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LUTAS

PROFESSORES
Dr. Leonardo Vidal Andreato
Dr. Victor Silveira Coswig
LUTAS

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


COSWIG, Victor Silveira, ANDREATO Leonardo Vidal.
Lutas. Leonardo Vidal Andreato; Victor Silveira Coswig.
Maringá - PR.:Unicesumar, 2018.
184 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Lutas . 2. Pedagogia . 3. Preparação Física 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1155-5
CDD - 22ª Ed. 796
Impresso por: CIP - NBR 12899 - AACR/2

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Executiva de Ensino Janes Fidélis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho,
Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de
Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Head de Produção
de Conteúdos Celso L. Filho, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo R. Garcia, Gerência de pro-
jetos especiais Daniel F. Hey, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida
Toledo, Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho,
Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Bárbara Neves, Revisão Textual Talita
Dias Tomé e Cintia Prezoto Ferreira Ilustração Ilustrador, Fotos Shutterstock.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10
com princípios éticos e profissionalismo, não maiores grupos educacionais do Brasil.
somente para oferecer uma educação de qualidade, A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão soluções inteligentes para as necessidades de todos.
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- Para continuar relevante, a instituição de educação
nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
e espiritual. coragem e compromisso com a qualidade. Por
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. do conhecimento, formando profissionais cidadãos
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais que contribuam para o desenvolvimento de uma
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos sociedade justa e solidária.
pelo MEC como uma instituição de excelência, com Vamos juntos!
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Janes Fidélis Tomelin


Diretoria Executiva de Ensino

Kátia Solange Coelho


Diretoria Operacional de Ensino

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autores

Dr. Leonardo Vidal Andreato


Tem experiência na área de Fisiologia do Exercício, atuando principalmente nos
seguintes temas: preparação física para esportes de combate, avaliação física,
treinamento intervalado de alta intensidade e obesidade. Doutorado em Ciências
do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC),
sendo atualmente professor colaborador na mesma instituição. Mestrado em
Ciências na área de Estudos do Esporte pela Universidade de São Paulo (USP)
e especialização em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP). Graduação em Educação Física pela Universidade Estadual
de Maringá (UEM).
Currículo Lattes disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/
visualizacv.do?id=K4249428A5 >

Dr. Victor Silveira Coswig


É Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Treinamento Esportivo e
Desempenho Físico (GEPETED). Atualmente é Professor Adjunto na Universi-
dade Federal do Pará (UFPA). Tem experiência na área de Educação Física, com
ênfase em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo, especialmente
com lutadores. Possui Doutorado na linha de Desempenho e Metabolismo
Humano (ESEF/UFPel- 2017) e mestrado em Atividade Física e Desempenho
pela ESEF/UFPel (2014). Pós-graduação em Fisiologia do Exercício e prescrição
para academias e Personal Trainer pelo Centro Universitário de Volta Redonda
(UniFOA/2011). Tem graduação em Educação Física pela Universidade Federal
de Pelotas (UFPel /2010).
Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/0097939661129545>
apresentação do material

LUTAS

Caro(a) aluno(a), este livro tem por objetivo apresentar aspectos relevantes e atuais
sobre diferentes perspectivas relacionadas às Lutas, Artes Marciais e Modalidades
Esportivas de Combate. Inicialmente, é preciso destacar que as Lutas fazem parte
da cultura do movimento humano, juntamente com o Esporte, a Ginástica, o Jogo
e a Dança. De fato, a dimensão “Luta” ainda perpassa pelas demais expressões e,
por vezes, confunde-se com o Esporte, com o Jogo e, até mesmo, com a Dança.
Dito isto, este conteúdo faz parte da base da Educação Física e a atuação dos
professores e profissionais deve (ao menos deveria) contemplar aspectos histó-
ricos, sociais, técnicos, científicos e pedagógicos relacionados às lutas. Ademais,
especialmente nos aspectos científicos, apresenta-se um crescimento em volume
e relevância das pesquisas na área das ciências dos esportes de combate. Consi-
derando, então, as Lutas como conteúdo base da Educação Física e reconhecendo
seu papel na sociedade e na ciência, torna-se indispensável que você seja capaz de
dialogar sobre a temática com criticidade e por diferentes óticas.
Neste contexto, este livro busca proporcionar bases teóricas e metodológicas
para dar suporte a sua atuação nos estágios e no mercado de trabalho, bem como
em diversos espaços da comunidade. Para isso, inicialmente, são apresentados os
conceitos terminológicos e aspectos históricos que ilustram o modo em que as
Lutas estão enraizadas no DNA dos seres humanos (Figurativa e literalmente). Sim,
literalmente, já que traços do nosso DNA primitivo diferenciam povos que saíram
da África e conquistaram a Eurásia e o mundo daqueles que pereceram. Essas dife-
renças envolviam o modo de resolver conflitos e as práticas de lutas como rituais.
Na sequência, é dado foco na atuação didática e pedagógica que envolve o ato
de lutar. Você será convidado a refletir criticamente sobre o modelo vigente de
ensino nos diferentes espaços que oferecem práticas de lutas, bem como ao Sistema
Iemoto, que é carregado de hierarquia e comando. Obviamente, não serão traçadas
apenas as críticas, mas serão também sugeridos os modelos alternativos que de-
verão servir de referência para as práticas dos futuros professores e profissionais.
Ainda fazem parte do escopo deste livro as questões relativas ao perfil físico e
fisiológico de lutas e lutadores de modalidades esportivas de combate, bem como
acerca das avaliações e prescrições de treinamento específicas das Lutas, já que
estas apresentam características distintas de outras modalidades esportivas.
Por fim, esperamos que este livro ajude a qualificar sua carreira profissional e
acadêmica. Mais do que isso, esperamos que você seja encorajado a pensar com
criticidade e que possa conhecer melhor um dos conteúdos base e que, por vezes,
não recebe o protagonismo que lhe é devido.
Boa leitura!
su mário

UNIDADE I 103 Considerações finais


CONCEITOS E HISTÓRICO DAS LUTAS 107 Referências
14 Conceitos em Lutas, Artes Marciais e Esportes 107 Gabarito
de Combate
18 Origem e Desenvolvimento das Lutas
UNIDADE IV
22 Histórico das Lutas na Perspectiva Oriental
AVALIAÇÃO E PREPARAÇÃO FÍSICA DE LUTADORES
26 Histórico das Lutas na Perspectiva Ocidental
112 Avaliações Físicas Gerais para Lutadores
30 As Lutas no Brasil
118 Avaliações Físicas Específicas para Lutadores
34 Considerações finais
122 Métodos para Condicionamento Metabólico
39 Referências de Lutadores
41 Gabarito 126 Métodos para Condicionamento Neuromus-
cular de Lutadores

UNIDADE II
130 Periodização e Organização do Treinamento
de Lutadores
ENSINO DE LUTAS
133 Considerações finais
46 O Ensino das Lutas e a Educação Física
137 Referências
52 Categorizações, Regras de Ação e Jogos de
Oposição 139 Gabarito
56 Modelo de Ensino Tradicional e Predomi-
nante UNIDADE V
60 Modelos de Ensino das Lutas Por Meio da Tática FISIOLOGIA E PERFIL DAS MODALIDADES ESPORTIVAS
64 Organização e Trato Pedagógico das Lutas DE COMBATE

68 Considerações finais 144 Duração de Luta em Esportes de Combate


72 Referências 150 Categorias de Peso e Perda de Peso em Es-
portes de Combate
74 Gabarito
156 Estrutura Temporal nos Esportes de Combate
162 Perfil Antropométrico e Funcional de Atletas
UNIDADE III de Esportes de Combate
PLANEJAMENTO DE AULAS DE LUTAS
168 Respostas Fisiológicas e Perceptivas em Es-
80 Do Ensino Fundamental ao Ensino Médio portes de Combate
84 Ensino de Lutas no Ambiente não Escolar 173 Considerações finais
86 Abordagem de Temas Transversais por Meio 177 Referências
do Ensino de Lutas
183 Gabarito
94 Montando a Aula
100 Festivais e Competições 184 CONCLUSÃO GERAL
CONCEITOS E HISTÓRICO DAS LUTAS

Professor Dr. Victor Silveira Coswig

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Conceitos em lutas, artes marciais e esportes de combate
• Origem e desenvolvimento das lutas
• Histórico das lutas na perspectiva oriental
• Histórico das lutas na perspectiva ocidental
• As lutas no Brasil

Objetivos de Aprendizagem
• Conceituar Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas
de Combate.
• Indicar panorama histórico-cultural das Lutas e seu papel
na sociedade.
• Apresentar a evolução das lutas no oriente.
• Apresentar a evolução das lutas no ocidente.
• Apresentar a evolução das lutas no Brasil.
unidade

I
INTRODUÇÃO

Olá, seja bem-vindo(a)!


Esta unidade se inicia com uma breve contextualização acerca da
terminologia que define as práticas corporais de combate como Luta,
Arte Marcial ou Modalidade Esportiva de Combate. De modo adicio-
nal, faremos uma diferenciação entre estes termos e outros que, errone-
amente, também são associados às lutas, que são as brigas e guerras. É
fato, inclusive, que ainda hoje muitas pessoas desencorajam seus filhos
ou a si próprios da prática de Lutas por acreditarem que é um modo
de incitar a violência. Esta é uma associação infeliz, já que a prática de
Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate pode, na
verdade, ser uma ferramenta importante para auxiliar na redução da
violência (OLIVIER, 2000).
Mas de onde surgem os combates? Os homens das cavernas lutavam?
Qual a importância disso para a evolução humana e a construção da so-
ciedade? Existem diferenças entre regiões? E, no Brasil, existe relação en-
tre Lutas e a nossa cultura? Nesta unidade, você será convidado a viajar
dos primórdios da existência humana até os dia atuais e acompanhar a
evolução das práticas corporais e sua associação à construção cultural de
cada sociedade ao longo dos séculos. Para tentar responder a todas estas
perguntas, vamos iniciar entendendo de que modo a presença de rituais
de luta podem ter diferenciado os primeiros Homo Sapiens de outros hu-
manos primitivos e contribuído para que estes prosperassem e conquis-
tassem a Ásia e a Europa após a saída da África (MORENO, 2011). Saindo
da pré-história para a história, temos uma dissociação entre as práticas
orientais e ocidentais que podem ser percebidas ainda hoje, de acordo
com os modelos de ensino utilizados (DEL VECCHIO; FRANCHINI,
2006). Por fim, você será apresentado às práticas de lutas genuinamente
brasileiras, como a Capoeira, o Huka-Huka e a Agarrada Marajoara, que
são expressões culturais fortemente regionalizadas.
LUTAS

Conceitos em Lutas, Artes Marciais e


Esportes de Combate
Caro(a) aluno(a), você, possivelmente, já utilizou e em seu desenvolvimento (MORENO, 2011; MOR-
os termos “Lutas”, “Artes Marciais” e “Modalida- GAN; CARRIER, 2013). É fato que, atualmente, a
des Esportivas de Combate” como sinônimos. É premissa de lutar não se relaciona diretamente com
verdade que até mesmo as recomendações de utili- sua origem, que era decorrente de fatores associados
zação de termos para aumento da visibilidade dos à sobrevivência, como conquista/manutenção de ter-
artigos científicos relacionados à temática sugerem ritórios, alimentação e reprodução (PAIVA, 2015).
que estes (e outros) podem ser utilizados sem dis- Neste sentido, parece ser indicado que a compreen-
criminação (PÉREZ-GUTIÉRREZ; GUTIÉRREZ- são do termo “Luta”, no contexto da Educação Física
-GARCÍA; ESCOBAR-MOLINA, 2011). Por outro (diferente da aplicação em outros contextos sociais,
lado, é importante que você perceba que estas ter- como a luta de classes, por exemplo), está associada
minologias apresentam noções e contextos diver- a um conteúdo da cultura corporal, juntamente com
sificados (CORREIA; FRANCHINI, 2010) e que a o jogo, esporte, ginástica e dança (BRASIL, 1997).
falta de clareza nestas definições pode dificultar a Apesar de reconhecer as limitações quanto às defi-
fundamentação teórica para as práticas pedagógicas nições absolutas de Lutas, Artes Marciais e Esportes
(FRANCHINI, 1998). de Combate, convido você a conhecer as propostas
O ato de lutar, patrimônio cultural da humani- mais sugeridas atualmente para tais conceitos, mas
dade (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006), está reforço que se trata de uma proposta que visa facili-
presente em registros pré-históricos e parece ter tido tar didática e pedagogicamente o seu entendimento
papel fundamental na evolução da espécie humana sobre a temática.

14
EDUCAÇÃO FÍSICA

MODALIDADES ESPORTIVAS DE COMBATE

São lutas que têm como base as Artes Marciais, mas


que foram “esportivizadas” (CORREIA; FRANCHI-
ARTES MARCIAIS NI, 2010; DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006;
PAIVA, 2015). Este termo refere-se ao fato que ca-
Fortemente associadas à cultura de um povo/nação, racterísticas inerentes ao esporte foram inseridas, ao
esta manifestação das Lutas se remete às práticas de passo que o plano de fundo espiritual, social, religio-
guerra. Este fato reforça a utilização da nomenclatu- so e/ou ritualístico acabou por ser reduzido (PAI-
ra “Marcial” que deriva de “Marte”, deus romano da VA, 2015). Neste processo, você pode identificar
guerra; enquanto o termo “Arte” remete a demandas características específicas desta “esportivização” que
expressivas, lúdicas e criativas (CORREIA; FRAN- envolvem a prática regrada a partir do controle por
CHINI, 2010). Neste sentido, entende-se que, apesar entidades institucionais que regulamentam a práti-
da forte associação das Artes Marciais ao processo ca (associações, federações e confederações) e que
militarista e bélico, suas possibilidades transcendem regem competições, premiações e rankings (DEL
a este contexto, o que indica que estas práticas rece- VECCHIO; FRANCHINI, 2006). Percebe-se, ainda,
bem relevante influência étnica/cultural e abrangem que, diferentemente das Artes Marciais, existe espa-
concepções físicas, espirituais e sociais (CORREIA; ço delimitado e adequado, gestos/golpes permitidos
FRANCHINI, 2010; DEL VECCHIO; FRANCHI- e proibidos e pontuações, além de equipamentos de
NI, 2006; PAIVA, 2015). Esta ideia parece ser mais proteção, já que existe importante preocupação com
facilmente percebida quando estudamos a origem a integridade física dos praticantes. São exemplos de
das Artes Marciais e sua abordagem filosófica de Modalidades Esportivas de Combate aquelas Olím-
base oriental, derivada essencialmente do budismo, picas que são o boxe, a luta olímpica, a esgrima, o
que valoriza a trajetória do lutador, popularmente judô, o taekwondo e o karatê (que estará nos jogos
conhecido como “caminho do guerreiro” (REID; de 2020) e as não Olímpicas como, o Jiu-Jitsu brasi-
CROUCHER, 2003). Este tema será aprofundado leiro, o Sambô, o Muay-Thai e o Mixed Martial Arts
nos Tópicos 2 e 3. (MMA- Artes Marciais Misturadas).

15
LUTAS

REFLITA

Quais são as características observáveis que


diferem entre lutas e brigas?

LUTAS GUERRAS E BRIGAS

Além do contexto geral de se referir às práticas cor- Infelizmente, é preciso reconhecer que, talvez, você
porais de combate genericamente como “Lutas”, se- já tenha utilizado os termos que dão título a este tó-
jam elas Artes Marciais ou esportivas, podemos ter pico como sinônimos de Lutas. Digo infelizmente,
uma interpretação mais específica e que remete dire- pois esta associação, por muitas vezes, acaba por
tamente às práticas pedagógicas que serão aprofun- afastar e distanciar da prática de lutas quem acredi-
dadas na Unidade II. Essa classificação diz respeito ta que Artes Marciais ou Modalidades de Combate
à interpretação de que as lutas fazem parte dos jogos apresentam relação direta com o ato de brigar ou
categorizados como de oposição (Agon) (CALLOIS, guerrear. Se você considerar que guerras envolvem
2001), que apresenta como características básicas oposição direta entre nações ou comunidades, uti-
como ter por alvo o próprio adversário, ser pratica- lização de tecnologia ilimitada e meios de destrui-
dos por duas ou mais pessoas e apresentar ataque e ção em massa com objetivo territorial, econômico/
defesa simultâneos (DEL VECCHIO; FRANCHINI, financeiro ou ideológico pode facilmente associar
2006; PAIVA, 2015). É possível, ainda, encontrar ao termo Arte Marcial mencionado anteriormente.
menções com os termos jogos de combate ou brin- Não obstante, as brigas podem ser caracterizadas
cadeiras de luta. pela oposição direta, entre duas ou mais pessoas,

16
EDUCAÇÃO FÍSICA

que, se não fosse a ausência de regras, a não ser as in- SAIBA MAIS
trínsecas ao próprio indivíduo, poderia ser associa-
da às modalidades esportivas de combate. Por outro Atualmente, é possível que você, especial-
lado, apesar de as diferenças terminológicas serem mente por ser estudante de Educação Física,
relativamente pequenas, o contexto sócio-histórico- esteja familiarizado(a) com manifestações de
Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esporti-
-cultural é oposto. Por exemplo, enquanto as brigas vas de Combate que vão além das definições
são geradas e guiadas por sentimentos de aversão, apresentadas. Um exemplo é a utilização de
repúdio e/ou ódio, as modalidades de combate de- gestos motores das Lutas para atender ob-
jetivos relacionados à aptidão física e saúde,
vem seguir o espírito esportivo, ou seja, o indivíduo que estão presentes em academias e clubes.
praticante respeita e precisa do seu adversário, já E estas se apresentam em aulas de ginástica
que, sem ele, não há prática. (Body CombatTM, Fitboxing...) ou em protocolos
de HIIT (exercícios intermitente de alta inten-
sidade) e, de fato, parecem ser uma estraté-
gia interessante para aumentar a adesão, a
motivação, a aptidão física e o gasto calórico,
inclusive em idosos.

Fonte: Cheema et al. (2015).

Agora você já sabe diferenciar Lutas, Artes Marciais


e Esportes de Combate e, deste modo, começar a re-
fletir sobre quais destas práticas podem ser aborda-
das nas aulas de Educação Física, academia, clubes,
entro outros espaços, bem como já pode entender
que possibilidades de aplicação cada uma destas ma-
nifestações das práticas corporais de combate tem
nos diversos contextos.

17
LUTAS

Origem e Desenvolvimento
das Lutas
Neste ponto, você já foi apresentado às diferenças Conforme anteriormente mencionado de modo
terminológicas entre Lutas, Artes Marciais e Moda- breve, o ato de lutar faz parte da história dos seres
lidades Esportivas de Combate. Daqui em diante, humanos e de outros grandes primatas. Imagine que
o termo “Lutas” será utilizado de modo genérico você vive na pré-história em um ambiente altamente
neste e nos próximos tópicos, de modo que aborde hostil, no qual sua principal preocupação envolve a
as diferentes manifestações deste fenômeno cul- sua sobrevivência e a de sua espécie. Neste ambiente
tural, social e esportivo. Mas de onde se originam primitivo, guiado principalmente pela necessidade
as Lutas? Os homens das cavernas lutavam? E de de se alimentar e se defender de outros agressores,
que modo estas práticas corporais evoluíram até o escolher não lutar parece não ser uma opção. Porém,
ponto como conhecemos hoje? Neste tópico, estu- além disso, o ato de lutar já era associado à conquis-
daremos questões sobre a origem e evolução das ta de poder, seja pela conquista de território ou para
perspectivas relacionadas às Lutas. disputas relacionadas à dominação sexual de parcei-
ros para acasalamento (PAIVA, 2015).

18
EDUCAÇÃO FÍSICA

REFLITA

O ato de lutar acompanha a evolução dos


seres humanos desde a pré-história. Por isso
você pode ir além dos gestos motores e re-
lacionar as práticas de luta ao seu contexto
sócio-histórico-cultural.

Mas estas lutas se limitavam a expressões irracionais Este estudo indica que há uma relação forte entre
e instintivas de sobrevivência e conquistas? Parece aspectos herdados geneticamente e os aspectos cul-
que não. Em um estudo importante, Moreno (2011) turalmente construídos ao longo da evolução da es-
busca entender o papel das lutas na sociedade primi- pécie humana. Então isso significa que o ato de lutar
tiva de Homo Sapiens que migrou da África para po- foi passado geneticamente entre gerações? Não ne-
voar a Europa e a Ásia há, aproximadamente, 80.000 cessariamente. Na verdade, indica que as constru-
anos. Por meio de análises genéticas, etnográficas e ções culturais ao longo da história apresentam uma
arqueológicas, os resultados indicam que os homi- força hereditária quase tão forte quanto os fatores
nídeos do período que prosperaram conquistando genéticos (PAIVA, 2015).
outros continentes eram agressivos, resolviam con- Porém, a partir disso, de que modo as Lutas evo-
flitos com assassinatos e praticavam rituais de lutas, luem? E qual seu papel nas sociedades que se for-
que poderiam envolver atividades simples associa- mam ao longo da história? Estas práticas de luta que
das à música e dança ou mais complexas, como trei- inicialmente estavam relacionadas especialmente ao
namentos de guerreiros para futuros conflitos entre sacrifício (oferendas aos deuses) ou ao ciclo de vida
tribos ou sacrifícios ofertados aos deuses. Por outro do guerreiro (transição para fase adulta) passam a ser
lado, as tribos que não apresentavam estes compor- praticadas em tempos de paz, como forma de prepa-
tamentos acabaram extintas. De modo adicional, te- ração física e técnica para os combates que viriam.
oriza-se que os hominídeos que povoavam a Europa Este fato, acredita-se, acaba por originar as Artes
e a Ásia neste mesmo período (Homo Neandertha- Marciais ao longo da história (POLIAKOFF, 1987).
lensis e Homo Erectus, respectivamente) acabaram Curiosamente, a prática de combates para transição
sendo substituídos por estas tribos. O status de tribo do jovem para o adulto permanece em diferentes so-
guerreira foi, portanto, relacionado à prosperidade ciedades ao longo dos séculos e, até mesmo, atual-
destes grupos de 1000 a 1500 indivíduos caçadores- mente. No Brasil, a prática é presente na cultura dos
-coletores, enquanto tribos que preferiam se deslo- povos indígenas do Alto Xingu, por meio do Huka-
car para evitar conflitos não evoluíram. -Huka (CURBY; JOMAND, 2015), que será melhor
abordado à frente, ainda nesta unidade.

19
LUTAS

De modo paralelo, o avanço destes rituais de


lutas evoluem tanto de modo bélico e militar, con-
forme estudamos a caracterização das Artes Mar-
ciais, quanto de modo cultural e social, ganhando
características que podem ser fortemente associa-
das aos jogos com regras que se transformam em
espetáculo, inclusive estando presentes nos Jogos
olímpicos da Antiguidade (PAIVA, 2015). Parece,
ainda, haver uma relação inversa quando as prá-
ticas militarizadas de combate corporal perdem
relevância com a inserção de avanços tecnológicos
nos campos de batalha, que se inicia com o avanço
armamentista e de tecnologias de guerra que são
seguidos pela invenção da pólvora.

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

SAIBA MAIS

Além da evolução cultural


apresentada, existem in-
dícios que apontam que a
morfologia humana também
sofreu adaptações associa-
das aos combates corpo-
rais. Análises biomecânicas
a anatômicas mostram que
o ato de “cerrar os punhos”
ou simplesmente fechar as
mãos para socar pode ser
uma adaptação que pro-
porciona maior impacto no
alvo e maior segurança para
o punho durante os golpes
quando comparados aos
gestos executados com as
mãos abertas. Este “encaixe”
na estrutura das mãos não
é visto em outros primatas,
o que pode ter influenciado
na seleção natural entre ho-
minídeos.

Fonte: Morgan e Carrier (2013).

Neste tópico, estudamos a origem e


a evolução das lutas. Acredito que
você tenha percebido que o ato de
lutar contribuiu de diversas formas
para a evolução humana. Ainda,
fica evidente que, para entender a
sociedade atual, é preciso aprofun-
dar o entendimento sobre compo-
nentes de sua estrutura histórica
e cultural, sendo que, para isso, é
preciso estudar os fenômenos rela-
cionados às práticas de combate em
suas diversas manifestações.

21
LUTAS

Histórico das Lutas


na Perspectiva Oriental
No tópico anterior, você pôde acompanhar o a refletir sobre como as características diferentes
modo como as Lutas estão enraizadas na cultura influenciaram a construção técnica e filosófica das
e na evolução humana. De modo geral, foi apre- Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de
sentada uma perspectiva de como estas práticas Combate e como estas características moldaram
evoluíram ao longo da história e ainda carregam os sistemas de ensino sob cada ótica.
marcas primitivas nos dias de hoje. Neste e no No tópico anterior, você pôde acompanhar o
próximo tópico, convido você a estudar, de modo papel do ato de lutas na evolução dos seres huma-
mais específico, como as lutas se desenvolveram nos durante a pré-história. Daí em diante, indi-
de modo diferente de acordo com as caracterís- ca-se que, desde a transição da pré-história, para
ticas dos povos orientais e ocidentais, respecti- o que chamamos de história (após a invenção da
vamente, até as modalidades esportivas que co- escrita em aprox. 4000 a.C), existem indícios de
nhecemos. Em cada tópico, você será convidado homens lutando, como as descrições encontradas

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EDUCAÇÃO FÍSICA

em um túmulo em Beni Hasan, datado do século senvolvimento das Artes Marciais deste ponto em
20 a.C. Até mesmo antes disso, placas encontradas diante (REID; CROUCHER, 2003). A partir deste
em escavações na Antiga Mesopotâmia (3500 a.C) momento, as Artes Marciais chinesas se dissemi-
indicavam a prática de modalidades de lutas com nam pela Ásia, chegando à Coréia e ao Japão, entre
socos (MURRAY, 2008). Neste sentido, a Índia e outros países. Novamente, é pouco provável que
o Egito antigos apresentam aprimoramento nas estes países já não tivessem suas próprias Artes
práticas corporais de combate e parece que, ainda Marciais, porém, a influência chinesa parece indu-
na antiguidade, a China passa a receber maiores zir de modo importante no avanço destas práticas.
influências das práticas do sul da Ásia enquanto De qualquer modo, ao avançar da história, esta co-
que os impérios grego e, posteriormente, o roma- nexão entre espiritualidade e prática corporal de
no acabam por ter maiores influências egípcias combate permanece.
(POLIAKOFF, 1987; REID; CROUCHER, 2003). Apesar de esta contextualização histórica se
Essas influências geram diferenças entre estas fazer necessária como base para as próximas re-
abordagens orientais (Asiática) e ocidentais (Eu- flexões, este não é o objetivo central deste tópico.
ropeia e Norte Americana) que permanecem até o Então vamos a ele. Conhecendo esta perspectiva
presente momento. de origem oriental e o desenvolvimento das Ar-
Na perspectiva oriental, um ponto marcante tes Marciais, você consegue perceber como isso
parece ter sido a chegada de um monge indiano influenciou o modo como estas práticas são en-
à China, em 520 d.C. Bodhidharma é conhecido sinadas ainda nos dias de hoje e os componentes
por alguns como padroeiro das Artes Marciais que ainda permanecem? Mesmo após a “esportivi-
orientais e seria criador do estilo de luta Shaolin e zação” que viria posteriormente, elementos essen-
do Budismo Zen. De modo resumido, as práticas ciais estão presentes no ensino de lutas orientais
corporais foram introduzidas por ele no contex- em todo mundo. Você pode constatar isso ao ana-
to do monastério com objetivo de condicionar os lisar modalidades que apresentam indumentária
monges que permaneciam por longos períodos em específica de caráter oriental, nas quais o profes-
meditação (REID; CROUCHER, 2003). Por outro sor utiliza contagem em idiomas, como coreano,
lado, existem relatos chineses anteriores (200 d.C) japonês ou chinês. Nestas práticas, o Sensei (pro-
que já indicavam a presença de exercícios de luta fessor ou mestre em Japonês) não se trata apenas
baseados em movimentos de animais, como o ti- de alguém que passa técnicas e golpes aos seus alu-
gre, o urso e o macaco e outros relatos de práticas nos, mas é aquele indivíduo que se mantem acima
de Wushu (popularmente conhecido por Kung-Fu) hierarquicamente, responsável por ensinar valo-
que datariam de 5000 anos atrás. Independente- res, como relacionamento, a fraternidade, a dis-
mente de você acreditar na lenda de Bodhidharma ciplina, o civismo e o respeito (VIRGÍLO, 2000).
ou não, é da elevada probabilidade de a China já Este modelo é baseado no Sistema Iemoto (Mestre
apresentar suas próprias práticas de lutas à época, proprietário) que é caracterizado por Franchini,
é inegável a influência do Templo Shaolin no de- Emerson e Del Vecchio (2007):

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LUTAS

• Relação professor-aluno de pura submissão,


na qual o professor é detentor de todo co-
nhecimento e não deve ser questionado. Ao
aluno também não é permitido trocar de pro-
fessor/equipe.
• Hierarquia contínua, que permite que o alu-
no que permanece tempo suficiente e progri-
de de graduações tenha seus próprios alunos,
mas sempre sob a tutela de seu “mestre”.
• Autoridade do Iemoto, que indica que o mes-
tre mais graduado é responsável por toda a
organização e do licenciamento dos futuros
mestres, gerindo as graduações superiores.
• Relação pseudoconexão, que se refere ao fato
de se procurar manter a relação dos dirigen-
tes das associações sob tutela de descendentes
identificáveis do criado original. Apesar dos esforços para manutenção deste modelo
organizacional, é possível identificar que sua aplica-
REFLITA ção em espaços de ensino formais e não-formais nos
dias de hoje apresenta problemas. Estes problemas e
Você percebe que um dos motivos que difi- as sugestões alternativas de sistemas de ensino serão
cultam a inserção das lutas no ensino escolar abordadas de modo mais profundo na Unidade II.
pode estar associado ao fato de que somos Porém, cabe adiantar que as sugestões para o ensino,
condicionados a pensar as lutas de modo se-
melhante ao Sistema Iemoto? em especial de crianças, perpassam por práticas mais
reflexivas e inclusivas, que busquem o desenvolvi-
mento crítico e o empoderamento do praticante (DEL
VECCHIO; FRANCHINI, 2006; ROGERIO, 2008).
Atualmente, oriundas desta vertente, algumas
modalidades recebem certo destaque em sua po-
pularidade. Dentre as chinesas estão o Wushu, o
Kempô, o Tai chi chuan e o Sanshou. Enquanto das
japonesas destacam-se o Sumô, o Kendô, o Aikidô,
o Caratê, o Jiu-Jitsu tradicional (ou Internacional)
e o Judô. Já entre as coreanas destacam-se o Hapki-
dô e o Taekwondo. Por fim, apresenta-se, também,
o Muay-Thai como representante da Tailândia. Vale
destacar que destas o Judô e o Taekwondo fazem
parte dos jogos Olímpicos da era moderna, sendo
que o Caratê será inserido no quadro de 2020.

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EDUCAÇÃO FÍSICA

SAIBA MAIS

Já mencionei anteriormente que o termo “Ar-


tes Marciais” pode ser traduzido por Arte da
Guerra e tem origem ocidental. No contex-
to oriental, outros termos com significado
semelhante recebem destaque como, por
exemplo, o Wushu, na China, e o Bujutsu, no
Japão. Atualmente, o termo mais frequente
no Japão é o Budô, que associa a filosofia do Neste tópico, você foi levado a refletir sobre o de-
budismo e recebe um caráter mais voltado ao
processo de formação, podendo ser traduzido senvolvimento das lutas na perspectiva oriental,
como “Caminho ou via marcial”. Lembre-se, que apresenta, ainda hoje, forte ligação com fato-
ainda, que o termo Kung Fu, popularmente res tradicionais e com um sistema de ensino rígi-
utilizado no ocidente, significa “trabalho duro”
ou aquilo que é conquistado com esforço, do e autoritário. Por outro lado, percebe, também,
não sendo limitado apenas às lutas, o termo que existe uma preocupação voltada não apenas
adequado para relacionar ao que envolve pela aquisição de proficiência nos gestos e golpes,
combates, portanto, é o Wushu.
mas também pelo caminho a ser percorrido para
Fonte: adaptado de Paiva (2015). se tornar guerreiro (Budô) e a valores de cunho
comportamental e social.

