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3.

8
Estratégias para concluir
uma argumentação

Quando começamos um texto, nos perguntamos: e agora, por onde começar?


Para finalizar um texto, é a mesma coisa: como fazé-lo?
Pensemos na seguinte história:

... dois homens discutem numa biblioteca. Um deles quer a janela aberta e o outro a
quer fechada. E ficam ambos a espicaçar-se acerca de quanto abri-la: uma fresta, metade
ou tres-quarros. Nenhuma solução satisfaz aos dois. Entra a bibliotecária. Ela pergunta
a um dos homens por que ele quer que a jancla fique aberta: "Para que entre algum ar
fresco". Ela pergunta ao outro por que a quer lechada. "Para evitar a corente de ar."
Depois de pensar por um minuto, a moça abre inteiramente a janela de um aposento
ao lado, deixando entrar ar fresco sem correnteza.

Fonte: FtsHER, Roger: UkY, Willian: PATTON, Bruce. Como chegar ao sim. Rio de Janeiro: Imago, 1994. p. 58.

E uma história que nos faz pensar na argumentação: o problema, a posição


de um, a posição de outro, o conflito, a negociação, a solução. Qual o desafio?
Levar em conta a posição dos outros, conciliar interesses, apresentar uma saída.
Negociar, ou melhor, argumentar faz parte de nossa vida, ainda que nem paremos
para pensar nisso! E como vimos na historinha, um momento importante do
processo argumentativo é o desfecho, a conclusão.
208 h0dore Vitaca Koch Vanda Maria Elias

a
algumas estratégias a que podemos recorrer para produzir essa
do texto.
Vamos apresentar
etapa final
algumas delas.

ELABORANDO UMA SINTESE


EXEMPLOo1
Fortaleza expugnada
Cliche. Meu dicioniário Houaiss eletronico
deline termo como "frase
o
rebuscada que se banaliza por ser muito repetida; frequentemente
das
gramaticas escolares nos manda
sera que é isso
lugar-comum, chavão. A maioria
fugir de cliches como diabo foge da cruz. Mas
o

Keceio
mesuno
que a
questião seja mais
sugerem dicionários complexa, e os clichs. muito mais interessantes do
gramáticas.e
A melhor evidència que
putador que tentam traduzir disso vem dos de
deivando linguas naturais. Eles sempre foram muitoprogramas com-
ruins e continuam
desejar, mas é forçoso reconhecer que melhoraram
a

depois que sucessivos fracassos levaram os bastante nos últimos anos,


programadores a mudar sua estrarégia.
Eo fato de esses
programas estatísticos funcionarem
previsível do que gostamosrazoavelmente
o ser
humano é muito mais bem revela
que dizenmos, e que deveria sero de supor. Até mesmo que
ponto inexpugnável da criatividade aquilo
uma área densamente individual, é
habitada por clichese repetiçoes.
Fote ScARISNAN. Helio. "Fotaleza
expugnada'. Holha de S.Paulo. Opinião, 22 fev. 2015, A2.
No artigo de opinião, o autor
começa a
argumentação apresentando
questionamento sobre a forma como dicionáriose gramáticas veem os
um

Para tundamentar a clichês.


sua
suspeita de que a compreensão dos cliches vai além do
explicam esses materiais, faz alusão às ideias de Claude que
de Shannon e aos programas
computador (o texto na integra pode ser lido na internet),
estabelecendo o gancho com a para, tinalmente,
introdução, concluir:
Eo fato de esses
programas estatísticos funcionarem razoavelmente bem
o serhumano é muito mais previsivel do revela que
que gostamos de supor. Até mesmo
que dizemos, c que deveria ser o ponto aquilo
uma área densamente
inexpugnável da criatividade individual, é
habitada por cliches e repetiçoes.
Na conclusão, observamos operadores argumentativos que assinalam a orien-
tação argumentativa do enunciado que introduzem. E o dos
caso
operadores e,
que soma
argumentos a tavor de uma mesma conclusão, e até mesmo, que indica
o
argumento mais forte de uma escala.
Fsrever e argumentar 209

ExEMPLO2
O acordo, enfim
Ao final de 20 meses de negociaçöes, Irá, Estados Unidos, Rúissia, China, Reino Unido,
Frangae Alemanha anunciaram nestaterça feira (14) um acordo paralimitaro programa
nuclear persa. O acontecimento histórico pode enfim desarmar um impasse internacional
e se arrasta há duas décadas
..]
Embora ainda precise passar pelo teste da realidade, o acordo -assinado por
todos os países do Conselho de Segurança da ONU e pela Alemanha-cria possí
bilidades de controle do programa nuclear iraniano e representa óbvio avanço

em uma região já conflagrada.


Seus signatários deram um passo importante para superar
um impasse que já durou
tempo demais.

