente, onde se enquadra previsão contida no art. 129 da Lei do Bem, que permite a
exploração de atividade econômica personalíssima via pessoa jurídica, com tributação mitigada.
Os limites do pejotismo sob a perspectiva da liberdade econômica e da simulação
Carlos Henrique de Oliveira trouxe reflexão sobre o limite de licitude do "pejotismo" (art. 129 da Lei nº
11.196/05 "Lei do bem"), declarado constitucional pelo julgamento da ADC nº 66, entendendo que passa
por uma análise fática: com a expressa previsão em norma trabalhista do trabalhador autônomo, assim
considerado independente de habitualidade e exclusividade, passa a ser imprescindível a
caracterização do vínculo de subordinação ao empregador (hierárquica ou estrutural) e relação de
emprego, para afastamento de dispositivo contido na Lei nº 11.196/05 no caso concreto, conforme
autoriza o art. 9º da CLT, em que é prevista a nulidade dos atos praticados com o objetivo de desvirtuar,
fraudar a aplicação dos preceitos contidos na legislação trabalhista.
Planejamento tributário, liberdade não simulada e as decisões na ADC 66 e na ADI 2.446
Sérgio André Rocha discorreu sobre a relevância de se desenvolverem critérios que auxiliem na
identificação dos limites do planejamento tributário, alcance de um consenso sobre o que é considerado
simulação, para amparar a tomada de decisão nos casos concretos. O palestrante pontuou que o debate
principiológico sobre o assunto foi superado com o julgamento da ADI Nº 2446, em que o Supremo
entendeu que deve ser assegurada a liberdade de auto organização do contribuinte, desde que através
de estruturas coerentes com o ordenamento jurídico.
8° PAINEL: LEGALIDADE, SOLIDARIEDADE RESPONSABILIDADE
TRIBUTÁRIA
Aspectos gerais da responsabilidade tributária
Hugo de Brito Machado Segundo discorreu sobre a sujeição passiva na relação jurídico-tributária,
destacando que a atribuição de responsabilidade tributária deve ser definida em lei, e exige mínima
relação do terceiro com o fato gerador do tributo (art. 128, CTN). No seu ponto de vista, não se pode
invocar a praticabilidade para permitir a atribuição de responsabilidade a terceiros indistintamente,
subvertendo a regra que o princípio está a tornar prático. Ressaltou que o art. 124 I do CTN, por si só, não
autoriza a responsabilização dos marketplaces pelas dívidas tributárias daqueles que utilizam a
plataforma, pois estabelece apenas a solidariedade dos que são definidos por lei como sujeito passivo
da obrigação, contribuinte e responsável.

Responsabilidade de marketplaces: limites do CTN para a responsabilidade e para a


instituição de deveres instrumentais
Fabiana Carsoni Fernandes reforçou a necessidade de vínculo com o fato gerador que permita o
adimplemento do tributo pelo terceiro ao qual se atribui a responsabilidade tributária, sem sacrifico de
seu próprio patrimônio, sob pena de violação ao que determina o próprio CTN. Propôs uma analise crítica
das normas estaduais que tem responsabilizado os marketplaces pelo cumprimento de obrigações
tributárias daqueles que utilizam a plataforma, em especial da Bahia, Mato Grosso e Ceará, que conferem
responsabilidade tributária ao mero intermediador de operações com mercadorias que promova
arranjos de pagamento ou desenvolva atividades de marketplace, demonstrando preocupação com a
vagueza das normas estaduais para atribuição de responsabilidade, pois a falta de vínculo suficiente com
o fato atribui aos terceiros deveres impossíveis ou de difícil cumprimento (deve guardar respeito aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade), concluindo que nossas legislações não estão
maduras para efetivar essa cobrança.
8° PAINEL: LEGALIDADE, SOLIDARIEDADE RESPONSABILIDADE
TRIBUTÁRIA
Responsabilidade tributária do substituído na falta de pagamento pelo substituto
José Eduardo Soares de Mello propôs uma análise crítica quanto à possibilidade da falta de
recolhimento antecipado do ICMS pelo substituto em situação prevista no art. 426-A do RICMS/SP
ensejar responsabilidade tributária ao substituído, concluindo que nesse caso é descabida a
responsabilização do substituído pelos seguintes fundamentos: (i) é da essência do regime de
substituição tributária concentrar o encargo na figura do responsável (substituto); e, (ii) a antecipação
tributária com substituição exige previsão em lei complementar federal (Tema 456, STF), e inexiste
previsão na LC nº 87/1996 de exigência do ICMS ao futuro adquirente da mercadoria (substituído).