25
LUTAS

Histórico das Lutas


na Perspectiva Ocidental
Caro(a) aluno(a) depois de viajar pelo tempo, dos LIAKOFF, 1987). Mesmo com uma caracterização
primórdios aos dias atuais a partir da ótica das Lu- que remete ao que hoje conhecemos como Esporte,
tas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de as práticas na Grécia Antiga apresentavam elevado
Combate, estudamos, no tópico anterior, o modo teor religioso, ou seja, inicialmente, competir era, na
como as lutas se desenvolveram pelas influências ad- verdade, um modo de prover oferendas aos deuses,
vindas, principalmente, do sul da Ásia. Neste tópico, em especial a Zeus (PAPANTONIOU, 2008). Digo
vamos usar uma abordagem semelhante, inicialmente, pois acaba sendo crescen-
mas agora seguindo em direção à te o ato de competir pela glória de
Europa e, posteriormente, a vencer em si, conquistada pela
América do Norte. nobreza das competições.
Conforme mencio- Uma luta de boxe
nei anteriormente, as na Grécia Antiga não
vertentes grega e ro- apresentava catego-
mana acabam por rias de peso ou rou-
influenciar mais for- nds e o objetivo era
temente o desenvol- golpear o adversário
vimento de práticas até que este fosse
de combate na Eu- a knockout ou de-
ropa (POLIAKOFF, sistisse levantando
1987). Ainda na Idade um dedo (MURRAY,
Antiga, que se estende 2008). Vestindo apenas
até a queda do império ro- as luvas, aos lutadores não
mano, a luta grega recebe forte era permitido morder, agarrar
influência do Wrestling (aqui sinô- ou arranhar (POLIAKOFF, 1987),
nimo de luta) egípcio. Na Grécia, ainda ao passo que a permissão de chutes ain-
no século 8 a.C., iniciam-se os Jogos Olímpicos da da é discutida pelos historiadores (MURRAY, 2008).
Antiguidade que, dentre outras modalidades, conti- Estas práticas avançam na história e parecem ficar
nham o boxe, a luta (Wrestling) e uma modalidade ainda mais violentas quando praticadas na Roma
chamada Pankration, que apresentava características Antiga, momento no qual é inserido o Caestus, uma
de agarre e de impacto, de modo semelhante ao Mi- espécie de luvas com componentes de metal que au-
xed Martial Arts (MMA, Artes Marciais Misturadas) mentam substancialmente a brutalidade das lutas
que conhecemos hoje (PAPANTONIOU, 2008; PO- (MURRAY, 2008; PEATFIELD, 2007).

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EDUCAÇÃO FÍSICA

edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna e já nes-


ta edição estão presentes a Luta e a Esgrima. Nos Jo-
gos de Atenas, em 1908, é inserido o boxe no progra-
ma olímpico. Deste ponto em diante, após o fim da II
Guerra Mundial, ocorre uma interação maior entre
Oriente e Ocidente, e o Judô (1972) e o Taekwondo
(2000) são inseridos como modalidades olímpicas.

Ao avançar da história no século 2 a.C. ocorre, em Novamente reforço que essa contextualização his-
Roma, o primeiro combate documentado entre gla- tórica é importante para que possamos entender
diadores, prática que atingiria seu auge com a inau- algumas diferenças relevantes quanto à evolução
guração do Coliseu em meados de 72 d.C. e per- das Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esporti-
maneceria em alta por mais 300 anos. As técnicas vas de Combate. No entanto, conforme falamos no
e armas de combate seguem a evoluir e as práticas tópico anterior, a sua dúvida, neste ponto, prova-
europeias de lutas ganham um caráter ainda mais velmente tem algo a ver com: mas de que modo
esportivo, inicialmente com os cavaleiros durante a estas práticas ocidentais se diferenciam das orien-
era medieval e depois com o pugilismo na Inglaterra tais? De que modo o modelo de ensino se apresen-
(entre 1000 e 1800 d.C.). Em 1896, ocorre a primeira ta neste contexto?

27
LUTAS

REFLITA
Bom, enquanto no modelo Oriental o Sistema
predominante era o Iemoto, no qual o professor
(Sensei) era detentor do conhecimento que ia além Independentemente da sociedade, geografia
ou data, os seres humanos lutam desde sua
da prática corporal e avançava para fatores filosó-
origem, seja por fins bélicos, status social,
ficos; no modelo Ocidental, as características são poder, estética, aptidão física, religião ou por
diferentes. O professor não precisava (e ainda não fins espirituais.
precisa) ser, necessariamente, alguém que passou
por um processo de graduação e atravessou um
mar de hierarquias e graduações. Também não Nestes dois últimos tópicos, vimos que, apesar das
precisava dominar a arte da meditação e este não diferentes perspectivas de evolução das Lutas, Ar-
tem, necessariamente, poder sobre o aluno sub- tes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate,
misso. O “Professor” das modalidades da Grécia seja no ocidente ou no oriente, os modelos de ensi-
Antiga, por exemplo, era chamado do “Paidotri- no parecem não atender às demandas pedagógicas
bo” e normalmente era um ex-campeão que pas- atualmente sugeridas. Na próxima unidade, discu-
sava adiante seus conhecimentos sobre as técnicas tiremos, de modo mais aprofundado, as consequ-
das modalidades, somado a algumas noções de ências disso e as alternativas para o ensino das lutas
terapias e medicina (DEL VECCHIO; FRANCHI- em diferentes contextos.
NI, 2006; POLIAKOFF, 1987). Mais uma vez, a
participação do aluno é nada reflexiva, é coadju-
vante e se limita à imitação dos gestos executados
pelo indivíduo mais experiente (DEL VECCHIO;
FRANCHINI, 2006).

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EDUCAÇÃO FÍSICA

29
LUTAS

As Lutas no Brasil
Agora que você já teve um panorama internacional mente, por ter acompanhado os tópicos anterio-
da origem e da evolução das Lutas, Artes Marciais res, você sabe que, de algum modo, as Lutas que
e Esportes de Combate, faz-se necessário conhecer se originaram no Brasil apresentam influências de
algumas características destas práticas corporais as- civilizações anteriores, já que a prática de combates
sociadas à cultura brasileira. corporais é constante em toda história da humani-
Você já se perguntou se existem Lutas original- dade. Mas existem práticas que sofreram influência
mente brasileiras? Se sim, é possível que a Capo- local a ponto de terem sido “naturalizadas” brasi-
eira tenha vindo à sua mente. Mas você sabia que leiras? A resposta é sim. E o objetivo deste tópico
existem outras modalidades que podem ser consi- será abordar estas modalidades e sua relação com
deradas como tendo sua origem por aqui? Obvia- a nossa cultura.

30
EDUCAÇÃO FÍSICA

Mesmo após a abolição da escravatura, em 1888,


REFLITA
os capoeiristas seguiram sendo marginalizados e
perseguidos, o que chegou ao ponto de gerar proibi-
Você, professor/profissional de Educação Físi- ção por lei com pena de 2 a 6 meses de prisão a quem
ca, pode utilizar estas modalidades de modo
interdisciplinar e contribuir para contar a his- fosse visto fazendo “capoeiragens”. Esta proibição só
tória do Brasil por meio da perspectiva das seria revista na década de 30, com a liberação da
práticas corporais de combate. prática vigiada e em locais fechados que tivessem
alvará. Inicialmente classificada como “Arte Marcial
Brasileira” pela sua proximidade com golpes de mo-
CAPOEIRA dalidades asiáticas com predominância de utilização
dos membros inferiores, atualmente (desde 1972) a
A Capoeira está fortemente associada à cultura e capoeira pode ser entendida (também) como mo-
à história afro-brasileira. Em uma época na qual dalidade esportiva de combate, por atender aos pre-
a escravidão e o tráfico de pessoas eram permiti- ceitos que você conheceu no início desta unidade
dos, negros trazidos da África eram submetidos ao (FRIGEIRO, 1989; SENNA, 1980). Para além disso,
trabalho árduo de sol a sol, com sessões de tortura você, na posição de docente, pode abordar a Capo-
frequente a base de chicotadas (entre outras estra- eira em sua expressão mais ampla, que não se limita
tégias de tortura) e alimentação limitada. Um dos ao esporte, mas que avança para fatores culturais e
objetivos dessas ações pelo regime escravocrata folclóricos que envolvem a dança, a música, a arte,
era de limitar o potencial de rebelião destes escra- a religião e, em especial, a luta entre classes sociais.
vos. Sem armas ou qualquer outro meio de defesa,
em um determinado momento, grupos de negros
escravizados passam a praticar uma modalidade
de luta baseada em movimentos de animais e em
práticas de luta africana. Inicialmente praticada às
escondidas, já que havia tortura adicional quando
a prática era percebida. Elementos de jogos, brin-
cadeira e dança (outros componentes da cultura
do movimento humano) foram adicionados, a fim
de mascarar em forma de ritual o que se tratava
de uma prática de aprimoramento técnico e físico.
Neste ponto, o Berimbau, instrumento característi-
co que dá ritmo à Capoeira, torna-se ponto chave,
visto que, dependendo do modo como era tocado,
indicava se a prática deveria ser “suavizada” ou se
podia seguir sem limitações (FRIGEIRO, 1989;
SENNA, 1980).

31
LUTAS

HUKA-HUKA

A luta Huka-Huka é de origem indígena, de modo tornar líderes ou grandes campeões passam por uma
mais específico, é praticada pelos índios do Alto preparação específica que envolve alimentação espe-
Xingu, localizado no estado do Mato Grosso. A cial, ensinamentos dos mais velhos, treinamentos in-
modalidade de agarre tem por objetivo projetar o tensos e diários, além de longos períodos de reclusão
oponente ao solo, sendo vencedor, ainda, o lutador (chegando a 6 anos) e o adiamento do início da vida se-
que agarrar a região posterior da coxa do adversário, xual até que este se torne um grande lutador (MADEI-
levantá-lo do solo ou ficar sobre suas costas. Além RA, 2006; PAIVA, 2015). A relação destas práticas com
das competições, o Huka-Huka faz parte do Quarup o passado da tribo e com a espiritualidade associada
(ritual de homenagens a mortos ilustres), encerran- aos seus deuses parece remeter ao que foi visto junto
do o ritual (GUERREIRO, 2015). aos primórdios do início das práticas de luta, apesar de
Infelizmente, as informações científicas sobre a que, atualmente, a modalidade ganha características
modalidade são escassas, mesmo assim gostaria de esportivas, mas tem por objetivo manter viva a memó-
propor uma reflexão sobre o significado da prática do ria dos ancestrais e dos tempos de guerra, mantendo,
Huka-Huka para estas tribos. Jovens que objetivam se ainda, os indivíduos em constante preparação.

32
EDUCAÇÃO FÍSICA

AGARRADA MARAJOARA

A Agarrada Marajoara é uma modalidade de com- SAIBA MAIS


bate típica da região norte do Brasil, de modo mais
específico no arquipélago do Marajó, no Estado do
Pará. Com elementos semelhantes ao Huka-Huka, a O Brasil ainda apresenta um papel impor-
Agarrada Marajoara é, também, uma luta de agarre, tante no desenvolvimento de outras mo-
dalidades de combate, a exemplo do Jiu-
em que o objetivo é sujar as costas do oponente ao -Jitsu que se tornou Brazilian Jiu-Jitsu ao
promover contato com o solo. Teoriza-se que a ori- ser adaptado pela família Gracie e recebe,
gem da modalidade tem ligação com a observação hoje, popularidade internacional reconhe-
cida como modalidade brasileira. Por outro
do modo como os búfalos da região lutavam. lado, diferentemente das três modalidades
A prática apresenta relação altamente íntima a estudadas neste tópico, o Brazilian Jiu-Jitsu
outros elementos culturais do local, sendo praticada, carrega, ainda, uma identidade cultural for-
temente oriental, que pode ser vista pela
em sua maioria (98%), pelo homem do campo ma- indumentária de prática (Gi ou Kimono) e
rajoara, em geral vaqueiros que declaram recorrer pelos termos frequentemente utilizados em
a santos protetores, o que denota a conexão entre a idioma japonês, como a expressão “Oss”
que significa “perseverança sob pressão” e
prática desportiva com fatores religiosos e espiritu- frequentemente é utilizada como sinônimo
ais (ASSIS; PINTO; SANTOS, 2017). A prática ain- de “sim senhor”.
da se mostra tão fortemente ligada ao cotidiano do Fonte: Gracie (2008).
povo local que, além da prática de treinamento para
os eventos competitivos institucionalizados, os indi-
víduos chamados “caboclos” utilizavam-na ao final
do dia para aquecer o corpo antes do banho. Eles Seja Capoeira, Huka-Huka ou Agarrada Marajoara,
declaram, ainda, que a prática foi criada localmente fica evidente que essas modalidades de combate fa-
em função do ambiente de luta e reconhecem como zem parte da identidade cultural brasileira de modo
elemento cultural da região, juntamente a outros muito particular. Deste modo, convido você a pen-
elementos conhecidos como as ervas medicinais, o sar a prática de lutas não apenas no aspecto técnico
artesanato e o Círio de Nazaré. e esportivo, mas ministrar aulas que relacionem os
conteúdos de modo a inserir os componentes sócio-
-culturais e propor reflexões que transcendam aos
fatores tecnicistas.

33
considerações finais

N
esta unidade, foi possível estudar o modo como surgem e evoluem
as lutas de modo associado à evolução humana, não só biológica,
mas, principalmente, como seres sociais. Além disso, você deve ser
capaz de entender a terminologia debatida e identificar as diferentes
expressões destas práticas de combate. Por outro lado, não existe necessidade real
de classificar uma prática específica como Luta, Arte Marcial ou Modalidade de
Combate, o que existe é a necessidade de contextualizar o que será abordado de
acordo com uma destas perspectivas.
É importante que você identifique, nos tópicos abordados, que as práticas
corporais de combate sempre estiveram presentes, desde a sociedade mais pri-
mitiva até a mais evoluída. Negar a relação da luta com nossa história parece
ser semelhante a reprimir instintos que são naturalmente humanos, o que, teo-
ricamente, poderia desencadear situações extremas que geram conflitos e brigas.
Ao contrário, vivenciar e conhecer o dano que pode ser causado e recebido em
embates corporais pode aumentar a capacidade do indivíduo de avaliar quando
entrar ou não em confronto.
Atualmente, as práticas de combate receberam uma conotação “esportivi-
zada”, mas você, sendo professor/profissional de Educação Física, não deve se
limitar aos Esportes de luta. Nesta unidade, você pôde perceber que Lutar apre-
senta relação com significados filosóficos, sociais e culturais que não devem ser
esquecidos. Evitar práticas pouco reflexivas e contextualizá-las pode aumentar o
interesse e o fascínio dos alunos. As estratégias para fazer isso serão apresentadas
ao longo da próxima unidade, mas já adianto que tematizar as aulas de lutas pode
ser uma escolha inteligente para estimular o componente lúdico e a fuga da rea-
lidade. Por fim, são apresentados elementos que permitem que você associe estes
conteúdos a outras disciplinas em uma abordagem interdisciplinar.

34
atividades de estudo

1. Os termos nominais para lutas são fundamentais b) Hierarquia inexistente, que permite que o
para aumento da visibilidade dos artigos científi- aluno permaneça tempo suficiente, progri-
cos relacionados à temática, sugerindo que estes da de graduações e tenha seus próprios
(e outros) podem ser utilizados sem discrimina- alunos, mas sem necessidade de tutela de
ção, como potencial especificação destas modali- seu “mestre”.
dades esportivas. Sobre terminologia aplicada às c) Autoridade do Iemoto, que indica que o
Lutas, assinale a alternativa correta. mestre mais graduado é responsável por
a) Estes termos são sinônimos. toda a organização e do licenciamento dos
futuros mestres, gerindo as graduações
b) Lutas não têm relação com fatores culturais. superiores.
c) Artes Marciais e guerras são sinônimos. d) Relação pseudoconexão, que se refere
d) Modalidades esportivas de combate e jogos ao fato de se procurar manter a relação
de oposição são sinônimos. dos dirigentes das associações sob tute-
la de descendentes identificáveis do cria-
e) Nenhuma das anteriores.
dor original.
2. A presença de rituais de luta podem ter diferencia-
4. As Lutas que se originaram no Brasil apresentam
do os primeiros Homo Sapiens de outros huma-
influências de civilizações anteriores, já que a práti-
nos primitivos e contribuído para que estes pros-
ca de combates corporais é constante em toda his-
perassem. Os primeiros relatos de expressões
tória da humanidade. No Brasil, três modalidades
corporais relacionadas às lutas remetem a:
recebem destaque, o Huka-Huka, a agarrada Mara-
a) Índia. joara e a Capoeira. Das modalidades citadas a se-
b) Grécia. guir, indique qual recebeu grande contribuição
a ponto de ser internacionalmente conhecida
c) África antiga.
brasileira.
d) China antiga.
a) Judô.
e) Egito antigo.
b) Boxe.
3. A histórica das lutas é muito importante para que c) Muay-Thai.
possamos entender algumas diferenças relevan-
d) Jiu-Jitsu.
tes quanto à evolução das diferentes modalida-
des que as envolve. Principalmente, os modelos e) Karatê.
metodológicos empregados. Assinale a alternativa
5. Nos dias atuais, as práticas de combate rece-
que não corresponde à característica do sistema
beram uma conotação “esportivizada”, o que
Iemoto:
não deve se limitar aos Esportes de luta e suas
a) Relação professor-aluno de pura submis- origens históricas. Indique as principais diferen-
são, na qual o professor é detentor de
ças que podem ser percebidas ainda hoje nas
todo conhecimento e não deve ser ques-
modalidades de combate, de acordo com sua
tionado. Ao aluno também não é permitido
origem oriental ou ocidental.
trocar de professor/equipe.

35
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia este trecho do artigo “Conceito dos tipos de lutas a partir de uma visão de cultura cor-
poral”, que reforça os conceitos abordados nesta unidade e apresenta as lutas folclóricas.

Lutas como Cultura Corporal e a Educação Física


Partindo de que os movimentos naturais do ser humano (andar, correr, saltar, trepar,
nadar, etc.) sejam inerentes ao ser humano pré-histórico, provavelmente, o primeiro
gesto abstraído, pensado, tenha sido aquele ligado a gestos de defesa ou de ataque.
Quando pensamos em lutas, não podemos deixar de citar as Artes Marciais. Entende-
mos por artes marciais as formas de lutas praticadas e guiadas por princípios religiosos
e/ou filosóficos. Também aquelas formas de lutas que tenham sido usadas compro-
vadamente em conflitos de guerra. Aqui se encaixam os exemplos de lutas orientais
indianas, chinesas, japonesas e coreanas.
Devemos salientar que, em algum momento, a maioria das modalidades tratadas a
seguir foram consideradas artes marciais, pois foram criadas para guerra, mas esta-
mos contextualizando a partir da atualidade, após sistematizações para se tornarem
esporte para possíveis práticas com cunho educacional e competitivo, sendo agregadas
regras para praticantes de todos os gêneros e faixa etária sem distinção. Assim, sua
caracterização é por maior predominância, atualmente, podendo ser categorizada em
uma classificação de luta.
Hoje, quando pensamos em ataque e defesa, caracterizamos da seguinte maneira. As
técnicas de ataque e defesa são formas abreviadas de Artes Marciais aplicadas de forma
prática por profissionais de segurança (agentes de segurança do metrô, seguranças
pessoais), formas de combate corpo-a-corpo desenvolvida por policiais militares e sol-
dados das forças armadas. Também são formas de técnicas de ataque e defesa as lutas
criadas para este fim. Exemplo disto é a luta israelense conhecida como Krav-maga.

36
LEITURA
COMPLEMENTAR

As lutas folclóricas e/ou culturais são aqui conceituadas por aqueles folguedos feitos por
uma cultura ou país com características de confronto, pertencente à tradição de deter-
minado país. Assim, poderíamos dizer que existe, para cada país, uma formas de luta
típica. Por exemplo: Damnyè ou Ladja da Martinica, no Caribe. O Many de Cuba. Cheibi
gad ga de Manipur na Índia, Chausson ou Savate francês, Escrima ou Arnis das Filipinas,
Krabi-krabong e Muay thai da Tailândia, Guresh da Turquia, Glima da Islândia, Pentjak silat
da Indonésia, Gouren Bretão e o Uka uka de índios no alto Xingu, entre outros.
Também podemos enquadrar como lutas folclóricas e culturais as brincadeiras infantis,
realizadas em forma de confronto. Enquadram-se, aqui, os desafios de cabo de guerra,
desafios de desequilíbrio, as brigas de galo, e outros, típicos dos conteúdos das aulas
de Educação Física infantil.
Algumas modalidades de lutas foram tão difundidas que acabaram se esportivizando.
Sendo assim, por esporte de combate entendemos as Artes Marciais que se tornaram
competitivas, tais como o Judô e o Taekwondô. Para se tornarem modalidades espor-
tivas, foi necessário minimizar de alguma maneira sua forma de execução tradicional,
criando-se regras para as competições.
Também podemos entender por esporte de combate as lutas historicamente feitas nos
Jogos Olímpicos, tais como boxe, luta olímpica e greco-romana. Estas últimas derivadas
do antigo Pankracio grego, luta realizada nos Jogos Olímpicos da antiguidade.
Ainda como esporte de combate entendemos como as lutas criadas para competição.
Exemplos são o Full Contact e o Kick boxing. O primeiro criado na década de 70 quando
caratecas americanos criaram regras específicas para competições desta modalidade.
Já o Kickboxing é uma junção de técnicas de chutes ao boxe tradicional.”

Fonte: Oliveira, Rodrigo e Suzuki (2009).

37
material complementar

Indicação para Ler

Olhar Clínico nas Lutas, Artes Marciais e Modalidades de Combate


Leandro Paiva
Editora: OMP
Sinopse: o livro Olhar Clínico nas Lutas é uma obra completa com informações
inéditas sobre o universo das Lutas e Artes Marciais. Pode ser compreendido em
duas partes macro. A primeira abrange a área de Preparação Física, Nutrição (per-
da de ‘peso’), Psicologia e Medicina Esportiva. A segunda, História, Antropologia,
Sociologia e História da Arte. Completamente em cores e escrito em linguagem
bem acessível, aguça a curiosidade de qualquer indivíduo, quer seja aficionado,
fã, pesquisador, universitário, atleta, praticante, técnico ou outro profissional, até
mesmo se estiver deparando pela primeira vez com esta área. Após o lançamento
no Rio de Janeiro, o livro foi aclamado pelos críticos e é forte candidato ao Prêmio
Jabuti - 2016.

Indicação para Assistir

Terra de luta
Ano: 2017
Sinopse: o documentário faz uma viagem pelas origens da luta no Brasil, partin-
do dos primeiros registros arqueológicos pré-históricos encontrados no Brasil,
na Serra da Capivara (PI); passando pela Huka-Huka dos índios do Xingu, no
Mato Grosso; pela Luta Marajoara, da Ilha de Marajó (PA), até a Capoeira em
Salvador (BA).

38
referências

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40
gabarito

1. E.
2. C.
3. B.
4. D.
5. Vestimentas, reverências, sistema Iemoto, filosofia e formação dos professores.

41
ENSINO DE LUTAS

Professor Dr. Victor Silveira Coswig

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• O ensino das lutas e a educação física
• Categorizações, regras de ação e jogos de oposição
• Modelo de ensino tradicional e predominante
• Modelos de ensino das lutas por meio da tática
• Organização e trato pedagógico das lutas

Objetivos de Aprendizagem
• Contextualizar o ensino das lutas na escola e nas
academias de luta.
• Categorizar pedagogicamente as lutas, os jogos de
oposição e as brincadeiras de lutas.
• Apresentar os problemas dos modelos vigentes.
• Apresentar modelos de ensino por meio da tática como
alternativa aos modelos tecnicistas.
• Sugerir progressão de conteúdo das lutas de acordo com
faixas etárias.
unidade

II
INTRODUÇÃO

A
pesar de ser altamente indicado por diferentes diretrizes de en-
sino da Educação Física, sabe-se que o ensino das lutas neste
contexto é extremamente raro. Infelizmente, outros conteúdos
são “preferidos” e, normalmente, envolvem modalidades es-
portivas coletivas, como futebol, futsal, handebol, basquetebol e voleibol.
Nos piores cenários, as modalidades coletivas dominam a totalidade das
aulas de Educação Física, ainda em uma perspectiva na qual a Educação
Física se confunde com o ensino de esportes.
Além disso, esporte é apenas uma das dimensões da cultura do mo-
vimento humano, ao lado dos jogos, ginástica, dança e as lutas. Por
isso, não são apenas as lutas que acabam por receber menor atenção do
que o ideal. É possível perceber essa disparidade, inclusive, em progra-
mas governamentais, como o Segundo Tempo, ou ainda, em diretrizes
com a Base Comum Curricular. Para ter como exemplo, no primeiro,
existem sugestões sobre modalidades “para aprender” e modalidades
“para conhecer”. Não surpreende que aquelas que estão na primeira
categoria são usualmente coletivas, enquanto as lutas se apresentam
(quando muito) na segunda.
Mas você provavelmente já conhece essa realidade. Se pergunte quan-
tas aulas de lutas você teve no ensino fundamental e médio. Agora faça
este mesmo exercício com a turma. Caso vocês estejam na média do que
se conhece do ensino no Brasil, poucos indicarão contato com as lutas e,
destes, serão relatos sobre atividades isoladas.
Nesta unidade, vamos problematizar estes aspectos e o modelo vi-
gente de ensino de luta. Além disso, é objetivo dar condições teóricas e
indicações diretas sobre como modificar essa realidade!
Vamos lá!
LUTAS

O Ensino das Lutas e a


Educação Física
Caro(a) aluno(a), permita-me iniciar este tópico Se você respondeu às perguntas anteriores
com algumas provocações sobre o ensino das lutas. de acordo com o senso comum e de acordo com
Primeiramente, gostaria de perguntar sobre sua opi- grande parte dos Professores de Educação Física,
nião quanto ao ensino das Lutas na Educação Física possivelmente indicou que existem riscos que se
Escolar. Você acredita que ensinar lutas na escola é sobrepõem aos benefícios acerca da aplicação de
algo positivo ou apresenta mais riscos do que bene- lutas na escola. Por outro lado, possivelmente tam-
fícios? E quanto ao ensino de lutas para crianças e bém indicou que, fora da escola, a prática apresenta
jovens fora do ambiente escolar? É algo a ser estimu- mais benefícios do que riscos, e que pode ajudar a
lado ou os fatores negativos são maiores que os posi- disciplinar os alunos (entre outros benefícios). Mas
tivos? Neste tópico, vamos aprofundar nestas ques- por que existe essa contradição? Por que lutar fora
tões, em especial, focando nos benefícios e riscos da da escola parece ser interessante enquanto que, no
utilização do conteúdo lutas na Educação Física. ambiente escolar, ficamos cheios de “dependes”. Se

46
EDUCAÇÃO FÍSICA

você me permite, ainda vou além. Busque na me- tre as práticas ofertadas nas disciplinas de educação
mória seu histórico com Lutas e Educação Física física, 93% envolve Futebol/Futsal, 90% jogos, 75%
Escolar, compartilhe essas memórias com seus Handebol, 70% Voleibol, 60% Dança, Ginástica e
colegas, amigos e familiares. Possivelmente pou- Atletismo, 40% Basquetebol, enquanto Lutas apa-
cas pessoas participaram de atividades de lutas na rece com 14%, atrás, até mesmo, da opção “outros”,
escola (lembre-se que luta é diferente de briga) e, que fica com 30% (VIEIRA; SOUZA, 2007). E como
quando houve, provavelmente foi por meio de al- isso se justifica? Os argumentos são diversos, mas
guma atividade com professores de modalidades acabam envolvendo, de modo geral, a falta de estru-
esportivas de combate convidados. Isso nos leva a tura, a falta de preparação específica do professor,
outra questão: para dar aula de lutas, na escola, o resistência dos pais e o risco de promover situa-
professor precisa ter experiência com Modalidades ções violentas, além, é claro, daqueles que indicam
Esportivas de Combate? No decorrer desta aula que o conteúdo Lutas é inapropriado para escolas
vou tentar ajudar você a encontrar argumentos que (FONSECA; FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2013;
lhe permitam responder a todas essas questões. REGO; FREITAS; MAIA, 2011; VIEIRA; SOUZA,
2007). A partir de agora, convido você a aprofundar
REFLITA cada um desses argumentos.

A ritualização ou tematização das Lutas pode


significar “brincar de fazer como se fosse”,
sem violência, já que esta não faz parte do
jogo e fazê-lo seria acabar com a brincadeira.

(Jean-Claude Olivier)

Vamos lá! De acordo com um estudo feito no sul do


Brasil, as contradições acerca do tema parecem ser
profundas (FONSECA; FRANCHINI; DEL VEC-
CHIO, 2013). Neste trabalho, dos 69 docentes entre-
vistados, apenas 6,25% indicou que a prática de lutas
na escola é inadequada, o que eu e você entendemos
como algo positivo. Por outro lado, desses mesmos
docentes, 91,3% indicou não contemplar lutas como
conteúdo de suas aulas e, quando o faziam, era por
meio de atividades lúdicas, vídeos ou por um espe-
cialista convidado. Outra pesquisa indica que, den-

47
LUTAS

FALTA DE ESTRUTURA FÍSICA FALTA DE PREPARAÇÃO ESPECÍFICA DO


PROFESSOR
A ausência de estrutura e material adequado fa-
zem parte da realidade dos professores de Educa- O professor de Educação Física precisa ter sido luta-
ção Física. Mas será que isso impede a realização dor ou ser um faixa preta para ministrar suas aulas
de práticas de combate? Se, para você, a prática das de lutas na educação física escolar? Não, não precisa.
atividades de luta na escola remete à prática espor- Um estudo interessante comparou o ponto de vista
tiva, você deve estar calculando que, para uma ati- de três professores:
vidade destas, você precisaria de roupas adequadas a. Professor/Treinador de Modalidades Esporti-
(Kimono, Gi, Dobok etc.), protetores (capacetes, ca- vas de Combate em ambientes não-escolares.
neleiras, luvas e bucais) e piso adequado (Tatame). b. Professor de Educação Física em escola, mas
Mas se você lembrar da classificação do termo luta sem experiência pessoal com lutas.
na unidade anterior, perceberá que existem possi- c. Professor de Educação Física em escola com
experiência pessoal com lutas.
bilidades para além das propostas esportivas e que
não exigem materiais tão específicos (OLIVIER, Os achados, apesar de preliminares, indicam que, en-
2000). De fato, muitas das atividades de luta não quanto o professor/treinador (a) sugere foco em aspec-
precisam, sequer, de material, outras são possíveis tos técnicos, específicos e que especializam os alunos,
apenas com lenços, prendedores de roupas e cor- o professor (b) aborda as Lutas como conteúdo da cul-
das. Em último caso, para vivências mais especí- tura corporal, de modo que mantém presente reflexões
ficas, visitas a espaços de treinamento podem ser sobre brigar e lutar, sobre valores e sobre aspectos his-
uma estratégia interessante. tóricos, sociais e filosóficos dessas práticas. Além disso,
o professor (b) ressalta a lógica não necessariamente
pelo aprimoramento de gestos técnicos, mas pela re-
lação dos movimentos na composição do leque motor
dos alunos (SO; BETTI, 2009). De modo geral, a expe-
riência do professor poderia até mesmo prejudicar sua
visão mais ampla de conteúdo, limitando o conteúdo
Lutas ao que se relaciona às suas particularidades.

48
EDUCAÇÃO FÍSICA

LUTAS E VIOLÊNCIA NA ESCOLA

Como vimos, apesar de não ser o pensamento da a realidade? Alguns desses indivíduos indicam que
maioria dos docentes, a prática de Lutas para crian- depende da abordagem do professor. Pois bem, ini-
ças ainda é vista como possível catalisadora de cialmente vamos diferenciar uma briga de uma brin-
ações violentas (FONSECA; FRANCHINI; DEL cadeira de luta? De acordo com Marques (2010), as
VECCHIO, 2013; REGO; FREITAS; MAIA, 2011; características de cada uma destas situações se mos-
VIEIRA; SOUZA, 2007). Mas será que isso reflete tram de acordo com o quadro a seguir:

Quadro 1 - Jogo de luta versus Luta a sério

Dimensões Jogo de luta Luta a sério


Movimentos vigorosos (bater, caçar), sem Movimentos vigorosos com contato físico
Comportamento
contatos, ou com as mãos abertas. voluntário e intencional.
Positivo, faces sorridentes, relaxadas, boca Negativo, faces franzidas, boca fechada
Afetividade
aberta (face de jogo). (dentes cerrados).
Consequências Ficam juntos após a luta. Afastam-se após a luta.
As crianças alternam os papéis de caçador
Estrutura Sem mudança de papéis.
e caça.
Nº de alunos Pode envolver várias crianças em simultâneo. Quase sempre acontece entre duas crianças.
Frequentemente acontece em superfícies
Ecologia Acontece em qualquer área.
macias.
Observadores Não tem observadores. Atrai muitos observadores.
Fonte: Marques (2010).

