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PODER DE POLÍCIA

Como se sabe, o Estado é dotado de poderes políticos exercidos pelo Poder Legislativo,
Poder Executivo e Poder Judiciário no desempenho de suas funções constitucionais, e de
poderes administrativos que surgem secundariamente com atos da Administração Pública e
se efetivam de acordo com as exigências do serviço público e com os interesses da
coletividade, não deixando que o interesse particular se sobreponha. Enquanto os poderes
políticos se identificam com os poderes do Estado e só são exercidos pelos respectivos
órgãos constitucionais do Governo, os poderes administrativos se difundem e se
apresentam por toda a Administração.

O poder de polícia destina-se assegurar o bem estar geral, impedindo, através de ordens,
proibições e apreensões, o exercício anti-social dos direitos individuais, o uso abusivo da
propriedade, ou a prática de atividades prejudiciais à coletividade. Expressando-se no
conjunto de órgão e serviços públicos incumbidos de fiscalizar, controlar e deter as
atividades individuais que se revelem contrárias à higiene, à saúde, à moralidade, ao
sossego, ao conforto público e até mesmo à ética urbana. Visando propiciar uma
convivência social mais harmoniosa, para evitar ou atenuar conflitos no exercício dos
direitos e atividades do individuo entre si e, ante o interesse de toda a população,
concebida por um conjunto de atividades de polícia que fazem parte dos diversos órgãos
da Administração e que servem para a defesa dos vários interesses especiais comuns.

Tem como compromisso zelar pela boa conduta em face das leis e regulamentos
administrativos em relação ao exercício do direito de propriedade e de liberdade. A função
do Estado é restringir o direito dos particulares, devendo organizar a convivência social a
partir da restrição a direitos e liberdades absolutas em favor do interesse geral. Todas essas
funções são exercidas pelos seus órgãos que tem a tarefa de estabelecer as restrições e
limites ao particular a partir da realização de atividades concretas que observem o interesse
geral.

O direito administrativo - em relação aos direitos individuais - cuida de temas que colocam
em confronto dois aspectos opostos:

- a autoridade da administração pública, que tem a incumbência de condicionar o exercício


dos direitos individuais ao bem estar coletivo e

- e a liberdade individual, no qual o cidadão quer exercer plenamente os seus direitos.

Para administrar esse conflito de forma mais enérgica, aplicou-se ao poder de polícia, dois
sentidos: um sentido amplo e um sentido estrito. Sendo que o segundo, é responsável pelo
poder de polícia administrativo. Observamos então, que o poder de polícia administrativo
tem intervenções genéricas ou especificas do Poder Executivo, destinadas a alcançar o
mesmo fim de interferir nas atividades de particulares tendo em vista os interesses sociais.

A livre atividade do particular em uma sociedade organizada tem que se basear em


determinados limites fixados pelo Poder Público, que define em leis as garantias
fundamentais conferidas aos cidadãos para o exercício das liberdades públicas, dos direitos
de cada um e das prerrogativas que integra o cidadão.
Por um lado, o cidadão procura expandir-se ao máximo, e por outro lado, a Administração
analisa cada um dos atos do cidadão, verificando até que ponto as atividades
desenvolvidas se harmonizam entre si e com o Poder Público.

Nos incisos IV, XIII, XV e XXII do artigo 5º, da Constituição Federal, uma série de direitos
relacionados com o uso, gozo e disposição da propriedade e com o exercício da liberdade,
são conferidas aos cidadãos no nosso ordenamento jurídico.

O exercício desses direitos deve ser compatível com o bem-estar social ou com o próprio
interesse do poder público. Todo direito tem seu limite de utilização, pois a utilização de
um direito individual não pode ferir o direito de outros indivíduos, nem o interesse coletivo.
Sendo que o direito coletivo goza de superioridade em relação ao direito individual. A
administração Pública tem como atividade limitar as liberdades individuais em prol da
coletividade e interferir na dimensão dos direitos do individuo em particular.