Responsabilidade dos administradores de fundos de investimento


Roberto Quiroga Montera destacou a relevância dos fundos de investimento no mercado brasileiro,
trazendo situações práticas em que o fisco tem considerado o administrador do fundo responsável
tributário: (i) capitalização de ativos (integralização de bens) por valor contábil em detrimento do de
mercado (regra); (ii) amortização de quota (antecipação do resgate) nos fundos fechados (tributados
apenas no resgate), fisco entendeu que o resgate não poderia ser antecipado; e, (iii) distribuição de
dividendos a acionistas, ante a ausência de personalidade jurídica dos fundos (não pode distribuir
dividendos). No ponto de vista do palestrante, o tema da responsabilidade de fundos ainda vai gerar
grande contencioso tributário.
9° PAINEL: CAPACIDADE CONTRIBUTIVA X COOPERAÇÃO
ENTRE FISCO E CONTRIBUINTES
Aspectos gerais da cooperação no direito tributário
Arthur Maria Ferreira Neto discorreu sobre a dificuldade em se implementar a cooperação no direito
tributário, pois a relação entre fisco e contribuinte é marcada por vínculo de subordinação, e desconfiança,
pontuando algumas sugestões para superação desses obstáculos: (i) extinção de privilégios arbitrários
do ente tributante (ex.: rescisão automática coisa julgada); (ii) garantia de transparência recíproca (ex.
negativo: extrato SINCOR - Tema RG nº 582); e, (iii) correção de desvios institucionais que abalam a
confiança (ex.: responsabilização efetiva do fisco por jogadas ilícitas no pagamento de precatórios).
O limite das multas aplicadas pelo descumprimento de obrigação acessória e pela falta de
pagamento do imposto (Tema 487, STF)
Bruno Fajersztajn levantou críticas à imposição de sanções severas em matéria tributária sem limites
objetivos pré-definidos, nem distinção entre o sonegador e contribuinte de boa-fé, citando estudos da
FGV que demonstram a ineficiência da aplicação de penalidades como estímulo ao cumprimento das
obrigações tributárias. Em sua análise, destacou positivamente construção inovadora identificada em voto
do Ministro Luís Roberto Barroso no Tema 487, do STF: ao analisar a constitucionalidade de multa
referente a descumprimento de obrigações acessórias, compreendeu que, nesse caso, a penalidade
deve incidir sobre o valor tributo a que se refere, e não da operação.
Programa Confia/RFB
Luciana Aguiar trouxe suas impressões sobre o programa CONFIA, pontuando grandes desafios, como
melhoria nos canais de comunicação, aprimoramento na solução de dúvidas, implementação de etapas
prévias ao conflito, dentre outros, mas o enxerga como oportunidade relevante de cooperação entre fisco
e contribuinte, relatando que a interação já se mostrou proveitosa para o aprimoramento de processos.
Programas de cooperação entre fisco e contribuinte
Cláudia Lúcia Pimentel Martins da Silva pontuou aspectos positivos dos programas de cooperação que
vêm sendo implementados (código defesa do contribuinte; normas TP – MP 1152 APA; conformes), como:
comunicação bidirecional anterior ao ato coercitivo, processos de consulta prévia sobre preços de
transferência (APA), e possibilidade de autorregularização.
10° PAINEL: DEBATES E PROJEÇÕES SOBRE A PAUTA DE CASOS
TRIBUTÁRIOS DO STF
PIS/COFINS sobre receita de locação de bens móveis e imóveis (Temas 630 e 644, STF)
Paulo Rosenblatt destacou que segundo tem entendido o STF, receita pode envolver outros ingressos,
que não sejam provenientes da venda de mercadorias e prestação de serviços, desde que representem
capacidade contributiva. Na sua visão, como os Ministros que se pronunciaram antecipadamente nos
temas em referência se aposentaram, resta dúvidas quanto ao posicionamento dos demais: "conclusão
será diferente a depender se receita decorrer da atividade principal ou secundária?" A expectativa é
que com esse julgamento o STF delimite o conceito de receita.
Teses filhotes do Tema 69, STF: Exclusão ISS, crédito presumido ICMS da base de cálculo do
PIS/COFINS e PIS/COFINS da própria base (Temas 118, 1067 e 843 STF)
Tatiana Midori Migiyama pontuou dúvidas quanto ao posicionamento que será adotado diante de
fragilidades nas teses dos contribuintes: (i) em relação à exclusão do PIS/COFINS da própria base, o §5º,
do art. 12 do DL nº 1.598/1977 dispõe expressamente que a receita bruta inclui os tributos sobre ela
incidentes, e (ii) no caso da exclusão do ISS, ressalta que como o tributo é cumulativo , compõe o preço
do serviço, de modo que deveria observar outro racional, podendo-se interpretar que compõe a base de
cálculo das contribuições. Já em relação ao crédito presumido, ressaltou que possui natureza de
recomposição patrimonial, redução de custo, não poderia ser base de cálculo do PIS/COFINS (não é
receita). Entende que os três temas irão convergir no conceito de receita.
Exclusão de benefícios fiscais de ICMS na base de cálculo do IRPJ e da CSLL e o Pacto
Federativo – Perspectivas da Discussão no STF
Ricardo Maito da Silveira propôs uma análise crítica do posicionamento adotado pelo STJ em relação ao