15 jul. 2015, A2.


Fonte: EviTORIAL. "O acordo, entim". Folhade S.Paulo. Opiniäo,

Observamos que há conexão entre a síntese elaborada e a introdução do texto


que situa o leitor sobre o tema o acordo para limitar o programa nuclear inanian0
e a posição do autor sobre o assunto.

Destaca-se no começo da conclusão o uso do operadorargumentativo embo-


ra, pois anuncia de antemáo que o argumento que introduz o acordo ainda precisa
não será suficiente para modificar
passar pelo teste da realidade vai ser anulado,
a conclusão "o acordo [.) cria possibilidades de controle do programa nuclear
iraniano c representa óbvio avanço em uma regiáo já conflagrada".

ExEMPLO 3

Tiranos, tremei

A Africa, continente em que democracia e respeito aos direitos humanos são bensescassos
está dando um grande cxemplo ao mundo ao julgar Hissène Habré.
Trata-se doditadordo Chade no período 1982/1990, acusado, com abundantes depoi
mentos e provas, da morte de cerca de 40 mil pessoas e de torturas em 200 mil.
Já seria todo um acontecimento o simples fato de um ditador ser levadoa julgamento,
quando a norma é vé-los livres, leves e soltos por a, no máximo em exilio dourado.
Mas o caso Habré ganha importincia mundial por se tratar do primeiro julgamento de
uma personalidade de um país em outra nação - no caso, o Senegal.

É de esperar que o julgamento de Habré seja igualmente "exemplar", mas no bom


sentido, para todos os ditadores-inclusive os da América Latina, em geral impunes.
Fonte: Rossi, Clóvis. "Tiuanos, trenei". Folha deS Panlo, Mundo, 23 jul. 2015, A10.
10 1ngectu Vilaa Koh Vanda Marla las

aconiccimcnto descritg 1a
Na conlusao, notamos que a sÍntese retoma o

termos de perspectiVasfu
acescentando o que diso éesperado em
ntrodug áo,
TAS ue o julgamento de um ditador na Africa sirva de exemplo a todos 05 ditadores

papel marcante na argumentaçáo operadoresmas


os e
Nessa ctapa linal, tém
inclusive, Este indica o agumento mais forte de uma escalaa favor daconclusao
todos os ditadores devem ser julgados.
Quanto ao mas, nesse contexto de uso, exprime implicitamente un movl
mento psicológico entre opinióes e descjos orientados cm sentidos contrários:
trata-se de uma medida que, por suas qualidades, deve servir de modelo e scr
plicada para a puniçáo de todos os ditadores e náo se constituir em un ca50
único e isolado, para inglés ver.

FINALIZANDO COM SOLUÇÃO PARA UM PROBLEMA


O texto a seguir se desenvolve em torno do tema racísmo, mais cspecifica
mente no lutebol, Começa citando casos e casos que tiveram repercussão na
imprensa dentro e fora do Brasil para mostrar que o problema não reside em
um fator isolado aqui e ali, mas é sério e merecedor de atenção. No desfecho,
apresenta uma clara e objetiva maneira de resolver a questáo.

ExEMPLO 1

Fim da infámia
Nao hi esporte mais democrático do que o furebol. Todos os clubes possuem jogadores
de dilerentes idades, nacionalidades, origens sociais, níveis culturais- e ctnias. IDonde
nao tem sentido insultar um adversário negro. O clube de quem laz isto também deve
ter jogadores negros, E, enre seus torcedores, idem, havetá negros.
Uma forma de acabar com tal infämia seria o alto-falante anunciar, logo às primei
ras macaquices, que, se aquilo continuar, o jogo será encerrado com a vitória do
time do jogador humilhado. Mesmo que esteja 10x0 para o dos que humilham.
Fonte: CAsI), Ruy. "Fim da inlamia", Falha de S.Paulo, Cpinido, 21 fev. 2014.

Nos textos (que compöem os exemplos 2 e 3, a conclusão também é composta


na forma de solução (soluçóes) para o problema descrito na introdução. Vejamo8
211
Escrever e argumentar

EXEMPLO2

OAtlas da saúde mental da oMs da saude


transtornos
uma em cada dez pessoas, todos os países, apresenta
em
Quase dos pro-
Entretanto, somente 1%
mental, segundo a Organização Mundial da Saúde.
na atençãoa este delicado
tema.
fissionais da saúde atua
para ser desenvol
a OMS elaborou um plano de ação aos seus países-membros,
vido nos próximos cinco anos.
serviços
a u m e n t a r cm 20% a cobertura dos
Entre as propostas, uma delas seria
mentais severas, incentivar a promoçáo
prevenção e

especializados em desordens atualmente na média de 11,4


taxa de suicídio,
da saúde mental e reduzirem 10% a
para cada 100 mil pessoas.
Ciéncia, 18 jul. 2015.
Folha de S, Panlo. Saúde
+

Fonte: ABRAMCZYK, Julio. "O Atlas


da saúde mental da oMS".