Percebe-se, portanto, que as situações são ampla- de conflitos sociais, vide novelas, filmes, telejornais
mente diferentes e a distinção entre elas não é di- e a própria convivência em comunidade. Por outro
fícil, facilitando, assim, o julgamento de quando lado, torna-se papel do professor de Educação Físi-
intervir ou não. ca e da escola desmistificar esta ideia e transformar
E o jogo de luta pode levar à briga? Segundo Oli- as brigas em jogos de luta que sejam regrados, rela-
vier (2000), a proposta é justamente o inverso. Em cionados aos valores inerentes às práticas corporais
um mundo informatizado, é perceptível que a prá- e reflexivo, no sentido controle da agressividade e o
tica de lutas é frequentemente associada à resolução conhecimento desta ação oposta do outro.

49
LUTAS

De modo adicional, a ciência têm confirmado outra pesquisa investigou o efeito da prática de
a hipótese de que a prática de Lutas parece redu- Artes Marciais em relação à práticas de bullying.
zir e não aumentar a violência. Uma meta-análise Os achados indicam que aqueles alunos que mais
recente, realizada a partir de 9 estudos que reu- frequentaram as atividades de luta apresentaram
niram 507 crianças de 6 a 18 anos, mostrou que a menor frequência de agressões e a maior fre-
a prática de Artes Marciais reduziu o comporta- quência de comportamento de suporte (ajuda a
mento antissocial e de externalização e promoveu quem é vítima de bullying). Os autores relacio-
maior autocontrole, autoconfiança, autoestima naram os resultados à melhoria de empatia e ao
e estabilidade emocional (HARWOOD; LAVI- autocontrole, além de estratégias pacificadoras
DOR; RASSOVSKY, 2017). No mesmo sentido, (TWEMLOW et al., 2008).

50
EDUCAÇÃO FÍSICA

SAIBA MAIS

Tomando estes argumentos em conjunto,


percebemos que existe a possibilidade de
qualificar o ensino das lutas, especialmente
para crianças. Mas talvez tudo isto ainda pa-
reça um pouco abstrato para você. Por isso,
adianto aqui um exemplo que será aprofun-
dado nos próximos tópicos:
Imagine que você solicita aos alunos que for-
mem duplas e que fiquem de frente para o
colega. Ao seu sinal o objetivo do aluno será
tocar em um dos ombros do seu adversário
que, obviamente, irá tentar defender e con-
tra-atacar. Esta atividade ocorre entre duas
ou mais pessoas? (Sim!). Apresenta ataque e
defesa de modo mútuo e simultâneo? (Sim!).
O objetivo é ou está no corpo do oponente?
(Sim!). Portanto é Luta! E quanto material es-
pecial você precisaria para executar esta ati-
vidade? O quanto de conhecimento específico
de gestos e golpes você precisará ensinar?
Será que um pai/mãe proibiria esta prática?
Será que esta é realmente uma prática que
estimula a violência?

Fonte: o autor.

51
LUTAS

Categorizações, Regras de Ação e


Jogos de Oposição

Alea: remete-se a fatores que não podem ser


controlados pelo jogador, ou seja, o jogador é nor-
malmente passivo e o vencedor é definido por fa-
Neste ponto você já avançou consideravelmente tores associados ao acaso, pelo destino, por sorte.
no entendimento sobre o conteúdo Luta. Inicial- Nestes jogos de azar encontramos relações apenas
mente quanto a origem histórica e a evolução ao indiretas relacionadas às Lutas. Quando, por exem-
longo dos séculos na Unidade I e no tópico an- plo, o lutador depende de um chaveamento por sor-
terior quanto a reflexões específicas da aplicação teio, quando um apostador investe dinheiro ao “adi-
deste conteúdo nas aulas de Educação Física. A vinhar” quem vencerá ou mesmo quando a vitória é
partir de agora, pressupondo que você entendeu a alcançada por um motivo diferente do desempenho
importância de inserir esta temática na educação do lutador (Lesão do oponente, por exemplo).
de crianças e jovens, avançaremos para fatores de
instrumentalização, ou seja, vamos focar no “como
fazer”. Vamos nessa?
Como visto anteriormente, a prática de lutar está
inserida na classificação dos jogos, neste contexto,
considere as seguintes manifestações dos jogos, pro-
postas por Callois (2001) e sua relação com as mo-
dalidades de combate:

52
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ilynx: remete-se à busca da vertigem, a exemplo de Mimicry: remete-se à fuga da realidade, frequente-
práticas em que crianças giram até sentirem tontu- mente associada a imitações, ou aceitação da exis-
ra. Não será difícil para você lembrar de atividades tência de um ambiente paralelo, irreal e temporário.
de luta, em especial relacionadas ao modelo orien- Criam-se personagens e requer imaginação e criati-
tal, nas quais o praticante se coloca em situações de vidade. Apesar de não ser a melhor dimensão para
desequilíbrio extremo. Apesar desse exemplo, fica associar às lutas, tenho certeza que você já presen-
evidente que esta não é a melhor dimensão para se ciou (ou você mesmo) uma criança que se intitula
classificar os jogos de combate. um determinado herói e luta com espadas (jornais
enrolados) contra seu perigoso (e imaginário) opo-
nente. Além disso, expressões atuais como a luta livre
(WWE), muito popular no México e nos EUA, asso-
ciam a fantasia e o ambiente fictício a golpes de luta.

Agon: remete-se à competição por comparação, per-


seguição ou oposição, nas quais inserem-se nesta
manifestação do jogo as características de igualdade
de chances de vitória. Supõe, ainda, preparação para
a prática e vontade de vencer. É nesta dimensão dos
jogos que as lutas se inserem, de modo mais específico
na categoria de jogos de oposição, apesar de ser possí-
vel encontrar relação com as demais dimensões (vide
exemplos anteriores). As tentativas de manutenção de
igualdade de chances de vitória é aparente e você pode
perceber, por exemplo, nos chaveamentos que consi-
deram rankings para determinar cabeças de chave ou
nas próprias categorias etárias e por massa corporal.

53
LUTAS

tentes, no caso inverso. Aqui vale ressaltar


Resumindo, os jogos de oposição do Agon pare-
que, fisiologicamente, todas são intermiten-
cem ser a melhor definição para as práticas de luta. tes e possuem alternância entre alta intensi-
Porém, agora, vamos discutir algumas categoriza- dade, baixa intensidade e pausas, o que cria
ções importantes neste contexto. Assim, seguem as microcombates no seu interior.
possibilidades de categorizar os jogos de oposição, IV. Ações motoras: dizem respeito ao gestos mo-
as Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esporti- tores permitidos, que podem ser de domínio/
vas de Combate (DEL VECCHIO; FRANCHINI, agarre, percussão/impacto ou mistas.
2006). É sugerido que esta categorização pode ser V. Regras de ação: diz respeito à relação entre
alvo e meta, ou seja, quanto ao alvo, o luta-
feita de acordo com:
dor pode agarrar ou tocar de acordo com as
I. Indumentária: diz respeito às vestimentas do ações motoras já mencionadas, e quanto à
lutador e seu significado que pode ser para meta, pode ser direta quando não exige con-
caracterizar, proteger ou atacar. sequência do golpe (soco no boxe amador),
II. Espacialidade: diz respeito à distância e ao ou indireta, quando, além de atingir o alvo,
alcance de um lutador para o outro. você precisa de uma consequência deste para
III. Temporalidade: diz respeito à estrutura dos marcar ponto ou vencer (Ippon, no Judô).
combates, podendo ser contínua quando não Veja o resumo e exemplos destas classifica-
existem pausas pré-estabelecidas ou intermi- ções no quadro a seguir.

Quadro 2 - Classificações e exemplos de jogos de oposição por categoria

Classificação Categorias Exemplos


Indumentária Caracterização Abadá (Capoeira)
Proteção Capacete (Taekwondo e Boxe)
Ataque Ataque (Espada na Esgrima)
Espacialidade Curta distância Agarre (Judô, BJJ)
Média distância Impacto (Boxe, Muay-Thai)
Longa distância Armas (Esgrima, Kendô)
Temporalidade Contínuas Sem Rounds (Capoeira, BJJ)
Intermitentes Com Rounds (Boxe, MMA)
Ações Motoras Agarre ou domínio Judô, BJJ, Luta olímpica
Impacto ou percussão Boxe, Muay-Thai, Kickboxing
Mistas MMA, Hapkidô
Regras de ação Agarre direto BJJ
Agarre indireto Judô
Toque direto Taekwondo
Toque indireto Boxe profissional
Fonte: adaptado de Del Vecchio e Franchini (2006).

54
EDUCAÇÃO FÍSICA

A partir deste momento, peço que revise a classifica- 4. Jogos para desequilibrar: em uma perna só.
ção por regras de ação. É a partir desta que surgirão Em duplas, os indivíduos ficam de frente, dão
algumas das sugestões de práticas a serem inseridas as mãos e retiram um pé do solo. O objetivo
nas aulas de educação física e na iniciação às lutas. é desequilibrar o colega, o que é verificado
quando este coloca o pé no solo novamente.
Mas além destas, vamos estudar mais um modelo de
classificação, agora de modo específico aos jogos de 5. Jogos para reter, imobilizar e se livrar: a
oposição e as brincadeira de lutas. imobilização.
Para Olivier (2000), os jogos podem ser classifi- Em duplas, um dos jogadores se deita ao solo
cados em seis categorias que irão envolver aspectos com a barriga para cima. O outro se coloca
que os tornam mais ou menos complexos de acordo acima com o objetivo de imobilizar o opo-
nente. Ao sinal, o jogador de baixo tenta se
com o número de situações a qual a criança é expos-
livrar enquanto o atacante tenta imobilizá-lo.
ta, exigido o aumento ou redução do contato físico
e quanto a presença ou ausência de componentes 6. Jogos para combater: Huka-Huka adaptado.
específicos, como quedas e projeções, por exem- De modo semelhante à luta indígena brasilei-
plo. Assim, veja como os jogos são categorizados e ra, os participantes começam ajoelhados de
exemplos diretos para cada categoria: frente um para o outro. Ao sinal, sem bruta-
lidades, tentam colocar o colega de costas ao
1. Jogos de rapidez e atenção: balões estourados. solo ou imobilizá-lo por 3 segundos.
Em duplas, amarra-se um balão cheio ao tor-
nozelo de um dos indivíduos. Ao outro cabe
REFLITA
a tarefa de estourá-lo sem o auxílio das mãos.

2. Jogos de conquistas de objetos: coleta de


A ordem na qual as categorias propostas por
prendedores de roupa. Olivier (2000) foram apresentadas pode ser
Em duplas, um dos indivíduos coloca dois uma boa sugestão de progressão durante o
prendedores na sua roupa. O oponente deve desenvolvimento dos alunos.
tentar pegá-los, sem agarrar o colega.

3. Jogos de conquistas de territórios: o território.


Em grupos, são demarcadas zonas as quais
um grupo deve tentar entrar e o outro deve
tentar impedir o acesso. São proibidos golpes
de qualquer natureza.

55
LUTAS

Modelo de Ensino Tradicional e


Predominante
Você já assistiu ou participou de aulas de Modali- Conforme mencionado anteriormente, nos tó-
dades Esportivas de Combate? Mesmo que não te- picos 3 e 4 da Unidade I, você foi apresentado ao
nha assistido, você não terá muitos problemas para histórico de evolução das Lutas, Artes Marciais e
assimilar a crítica deste tópico. Isso ocorre pois, Modalidades Esportivas de Combate nas perspec-
infelizmente, o modelo de ensino das lutas acaba tivas oriental e ocidental, respectivamente. Com
sendo muito semelhante ao que é aplicado nas de- tantos avanços em ciência e informação, parece
mais modalidade. Você conseguiria descrever que absurdo imaginar que estes modelos são, ainda,
características são estas? predominantes.

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

Na perspectiva oriental, vimos que o Sistema de do Brasil, já que pesquisadores norte-americanos


Iemoto era caracterizado por excesso de autorida- têm sugerido a adição do aprendizado da técnica de
de, hierarquia contínua e por uma relação profes- socos e chutes na escola (WINKLE; OZMUN, 2003).
sor-aluno, na qual o primeiro era detentor de todo Neste momento, preciso indicar que não há pro-
o conhecimento, o que permitia uma submissão blema em abordar componentes técnicos e o ensino
contínua e, por vezes, abusiva do Sensei (DEL VEC- da técnica será importante a medida que o aluno
CHIO; FRANCHINI, 2006; FRANCHINI, E.; DEL avança na complexidade das tarefas. Portanto, não
VECCHIO, 2007; VIRGÍLO, 2000). Já na perspecti- estou negando a técnica, o problema está em um cur-
va ocidental, o “Paidotribo” era, normalmente, a fi- rículo que se apresenta com a maioria das atividades
gura de ex-campeão que passava suas experiências e (Retirando o que é jogo livre), sendo executadas de
conhecimento técnico de modo oral e baseado, prin- modo tecnicista. Podemos pensar em alguns exem-
cipalmente, na imitação, ou seja, “repita o que estou plos sobre quando isto fica visível e não se restringe
fazendo” (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006; às lutas. Quando o aluno é solicitado a aprender o
POLIAKOFF, 1987). Ambas as perspectivas encon- passe no Futebol, Basquetebol, Futsal ou Handebol
traram no Brasil uma receptividade interessante, já de modo parado, com seu colega também parado a
que a Educação Física nasce de modo higienista e sua frente, sem marcadores, sem imprevisibilidade e
militarista por meio da inserção de movimentos gi- sem movimentação, isso muito se assemelha à soli-
násticos no âmbito escolar, modelo que atinge seu citação para execução de 50-100 chutes ou socos em
auge com a ascensão do regime militar (COLETIVO um saco de pancada. Você consegue imaginar quan-
DE AUTORES, 1992). tos porcento de um jogo ou luta essas ações ocorrem
Independentemente das concepções que surgem nessas condições? Eu ajudo: Zero%.
deste momento em diante, é fato que pouco mudou
quanto às escolhas pedagógicas nas aulas de Educa- REFLITA
ção Física, em especial quanto às lutas (RUFINO;
DARIDO, 2015). Mas o que isso significa? Signifi- Então, por que aprender ou treinar em con-
ca que, quando este conteúdo é abordado, e vimos dições que apresentam demandas diferentes
que não é algo frequente, é abordado com elevada da atividade final?

preocupação com o componente técnico, seguindo


a lógica de “ensinar do modo como foi aprendido”.
Neste sentido, renovo a provocação de Del Vecchio
e Franchini (2006), na qual os autores questionam
o fato de que, considerando que o domínio de um
gesto motor específico (golpes) pode levar até 10
anos, de que modo um professor de Educação Física
o faria em 1 ou 2 semestres da graduação? Isso se
este fosse realmente um dos objetivos da graduação,
o que não é. Porém, este modelo não é exclusivida-

57
LUTAS

Mas quais os problemas que podem surgir deste mo-


delo de ensino? Indica-se que estes modelos pouco
reflexivos, hierarquizados, autoritários, automatiza-
dos, com foco em atividades previsíveis e dissocia-
das do jogo/luta executadas de modo cíclico, a fim
de aprimorar uma tarefa acíclica, podem explicar o
elevado abandono da prática (DONOHUE, 2005).
Adicionalmente, isso implica em especialização
precoce e perda gradativa do interesse (DEL VEC-
CHIO; FRANCHINI, 2006; FRANCHINI, 1998;
GALLAHUE; OZMUN, 2000).

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

REFLITA

Apenas 16% dos indivíduos que foram campe-


ões antes dos 14 anos se tornam campeões na
idade adulta. Reflita sobre como os modelos
vigentes de ensino podem ser responsáveis
por esta realidade.

59
LUTAS

Modelos de Ensino das Lutas


Por Meio da Tática
Agora que você já sabe quais os problemas de um todas são estratégias válidas e que podem ser apli-
modelo exclusivamente tecnicista e pouco reflexivo, cadas de acordo com o objetivo de aprendizagem
já imagina como seriam as possibilidades de con- (MOSSTON; ASHWORTH, 2008). Nesta distri-
trapor esta realidade? Neste tópico, vamos estudar buição, os estilos de ensino são classificados de “A”
algumas possibilidades. (Estilo de comando) a “K” (Estilo de autoaprendi-
Você conhece o Espectro de Estilos de Ensino? zagem). Os autores indicam que o estilo de Ensino
Trata-se de uma distribuição dos estilos de ensino pode ser categorizado em 3 estágios que seriam o
que serve como ferramenta para orientar diferentes “pré-impacto”, o “impacto” e o “pós-impacto”, que
práticas de ensino, partindo do pressuposto de que remetem, respectivamente, à preparação e ao pla-

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

nejamento das decisões, a execução deste plano e MORENO, 2017; KOZUB, F.; KOZUB, M., 2004;
o feedback quanto ao desempenho na atividade. LAGE; RAMOS, SOUTO NUNES; NAGAMINE,
Neste sentido, os Estilos são distribuídos de acordo 2004; NA; NURSING; SOURCE, 2009).
com quem é responsável pelas tomadas de decisão Sobre o Ensino do Taekwondo, é sugerido que
em cada estágio, ou seja, no estilo “A”, os três está- as práticas específicas sejam separadas de acordo
gios são determinados pelo professor e, à medida com o objetivo de aprendizagem e relacionam cada
que avançamos em direção ao “K”, a tomada de de- particularidade a uma sugestão de estilo de ensino
cisão por parte do aluno aumenta (LAGE; RAMOS, (NA; NURSING; SOURCE, 2009). Neste sentido,
SOUTO NUNES; NAGAMINE, 2004; MOSSTON; os autores indicam que o aprendizado de técnicas
ASHWORTH, 2008; NA; NURSING; SOURCE, consideradas fundamentos podem ser trabalhadas
2009). Desse modo, estilos de ensino entre “A” por meio do comando (A) ou do estilo recíproco
e “E” colocam o aluno na posição de reprodutor (C); o aprendizado do Poomsae (prática solo sem
e memorizador do conhecido, enquanto de “F” a oponente real) poderia ser otimizado por meio do
“K”, o aluno passa a ser produtor e descobridor do estilo de autocontrole (D); enquanto a prática de
desconhecido (LAGE; RAMOS, SOUTO NUNES; defesa pessoal ou a luta em si teriam maior benefí-
NAGAMINE, 2004). cio por meio dos modelos de descoberta guiada (F
ao H). Em um sentido mais amplo, quanto ao Ka-
a. COMANDO
ratê, é sugerido que cada um dos Estilos do Espec-
b. PRÁTICO
tro tenha sua aplicabilidade de acordo com o ob-
c. RECÍPROCO
jetivo específico e com período (LAGE; RAMOS,
d. AUTOCONTROLE
SOUTO NUNES; NAGAMINE, 2004).
e. INCLUSÃO
Quanto ao Judô, especificamente sobre uma
f. DESCOBERTA GUIADA
técnica de imobilização (Hon Kesa Gatame), su-
g. DESCOBERTA DIVERGENTE
gere-se a aplicação de modelos de descobrimento
h. DESCOBERTA CONVERGENTE
guiado e de resolução de problemas, nos quais o
i. INDIVIDUAL
professor indica a tarefa (imobilizar ou se livrar)
j. INICIADO PELO ALUNO
e não provê respostas, mas indica elementos que
k. AUTOENSINO
possibilitem aos alunos resolver o problema (DO-
Apesar desta riqueza de possibilidades, vimos, no MÍNGUEZ; MORENO, 2017).
tópico anterior, que o modelo atual de Ensino, in- Adicionalmente, apresenta-se a abordagem
felizmente, é baseado praticamente de modo ex- do Teaching Games for Understanding (Ensino de
clusivo no estilo de comando, no qual o professor Jogos por meio da Compreensão), na qual existe
toma todas as decisões a serem memorizadas e repe- uma inversão da lógica usual de progressão que
tidas pelos alunos (DEL VECCHIO; FRANCHINI, parte do aprendizado da técnica e avança para o
2006). Neste sentido, estudos têm investigado sobre entendimento tático. Entendendo que tática, nes-
as possibilidades alternativas de aplicação de dife- te contexto, significa a capacidade do indivíduo
rentes estilos no ensino de Lutas (DOMÍNGUEZ; de compreender o jogo, o aluno deveria ser apre-

61
LUTAS

sentado às situações de jogo para, posteriormente, quando você derruba o oponente, e que o foco de
aprimorar o desempenho técnico, ou seja, o apren- aprendizagem nesta aula envolve a mudança de di-
de-se a jogar, jogando. Este modelo é baseado na reção na qual o movimento será executado. Nes-
premissa de que é pouco eficiente aprender técni- te ponto, o objetivo será escolher corretamente a
cas que estão desconectadas do jogo. direção para a qual irá tentar projetar os colegas.
Para ilustrar, vamos pensar no aprendizado A atividade então se desenvolve iniciando com o
de um chute no Futsal: para treinar a precisão do executante de costas para os demais, enquanto es-
chute, usualmente é utilizado um modelo de Co- tes indicam ao professor se farão resistência para
mando no qual o aluno executa incontáveis repeti- frente ou para trás. Na sequência, eles se colocam
ções de modo isolado do contexto do jogo, ou seja, em linha e o executante procura projetá-los na di-
elementos importantes como a imprevisibilidade reção correta. Um ponto importante é que, neste
da marcação, dos colegas de equipe e do tempo de momento, o executante não sabe a resposta correta
bola (entre outras). Porém, quando a solicitação e este problema será resolvido através da prática,
para esta tarefa ocorre em ambiente real (durante ou seja, apenas ao final da atividade executada por
o jogo), todos esses elementos estarão presentes e todos será pedido aos executantes para relatar as
podem ser “estranhos” ao aluno, prejudicando sua conclusões/descobertas que acabaram de ser feitas.
precisão por uma limitada visão do jogo completo. Espera-se que os alunos descubram que quando há
Este mesmo conceito se aplica para as modalida- resistência para trás eles devem tentar projetá-los
des de combate. para frente, sendo o contrário verdadeiro (KOZUB,
Imagina que em uma modalidade de impacto, F; KOZUB, M., 2004).
o fato de conectar um golpe no oponente depende Um ponto deve ser destacado no exemplo ante-
não apenas da execução técnica do gesto motor, mas rior. Se você percebeu, a atividade sugerida, apesar
de visualizar a oportunidade de ataque, durante uma de voltada para o aprendizado da tática, exige um
abertura na defesa do oponente, enquanto defende- grau mínimo de técnica, ou seja, para projetar os co-
-se de um possível contra-ataque ou de um ataque lega para frente ou para trás, o aluno precisa conhe-
mútuo. Neste contexto, o Teaching Games for Unders- cer pelo menos uma técnica para cada direção. Isso
tanding tem sido sugerido como estratégia para que mostra como essas propostas não negam o aprendi-
o aluno compreenda o jogo de combate e, à medida zado da técnica, apenas buscam melhorar a propor-
que este jogo se torna mais complexo, o aprendizado ção do que é feito em situação de Jogo/Luta e o que
da técnica é inserido de acordo com sua exigência é feito de modo estático, repetitivo e cíclico. Outros
(DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006; KOZUB, F.; exemplos que não exigem a condição técnica, e que
KOZUB, M., 2004). podem encorajar professores sem experiência prévia
Mas como seria uma atividade com estas carac- e com pouco conhecimento sobre técnicas específi-
terísticas? Imagine que seu problema tático a ser cas de modalidades esportivas de combate, já foram
resolvido é marcar pontos no Judô, o que é feito mencionados anteriormente, no segundo tópico.

62
EDUCAÇÃO FÍSICA

63
LUTAS

Organização e
Trato Pedagógico das Lutas
Caro(a) aluno(a), para chegar a este tópico, você delos de ensino vigentes, seus problemas e sugestões
foi convidado a conhecer diferentes manifestações de estratégias para modificar esta realidade a partir
das Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas da inserção de modelos mais reflexivos presentes
de Combate e, a este ponto, já estudou sobre a im- no Espectro de Mosston. Pois bem, mas ainda resta
portância da introdução deste conteúdo no âmbito uma visão geral sobre como este conteúdo se orga-
escolar e não escolar. Além disso, estudamos que niza e se distribui durante um bimestre, semestre ou
estas práticas podem ser classificadas de diferentes ao longo dos anos de prática. Neste tópico, meu ob-
modos e que uma delas inclui os jogos de oposição. jetivo é apresentar algumas possibilidades de como
Por fim, você foi convidado a refletir sobre os mo- estruturar o conteúdo conforme planejado.

64
EDUCAÇÃO FÍSICA

Uma proposta relativamente consolidada quan- Muito bem, agora você já consegue estruturar algo
to à organização dos conteúdos ao longo do tempo semelhante com Lutas? Sugiro que, neste ponto,
deriva do conhecimento de fatores invariantes de você pare a leitura e tente antes de seguir em frente.
uma determinada prática corporal. Primeiramente, Quais seriam as invariantes das Lutas que cha-
tomemos como exemplo as modalidades coletivas. maremos de princípios operacionais? Se você lem-
De acordo com Daólio (2002), estrutura-se o Mode- brar do modo como definimos o termo Luta na
lo Pendular para o ensino de modalidades esportivas Unidade I, você tem a resposta. De modo geral,
coletivas, o qual parte de uma progressão do ensino as invariantes envolvem ter por alvo o próprio ad-
a partir de componentes invariantes da prática até versário, ser praticados por duas ou mais pessoas e
atingir fatores com maior variação. Nesta proposta, apresentar ataque e defesa simultâneos (DEL VEC-
as invariantes nestas modalidades, que ficam na base CHIO; FRANCHINI, 2006). Muito bem, seguindo
fixa do pêndulo, seriam uma bola, um espaço de jogo, o modelo pendular, avançaríamos para as regras de
parceiros com os quais se joga, adversários, um alvo ação. Este tema foi abordado de modo mais recen-
a atacar e regras específicas. Enquanto na outra ex- te, para ser mais preciso, no segundo tópico desta
tremidade do pêndulo, aquela que varia mais, estão unidade, e você foi apresentado aos conceitos de
os gestos técnicos específicos, como o passe, o chute, toque e agarre diretos e indiretos. Por fim, a pro-
o arremesso, o drible, o cabeceio e assim por diante. gressão avança para os gestos técnicos específicos
Entre as extremidades apresentadas, localizam-se as que derivam de Modalidades Esportivas de Com-
regras de ação que, nas modalidade coletivas, envol- bate, como Judô, Jiu-Jitsu, Capoeira, Taekwondo,
veriam ações, como criar linhas de passe, posiciona- Boxe e tantas outras.
mento individual em espaços para recepção da bola, Vamos avançar em cada um dos momentos pe-
desmarcação, entre outras. Neste sentido, o autor dagógicos em separado, utilizando exemplos de ati-
sugere que o processo de ensino-aprendizagem siga vidades. Ressalto que são sugestões genéricas e di-
esta progressão pendular: princípios operacionais, visões etárias arbitrárias, feitas para fins didáticos,
regras de ação e gestos técnicos específicos. ficando a critério do professor ajustar a aplicação de
acordo com cada realidade.

PRINCÍPIOS OPERACIONAIS (ATÉ 7-8


ANOS)

Neste ponto inicial e fixo do pêndulo, a sugestão


é inserir atividades com elevado caráter lúdico,
associando a aquisição de habilidades motoras
fundamentais isoladas e combinadas a jogos de
cooperação, oposição e de luta (DAÓLIO, 2002;

Pêndulo DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006; OLIVIER,


lorem ipsum 2000). Neste momento, os jogos de oposição apre-

65
LUTAS

sentados no Tópico 2 desta unidade parecem ser Toque Indireto


uma estratégia interessante, sendo eles: os jogos de De modo semelhante à atividade anterior, o alvo
rapidez e atenção, os jogos de conquistas de obje- (oponente) deve ser tocado, porém, como a meta é
tos, os jogos de conquistas de territórios, os jogos agora indireta, existe a necessidade de uma conse-
para desequilibrar, os jogos para reter, imobilizar quência decorrente do toque. Exemplo: com apenas
e se livrar e os jogos para combater. Sugere-se, um dos pés no solo, os alunos devem tocar o opo-
ainda, progredir a complexidade dos jogos nesta nente a ponto de desequilibrá-lo, o que será visto ao
ordem apresentada. De modo associado, partir de tocar o outro pé no solo. Esta atividade se relaciona
atividades cooperativas e de oposição com gru- com as modalidades de Boxe profissional e o Muay-
pos maiores (Macrogrupal), partindo para grupos -Thai, por exemplo.
menores (Microgrupal) e, por fim, para duplas,
pode ser uma progressão facilitadora do processo Agarre Direto
de aproximação entre os alunos (DEL VECCHIO; As atividades de Agarre Direto se referem àquelas
FRANCHINI, 2006). nas quais deve ocorrer controle do alvo. Conside-
rando que o alvo faz parte do corpo do oponente,
REGRAS DE AÇÃO (7-8 A 10-11 ANOS) controlar um segmento corporal faz parte dos ob-
jetivos desta atividade. Exemplo: em duplas, o indi-
Existem quatro possibilidades de combinações entre víduo deve segurar/dominar o segmento corporal
regras de ação de acordo com o alvo e a meta. Estas indicado pela atividade. Ao segurar o punho, se for
podem ser, ainda, combinadas entre si, gerando mo- o caso, é dada a pontuação. Estas atividades se apro-
delos mais complexos de atividades. Vamos a elas: ximam dos estrangulamentos, imobilizações e cha-
ves articulares decorrentes de modalidades como o
Toque Direto Jiu-Jitsu brasileiro.
Refere-se a atividades nas quais o simples fato de
tocar no alvo gera a pontuação determinada pelos Agarre indireto
participantes ou professor. Exemplo: ao sinal do Nestas atividades, o fato de agarrar não contempla o
professor (ou aluno eleito para a tarefa), os alunos, objetivo. Além de agarrar, o segmento corporal, ou
em duplas, tentam tocar uma parte do corpo do o próprio colega, precisa haver uma consequência.
colega/oponente. O professor, então, indica a parte Exemplo: alunos de frente agarram os antebraços,
do corpo que será o alvo (ombros, joelhos, pés, pu- cruzando, do colega. Com uma linha de referên-
nhos, mãos...). Esta atividade de iniciação se rela- cia demarcada no solo, vence o aluno que trouxer
ciona às Modalidades Esportivas, como a Esgrima, o colega para seu território. Atividades de derrubar
o Boxe amador e o Taekwondo, nas quais o fato de também fazem parte desta categoria, assim, relacio-
tocar em local específico gera ponto, sem necessi- nam-se fortemente a modalidades como o Judô, a
dade de consequência. Luta Olímpica e o Huka-Huka.

66
EDUCAÇÃO FÍSICA

Em suma, as regras de ação podem originar ati- quais os alunos apresentam forte ligação, como fil-
vidades simples e complexas, mas apresentam forte mes, jogos e desenhos animados (GONÇALVES,
relação com os conteúdos a serem trabalhados de 2010). Outra possibilidade envolve o “Jogo possível”,
modo subsequente. no qual regras, espaço e objetivos são moldados para
tornar a prática facilitada ao nível do aluno e fazen-
Gestos técnicos específicos (A partir de 12 anos) do com que o aluno vivencie plenamente o jogo, já
Talvez aqui seja o ponto de maior surpresa para que muitas vezes o “jogo completo” ou o “jogo real”
você! Sim, os gestos específicos de modalidades es- é complexo demais para determinadas fases da ini-
portivas (aqui não apenas as de combate) deveriam ciação (CAVAZANI et al., 2016).
ser aprimorados, junto aos demais conceitos espe- Por fim, chegamos ao fim da mais uma unidade
cíficos (iniciação à preparação física, regras, entre e, neste ponto, você deve estar familiarizado com os
outros), apenas a partir da transição da terceira conceitos de pedagogia do esporte aplicada às lu-
infância para a adolescência (DAÓLIO, 2002; DEL tas, artes marciais e esportes de combate e com esta
VECCHIO; FRANCHINI, 2006). Obviamente que instrumentação deve ser capaz de elaborar aulas e
estes conceitos podem aparecer antes, mas em uma avaliar criticamente os modelos vigentes aos quais
proporção muito reduzida, normalmente utilizando invariavelmente você irá presenciar.
para contextualizar a prática. Por exemplo, você fará
uma atividade de toque direto e utiliza exemplos do
boxe amador para ilustrar a relação entre a atividade
e o objetivo final. Para professores que não se sen-
tem aptos a inserir socos, chutes, projeções e imo-
bilizações específicas de modalidades de combate,
existem algumas opções que podem ser interessan-
tes, como a utilização de vídeos, solicitar trabalhos
de casa sobre as modalidades a serem apresentados
em sala, convidar professores especialistas, visitar
locais de treinamento, entre outras.
Seguindo esta sugestão de modelo pendular é
possível perceber que esta estrutura também aten-
de a outros modelos, como o da iniciação esporti-
va universal (GRECO, 2012). Devemos considerar,
ainda, algumas estratégias que se refletem em pos-
sibilidades a serem agregadas à estrutura do modelo
pendular. Uma delas é a tematização das Lutas que
pode aproveitar muitas relações midiáticas, com as

67
considerações finais

Caro(a) aluno(a), nesta unidade foram apresentados os principais problemas e


barreiras que limitam o ensino de lutas no ambiente escolar. Adicionalmente, fo-
ram indicados os problemas no processo de formação de lutadores no ambiente
não escolar.
Espero que as barreiras normalmente indicadas por professores de Educação
Física, para não abordarem a temática de lutas na escola, tenham sido quebradas.
Dentre elas, destacamos a falta de experiência específica, o incentivo à violência
e a ausência de materiais. Destes, a partir dos argumentos apresentados, nenhum
se sustenta como justificativa real para ausência deste conteúdo. Vimos, também,
a importância de classificar os termos relacionados às manifestações dos jogos de
oposição e as modalidades esportivas de combate.
No terceiro tópico, abordamos a realidade vigente no ensino de lutas que, in-
felizmente, parece não se limitar às lutas, mas estar presente no ensino de outros
conteúdos da disciplina. Parece que ainda está enraizado o modelo tecnicista,
não reflexivo e autoritário herdado dos modelos higienistas e militaristas.
Em contrapartida, sugestões foram postas para que você tenha condições de
mudar a realidade. Uma visão ampla dos estilos de Mosston e a aplicação de mo-
delos baseados no Teaching Games for Understanding podem contribuir. Nova-
mente reforço que, apesar de termos relacionando estes conceitos às lutas, deve-
riam ser aplicados, também, para os demais conteúdos da cultura do movimento
humano (dança, jogo, ginástica e esporte).