tema, entendendo haver aparente contradição no julgamento, pois se o tribunal reconhece que os
benefícios ficais são passíveis de exclusão do IRPJ/CSLL, não teria razão jurídica para dar tratamento
tributário distinto ao crédito presumido e demais benefícios. Considerando que a tese de defesa dos
contribuintes em relação à violação do pacto federativo tem índole constitucional, aposta na
possibilidade da discussão ser analisada pelo STF sob essa perspectiva.
11° PAINEL: DESAFIOS DA NÃO CUMULATIVIDADE NA
TRIBUTAÇÃO SOBRE O CONSUMO: ICMS E ISS
ISS construção civil (subempreitadas) - RE nº 599.582/RJ
Edvaldo Pereira de Brito ressaltou que, ao discriminar competências tributárias, o legislador pretendeu
previnir uma tributação superposta, concluindo ser evidente a dedutibilidade de materiais e serviços
tomados de subempreitadas da base de cálculo do imposto municipal.
ADC 49: Transferências entre estabelecimentos próprios e direito à manutenção do crédito
(origem ou destino?)
Mara Eugênia Buonanno Caramico levantou dúvidas decorrentes da solução adotada na ADC 49: como
ficam contribuintes que pararam de recolher o tributo nas transferências a partir do Tema 1099, STF?
Tinham segurança jurídica de julgado em repercussão geral, Estados podem autuar? Qual a base de
cálculo dos créditos nas transferências, se o §4º do art. 13 da Lei Kandir foi declarado inconstitucional?
Creditamento ICMS, após EC nº 42/2003, sobre bens de uso e de consumo empregados em
produtos destinados à exportação (Tema 633, STF)
Paulo Ayres Barreto apresentou reflexão sobre a distinção entre a regra voltada exclusivamente para a
exportação, e lógica geral da não-cumulatividade, ressaltando que "não podemos entender que o
legislador altera a CF para nada dizer". Opinou que a imunidade atribuída às exportações exige
intepretação ampla para consecução do próprio princípio do destino (devemos exportar produtos e
não tributos), defendendo que "não se trata de de interpretação extensiva, mas de não restringir".
ICMS-DIFAL: obrigação de quitação em separado e ofensa à não cumulatividade (Tema 517,
STF)
Roque Antonio Carraza propôs crítica à decisão do STF que entendeu ser válida a cobrança antecipada
do DIFAL das empresas optantes do "Simples Nacional" (art. 426-A, RICMS/SP), entendendo que ofende
o art. 146, IIII, "d" da CF por dar tratamento tributário desfavorecido às pequenas empresas que, se
realizarem a venda interestadual de mercadorias, além do SIMPLES, são obrigadas recolher o DIFAL
antecipadamente sem direito a apropriação de crédito sobre o montante antecipado.
12° PAINEL: DESAFIOS DA NÃO CUMULATIVIDADE NA
TRIBUTAÇÃO DAS RECEITAS - PIS/COFINS
Leitmotiv da não-cumulatividade
André Mendes Moreira apresentou crítica à adoção do critério do crédito físico, entendendo que a
complexidade da não-cumulatividade só se justifica em função da neutralidade vertical (alíquota efetiva
sempre a mesma independentemente do numero de etapas na cadeia), pensada para preservação da
livre-concorrência e igualdade, concluindo que "ou se concretiza, ou melhor voltar à tributação
cumulativa, que menos danos gerará à sociedade".
Alcance da não cumulatividade PIS/COFINS (Tema 756, STF)
Gustavo Brigagão propôs reflexão em relação à liberdade de definição da não-cumulatividade
conferida ao legislador ordinário, defendendo haver incoerência na adoção da não-cumulatividade mais
branda pra uns tributos e menos pra outros, pois independentemente do tributo a que se refira, visa
uma única finalidade: evitar danos à economia nacional. Concluiu com crítica os projetos de reforma,
que apesar de prometerem não-cumulatividade ampla, mantém texto idêntico ao da CF.
PIS/COFINS sobre aquisição de bens do ativo imobilizado (Tema 244, STF)
Tácio Lacerda Gama destacou o tema por entender que o STF decidiu o caso com base em
argumentos jurídicos relevantes para discussão da não-cumulatividade, tendo adotado como
fundamento de sua decisão a promoção do princípio da igualdade. O tribunal se posicionou no sentido
de que o instituto consiste em técnica arrecadatória, e não benefício fiscal (como defendeu a Fazenda
Pública), afastando interpretação de que seria passível de restrição pelo poder publico, devendo ser
aplicada sem distinção de tratamento a contribuintes em situações iguais.
PIS/COFINS de catadores de lixo / lixo reciclável (Tema 304, STF)
Thais de Laurentiis entendeu que, no caso, a declaração de inconstitucionalidade por arrastamento do
dispositivo que suspendia a incidência das contribuições sobre o comércio de sucata/recicláveis não
era necessária, ainda que sob argumento do direito ao crédito estar condicionado à incidência do
tributo na etapa anterior. Na sua opinião, o tribunal merceia ter dado tratamento diferenciado ao caso
em prol da proteção ao meio-ambiente ecologicamente equilibrado (finalidade extrafiscal do tributo),
como já o fez em relação à produtos oriundos da ZFM, mantendo o direito a credito embora não haja
pagamento do tributo na etapa anterior, sob argumento de promoção ao desenvolvimento nacional.
13° PAINEL: ANTERIORIDADE, ESTABILIDADE, RETROATIVIDADE E
SEGURANÇA JURÍDICA