ExEMPLO 3

A vencedora é a barata

dado de uma invasão de baratas. Elas estão em todas as esquinas,


Voce deve ter se conta
até parecem correr em
todos os espaços da cidade; algumas
parecem querer conquistar
sua direção enquanto
vocè caminha calmamente na calçada. ...
ainda mais faceira, mais confiante. E começou
Nos últimos dias ela parece ter se tornado
o mundo.
se aventurar para tentar conquistar
a sair de casa ao final do dia,
Há na cidade uma infestação de uma espécie conhecida pelo apelido "barata de esgoto",
mas que tem nome e sobrenome: Periplaneta americana. ..]

Se quiséssemos eliminá-las, precisaríamos de atitudes bem diferentes: limpezae


de bem vedadas,
higienização domiciliar, instalação de veda ralos, caixas gordura
evitar acúmulo de matérias na garagem, no porão, no telhado e no quintal. Até as
caixas de papelão podem ter ootecas, as tais bolas que elas carregam na barriga,
cheias de ovos.

Um alerta a mais: as baratas ficam em esgotos e bueiros e levam consigo para fora
desses esconderijos montes de micróbios. "APeriplancta americana é um importante
vetor mecânico de doenças, carregando aderidos ao seu corpo muitos patógenos
É por isso fundamental cuidar para que elas não tenham facilidades para se mul-
tiplicar. A bola está com vocês: limpar a casa, não jogar lixo na rua e ficar sempre
atento. Boa sorte. Se não, como diria Machado de Assis: "Ao vencedor, as baratas"
Fonte: SERVA, Leáo. "A vencedora é a barata". Foluu de S.Paulo. Cotidiano, 27 ou. 2014, C2.
12 medoe Vitt Noh anda Marta thas

FINALIZANDO COM REMISSAO A TEXTOS


m expoiicnue que Rvela cnudiao e elegancia é fazer citaçao a textos ou a seus

autoes, sob a foma de citação direta ou indireta. Trata se de uma estrategia quc
tambem é usada na conclusko e que causa boa impresão no leitor, no minima.

EEMPLO1
Taumas herdados
O detcminismo genétiao, a crena de que todas as caracieristicas do onanisma sao
ditadas pelo odigo do oNA, Sofieu um golpe. Esnado com filhos de subreviventes do
Holocausto mostrou que martas de vivèncias naumaticas passaram à gerado seguinte
sem intererència de
squencias genéticas
Nao estamos diante de uma mudança de paradigma cientifico, como diria lhomas
Kuhn, mas da descoberta de mais complexidade num fendmeno que a imagem
popular da genética acredita ser simples e unidirecional genes fazem proteínas
que determinam todas as caracteristicas do onganismo.
E um pouco mais complicado do que isso.
Fonte: EoTRIAI, "Tiaumas hendados'. Fwhe de SPowla COpinita, 29 agr 2015, A2.

ExEMPLO 2

O triunto dos porcos


lusófono. Como? Fazcndo um
1. Todos domingos,
os presto homenagem ao mundo
churrasco aqui na lnglaterra, enmbora os mecus vizinhas talvez nåo apraciem o gestu,

Por causa do cheiro?


Nao. Por causa das carnes. Os meus vizinhos são a Oxford University I'ress, que pelo
visto tem problenmas com porecos, "salsichas" c outms podutos associados,
aas escritores de histörias intantis
Em recomendação editorial aos seus autores,csobretudo
no oten-
a vetusta Oxford Universiry
Iress aconselha que tais palavTas sejam evitadas para
os livnas sio vendidos em mais de
derem muçulnmanos e, va l, judeus. Segundo empresa,
a
ensibilidade" de culuras diferentes
200 paises. E prociso ter "sensibilidade" para respcitara
moderar as minhas gulas suinas. Så no entendo
Fu. por mim, concordo e prometo
Em nome de uma agenda verda-
motivo a editora se limita ao inocente porco.
por quc
da Oxfond University Press deveria apagar
dos
deiramente multiculturalista. o pessoal ou socicdade.
ofende alguém, algures, em qualquer religião
scus livros tudo aquilo que

dizia que atirania dos homens comera com


Razão tinha George Orwell, quando
Owell, aquele escritor
que imaginou o mundo em
a tirania das palavras. Sim, mais quc isso custeà Oxford
um mundo
domninado por porcas, por
que vivemos:
University Press.