Torna-se necessário então, que exista uma atividade em seguimento a própria consagração
dos direitos individuais, consistente na adaptação, no ajuste desses direitos para uma
utilização tida por ótima. E essa atividade é cumprida, em primeiro momento, pelo Poder
Legislativo, a quem cabe a edição das leis condicionadoras para fruição dos mesmos. Essa
atividade do Poder Legislativo é chamada de poder de polícia, onde temos de um lado, o
aspecto da liberdade do direito individual do cidadão e de outro, a obrigação da
Administração de condicionar o exercício daqueles direitos coletivos.

O Legislativo, tem a prerrogativa de traçar os contornos, autorizando a lei a inserir certas


restrições sem que com isto fira a Constituição, já que o exercício dessa atividade decorre
da própria vontade constitucional.

O poder de polícia permite expressar a realidade de um poder da administração de limitar


de modo direto, as liberdades fundamentais em prol do bem comum com base na lei.

Conforme ensinamentos de alguns doutrinadores que abordam esse assunto:

“Poder de Policia é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e


restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em beneficio da
coletividade ou do próprio Estado” (MEIRELLES, 2002p. 127).

“O Poder de Policia é, em suma, o conjunto de atribuições concedidas a Administração para


disciplinar e restringir, em favor do interesse público adequando, direitos e liberdades
individuais” (TÁCITO, 1975, apud MEIRELLES, 2002, p. 128).

O Poder de Policia (police power), em seu sentido amplo, compreende um sistema total de
regulamentação interna, pelo qual o Estado busca não só preservar a ordem pública senão
também estabelecer para a vida de relações do cidadão àquelas regras de boa conduta e
de boa vizinhança que se supõem necessárias para evitar conflito de direitos e para garantir
a cada um o gozo ininterrupto de seu próprio direito, até onde for razoavelmente
compatível com o direito dos demais (COOLEY, 1903, p. 829, grifo do autor, apud
MEIRELLES, 2002, p.128).

“Poder de polícia é a faculdade discricionária do Estado de limitar a liberdade individual, ou


coletiva, em prol do interesse público” (JUNIOR, 2000, p.549).
Poder de Polícia pode ser entendido como o conjunto de restrições e condicionantes a
direitos individuais em prol do interesse público prevalente. Traduz-se, portanto, no
conjunto de atribuições outorgadas á Administração para disciplinar e restringir, em favor
do interesse social, determinados direitos e liberdades individuais (FRIEDE, 1999, p. 109).

Poder de polícia é a faculdade de manter os interesses coletivos, de assegurar os direitos


individuais feridos pelo exercício de direitos individuais de terceiros. O poder de polícia visa
à proteção dos bens, dos direitos, da liberdade, da saúde, do bem-estar econômico.
Constitui limitação à liberdade e os direitos essenciais do homem (CAVALCANTI, 1956, p.
07, apud MEDAUAR, 2000, P.390).

“O poder de polícia constitui limitação à liberdade individual, mas tem por fim assegurar
esta própria liberdade e os direitos essenciais do homem” (CAVALCANTI, 1956, p. 07, apud
MEDAUAR, 2000, P.390).

O que todos analisam é a faculdade que tem a Administração Pública de ditar e executar
medidas restritivas do direito do individuo em benefício do bem-estar da coletividade e da
preservação do próprio Estado, é esse poder é inerente a toda a administração e se reparte
entre todas as esferas administrativas da União, dos Estados e dos Municípios.

Essa conceituação doutrinária já passou para nossa legislação, valendo citar o Código
Tributário Nacional, que, em texto amplo e explicativo, dispõe seu entendimento:

Art. 78 Considera-se poder de policia a Atividade da Administração Pública que, limitando


ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a pratica de ato ou abstenção de
fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, á ordem, aos
costumes, a disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas
dependentes de concessão ou autorização do Poder Publico, à tranqüilidade pública ou ao
respeito à propriedade e os direitos individuais ou coletivos.

