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ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA

SUMÁRIO
1. Introdução...................................................................... 3
2. Energias de Ordem Mecânica................................ 4
3. Classificação dos Instrumentos Mecânicos .... 5
Referências Bibliograficas..........................................32
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 3

1. INTRODUÇÃO corpo mas também de sua massa.


Qualquer tipo de corpo em movimen-
Energia cinética é a forma de ener-
to é dotado desse tipo de energia,
gia que um corpo qualquer possui
que pode ser por translação, rotação,
em razão de seu movimento, em
vibração entre outros.
outras palavras, é a forma de energia
associada à velocidade de um corpo. Sabe-se que existem energias que
Quando aplicado uma força resultan- ofendem a integridade física ou a
te não nula sobre algum corpo, haverá saúde, tanto do ponto de vista ana-
realização de trabalho sobre ele, des- tômico, fisiológico ou mental, oca-
se modo, ele adquire energia cinética sionam lesões corporais e morte.
na medida em que sua velocidade Sendo classificadas em sete ordens
aumenta. de grupos de energias produtoras do
dano: mecânica, física, química, físi-
A energia cinética não depende ex-
co-química, bioquímica, biodinâmi-
clusivamente da velocidade de um
ca e mista.

FLUXOGRAMA - TIPOS DE ENERGIAS

Temperatura, pressão
atmosférica, eletricidade,
radioatividade

Faca, revólveres, navalha,


foice, punhos, pés, dentes, Ácido sulfúrico, ácido nítrico,
máquinas, quedas, animais, venenos em geral
veículos, explosões Ordem física

Ordem mecânica Ordem química

ENERGIAS
Ordem
Ordem mista
físico-química

Ordem Asfixia por monóxido de


Doenças parasitárias, sevícias, biodinâmica carbono, confinamento,
Síndrome da criança maltratada,
sufocação direta,
Síndrome da alienação parental
afogamento, enforcamento,
ou Síndrome de Medeia
estrangulamento, esganadura
Inanição, doenças
carenciais, intoxicações
alimentares, infecções
(choque), castração química
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Podem ter como resultado o impacto


CONCEITO! A Traumatologia ou Leso- de um objeto em movimento contra
nologia Médico-legal estuda as lesões o corpo humano parado, sendo um
e estados patológicos, imediatos ou
tardios, produzidos por violência sobre meio ativo, ou o instrumento encon-
o corpo humano, nos seus aspectos do trar-se imóvel e o corpo humano em
diagnóstico, do prognóstico e das suas movimento, sendo meio passivo, ou,
implicações legais e socioeconômicas.
finalmente, os dois se acharem em
Além disso, trata também do estudo das
diversas modalidades de energias cau- movimento, indo um contra o outro,
sadoras desses danos. caracterizando uma ação mista.
Esses meios atuam por pressão,
2. ENERGIAS DE ORDEM percussão, tração, torção, com-
MECÂNICA pressão, descompressão, explosão,
deslizamento e contrachoque. A
São as energias que, atuando me- intensidade e a gravidade do trauma
canicamente sobre o corpo, mo- dependem da “força de choque”, da
dificam, completa ou parcialmen- importância da região atingida e da
te, o seu estado de repouso ou de maior ou menor resistência tissular.
movimento. Os principais agentes dessas ener-
As lesões produzidas por ação mecâ- gias são descritos abaixo:
nica no ser humano podem ter suas re-
percussões externa ou internamente.

FLUXOGRAMA - TIPOS DE MEIOS MECÂNICOS

Armas naturais Mãos, pés, cotovelos, joelhos, cabeça, dentes, unhas

Armas de fogo, punhal, soco-inglês,


Armas propriamente ditas
cassetete, peixeira, tacape, borduna

Navalha, lâmina de barbear, canivete,


Armas eventuais
faca, barra de ferro, bengala, tijolo, foice

Maquinismos, veículos e peças de máquinas

Diversos Animais

Quedas, explosões, precipitações


ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 5

3. CLASSIFICAÇÃO contundentes, perfurantes, perfu-


DOS INSTRUMENTOS rocortantes, cortocontundentes e
MECÂNICOS perfurocontundentes. Sendo que,
eles produzem, respectivamente, feri-
Segundo o contato, o modo de ação
das incisas ou cortes, contusas, punc-
e as características que imprimem
tórias ou puntiforme, perfuroincisas,
às lesões, classificam-se os instru-
cortocontusas e perfurocontusas.
mentos mecânicos em: cortantes,

Perfurante
(punctória)

Perfurocontundente Perfurocortante
(perfurocontusa) (perfuroincisa)

Contundente
Cortante
(contusa)
(incisa)

Cortocontundente
(cortocontusa)

Figura 1. Classificação dos modos de ação dos instrumentos mecânicos. Fonte: https://bit.ly/2CocK0m