Fonte: CoUTINHO, Joåo Perrira. "O triunto dos pors. Fiha de S.Pasia, 3 fex 2015
Erevet e
afgumentar 213
ExEMPLO J3
O "Silêncio dos Inocentes"
não é clássico
que torna
por acas0
um filme um clássico?
No projceto
programação combina titulos com unànime bem-sucedido Clásicos Cinemark, a

nostalgico. Mas não basta apcnas vir do valor histórico aos que cxalam
não ficado datado, como
ter
perfumne
passado para se tornar um clássico, E
demonstra "O preciso
Esse estreito
intervalo entre o "'normal" c o Silèncio dos Inocentes.
liberta "patológico", "O Silêncio dos
Chapeuzinho VermelhoInocentes
nossos monstros, nos
faz oscilar entre
Mau. Náo por acaso se a
Lobo e o
tornou um clássico.
Fonte CARI OS,
4 jul. 2015.
Starling Cássio. "CO 'Silêncio dos Inocentes' não é clássico por acaso". Folha de
S. Paulo. Acontec,

EXEMPLo 4
Por que você vai sair com esse cara?
Um dia amigo me perguntou "escuta, mas por que você vai sair com esse
um
cara?e
eu
respondi "ue? precisa ter razão pra isso? e ele retrucou
se voce
parar pra pensar, sempre tem uma razão".
"precisar não precisa... Mas
E comecei
pensar nisso.
a

Sempre tem uma razão.


Acho que tem mesmo. Deve ser por isso que aceitamos alguns convites de
cara, outros
depois de alguma insisténcia, outros nem que a vaca tussa. Talvez por isso, às vezes,a
novela que a gente nem assiste
seja uma bela desculpa pra não sair e outras vezes seja
tão fácil sair às 23hs, sabendo
que no dia seguinte nos levantamos às 6hs.
Mas sabemos que a explicação para sair ou não sair com uma
pessoa não é muito sim-
ples muito racional. Sair,
nem
simplesmente sair. Sem perspectivas, sem contratos, sem
promessas. Por que às vezes sim? Por que às vezes não?

No fim das contas, acho que náo tem muita explicaço, nem muito sentido. E acho
que náo tem que ter mesmo.
Mas o fato é que todo mundo
sempre algo incrivel aos olhos de quem ve, sim-
tem
ples assim. Náo tem desculpa: a gente sempre é interessante para alguém, por mais
porcaria que a gente possa se achar.
Como Eduardo e Mônica, encantados
pela tinta no cabelo ou pelo futebol de botão
com seu avo.
"E quem dia irá dizer que existe razão
um
coisas feitas
E quem irá dizer
nas
pelo coração?
que não existe razão?"
Fonte: MANUS, Ruth. "Por
que você vai sair com esse cara?", O Etudo de S. Pulo, 16 jul. 2014.
<http://blogs.cstadao.wm.br/ruth-manus/por-que-voce-vai-sair-com-esse-cara/. Acesso em: 17 jul.Disponível
em:
2014.
214 ingodara Villaca Koch. Vanda Maria Fllas

FAZENDO UMA PERGUNTA RETORICA


No texto ler agora, para que
que vamos secrve a pergunta finai:
ExEMPLO
omo um catë sentado a uma mesa de bar. O calor é forte, mas o sol já descansa e a
noite vai nascendo. Um radinho, postado no balcão, sintoniza uma animada discussao
sobre a
importancia de uma alimentação balanceada e da prática esportiva para que se
tenha boa qualidade de vida.
Ora, leitor, concordo com os radialistas e m
caro
partes. Sou sedentário, talvez esteja
um pouco acima do
peso. Como bom jornalista, raramente deixo a redação em busca de
uma salada contento-me com
o rápido x-tudo' da lanchonete. E estou
muito bem,
obrigado. Admito, porém, que ao me olhar no espellho, já descjei ter uns quilinhos a
menos. Ser
exemplo de pessoa saudável, modelo de academia.
leço, entáo, outro calé. Enquanto bebo, distraio-me com um casal de
jovens correndo
pela calçada. Magros e fortes, são o retrato da saúde. Mas acredite, náo os invejo.
O que é
qualidade de vida? Chego à conclusáo de que, para mim, é o jornal, a
família, os amigos. O café no fim da tarde, por que não? Tudo muito
também especial, já que é sincero,
simples, mas
Sei que não sou estou
verdadeiro
longe de ser o cara mais saudável do mundo. Mas sou,
certamente, um homem feliz. Há melhor qualidade de vida?
Fonte: ELiAs, João Marcelo. Atividade escolar, 20 São Paulo:
ano.
Colégio Móbile, 2014.
Notamos que no texto há sequências narrativas e descritivas
naargumentação
desenvolvida pelo autor sobre o que é qualidade de vida. A é pergunta explicita-
da c
respondida na conclusão que se encerra com outra
pergunta que não exige
resposta alguma, pois apenas serveà contirmação da resposta já dada. E um final
que, por encerrar uma pergunta ainda que sem a necessidade de resposta, reforça
a posição defendida e motiva o envolvimento do leitor.
Chama a arenção na conclusão o uso:
i) do operador argumentativo mas para expressar argumentos que apontam
para conclusóes opostas;, ser mais saudável aponta para a conclusão serfeliz;
não sermaissaudável aponta para a conclusão nãoserfeliz. O mas frustra
essa expectativa: é possível ser ser mais saudável.
feliz sem
ii) do articulador textual certamente que assinala o grau de certeza com relação
ao que toi enunciado.