68
atividades de estudo

1. A ritualização ou tematização das Lutas pode sig- 3. A organização dos conteúdos ao longo do tempo
nificar “brincar de fazer como se fosse”, sem vio- deriva do conhecimento de fatores invariantes
lência, já que esta não faz parte do jogo e fazê-lo de uma determinada prática corporal. Explique
seria acabar com a brincadeira. Por que ensinar brevemente o que entende por modelo pendular
lutas na Educação Física escolar? Assinale a al- de progressão no ensino de lutas.
ternativa que melhor responde a esta per-
4. As lutas, artes marciais e modalidades esportivas
gunta.
de combate fazem parte de uma gama cultural
a) Envolve modalidades esportivas de com- que é maior do que o ambiente de educação e
bate de elevada relevância no ambiente escolar. Explique o espectro de Mosston e dê um
esportivo internacional e contemporâneo
exemplo de atividade para cada extremidade do
e, deste modo, se relaciona com o conte-
modelo.
údo de Esporte.
5. Uma visão ampla dos estilos de Mosston e a apli-
b) Envolve fatores sócio-histórico-culturais
inerentes a todas as sociedades ao longo cação de modelos baseados no Teaching Games
da história e, portanto, trata-se por si só for Understanding podem contribuir. Das classi-
de um conteúdo da cultura do movimento ficações dos Jogos Oposição e brincadeiras de
humano. luta, elabore uma atividade de reter, imobili-
zar e se livrar.
c) Envolve conceitos que se associam forte-
mente ao conteúdo de Jogos, em especial
os de oposição, que é também conteúdo
base da cultura do movimento humano.
d) Nenhuma das anteriores.
e) As alternativas a, b e c estão corretas.

2. Estudos apontam que alunos que mais frequen-


taram as atividades de luta apresentaram a me-
nor frequência de agressões e a maior frequência
de comportamento de suporte impedindo atos
de agressão. O que causa o elevado abandono
da prática de modalidades de combate?
a) Tecnicismo exacerbado das práticas vigen-
tes.
b) Sistema Iemoto.
c) Práticas pouco reflexivas e descontextua-
lizadas.
d) Especialização precoce.
e) Todas as anteriores.

69
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia este trecho do artigo “Jogo de luta ou luta a sério?” que apresenta uma síntese
sobre a importância de reconhecer jogos de luta de brigas.
“Podemos afirmar que existem formas de identificar jogo de luta e luta a sério no mo-
mento em que os incidentes acontecem, tendo em conta que algumas características
são observáveis e distinguíveis. Verificamos que, nos jogos de luta, as crianças se agar-
raram mutuamente, puxaram-se para o solo usando todo o seu corpo e eliminaram
as distâncias entre si, sem medo de caírem ou de ficarem debaixo do outro, enquan-
to nas lutas a sério as crianças evitaram se aproximar demasiado do outro, evitaram
agarrar-se e ir para o chão. Aparentemente, nas lutas a sério as crianças assumem que
existem riscos e procuram evitá-los mantendo as distâncias e posturas equilibradas,
e não arriscam cair e ficar presas debaixo dos outros, o que poderia provocar lesões.
Reconhecendo as diferenças, torna-se mais fácil a educadores, professores e outros
adultos decidir com maior certeza e segurança se determinado incidente é um jogo
que se pode deixar continuar, ou se, por outro lado, se trata de uma luta a sério que
implica a sua intervenção no sentido de pará-la e evitar que as crianças se magoem.
Este estudo não nos permite afirmar que são apenas estas as categorias a observar
para identificar e distinguir jogo de luta de luta a sério. Provavelmente, o estudo deveria
ser replicado com amostras maiores e/ou em diferentes níveis de escolaridade, parti-
cularmente os níveis pré-escolar e 2.º ciclo, de modo a percebermos se as categorias
identificadas ajudam a tomar decisões noutros níveis etários.”

Fonte: Marques (2010).

70
material complementar

Indicação para Ler

Ensino de Lutas: Reflexões e propostas de programas


Emerson Franchini e Fabrício Del Vecchio
Editora: Scortecci
Sinopse: esse livro pretende trazer informações sobre o processo de ensino das
lutas, artes marciais e modalidades esportivas de combate, objetivando convidar
os profissionais que atuam nesse processo tão importante à reflexão.

71
referências

CALLOIS, R. Man, Play and Games. Chicago: University of Illinois Press., 2001.
CAVAZANI, R. et al. Pedagogia do Esporte: tornando o jogo possível no judô
infantil. Motrivivência, v. 28, n. 47, p. 177–190, 2016.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física.
São Paulo: Cortez, 1992. Coleção Magistério 2° grau – série formação do
professor.
DAÓLIO, J. Jogos esportivos coletivos: dos princípios operacionais aos gestos
técnicos - modelo pendular a partir das idéias de Claude Bayer. Revista Brasileira
de Ciências e Movimento, v. 10, n. 4, p. 99–103, 2002.
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no ensino das lutas. In: ______. (Org.). Ensino de lutas: reflexões e propostas de
programas. São Paulo: Scortecci, 2012. v. 1, p. 9-27.
DOMÍNGUEZ, J. B.; MORENO, J. M. La enseñanza de judo suelo mediante
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clarativo de docentes sobre a prática de lutas, artes marciais e modalidades espor-
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FRANCHINI, E. Ensino-Aprendizagem do Judô. Corpoconsciência, n. 1, p. 31–
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FRANCHINI, E.; DEL VECCHIO, F. B. Tradição e modernidade no judô: histó-
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nas escolas municipais da cidade de Uberlândia. v. 5, p. 389–396, 2007.
VIRGÍLO, S. A Arte e o Ensino do Judô. Porto Alegre: Ed. Rígel, 2000.
WINKLE, J. M.; OZMUN, J. C. Martial Arts: An Exciting Addition to the Physi-
cal Education Curriculum. Journal of Physical Education, Recreation & Dance,
v. 74, p. 29–35, 2003.

73
gabarito

1. E.
2. E.
3. Modelo no qual o início do processo é marcado por poucas variações (prin-
cípios operacionais), seguido de uma variação intermediária (Regras de ação)
e, ao avançar, aumenta as possibilidades de variações (Gestos de modalida-
des específicas).
4. Trata-se de uma distribuição dos modelos de ensino de acordo com a inde-
pendência dos alunos. Na extremidade de menor ação dos discentes está o
modelo de comando. Exemplo: Ensino de formas por imitação. Já na extre-
midade oposta, estão os modelos de maior protagonismo discente. Exem-
plo: Descobrimento Guiado.
5. Qualquer atividade que apresente tentativa de manutenção ou fuga de uma
determinada posição que está sendo mantida por meio do agarre.

74
UNIDADE
III
PLANEJAMENTO DE AULAS DE LUTAS

Professor Dr. Victor Silveira Coswig

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Do ensino fundamental ao ensino médio
• Ensino de lutas no ambiente não escolar
• Abordagem de temas transversais por meio do ensino de
lutas
• Montando a aula
• Festivais e competições

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar modelos de distribuição de conteúdos
relacionados às lutas em longo prazo.
• Descrever aulas em ambientes não escolares.
• Propor estratégias para contemplar conteúdos transversais
da educação.
• Indicar modelos para planejamento das aulas.
• Refletir sobre o papel das competições em ambiente
escolar.
unidade

III
INTRODUÇÃO

O
lá, seja bem-vindo(a) à Unidade III. Na unidade anterior, es-
tudamos sobre a pedagogia relacionada ao ensino de lutas.
Nesta unidade, vamos avançar para aspectos mais práticos
quanto à aplicação destes conteúdos em diferentes contextos.
Destes serão considerados os ambientes escolares e os não escolares.
Particularmente, quanto ao ambiente não escolar, sabemos que, de
acordo com a abordagem da prática, o treinador não precisa ser, necessa-
riamente, professor de educação física. Por exemplo, quando uma aula de
lutas é direcionada para aspectos técnico-táticos e filosóficos de uma mo-
dalidade específica, estes conceitos transcendem os limites da educação
física e envolvem uma ampla gama de expressões dessa cultura corporal.
Por outro lado, quando esta aula apresenta objetivos físicos, seja para de-
sempenho esportivo ou por aspectos estéticos, esta formação se torna
indispensável, seja por segurança ou por eficiência e eficácia.
Independentemente da abordagem e das questões legais sobre atua-
ção profissional, é inegável que a formação em educação física contribui
sobremaneira para a qualificação das aulas em quaisquer destes ambien-
tes. Neste contexto, é objetivo desta unidade propor a você, aluno(a), o
desafio de pensar as questões práticas e a distribuição destes conteúdos
nos diferentes contextos por meio do planejamento diário (planos de
aula) e de longo prazo (semestres e anos).
Além disso, vamos aprofundar os conceitos de jogos de oposição e
associá-los aos temas transversais que precisam fazer parte da atuação
do professor em qualquer ambiente e discutir sobre o papel de eventos
competitivos na formação do aluno.
LUTAS

Do Ensino Fundamental ao
Ensino Médio
Caro(a) aluno(a), neste tópico, convido você a por aprimoramento. A exemplo disso, neste docu-
construir a distribuição dos conteúdos de lutas a mento, as lutas não são sugeridas nos 1º e 2º anos.
longo prazo, com foco em aspectos de “como fazer”. Como vimos na unidade anterior, até mesmo os pe-
Considerando uma distribuição ideal, como deve- quenos poderiam se beneficiar destas práticas com
riam estar postas as expressões das lutas, artes mar- atividades lúdicas, pré-desportivas, recreativas, co-
ciais e modalidades esportivas de combate durante operativas, em forma de brincadeiras e jogos. Neste
o cronograma escolar? ponto, precisa ficar claro para você, aluno(a), que
Apesar de existirem indicações genéricas sobre a atuar com o conteúdo de lutas é ir além das modali-
distribuição dos conteúdos inerentes à educação fí- dades esportivas, e envolve aspectos históricos, cul-
sica, na estrutura vigente (BRASIL, 2018), as suges- turais e filosóficos importantes ao desenvolvimento
tões apresentadas são muito amplas e ainda passam do indivíduo.

80
EDUCAÇÃO FÍSICA

Bom, mas como poderia ocorrer a distribuição modifica-se a questão chave: quais as capacidades
destes conteúdos a longo prazo? Seguindo as indica- esportivas envolvidas nas lutas? Lembre-se da opo-
ções gerais apresentadas no último tópico da unida- sição, da imprevisibilidade, da fusão entre ataque e
de anterior, vamos especificar. defesa, dos ataques mútuos e do fato de ter o corpo
Partindo da estrutura sugerida por Greco e do oponente como alvo para agarre ou toque diretos
Brenda (GRECO, 2012), uma disposição de fases e ou indiretos.
etapas pode ser pensada para uma iniciação espor-
tiva universal e, apesar de o ambiente escolar não TRANSIÇÃO
se limitar ao aspecto esportivo, vamos usá-lo como
base do desenvolvimento para as atividades e asso- Esta etapa divide-se nas fases Universal 3 (10 a 12
ciar esta progressão aos conteúdos transversais. anos), de orientação (12 a 14 anos) e de direção
O modelo sugere uma estrutura com 3 fases para (14 a 16 anos). Neste ponto, iniciam-se os concei-
cada uma das 3 etapas de desenvolvimento que estão tos esportivos propriamente ditos com universali-
contidas na idade escolar. Neste contexto, as etapas dade esportiva, aprendizagem de várias modalida-
são de formação, de transição e de decisão. des esportivas e direcionamento para uma ou duas
modalidades a serem futuramente especializadas,
FORMAÇÃO respectivamente. No contexto das modalidades es-
portivas de combate, a universalidade proposta na
A etapa de formação é dividida nas fases Pré-escolar fase Universal 3 indica o conhecimento das seme-
(<6 anos), Universal 1 (6 a 8 anos) e Universal 2 (8 lhanças e diferenças entre habilidades esportivas de
a 10 anos). Nestas, o objetivo das práticas envolveria diversas modalidades de combate, seguindo uma
habilidades motoras fundamentais, habilidades mo- progressão direta da fase que precede. Já na fase de
toras fundamentais combinadas e a combinação de orientação, migra-se das habilidades esportivas para
habilidades esportivas, respectivamente. Neste pon- as modalidades propriamente ditas, enquanto que o
to, questões chave podem ajudar a entender quais direcionamento de uma ou duas modalidades rece-
atividades podem relacionar o conteúdo das lutas beriam maior atenção. Neste último, possivelmente
a estas fases. Por exemplo: quais são as habilidades haja conflito com a proposta escolar, o que pode ser
motoras fundamentais que podem ser adquiridas resolvido com atividades em turno inverso ou en-
por meio de jogos de oposição e brincadeiras de corajamento para práticas em ambiente não escolar.
combate? Uma atividade de agarrar pode estar asso-
ciada à modalidades de domínio, do mesmo modo DECISÃO
que uma atividade de rolar pode fazer parte da ini-
ciação às técnicas de absorção de impacto de quedas Nesta etapa, já ao fim da vida escolar, o aluno pas-
e projeções. Portanto, poderiam ser manipuladas saria por uma fase de escolha que envolve a prática
de modo isolado na fase Pré-escolar, ao passo que esportiva de lutas com fins estéticos, de saúde e de
podem ser combinadas entre si e com outras (como lazer ou a prática competitiva que visa performance
equilíbrio) na fase Universal 1. Já na Universal 2, e alto rendimento.

81
LUTAS

Como mencionado anteriormente, é possí- lidades “para saber praticar” e modalidades “para
vel que, neste ponto, perceba-se que o objetivo da conhecer”. Neste sentido, a primeira recebe maior
prática, talvez, fuja do escopo escolar. Por outro atenção e frequência de aulas, enquanto a segunda
lado, se os princípios pedagógicos do esporte fo- é trabalhada por meio de vivências. No entanto, é
rem considerados, fazer com que o escolar goste de necessário destacar que precisa haver variações nas
praticar esporte e se torne um adulto fisicamente modalidades de cada categoria, ao invés de deixar
ativo parece ser uma contribuição social relevante. que modalidades hegemônicas, como o futebol,
handebol, voleibol e o basquetebol, caiam sempre na
REFLITA categoria “para saber praticar”.

Considerando este modelo geral de progres-


são dos conteúdos, reflita sobre a proporção
de aulas que pode ser direcionada para o
conteúdo de lutas.

Partindo desta sugestão de progressão, algumas dis-


tribuições deste conteúdo podem ser sugeridas. Para
o ensino fundamental menor, abordagens de lutas,
artes marciais e esportes de combate podem estar in-
seridas de modo contextualizado às esferas de jogos
e brincadeiras, ao passo que, ao avançar da idade,
aulas específicas passem a receber maior atenção.
Por mais que se reconheça o esporte, especialmente
modalidades coletivas, como expressão dominante
na educação física escolar, idealmente é necessário
que se busque equilíbrio entre as práticas corpo-
rais. Esta distribuição poderia se dar por bimestre/
trimestre/semestre, nos quais cada período ficaria
direcionado para práticas específicas.
Outra perspectiva sugere a adição de uma espé-
cie de circuito de aulas com diferentes modalidades
e variação mais frequente. Uma terceira poderia ser
proposta com base no modelo do projeto segundo
tempo (RUFINO, 2014), que seria classificar as mo-
dalidades a serem trabalhadas de acordo com o grau
de aprofundamento, classificando-as como moda-

82
EDUCAÇÃO FÍSICA

83
LUTAS

Ensino de Lutas
no Ambiente não Escolar
As lutas, artes marciais e modalidades esporti- Usualmente, aulas de lutas em ambientes fora da
vas de combate fazem parte de uma gama cultu- escola seguem uma estrutura altamente tecnicista,
ral que é maior do que o ambiente de educação nas quais os modelos de comando (lembre-se dos es-
e escolar. Isto ocorre pois as expressões das lutas tilos de Mosston) ainda são predominantes. De modo
transcendem aos muros das escolas e são percep- geral, estas aulas são compostas por aquecimentos,
tíveis nos mais diversos espaços. Nos ambientes treinamento da técnica e momento de luta. Obvia-
de academias, praças, centros esportivos e centros mente que existem professores que fogem a esta regra,
de treinamento, a prática de lutas é realizada para especialmente com o crescimento da inserção do pro-
manutenção e promoção da saúde, defesa pessoal, fessor de educação física e da ciência do esporte nes-
aprimoramento da técnica, alívio do estresse, esté- tes contextos; por outro lado, este ainda parece ser o
tica e para fins competitivos. Mas como funciona a modelo vigente. Assim, vamos analisar uma aula ha-
estrutura dessas aulas? bitual de lutas considerando estas como perspectivas
vigentes por meio da análise de problemas e soluções.

84
EDUCAÇÃO FÍSICA

O AQUECIMENTO

Se você já praticou lutas ou assistiu a uma aula/treino, talhes de uma, certifique-se de que o aquecimento não
pode perceber que, com frequência, os aquecimentos promova elevado dano muscular e fadiga, pois esta con-
nas modalidades de combate são, normalmente, lon- dição pode afetar negativamente a aquisição de infor-
gos (>20 min) e compostos por exercícios calistênicos mação que deverá ser, posteriormente, automatizada.
e corridas que pouco se aproximam dos gestos que Por outro lado, se o objetivo for aprimorar uma técni-
serão utilizados. Isso ocorre, pois, em muitos casos, ca já conhecida e dominada pelo lutador, existe, sim,
existe uma tentativa de promover preparação física a possibilidade de manipular o aquecimento para que
associada à preparação técnico-tática. Assim, o pro- seja mais exigente (não necessariamente mais longo).
blema se encontra justamente neste ponto. Por exem- Isto faz com que o indivíduo experimente a aplicação
plo, um aquecimento exaustivo e com volume pro- das técnicas em situações que se assemelham às das
longado pode afetar negativamente o aprendizado da lutas. Ainda, o professor pode, neste momento, criar
atividade técnica subsequente, do mesmo modo que condições situacionais das lutas, tais como iniciar uma
uma parte inicial repleta de alongamentos forçados luta de Jiu-jitsu com o oponente em uma posição de
pode atrapalhar a produção de potência. Um segundo vantagem como a montada, ou um lutador de Muay-
ponto negativo é a pouca (ou nenhuma) relação com -Thai pode iniciar uma sessão de treinamento de uma
os gestos específicos da modalidade. posição desfavorável/favorável utilizando o clinch ou
Solucionar esse problema pode ser simples. Você as cordas do ringue.
se lembra dos jogos de oposição apresentados na Uni- Apesar de pouco utilizados, é neste momento
dade II? Por que não começar a prática de modalidades que os estilos de ensino de Mosston, como o desco-
de combate com este tipo de atividade? Motivos são brimento guiado e a resolução de problemas, pode-
muitos e envolvem a manutenção da especificidade, ou riam ter uma aplicabilidade interessante.
seja, a intensidade se aproxima da experimentada em
luta e os gestos simulam os desafios que serão solicita- A LUTA
dos na hora da luta, como a imprevisibilidade, o ataque
mútuo, o contato corpo a corpo e a oposição em si. Após incontáveis repetições de gestos motores previ-
síveis e nada reflexivos, possivelmente haverá um mo-
O TREINAMENTO DA TÉCNICA mento de luta. Normalmente ocorrem de modo livre
e com temporalidade aleatória. Não é à toa que este,
Logo após o aquecimento, inicia-se o momento da aula possivelmente, seja o momento mais esperado das au-
voltado para o aprimoramento da técnica. Novamente las, visto que o que se quer é lutar. Neste sentido, a in-
por estilo de comando e por meio da imitação, os alu- dicação geral é que o ato de lutar tenha maior papel e
nos são submetidos a incontáveis repetições de movi- atenção durante essas aulas. De fato, se as fases anterio-
mentos cíclicos e previsíveis. Neste ponto, é necessário res foram exaustivas, esta também o será, deve-se en-
considerar um fator essencial que é a fadiga. Se o objeti- tender que há aumento nas chances de lesões, visto que
vo aqui é aprender uma nova técnica ou aprimorar de- o suporte muscular fica comprometido pela fadiga.

85
LUTAS

Abordagem de Temas Transversais por


Meio do Ensino de Lutas
Caro(a) aluno(a), é papel da escola e dos ambientes de unir os conteúdos específicos da disciplina com estes
formação abordar temas transversais que transcendem conteúdos transversais. Se possível, e idealmente, é
os conteúdos específicos de cada disciplina. Dentre es- positivo quando estas abordagens acabam por serem
tes, podemos destacar as relações entre a) Orientação feitas de modo multidisciplinar. Do mesmo modo, es-
sexual; b) Pluralidade cultural; c) Saúde; d) Trabalho tes temas precisam estar presentes no ensino não es-
e consumo; e) Meio ambiente (BRASIL, 1997; RUFI- colar (ou não-formal) e, com o auxílio da tradicional
NO, 2014). Neste sentido, acompanhando a lógica da influência dos mestres nas artes marciais no compor-
entidade escolar e considerando os princípios pedagó- tamento dos praticantes, torna-se um ambiente com
gicos do esporte, as aulas de Educação Física precisam potencial para estas reflexões e ações.

86
EDUCAÇÃO FÍSICA

REFLITA Para abordar estes temas, a elaboração de questões


norteadores a serem respondidas em sala parece ser
Partindo do pressuposto de que estas dis- um ótimo ponto de partida para que se tenha clareza
cussões devem estar presentes nas aulas daquilo que se quer discutir. Neste sentido, vou indi-
de Educação Física e, portanto, de modo car questões genéricas para cada um dos conteúdos
paralelo ao conteúdo de lutas, reflita sobre
estratégias que podem auxiliar a atender a ser abordado e uma sugestão de como abordar em
estas demandas. sala. Ao final deste tópico, sugiro dois modelos de
planos de aula que se encaixam nestas perspectivas.

ORIENTAÇÃO SEXUAL

Partindo do pressuposto que a escola e ambientes


formativos têm um papel importante no processo
de construção da sexualidade dos alunos, torna-se
este tema indispensável a ser considerado em para- Sugestões de abordagem
lelo aos conteúdos específicos. Neste item, podem ser utilizadas estratégias práticas
com foco em defesa pessoal relacionada ao abuso,
Questões norteadoras práticas de combate entre meninos e meninas e/ou
Consenso e abuso, quais os limites? Lutar é coisa uma abordagem prática das potencialidades de cada
de menino? Diferenças entre meninos e meninas? um no esporte. Você também pode buscar notícias
Existe preconceito com meninas lutadoras? Existe atuais para que sejam base para os debates ao fim da
bullying entre gêneros? aula ou para trabalhos de casa.

87
LUTAS

PLURALIDADE CULTURAL

Sugestões de abordagem
Para este item, os conceitos históricos e culturais
abordados nas unidades anteriores podem ajudar.
Como estratégias, o estudo histórico das modali-
dades de combate parece ser interessante, ao passo
que as vivências e experiências das diferenças entre
gestos, costumes, vestimentas e demais característi-
cas podem ilustrar o modo como estas expressões
culturais se aproximam e divergem dependendo do
ponto de vista.

SAÚDE

Considerando que saúde não se trata apenas de


ausência de doenças, sugere-se que uma aborda-
gem de saúde associada às práticas corporais não
deve se limitar aos fatores biofisiológicos da saú-
de, mas também contemplar os aspectos sócio-
-culturais e políticos que envolvem a promoção
de saúde.
Trata-se das múltiplas facetas culturais inseridas em
um determinado contexto. A capoeira, por exemplo, Questões Norteadoras
apresenta aspectos inerentes a culturas distintas e Quais os conceitos de saúde vigentes? Quais os cus-
sua história acaba por se confundir com a história tos de saúde do Estado? Qual o papel das práticas
dos negros escravizados no Brasil, ao passo que se corporais na manutenção e promoção da saúde?
confunde com uma formação de identidade brasilei- Aula sobre saúde precisa ser obrigatoriamente te-
ra e une música e luta de modo singular. órica? De que modo a prática de modalidades de
combate pode contribuir para melhoras de saúde e
Questões norteadoras prevenção de doenças?
O que é cultura? Quantas culturas você percebe que
existem no Brasil? As modalidades de combate são Sugestões de abordagem
oriundas de quais culturas? As modalidades de com- Medidas antropométricas, fisiológicas e de desem-
bate brasileiras tem aspectos culturais oriundos de penho físico podem ser ótimos aliados para que os
que países? A pluralidade cultural está, atualmente, alunos acompanhem seu desenvolvimento ao longo
sendo respeitada nos ambientes que você vive? do tempo. Apresentar alterações hemodinâmicas

88
EDUCAÇÃO FÍSICA

após a realização de combates e jogos de oposição rapeutas, professores de educação física, gestores,
pode ser uma opção, você precisa medir a frequên- promotores de eventos, publicitários e outros que
cia cardíaca e a pressão arterial dos alunos, ao final apresentem suas perspectivas sobre a atuação com
calcula o duplo produto (frequência cardíaca x pres- atletas de lutas.
são arterial sistólica) e pede que os alunos interpre-
tem os resultados. MEIO AMBIENTE

TRABALHO E CONSUMO A relação das lutas com o meio ambiente pode ser
entendida a partir de aspectos espirituais, que se dá
Parte-se do pressuposto que vivemos em uma so- por meio de meditação. Além disso, há, de fato, uma
ciedade de hiperconsumo que parece manter uma proximidade dos lutadores com os cuidados com a
tendência exponencial neste mesmo sentido. Para natureza, visto que se parte de questões filosóficas
dar conta deste consumismo, aumenta-se a deman- que permeiam as artes marciais.
da por trabalho e produtividade, o que nem sem-
pre (ou raramente) parece apresentar relação com Questões norteadoras
ascensão social. Quais são os ambientes em que as lutas são desen-
volvidas? Existem materiais de lutas que são reciclá-
Questões norteadoras veis? Como descartar/reaproveitar materiais para o
Como é e quem são as pessoas que trabalham com uso nas lutas?
lutas? Como são as condições dos atletas de moda-
lidades de combate? Quem são os profissionais que Sugestões de abordagens
atuam de modo profissional direta e indiretamente Neste ponto, uma relação interessante pode ser feita
com lutas? com a necessidade de improvisar materiais para as
aulas de lutas. Confeccionar “espadas” com garrafas
Sugestões de abordagem pet ou “espaguetes” de piscina velhos e criar um ta-
Visitas a espaços nos quais as lutas são oferecidas e tame com raspas de pneu e lona são exemplos.
visitas de pessoas que atuam com lutas podem ser
relevantes; seminários com atletas e professores EXEMPLO DE PLANOS DE AULA
também. Além disso, trabalhos que busquem pes-
quisar a atuação de profissionais de diferentes áreas Veja este exemplo de plano de aula para lutas rela-
nas lutas pode ser outra ideia interessante. Imagine cionado a temas transversais proposto no programa
um seminário com odontólogos, médicos, fisiote- segundo tempo (RUFINO, 2014):

89
LUTAS

TEMA DA AULA - Lutas, trabalho e consumo

RODA INICIAL
• Essa aula enfatizará o tema do trabalho e do consumo e sua relação com as lutas. Inicial-
mente, pergunte aos alunos quais são os principais materiais utilizados nas lutas (ves-
timentas, como o kimono, as faixas coloridas, luvas, protetores para diversas partes do
corpo, entre outros).
• Além disso, pergunte quais outros materiais relacionados às lutas eles conhecem e que
estão presentes no dia a dia como, por exemplo, bonés, camisetas, bermudas, cadernos e
outros utilizados por muitos jovens cujas marcas representam as lutas.
• Pergunte se os alunos conhecem algumas marcas relacionadas às lutas. Fale para eles
sobre o UFC (Ultimate Fighting Championship), um evento de luta de MMA e também uma
marca de materiais diversos que tem se popularizado muito nos últimos tempos. Deixe
claro que o UFC não é sinônimo de MMA, mas apenas uma marca que organiza eventos de
MMA, assim como existem inúmeros outros no mercado.
• Pergunte para os alunos quais desenhos, filmes, gibis etc. eles conhecem sobre lutas. Se
possível, peça que eles escrevam em uma folha de papel quais são os desenhos e filmes
favoritos e discuta sobre essas preferências.

DESENVOLVIMENTO
1. Adaptando materiais: peça para os O objetivo do jogo é que um dos alu-
alunos trazerem materiais alternativos nos, o atacante, conquiste o objeto. En-
para a aula, tais como jornais, peda- quanto isso, o outro aluno, o defensor,
ços de madeira, tecidos, entre outros: deverá evitar que o colega conquiste
a) Como esses materiais poderiam ser o objeto; d) Para realizar as ações só
usados nas lutas? b) Peça para os alu- é permitida a realização de movimen-
nos, em grupos, apresentarem as pos- tos de agarre; e) Decorridos alguns mi-
sibilidades de utilização desses mate- nutos, o professor inverte as ações e
riais em lutas; c) Após a apresentação, quem estava atacando passa a defen-
discuta com os alunos as possibilidades der e vice-versa; f) Ao final, é importan-
de uso desses materiais e como isso se te deixar claro que a atividade simula
relaciona com a questão do consumo e a conquista de objetos que podem re-
ambiente em nossa sociedade. presentar os bens materiais existentes
2. Lutando pelos objetos: em duplas, em nossa sociedade, ou seja, aqueles
um de frente para o outro: a) Cada du- que conquistaram mais objetos repre-
pla deverá ter um objeto que pode ser sentam os grupos sociais que têm mais
uma pequena bola de tênis, um pren- bens de consumo, ou seja, as classes
dedor, ou algum outro implemento; b) mais ricas, dessa forma esse jogo pode
O objeto deverá ser colocado no chão ser uma representação simbólica do
a uma distância pequena das duplas; c) que acontece em nossa sociedade.

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

3. A mímica das lutas nos filmes e dese- 4. Lutando contra o lixo: dois times com
nhos: as lutas têm grande projeção nos o mesmo número de integrantes em
filmes e desenhos, por isso, devem ser cada um. É preciso haver diversos ar-
vivenciadas situações que permitam en- cos espalhados pelo chão nessa ativi-
tender o que acontece com as lutas nas dade. Cada time começará em um lado
mídias, tais como os superpoderes de da quadra (usar o espaço da quadra de
alguns personagens, por exemplo: a) Di- voleibol, que é menor), um time será
vidam os alunos em pequenos grupos; b) o time da ‘sujeira’ e o outro time será
Cada grupo deverá elaborar uma cena de o time da ‘limpeza’. O objetivo do time
luta que imite algum desenho ou filme. da ‘limpeza’ será entrar na quadra do
As opções são diversas, tais como Ben time da ‘sujeira’ e colocar cada um dos
10, Power Rangers, Dragon Ball Z, As me- integrantes desse time nos espaços de-
ninas superpoderosas, Jack Chan, Liga da marcados com os arcos que serão con-
justiça, Homem aranha, entre outros. Ou siderados como os ‘lixos’. Para isso: a)
filmes, como Matrix, Kung Fu Panda, O Os integrantes do time da ‘limpeza’ de-
Último Samurai, Rocky, Menina de Ouro, verão executar ações de empurrar e pu-
entre muitos outros; c) Após o grupo en- xar as pessoas do time da ‘sujeira’ até
saiar alguns movimentos de luta relacio- que eles entrem nos arcos dos ‘lixos’; b)
nados aos filmes e desenhos, começarão Os integrantes do time da ‘sujeira’, por
as apresentações que deverão ocorrer sua vez, deverão se opor às pessoas do
em formato de mímica; d) Cada grupo outro time também por ações de em-
apresentará sua cena sem poder falar purrar e puxar, evitando entrar nos ar-
nada. Enquanto isso, os outros grupos cos; c) Após algum tempo de atividade
tentarão adivinhar a cena; e) Após a apre- delimitado pelo professor (pode variar
sentação dos grupos, é possível questio- de acordo com o número de integran-
nar aos alunos quais deles gostam des- tes nas equipes) computa-se quantas
ses filmes e desenhos e os motivos disso. pessoas do time da ‘sujeira’ entraram
É importante discutir que a mídia em ge- no ‘lixo’; d) Posteriormente, os papéis
ral apresenta as lutas como forma de bri- dos times são invertidos e quem estava
ga, ou então de vitória a qualquer custo, na ‘limpeza’ passa a fazer parte do time
e não na perspectiva do respeito; f) Além da ‘sujeira’ e vice-versa; e) Por fim, dis-
disso, há, em grande parte das vezes, um cute-se com os alunos o lixo produzido
exagero de quem luta e ganha de todos pela humanidade, reforçando os malefí-
os outros. cios do consumo exagerado.