SAIBA MAIS!
Não é aceitável as denominações de feridas dilacerantes, cortodilacerantes, perfurodilace-
rantes e contusodilacerantes pelo fato de não existirem instrumentos dilacerantes. As feridas,
por exemplo, produzidas por fragmentos de vidro, lança, dentes ou explosão, ainda que ve-
nham a apresentar perdas vultosas de tecidos, não deixam de ser cortantes, perfurocortan-
tes, cortocontusas e contusas, correspondentemente.
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Instrumentos cortantes cortantes não devem ser confun-


didos com os instrumentos corto-
São os que, agindo por um gume
contundentes, como a foice, o ma-
afiado, por deslizamento, linear ou
chado, o podão, o espadagão, a roda
obliquamente sobre a pele e os ór-
de trem, que agem mais pelo peso e
gãos, produzem soluções de conti-
pela força com que são empregados
nuidade chamadas feridas incisas.
do que pelo gume.
Não existem feridas cortantes, pois
cortantes são os instrumentos que A aplicação perpendicular à superfí-
as produzem. cie corporal de instrumento cortante,
de gume afiado, produz lesão inci-
São instrumentos cortantes a nava-
sa linear, salvo quando compromete
lha, o bisturi, a faca, as lâminas de bar-
pregas cutâneas, como no cotovelo,
bear, as lâminas metálicas de borda
o pulso, em que resultará lesão em
linear, os estilhaços de vidro, o papel,
ziguezague.
o capim-navalha. Os instrumentos

Figura 2. Ferida produzida por meio cortante (cauda de escoriação voltada para baixo).
Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

Uma das margens será em bisel, a intensidade de manejo do instru-


outra formando retalho agudo, se a in- mento e da resistência dos tegu-
cidência do instrumento se fizer obli- mentos, pois, em qualquer circuns-
quamente. A profundidade da ferida tância, o efeito produzido por uma
incisa depende de gume afiado, da mesma força depende da natureza
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da superfície e dos planos subjacen- como característica principal a cha-


tes sobre os quais é aplicada. mada “cauda de escoriação” e po-
Habitualmente, as feridas incisas são dem ser também conhecidas como
pouco profundas e não penetram as feridas fusiformes, quando em forma
grandes cavidades torácica e abdo- de fuso.
minal. Possuem suas extremidades As feridas incisas podem ser diferen-
mais superficiais e a parte media- ciadas das demais lesões pelas se-
na mais profunda, nem sempre se guintes características:
apresentando de forma regular. Tem

FLUXOGRAMA - CARACTERÍSTICAS DAS FERIDAS INCISAS

Forma linear Regularidade das bordas

Ausência de vestígios
Regularidade do fundo da lesão
traumáticos em torno da ferida

Predominância do comprimento
Hemorragia quase sempre abundante
sobre a profundidade

Presença de cauda de escoriação voltada para


Afastamento das bordas da ferida
o lado onde terminou a ação do instrumento

Centro da ferida mais


Vertentes cortadas obliquamente
profundo que as extremidades

Perfil de corte de aspecto angular, quando o


Paredes da ferida lisas e regulares
instrumento atua de forma perpendicular

Nesses tipos de ferimentos, não há volta da ferida, nem, tampouco, pon-


vestígios de outra ação traumática, tes de tecido ligando uma vertente da
em virtude da ação rápida e deslizan- ferida à outra.
te do instrumento e, ainda, pelo fio de Quase sempre a hemorragia é vo-
gume, que não permite uma forma de lumosa, devido à fácil secção dos
pressão mais intensa sobre os tecidos vasos, que, não sofrendo hemosta-
lesados. Assim, não se observam sia traumática, deixam seus orifícios
escoriações, equimoses ou infiltra- naturalmente permeáveis. Outro fato
ção hemorrágica nas bordas ou em explicativo desse fenômeno é a maior
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retração dos tecidos superficiais, dei- A gravidade e a letalidade das feri-


xando o sangramento se processar das incisas dependem de sua pro-
livremente. Tanto mais afiado o gume fundidade e, principalmente, do dano
do instrumento, a profundidade da le- que produziram em órgãos de particu-
são e a maior riqueza vascular da re- lar importância. Deste modo, a lesão
gião atingida, mais abundante será a poderá variar, desde o mais simples
hemorragia. ferimento inciso da superfície cutâ-
O comprimento predomina sobre nea as mais sérias destruições das
a profundidade nessas feridas, fato partes moles externas e internas e do
este devido à ação deslizante do ins- próprio esqueleto osteocartilaginoso.
trumento, à extensão usual do gume, O diagnóstico das feridas produ-
ao movimento em arco exercido pelo zidas por ação cortante é relativa-
braço do agente e ao abaulamento mente fácil. A dificuldade pode-se
das muitas regiões ou segmentos do apresentar na distinção de outros
corpo. instrumentos que porventura forem
A extensão da ferida é quase sem- também usados. A evolução cicatri-
pre menor da que realmente foi pro- cial de uma ferida incisa permite a
duzida, em virtude da elasticidade e presunção da data de sua produ-
da retração dos tecidos moles lesa- ção, sendo que as lesões superficiais
dos. Nas regiões onde esses tecidos cicatrizam, em geral, rapidamente,
são mais ou menos fixos, como, por formando cicatriz linear, nos tegu-
exemplo, nas palmas das mãos e nas mentos em estado trófico normal.
plantas dos pés, essas dimensões Na vertente, convém recordar que a
são teoricamente iguais. capacidade de cicatrização é inerente
a todo organismo vivo, distinguem-se
três fases no processo de formação
de uma cicatriz incisa:
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FLUXOGRAMA - FASES DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DA CICATRIZ INCISA

FASES DA
FORMAÇÃO DA
CICATRIZ INCISA

Fase de fibroplasia ou de
Fase inicial ou de quiescência Fase de maturação
proliferação celular