RESUMINDO

Neste capítulo, apresentamos algumas estratégias paraorientaro fechamento


de uma argumentaçáão.
Escrever e argumentar 215

Vimos que,
dependendo do projeto de dizer c, nesse sentido, de como a in-
trodução e o desenvolvimento do texto foram desenvolvidos, a conclusão pode
se
apresentar forma de síntese,
na
soluçáo para um problema, remissão a textos
ou de uma
pergunta retórica.
Eclaro que existem muitas outras estratégias. Deixamos a sugestão para voce
ampliar esse estudo.

PROPOSTAS DE ATTVIDADE

ATIVIDADE 1
Quem éo maior no futebol? Pelé ou Maradona? Quer unm exemplo de como foi
desenvolvida e concluída a argumentação em torno desse assunto? Leia o texto:

Brasil ou Argentina? Pelé ou Maradona?


Dizem os mais velhos que nos anos quarenta se não tivesse acontecido a 2a Guerra Mundial,
a Argentina teria sido campeá mundial em 1942 e 1946..
Teria, teria... Se é uma palavra inútil. Em 1950 se nao houvesse o Maracanazo com Ghiggia
c companhia... Mas vamos ao que interessa: em 1958, tínhamos o Pelé com 17 anos já en-
cantando o mundo. Surgia ali o crerno rei do futebol. Depois ele seria campeão em 62e 70
E, mas em 62, quem se destacou foi o Garrincha, o Plé jogou somente 2 jogos. O Maridona poderia
ter jogado cm 78, com 18 anos, já era um craque. O Menoui não o convocou, não sei por qué.
Voce tem coragem de se gabar desta copa? Seus milicos compraram o time do Peru, para
passarem para a final, e
depois quase perderam da Holanda.
Quase, mas náo perdemos. A nossa seleção tem garra, joga como se fosse uma luta, enquanto
a de voce...
A nossa joga por música, como a de 1982 que perdeu mas continua inesquecível. Ganhamos
de vocés com Maradona e tudo, Mas voltando ao l'el. Campeáo mundial trés vezes, mais de
mil gols na carreira, reconhecido no mundo inteiro, o Maradona nem chegou perto.
E verdade, o Pelé fez mais gols, mas jogavam em posiçóes diferentes. O Maradona era meio-
campista regente de uma orquestra alinada, e como era decisivo. Em 86 ganhou a copa
sozinho, o Pelé nunca fez isso.
Eu me lembro bem... a Argentina contra a lnglaterra, "La mano de Dios".
Eo outro que foi golaço, vocé esqucceu? Lembra em 90, vocés jogando melhor, e num passe
genial do Maradona parao Caniggia..
Em 94, nós fomos campeóes de novo e o Maradona... Pego no doping. Em 2002 seriamos
de novo campeoes. Temos cinco conquistas e vocés? Só duazinhas e um delas daquele jeito.
E em 2014, o que vocé me fala do 7x1?
Lá vem vocé de novo com esta his1ória. Nós estávamos sem o Neymar, c o FelipÃo resolveu
inventar. E vocés tamlbém náo ganharam com Messí e tudo.
Voce vai querer comparar Messi com Neymar?
Não, mas posso comparar com Cristiano Ronaldo..
Ele não é brasileiro.
Mas fala portugués, pois, pois.
Fonte: ElTAS, Luiz Fernando.
216 Ingedore Villaça Koch Vanda Maria Elias

Com base na leitura do texto e considerando os dados descritivos no quadro

DUELO-PELÉ XMARADONA
Qem foio maior? Dependendo do ponto de vista, pode ter sido qualquer um dos dois.