RODA FINAL
• Pergunte aos alunos se eles gostaram das atividades propostas.
• Enfatize a importância das relações de trabalho e consumo no que corresponde às lutas
com as atividades vivenciadas.
• Por fim, peça que os alunos realizem uma pesquisa sobre as principais marcas relaciona-
das as lutas na sociedade.

91
LUTAS

SAIBA MAIS

Apesar de frequentemente serem entendidos


como desafios, os temas transversais pre-
cisam ser abordados para que a escola e a
educação física contribuam de modo relevan-
te com uma sociedade mais justa e humana.
Leia as notícias a seguir e discuta com sua
turma sobre estas questões de bullying no
esporte e sobre a inserção do gênero trans no
esporte de alto rendimento, respectivamente.
<https://tudosobremma.com/pt/8227/cris-
-cyborg-comenta-publicacao-da-equipe-de-
-holly-holm>
<https://istoe.com.br/primeira-atleta-trans-
-tiffany-quebra-recorde-na-superliga-femi-
nina-de-vlei/>

Fonte: o autor.

92
EDUCAÇÃO FÍSICA

93
LUTAS

Montando a Aula
Agora que já visitamos os conceitos de progressão Aulas de educação física ou de lutas nas academias
em ambientes formais e não formais e discutimos passam por uma estrutura praticamente universal
os fatores transversais no contexto das lutas, convi- que contempla parte inicial, parte principal e volta a
do você a pensar em como se dá a estrutura de uma calma, que também podem receber a nomenclatura
aula de lutas em ambos os ambientes. Além disso, de Roda inicial, Desenvolvimento e Roda Final (RU-
são apresentados alguns exemplos que podem servir FINO, 2014). Em cada um destes momentos, ativi-
como base para que você possa ajustar à sua realidade. dades e objetivos específicos são sugeridos.

94
EDUCAÇÃO FÍSICA

RODA INICIAL RODA FINAL

Neste momento de início da aula, uma introdução se Ao final do encontro o fechamento e a reflexão são
faz necessária. Você deve apresentar os objetivos da necessários. É importante retomar os objetivos apre-
aula e deixar claro o que espera atender ao final dela. sentados na Roda inicial e relembrar de que modo
Frequentemente, esse momento é repleto de exercí- eles foram atingidos. Reflexões adicionais sobre a
cios de alongamento e aquecimento, especialmente generalização dos conteúdos para outros ambientes
em academias, mas a conversa inicial nem sempre podem ser bem vindas. É também o momento de
é contemplada. Sem as informações sobre os obje- avaliação, tanto seu sobre a participação e engaja-
tivos, metas, o tema e as atividades do restante da mento dos alunos quanto dos alunos sobre o desen-
aula, os alunos podem demorar a entender e se en- volvimento da aula, os objetivos, as atividades e o
gajar nas atividades propostas, o que reduz seu po- modo como o professor direcionou as práticas. Por
der de participação, contribuição e criticidade. fim, é interessante apresentar as atividades para casa
(se houver) e algumas indicações sobre o que será
DESENVOLVIMENTO abordado no próximo encontro.

Neste momento, ocorrem as atividades propriamen- EXEMPLO DE PLANOS DE AULA


te ditas. Como vimos na Unidade II, você tem di-
ferentes possibilidades, métodos e estratégias para Veja esse exemplo de plano de aula para lutas pro-
utilizar. Sugere-se, inclusive que diferentes espectros posto para o programa segundo tempo (RUFINO,
dos métodos de ensino sejam contemplados ao lon- 2014). Objetivo: trabalhar os conceitos de classifica-
go das aulas; por outro lado, dentro de uma mesma ção das lutas.
aula, procure se limitar a um ou dois métodos para
que fique claro para o aluno o sistema e os mecanis-
mos de prática deste momento.

REFLITA

Lembre-se do espectro de Mosston. Identi-


fique se o objetivo proposto para sua aula
será melhor atendido com as decisões sendo
tomadas pelo professor ou com maior prota-
gonismo dos alunos.

95
LUTAS

RODA INICIAL
• Quantas modalidades de luta existem no mundo? O professor pergunta aos alunos quais
são as modalidades de lutas que eles conhecem e solicita que anotem em um quadro
(ou papel).
• Tente ajudá-los tanto com as modalidades mais conhecidas como o judô, jiu jitsu, caratê,
kung fu, boxe etc., até aquelas menos conhecidas como krav maga, kendo, aikido, hapkido,
entre outras.
• Pergunte-lhes o que há em comum nas lutas: chutes, socos, agarres? Podemos fazer uma
comparação com práticas mais curtas, que exigem agarres, e mais distantes, como os chu-
tes e socos. Pergunte quais são as distâncias possíveis nas lutas.
• Deixe claro que não será possível ensinar todas as modalidades de luta na escola por
conta de uma série de fatores, mas que haverá um esforço para ensinar diferentes carac-
terísticas das modalidades de modo geral. Convide os alunos a entrarem no universo das
lutas a partir das vivências das distâncias.

DESENVOLVIMENTO

• Aquecimento no trem das lutas (ações • Estica e puxa (ações de curta distância –
de média distância – toque no outro): agarre no outro): em duplas, um de fren-
os alunos devem formar uma fila, um te para o outro. O objetivo da atividade é
atrás do outro com os braços no om- que uma pessoa da dupla consiga deslo-
bro do companheiro da frente. Eles car a outra em um espaço delimitado (as
não podem soltar as mãos do ombro linhas da quadra podem servir de mar-
do colega ao longo da brincadeira. O cação), esta deverá buscar manter-se no
objetivo da atividade é que o primeiro lugar: a) A pessoa que estiver puxando,
aluno (que está na frente da fila) pegue só poderá fazer isso pelos braços da ou-
o último aluno da fila sem fazer com tra pessoa; b) O aluno que estiver para-
que o ‘trenzinho das lutas’ se desfaça: do, por sua vez, deverá buscar formas
a) Caso o aluno da frente concretize de manter-se no lugar. Para isso, é im-
seu objetivo e pegue o último aluno, portante aprender a usar o quadril, ou
ele deverá ir para o final da fila e o se- seja, abaixar um pouco, flexionar os joe-
gundo colocado na fila assume a po- lhos e fazer força como quadril no senti-
sição de primeiro lugar e, consequen- do contrário. Se a pessoa puxar para um
temente, torna-se o pegador e assim lado, o quadril deve forçar para o outro
por diante, repetidamente até o sinal e vice-versa; c) Decorridos alguns segun-
do professor; b) Repete-se a atividade dos, trocam-se as funções e quem esta-
procurando sempre trocar quem está va tentando se manter parado passa a
na frente e atrás da fila. puxar a outra pessoa e vice-versa.

96
EDUCAÇÃO FÍSICA

• De cara com a fera (ações de curta dis- ser 2 ou 4 grupos). O objetivo da ativi-
tância – agarre no outro): em duplas, dade é que cada aluno possa adquirir a
os alunos devem estar postos um de fita do oponente do outro grupo. Para
frente ao outro: a) Os braços devem isso: a) ao sinal do professor, os alunos
estar estendidos e as palmas das mãos que estão em primeiro lugar de cada
das duas pessoas da dupla devem es- grupo deverão dirigir-se correndo ao
tar se tocando; b) As pernas estendidas centro da quadra e iniciar o processo
e o corpo levemente projetado para a de aquisição da fita do colega do outro
frente; c) O objetivo é apoiar-se na ou- grupo que deverá fazer a mesma coi-
tra pessoa e buscar desequilibrá-la para sa; b) Assim que um dos dois conseguir
um dos lados, porém buscando manter- adquirir a fita do outro, eles deverão se
-se em equilíbrio. dirigir de volta aos seus respectivos gru-
• Estafeta das lutas (ações de média dis- pos; c) O aluno que se saiu vitorioso do
tância – toque no outro): em grupos enfrentamento deverá depositar a fita
com o mesmo número de participantes do colega do outro grupo em uma caixa,
em cada um. É necessário que cada alu- localizada próximo a sua fila (podendo
no tenha uma fita (ou corda, ou papel ser substituída por uma sacola, balde
crepom, ou algum outro material) presa etc.); d) Ganha a atividade o grupo que
em sua cintura o qual deverá ser puxa- conseguir adquirir mais fitas do grupo
do por alguém da outra equipe (pode que enfrentou na estafeta.

RODA FINAL
• Pergunte aos alunos: quais as principais características das atividades vivenciadas? O que
elas têm em comum? E de diferente?
• No diálogo, é importante encaminhar a discussão para que os alunos entendam que vi-
venciaram atividades de diferentes distâncias, algumas mais próximas dos companheiros
(atividades 2 e 3), outras mais distantes (atividades 1 e 4) e que isso provoca estratégias de
ação diferentes, ou seja, é diferente lutar mais próximo e mais distante.
• Das atividades vivenciadas, quais os alunos mais gostaram? Por quê?
• Peça para que os alunos pesquisem sobre lutas em que não haja o combate entre duas
pessoas como aquelas atividades de demonstração de formas e movimentos coreografa-
dos (katas e katis), que serão o tema para a próxima aula.

97
LUTAS

SAIBA MAIS

Para ter mais detalhes sobre a elaboração


destes planos de aula, aprofundar sobre o
planejamento do projeto segundo tempo e
conhecer outros exemplos de planos, acesse:
<http://www.esporte.gov.br/arquivos/snelis/
segundoTempo/livros/lutasCapoeiraPraticas-
Corporais.pdf>.

Fonte: o autor.

98
EDUCAÇÃO FÍSICA

99
LUTAS

Festivais e Competições

100
EDUCAÇÃO FÍSICA

O ato de competir, por vezes, dividiu e até mesmo Apesar de serem altamente focadas em modali-
polarizou pensadores da Educação Física. De fato, dades coletivas com bola, as competições escola-
este debate abrange questões norteadoras da área, res são uma ferramenta potencial para o ensino
em especial a pedagogia do Esporte. Se por um lado de lutas. Atualmente, dificilmente as competições
as competições podem ser excludentes, por outro escolares promovem momentos de reflexão, par-
podem ser uma ferramenta valiosa para o ensino de ticipação, cooperação, inclusão, co-educação, in-
valores positivos associados ao esporte, como o fair ter e transdisciplinaridade e outros tantos con-
play, a cooperação, o respeito ao oponente e a inclu- ceitos que fazem parte do balizamento da atuação
são. Parece que, antes de discutir esse tema, precisa- do professor. No modelo vigente, você pode ter
mos partir da premissa de que não é o esporte por si vivenciado que algumas escolas acabam por sele-
só que educa, mas sim o conjunto daquilo que faze- cionar seus alunos por desempenho na modalida-
mos, em especial os professores, com esta manifes- de de interesse para que façam parte de equipes de
tação da cultura corporal que determinará se essas treinamento específicas e um certo grau de pres-
práticas auxiliam ou atrapalham o desenvolvimento são é imposto, independentemente da faixa etária.
social dos indivíduos. De modo contrário ao modelo vigente, sugestões de
Além disso, vale reforçar que duas perspectivas festivais e competições com caráter educativo mu-
têm sido sugeridas acerca do Esporte e, obviamen- dam este panorama para uma abordagem voltada
te, das modalidades esportivas de combate no en- para o esporte a favor do aluno, e não o contrário.
sino formal: i) O esporte na escola e ii) O esporte Partindo desta perspectiva, o seu desafio como pro-
da escola. O primeiro trata-se de uma perspectiva fessor será de inserir os conceitos de competitivida-
de transferência direta daquilo que é praticado fora de, minimizando os efeitos negativos que essas prá-
dos portões da escola para dentro dela sem qual- ticas poderiam gerar.
quer ajuste de contextualização. Você percebe pais, Assim, Reverdito et al. (2008) reforçam que
colegas e professores agindo como expectadores em competir é importante, mas que, talvez, não pre-
finais de libertadores. Por outro lado, o esporte da cise ser, necessariamente, “contra”, mas “com” os
escola pode absolutamente o oposto. Neste sentido, demais colegas e lembram que competições esco-
este tópico convida a lembrar de suas experiências lares são uma ótima oportunidade para a interdis-
competitivas e a pensar em estratégias para utilizar ciplinaridade, não devendo o professor de Educa-
a competição como aliada no processo formativo e ção Física ser o único responsável. Na verdade, os
de modo contextualizado aos esportes de combate. alunos deveriam estar inseridos e serem responsá-
veis pelos processos organizacionais, participando
REFLITA da elaboração de documentos, regulamentos e do
processo gerencial dos eventos competitivos. Em
Reflita sobre as suas experiências relaciona- suma, os autores destacam que é possível aprender
das às competições no ambiente escolar e pelo esporte e pela competição, mas não por si só
debata brevemente com um grupo de colegas. e sim pelo direcionamento dado.

101
LUTAS

Esta perspectiva, inclusive, aplica-se nas com- No modelo anterior descrito, 100% dos entrevis-
petições fora das escolas. No Judô, por exemplo, tados (crianças e pais) se mostraram satisfeitos. Rela-
competições infantis seguem os modelos dos adul- tos sobre o fato de todos saírem felizes e de como foi
tos, mesmo que isso seja incoerente em sua essên- positivo “não precisar lidar com um grande número
cia. Como contraponto, uma estrutura de festi- de indivíduos (crianças) frustrados”, foram os princi-
val foi proposta (LEONÍDIO; KOHL; GONDIM, pais pontos fortes apontados pelos pais. Em contra-
2017). Nela, ao invés de classes por massa corporal partida, gestores e promotores de competições infan-
e regras rígidas em sistemas de vencedores e per- tis, no caso o judô, não se mostraram sensibilizados
dedores, os autores propuseram um sistema em com estes achados e indicam que o tradicionalismo
circuito de atividades que tinha por objetivo con- não pode ser quebrado e que “perder ensina e faz
templar os aspectos específicos das lutas, mas evi- parte da vida”, o que parece ser uma visão simplista
tar as experiências negativas de todos aqueles que do processo educacional e defendida especialmen-
sairiam perdedores em um modelo tradicional. O te por aqueles que (especula-se) foram vencedores.
circuito era composto por 6 estações: i) Jogos de Em suma, uma reflexão a ser proposta é sobre como
equilíbrio; ii) Jogos de atenção; iii) Handori (luta ensinar esporte e esportes de combate em sua plen-
propriamente dita); iv) Vídeo Game (David Dou- itude sem proporcionar práticas competitivas. Se
illet – PS2); v) Ukemi Waza (Técnicas de absorção você também entende que a resposta para essa per-
de impacto após projeções): e vi) Pintura (avalia- gunta é “não há como”, nos resta pensar em como
ção do evento). Perceba que a luta em si está pre- inserir estes modelos competitivos.
sente, mas de modo descompromissado, como se Sugere-se que o balizador do processo de toma-
fosse mais um dia de treinamento comum. Além da de decisões neste tópico é a Intenção Educativa,
disso, jogos de oposição propostos por Olivier e já ou seja, seja em ambiente escolar ou não, competi-
anteriormente estudados nas unidades anteriores ções para crianças devem partir de um caráter edu-
são componentes presentes (OLIVIER, 2000). A cacional. Se tornam requisitos deste modelo a inter-
inserção do vídeo game de luta associa o conceito disciplinaridade, a co-participação (protagonismo
de arte marcial milenar a aspectos presentes no dia do aluno), a contextualização com o projeto peda-
a dia das crianças. Por fim, perceba que à criança é gógico e o respeito aos princípios pedagógicos do
dado o poder da avaliação. esporte (REVERDITO et al., 2008).

102
considerações finais

Caro (a) aluno (a), chegamos ao final de mais uma unidade e, nesta etapa, em
especial, espero que você tenha absorvido elementos essenciais no processo de
planejamento de aulas de lutas em diferentes contextos.
Gostaria de reforçar que as lutas transcendem os limites da Educação Físi-
ca, visto que fazem parte de uma dimensão da cultura do movimento humano.
Mesmo assim, os conhecimentos que você está adquirindo durante sua formação
permitirão que você seja capaz de analisar criticamente a realidade das Lutas, Ar-
tes Marciais e as Modalidades de Combate, bem como será capaz de intervir para
aprimorar estas práticas nos diferentes ambientes onde se manifestam.
Não esqueça que, ao planejar suas atividades, os momentos iniciais e finais
são altamente relevantes para apresentar a temática e direcionar as atividades
com lógica e para encerrar de modo reflexivo de acordo com o conteúdo propos-
to, respectivamente.
Ainda vale destacar o papel formador (para o bem e para o mal) das compe-
tições de Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate. Lembre-se
que o modelo utilizado para os adultos não deve ser replicado para crianças. Na
verdade, para crianças, eventos “competitivos” podem ser substituídos por even-
tos cooperativos, com alto teor de atividades lúdicas e com pouca ou nenhuma
preocupação por classificações ou pódios e, com certeza, sem a exigência de pro-
cessos de perda e ajuste de massa corporal.

103
atividades de estudo

1. Quando esta aula apresenta objetivos físicos, seja 3. Dos temas transversais citados neste livro, esco-
para desempenho esportivo ou por aspectos esté- lha um e indique uma estratégia para abordá-lo
ticos, esta formação se torna indispensável, seja por na escola ou na academia.
segurança ou por eficiência e eficácia. De acordo
4. Indique o que deve conter em cada uma das
com o modelo de distribuição de conteúdos apre-
etapas sugeridas para compor a aula e quais
sentado, assinale a alternativa correta:
são estas.
a) Sugere-se focar em um número reduzido
de modalidades, desde o ensino funda- 5. O ato de competir, por vezes, dividiu e até mes-
mental, para formar atletas em potencial. mo polarizou pensadores da Educação Física.
Quanto às competições para crianças, assinale a
b) O direcionamento para modalidades espe-
alternativa correta.
cíficas ocorre apenas após os 12 anos.
a) Crianças devem competir como adultos,
c) Especialização precoce é positiva para que afinal perder educa e faz parte da vida.
haja tempo hábil para formar os futuros
medalhistas. b) Crianças não devem ser expostas a ne-
nhum tipo de competição, afinal existe ris-
d) Aprendizado da técnica recebe foco nas co de traumas físicos e psicológicos.
fases iniciais e o desempenho deve ser co-
brado até a fase adulta. c) Competições com foco em cooperação ou
festivais com múltiplos jogos são estraté-
2. As expressões das lutas transcendem aos muros gias interessantes.
das escolas e são perceptíveis nos mais diversos d) Competições com foco em técnica e tática
espaços. Nos ambientes de academias, praças, ajudam a aprimorar o desempenho motor
centros esportivos e centros de treinamento, a das crianças.
prática de lutas é realizada para manutenção e
e) Competições com foco em técnica e tá-
promoção da saúde, defesa pessoal, aprimora-
tica aumentam as chances de a escola
mento da técnica, alívio do estresse, estética e
vencer jogos escolares, o que deve ser
para fins competitivos. Nas academias e centros um objetivo.
de treinamento que oferecem lutas, a sugestão
pedagógica é:
a) Ignorar o que é sugerido para as escolas,
afinal são ambientes diferentes.
b) Ignorar o que é sugerido para as escolas,
afinal, na escola, não existem mestres e fai-
xas pretas nas modalidades.
c) Seguir estrutura de progressão dos conte-
údos de modo similar à escola, já que é,
também, ambiente formador.
d) Seguir estrutura de progressão dos conte-
údos de modo similar à escola, visto que
isto faz parte do sistema Iemoto.
e) Nenhuma das anteriores.

104
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia este trecho do livro “Lutas, Capoeira e Práticas Corporais de Aventura” e considere
as afirmações sobre as competições na infância.

“Indicador metodológico deve-se entender que as crianças, adolescentes e jovens são


os partícipes ativos do processo, devendo ser considerado seus interesses e intencio-
nalidades no momento de tomar decisões sobre os encaminhamentos das aulas. As-
sim, sempre que possível, pode-se solicitar aos alunos que indiquem caminhos para
modificar os jogos, as competições/festivais, as equipes participantes, as atividades
propostas pelos professores, bem como as regras dos jogos e dos esportes, além de
outras inúmeras possibilidades. Essa é uma forma de trazer o aluno para a aula, res-
peitar as suas contribuições e torná-lo mais ativo e participante. Consonante a isso,
destaca-se que essa condição só será possível com uma mediação bem articulada e
sistematizada por parte do professor, que se coloca como o responsável pelo bom
andamento do trabalho”.

Fonte: Rufino (2014).

105
material complementar

Indicação para Ler

Lutas, capoeira e práticas corporais de aventura


Fernando Jaime González; Suraya Cristina Darido; Amauri Aparecido Bássoli de Oli-
veira, org.; prefácio de Ricardo Garcia Cappelli.
Editora: Maringá : Eduem
Sinopse: esse livro pertence à Coleção Práticas Corporais e a Organização do Co-
nhecimento, que foi elaborada para subsidiar os profissionais envolvidos com o
esporte educacional. Esta Coleção transcende a ideia de atender apenas aos en-
volvidos com os programas e projetos da Secretaria Nacional de Esporte, Edu-
cação, Lazer e Inclusão Social- SNELIS do Ministério do Esporte, trata-se de uma
contribuição a todos que se interessam e atuam com o Esporte Educacional.

106
referências

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular Ministério da Educação. 2018.


BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros Curri-
culares Nacionais. Ministério da Educação (MEC), 1997, p. 126.
GRECO, P. J. Metodologia do ensino dos esportes coletivos: iniciação esportiva
universal, aprendizado incidental–ensino intencional. Revista Mineira de Edu-
cacao Fisica, Viçosa - MG, v. 20, n. 1, p. 145–174, 2012.
LEONÍDIO, L.; KOHL, H.; GONDIM, D. Inovação em modelos de festivais in-
fantis de judô: um relato de experiência. V Encontro Nacional de Artes Marciais
e Esportes de Combate. Anais… 2017.
OLIVIER, J.-C. Das brigas aos Jogos com Regras. Porto Alegre: ArtMed, 2000.
REVERDITO, R. S. et al. Competições Escolares: Reflexão e Ação em Pedagogia do
Esporte para fazer a diferença na escola. Pensar a Prática, v. 11, n. 1, p. 37-45, 2008.
RUFINO, L. G. B. Lutas, Capoeira e Práticas Corporais de Aventura. In: Práticas
Corporais e a organização do Conhecimento. Maringá: Editora da Universidade
Estadual de Maringá, 2014. p. 29-69.

gabarito

1. B.
2. C.
3. Orientação sexual; Pluralidade cultural; Saúde; Trabalho e consumo ou
Meio ambiente.
4. Roda inicial, parte principal e roda final.
5. C.

107
AVALIAÇÃO E PREPARAÇÃO FÍSICA
DE LUTADORES

Professor Dr. Victor Silveira Coswig

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Avaliações físicas gerais para lutadores
• Avaliações físicas específicas para lutadores
• Métodos para condicionamento metabólico de lutadores
• Métodos para condicionamento neuromuscular de
lutadores
• Periodização e organização do treinamento de lutadores

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer avaliações gerais aplicadas às lutas.
• Conhecer avaliações específicas aplicadas às lutas.
• Propor métodos de treinamento metabólico.
• Propor métodos de treinamento neuromuscular.
• Discutir modelos de periodização para atletas de lutas.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

O
lá, seja bem-vindo(a) à Unidade IV. Até aqui você estudou
sobre a história das lutas, sobre a pedagogia aplicada às lu-
tas e sobre o planejamento de aulas. Deste ponto em diante,
reforçamos o caráter biológico e relacionado ao desempenho
esportivo. Imagine-se no papel de preparador físico de lutadores. Quais
variáveis são importantes para a tomada de decisões? Como medi-las?
São as mesmas variáveis para “lutadores” ou as especificidades de cada
modalidade, categoria de peso e característica da competição devem ser
levadas em consideração? E como organizar os estímulos durante o ciclo
olímpico, durante o ano ou durante o mês?
Nesta unidade, convido você a explorar conceitos e estratégias para
monitorar e prescrever cargas de treinamento de atletas de modalidades
esportivas de combate. Vamos iniciar com uma abordagem geral sobre
avaliações aplicadas a lutadores e avançamos para as avaliações especí-
ficas para modalidades de impacto e de domínio. Em seguida, passamos
a conversar sobre estratégias para aprimorar o condicionamento físico
metabólico, que é composto pelos componentes de aptidão aeróbia e
anaeróbia. E avançamos para o condicionamento neuromuscular, que
envolve as manifestações de força e flexibilidade. Por fim, indicações
sobre a periodização e organização do treinamento são feitas a partir de
diferentes modelos teóricos. Mas atenção, esta unidade aborda aspectos
físicos e, portanto, aspectos técnico-táticos, psicológicos e cognitivos,
que também fazem parte da preparação dos atletas, não serão aborda-
dos com profundidade.
Neste ponto, você deve estar se perguntando se estes tópicos já não fo-
ram ou não serão abordados em outras disciplinas, como a de avaliações
físicas ou de treinamento desportivo. De fato imagino que estes pontos
estão sendo ou serão reforçados nestas e em outras disciplinas. Por esse
motivo, nesta unidade, não iremos abordar aspectos conceituais mais
aprofundados, mas sim na aplicação prática direcionada aos lutadores.
LUTAS

Avaliações Físicas
Gerais para Lutadores
Caro(a) aluno(a), neste tópico, busco apresentar a Inicialmente, precisamos categorizar os testes
você possibilidades de testes físicos que podem ser que serão indicados e essa categorização será a mes-
utilizados como indicadores indiretos da aptidão ma utilizada para diferir os métodos de treinamento
dos atletas. O termo “geral” se refere ao fato de que que seguirão nos Tópicos 3 e 4 desta unidade. Você
são avaliações de componentes básicos da aptidão e está familiarizado com os termos “condicionamento
não, necessariamente, envolvem gestos motores ou metabólico” e “condicionamento neuromuscular”?
características específicas das modalidades esporti- Pois bem, o primeiro se refere ao condicionamento
vas de combate. De fato, muitos dos testes aqui apre- associado às fontes energéticas, ou seja, o quão apto
sentados são aplicáveis a outras modalidades espor- seu atleta/aluno é aeróbia ou anaerobiamente? Ao
tivas. Aqui estes testes serão contextualizados para retomar conceitos das aulas de fisiologia do exercí-
que você entenda o por quê da sua relação com as cio você irá lembrar que os conceitos aeróbios são
lutas e o que os resultados podem indicar. associados à aptidão de consumir oxigênio (O2), en-

112
EDUCAÇÃO FÍSICA

quanto que os anaeróbios dizem respeito à aptidão só terá acesso a estes equipamentos em laboratórios
de utilização de fontes energéticas dos fosfagênios de pesquisa, e se tem acesso, você possivelmente já
(ATP e ATP-CP) e glicolítica (FRANCHINI, 2016a). sabe como manusear este equipamento. O foco, en-
Já o condicionamento neuromuscular refere-se às tão, será nos meios de medir de modo indireto com
manifestações de força que são a força máxima, a maior aplicabilidade prática e sem a necessidade de
resistência de força e a força explosiva ou potência equipamentos caros, o que (acredito), parece ser
muscular. Ainda nesta categoria, encontra-se a flexi- mais próximo da realidade da maioria dos atletas.
bilidade, que diz respeito aos graus de mobilidade e Pois bem, ainda neste tópico, uma divisão adicio-
amplitude articulares (FRANCHINI, 2016b). nal precisa ser feita. Capacidade aeróbia diz respeito
à intensidade na qual é possível manter a predomi-
TESTES GERAIS PARA APTIDÃO META- nância desta fonte energética por longos períodos de
BÓLICA tempo e é normalmente expressa pelo limiar anaeró-
bio ou de lactato. Já a potência aeróbia diz respeito à
máxima quantidade de O2 que um indivíduo pode
consumir em exercício extremo e é normalmente ex-
pressa pelo consumo máximo de O2 (VO2máx). Dito
isso, apresento um modelo de avaliação que pode ser
útil para estimar estes valores e para o qual você pre-
cisará de uma esteira e um cardiofrequencímetro.
Inicialmente são medidos os valores de frequ-
ência cardíaca (FC) em repouso e, na sequência,
um aquecimento de 5 a 10 min que contenha al-
guns sprints deve ser executado. Lembre-se que este
aquecimento precisa ser padrão para as reavaliações.
A velocidade inicial da esteira depende da aptidão
Como vimos, a aptidão metabólica se divide nos do atleta e, em lutadores, usualmente varia entre 6 e
componentes aeróbios e anaeróbios, portanto, apre- 8 km/h. Após o início, deve-se incrementar 1 Km/h
sento, aqui, possibilidades de testes que podem ser a cada 2 minutos (BILLAT; KORALSZTEIN, 1996).
aplicados para cada uma destas capacidades. O teste segue até a desistência do atleta, por exaus-
tão volitiva. Você deve anotar a FC a cada estágio, a
Condicionamento aeróbio FC imediatamente pós-teste (FCmáx) e a velocidade
Usualmente testes de aptidão aeróbia são aplicados final atingida (vVO2max) para posterior estimativa
com auxílio de ergoespirometria, ou seja, são usados do VO2max (BILLAT; KORALSZTEIN, 1996), se-
equipamentos que medem continuamente a relação gundo a equação:
entre o consumo de O2 e a produção de dióxido de
carbono (CO2). Não será objetivo deste tópico dis- VO2max = 2,209 + 3,163 x vVO2max + 0,000525542
cutir avaliações diretas e o motivo é simples, você x vVO2max3

113
LUTAS

Esses valores (FCmáx, vVO2max e VO2max) são Componente anaeróbio


seus indicadores de potência aeróbia. Para a estima- Novamente, para testar o componente anaeróbio,
tiva de capacidade aeróbia e, consequentemente, do as indicações ótimas envolvem testes com custos
limiar anaeróbio, você apenas precisa plotar os dados relativamente elevados e equipamentos específicos
de FC medidos no teste acima descrito e procurar que permitem a aplicação de protocolos, como o
o ponto de deflexão da FC (PDFC), que é definida de Wingate, medidas de máximo déficit de oxigênio
como uma quebra na linearidade do comportamen- acumulado (MAOD) e/ou concentrações de lactato.
to da FC, conforme ilustrado no gráfico da Figura Por outro lado, existe a possibilidade de avaliar este
1 (BODNER; RHODES, 2000). Para identificar o componente por meio do teste de Cunningham &
ponto, sugere-se utilizar o método “Dmáx”. Para de- Faulkner (CUNNINGHAM; FAULKNER, 1969).
fini-lo, você deve conectar os pontos extremos com Recentemente, verificamos que este teste parece
uma reta e, com uma linha perpendicular, verificar apresentar elevada capacidade de predição de tempo
qual ponto (acima de 140bpm) se afasta mais desta em alta intensidade em lutas de Judô e Jiu-jitsu bra-
reta (KARA et al., 1996). Perceba que, neste exemplo sileiro (COSWIG, 2017).
hipotético, a quebra de linearidade ocorre a 11km/h, Para esse teste, o atleta deve realizar, após aque-
ao passo que a exaustão foi atingida a 13km/h, que cimento, uma corrida até a exaustão com a veloci-
seriam considerados como capacidade aeróbia e po- dade da esteira colocada a 13 km/h e com inclina-
tência aeróbia, respectivamente. ção de 20% (CUNNINGHAM; FAULKNER, 1969).
O cronômetro é acionado quando o atleta inicia o
190
exercício e é parado quando este atinge exaustão vo-
180 litiva. Registra-se o tempo, em minutos e segundos.

170
REFLITA
Frequência Cardíaca (bpm)

160

Obviamente se você tiver acesso a ergoespi-


150
rometria, medidas de lactato ou a um teste
de Wingate, prefira estas avaliações diretas.
140

130

Nos próximos tópicos, vou abordar sobre como uti-


120
lizar estes valores para a prescrição dos treinamen-
110 tos aeróbios e anaeróbios. Por hora, considerando
que tanto capacidade quanto potência aeróbia e
100
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 anaeróbia são relevantes para manutenção de ações
Velocidade (km/h) de alta intensidade e para recuperação entre estas
Figura 1 - Ilustração do método de identificação do PDFC
ações durante combate, parece que a avaliação des-
Fonte: o autor. tes parâmetros se torna relevante para este público.