Também chamada
Início no segundo dia fase de retração cicatricial
Simultaneamente à produção
através de uma intensa e se inicia por volta do sexto
do ferimento dos tecidos
reprodução de fibroblastos dia pós-trauma
Surgimento de coágulo
Fibras colágenas Intensificação de
sanguíneo, exsudato-
justapostas aumentam a sua produção de fibras
serofibrinoso e elementos
resistência à tração colágenas pelos fibroblastos e
celulares na área lesada
elaboração do colágeno
Aspecto do tecido de
Proliferam células endoteliais
granulação varia com o Nesta fase a cicatriz,
dos capilares e do
grau de infecção, edema, de rósea, passa a mostrar
revestimento epitelial para
traumatismos repetidos e coloração branca nacarada,
restabelecimento da pele
tipo de tecido lesado a partir da segunda
semana de sua produção

O prognóstico desses ferimentos nervos, e até mesmo órgãos, como


é, em geral, de pouca gravidade, no esgorjamento, levando a vítima,
exceto no casos que as feridas fo- em muitas ocasiões, à morte.
rem profundas atingindo vasos ou

SAIBA MAIS!
No âmbito jurídico, nas feridas cortantes devem-se levar em conta, entre outros dados, o
número de lesões, as regiões atingidas, a direção, a profundidade e a regularidade. Não pode
esquecer as clássicas lesões de defesa, principalmente nas mãos, nos braços e até mesmo
nos pés. Em tese, as feridas cortantes são mais acidentais e homicidas que suicidas. Além
disso, deve-se alertar ao fato que tais lesões, chamadas de defesa, podem também ser resul-
tantes de ações perfurantes, perfurocortantes, cortocontundentes e contundentes.
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Lesões produzidas por cortocontundentes, nas regiões an-


instrumentos cortantes terior, lateral, anterolateral ou late-
rolateral do pescoço. No esgorjado,
Os instrumentos cortantes produ-
as lesões incisas, de profundidade
zem lesões no pescoço chamadas
variável, situam-se entre o laringe e o
esgorjamento, degolamento, de-
osso hioide, ou sobre o laringe, rara-
capitação, castração e esquarteja-
mente acima ou abaixo desses limites.
mento. Esgorjamento são as lesões
produzidas por instrumentos cortan-
tes, eventualmente por instrumentos

Figura 3. Esgorjamento. Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

SE LIGA! A sobrevida no esgorjamen- O degolamento é caracterizado por


to manifesta importantes sequelas da
glote, afonia e disfagia por secções
lesões provocadas por instrumentos
nervosas, abolição da sensibilidade e cortantes na região posterior do
infecções intercorrentes. A morte é de- pescoço, na nuca. Como no esgor-
terminada pela secção dos nervos frêni- jamento, essas lesões podem, even-
co e vagossimpático, por anemia aguda
consequente à hemorragia fulminante tualmente, ser produzidas também
originada pela lesão dos grandes va- por instrumentos cortocontundentes.
sos do pescoço. Nas secções completas A morte pode ocorrer por hemorragia
da carótida a hemorragia é tão violenta
fulminante, quando vasos de grosso
que, em geral, a vítima não é socorrida
a tempo. calibre são atingidos, ou por lesão da
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medula, se o golpe, profundo ou vio- distensão, torção, fricção, por con-


lento, atingir a coluna cervical. tragolpe ou de forma mista.
Já a decapitação é o ato de sepa- São meios ou instrumentos geral-
rar completamente a cabeça do mente com uma superfície plana, a
corpo, produzido especialmente por qual atua sobre o corpo humano, pro-
instrumentos cortocontundentes, duzindo as mais diversas modalida-
como roda de trem, espadagão, foice, des de lesões. Essa superfície pode
machado. ser lisa, áspera ou irregular.
Existe ainda o esquartejamento, tra- A contusão pode ser ativa, passiva
duzido pelo ato de dividir o corpo ou mista, de conformidade com o es-
em partes, por amputação ou desar- tado de repouso ou de movimento do
ticulação, quase sempre como mo- corpo ou do meio contundente. É ati-
dalidade de o autor livrar-se crimino- va a contusão quando apenas o meio
samente do cadáver ou impedir sua ou o instrumento se desloca, passiva
identificação. Além da castração, que quando só o corpo humano está em
na maioria das vezes tem como finali- movimento e mista quando o corpo
dade o instinto de vingança. humano e o instrumento se movi-
mentam com certa violência.
Instrumentos contundentes São instrumentos contundentes as
armas naturais, como mãos, pés, ca-
Entre os agentes mecânicos, os ins- beça, joelhos, as armas ocasionais,
trumentos contundentes são os como bengala, barra de ferro, tijolo,
maiores causadores de dano. Sua as saliências obtusas e as superfí-
ação é quase sempre produzida por cies duras, especialmente solo e pa-
um corpo de superfície e suas lesões vimentos, os desabamentos, as ex-
mais comuns se verificam externa- plosões, os acidentes de veículos e
mente, embora possam repercutir na os atropelamentos.
profundidade. Agem por pressão,
Como as feridas contusas são produ-
explosão, deslizamento, percus-
zidas por meios ou instrumentos de
são, compressão, descompressão,
superfície e não de gume, apresen-
tam elas as seguintes características:
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FLUXOGRAMA - CARACTERÍSTICAS DAS FERIDAS CONTUSAS

Forma estrelada, sinuosa ou retilínea Bordas irregulares, escoriadas e equimosadas