Confiraoduelo.
EDSON ARANTES DO NASCIMENTO DIEGO ARMANDO MARADONA
Nasceu em 23/10/1940, em Tres Coraçóes Nasceu cm 30/10/1960, em Lanús (Argentina)
(MG). Altura: 1,66 metro
Altura: 1,74 metro Peso: 70 kg (em 1986)
Peso: 70 kg (em 1970) Titulos na carreira: l11
Titulos na carreira: 59
Maiorcs conquistas Maiores conquistas
ricampeáo mundial com a seleção (1958,Carmpeão mundial com a seleção argentinai
1962 e 1970)
(1986)
Bicampeáo mundial com o Santos (1962 e Bicampeão italiano com o Napoli (1987 c
1963) 1990)
Bicampeio sul-americano com o Santos (1962 Campeão da Copa da UEFA Com o Napoli;
e 1963) 1988)
1.282 gols em 1.375 jogos (média de 0,93 gol 365 golsem 695 jogos (média de 0,52 gol
por jogo) porjogo)
Copas do Mundo Copas do Mundo
participaçoes (1958, 1962, 1966 c 1970), 4 participaçoes (1982, 1986, 1990 c 1994),
3titulos (1958, 1962e 1970), 14 jogos e 12 gols 1 tulo (1986), 21 jogos e 8 gols
No que Pelé foi melhor No que Maradona foi melhor
Nos númeras, nåo tem conversa: ninguém Conduziu a conguistas inéditas times
fez tantos gols neni ganhou tantas Copas. medianos, como o Argentinos Juniors c
Isto é Pelé, Napoli.
Foi perfeito em todos os fundamentos: Mesmo usando praticamente só a perna
chutes com os dois pé, dribles, lançamentos, csquerda, foi mais habilidoso que Pelé (até
cabeceio. segundo ex-companheiros de seleção do
Teria sido bom em qualquer posição os cCx brasilciro, como Tostáo).
companheiros, inclusive, dizem que ele valia Carregava times nas costas. Ganhou uma
por dois no gramado, dominando rudo entre Copa sozinho (coisa que Pelé nunca fen). E
o meio de campo e a pequena área. Um deus. mesmo fora de forma levou uma Argentina
mediocre àfinal da Copa de 1990. Un diós.
Fonte: CiuLHLRNMT. Paulo."Duclo degigantes-IPeléx Maradona" Suprinteresante. Sáo Paulo, abr./ago. 2014. p. 23.

1. Como você produziria uma conclusão indicando o Pelé como vitorioso?


2. Como seria essa conclusão apontando o Maradona como o vencedor?
3. E para indicar o empate, como seria essa conclusão?
217
Escrever e argunerntar

ATIVIDADE 2
SC perguntassem a sua opinião sobre a internação compulsória de viciados
de crack, 0 que responderia? Leia os dois textos a seguir e saiba a opinião de

dois especialistas sobre o assunto.

Deve ser permitida a internação compulsória de viciados em crack?

NÃO SIM
Dependencia não se resolve por decreto Prescrever intemação voluntáriaé ingênuo
DARTIU XAVIER DA SILVEIRA LUIS FLAVIO SAPORI
Na sua maior parre, as usuárias de drogas ilicitas A disseminação do comércio c do consumo do
Cstabelecem padröes de consumo que os caracte- crack na sociedade brasileira é um fenómeno não
rizam como usuários ocasionais ou recreacionais, mais passível de contestação, aringindo tanto
a exemplo do que se observa com o ålcool e com a população urbana quanto a rural. A despeito
outras drogas legalizadas. Apenas uma minoria se de relariva prevalência cntre os consumidores
toma dependente. de baixa renda, o crack já é demandado por
Para quem se rorna dependente, seja a droga licta segmentos da classe média, envolvendo homens
ou ilicita, as consequências são desastrosas e o e mulheres. jovens e adultos.
sofrimento é intenso. Mas a empatia que temos com Estamos diante de uma importante mudança
o sofnimento do dependente c de seus familiares no mercado das drogas ilicitas no Brasil. que se
ea nossa preocupação com o fato de existirem encontra revigorado pela introdução de nova
pessoas envolidas com drogas não nos
autorizam mercadoria, que atrai consumidores ávidos e
a considerar todo usuário um dependente. compulsivos.
Isso não se deve exclusivamente ao uso de uma E unma droga muito atrativa não apenas pelo
substancia; depende de quem é esse usuário, da baixo preço, comparativamente à cocaina em
sua vida emocional e do contexto no qual ele pó, como também pelo prazer que proporciona
utiliza a substància. O amplo consumo de álcool a seus usuários.
no Ocidente ilustra bem essa constatação: nem A despeito do fato de o crack ainda não ser a
todo consumo é problemático. droga mais consumida no Brasil, é imperativo
Por razoes eminentenente ideologicas, vemos reconhecer que os maleficios sociais gerados por
modelos repressivos do tipo "diga não as drogas ela são muito superiores aos das demais drogas
eguerra às drogas ainda serem implantados, ilicitas comercíalizadas no território nacional.
apesar de suas evidéncias de eficácia sinalizarem Seus impactos estão presentes tanto na segurança
o conrário. Claramente. a guerra às drogas foi pública quanto na saúde pública. Há, por
perdida há muito tempo. Apesar dos fracassos exemplo, uma relação muito estreita entre
sucessivos, os guerreiros cnvolvidos nessa guerra comércio do crack e crescimento da incidencia
rentaram inicialmente minar as estrarégias de de homicidios.
redução de danos, mesmo nas sinuaçóes em que Isso porque o comércio do crack tende a
somente estas funcionavam. intensificaros conflitos entre os atores economicos
Cegos em sua postura totalitiria e oniscientc, os envolvidos, em especial entre vendedores e
defensores das guerras às drogas passarn a atacar consumidores. O grau de endividamento no
de forma insana o inimigo errado: punir os comércio do crack é superior ao verificado
dependente, responsabilizar os usuários pelo tráfiw, no comércio da cocaina em pó e da maconha.
demonizar as drogas e idicularizar o consumo de Num contexto social em que a violência é pouco
substancias, exceto aquelas que eles mesnos controlada pelos traficantes, a proliferação de
usan, em geral álcool, cafeina e medicamentos, homicidios torna-se inevitável.
218 Ingedore illaça Koch Vanda Maria Elias