114
EDUCAÇÃO FÍSICA

TESTES GERAIS PARA APTIDÃO NEURO-


MUSCULAR

força já se torna necessária tanto para modalida-


des de agarre, para manutenção do domínio e as
pegadas no oponente quanto para as de impacto,
para manutenção da guarda elevada e a frequên-
cia de golpes. Porém, dentre estas, a potência é
claramente a manifestação de força de maior re-
levância em modalidades esportivas de combate,
visto que a associação da força com a velocidade
pode tornar os golpes contundentes e precisos.
Dito isso, vou descrever dois testes sugeridos para
potência e apenas citar os testes para as demais
capacidades mencionadas.
Para força máxima, testes de uma repetição
máxima (1RM) em exercícios básicos (Leg press,
agachamento, supino reto e remadas) ou em dina-
mômetro manual são ótimos indicadores, especial-
mente se relativizados pela massa corporal (1RM/
massa corporal). Para resistência de força, os testes
de repetições em 1 minuto (abdominais e apoios de
solo) ou de maior número de repetições (apoio de
solo, agachamento, 5RM, 10RM, entre outros) pa-
recem resolver. Para flexibilidade o conhecido teste
de sentar-e-alcançar realizado com o banco de Wells
pode dar indicações gerais interessantes.
Assim como o condicionamento metabólico, o Mas e para potência? Novamente, potenciôme-
neuromuscular é altamente relevante em comba- tros, tapetes de contato, plataformas de força e câ-
tes. Você pode perceber que a flexibilidade, por meras de alta precisão seriam os mais indicados, po-
exemplo, faz-se necessária para que determina- rém, reforço o argumento de que, se você tem acesso
dos golpes possam ser realizados, como chutes al- a estes equipamentos, possivelmente já os conhece.
tos, defesas de passagens de guarda e entradas de Neste caso, testes de salto horizontal e vertical (sar-
quedas. Já as manifestações de força se apresen- gent jump test) e testes de arremesso de MedicineBall
tam com diferentes perspectivas. A força máxima parecem ser indicadores relevantes para potência de
parece ser mais relevante para ações de fugas de membros inferiores e superiores, respectivamente
imobilização, como no Jiu-jitsu. A resistência de (MACKENZIE, 2005).

115
LUTAS

SAIBA MAIS

Para medidas de salto vertical e horizontal,


uma perspectiva interessante vêm associando
viabilidade e confiabilidade. Recentemente,
aplicativos para dispositivos móveis foram
cientificamente validados (BALSALOBRE-FER-
NÁNDEZ; GLAISTER; LOCKEY, 2015) e podem
ser uma alternativa para agilizar estas medidas.
Outra vantagem nestes aplicativos é a possi-
bilidade de medidas que vão além da altura
de salto e envolvem assimetria entre mem-
bros e índices de força reativa. De qualquer
modo, lutadores mais potentes tendem a ter
maior chance de vitória, especialmente por
knockouts ou finalizações.

Fonte: o autor.

Até aqui vimos algumas sugestões de como testes


simples podem ajudar a entender a aptidão meta-
bólica e neuromuscular de atletas de modalidades
esportiva de combate. Já adiantando o que vem pela
frente, monitorar as adaptações dos treinamentos
parece ser uma das premissas mais consolidadas na
ciência do esporte.

116
EDUCAÇÃO FÍSICA

117
LUTAS

Avaliações Físicas Específicas


para Lutadores

Caro(a) aluno(a), conforme visto anteriormente, Neste contexto, vou apresentar testes para mo-
existem inúmeras possibilidades de testes físicos ge- dalidades de impacto e, na sequência, para modali-
rais a serem aplicados em lutadores para monitorar dades de domínio. Dentre estes serão apresentados
as adaptações ao treinamento, inclusive a partir de testes para componentes metabólicos e neuromus-
aplicativos para dispositivos móveis, como smar- culares. Não espere uma gama muito ampla de pos-
tphones. Neste tópico, mudamos a perspectiva para sibilidades, visto que esta perspectiva de proposi-
a aplicação de testes específicos, ou seja, testes que se ção de testes específicos ainda é recente na ciência
propõem a identificar questões praticamente exclu- do esporte de combate. Além disso, alguns testes
sivas de algumas modalidades e que utilizam gestos não serão mencionados por ainda não terem vali-
motores próximos aos utilizados em lutas. dação científica.

118
EDUCAÇÃO FÍSICA

TESTES ESPECÍFICOS PARA MODALIDA-


DES DE IMPACTO

Como já estudamos em unidades anteriores, mo- Teste neuromuscular para modalidades de


dalidades de impacto são aquelas nas quais golpes impacto
traumáticos, como socos, chutes, joelhadas e coto- Considerando que a velocidade de chute é relevante
veladas são predominantes. para modalidades como o Karatê e o Taekwondo, um
teste relevante e relativamente simples de ser aplica-
Teste metabólico para modalidades de impacto do é o de chutes em 10 segundos (DA SILVA SAN-
O teste metabólico para modalidades de impacto aqui TOS; VALENZUELA; FRANCHINI, 2015). O atleta
apresentado foi proposto para atletas de Taekwondo se posiciona com distância autoselecionada do alvo
e tem objetivo de medir aptidão cardiorrespiratória que pode ser um boneco ou um saco de pancadas e
(ARAUJO et al., 2015). Este teste deve ser executa- desfere o maior número de golpes que conseguir em
do com chutes semicirculares (Dolio-Tchagi), mas 10 segundos.
que podem ser adaptados para outras modalidades,
como o Karatê e o Muay-Thai, por exemplo. TESTES ESPECÍFICOS PARA MODALIDA-
Trata-se de um teste progressivo no qual a frequ- DES DE DOMÍNIO
ência de chutes inicia a 10 chutes no primeiro minuto As modalidades de domínio são caracterizadas
e aumenta em 3 chutes por minuto até que o atleta pelo agarre do oponente, nas quais os objetivos en-
atinja a exaustão ou não consiga manter a frequência volvem imobilização do oponente ou sua submissão
de chutes indicada. A frequência de chutes é indicada por meio de chaves articulares e estrangulamentos.
por sinal sonoro no qual cada “beep” indica um golpe.
Teste metabólico para modalidades de domínio
SAIBA MAIS Talvez um dos testes mais estabelecidos na litera-
tura científica relacionada às modalidades espor-
Para este teste, sugere-se o monitoramento tivas de combate seja o Special Judo Fitness Test
da FC para que sejam mensurados parâme- (Teste de aptidão especial para Judô) que se pro-
tros semelhantes aos mencionados nos testes põe a avaliar o componente aeróbio e anaeróbio
gerais, como FCmáx, PDFC e a frequência de
chutes relativa ao PDFC (FRANCHINI, 2016a). (CASALS et al., 2016).
Com este último, você terá uma indicação, Para este, dois atletas que receberão os golpes
mesmo que indireta, da frequência de chutes se posicionam a uma distância de 6 metros entre
relativa ao limiar anaeróbio e pode usar como
parâmetro para prescrição de treinos que si. O atleta avaliado se posiciona entre estes e de-
serão realizados em alta intensidade (acima verá se deslocar rapidamente até cada um deles
desta frequência) ou em moderada e baixa para aplicar o maior número de projeções (Ippon-
intensidades (abaixo desta frequência).
-Seoi-Nage) em 3 blocos, o primeiro de 15 segun-
Fonte: o autor. dos e os demais de 30 segundos, com intervalos de
recuperação passiva de 10 segundos entre eles. Ao

119
LUTAS

final, são contabilizados o número de total de pro- REFLITA


jeções, a FC medida imediatamente após o térmi-
no do teste e após 1 minuto de recuperação. Com Qual a importância de ter tabelas normativas
estes dados é calculado o índice do teste por meio com valores de referência para lutadores?
da fórmula: Como estas informações podem ajudar?

FC final + FC1min / Número de golpes


Neste ponto, espero que este tópico possa ser útil
Quanto menor for o índice, melhor a aptidão me- para que você esteja minimamente instrumentaliza-
tabólica do atleta (FRANCHINI; DEL VECCHIO; do quanto a aplicação de testes específicos relacio-
STERKOWICZ, 2009). nados à modalidades de combate e sugiro que expe-
rimente a aplicação deles em sala com seus colegas,
Teste neuromuscular para modalidades de do- bem como procurem interpretar os resultados.
mínio
Para modalidades de agarre, um teste que tem sido
altamente sugerido é o Judogi Chin-Up Test (Tes-
te de barras segurando o Gi) e tem duas versões,
uma dinâmica e outra isométrica (BRANCO et al.,
2017). O objetivo é avaliar fatores relacionados à
preensão manual e resistência muscular localizada
dos atletas, visto que são fatores altamente solici-
tados em modalidade que tem o uso do Gi como
Judô e o Jiu-Jitsu.
Para o teste, coloca-se o Gi pendurado em uma
barra fixa, o atleta segura o Gi com os cotovelos
em extensão total e deve executar a flexão dos co-
tovelos. Na versão dinâmica, é contabilizado o nú-
mero máximo de repetições completas que o atleta
consegue executar. Já na versão isométrica é con-
tabilizado o tempo máximo que o atleta consegue
permanecer em flexão de cotovelos. Indica-se que
quando forem executados em sequência um inter-
valo de 15 minutos seja respeitado entre eles. Ta-
belas normativas já estão disponíveis para o Spe-
cial Judo Fitness Test e para o Judogi Chin-Up Test
(BRANCO et al., 2017; FRANCHINI; DEL VEC-
CHIO; STERKOWICZ, 2009).

120
EDUCAÇÃO FÍSICA

121
LUTAS

Métodos para Condicionamento


Metabólico de Lutadores

122
EDUCAÇÃO FÍSICA

Caro(a) aluno(a), agora que você já entende o que Antes de seguir reforço, modalidades esportivas
significa condicionamento metabólico e conhece de combate são intermitentes e de alta intensidade e
métodos para avaliar este componente da aptidão por isso, o treinamento deve obedecer esta caracte-
física de lutadores, seja de modo geral ou específi- rística para respeitar o princípio da especificidade.
co, resta saber quais são as estratégias sugeridas para Exercícios com esta característica têm sido chama-
promover ganhos neste aspecto. dos de HIIT (High Intensity Intermittent Training).
Inicialmente, você precisa entender que moda- Mas é qualquer HIIT que pode ser aplicado a estas
lidades esportivas de combate são essencialmente modalidades? Se você quiser ser específico, não.
aeróbias (CAMPOS et al., 2012; JULIO et al., 2017). Atualmente, está em alta na literatura cientí-
Isso mesmo, apesar de apresentarem momentos de fica o conceito de análise de time-motion (tempo-
alta intensidade e concentrações de lactato muito -movimento) a partir da qual podemos identificar
acima do limiar anaeróbio, o componente aeróbio as relações entre esforço e pausa e entre alta e bai-
é, sem dúvida, predominante em combates e é res- xa intensidade. Partindo deste conhecimento sobre
ponsável pela recuperação entre ações anaeróbias, a modalidade, você pode montar seu protocolo de
pela manutenção da intensidade elevada até o fim treinamento específico. Veja a Tabela 1 que apresen-
do combate, pela ressíntese de PCr e participam de ta a descrição das relações entre esforço e pausa de
modo crescente e progressivo da contribuição ener- diferentes modalidades.
gética para ações de alta intensidade (FRANCHINI,
2016a). Isso ocorre por causa da natureza intermi- Tabela 1 - Descrição da relação entre esforço e pausa
tente destas modalidade, nas quais existem momen- em diferentes modalidades esportivas de combate
to de altíssima intensidade seguidos de momentos
Número Faixa
de recuperação parcial (GASTIN, 2001). MODALIDADE Esforço Pausa
de atletas etária
Assim, podemos dizer que, nas lutas, predomi-
JUDÔ 587 Adulto 2a6 1
na o metabolismo aeróbio, enquanto o metabolismo
JIU JITSU 66 Adulto 10 1
anaeróbio é determinante do sucesso competitivo.
LUTA OLÍMPICA 42 Adulto 2,5 1
Isso se dá, pois ações curtíssimas de intensidade má-
TAEKWONDO 128 Adulto 1 7
xima são aquelas que geram pontos e podem levar
KARATÊ 12 Juvenil 2 1
ao knockout ou submissão do oponente.
Dependendo da fase da periodização do trei- MUAY THAI 12 Adulto 2 3

namento, que será discutida no último tópico desta KICK-BOXING 14 Adulto 1 2

unidade, os treinos podem ser realizados em estei- MMA 52 Adulto 1 2a4


ras, bicicletas e em piscinas. Por outro lado, a medi- Fonte: o autor.
da que se aproxima a competição, a sugestão é que se
tenha ações mais próximas da luta. É a partir desta Assim, você pode utilizar estes conceitos para
última perspectiva que vou indicar alguns protoco- prescrever treinos específicos e, inclusive, utilizar
los de treinamento que podem ser úteis. os próprios gestos da modalidade. Vou apresen-

123
LUTAS

tar três protocolos de HIIT específicos que foram 2


max e 20 segundos em baixa intensidade foi com-
propostos na literatura, sendo um para modali- parado ao protocolo específico que, por sua vez, foi
dades de agarre (Jiu-jitsu), um para modalidades composto por:
de impacto (Taekwondo) e um para modalidades 4 séries de 4 minutos, sendo:
mistas (MMA). 10 segundos a 95% dos chutes realizados no teste
de 10 segundos;
TREINO METABÓLICO ESPECÍFICO PARA 20 segundos de recuperação ativa com movi-
JIU-JITSU mentações da modalidade.
Os resultados indicaram que ambos os protoco-
Considerando as informações que foram passadas an- los atingiram intensidades relativas similares, o que
teriormente, Andreato et al. (2013) propuseram um sugere que é possível promover ganhos físicos simi-
protocolo de treinamento que consiste na execução lares, mas a partir de padrões de movimento mais
de gestos motores da modalidade na seguinte propor- próximos da realidade da luta.
ção para um bloco que tenha duração de 5 minutos:
120 segundos de esforço, sendo: REFLITA
4 séries de 25 segundos em baixa intensidade;
4 séries de 5 segundos em alta intensidade. Possivelmente você já presenciou atletas de
20 segundos de pausa passiva. combate fazendo atividades leves e de longa
120 segundos de esforço, sendo: duração. Reflita sobre a especificidade desta
atividade!
4 séries de 25 segundos em baixa intensidade;
4 séries de 5 segundos em alta intensidade.

Neste modelo, ações em baixa intensidade podem TREINO METABÓLICO ESPECÍFICO PARA
ser movimentações e transições leves com pouca ou MMA
nenhuma resistência do oponente, enquanto que as
ações de alta intensidade devem ser feitas com resis- Considerando o Mixed Martial Arts (MMA), Del
tência do oponente e tentativas de projeção, raspa- Vecchio et al. (2011) propuseram um modelo que
gem ou finalizações. segue uma lógica semelhante aos mencionados ante-
riormente, apesar de ainda carecer de mais investiga-
TREINO METABÓLICO ESPECÍFICO PARA ções para testá-lo. Veja como é a estrutura sugerida.
TAEKWONDO O atleta deve executar duas séries de:
30” em baixa intensidade em pé.
Considerando, agora, as modalidades de impac- 15” em alta intensidade em pé.
to, um exemplo é o treinamento específico para 10” recuperação passiva.
Taekwondo, proposto por Haddad et al. (2011). 40” em baixa intensidade no solo.
Nele, um protocolo tradicional composto por 4 15” em alta intensidade (Ground & Pound) no solo.
séries de 4 minutos, sendo 10 seg a 100% da vVO- 10” em recuperação passiva.

124
EDUCAÇÃO FÍSICA

Perceba que, novamente, além de respeitar as ações


temporais (relação esforço e pausa), as ações técni-
co-táticas permanecem presentes. Por fim, vale des-
tacar que até mesmo as lutas simuladas (sparring)
podem fazer parte do processo, por se aproximarem
das demandas da competição real, conforme já de-
monstramos (COSWIG et al., 2016; COSWIG; RA-
MOS; DEL VECCHIO, 2016).

SAIBA MAIS

Se você achar que as demandas das lutas


do seu atleta são diferentes das que estão
apresentadas na literatura científica, o que
faz sentido por diferenças entre sexo, catego-
rias de peso e nível competitivo, você mesmo
pode medir.
Para isso sugiro utilizar o aplicativo que tes-
tamos e tivemos resultados com elevado
graus de reprodutibilidade (COSWIG, 2017),
chamado Dartfish EasyTag que está dispo-
nível para IOS e Android em <http://www.
dartfish.com/mobile>.

Fonte: o autor.

Após a leitura deste tópico espero que, do mesmo


modo que eu, você esteja se perguntando se faz sen-
tido que lutadores executem treinamentos compos-
tos por longas corridas em moderada intensidade,
quando, na verdade, estas prática se mostram muito
distantes das demandas dos combates, independen-
temente de modalidade.

125
LUTAS

Métodos para Condicionamento


Neuromuscular de Lutadores
Caro(a) aluno(a), no tópico anterior, você conheceu Apesar de reconhecer a importância das de-
os métodos sugeridos pela ciência dos esportes de mais manifestações de força citadas anteriormente
combate para aprimoramento dos componentes me- da flexibilidade, neste tópico vamos focar em mé-
tabólicos de seus atletas. Neste tópico, vamos avançar todos para aprimoramento da potência. Se você re-
em uma lógica semelhante para abordar os aspectos corda o que já foi dito, potência é basicamente a ca-
neuromusculares. Por outro lado, as sugestões aqui pacidade de produzir força com velocidade, o que
apresentam conceitos mais gerais do que no tópico promove uma elevada taxa de desenvolvimento de
anterior. Isso ocorre pela necessidade de repetir mo- força (TDF). Assim, o primeiro conceito que você
vimentos em determinados padrões (como saltos) precisa entender é que treinamentos tradicionais
que não estão diretamente inseridos nos combates, e lentos feitos na musculação não são ideias para
mas se relacionam de modo indireto. aprimorar essa capacidade. Se você acompanhar o

126
EDUCAÇÃO FÍSICA

gráfico a seguir, irá perceber que pessoas que trei- Este modelo é baseado nos conceitos de potencia-
nam de modo lento e com cargas elevadas podem lização pós-ativação (PPA). Isso significa que após
atingir níveis maiores de força máxima (Linha B), a execução de um exercício condicionante ocorre
porém, isto não, necessariamente, reflete-se em um processo de potencialização das ações mo-
uma elevada TDF (Linha A). toras, o que leva a um aumento momentâneo na
produção de potência. Como se sabe, treinar com
750
B elevada produção de potência pode promover me-
700
650 lhora neste componente, esta seria uma estratégia
Força (N)

600 A interessante, especialmente por que a ação subse-


550
500
quente a ser potencializada pode ser um gesto mo-
450 tor específico.
400 Um estudo comparou 4 situações para inves-
6 40 80 120 160 200 240 280 320
Tempo (ms) tigar a PPA de membros superiores de lutadores
Treino de Força Treino de Potência (LIOSSIS et al., 2013). Nestas, foram combinadas
cargas de 65 e 80% de 1RM com intervalos de 4 ou
Figura 2 - Taxa de desenvolvimento de força (TDF)
Fonte: o autor. 8 minutos. Os resultados indicaram que para haver
PPA com cargas de 65% deve-se dar intervalos de
4 minutos até a atividade a ser potencializada, en-
Tendo entendido estes aspectos, vou apresentar al- quanto que, para cargas de 85%, o intervalo precisa
guns dos métodos que parecem ser interessantes ser de 8 minutos.
para o aprimoramento da TDF em lutadores.

REFLITA
TREINAMENTO COMPLEXO

Perceba que, dependendo da intensidade do


exercício condicionante, períodos diferentes
serão necessários para que ocorra PPA, o
que está associado ao período de redução
da fadiga aguda.

De modo aplicado às modalidades de combate, você


poderia combinar, por exemplo, séries de supino
reto seguidas de séries de sequências de socos ou sé-
ries de agachamentos seguidas de séries de projeções
ou joelhadas. Estas escolhas dependerão do perfil do
lutador e da modalidade praticada.

127
LUTAS

TREINAMENTO PLIOMÉTRICO

ação excêntrica antes da ação concêntrica de potên-


cia. Por outro lado, o segundo apresenta maiores
graus de flexão, o que aumenta as ações excêntricas
e deixa o movimento mais amplo e longo. Pensando
em especificidade, o primeiro (curto) está mais pró-
ximo das modalidades de impacto, enquanto que o
segundo (longo) parece se aproximar mais das mo-
dalidades de domínio.

SAIBA MAIS

Um exemplo de protocolo aplicado com luta-


dores treinados sugere que para saltos pro-
fundos (Drop Jump) combinados com agacha-
mentos, nas semanas 1 e 2 sejam utilizadas
caixas de 50cm, nas semanas 3 e 4 caixas de
O treinamento pliométrico é baseado especialmente 57cm, nas semanas 5 e 6 caixas de 64cm e
no conceito do ciclo de alongamento-encurtamento nas semanas 7 e 8 caixas de 71cm. Durante
todo o período foram realizadas 3 séries de 10
(CAE). Este ciclo refere-se à capacidade do indiví- saltos com intervalo de 3 minutos entre elas.
duo de fazer a transição de uma fase excêntrica para Neste protocolo os grupos que realizaram es-
uma concêntrica subsequente com menor tempo tes drop jumps (verticais ou horizontais) com-
binados aos agachamentos apresentaram
e maior produção de potência. Normalmente, este ganhos de potência máxima, força máxima,
modelo é composto por diferentes saltos e apoios de velocidade e o tempo de realização de um
solo com palmas, entre outros. golpe, enquanto o grupo que fez agachamen-
tos tradicionais com cargas entre 80 e 95%
Existem diferentes meios para manipular este de 1RM melhorou apenas a força máxima.
treinamento, mas uma progressão frequentemente
Fonte: Tsai, Liu, Chem e Huang (1999).
sugerida parte da utilização de saltos simples ver-
ticais e horizontais, avança para saltos múltiplos
e combinados, até chegar aos saltos de profundi-
dade ou drop jumps, que são aqueles dos quais o Em suma, estes dois últimos tópicos mostram o
indivíduo salta de uma caixa e, ao atingir o solo, quanto os conceitos de especificidade devem ser
gera uma impulsão subsequente que pode ser para levados a sério no processo de planejamento dos
cima ou para frente. treinos, seja para condicionamento metabólico ou
Além disso, os saltos podem ser caracterizados neuromuscular. No próximo tópico, discutiremos
como CAE curto ou CAE longo. No primeiro, os como distribuir estes estímulos ao longo de um pe-
movimentos são mais rápidos com pouca flexão e ríodo de preparação.

128
EDUCAÇÃO FÍSICA

129
LUTAS

Periodização e Organização do
Treinamento de Lutadores

Caro(a) aluno(a), seguindo a lógica proposta indicações com aplicabilidade prática direcio-
nesta unidade, chegamos ao ponto de organizar nada às modalidades de combate. Para tal, dois
e distribuir os estímulos do treinamento ao lon- modelos serão discutidos, o primeiro sugerido
go do tempo. Novamente, não serão apresenta- para iniciantes (Modelo linear clássico) e o se-
dos ou aprofundados os conceitos básicos, visto gundo para atletas de maior nível competitivo
que serão abordados em outras disciplinas, mas (Modelo em blocos).

130
EDUCAÇÃO FÍSICA

MODELO LINEAR CLÁSSICO

Apesar de inúmeras limitações, o modelo clássico As capacidades aeróbia e anaeróbia, diferen-


de periodização parece ser suficiente para atletas ciadas pela intensidade dos esforços e pela rela-
iniciantes e intermediários (PAIVA, 2015). Quanto ção destes com as pausas (E:P), são atendidas por
menor o nível do atleta, maior a necessidade dos exercícios específicos da modalidade e por simu-
períodos introdutório e básico e, consequente- lações de lutas (rolas) que podem estar associados
mente, maior pode ser a demanda de tempo para ao uso de ergômetros. Por fim, a facilitação neural
esses estímulos. proprioceptiva (FNP) é sugerida para aumento da
Por outro lado, sujeitos intermediários podem amplitude articular. À medida que o evento com-
ser inseridos diretamente na fase básica que, de petitivo se aproxima, o caráter específico aumenta
modo geral, apresenta grande volume de treino e e exercícios da modalidade são utilizados na maior
baixa intensidade, associados a capacidades físicas parte do treinamento com o objetivo de manuten-
não específicas e com predomínio de atividades ae- ção dos ganhos já obtidos e direcionamento para
róbias. Neste momento, exercícios de musculação questões técnico-táticas. Tanto RML, quanto capa-
atendem a demanda de ganhos de hipertrofia (se for cidades cardiovascular e anaeróbia são trabalhadas
relevante) e força máxima, com intensidade de 70 a com os movimentos da modalidade.
100% de 1RM, enquanto a capacidade aeróbia é tra-
balhada com corridas ou natação, a anaeróbia com MODELO EM BLOCOS
sprints em campo ou ergômetros e a flexibilidade
por meio de alongamentos passivos. Composto por mesociclos distintos (Acumulação,
Já na fase especial, juntamente à manutenção Transmutação e Realização), nos quais capacida-
dos ganhos básicos, exercícios específicos da mo- des gerais e específicas são desenvolvidas simulta-
dalidade são inseridos paralelamente ao aumen- neamente (aumentando caráter específico a medi-
to da intensidade e se convertem treinos de força da que a competição se aproxima), o modelo em
para estímulos de potência, além da introdução do blocos permite múltiplos picos de performance
caráter anaeróbio somado ao aeróbio. Dentre os durante o ano competitivo (ISSURIN, 2010). De
métodos para aptidão sugeridos para este período, modo geral, baseia-se no efeito cumulativo do trei-
para potência se destacam treinamentos comple- no, já que mudanças nas capacidades fisiológicas
xos, pliometria, levantamento de peso olímpico, e no nível físico-técnico resultam de preparação
arremesso de implementos, uso de elásticos e exer- física duradoura e no efeito residual de treino (IS-
cícios de musculação associados a movimentos SURIN, 2010).
específicos da modalidade sempre executados em
alta velocidade.

131
LUTAS

SAIBA MAIS Quanto à montagem de treino, exemplifica-se


modelo de sessões com sugestões de exercícios e
Para planejamento das sessões de treino é protocolos correspondentes às demandas da moda-
preciso considerar possível efeito concorrente lidade. Primeiramente, o estado físico do atleta deve
entre estímulos. Quando associados treinos ser avaliado quando o objetivo for desenvolvimento
aeróbios e de força, entende-se que este efei-
to existe a partir de respostas periféricas e técnico-tático.
não centrais, ou seja, a zona de interferência
ocorre entre intensidades de 95 a 100% da
potência aeróbia máxima (PAM) e de inten-
sidades próximas a 10 repetições máximas REFLITA
(10RM). Desta forma, treinos aeróbios abaixo
do limiar anaeróbio (LAn) e de força abaixo
de 5RM promovem adaptações cardiovascu- Para fins táticos, talvez seja interessante sub-
lares e neurais, respectivamente e, portanto, meter o atleta a situações com e sem fadiga,
respostas centrais que não acarretam em porém, se a meta for aprimoramento técnico,
concorrência. Ainda nesta lógica, podem co- é sugerido ausência de fadiga.
existir estímulos que combinem adaptações
centrais e periféricas.

Fonte: Docherty e Sporer (2000).

Chegamos ao final de mais uma unidade, mas, an-


tes disso, é necessário fazer uma importante re-
Complementarmente, ao se planejar o treinamen- comendação sobre periodização. Lembre-se que
to, metas devem ser traçadas a partir da classifica- antes de seguir estes modelos teóricos, o monito-
ção por importância das competições que ocorrerão ramento das cargas e das adaptações deve ser o
dentro do ano competitivo. Os picos de performan- principal fator a ser considerado para a tomada
ce, obviamente, devem ser buscados em competições das futuras decisões.
de maior relevância e desempenhos próximos aos
ótimos precisam ser atingidos em competições eli-
minatórias e classificatórias. Por outro lado, compe-
tições de menor nível devem ser consideradas como
sessões de treino dentro do plano de intensidade dos
mesociclos e, aparentemente, são relevantes para ga-
nhos psicológicos adicionais em situação real, como
experiência, confiança e ritmo competitivo.

132
considerações finais

O
processo de preparação física não é simples e muitos erros concei-
tuais podem ser vistos nos mais diferentes espaços. Nesta unidade,
você foi convidado a refletir sobre as demandas de diferentes mo-
dalidades de combate, bem como métodos para avaliar os atletas e
para prescrição de treinamento. Além disso, conceitos de organização e perio-
dização foram apresentados.
Com base nisso, ao concluir a leitura desta unidade, você deve ser capaz de
acompanhar e liderar um processo completo de preparação física de um lutador.
Obviamente, estas abordagens aqui apresentadas acabam por ter uma certa su-
perficialidade e é sua responsabilidade aprofundar os estudos a partir das disci-
plinas que complementam esses conceitos e de leituras de outros livros e artigos.
Porém, antes de encerrar esta unidade, vamos lembrar de dois pontos chave
que foram direcionados nos tópicos que seguiram. O primeiro deles diz respeito
à especificidade. Lembre-se que modalidades esportivas de combate são essen-
cialmente aeróbias, mas têm componentes anaeróbios como determinantes do
sucesso. Lembre-se, também, que, para aprimorar a taxa de desenvolvimento de
força, serão necessários treinamentos com alta velocidade nas fases concêntricas
e os treinamentos tradicionais não darão conta.
O segundo ponto chave é o monitoramento. Antes de respeitar modelos te-
óricos de periodização, respeite as respostas do seu atleta/aluno. Por exemplo,
imagine que chegou no ponto de transição no seu planejamento e os estímulos
de força darão lugar aos estímulos de potência. Porém, os níveis desejados de
força já foram atingidos duas semanas atrás. Isso significa que são duas sema-
nas a menos de treinamento específico para potência, que é mais importante
para lutadores.
Deste modo, espero que os conceitos tenham sido claros o suficiente para
encorajá-lo a monitorar e prescrever treinos com especificidade. Neste caso,
falamos de lutadores, mas são conceitos que se aplicam para qualquer moda-
lidade esportiva.

133
atividades de estudo

1. Estudar e entendem os conceitos e estratégias 3. Os termos gerais se referem a uma característica


para monitorar e prescrever cargas de treina- etiológica ampla e sem especificidades. Assinale
mento de atletas de modalidades esportivas de Verdadeiro (V) ou Falso (F) sobre avaliações físi-
combate, são estratégias primordiais para o cres- cas gerais:
cimento no esporte. Indique a alternativa que ( ) Só são úteis para lutadores iniciantes.
melhor descreve o condicionamento metabólico.
( ) Podem ajudar a controlar a prescrição, espe-
a) Diz respeito à aptidão relacionada à capaci- cialmente nos períodos gerais
dade de utilização das fontes energéticas.
( ) Não são interessantes pela pouca contribui-
b) Diz respeito à aptidão relacionada às vias ção e elevado risco de lesão.
aéreas e, portanto, aeróbias.
4. A aplicação de testes específicos, ou seja, testes
c) Diz respeito à aptidão relacionada ao con-
trole do sistema nervoso sobre o desem- que se propõem a identificar questões pratica-
penho decorrente de contrações muscu- mente exclusivas de algumas modalidades, auxi-
lares. liam diversos parâmetros de treinamento. Assi-
nale Verdadeiro (V) ou Falso (F) sobre avaliações
d) Diz respeito à aptidão relacionada à funcio-
físicas específicas:
nalidade do indivíduo.
( ) São limitadas por não ter validade científica
e) Nenhuma das anteriores. até o momento.
2. A necessidade de repetir movimentos em deter- ( ) Exigem equipamentos caros e não compen-
minados padrões (como saltos) que não estão sam o investimento.
diretamente inseridos nos combates, mas se re- ( ) Devem ser o único parâmetro utilizado pelo
lacionam de modo indireto com as atividades que treinador para tomada de decisões.
serão realizadas no momento da ação, predis-
põem o lutador a um condicionamento especial. 5. Explique como manipular o treinamento para
Indique a alternativa que melhor descreve o con- promover ganho de potência ou resistência de
dicionamento neuromuscular. potência.
a) Diz respeito à aptidão relacionada à capaci-
dade de utilização das fontes energéticas.
b) Diz respeito à aptidão relacionada às vias
aéreas e, portanto, aeróbias.
c) Diz respeito à aptidão relacionada ao con-
trole do sistema nervoso sobre o desem-
penho decorrente de contrações muscu-
lares.
d) Diz respeito à aptidão relacionada à funcio-
nalidade do indivíduo.
e) Nenhuma das anteriores.