Fundo irregular Vertentes irregulares

Pontes de tecido íntegro ligando as vertentes Retração das bordas da ferida

Integridade de vasos, nervos


Pouco sangrantes
e tendões no fundo da lesão

A irregularidade das bordas da fe- denominadas contusão e ferida


rida contusa é justificada pela ação contusa.
brusca da superfície do meio ou ins-
trumento causador da agressão e as CONCEITO! Contusão é a denominação
escoriações em torno do ferimento ou genérica do derramamento de sangue
nas bordas da própria ferida são justi- nos interstícios tissulares, sem qualquer
ficadas pelo mecanismo de contusão ruptura dos tegumentos, consequente a
uma ação traumática sobre o organis-
por ação oblíqua ou perpendicular ao mo. Dessa forma, contusão é lesão fe-
plano cutâneo. Não é muito raro exis- chada com comprometimento do tecido
tirem, entre uma borda e outra da feri- celular subcutâneo e integridade real ou
aparente da pele e das mucosas. Ferida
da, pontes de tecido íntegro constituí-
contusa é contusão que sofreu solução
das principalmente de fibras elásticas de continuidade pela ação traumática do
da derme que distenderam durante instrumento vulnerante, sendo entendi-
a contusão, mas não chegaram a se da como uma contusão aberta.
romper.
O dano corporal produzido por essa
Lesões produzidas por forma de energia mecânica pode re-
instrumentos contundentes sultar em diversos tipos de lesões
como escoriação, equimose, hema-
As lesões produzidas por essa for- tomas, rubefação, bossa sanguínea
ma de energia mecânica sofrem uma e edema.
incrível variação e todos eles podem
A escoriação tem quase sempre
agir de forma ativa, de forma passi-
como origem a ação tangencial
va ou de modo misto, determinan-
dos meios contundentes. Pode ser
do lesões superficiais e profundas,
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encontrada isolada ou associada a Quando a ação atinge as cristas das


outras modalidades de lesões contu- papilas dérmicas, a crosta não é se-
sas mais graves, possui pouco signi- rosa, como na escoriação típica, mas
ficado clínico, mas assume um valor de constituição sero-hemática ou he-
indiscutível na perícia médico-legal. mática, seguindo-se a uma tonalida-
Define-se, de forma mais simples, de amarelo-avermelhada até um final
como o arrancamento da epiderme e pardacento, quando a crosta vai-se
o desnudamento da derme, de onde despregando, pouco a pouco, da pe-
fluem serosidade e sangue. Escoria- riferia para o centro, deixando uma
ção típica é aquela em que apenas a área despigmentada.
epiderme sofre a ação da violência, Consequentemente, o único vestígio
quando a derme é atingida, não é será uma mancha rósea, descorada,
mais escoriação, e sim uma ferida. que desaparece com poucos dias. A
Dessa forma, a escoriação não cica- idade de uma escoriação tem funda-
triza e não deixa marcas, tendo a re- mental interesse médico-legal, e isto
generação da área lesada através da é feito através da observação cuida-
reepitelização. dosa do aspecto da lesão, da crosta
e da coloração concernente ao tempo
de reepitelização.

Figura 4. Escoriação. Fonte: https://bit.ly/2AFnJCc


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A equimose trata-se de lesões que sugilação e, quando em forma de


se traduzem por infiltração hemor- estrias, toma a denominação de víbi-
rágica nas malhas dos tecidos. Em ce. Já as petéquias, são caracteriza-
geral, são superficiais, mas podem das por pequenas equimoses, quase
surgir nas massas musculares, nas sempre agrupadas e com um ponti-
vísceras e no periósteo. A intensidade lhado hemorrágico.
e o tamanho da equimose dependem As equimoses nem sempre sur-
do instrumento produtor, do grau de gem de imediato ou nos locais de
violência, das condições anatômicas traumatismo. Não é muito raro, nos
e de vascularização da região lesada, traumatismos cranioencefálicos mais
da constituição pessoal, do sexo e da graves, surgirem tardiamente equi-
idade. moses palpebrais, subconjuntivas,
Quando se apresenta em forma de mastoideas, faríngeas e, com menos
pequenos grãos, recebe o nome de frequência, cervicais.

Figura 5. Equimose palpebral. Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

A tonalidade da equimose é outro Essa mudança de tonalidades que


aspecto de grande interesse médico- se processa em uma equimose tem
-pericial. De início, é sempre averme- o nome de “espectro equimótico de
lhada, depois, com o correr do tempo, Legrand du Saulle”, como demons-
ela se apresenta vermelho-escura, trado a seguir:
violácea, azulada, esverdeada e, fi-
nalmente, amarelada, desaparecen-
do, em média, entre 18 a 20 dias.
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ALTERAÇÕES EVOLUÇÃO EM
CROMÁTICAS​ DIAS​