Uma das funções da Administração Pública é aplicar as leis de ofício aos casos concretos. O
Poder Legislativo edita as leis decorrentes do poder de polícia, condicionando a conduta
dos indivíduos no exercício do direito de propriedade e de liberdade. A Administração, em
virtude de sua supremacia geral, fiscaliza a conduta dos indivíduos em face dessas leis. Cita-
se também, como fundamento da polícia administrativa, a defesa da ordem pública.

Confere-se aos indivíduos em geral o direito à liberdade e o direito à propriedade, mas o


exercício destes deve compatibilizar-se com o interesse coletivo.

3. FUNDAMENTAÇÃO DO PODER DE POLÍCIA

O poder de polícia administrativa se fundamenta no principio da predominância do


interesse público sobre o do particular, dando a Administração Pública uma posição de
supremacia sobre os particulares. Supremacia esta, que o Estado exerce em seu território
sobre todas as pessoas, bens e atividades, revelando-se nos mandamentos constitucionais
e nas normas de ordem pública, em favor do interesse social.

O poder que a atividade da polícia administrativa expressa é o resultado da sua qualidade


de executora das leis administrativas. Para exercer estas leis, a Administração não pode
deixar de exercer sua autoridade indistintamente sobre todos os cidadãos que estejam
sujeitos ao império destas leis. Daí manifesta-se na Administração uma supremacia geral.

Cabe a polícia administrativa, manutenção da ordem, vigilância, e proteção da sociedade,


assegurando os direitos individuais e auxiliando a execução dos atos e decisões da justiça.

A atividade da polícia administrativa é multiforme. A polícia precisa intervir sem restrições


no momento oportuno, motivo pelo qual certa flexibilidade ou a livre escolha dos meios é
inseparável da polícia administrativa.

4. PODER DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA

Pode-se definir polícia administrativa, como as ações preventivas para evitar futuros danos
que poderiam ser causados pela persistência de um comportamento irregular do individuo.
Tenta impedir que o interesse particular se sobreponha ao interesse público. Este poder
atinge bens, direitos e atividades, que se difunde por toda a administração de todos os
Poderes e entidades públicas.

A polícia administrativa manifesta-se através de atos normativos concretos e específicos.

Seu objetivo é a manutenção da ordem pública geral, impedindo preventivamente possíveis


infrações das leis.

A polícia administrativa é multiforme, sendo tal atividade simplesmente discricionária. A


polícia administrativa pode fazer tudo quanto se torne útil a sua missão, desde que com
isso não viole direito de quem quer que seja. Direitos esses, que estão declarados na
Constituição Federal.

Não há limitação a direito, mas sua conformação de acordo com os contornos que as
normas constitucionais e legislativas, e as administrativas como manifestação do poder de
polícia conferem a um direito determinado.

A polícia administrativa preocupa-se com o comportamento anti-social e cabe a ela zelar


para que cada cidadão viva o mais intensamente possível, sem prejudicar e sem ocasionar
lesões a outros indivíduos.

A atividade da polícia administrativa é policiar, por exemplo, os estabelecimentos


comerciais, orientando os comerciantes sobre o risco de expor a venda produtos
deteriorados ou impróprios para o consumo.

A polícia administrativa tanto pode agir preventivamente (orientando os comerciantes


sobre o risco de expor a venda produtos deteriorados ou impróprios para o consumo),
como pode agir repressivamente (apreendendo os produtos vencidos dos
estabelecimentos comerciais). Nas duas hipóteses a sua função é impedir que o
comportamento do indivíduo cause prejuízos para a coletividade.

A Administração Pública tem o dever de condicionar o interesse dos particulares ao


interesse da coletividade, pois muitas pessoas se esquecem que estão vivendo em
sociedade e que deve ser respeitado o direito do próximo. Para defender os interesses
coletivos, necessário se faz que a Administração Pública disponha de alguns atributos ou
prerrogativas, tais como:

7.1. Auto-executoriedade

A auto-executoriedade da polícia administrativa, é a possibilidade que tem a Administração


de, com os próprios meios, por em execução as suas decisões sem precisar recorrer
previamente ao Poder Judiciário, ou seja, a Administração pode tomar decisões que a
dispensam de dirigir-se a um juiz, para então impor uma obrigação ao administrado, sob
pena de perecimento dos valores sociais da Administração, resguardados através das
medidas de polícia administrativa. No caso de já ter tomado uma decisão executória, a
faculdade de utilizar a força pública para obrigar ao administrado cumprir sua decisão.