tratadas com injustificadabenevolència (cfezinho, No que diz respeito à saúde pública, as


cervejinha, uisquinho, remedinho...). consequencias do consumo do crack náo são
A situação atual no
panorama das drogas está menos graves.
chtre o circo dos horrores do absutdo... E
A luta
e o teatro umadroga quc gera proporcionalmente um,
antimanicomial à luz as condiçóes
trouxe
contingente de usuários compulsivos e, por que
desumanas aplicadas aos doentes mentais. Em vez
náo dizer, vítimas de dependência quimica em
da hospitalização em unidades de internação em intensidade bastante superior às da maconha c
hospital geral, prevalecia um sistema carcerário da cocaina cm A
Cm
pó. proliferaçio das cracoländias
que os maus tratos a pacientes cram a cidades brasileira não é a única manifestaçao
regra. nas
Cauriosamente, esse moxlelo obsoleto tende agora a ser desse fenômeno.
preconizado para dependentes químicos. Não existe Inúmeras famílias tèm convivido diariamente
rspaldo cientifico sinalizando que otratamento para com usuários
que destroem suas carreiras
dependentes deva ser feito preferencialmente em profissionais, scus laços de sociabilidade e
egime de internação. Paradoxaliente, internaçóes
mal conduzidas ou erroneamente
atormentam as
relaçóes internas.
indicadas tendem Eé nesseaspecto que devemos rever a legislação
a
gerar consccquências negativas.
brasileira, quc restringe severamente a internação
Quando se trata de internação compulsória,
taNas de recaída compulsória de dependentes químicos. A
as

chegama95%! Deum modo geral,


legislação está dificulrando a busca de soluçôes
os melhores resultados são aqueles
obtidos por mais adequadas para o
meio de tratanentos ambulatoriais. problema.
Se ainternação Não há mais como negar que a compulsiviclade
compulsória não é mellhor maneira de tratar um gerada pelo crack é bem
a

dependente, que dizer de sua utilização caso drogas licitas illcitas consumidas
o
no
superior à das demais
e no Brasil.
de usuários. náo de
No caso das pessoas
dependentes? Prescrever que o usuário do crack que encontra se
que usan crack na rua, em cstágio
avançado de dependéncia da droga
muito sinplista considerar que
aquela situaçio de somente
poderá ser internado para tratamento
misériae degradação sja mera decorrència do mediante sua manifestação voluntária é atitude
uso
de droga. Náo seria mais realista consider.amos
que completamente ingénua.
o uso de drogas conscquência direta da situação
é E chcgada a hora de deixarmos as
adversa a que tais pesoas estáo sulbmetidas? ideologias de
lado e encararmos a realidade de frente.
A dependencia de drogas náo se resolve Faz-se necessário que o Congresso Nacional
por
deereto. As medidas toralitárias promovem viabilize as mudanças legais nccessárias para que o
alivio passageiro,
um como um
barato que poder público, em parceria coma sociedade civil,
entorpece a realidade. Porém, passado o seu efeito possa cxpandir a metodologia de tratamento dos
imediato, etéreo e fugidio, surge a realidade, com usuários do crack, fortalecendo o atendimcnto
sua intensidade avassaladora.. ambulatorial e oferecendo a internação, mesmo
Assim, qual seria a lógica para fundamentar a que compulsória, por determinado tempo para
retirada dos usuários das ruas, impondo-lhes os casos mais graves.
internaçáo compulsória?
Náo seria, por acaso, o incômodo que essas
pessoas causam? Seria porque insistem em não
se comportar bem, segundo nossas expectativas?
Ou porque nos denunciam, revelando nossas
insuficiencias, incompetências e incoerências?
Medidas "higienistas" dessa natureza não tiveram
boa repercussão em passada não tão distante...
Fontes: XAVIER DA SILYTIRA, Dartiu. "Dependëncia não se resolve por decreto". Folba de S.Paulo. Opinião, 25 jun.
2011: FLAVio SAPORI, Luis. (Doutor em Sociologia e professor da ruC-Minas). "Prescrever internação voluntáriaé
ingénuo". Folha deS.Paulo.
Opiniäo, 25 jun. 2011.
Escrever e argumentar 219