Vermelho-escuro Primeiro dia

Violeta Segundo e terceiro dias

Azulado Do quarto ao sexto dia

Verde-escuro Do sétimo ao décimo dia

Verde-amarelado Entre décimo primeiro e décimo segundo dia

Amarelo Do décimo segundo ao décimo sétimo

Cor natural da Do décimo oitavo ao vigésimo dia


epiderme ​

​ Tabela 1. Idade da ferida contusa

O tempo de duração e por consequ-


ência a implicação na modificação da SE LIGA! O diagnóstico diferencial da
tonalidade das equimoses variam de equimose deve ser feito com o livor hipostáti-
co (mudança de coloração que surge na pele
acordo com a quantidade e a profun-
dos cadáveres, decorrente do depósito do
didade do sangue extravasado, com sangue estagnado pela ação da gravidade) .
a elasticidade do tecido que pode ou A equimose apresenta sangue coagulado,
não facilitar a reabsorção, com a ca- presença de malhas de fibrina, infiltração he-
pacidade individual de coagulação, morrágica, presença em qualquer lugar do
corpo, sangue fora dos vasos, rupturas de
com a quantidade e o calibre dos va-
vasos e mais particularmente de capilares,
sos atingidos e com algumas caracte- sinais de transformação de hemoglobina e
rísticas das vítimas como idade, sexo ausência de meta-hemoglobina.
e estado geral. Por isso, este valor O livor hipostático mostra sangue não co-
cronológico é relativo. agulado, ausência de malhas de fibrina, au-
sência de infiltração hemorrágica, presença
em locais específicos, sendo visível nas zo-
nas de decúbito, integridade de vasos capi-
lares, sangue dentro dos vasos, ausência de
transformação hemoglobínica, presença de
meta-hemoglobina neutra e sulfídrica vista
através da espectroscopia.
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O maior extravasamento de sangue O hematoma, em geral, faz relevo na


de um vaso bastante calibroso e a sua pele, tem delimitação mais ou menos
não difusão nas malhas dos tecidos nítida e é de absorção mais demora-
moles dão, em consequência, um he- da que a equimose. Pode também ser
matoma. Formam-se, no interior dos profundo e encontrado nas cavidades
tecidos, verdadeiras cavidades, onde ou dentro dos órgãos, e, por isso, é
surge uma coleção sanguínea. chamado de hematoma intraparen-
quimatoso, podendo ser intra-hepáti-
co, intrarenal ou intracerebral.

Figura 6. A. Lesão produzida por ação contundente. Legenda: A. Lesão produzida por ação contundente (hematoma
extradural). B. Desenluvamento por tração de anel.
Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 17

No couro cabeludo o plano ósseo violentamente, ocasionam hemato-


subjacente favorece a produção de mas, feridas contusas, lesões encefá-
ferida contusa linear, com aparen- licas e fraturas dos ossos da abóbada
te aspecto de ferida incisa. Os ins- com ou sem afundamento, da base e
trumentos contundentes, atuando da abóbada à base do crânio.

Figura 7. Aspectos das fraturas assentadas na abóbada do crânio. Legenda: Aspectos das fraturas assentadas na
abóbada do crânio, consoante o formato dos instrumentos: 1. perfurocortantes de um só gume; 2. martelo quadrangu-
lar; 3. sabre de cavalgaria; 4. martelo de base redonda: fratura parcial “em terraço”; 5. barra de ferro de borda retangu-
lar; 6. coice de cavalo: fratura com afundamento; 7. fratura estrelada. Fonte: Manual de medicina legal. Delton Croce e
Delton Croce Jr. 8. ed. São Paulo. 2012

Instrumentos perfurantes Agem simultaneamente por per-


cussão ou pressão por um ponto,
São perfurantes os instrumentos
afastando fibras, sem seccioná-las.
puntiformes, finos, cilíndricos ou cilin-
Os instrumentos perfurantes de for-
drocônicos, com o comprimento pre-
ma excessivamente cilindrocônica
dominando sobre a largura e a espes-
podem, muito raramente, dilacerar
sura, como alfinetes, agulhas, pregos,
algumas fibras dos tecidos. Em feri-
furador de gelo, estoque, estilete agu-
da transfixante é possível orifício de
lhado, espinhos entre outros.
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 18

saída em tudo similar ao de entra- exteriorização em forma de ponto.


da, porém, com os bordos evertidos, Têm como características a abertu-
quando a agressão for em mãos, bra- ra estreita, são de raro sangramento,
ços, pernas, coxas. de pouca nocividade na superfície e,
às vezes, de certa gravidade na pro-
fundidade, em face desse ou daque-
Lesões produzidas por le órgão atingido, e, por fim, quase
instrumentos perfurantes sempre de menor diâmetro que o do
As lesões oriundas desse tipo de instrumento causador, graças à elas-
ação denominam-se feridas pun- ticidade e à retratilidade dos tecidos
tiformes ou punctórias, pela sua cutâneos.

Figura 8. Ferimentos puntiformes (garfo).


Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

O trajeto dessas feridas é representa- do instrumento atuar nessa fase atra-


do por um túnel estreito que se con- vés de sua parte mais afilada.
tinua pelo tecido lesado e o ferimento Quando o instrumento perfurante é
de saída, quando isso ocorre, é em de médio calibre, a forma das lesões
geral mais irregular e de menor di- assume aspecto diferente, obedecen-
âmetro que o de entrada, em face do às leis de Filhos e Langer:
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 19

Primeira lei de Filhos: as soluções um só sentido, seu maior eixo tem


de continuidade dessas feridas as- sempre a mesma direção
semelham-se às produzidas por ins- Lei de Langer: na confluência de re-
trumento de dois gumes ou tomam a giões de linhas de forças diferentes, a
aparência de “casa de botão” extremidade da lesão toma o aspec-
Segunda lei de Filhos: quando essas to de ponta de seta, de triângulo, ou
feridas se mostram em uma mesma mesmo de quadrilátero.
região onde as linhas de força tenham

Figura 9. Distribuição das linhas de força no tronco. Fonte: Manual de medicina legal.
Delton Croce e Delton Croce Jr. 8. ed. São Paulo. 2012