A Administração impõe diretamente as medidas ou sanções de polícia administrativa


necessárias à contenção da atividade anti-social que ela visa obstar.

A interrupção de um espetáculo teatral, por ser considerado obsceno, terá a intervenção da


Administração Pública, sem que esta obtenha prévia declaração judicial reconhecendo e
autorizando a paralisação da exibição teatral.

O Supremo Tribunal Federal, concluindo que no exercício regular da autotutela


administrativa, pode a Administração executar os atos emanados de seu poder de polícia
sem usar as vias cominatórias que são postas a sua disposição em caráter facultativo.

Existe julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo que:

Exigir-se previa autorização do Poder Judiciário equivale a negar-se o próprio poder de


polícia administrativa, cujo ato tem que ser sumário, direto e imediato, sem as delongas e
as complicações de um processo judiciário prévio (TJSP-Pleno, RT 138/823, apud
MEIRELLES, 2002, p. 133).

Alguns autores desdobram esse atributo da polícia administrativa em: a exigibilidade e a


executoriedade.

A exigibilidade resulta da possibilidade que tem a Administração Pública de tomar decisões


executórias, sendo que pelo atributo da exigibilidade, a administração se vale de meios
indiretos de coação.

A executoriedade consiste na faculdade que tem a Administração, quando já tomou alguma


decisão executória, de realizar diretamente a execução forçada, usando, se necessário, da
força pública para obrigar o particular a cumprir a decisão da Administração.

A decisão Administrativa impõe-se ao particular ainda contra a sua concordância, pois a


Administração é um órgão do Estado e este, sempre busca o bem da sociedade. Se o
particular quiser se opor terá que recorrer ao Poder Judiciário. Os meios eficazes que
podem ser usadas pelo particular quando ele se sentir lesado por algum ato praticado pela
Administração Pública através de seus agentes, são o hábeas corpus e o mandado de
segurança, que são os remédios processuais mais efetivos para tais casos, mas mesmo
nesse caso é o particular que tem que recorrer ao Poder Judiciário.
7.2. Discricionariedade

A discricionariedade se dá quando a lei deixa certa margem de liberdade para


determinadas situações, mesmo porque, ao legislador, não é dado prever todas as
hipóteses possíveis. Em vários casos a Administração terá que decidir qual o melhor meio,
momento e sanção aplicável para determinada situação. Neste caso o poder de polícia é
discricionário, pois é a Administração que irá escolher a melhor forma de resolver
determinada situação.

Na maior parte das medidas de polícia, a discricionariedade esta presente, mas nem sempre
ocorre, pois em alguns casos a lei determina que a Administração deva adotar soluções já
estabelecidas, sem qualquer forma de discricionariedade, portanto, neste caso teremos o
poder vinculado aos mandamentos da lei escrita.

7.3. Coercibilidade

Essa coação esta expressa nas medidas auto-executórias da Administração, ou seja, a


coercibilidade é indissociável da auto-executoriedade. Esta medida da polícia é dotada de
força coercitiva.

Alguns autores destacam o poder de polícia como uma atividade negativa e positiva.

Em relação à atividade negativa, diz respeito ao particular frente à Administração, pois o


particular sofrerá uma limitação em sua liberdade de atuação imposta pela Administração.
Impõe sempre uma abstenção ao particular, ou seja, uma obrigação de não fazer. Um
exemplo é ter que fazer exame de habilitação para motorista, para evitar um dano ao
interesse coletivo, pelo mau exercício do direito individual.

Já em relação à atividade positiva, desenvolverá uma atividade que vai trazer um acréscimo
aos indivíduos, isoladamente ou em conjunto. A Administração exerce uma atividade
material, que vai trazer um benefício ao cidadão. Um exemplo é quando a Administração
executa o serviço de transporte coletivo, impondo limites às condutas individuais.

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