134
LEITURA
COMPLEMENTAR

Caro(a) aluno(a), leia este trecho do livro “Preparação Física para lutadores” e debata
com colegas sobre o papel das lutas.
“Vários estudos demonstraram que as MECs são modalidades intermitentes de alta in-
tensidade, nas quais a participação glicolítica é alta, conforme inferido pelos valores da
concentração de lactato apresentados nesses estudos. Porém, altos valores de lactato
não representam que a contribuição anaeróbia lática é predominante nas MECs. Por
outro lado, outros estudos demonstraram que, quando analisado os valores de delta
do lactato, há uma diminuição glicolítica no decorrer das lutas ou rounds.
Além disso, os estudos que analisaram a contribuição energética dessas modalidades
demonstraram predominância do metabolismo aeróbio, embora as ações decisivas
sejam determinadas pelo metabolismo anaeróbio. Portanto, existe a necessidade do
desenvolvimento prioritário da aptidão anaeróbia dos lutadores. Nesse caso, a exe-
cução de ações específicas as quais levem em consideração a razão esforço:pausa de
cada modalidade, pode ser uma estratégia eficaz para o aprimoramento da aptidão
anaeróbia dos lutadores.”

Fonte: Franchini (2016a).

135
material complementar

Indicação para Ler

Preparação Física para Lutadores Treinamento Aeróbio e Anaeróbio


Emerson Franchini
Editora: Clube de Autores
Sinopse: esse livro é uma iniciativa com objetivo de detalhar as respostas fisioló-
gicas e de desempenho físico em diferentes condições da prática das MECs, apre-
sentando estudos que tenham investigado o processo de treinamento de modo
a permitir a condução deste processo com base em evidências. Esperamos que o
livro contribua para o desenvolvimento do treinamento de lutadores.

136
referências

ANDREATO, L. V. et al. Physiological and Technical-tactical Analysis in Bra-


zilian Jiu-jitsu Competition. Asian Journal of Sports Medicine, v. 4, n. 2, 2013.
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BALSALOBRE-FERNÁNDEZ, C.; GLAISTER, M.; LOCKEY, R. A. The validity
and reliability of an iPhone app for measuring vertical jump performance. Jour-
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137
referências

DEL VECCHIO, F. B.; HIRATA, S. M.; FRANCHINI, E. A Review of Time-Motion


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ty. 17 International Symposium on Biomechanics in Sports. Perth, Australia:
1999, p. 413-416.

138
gabarito

1. A.
2. C.
3. F; V; F.
4. F; F; F.
5. Ganho de potência máxima exigem ausência de fadiga e maior intervalo de
recuperação, enquanto resistência de potência exige o oposto.

139
FISIOLOGIA E PERFIL
DAS MODALIDADES
ESPORTIVAS DE
COMBATE

Professor Dr. Leonardo Vidal Andreato

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Duração de luta em esportes de combate
• Categorias de peso e perda de peso em esportes de
combate
• Estrutura temporal nos esportes de combate
• Perfil antropométrico e funcional de atletas de esporte de
combate
• Respostas fisiológicas e perceptivas em esportes de
combate

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar aspectos relacionados à duração de luta em
esportes de combate.
• Apresentar as divisões por categoria de peso e aspectos
relacionados ao processo de perda de peso em esportes
de combate.
• Discutir sobre a estrutura temporal nos combates e
possibilidades de aplicação desse conceito.
• Discutir sobre o perfil antropométrico e funcional de
atletas de esporte de combate.
• Apresentar conceitos relacionados às respostas fisiológicas
e perceptivas em esportes de combate.
unidade

V
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), imagine que você é convidado para realizar a preparação de


um atleta promissor de uma modalidade esportiva de combate. Esse trabalho pode
ser muito importante para sua carreira profissional. Você aceita o desafio? Quais
serão suas estratégias e seus métodos de trabalho? Quais serão seus desafios? Quais
conhecimentos você necessita ter para realizar um bom trabalho?
Acredite, essas situações são mais frequentes do que se possa imaginar. Dian-
te disso, nesta unidade, iremos iniciar a abordagem de assuntos relevantes e fun-
damentais para a prescrição de treinos para atletas de esportes de combate. Nos-
so objetivo não será detalhar ou aprofundar nossos estudos em uma determinada
modalidade, mas sim identificar elementos importantes e comuns a quase todos
os esportes de combate. Seria inviável analisar cada modalidade esportiva, pois
cada uma tem suas peculiaridades. Como resultado, teríamos um material muito
extenso e maçante.
Assim, iremos entender as peculiaridades e diferenças entre modalidades nos
seus sistemas de divisão competitiva, por tempo de luta, graduação e categoria de
peso. Ainda, teremos a oportunidade de conhecer um aspecto presente em quase
todos esportes de combate, que é a perda de peso para competir.
Na sequência, nosso objetivo será compreender como diagnosticar e utilizar
informações relativas às características físicas dos atletas. Por fim, iremos com-
preender elementos relacionados às respostas fisiológicas durante combates
em competição ou em simulações de luta.
Espero que este conteúdo o auxilie a compreender melhor as característi-
cas físicas dos atletas e as características fisiológicas de demandas nos espor-
tes de combate. Alguns conteúdos podem, a primeira vista, parecer simples
e outros mais complexos, mas todos são essenciais para a sua atuação junto
a praticantes e atletas de esportes de combate.
Que a leitura deste capítulo seja tão prazerosa quanto foi para mim a
oportunidade de produzir este material para trocarmos ideias.
Bons estudos!
LUTAS

Duração de Luta em
Esportes de Combate

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

Um dos primeiros pontos que você deve entender é A seguir, iremos conhecer algumas das caracte-
que há diferenças, tanto entre modalidades quanto rísticas do esportes de combate de domínio. Apenas
dentro de cada modalidade. Entre modalidades, há este entendimento, da peculiaridade de cada mo-
uma nítida diferença nas técnicas utilizadas e per- dalidade, já nos possibilitará um grande avanço na
mitidas (ex.: derrubar, socar, chutar, projetar, imobi- organização e prescrição de treinos. Essa parte pode
lizar), tempo do combate (duração total das dispu- parecer bastante simples, mas acredite, é primordial.
tas), estrutura temporal (tempo de esforço e pausa, E o pior, é desconhecida ou desprezada por muitos
tempo em ações de alta e baixa intensidade), divisão profissionais que atuam na preparação de pratican-
das categorias de peso, entre outros aspectos. Dentro tes e atletas de esportes de combate.
da mesma modalidade também existem diferenças
nos padrões de luta, que podem ser influenciados e/ DURAÇÃO DO COMBATE NAS MODALI-
ou potencializados pelo efeito do gênero, graduação DADES DE DOMÍNIO
e categoria de peso. Por exemplo, o padrão de luta
de atletas leves tende a ser diferente de atletas mais
pesados, assim como o padrão de luta de atletas ju-
venis tende a ser diferente dos padrões de adultos.
Essas diferenças devem ser consideradas no planeja-
mento da preparação física.
Devido a essas particularidades, não é possível a
criação de um único tipo de treinamento, fórmula de
treinamentos ou sistemas engessados de preparação
que serão efetivos para todos os atletas de todos os
esportes de combate. Dessa forma, a preparação de
um atleta de boxe não deveria ser idêntica à de um
judoca. Ainda, o sistema de preparação de atletas do O primeiro ponto indispensável que você deve co-
mesmo esporte não deve, necessariamente, ser idên- nhecer e compreender é o fato de que a duração dos
tico. A preparação de uma judoca de 50 kg não deve- combates é diferente nos esportes de combate de do-
ria ser igual à de um judoca de 115 kg. Esses atletas mínio. No Quadro 1, podemos observar que a dura-
possuem características distintas, que resultam em ção de um combate de judô é de 4 min na categoria
ações distintas durante o combate. Logo, não seria adulto, tanto para homens quanto mulheres, inde-
então lógico submeter eles à mesma sistematização pendente da sua graduação. De faixa-branca à faixa-
de treinos. -preta, a regra define combates de 4 min de duração,
Cabe a você e aos demais profissionais envol- sem implicar singularidades para cada graduação.
vidos na preparação dos atletas compreenderem as No entanto, uma luta de judô pode acabar a
características da modalidade que irão atuar, para qualquer momento. A regra atual define que a ocor-
então conseguir definir estratégias específicas à ne- rência de um ippon (golpe perfeito) ou dois waza-ari
cessidade de seus alunos. (golpe quase perfeito) resultam no fim de combate,

145
LUTAS

com vitória a quem atingiu essas pontuações. Em Quadro 2 - Tempo de combates oficiais de Brazilian
contrapartida, em caso de empate no tempo regu- jiu-jitsu
lamentar do combate, a luta vai para a prorroga-
Idade Sexo Graduação Tempo de luta
ção, que pode durar até 4 min. Assim, uma disputa
Adulto F/M Branca 5 min
oficial de judô pode durar poucos segundos, assim
Adulto F/M Azul 6 min
como pode durar até 8 min cronometrados (coman-
Adulto F/M Roxa 7 min
dos de pausa do árbitro implicam em congelamento
Adulto F/M Marrom 8 min
do cronômetro).
Adulto F/M Preta 10 min

Fonte: adaptado de International Brazilian Jiu-Jitsu Federation (2015).


Quadro 1 - Tempo de combates oficiais de judô
No wrestling, a duração dos combates é a mesma
Idade Sexo Graduação Tempo de luta
para os estilos de luta (livre e greco-romana) e entre
Adulto M/F Branca 4 min
gêneros no estilo livre (Quadro 3), sendo as dispu-
Adulto M/F Cinza 4 min
tas compostas de dois rounds de 3 min alternados
Adulto M/F Azul 4 min
por 30 s de intervalo. No wrestling, em ambos os
Adulto M/F Amarela 4 min
estilos, os combate podem ser encerrados antes do
Adulto M/F Laranja 4 min
tempo máximo permitido, caso um atleta apresen-
Adulto M/F Verde 4 min
Adulto M/F Roxa 4 min
te superioridade técnica ao adversário. No estilo
Adulto M/F Marrom 4 min livre, é necessário uma diferença de 10 pontos, ao
Adulto M/F Preta 4 min passo que no estilo greco-romano são necessários
Fonte: Adaptado de International Judo Federation (2017).
8 pontos para caracterizar superioridade técnica.
Além disso, caso um competidor consiga dominar
Agora, vamos observar a primeira diferença entre o oponente de costas para o solo, o combate é en-
modalidades. No Brazilian jiu-jitsu, entre adultos, o cerrado, consistindo essa técnica no denominado
tempo de combate máximo varia entre 5 min para encostamento, também conhecido como pin ou
iniciantes (faixa-branca) a 10 min para experientes touch (CBW, 2017).
(faixa-preta) (ver Quadro 2). Assim como no judô, o
combate pode ser interrompido a qualquer momen- Quadro 3 - Duração dos combates no wrestling
to, desde que ocorra desistência de um dos oponen-
Estilo Greco-
tes, como resultado de finalizações proveniente de Estilo livre
-Romano
chaves articulares (ex.: chaves de braço, punho, om- masculino/
Sexo feminino
bro, joelho e pé), estrangulamentos ou pressões. No feminino
entanto, diferentemente do judô, em casos de empa- Nº de rounds 2 2
te, a vitória é decidida pela arbitragem. Além disso, o Duração do round 3 min 3 min
acúmulo de pontos não é critério para a interrupção Intervalo entre rounds 30 s 30 s

das disputas no Brazilian jiu-jitsu. Fonte: Confederação Brasileira de Wrestling (2017).

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

Com base nessas informações, podemos verificar as tição (ex.: olímpico, internacional, regional). Desta
peculiaridades intermodalidades e intramodalida- forma, quando você for atuar junto a um lutador,
de. É importante destacar que analisamos apenas a será necessário conhecer as características da mo-
duração de combates na categoria adulta, o tempo dalidade em questão, para então definir as melhores
de combate nas idades maiores ou menores à fai- estratégias de treino, com foco nas demandas reais
xa etária dos adultos sofre ainda mais variações no dos combates em competição.
tempo oficial de combate. No Quadro 4, é apresentado um resumo das ca-
Algo interessante de se notar é que os combates racterísticas de duração dos combates de algumas
do masculino e feminino possuem a mesma duração modalidades de percussão, considerando eventos de
de tempo nos esportes aqui apresentados. No entan- confederações de grande abrangência em cada espor-
to, isso é algo recente. Em partes, tal fato ocorreu por te. No karatê, nas disputas de kumite (confronto entre
influência de indicações do Comitê Olímpico Inter- os atletas), o tempo das disputas é de um round de
nacional (COI), estimulando a igualdade entre sexos. três minutos (WKF, 2015). No taekwondo, a dispu-
ta tem a composição de três rounds de dois minu-
DURAÇÃO DO COMBATE NOS ESPORTES tos cada, com um minuto de intervalo entre rounds
DE COMBATE DE PERCUSSÃO (WTF, 2015).
As competições de Muay Thai da World Muay-
thai Council (WMC) são regulamentadas por cinco
rounds de três minutos com dois minutos de pausa
entre rounds (WMC, 2010). Para as disputas de ki-
ckboxing, a World Association of Kickboxing Orga-
nizations (WAKO) define que, em torneios mundiais
e continentais, a duração deve ser de três rounds de
dois minutos, enquanto na Copa do Mundo ou tor-
neios abertos internacionais, a composição das dis-
putas pode ser dois rounds de dois minutos ou de
apenas um round de três minutos, sempre com um
Assim como observamos nas modalidades espor- minuto de intervalo entre rounds (WAKO, 2018).
tivas de combate de domínio, para os esportes de Para o boxe, temos a diferenciação entre boxe
percussão, o tempo dos combates também varia profissional, e boxe amador. Em geral, no boxe pro-
entre modalidades. Iremos notar que essa variação fissional os combates têm a duração máxima de 12
é ainda maior, podendo ter uma curta duração de rounds de três minutos, com intervalos de um minu-
um round de três minutos no karatê até 12 rounds de to entre rounds (WBA, 2013), ao passo que, no boxe
3 minutos no boxe profissional. Nesse ponto, é im- amador de elite, a duração das disputas é estabele-
portante destacar que a duração dos combates pode cida em três rounds de três minutos cada ou quatro
sofrer alteração de acordo com a confederação que rounds de dois minutos cada, sempre com intervalos
promove o evento, assim como o nível da compe- de um minuto entre rounds (AIBA, 2015).

147
LUTAS

Essas singularidades acerca da duração dos de luta são diferentes, fique gravado na sua memó-
combates irá influenciar diretamente nas demandas ria. Tudo isso porque, com base na minha observa-
energéticas dos combates, alterando a contribuição ção como estudioso da área, muitos erros cometidos
dos diferentes sistemas (anaeróbio alático, anaeróbio na preparação de atletas de esportes de combate se-
lático e aeróbio), impactando diretamente na estru- riam minimizados com esse simples conteúdo. Caso
tura temporal do exercício (iremos discutir nas pró- não esteja convencido, fique tranquilo, pois na aula
ximas aula sobre isso). Todos esses fatores, podem e sobre estrutura temporal essa ideia pode ficar mais
devem ser considerados na prescrição do exercício. clara para você.
Afinal, preparar um atleta para um combate de ka-
ratê, composto de um round de três minutos, não
REFLITA
deveria seguir as mesmas tomadas de decisões da
preparação de um atleta de boxe profissional, que
irá realizar 12 rounds de três minutos. No taekwondo, as disputas são compostas por
dois rounds de dois min com intervalo de um
Essas informações podem parecer muito sim- min entre rounds. É recomendado um atleta
ples, mas eu julgo fundamental apresentar o tempo realizar corridas longas (30–60 min) há poucas
de combate de cada um dos esportes de combate. A semanas antes de um torneio importante?

ideia é que esse simples conceito, de que os tempos

Quadro 4 - Duração dos combates de karatê, taekwondo, Muay Thai, kickboxing, boxe amador e boxe pro-
fissional

Karatê Taekwondo Muay Thai Kickboxing Boxe amador Boxe profissional


Nº de rounds 1 3 5 3/2/1 3/4 12
Duração do 3 min 2 min 3 min 2 min / 2 min / 3 min / 2 min
3 min
round 3 min
Intervalo entre - 1 min 2 min 1 min 1 min
1 min
rounds
Referência (WKF, 2015) (WTF, 2015) (WMC, 2010) (WAKO, 2018) (AIBA, 2015) (WBA, 2013)
Fonte: WKF: World Karate Federation; WTF: World Taekwondo Federation; WMC: World Muaythai Council; WACO: World Association of Kickbo-
xing Organizations; AIBA: International Boxing Association; WBA: World Boxing Association.

148
EDUCAÇÃO FÍSICA

149
LUTAS

Categorias de Peso e Perda de Peso


em Esportes de Combate
DIVISÃO DE PESO NOS ESPORTES DE
COMBATE DE DOMÍNIO

Outro ponto importante que você precisa conhecer e peso, sendo a pesagem realizada sem o judo-gi (nome
respeitar na organização do treinamento nos espor- dado à vestimenta no judô, popularmente conhecido
tes de combate é a divisão das categorias de peso. É como kimono). As divisões de peso variam de até
fundamental que você saiba que os atletas são divi- 48 kg (categoria ligeiro) à acima de 78 kg (categoria
didos quanto a sua massa corporal, com limites de- pesado) no feminino. No masculino, essa amplitude
finidos por cada Confederação. No sistema interna- vai de até 60 kg (categoria ligeiro) a acima de 100 kg
cional, os judocas são divididos em sete categorias de (categoria pesado) (Ver Quadro 5) (IJF, 2007).

150
EDUCAÇÃO FÍSICA

Quadro 5 - Divisões de categorias de peso no judô Quadro 6 - Divisões de categorias de peso no Brazi-
lian jiu-jitsu
Categoria Feminino Masculino

Ligeiro < 48 kg < 60 kg Categoria Feminino Masculino


Galo < 48,5 kg < 57,5 kg
Meio-leve < 52 kg < 76 kg
Pluma < 53,5 kg < 64 kg
Leve < 57 kg < 73 kg Pena < 58,5 kg < 70 kg
Meio-médio < 63 kg < 81 kg Leve < 64,0 kg < 76 kg
Médio < 70 kg < 90 kg Médio < 69,0 kg < 82,3 kg
Meio-pesado < 74,0 kg < 88,3 kg
Meio-pesado < 78 kg < 100 kg
Pesado < 79,3 kg < 94,3 kg
Pesado > 78 kg > 100 kg
Super-pesado > 79,3 kg < 100,5 kg
Fonte: International Judo Federation (2017). Pesadíssimo > 100,5 kg
Fonte: IBJJF: International Brazilian Jiu-Jitsu Federation (2015).
No Brazilian jiu-jitsu (ver Quadro 6), as mulheres
são divididas em oito categorias e os homens em No wrestling, no sistema olímpico, os competido-
nove. Além disso, em ambos os sexos, há a possibi- res são divididos em seis categorias de peso (Qua-
lidade de uma disputa adicional na categoria abso- dro 7). As mulheres competem apenas no estilo
luto, uma categoria na qual todos os atletas podem livre, com a categoria mais leve sendo até 50 kg e a
competir juntos, sem limites de peso. Essa disputa mais pesada com limite até 76 kg. Para os homens,
ocorre além da disputa tradicional, com divisão as categorias de peso variam de acordo com o esti-
pela massa corporal. lo. No estilo livre, a categoria mais baixa vai até 57
No sistema da International Brazilian Jiu-Jitsu kg enquanto a mais alta vai até 125 kg. No estilo
Federation (IBJJF), a pesagem ocorre imediata- greco-romano, os limites das categorias mais leve
mente antes da primeira luta, e os atletas partici- e pesada são de até 60 kg e até 130 kg, respectiva-
pam da pesagem vestindo o kimono (nome tradi- mente (UWW, 2017).
cionalmente utilizado para a vestimenta, também
conhecido como gi). No masculino, as divisões de Quadro 7 - Divisões de categorias de peso no wrestling
categorias vão desde até 57,5 kg (categoria galo)
Feminino Masculino
até acima de 100,5 kg (categoria pesadíssimo), en-
Estilo livre Estilo livre Greco-romana
quanto no feminino a amplitude vai de até 48,5 kg
< 50 kg < 57 kg < 60 kg
(categoria galo) à até acima de 79,3 kg (categoria
< 53 kg < 65 kg < 67 kg
super-pesado) (IBJJF, 2015).
< 57 kg < 74 kg < 77 kg
< 65 kg < 86 kg < 87 kg
< 68 kg < 97 kg < 97 kg
< 76 kg < 125 kg < 130 kg
Fonte: UWW: United World Wrestling (2017).

151
LUTAS

DIVISÃO DE PESO NOS ESPORTES DE


COMBATE DE PERCUSSÃO

No karatê, nas disputas de kumite, existem cinco ca- Quadro 9 - Divisões de categorias de peso no
tegorias de peso (Quadro 8), para ambos os sexos. taekwondo para disputas olímpicas
Para as mulheres, a categoria mais leve limita a mas-
Feminino Masculino
sa corporal em até 50 kg e a categoria mais pesada
acima de 68 kg. Para os homens, a categoria mais < 49 kg < 58 kg

leve limita a massa corporal em até 60 kg e a catego- < 57 kg < 68 kg

ria mais pesada acima de 84 kg. < 67 kg < 80 kg


> 67 kg < 80 kg
Quadro 8 - Divisões de categorias de peso no karatê Fonte: World Taekwondo Federation (2017).
nas disputas de kumite
No boxe amador, homens são divididos em 10 ca-
Feminino Masculino
tegorias e as mulheres são enquadradas em cinco
< 50 kg < 60 kg (Quadro 10), com limites inferiores de 51 e 49 kg,
< 55 kg < 67 kg e superiores de até 75 kg e acima de 91 kg, para ho-
< 61 kg < 75 kg mens e mulheres, respectivamente.
< 68 kg < 84 kg
> 68 kg > 84 kg Quadro 10 - Divisões de categorias de peso no boxe
amador
Fonte: World Karate Federation (2017).

Feminino Masculino
Mosca ligeiro 48 - 51 kg 46 - 49 kg
No sistema olímpico, no taekwondo, homens e
Mosca - < 52 kg
mulheres são enquadrados em quatro categorias
Galo - < 56 kg
de peso (Quadro 9). No feminino, a mais leve li-
Pena < 57 kg -
mita a massa corporal em até 49 kg e a categoria
Leve < 60 kg < 60 kg
mais pesada inicia em 67 kg. Para o masculino,
Meio médio ligeiro - < 64 kg
esses valores são de até 58 kg na categoria mais Meio médio < 69 kg < 69 kg
leve e acima de 80 kg para a categoria mais pe- Médio < 75 kg < 75 kg
sada. Vale lembrar que, no taekwondo, nas com- Meio pesado - < 81 kg
petições não olímpicas, existem mais divisões nas Pesado - < 91 kg
categorias de peso. Super pesado - > 91 kg
Fonte: Confederação Brasileira de Boxe - CBBOXE (2017).

152
EDUCAÇÃO FÍSICA

Para o conteúdo não ficar muito extenso e com in- minuição da massa corporal para competir em uma
formações redundantes, vamos apresentar apenas as categoria mais leve. Isso é diferente de um processo
três modalidades olímpicas de percussão. Contudo, visando o emagrecimento. No emagrecimento, o
ficou mais que claro que os competidores são divi- indivíduo está acima da massa corporal recomen-
didos por sua massa corporal, e que essas divisões dada, apresentando um excesso de gordura corpo-
são específicas de cada modalidade, havendo limites ral. Assim, esse sujeito tem o que diminuir e essa
diferentes para homens e mulheres. Ainda, o limite redução tem efeito positivo para a saúde, uma vez
das categorias de peso pode ser alterado de acordo que tecido adiposo em excesso está relacionado à
com a confederação e o nível da competição. Por diversas doenças.
esso motivo, você deve estar atento à isso quando for Porém, diferente desse caso típico visando o
atuar na preparação de seus atletas. O monitoramen- emagrecimento, a preocupação de muitos atletas
to da massa corporal deve ser realizado de modo a dos esportes de combate é reduzir sua massa na ba-
definir qual melhor categoria para que o atleta possa lança no dia da pesagem para poder competir com
competir, evitando um perigoso problema: a perda atletas, em tese, menores e mais fracos. O impor-
de peso rápida. tante é se enquadrar dentro de uma categoria. O
problema é que muitos desses atletas não têm ex-
PERDA DE PESO NOS ESPORTES DE cesso de gordura para reduzir, pois já apresentam
COMBATE uma composição corporal dentro das recomenda-
ções para a saúde e esporte. Diante disso, muitos
atletas adotam diferentes estratégias para conse-
guir essa perda de peso, normalmente em um curto
período de tempo.
Por exemplo, entre 63 atletas universitários de
wrestling, 89% reportou que adotaram métodos
para perda de peso, sendo que, em 41% deles, as re-
duções foram entre 5,0 a 9,1 kg no período de uma
semana (STEEN; BROWNELL, 1990). No judô, a
prevalência de atletas que realizam a perda rápida de
peso para competir chega a atingir 89% dos atletas
(ARTIOLI et al., 2010). No jiu-jitsu, entre atletas de
A divisão dos atletas dos esportes de combate em nível competitivo nacional e internacional, aproxi-
categorias relativas à massa corporal gera um gran- madamente 50% adotam a perda de peso, chegando
de problema: a perda de peso. Essa “perda de peso” essa prevalência a 62,5% entre atletas de nível regio-
é um termo adotado nessa área para se referir à di- nal (BRITO et al., 2012).

153
LUTAS

SAIBA MAIS
No taekwondo, entre os homens, 77,4% dos
atletas de nível regional/estadual e 75,6% de nível
nacional/internacional declararam adotar a per- A perda de peso no MMA é ainda mais peri-
gosa para atletas do sexo feminino. A mulher
da de peso para competir em categorias mais le-
tem tendência a reter mais água que o ho-
ves. Entre as mulheres, essa prevalência é de 88,9% mem, dificultando a desidratação. A maioria
para as atletas de nível regional/estadual e 88,6% das atletas que participam de esportes de
combate já tem um nível de gordura muito
em nível nacional/internacional. Em média, esses
baixo no corpo. As células femininas precisam
atletas reduziam ~3% de sua massa corporal, sendo de gordura para fabricar estrogênio, hormô-
que alguns deles reduziam ~7% da massa corporal nio responsável por diversos processos no
corpo da mulher. A falta de estrogênio pode
(SANTOS et al., 2016).
causar a doença “Tríade da Mulher Atleta”,
Esse processo de perda de peso pode afetar ne- que consiste nos seguintes sintomas: ame-
gativamente o desempenho dos atletas, mas as con- norreia (falta da menstruação), distúrbios
alimentares e perda mineral óssea. Além de
sequências podem ser ainda mais sérias. É comum
atrapalhar o ciclo menstrual, a tríade causa
atletas adotarem métodos extremamente nocivos à uma diminuição da força e densidade dos
saúde, os quais podem levar à morte. Infelizmente, ossos, provocando fissuras e fraturas com
maior facilidade. Outra característica da tríade
há relatos de ocorrências de óbitos em diferentes
é causar distúrbios alimentares, a campeã
modalidades esportivas de combate em decorrên- Ronda Rousey sofreu de bulimia em seus
cia da perda de peso rápida. Assim, há sugestões de tempos de judoca.
atenção e sobretudo, desestímulo a esse tipo de prá- Fonte: Venum (2015, on-line)1.
tica (ARTIOLI et al., 2016).
Com essas informações em mente, agora é im-
portante saber como aplicar esse conhecimento,
avaliando o atleta para identificar se ele pode reduzir
a massa corporal (se tem excesso de gordura corpo-
ral) e qual a margem para essa perda. Caso o atleta
já apresente composição corporal adequada, a perda
de peso deve ser desestimulada, a fim de preservar a
integridade do atleta.

154
EDUCAÇÃO FÍSICA

155
LUTAS

Estrutura Temporal
nos Esportes de Combate

156
EDUCAÇÃO FÍSICA

Um fato que irá te auxiliar na prescrição de treina- ~20-30 s de esforço por ~10-15 s de pausa, numa ra-
mentos específicos é o entendimento de como uma zão esforço/pausa de 2:1 (FRANCHINI et al., 2013).
disputa é realizada. Particularmente, esse é um dos A fase de esforço para as diferentes modalidades
meus assuntos preferidos, pois tem uma implicação compreende o tempo entre o comando de “lute” e
direta no treinamento, desde que interpretado de “pare” (nomenclatura muda para cada esporte), en-
maneira adequada. quanto a fase de pausa compreende o intervalo entre
Embora um combate de judô tenha a duração de o comando de “pare” e “lute”.
4 min, é pouco provável que os atletas passarão os 4 Especificamente ao judô, as fases de combate po-
min de combate em uma intensidade elevada, com dem ser entendidas da seguinte maneira:
muito emprego de força e potência. O mais provável
(1) Aproximação: compreende o tempo entre
é que os atletas passem um tempo se estudando, pre- o primeiro passo realizado pelos atletas após o
parando espaços para uma boa oportunidade, para, sinal de início de combate (hajime) dado pelo
então, no momento certo realizar uma investida ex- árbitro e a realização da pegada (kumi-kata).
tremamente rápida de modo a finalizar o combate (2) Pegada: compreende o tempo em que os
com um ippon. Nesse caso, teríamos ações de alta atletas permaneceram realizando a pegada
intensidade intercaladas por ações de baixa inten- (kumi-kata) sem a entrada de golpes.
sidade. Essas informações teriam grande aplicação (3) Ataque: compreende o tempo entre a pre-
aos treinadores, os quais poderiam organizar suas paração (tsukuri) e a projeção (kake).
atividades respeitando as demandas específicas de (4) Defesa: compreende o tempo que um atle-
ta passa defendendo a investida de ataques do
seu esporte.
adversário.
A boa notícia é que, para algumas modalida-
(5) Transição: compreende o tempo que leva
des, há publicações nesse sentido. Ao se analisar da luta em pé (com dois atletas em posição
muitas lutas, é possível definir um padrão comum. bipodal) para luta no solo.
Será possível identificar quais são as técnicas mais (6) Luta de solo: compreende o período em
exploradas, quais são as estratégias que o atleta ado- que um ou ambos os lutadores caracteriza-
ta quando está ganhando ou perdendo. Essas defi- ram o trabalho de técnicas de solo (ne-waza).
nições técnicas irão constituir um padrão. Embora (7) Tempo de pausa: compreende o perío-
isso possa variar de atleta a atleta, de acordo com ca- do entre o sinal de interrupção de comba-
racterísticas físicas e também estilo de luta, o enten- te (matte) e o sinal de reinício do combate
(voz de comando hajime). Os comandos
dimento do padrão mais comum pode ser utilizado
para paralisação da luta (sono mama) e
para criar mais especificidade às atividades. reinício (yoshi) também são computados
Na Figura 1, você pode visualizar a estrutura como tempo de pausa.
temporal de um combate típico de judô. Note que,
nessa imagem, são apresentadas as sete diferentes fa- Esse entendimento de cada fase do combate exige
ses (aproximação, pegada, ataque, defesa, transição, um pouco mais de vivência em cada modalidade.
combate no solo e pausa) que constituem as disputas No entanto, o principal é que você analise quais
(MIARKA et al., 2012), gerando a estrutura típica de ações são realizadas em cada fase, assim como qual

157
LUTAS

a contribuição de cada fase no decorrer da disputa. Na Figura 2, agora podemos observar as caracterís-
Por exemplo, com base na Figura 1, você pode ob- ticas das disputas de Brazilian jiu-jitsu, em compe-
servar que as ações de ataque são de curta duração. tições de nível regional. Esse é um dos estudos em
Assim, essa especificidade deve ser considerada no que eu tive a oportunidade de descrever as ações de
treinamento de potência muscular, com estímulos temporalidade no jiu-jitsu. Na imagem, são descri-
médios de 5 segundos. tos os tempos de esforço e pausa, com subdivisão do
tempo de esforço em esforço em alta e baixa intensi-
dades. Assim, a estrutura observada descreve ações
Aproximação
em alta intensidade de ~3 s, alternadas por ações em
12 ± 8 s baixa intensidade de ~25 s, conferindo aos blocos
de esforços uma duração média de ~117 s, sendo os
blocos de esforço intercalados por blocos de pausa
Aproximação
de ~20 s (ANDREATO et al., 2013).
5±6s As ações de alta intensidade têm sido considera-
das quando um atleta tenta avançar/progredir/evo-
luir em uma situação de luta, com claro emprego de
Aproximação
vigor físico, força e/ou potência muscular; enquanto
6±5s as ações de baixa intensidade são as demais que não
atinge as características das de alta intensidade. Res-
salvando-se que uma “progressão” mais tática não é
Aproximação
de alta intensidade, mas pode ser tão efetiva quanto.
3±3s

Aproximação

1±2s Esforço Pausa

117 s 20 s

Aproximação

4±3s

Aproximação

9±3s Alta intensidade Alta intensidade

3s 3s

Figura 1 - Fases de um combate de judô Figura 2 - Fases de um combate de Brazilian jiu-jitsu


Fonte: adaptada de Miarka et el. (2012). Fonte: adaptada de Andreato et al. (2013).