As feridas produzidas por instrumen- por instrumentos perfurocortan-


tos cilíndricos ou cilindrocônicos apre- tes, que não têm direção constante
sentam direção fixa para cada parte e podem, portanto, orientar-se em
do corpo porque não seccionam as qualquer sentido, pois a secção tis-
fibras do tegumento, limitando-se a sular desorienta estruturalmente o
afastá-las, ao contrário das causadas
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 20

grupamento de fibrilas da pele e das penetração ser maior que o próprio


fibras estriadas dos músculos. comprimento da arma quando essa,
O trajeto dependerá, no que diz res- por exemplo, atinge uma região onde
peito à sua profundidade, do tama- haja depressibilidade dos tecidos su-
nho do instrumento ou da pressão perficiais, como no ventre.
utilizada pelo agressor. No entanto, A gravidade desses ferimentos de-
não se pode estabelecer o compri- pende do caráter vital dos órgãos e
mento do meio perfurante pela pro- estruturas atingidos ou da eventua-
fundidade de penetração. Além de lidade de infecções supervenientes.
nem sempre penetrar em toda a sua Sua causa jurídica é, na maioria das
extensão, pode ainda variar essa pro- vezes, homicida e, mais raramente,
fundidade com a posição da vítima. de origem acidental ou suicida
Pode acontecer de a profundidade de
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 21

RESUMO DAS LESÕES SIMPLES

TIPO DE
FERIDA PUNCTÓRIA
LESÃO FERIDA INCISA
OU PUNTIFORME
SIMPLES
Abertura estreita, raro
sangramento, pouca nocividade na Comprimento maior
superfície e gravidade depende da que a profundidade
profundidade
FERIDA CONTUSA
Exemplos de instrumentos Exemplos de instrumentos
perfurantes: alfinetes, agulhas, cortantes: navalha, bisturi, faca,
pregos e estilete lâminas de barbear
Sangramento
menor que no corte
Profundidade maior que a largura Secção das fibras teciduais

Por pressão e esmagamento


Quase sempre de menor
Por deslizamento
diâmetro que o do instrumento
Exemplos de instrumentos
contundentes: mãos,
tijolo, solo e pavimentos
Principal característica:
Por pressão e penetração
“cauda de escoriação”
Forma estrelada, sinuosa ou
Lei de Langer retilínea, fundo irregular, pouco
sangrantes e retração das bordas Forma linear, extremidades
Divulsão das fibras teciduais mais superficiais e a parte
Pode causar: escoriação, mediana mais profunda
Leis de Filhos (1º e 2º) equimose, hematomas, rubefação,
Não há relação pericial bossa sanguínea e edema
entre profundidade da ferida e
extensão do instrumento
Maior destruição
das fibras teciduais
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 22

Instrumentos perfurocortantes As soluções de continuidade produ-


zidas por instrumentos perfurocor-
São chamados perfurocortantes os
tantes de um só gume resultam em
instrumentos puntiformes, com o
ferimentos em forma de botoeira com
comprimento predominando sobre
uma fenda regular e quase sempre
a largura e a espessura, dotados de
linear, com um ângulo agudo e ou-
gume ou corte. O contato desses ins-
tro arredondado. Sua largura é no-
trumentos é feito por um ponto que
tadamente maior que a espessura
atua simultaneamente por percussão
da lâmina da arma usada e o seu
ou pressão, afastando fibras e, por
comprimento menor que a largura,
corte, seccionando-as. Existem ainda
se o trajeto da arma foi perpendicular
os instrumentos de ponta e de ares-
ao plano do corpo, saindo da mesma
tas, contendo várias faces e múltiplos
direção, e maior se agiu obliquamen-
ângulos diedros, cortantes ou não.
te. Se, ao sair, tomou um sentido incli-
nado, corta mais a pele, aumentando
Lesões produzidas por ação o diâmetro da fenda.
perfurocortante O trajeto das feridas produzidas por
As lesões perfurocortantes são pro- esses instrumentos tem as caracte-
vocadas por instrumentos de ponta rísticas das resultantes da ação dos
e gume, atuando por um mecanismo meios perfurantes. A perícia, diante
misto: penetram perfurando com a dessas lesões, entre outros proble-
ponta e cortam com a borda afiada mas, tem de levar em conta a iden-
os planos superficiais e profundos tificação da arma usada, a gravidade
do corpo da vítima. Agem, portanto, dos ferimentos, o tempo da lesão, se
por pressão e por secção, onde há os esta foi produzida em vida ou depois
de um só gume, como faca-peixeira, da morte, sua causa jurídica, a posi-
canivete, espada, os de dois gumes ção da vítima e do agressor, a ordem
(punhal, faca “vazada”) e os de três das lesões e o número de agressores.
gumes ou triangulares (lima).
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 23

Figura 10. Ferimentos produzidos por ação perfurocortantes.


Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

inflamatória ou da infecção. Há ca-


SE LIGA! No diagnóstico da arma usa- sos em que se utilizam os recursos do
da, devem-se levar em consideração as exame histológico do ferimento por
dimensões, a forma e a profundidade do
ferimento, atentando-se para o fato de meio de secções paralelas à superfí-
que o tamanho dessas lesões, devido à cie cutânea. Entretanto, a investiga-
elasticidade da pele, pode ser inferior, ção desses elementos são de pouca
igual ou superior ao diâmetro da arma.
significância para as lesões dos casos
que morrem imediatamente.
As feridas penetrantes são geral-
mente graves, não apenas pela in- Instrumentos
fecção causada no interior do orga- perfurocontundentes
nismo, como também pelas lesões
sofridas pelos órgãos de maior impor- As feridas perfurocontusas são pro-
tância. As mais graves, e que impõem duzidas por um mecanismo de ação
tratamento cirúrgico imediato, são as que perfura e contunde ao mesmo
penetrantes à cavidade peritoneal. tempo. Na maioria das vezes, esses
instrumentos são mais perfurantes
O tempo da lesão é verificado
que contundentes. Esses ferimentos
pela evolução da ferida, através
são produzidos quase sempre por
do aspecto cicatricial, da reação
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 24

projéteis de arma de fogo; no entan- Os ferimentos de entrada nos tiros


to, podem estar representados por encostados com plano ósseo logo
meios semelhantes, como, por exem- abaixo, têm forma irregular, dente-
plo, a ponta de um guarda-chuva. ada ou com entalhes, devido à ação
resultante dos gases que descolam e
CONCEITO! As armas de fogo são pe-
dilaceram os tecidos. Isso ocorre por-
ças constituídas de um ou dois canos, que os gases da explosão penetram
abertos em uma das extremidades e no ferimento e refluem ao encontrar a
parcialmente fechados na parte de trás, resistência do plano ósseo.
por onde se coloca o projétil, o qual é lan-
çado a distância por causa da força ex- É muito comum nos tiros encostados
pansiva dos gases devida à combustão na fronte e chama-se câmara de mina
de determinada quantidade de pólvora.
Produzido o tiro, escapam pela boca da
de Hoffmann. Na redondeza do feri-
arma o projétil ou projéteis, gases supe- mento, nota-se crepitação gasosa da
raquecidos, chama, fumaça, grânulos de tela subcutânea proveniente da infil-
pólvora incombusta e a bucha. Classifi- tração dos gases.
cam-se as armas, segundo suas dimen-
sões, em portáteis, semiportáteis e não Em geral, não há zona de tatuagem
portáteis. nem de esfumaçamento, pois todos
os elementos da carga penetram pelo
Lesões produzidas por ação orifício da bala e, por isso, suas ver-
perfurocontundente tentes mostram-se enegrecidas e
desgarradas, com aspecto de crate-
No estudo das lesões produzidas por ra de mina. O diâmetro dessas lesões
projéteis de arma de fogo, devem-se pode ser maior do que o do projétil
considerar o ferimento de entrada, o em face de explosão dos tecidos pelo
ferimento de saída e o trajeto. Já o efeito “de mina”, e suas bordas algu-
ferimento de entrada pode ser resul- mas vezes voltadas para fora, devido
tante de tiro encostado, a curta dis- ao levantamento dos tecidos pela ex-
tância ou a distância. plosão dos gases.
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 25

Figura 11. Ferimento de entrada – tiro encostado.


Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

Em relação aos ferimentos de entra- ação dos resíduos de combustão ou


da nos tiros a curta distância, estes semicombustão da pólvora e das par-
podem mostrar forma arredondada tículas sólidas do próprio projétil ex-
ou elíptica, orla de escoriação, bor- pelido pelo cano da arma.
das invertidas, halo de enxugo, halo Quando além das zonas de tatuagens
ou zona de tatuagem, orla ou zona de e de esfumaçamento há alterações
esfumaçamento, zona de queimadu- produzidas pela elevada temperatura
ra, aréola equimótica e zona de com- dos gases, como crestação de pelos
pressão de gases. e cabelos, manifestações de queima-
Diz-se que um tiro é a curta distân- dura sobre a pele e zona de compres-
cia quando, desferido contra um alvo, são de gases, considera-se essa for-
além da lesão de entrada produzida ma de tiro a curta distância como à
pelo impacto do projétil são encontra- queima-roupa.
das manifestações provocadas pela
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 26

Figura 12. Ferimento de entrada de projétil de arma de fogo. Legenda: Halo de tatuagem e orla de escoriação e zona
de queimadura (tiro à queima-roupa). Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

Os ferimentos de entrada de bala, isso não se pode padronizar essa ou


nos tiros a distância, têm as seguin- aquela distância. Nesses tipos de le-
tes características: diâmetro menor sões, quando o tiro é dado em per-
que o do projétil, forma arredondada pendicular, o diâmetro da ferida é
ou elíptica, orla de escoriação, halo de quase sempre menor que o do pro-
enxugo, aréola equimótica e bordas jétil, explicado pela elasticidade e re-
reviradas para dentro. tratilidade dos tecidos cutâneos. Essa
Diz-se que uma lesão tem as carac- diferença será mais acentuada quan-
terísticas das produzidas por tiro a to maior for a elasticidade dos tecidos
distância quando ela não apresenta da região atingida, mais pontiaguda
os efeitos secundários do tiro, e por for a ogiva do projétil e maior for a sua
velocidade.
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 27

Figura 13. Ferimento de entrada de projétil de arma de fogo. Legenda: Orla de escoriação e halo de enxugo (tiro a
distância). Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