Aspectos gerais da Segurança Jurídica


Marco Aurélio Greco abordou a causa da insegurança jurídica no campo tributário: não confirmação de
expectativa gerada pela confiança depositada em alguém, ressaltando que essa expectativa decorre do
comportamento do legislador, judiciário, executivo e até mesmo doutrina. Concluiu que o doutrinador
deve tomar as decisões como ponto de partida para participação na construção de soluções concretas
que almejem a garantia de segurança jurídica a todos, condizentes a realidade.

PIS/COFINS – Receita financeira (ADC 84); MP combustíveis; REINTEGRA; AFRMM


Rodrigo Maito da Silveira trouxe reflexões sobre a necessidade da observãncia ao princípio da
anterioridade na majoração de tributos por todas as esferas de poder, independentemente se direta ou
indireta, pois se trata de princípio com feição de regra. Pontuou que a jurisprudência do STF alternou ao
longo dos anos quanto a aplicação da anteroridade diante da majoração indireta de tributos, o que traz
preocupação quanto ao que esperar em relação aos temas pendentes de solução definitiva:
"consolidação de um posicionamento que protege o contribuinte? ou teremos invencionismos como
anterioridade suficiente (Tema 939,STF)?"
13° PAINEL: ANTERIORIDADE, ESTABILIDADE, RETROATIVIDADE E
SEGURANÇA JURÍDICA

IPI conceito de praça: eficácia retroativa da lei nova?