1. Inssoko raveis e os contrários à internação compulsória,


de 3 Textos.

onsicderando os argumentos apresentados, produza uma conclusão assumin


do uma posição favorável contrária ao assunto. Como cxemplo, sugerimos
ou

que retome a conclusäo do texto "O cigarro eletrônico", de Drauzio Varella,


no capitulo Estratégias para desenvolver uma argumentaçáo. (pp. 193-4)

ATIvIDADE 3
Vocc sabe que existe uma campanha pediatras receitem Iivros
para que os
na Folha de
para crianças de zero a seis anos? Pois é, a matéria foi publicada
S.Paulo em 18 de outubro de 2015, caderno Cotidiano.
favor da campanha:
tenhalido, veja dois argumentos de especialistas
a
Caso não

Argumento 1

pediatria. Ler para o bebê reflete


Estamos atrasados na inclusão do livro na
afetividade. Quem
bom desenvolvimento, na cogniçãoe
na
diretamente em seu
a vida toda e contribui para
le para o bebë cria com ele um vínculo afetivo para
seja um adulto melhor.
que ele
Brasileira de Pediatria SBP)
(Eduardo Vaz, presidente da Sociedade

Argumento 2
não
mesma história para as crianças. "O bebê escuta a
não inmporta repetir a
quantidade enorme de significados
.

mesma história sempre. Ele descobre uma

exercendo memória. E uma


diferentes. Além disso, decora tudo. Está
a

operação extraordinária."

(Evélio Cabrejo, linguista da Universidade Sorbonne, França)

internet mais opinióes de especialistas ou autoridades a respeito


1. Busque na
argumentos, lembrando de incluir,
aos que
dessa campanha. Analise rodos os

dois que se encontram no enunciado anterior.


selecionou, os

cada argu
2. Faça uma lista dos argumentos e ídentilique o que é peculiar a

constitui pontos de intersecção, ou seja, pontos de contato


mento e o que
Ou pontos comuns.

conclusão é possível elaborar? Apresente


3. Com base nos resultados obtidos, que
a sua conclusão na forma de um anúncio a favor da campanha.
argurieritsr
219
Escrevere

lavoráveis c os contrários à internaçáo compulsoria,


ndique os argumentos

de acordo com a leitura dos textos.

2. Considerando os argumentos apresentados,produza uma conclusão assumin


favorável ou contrária ao assunto. Como exemplo,
sugerimos
do uma posição
retomea conclusão do cigarro eletronico, de
texto "O Varela, Drauzio
que
no capítulo "Estratégias para
desenvolver uma argumentaçáo. (pp. 193-4)

ATIVIDADE 3
receitem livros
sabe existe uma campanha para que os pediatras
Voce que
Folha de
anos? Pois é, a matéria foi publicada na
para crianças de zero a scis
S.Paulo em 18 de outubro de 2015, caderno Cotidiano.

Caso não tenha lido, veja dois argumentos de especialistas a favor da campanha:

Argumento 1

Estamos atrasados na inclusão do livro na pediatria. Ler para o beb rellete


diretamente em seu bom desenvolvimento, na cogniçáo e na afetividade. Quem
le para o bebé cria com ele um vínculo afetivo para a vida toda e contribui para
que ele seja um adulto melhor.
(Eduardo Vaz, presidente da Socicdade Brasileira de Pediatria - sBP)

Argumento 2

não importa repetir a mesma história para as crianças. O bebé não cscutaaa
mesma história sempre. Ele descobre uma quantidade enorme de significados
diferentes. Além disso, decora tudo. Está exercendo a memória. E uma
operação extraordinária.

(Evelio Cabrejo,linguista da Universidade Sorbonnc,França)

1. Busque na internet mais opinióes de especialistas ou autoridades a respeito


dessa campanha. Analise todos os argumentos, lembrando de incluir, aos que
selecionou, os dois que se encontram no enunciado anterior.

2. Faça uma lista dos argumentos c identifique o que é peculiar a cada argu-
mento e o que constitui pontos de intersecção, Ou seja, pontos de contaro
ou pontos comuns.

3. Com base nos resultados obtidos, que conclusão é possível elaborar? Apresente
a sua conclusão na forma de um anúncio a favor dacampanha.

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