A lesão de saída das feridas produ- que quando o ferimento é transfixan-


zidas por projéteis de arma de fogo te, teoricamente traçado por uma li-
tem forma irregular, bordas reviradas nha reta, ligando a ferida de entrada
para fora, maior sangramento e não à da saída. Pode terminar em fundo
apresenta orla de escoriação, nem cego ou perder-se dentro de uma ca-
halo de enxugo e nem a presença vidade. Alguns usam a expressão tra-
dos elementos químicos resultantes jetória para todo o percurso do projé-
da decomposição da pólvora. til, desde a sua saída da boca do cano
O trajeto é o caminho percorrido pelo até o local de sua parada final.
projétil no interior do corpo, sendo
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 28

Figura 14. Trajetos de projéteis de arma de fogo. Legenda: A. Trajetos de projéteis de arma de fogo. B. Trajeto em “chu-
leio” por um único projétil de arma de fogo. Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

Instrumentos cortocontundentes Sua ação tanto se faz pelo desliza-


mento, pela percussão, como pela
São instrumentos que, mesmo com
pressão. São exemplos desse tipo de
gumes, têm a sua principal ação pela
instrumento: a foice, o facão, o ma-
contusão, pela pressão devido ao seu
chado, a enxada, a guilhotina, a serra
próprio peso. Sua gravidade depende
elétrica, as rodas de um trem, a te-
do ângulo de incidência, da superfície
soura, as unhas e os dentes.
atingida e pela força de impacto.
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 29

Lesões produzidas por ação as características dos ferimentos


cortocontundente cortantes.
As lesões são chamadas cortocontu- Quando o fio de corte não for vivo,
sas, sendo sempre profundas, com prevalecem os caracteres de con-
bordas e formas irregulares, com tusão nos tecidos. Não apresentam
destruição de tecidos, inclusive cauda de escoriação nem pontes de
com fraturas. Têm forma bem vari- tecidos íntegros entre as vertentes da
ável, dependendo da região atingida ferida, o que as diferencia das feridas
e da inclinação, do peso, do gume e cortantes e contusas.
da força viva que atua. Sendo o ins-
trumento mais afiado, predominam

Figura 15. Lesão produzida por ação cortocontundentes.


Fonte: Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.

O diagnóstico é feito através do es- distinção entre esses instrumentos e


tudo cuidadoso das bordas da ferida, os cortantes propriamente ditos.
sua profundidade, comprometimen- As principais características das le-
to com os órgãos mais internos, en- sões de ordem mecânica, são descri-
tre eles os ossos, fazendo-se assim a tas na tabela abaixo:
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 30

APLICAÇÃO DE
INSTRUMENTO MECANISMO LESÃO EXEMPLOS
ENERGIA SOBRE
Pressão + Puntiforme ou Alfinete prego,
Perfurante Um ponto
penetração punctória agulha
Navalha, lâmina de
Cortante Um linha Deslizamento Incisa ou corte
barbear
Pressão + Cassetete, chão,
Contundente Área + massa Contusa
esmagamento tijolo
Pressão +
Perfurocortante Ponto + linha Perfuroincisa Faca
deslizamento
Pressão +
Perfurocontundente Ponto + massa Perfurocontusa Chave de fenda
penetração
Pressão + Machado, foice,
Cortocontundente Linha + massa Cortocontusa
esmagamento facão
Tabela 2. Características das lesões de ordem mecânica
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 31

MAPA RESUMO DAS ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA

ENERGIAS Classificação
Cortantes, contundentes, perfurantes, perfurocortantes,
DE ORDEM dos instrumentos
cortocontundentes e perfurocontundentes
MECÂNICA mecânicos

Incisas Tipos de lesões Perfuroincisas


Pode ser por armas
naturais, armas Comprimento maior
propriamente ditas, que a profundidade Punctórias ou Largura maior que a
armas eventuais ou por puntiformes espessura da lâmina da
arma e o seu comprimento
veículos, explosões, Por deslizamento Divulsão das menor que a largura
precipitações e animais fibras teciduais
Forma linear, São geralmente graves
extremidades Por pressão e
Atuam mecanicamente superficiais e parte penetração
sobre o corpo, mediana mais profunda Por pressão e
modificam, completa Abertura estreita, raro deslizamento
ou parcialmente, o sangramento, pouca
Contusas nocividade na superfície
seu estado de repouso e gravidade depende Cortocontusas
ou de movimento Maior destruição das da profundidade
fibras teciduais Sempre profundas,
Profundidade com bordas e formas
Por pressão, Forma estrelada, maior que a largura irregulares e destruição
percussão, tração, sinuosa ou retilínea, de tecidos
torção, compressão, fundo irregular, pouco
sangrantes e retração das Perfurocontusas
descompressão, Por pressão e
bordas esmagamento
explosão, deslizamento Mecanismo de ação que
e contrachoque perfura e contunde ao
Pode causar: escoriação,
equimose, hematomas, mesmo tempo
rubefação, bossa
sanguínea e edema Lesões produzidas por
projéteis de arma de fogo
Por pressão e
esmagamento
Por pressão e
penetração
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 32

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
LIPKA, R.et al. A importância da traumatologia na elucidação do crime. Revista Extensão em
Foco. v.5, n.1, p. 103-117, 2017
Manual de medicina legal. Delton Croce e Delton Croce Jr. 8. ed. São Paulo. 2012
Medicina Forense Aplicada. Reginaldo Franklin. 2017
Medicina Legal. Genival Veloso de França. 11. ed. Rio de Janeiro. 2017.
Medicina Legal e Noções de Criminalística - Neusa Bittar, 5ª Ed. 2016.
ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA 33

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