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Misabel Derzi refletiu sobre a condição do sistema jurídico na perspectiva da desigualdade social, e
discorreu sobre o papel do Direito como normatizador da realidade, a partir de determinados
signficados e significações, trazendo indagações sobre como podemos aplicar o Princípio da
Igualdade em um País extremamente desigual. Nessa perspectiva, concluiu que a complexidade do
atual sistema jurídico-tributário é consequência do fenômeno da desigualdade social e regional,
citando como exemplo a concessão, arbitrária ou legal, de incentivos fiscais estaduais, que traduzem
a a competição dos Entes Federados na busca de maior desenvolvimento. Para a Jurista, a
simplificação do sistema jurídico deve ser aplicada com cautela, pois pode "igualar o inigualável",
tal como, em sua opinião, acontece na PEC45. Nesse sentido, demonstrou preocupação de que, na
referida proposta, o Estado menos desenvolvido não só corre risco em relação a sua receita, como ao
cuidar dos serviços correspondentes a seus encargos, consumirá imposto na qualidade de
consumidor, com carga mais elevada.
2° PAINEL: A IGUALDADE E O MÍNIMO EXISTENCIAL
O mínimo existencial na delimitação do fato gerador do imposto de renda (ADI 5422)
Fernando Aurélio Zilveti abordou sobre a decisão do STF acerca da inconstitucionalidade do
imposto de renda sobre pensão alimentícia, que, no seu entender, foi conforme à Constituição
Federal, pois considerou a verba como a menor quantidade de renda absolutamente necessária para
a sobrevivência digna do contribuinte. Ainda, na visão do palestrante, a decisão também preconiza a
igualdade de gênero, mitigando o caráter discriminatório das leis que tributavam pensão alimentícias,
criadas em um contexto legislativo eminentemente masculino.
Dedutibilidade de despesas médicas e educação (ADI 4927)
Paulo Victor Vieira da Rocha propôs uma análise crítica da jurisprudência e concluiu que há
incoerência na limitação de dedutibilidade de despesas médicas em contraposição à de educação.
Para o advogado, o legislador confere tratamento desigual às referidas despesas sem justificativa, vez
que, em ambos os casos, as despesas se relacionam a direitos assegurados pelo princípio da
dignidade da pessoa humana.
Igualdade e solidariedade: salário-maternidade x salário paternidade (Tema 72 STF)
Adriana Reis de Albuquerque defendeu a natureza de benefício previdenciário do salário-
maternidade, em contraposição ao entendimento do STJ. Demonstrou, ainda, a diferença entre o o
julgado do tema pelo STF, que além da analisar a inconstitucionalidade pelo viés formal, concluindo
que o §2°, do art. 28 da Lei 8.212/91 criou nova fonte de custeio não prevista na CRFB, afastou a
cobrança por vício de ordem material, representado pelo desestímulo à contratação de mulheres, o
que foi acertado para a palestrante, pois "a interpretação da norma não pode perpetuar as
desigualdades existentes".
Extensão de licença e salário maternidade quando mãe e/ou bebê são hospitalizados
Fabiana Del Padre Tomé analisou o julgamento da ADI 6327 e concluiu que o STF decidiu conforme à
Constituição, buscando trazer tratamento igualitário a todos os destinatários, em detrimento da
estrita legalidade, sob o argumento de que o legislador não tem condições de prever a evolução
social para trazer previamente uma disciplina apropriada para aquelas situações. Na visão da
Professora, "não se atinge igualdade quando nivelamos todos sem considerar suas
peculiaridades".
3° PAINEL: SEGURANÇA JURÍDICA E IGUALDADE
Modulação de efeitos no STF em matéria tributária e a igualdade
Daniella Zagari defendeu que a modulação de efeitos é medida excepcional, que não pode ser vista
como poder discricionário do STF: Seus fundamentos devem estar presentes e a ponderação deve
ser feita de modo claro e transparente. Para a Advogada, o Supremo tem adotado comportamento
incongruente em relação ao tema. Como exemplo, citou o Tema 69 de Repercussão Geral, em que a
jurisprudência contrária do STJ serviu de fundamento para a modulação. Em contrapartida, no Tema
881, o STF optou por não modular, ao argumento de que a jurisprudência da Corte Superior quanto à
necessidade de rescisória para desconstituir a coisa julgada é irrelevante.
Coisa julgada em matéria tributária (segurança jurídica e igualdade: Temas 881 e 885 do
STF)
Leandro Paulsen abordou os reflexos da não modulação dos efeitos em relação ao julgamento da
coisa julgada, destacando os possíveis problemas em relação à regra transitória. Em sua visão, a
mudança de posicionamento quanto à desconstituição automática da coisa julgada individual deveria
produzir efeitos prospectivos, a partir da publicação dos acórdãos dos temas 881 e 885.
Fernanda Camano complementou as ponderações anteriores, atentando pela oposição de Embargos
de Declaração pelo contribuinte, no dia 09/05, visando à modulação de efeitos. Ressaltou, ainda, a
problemática gerada em torno da retroatividade do entendimento, que pode aumentar o
contencioso judicial, já que nem sempre é simples saber se as coisas julgadas individuais são
alcançadas por precedentes novos do STF e STJ, levando à necessidade de os contribuintes
socorrerem ao judiciário em busca da validação dos efeitos da suas respectivas decisões.