Tathiane dos Santos Piscitelli discorreu sobre a retroatividade de norma expressamente interpretativa,
que tem por finalidade solucionar situações de insegurança ocasionadas pela dúvida sobre o sentido de
determinado dispositivo, analisando o caso da definição de conceito de praça para fins de incidência do
IPI em operações entre partes relacionadas trazida pela Lei 14.395/2022. Na opinião da palestrante, a
despeito da reatroatividade da nova lei, ela reforça a segurança jurídica, estabiliza as relações,
fazendo com que o cenário fique mais seguro e não menos.

LC 190: ICMS-DIFAL e anterioridade.


André Folloni defendeu o entendimento de que a LC 190/22 trouxe redefinição do sujeito ativo da
obrigação tributária, um dos elementos da regra matriz (havia obrigação em relação a um, agora há
obrigação em relação a outro), de modo que instituiu obrigação tributária nova, devendo ser observada a
anterioridade. Na opinião do palestrante, há incoerência do STF ao não se aplicar a anterioridade, sendo
que reconheceu a inconstitucionalidade das normas estaduais antes da edição da LC 190/22, por
trazer obrigação tributária nova. Propôs crítica à forma como tem se posicionado o Supremo em relação
ao tema: "O tributo foi declarado inconstitucional duas vezes (protocolo em 2011 e convênio em 2015), e
por modulações de efeitos sucessivas cobranças entre 2011 e 2014, e entre 2015 a 2021, foram válidas.
Agora discute-se se as cobranças em 2023, que não respeitaram a anterioridade, foram válidas."
14° PAINEL: EFICÁCIA E EFETIVIDADE DAS DECISÕES JUDICIAIS
Aderência dos precedentes judiciais no processo administrativo tributário no âmbito federal,
estadual e municipal
Vanessa Domene trouxe um panorama da legislação que rege o processo administrativo tributário ,
ressaltando que somente o RICARF prevê a aplicabilidade dos precedentes, pontuando a dificuldade de
definição da ratio decidendi para a realização da subsunção ao caso concreto. Apresentou propostas para
maior aderência dos precedentes na esfera administrativa: (i) expressa determinação legal da aplicação
de precedentes nas legislações processuais PAT; (ii) precedentes judiciais devem ser rapidamente objeto
de sumulas vinculantes pelos tributais administrativos; e (iii) PGE emitir orientações gerais de temas
decididos em precedentes judiciais com atuação já no próprio âmbito administrativo.
Maysa Pittondo Deligne refletiu sobre a aderência dos precedentes judiciais no processo administrativo
tributário em âmbito federal. No seu ponto de vista, o art. 927 do CPC deveria ser observado na atividade
jurisdicional exercida na esfera administrativa, independentemente de previsão específica na legislação ,
considerando que o art. 15 do CPC estabelece a aplicação subsidiária de seus dispositivos ao processo
administrativo.
Inconstitucionalidade da vedação à concessão de liminar para autorizar compensação em
mandado de segurança (ADI 4296) - Eficácia da decisão frente à vedação do art. 170-A do CTN
Renato Lopes Becho analisou a decisão do STF que declarou a inconstitucionalidade da vedação à
concessão de liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários. No seu ponto de vista,
trata de aspecto distinto do art. 170-A do CTN, "uma coisa é aguardar o transito em julgado de decisão
judicial, outra impetrar mandado de segurança", concluindo que a compensação extingue definitivamente
o crédito tributário, e "não podemos dar efeitos definitivos ao que é liminar, precário".
O Brasil precisa de uma Reforma do Processo Tributário?
Marcus Lívio discorreu sobre graves problemas do processo tributário atual (alta ligitiosidade,
judicialização desenfreada decorrente da modulação de efeitos em decisões do STF), que devem ser
tratados por reforma que tem como premissas a promoção da celeridade processual, consensualidade,
redução de litígios e desjudicialização, através da implementação de normas que viabilizem a arbitragem
em matéria tributária, mediação, moderação sancionatória e programas de conformidade que permitam a
autorregularização dos contribuintes.
15° PAINEL: DEBATES SOBRE PRECEDENTES RECENTES DOS
TRIBUNAIS SUPERIORES ENVOLVENDO O ITBI
ITBI na cessão de direitos
Alberto Macedo analisou o julgamento do RE-Agr RG 1.294.969 SP pelo STF, em que o tribunal afastou a
incidência de ITBI na cessão de direitos sobre bens imóveis, pois o gerador do ITBI somente ocorre
com a transferência efetiva da propriedade imobiliária, que se dá mediante o competente registro.
Ressaltou a diferença entre “promessa de cessão” (não há incidência do imposto, ex.: contrato de
financiamento) e “cessão de promessa”. Nesse caso, o cessionario adquire o direito real sobre o imóvel,
havendo incidência do ITBI sobre o montante equivalente ao percentual adquirido (art. 35 , III CTN).

Dimensionamento da base de cálculo (Valor Venal de Referência x arbitramento)


Caio Augusto Takano discorreu sobre o julgamento do Tema 1113 do STJ, em que o tribunal fixou o
entendimento de que é ilegal a adoção do valor venal como piso para base de cálculo do ITBI, definido
que o valor atribuído à operação pelo contribuinte só será afastado na presença de pressupostos legais
que permitam o arbitramento (valor presumido). Concluiu que resolve questões, embora ainda haja
desafios: "abre margem para prefeitura realizar arbitramento sempre que discordar dos valores
declarados? Quais critérios devem ser adotados no caso concreto para mensurar a base
arbitrada?" Entende que na pratica são as dúvidas que irão restar, especialmente em situações como
integralização de capital, em que não realiza-se operações de mercado.
15° PAINEL: DEBATES SOBRE PRECEDENTES RECENTES DOS
TRIBUNAIS SUPERIORES ENVOLVENDO O ITBI
ITBI no fundo de investimento
Carlos Augusto Daniel Neto abordou decisão proferida pelo STJ no julgamento AREsp n. 1.492.971/SP, em
que prevaleceu o entendimento de que incide ITBI na transferência (integralização) de bens para fundos
de investimento imobiliário. O contribuinte defendia a não incidência do imposto sob os seguintes
fundamentos: (i) ausência de personalidade jurídica do fundo; (ii) imunidade do ITBI na integralização de
capital. O palestrante entende que o argumento constitucional pode ser analisado pelo Supremo, e seu
resultado dependerá compreensão sobre a (in)aplicabilidade de restrição à imunidade na integralização
de imóveis (voto do Ministro Alexandre de Moraes no julgamento do Tema 796, STF). Concluiu com a
seguinte reflexão: a "integralização do patrimônio do FII também se relaciona ao desenvolvimento
nacional: o compartilhamento de um ponto de vista valorativo comum justifica uma interpretação
teleológica expansiva à imunidade (e.g. RE 330.817 – livros eletrônicos)?"

Imunidade na incorporação de bens em empresas com atividade imobiliária


Fábio Pereira da Silva propôs uma análise crítica dos desdobramentos do tema 796, do STF: (i) tese da
imunidade incondicionada na integralização de bens imóveis; (ii) a operação analisada pelo STF não era
usual, do ponto de vista contábil, razão pela qual houve uma profusão de ações discutindo a incidência do
ITBI sobre a diferença entre o capital social integralizado e o valor venal do imóvel, em que o contribuinte
pleiteia a aplicação do “distinguishing”. O palestrante trouxe exemplos de decisões judiciais que tem
acolhido ambas as teses, mas em digressão do texto constitucional demonstrou que, quando instituída
(emenda 18/1965), a imunidade abrangia apenas operações de integralização de imóveis e já era presente
a restrição à empresas com atividade preponderante imobiliária, razão pela qual entende que a
interpretação do Ministro Alexandre de Moraes no voto do Tema 796 possui fragilidades. Além disso,
opina que a tese da imunidade incondicionada não se trata de ratio diecidendi e sim obiter dictim.

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