Coisa julgada e juízo subsidiário de legalidade: o caso do IPI
Leonardo Branco fez uma retrospectiva da jurisprudência do STJ sobre a incidência do IPI na
revenda de importados, fazendo um paralelo com os temas 881 e 885 do STF, sobre desconstituição
automática da coisa julgada sem ação rescisória. Alertou para a aparente contradição em relação ao
tema, já que no dia 09/05/2023 foi publicado o acórdão do STJ julgando procedente a Ação
Rescisória n° 9065 para desconstituir a coisa julgada do contribuinte em relação à tese do IPI na
revenda, atingindo período integral de 5 anos para trás do ajuizamento da referida ação, (2005 a
2013), portanto, ainda mais prejudicial que a aplicação dos temas 881 e 885 do STF.
4° PAINEL: REFORMA TRIBUTÁRIA - REGRESSIVIDADE E
ADEQUADA REPARTIÇÃO DOS ENCARGOS
Federalismo e reforma tributária
Leonardo Alvim refletiu sobre as possíveis consequências que a reforma tributária relativa à
instituição de imposto sobre o consumo gera sobre o pacto federativo: ela reforça ou agride a
autonomia dos entes? Na sua visão, a reforma é positiva nesse ponto, pois a desigualdade entre os
municípios se reduz por dois caminhos: (i) possibilidade dos municípios tributarem todo consumo
dos seus cidadãos; e, (ii) distribuição da cota-parte entre os municípios pela população.
Tributação sobre o consumo
Heleno Taveira Torres levantou críticas à falta de transparência sobre a proposta de criação do
imposto sobre consumo. O Professor levantou pontos de dúvida que, até o momento, não há
respostas a respeito da reforma, como: A base de cálculo, método de determinação da não
cumulatividade, incentivos fiscais e forma de compensação da perda de arrecadação dos Estados de
origem.
Não cumulatividade na Reforma Tributária
Valter Souza Lobato defendeu que os atuais textos das propostas não sugerem alterações
relevantes para resolução dos problemas existentes sobre a não-cumulatividade. Alertou para a
possibilidade de se criar a técnica do “split payment”, admitindo-se o crédito ao adquirente apenas
quando comprovado o pagamento pelo fornecedor. Na sua visão, tal sistemática transfere o risco de
sonegação do Estado para o setor privado, podendo gerar problema grave de fluxo de caixa para as
empresas e prejudicar a competitividade, na medida em que pequenas empresas poderão não ser
contratadas como fornecedores, sob o receio de não arcarem os tributos e os adquirentes não
poderem apropriar o respectivo crédito.
Entre a neutralidade e a regressividade tributária. Perspectivas das propostas de reforma
Pilar Coutinho Elói fez reflexões sobre o sistema de alíquotas diferenciadas versus a proposta de
cashback para devolução dos tributos a pessoas menos favorecidas e concluiu que o fato de não
termos uma tradição de acompanhamento de política pública fiscal favorece a insegurança e
especulação. Na sua visão, as alíquotas e um sistema de cashback provavelmente darão espaço a
lobby mas em menor grau ao que se tem atualmente.
5° PAINEL: DEBATES E PROPOSTAS PARA APRIMORAMENTO DA
LEGISLAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA
Elidie Palma Bifano Souza Lobato discorreu sobre a Emenda Aditiva n° 3 ao PL 2337/2021, que propôs
a declaração consolidada de empresas do mesmo Grupo Econômico, levantando, incialmente, as
principais dificuldades na implementação, tais como a definição de grupo (econômico ou de fato), o
nível de integração entre as empresas (meramente econômico ou político) e o tratamento de verbas
diferidas na tributação individual e de prejuízos fiscais anteriores à consolidação. Concluiu, porém, que
a medida possui mais aspectos positivos, pois traria simplificação e eficiência aos negócios,
aumentaria a eficiência tributária, mitigaria planejamentos tributários abusivos, reduziria a burocracia,
otimizando o SPED (bloco K, DFs consolidadas), bem, como·facilitaria a fiscalização e reduziria custos
de demandas.
. Ana Cláudia Utumi destacou a necessidade de alterações na legislação do Imposto de Renda para
regularização do registro de ágio na aquisição de participações societárias no Brasil por subsidiárias
de grupos multinacionais estrangeiros, na medida em que atualmente não há previsão legal para
discriminar o capital estrangeiro em relação ao capital nacional, no tocante ao aproveitamento do ágio.
Em sua opinião, o fato de uma empresa ter acionistas estrangeiros não é motivo para ser
desconsiderada como real adquirente de participação societária, para fins de dedutibilidade do ágio -
empresa operacional, devendo ser garantido direito aos acionistas de amortização do ágio. A ausência
de tal regularização prejudica a realização de investimentos estrangeiros no Brasil, pois gera
insegurança aos investidores.
6° PAINEL: ESTADO DE DIREITO E LEGALIDADE TRIBUTÁRIA / TENSÕES
ENTRE AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA (LEGALIDADE) E DISPUTAS
JUDICIAIS CONCEITUAIS (FORMALISMO) NO STF
Legalidade e capacidade contributiva: os principais casos de iniquidade tributária na
jurisprudência recente do STF
Cleucio Santos Nunes propôs uma análise crítica da jurisprudência do STF em relação à promoção de
uma tributação mais justa e equitativa, pois quando o legislador não o faz, cabe ao Supremo que analise
e determine a correção essa falta. Trouxe exemplos que demonstram, a seu ver, o comportamento em
sentido contrário à busca pela tributação equitativa adotado pelo tribunal: não tem apreciado o mérito
de Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) em que se questiona a mora na implantação
do IGF (ADO nº 31/15 e 55/19); reconheceu a mora do legislador em instituir o ITCMD sobre bens
localizados no exterior, que resulta em tratamento tributário diferenciado para o contribuinte realiza a
doação desses bens (ADO 67/22), mas impediu a cobrança pelos estados até que ´fosse instituído.