158
EDUCAÇÃO FÍSICA

No estilo greco-romano do wrestling, os comba- específica para atletas de Brazilian jiu-jitsu (JAMES
tes possuem uma razão esforço pausa de 2:1 a 3:1, et al., 2014), elaborada por meio de estudo prévio no
sendo os blocos de esforços constituídos de ~37 s, qual foi realizada análise técnico-tática de combates
alternados por blocos de pausa de ~14 s (Figura 3) em competição de nível regional (ANDREATO et
(NILSSON et al., 2002). al., 2013). Nessa proposta, é possível observar que
foi mantida a duração de cada fase do combate. No
entanto, essa não é a realidade de muitos protocolos
utilizados no dia a dia, os quais, embora sejam di-
tos como específicos, configuram tempos de esforço
(alta ou baixa intensidade) e pausa totalmente des-
conexos com as análises de luta.
Você, como responsável pela organização dos
treinamentos, pode aprofundar ainda mais seus es-
Esforço Pausa tudos, para saber se há diferença no padrão de luta
dentro do combate (ex.: diferença de intensidade
37,2 ± 9,8 s 13,8 ± 6,8 s
entre o início, meio e fim da disputa) ou entre os
Figura 3 - Fases de um combate de Brazilian jiu-jitsu
combates de uma mesma competição (ex.: diferença
Fonte: adaptada de Nilsson et al. (2002). entre os combates classificatórios e finais).
Além disso, é sempre importante que você esteja
O conhecimento da estrutura temporal dos com- atento às mudanças de regras, pois esse fato pode al-
bates é importantíssima para inferir as demandas terar significativamente as estratégias de luta.
energéticas dos combate, criando estratégias ade-
quadas de treinamento, os quais serão específicos Bloco de 5 min

à modalidade, buscando a otimização dos sistemas


energéticos predominantes e determinantes. Além ~117s de ~20s de ~117s de
esforço pausa esforço
disso, conhecendo as demandas dos combates, é
possível inferir quais ajustes nutricionais ou suple- 4x25s em baixa 4x25s em baixa
intensidade intensidade
mentos poderiam ser efetivos na modalidade es-
portiva analisada. 4x3-5s em alta 4x3-5s em alta
intensidade intensidade
Um exemplo de como o conhecimento da estru-
tura temporal pode ser utilizado no sistema de pre- Figura 4 - Exemplo de proposta de preparação física voltada ao Brazilian
jiu-jitsu
paração dos atletas é apresentado na Figura 4. Esta Fonte: adaptada de James et al. (2014) e baseada em dados de Andreato
imagem é um modelo de treinamento de resistência et al. (2013).

159
LUTAS

REFLITA

O princípio da especificidade aponta que as


adaptações orgânicas são específicas ao es-
tímulo fornecido (ex.: tipo de exercício, gru-
po muscular, demandas energéticas). Diante
disso, a ideia de “treino é treino, jogo é jogo”
pode ser considerada adequada?

As informações apresentadas até aqui já provêm ele-


mentos suficientes para a criação de treinamentos
específicos. No entanto, você pode aprofundar ainda
mais seus estudos, como, por exemplo, compreen-
dendo as etapas de um combate ou de uma compe-
tição, para explorar essas informações como julgar
mais viável. Ainda, é possível explorar informações
relacionadas aos aspectos técnicos do combate,
como golpes mais utilizados.

160
EDUCAÇÃO FÍSICA

161
LUTAS

Perfil Antropométrico e Funcional


de Atletas de Esportes de Combate
Uma análise importante e relevante na preparação de res de potência de membros inferiores de atletas de
atletas de esportes de combate é o conhecimento das taekwondo são considerados altos, com resultado
principais características físicas dos atletas, criando, muito acima de sujeitos não atletas, pode conside-
assim, um perfil físico. Essa análise se torna interes- rar que essa variável é importante para atletas dessa
sante por alguns motivos. Primeiro, essa apreciação modalidade. Por outro lado, se você se deparar com
nos permite realizar uma inferência indireta de que valores de preensão manual máxima em atletas de
as capacidades ou habilidades físicas mais destaca- taekwondo, sem diferenças relevantes dessa variável
das são importantes para a modalidade esportiva em entre atletas e não-atletas, pode considerar que essa
foco. Por exemplo, você, ao evidenciar que os valo- capacidade não seja tão relevante para esse esporte.

162
EDUCAÇÃO FÍSICA

Além disso, sempre que possível, você deve se leve. Muitas vezes, os métodos são perigosos e, além
atentar para a existência ou não de diferenças entre de prejudicar o desempenho, podem causar sérios
atletas de diferentes níveis competitivo. Se a força danos à saúde e até mesmo a morte. Nesse sentido,
máxima avaliada no supino é maior em atletas de essa perda de peso deve ser desestimulada.
elite jiu-jitsu, quando equiparados a atletas não-e- Uma das maneiras de avaliar se a perda de peso é
lite, é no mínimo razoável que seja destinada uma possível, é conhecer a composição corporal do atle-
atenção maior para o aprimoramento dessa capaci- ta, a fim de diagnosticar se é viável ter uma redução
dade física. da massa corporal de forma segura, com base em re-
Isso não quer dizer que, se um estudo apontou dução da massa adiposa. Com base nessa avaliação,
determinado resultado, aquilo deve ser uma regra atleta, preparador físico, treinador e nutricionista
aplicável a todos atletas, categorias, sexo, idade, nível podem avaliar em conjunto se é viável a redução do
competitivo ou estilo de luta. Cabe ao treinador co- peso para competir. Além disso, o controle da com-
nhecer os padrões e adaptar essas informações para posição corporal é de suma importância, uma vez
a individualidade de seu atleta. que há uma correlação negativa entre gordura cor-
A seguir, iremos avaliar como você poderá rea- poral e capacidade de locomoção em alguns espor-
lizar isso, com base em alguns elementos físicos im- tes, como o judô, ou seja, quanto maior a quantidade
portantes para a maioria dos esportes de combate. de tecido adiposo, menor é a capacidade de atletas
realizarem técnicas específicas ou exercícios genéri-
COMPOSIÇÃO CORPORAL cos (FRANCHINI et al., 2011).
Para esse diagnóstico, é possível, e recomenda-
do, a comparação com atletas da mesma modalida-
de. Vamos supor que queiramos saber se a compo-
sição corporal de um judoca está similar a de outros
atletas da mesma modalidade. Nesse caso, podemos
nos valer das informações presentes no Quadro 12,
o qual apresenta uma série de estudos que reporta-
ram valores percentuais de gordura corporal de atle-
tas de elite de judô (FRANCHINI et al., 2011).
Assim como existem muitos estudos que permi-
tem essa comparação entre judocas (FRANCHINI et
al., 2011), também há outras revisões e literatura que
Como já discutimos na segunda aula desta unidade, fazem um resumo de perfil físico e fisiológico de atle-
na maior parte dos esportes de combate, os atletas tas de karatê (CHAABÈNE et al., 2012), jiu-jitsu (AN-
são divididos quanto a sua massa corporal. Como DREATO et al., 2017), taekowondo (BRIDGE et al.,
consequência, há uma alta prevalência de atletas que 2014), boxe amador (CHAABÈNE et al., 2015) e ki-
adotam métodos de perda de peso, de forma rápi- ckboxing (SLIMANI et al., 2017), com abordagem de
da e abrupta, para competir em uma categoria mais diversos componentes relevantes para o desempenho.

163
LUTAS

Seria um tanto maçante abordarmos cada capacidade ou habilidade física de cada


um dos esportes de combate. O mais importante é entendermos como atuar fren-
te à necessidade de avaliação de um atleta, independente do esporte.

Quadro 11 - Percentual de gordura de atletas de judô

Massa Gordura
Características dos atletas Método Referência
corporal (kg) corporal (%)
Homens
Seleção húngara (n=7) 60 – 70 a 8,9 ± 0,8 DC Farmosi et al. (1980)
Seleção húngara (n=11) > 70 b 14,0 ± 7,3 DC
Seleção canadense de 1987 (n=22) 75,4 ± 12,3 9,3 ± 2,1 DC Thomas et al. (1989)
Norte-americanos de elite (n=8) 91,5 ± 2,7 10,8 ± 1,9 DC Callister et al. (1990)
Norte-americanos de elite (n=18) 83,1 ± 3,8 8,3 ± 1,0 DC Callister et al. (1991)
Canadenses (n=17) 79,3 ± 14,6 10,5 ± 1,0 DC Little (1991)
Seleção universitária brasileira (n=6) 86,9 ± 34,4 11,1 ± 5,1 DC Franchini et al. (1997)
Poloneses (n=15) 82,9 ± 16,4 13,7 ± 3,4 DC Sterkowicz et al. (1999)
Seleção universitária brasileira de 2000 (n=13) 89,0 ± 16,0 13,7 ± 5,2 DC Franchini et al. (2005)
Seleção olímpica brasileira de 2000 (n=7) NR 7,0 ± 3,0 DC Koury et al. (2005)
Croatas de elite (n=6) NR 12,0 ± 1,2 DC Sertic et al. (2006)
Seleção brasileira A (n=7) 90,6 ± 23,8 11,4 ± 8,4 DC Franchini et al. (2007)
Seleção brasileira B (n=15) 86,5 ± 16,3 10,1 ± 5,7 DC
Mulheres
Obuchowicz-Fidelus
Seleção polonesa (n=22) 59,1 ± 7,9 20,9 ± 2,0 DC
et al. (1986)
Canadenses (n=8) 62,3 ± 5,2 15,2 ± 2,1 DC Little (1991)
Norte-americanas de elite (n=7) 56,3 ± 0,9 15,8 ± 1,2 DC Callister et al. (1990)
Norte-americanas de elite (n=9) 53,8 ± 1,6 15,2 ± 1,0 DC Callister et al. (1991)
Seleção universitária brasileira (n=7) 66,9 ± 16,3 16,1 ± 3,0 DC Franchini et al. (1997)
Seleção olímpica brasileira de 2000 (n=9) 66,0 ± 8,0 22,0 ± 5,0 DC Koury et al. (2007)
Croatas (n=8) NR 16,6 ± 4,3 DC Sertic et al. (2006)
a
Massa corporal de 60 kg a 70 kg; b Massa corporal foi > 70 kg; NR: não reportado.
Fonte: adaptado de Franchini et al. (2011).

164
EDUCAÇÃO FÍSICA

DESEMPENHO FÍSICO GENÉRICO

Como aprendemos na terceira aula desta unida-


de, as disputas de judô, em média, têm uma estrutu-
ra temporal de 20-30 segundos de esforço alternados
por 10-15 segundos de pausa (MIARKA et al., 2012;
FRANCHINI et al., 2013). Nos segundos de esforço, há
uma significativa contribuição dos sistemas glicolítico
e ATP-CP. Como consequência, ocorre depleção dessas
reservas energéticas, assim como acúmulos de íons H+,
os quais provocam acidose muscular, uma das causas da
fadiga. Nos intervalos entre esforços, o organismo tra-
balha recuperando as reservas energéticas e limpando
a “sujeira” (eliminando os metabólitos). Nesse sentido,
uma boa aptidão aeróbia é de suma importância para
tais processos fisiológicos (ANDREATO et al., 2016).
A duração dos combates e a estrutura temporal da Desse modo, a aptidão aeróbia tem de ser um
maioria das modalidades criam uma realidade que dos componentes avaliados nos atletas da maioria
exige dos atletas um bom condicionamento aeróbio. dos esportes de combate. É importante que os atle-
A contribuição energética tende a ser predominante tas apresentem uma boa aptidão, compatível com a
pelo metabolismo aeróbio, o qual atua para susten- comumente apresentada por outros atletas do mes-
tar a demanda do exercício, sustentando a solicita- mo esporte. Isso não significa que o treinamento ae-
ção muscular e cardiorrespiratória. Além disso, o róbio deva ser a prioridade do treinamento desses
metabolismo aeróbio tem influência na remoção de atletas, mas deve ser o suficiente para manter níveis
metabólitos que se acumulam em decorrência dos adequados de aptidão aeróbia.
períodos de alta intensidade, bem como na reposi- Além disso, é importante destacar que o compo-
ção das reservas energéticas nos intervalos dentro de nente aeróbio é predominante na maioria das mo-
um combate e entre combates em uma competição dalidades esportivas de combate, mas não determi-
(ANDREATO et al., 2016; FRANCHINI et al., 2013). nante. As ações que definem os combates, gerando
Essa contribuição do sistema aeróbio tende a ser ippons, finalizações, nocautes e pontuações são, ge-
maior nos combates nos quais o tempo de luta são ralmente, provenientes de ações em alta intensidade,
maiores. Nesse caso, o sistema aeróbio deveria ser envolvendo grande produção de força e/ou potência
maior em combates de jiu-jitsu (10 min) do que nos muscular (ANDREATO et al., 2017; SLIMANI et al.,
de karatê (3 min), pois quanto mais longo o exercí- 2017; CHAABÈNE et al., 2015; BRIDGE et al., 2014;
cio, maior é a participação do metabolismo oxida- CHAABÈNE et al., 2012; FRANCHINI et al., 2011).
tivo. Isso não quer dizer que a aptidão aeróbia irá Um desenvolvimento desacerbado do condicio-
diferir entre essas modalidades. namento aeróbio irá impactar negativamente sobre

165
LUTAS

as capacidades de força e potência muscular. Tal fato de referencial a você. Como se pode observar,
ocorre como resultado da concorrência nas adap- entre atletas de jiu-jitsu a aptidão aeróbia é boa,
tações fisiológicas desencadeadas pelo treinamento mas sem valores exacerbados, com consumo de
aeróbio e treinamento de força e potência. oxigênio entre 45 – 52 ml/kg/min. Além disso,
A seguir, no Quadro 12, são descritos dife- analisando de maneira geral, não parece haver di-
rentes estudos que avaliaram a aptidão aeróbia ferença na aptidão aeróbia entre níveis competiti-
de atletas de jiu-jitsu (adaptado de Andreato et vos (ex.: elite nacional e internacional x estadual)
al., 2017). Esses dados podem (e devem) servir ou iniciantes e experientes.

Quadro 12 - Aptidão aeróbia de atletas de Brazilian jiu-jitsu

Características dos atletas Teste VO2max (ml/kg/min) Referência


Incremental em
Atletas nível estadual (n=5) 45,2 ± 2,4 Leitão da Silva (2015)
esteira (direto)
Atletas de diferentes níveis competitivo (n=9) 1.600 m 50,4 ± 4,0 Mazzoccante et al. (2015)
Atletas de nível estadual – faixa-branca a
2.400 m 42,4 ± 5,6 Ribeiro et al. (2015)
roxa (n=9)
Atletas de nível estadual – faixa-branca a
46,3 ± 7,0
roxa (n=9)
Atletas de nível estadual (n=9) 46,3 ± 7,0
Banco - Queens
Praticantes (n=136) 52,2 ± 7,9 Schwartz et al. (2015)
College
Atletas de diferentes níveis competitivo
1.600 m 50,2 ± 4,3 Mazzoccante et al. (2014)
(n=10)
Atletas de nível estadual – faixa-roxa a preta
1.600 m 49,0 ± 3,2 Silva et al. (2014)
(n=14)
Atletas de nível estadual – faixa-branca (n=14) 51,0 ± 3,6
Incremental em
Atletas de alto nível (n=7) 42,7 ± 3,2 Rezende et al. (2013)
esteira (direto)
Incremental em
Atletas de nível estadual (n=8) 49,8 ± 2,3 Borges et al. (2012)
esteira (direto)
Incremental em
Praticantes (n=30) 52,0 ± 6,9 Mazzocante et al. (2011)
esteira (direto)
1.600 m 52,1 ± 5,1
Incremental em
Atletas de alto nível (n=10) 49,4 ± 3,6 Vidal-Andreato et al. (2011)
esteira (indireto)

VO2max: aptidão aeróbia; método direto: usando analisador de gases; método indireto: usando fórmulas validadas.
Fonte: adaptado de Andreato et al. (2017).

166
EDUCAÇÃO FÍSICA

Outro exemplo que podemos usar é a análise da po- plos anteriores, esses reportes podem nos auxiliar a
tência muscular. Essa capacidade pode ser considerada identificar qual o grau de similaridade do nosso atleta
fator determinante para a maioria das modalidades de em comparação com outros da mesma modalidade.
combate, uma vez que, nos momentos decisivos para
gerar pontuações ou o término do combate (via nocau- Quadro 13 - Performance no salto vertical contra-
te, ippon, finalização), há o emprego da força rápida. movimento de atletas de karatê
Esse uso de força pode necessitar vencer altas cargas,
Características dos par- Resultado
como para aplicação de algumas projeções no judô em Referência
ticipantes (n) (cm)
que é necessário superar a resistência do adversário; ou Homens
sem necessidade de enfrentar altas cargas, como em Ravier et al. Franceses categoria júnior
44,9 ± 5,9
um chute no karatê, em que a única resistência é o ar. (2004) (10) nível internacional (n=10)
Dessa forma, visto que a execução de chutes no Franceses categoria jú-
40,0 ± 3,8
nior nível nacional (n=12)
karatê necessita de potência de membros inferiores
Roschel et al. Brasileiros de elite –
sem necessidade de superar altas cargas, avaliar esta 48,8 ± 3,4
(2009) (31) vencedores (n=7)
capacidade genérica (potência de membros inferio-
Brasileiros de elite –
res) pode ser relevante para inferir indiretamente 50,8 ± 2,6
vencidos (n=7)
o desempenho específico (potência de chute). Para Doria et al. Italianos de elite kumite
42,8 ± 4,2
tanto, você pode utilizar um teste de ampla aplicação (2009) (44) (n=3)
na ciência dos esporte, que é o teste de salto vertical. Italianos de elite kata (n=3) 42,7 ± 4,4
Koropanovski Sérvios de elite kumite
46,1 ± 4,4
et al. (2011) (57) (n=9)
Sérvios de elite kata (n=9) 48,6 ± 8,1
Mulheres
Doria et al. Italianas de elite kumite
39,2 ± 2,4
(2009) (44) (n=3)
Italianas de elite kata (n=3) 38,3 ± 1,0

Fonte: adaptado de Chaabène et al. (2012).

O objetivo central desta aula é a compreensão de que


é possível tomar decisões no planejamento do treina-
mento com base em evidências científicas. Sabemos
que o treinamento esportivo é construído nas bases
de tentativa e erro, mas quanto menos erramos maior
No Quadro 13, temos alguns dados referentes à per- a chance de sucesso. Se temos estatísticas aplicadas ao
formance no salto vertical de atletas de karatê, de am- esporte que podem nos auxiliar, não há motivos para
bos os sexos. Embora o acervo não seja tão grande não usá-las. Basta apenas a compreensão que é neces-
para essa variável no karatê, assim como nos exem- sário avaliar a aplicabilidade das informações.

167
LUTAS

Respostas Fisiológicas e Perceptivas


em Esportes de Combate
A prescrição de treinos específicos e eficientes de- hormônios e marcadores de dano celular. A mensu-
pende do conhecimento das demandas metabóli- ração dos níveis de lactato nos fornece um indicati-
cas envolvidas nas competições e treinamentos. O vo do grau de ativação do metabolismo glicolítico
treinador necessitará conhecer quais componentes (anaeróbio lático). Quanto maior as concentrações
são predominantes e quais aqueles que são deter- de lactato, infere-se que maior foi a ativação desse
minantes do desempenho. Para esse sentido, podem metabolismo. Por outro lado, se em esforços subse-
ser utilizadas diferentes informações que reflitam as quentes (ex.: um torneio) as concentrações caírem,
demandas de luta. tal resposta é um indício de diminuição da ativação
da via glicolítica, possivelmente por diminuição das
RESPOSTAS METABÓLICAS reservas energéticas. Nesse caso, por exemplo, tal in-
formação poderia sustentar a inclusão de suplemen-
Entre as medidas bioquímicas, as mais usuais nos tos energéticos, como carboidratos e aminoácidos
esportes de combate são as de lactato sanguíneo, (ANDREATO et al., 2015a).

168
EDUCAÇÃO FÍSICA

A avaliação hormonal é interessante principal- Esses dois tipos de situações têm pontos positi-
mente para avaliação do equilíbrio entre os status vos e negativos, mas de forma alguma são concor-
anabólico e catabólico. Por essa razão, os hormônios rentes, mas sim complementares. Você pode e deve
mais avaliados são testosterona e cortisol, indicado- usar as informações oriundas de ambas as situações.
res de anabolismo e catabolismo, respectivamente. Na Figura 5, podemos observar como ocorre um
Tal informação nos dá base para entender se o atleta aumento das concentrações de lactato durante uma
está entrando em um grau de fadiga que possa com- luta de judô (5 min quando o estudo foi conduzi-
prometer seu rendimento (FRANCHINI et al., 2013). do) (JULIO, 2014). Em outro exemplo, na Figura 6,
O terceiro tipo de avaliação frequentemente uti- podemos observar que há um declínio da ativação
lizado é análise de marcadores de dano celular, indi- glicolítica (estimada indiretamente pelo lactato san-
cando, assim, pequenos danos no tecido muscular guíneo) a partir da terceira luta de uma competição
em decorrência ao exercício físico. O grau do dano de jiu-jitsu (ANDREATO et al, 2015a). Em ambos
pode estar relacionado à intensidade do exercício. os casos, fica clara a necessidade de treinamentos
Avaliando as respostas de dano, é possível entender que estimulem a via glicolítica.
quais estímulos seriam excessivos ao atleta, causan- Essas mesmas análises devem ser realizadas para
do dano e podendo diminuir o desempenho. Nesses as variáveis de interesse de cada modalidade a ser
dois últimos casos, as intervenções agudas são mais trabalhada. Para o foco dos nossos estudos, não é de
delicadas de serem implementadas, mas podem in- extrema importância estudarmos detalhadamente
dicar a necessidade do aprimoramento de alguns essas informações, pois, como dito anteriormente,
componentes da aptidão física (ex.: resistência mus- as respostas irão mudar de acordo com a modali-
cular ou aptidão aeróbia), bem como abrir espaço dade esportiva. Nosso objetivo aqui é compreender
para testar o uso de algum recurso ergogênico (AN- quais medidas devem ser analisadas e como os re-
DREATO et al., 2015a). sultados descritos em pesquisas podem nos auxiliar.
Esses tipos de análises têm sido realizado em si-
mulações de luta (ex.: apenas um combate simulado Combate simulado de judô
ou uma competição simulada) ou em situação real (na 14
a a
competição). A situação real com certeza é mais inte- 12
a, c
Lactato (mmol/L)

10 a, c
ressante, por se tratar do momento para o qual o atleta
8 a, b
se prepara. No entanto, nesse ambiente é complicado
6
avaliar muitos parâmetros, pois pode ser invasivo e
4
prejudicar o desempenho do competidor. Diante disso,
2
as simulações podem prover informações importan- 0
tes para os treinadores, pois é possível controlar uma Pré-luta 1 min 2 min 3 min 4 min 5 min
quantidade maior de fatores e analisar mais variáveis,
Figura 5 - Lactato sanguíneo em combates de judô de diferentes durações
embora tenha a limitação de não refletir com perfeição Fonte: adaptada de Julio (2015).
Legenda: a) diferente do valor pré-luta, b) diferente dos demais tempo
a competição real, com fatores externos próprios (ex.:
de luta, c) diferente dos minutos 4 e 5.
motivação para a vitória, estresse e ansiedade).

169
LUTAS

Competição simulada de jiu-jitsu


6 -
14
a a 7 Muito fácil
12 8 -
10 9 Fácil
Lactato (mmol/L)

10 -
8
11 Relativamente fácil
6 12 -
13 Ligeiramente cansatico
4
14 -
2 15 Cansativo

0
16 -
Luta 1 Luta 2 Luta 3 Luta 4 17 Muito cansativo
18 -
Figura 6 - Lactato sanguíneo em competição simulada de jiu-jitsu 19 Exaustivo
Fonte: adaptada de Andreato (2014).
Legenda: a: diferente da terceira luta (adaptado de Andreato et al., 2015a). 20 -
Figura 7 - Escala de percepção subjetiva de esforço 6-20
Fonte: Borg (2000).

RESPOSTAS PERCEPTIVAS
Um exemplo desse uso é a percepção de esforço
Além do conhecimento das respostas metabólicas que de judocas em um combate fragmentado, apre-
irão auxiliar os profissionais na organização do treina- sentada na Figura 8 (JULIO, 2015). É possível
mento de atletas de esportes de combate, informações observar que a resposta perceptiva aumenta em
sobre a percepção de esforço desses atletas em diferen- congruência com a duração do combate. Ao tér-
tes situações (treino e competição) também são rele- mino dos combates, a percepção média de fadiga
vantes para o treinador. É interesse o conhecimento e foi de aproximadamente 16 u.a. (JULIO, 2015), o
controle dessas percepções, a fim de reproduzir trei- que equivale à percepção de “cansativo” (BORG,
namentos que proporcionem estímulos semelhantes 1982). Com base nisso, seria importante avaliar
àqueles requisitados durante o esforço real em com- a percepção de esforço desses mesmos atletas em
petições. Podemos destacar a relevância da percepção situação competitiva (JULIO, 2015). Assim, seria
de esforço geral e da percepção de esforço local. possível diagnosticar se os atletas treinam em in-
A percepção de esforço geral faz referência ao tensidades semelhantes àquelas dos campeonatos.
quanto o atleta se autopercebe fatigado naquele mo- Essa é uma estratégia simples, mas que confere
mento, de forma geral. Um instrumento comum maior especificidade ao treinamento, de modo
para essa avaliação é aplicação da escala de Borg (Fi- que tenta reproduzir os esforços reais performa-
gura 7). Nessa avaliação, o atleta deve indicar o grau dos em competição.
de sua fadiga após a realização do exercício.

170
EDUCAÇÃO FÍSICA

Combate simulado de judô


20
18
PES 6-20 (u.a.)

16
14
12
10
8
6
1 min 2 min 3 min 4 min 5 min

Figura 8: Percepção subjetiva de esforço em combates de judô de dife-


rentes durações (Adaptado de Julio, 2015).
Fonte: adaptado de julio (2015)

Outra possibilidade é a utilização da percepção de


esforço local. Nessa proposta, basicamente é apre-
sentado um mapa anatômico aos atletas, os quais
devem apontar quais locais são motivo de fadiga
após o exercício (NILSSON et al., 2002). Nas Figuras
9, 10 e 11 são apresentados os relatos de fadiga local
Figura 10 - Percepção de esforço local após combates de judô em com-
em combates de wrestling (NILSSON et al., 2002), petição de nível estadual (n= 8 atletas e 27 combates)
judô (BRANCO et al., 2012) e jiu-jitsu (ANDREA- Fonte: adaptada de Branco et al. (2012).

TO et al., 2014), respectivamente.

Figura 9 - Percepção de esforço local após combates de wrestling no Figura 11- Percepção de esforço local após combates de Brazilian jiu-jit-
campeonato mundial de 1998 (n= 42 atletas e 94 combates) su em competição de nível regional
Fonte: adaptada de Nilsson et al. (2002). Fonte: adaptada de Andreato et al. (2014).

171
LUTAS

Com base nessas informações, você pode diagnosti-


car em quais pontos do corpo seu atleta mais sente
fadiga durante os treinamentos e competições. As-
sim, é possível definir quais grupamentos muscula-
res devem ser enfatizados no treinamento de resis-
tência muscular, bem como utilizar esses dados para
elaboração de trabalhos preventivos de lesões.
Além das análises das respostas metabólicas e
perceptivas, o conhecimento do comportamento
de outras variáveis fisiológicas, de desempenho ou
técnico-tático pode ser válido para aprimorar os
treinamentos, basta uma análise crítica e adapta-
ções ao contexto esportivo e características indivi-
duais do atleta.

172
considerações finais

Nesta unidade, aprendemos como é o sistema de divisão dos atletas, envolvendo


diferentes tempos de luta e também com divisões e categorias de peso. Nesses
aspectos, já evidenciamos que cada modalidade esportiva de combate tem sua
particularidade, tanto no tempo de luta quanto nos limites das divisões de peso.
Essa categorização referente à massa corporal resulta em uma alta prevalência
de perda de peso entre os atletas, de modo geral feita de maneira rápida e envol-
vendo métodos perigosos à saúde. Discutimos sobre a importância da avaliação
da composição corporal para definição da possibilidade de um atleta trocar ou
não de categoria de peso.
Além disso, o conjunto de fatores, como regras, técnicas permitidas e dura-
ção do combate geram padrões próprios de estrutura temporal, com diferente
proporção de tempo de esforço e pausa entre as modalidades. Sobre esse as-
sunto, traçamos algumas possibilidades de aplicação desses dados para a orga-
nização e prescrição do treinamento, de modo a conferir maior especificidade
ao treinamento.
Outro foco do nosso estudo foi identificar as principais características físicas
e funcionais de atletas de esportes de combate, utilizando sistema de comparação
com outros atletas da mesma modalidade. Por fim, analisamos algumas variá-
veis referente às respostas metabólicas e perceptivas decorrentes de treinamento
e competição, tentando criar estratégias para uso dessas informações no seu coti-
diano de treinador de um atleta de uma modalidade esportiva de combate.
É importante que você absorva esses conhecimentos, que servirão de base
para sua atuação nesta área de conhecimento. Importante lembrar que, como
destacado durante toda a unidade, são muitos os esportes de combate, com ca-
racterísticas singulares. Por isso, será necessário estudar especificamente cada
modalidade em que você irá atuar.

173
atividades de estudo

1. Um dos pontos indispensáveis que se deve conhecer e compreender é o fato


de que a duração dos combates é diferente nos esportes de combate de
domínio. Em relação à duração das disputas nos esportes de combate, é cor-
reto afirmar:
a) Todas as modalidades esportivas de combate têm o mesmo tempo de
disputa.
b) O tempo de luta é específico para cada modalidade, sendo que o tempo
de luta das mulheres é 10% inferior ao dos homens.
c) O tempo de luta entre as modalidades de combate de domínio é fixado sem-
pre em 5 min. Nas modalidades de percussão há variação no número de
rounds, em rounds de 3 min.
d) O tempo de luta é específico para cada modalidade, podendo ter va-
riações de acordo com a Federação que rege a competição e o nível da
competição.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

2. Devido ao fato de os atletas serem divididos em categorias de peso, muitos


atletas optam por reduzir a massa corporal para competir em uma categoria
mais leve. Na maior parte do tempo, essa perda de peso ocorre de forma
rápida (poucos dias). Em relação a esse processo de perda de peso, assinale
a alternativa correta.
a) A perda de peso rápida deve ser evitada, pois pode ser prejudicial tanto
para o desempenho quanto para a saúde do atleta.
b) Não há riscos para a saúde em se realizar a perda de peso.
c) Não há riscos para a saúde se a perda de peso for realizada de maneira
rápida.
d) Não há riscos para a saúde se a perda de peso for realizada de maneira
lenta.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

3. As informações sobre a estrutura temporal do combate podem ser usadas


para:
a) Avaliar o nível de aptidão física do atleta.
b) Avaliar o nível de aptidão aeróbia do atleta.
c) Aumentar a especificidade do treinamento, utilizando o tempo de esfor-
ço e pausa para controle das atividades.
d) As informações sobre a estrutura temporal têm pouca aplicabilidade no
treinamento envolvendo esportes de combate.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

174
atividades de estudo

4. Embora um combate de judô tenha a duração de 4 min, é pouco provável


que os atletas passarão os 4 min de combate em uma intensidade elevada.
Quanto às demandas das lutas, é correto afirmar que:
a) Na maior partes dos esportes de combate, a aptidão aeróbia é fator
determinante e as capacidades de força e potência muscular são pre-
dominantes.
b) Na maior partes dos esportes de combate, a aptidão aeróbia é fator
predominante e as capacidades de força e potência muscular são de-
terminantes.
c) Na maior parte dos esportes de combate tanto a aptidão aeróbia
quanto as capacidades de força e potência muscular são determi-
nantes.
d) Na maior parte dos esportes de combate tanto a aptidão aeróbia
quanto as capacidades de força e potência muscular são predomi-
nantes.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

5. Um dos principais modelos de percepção subjetiva de esforço é a Escala sub-


jetiva de percepção de esforço de Borg (1982). Quanto ao uso de escalas
perceptivas em esportes de combates, escolha a opção correta:
a) Não é indicado o uso de escalas perceptivas em esportes de combate,
pois os resultados têm grande variação individual.
b) A escala percepção de esforço geral pode ser utilizada para monitorar
a intensidade das atividades, buscando reproduzir nos treinamentos in-
tensidades semelhantes às desempenhadas em competição.
c) A escala de percepção de local pode ser utilizada para avaliar a capaci-
dade de realizar ações de potência durante a luta.
d) A escala de percepção de geral pode ser utilizada para avaliar a capaci-
dade de realizar ações de potência durante a luta.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

175
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia um trecho da matéria “A busca pelo alto rendi- Faça um teste rápido. Responda algumas questões:
mento nos esportes de combate”, que escrevi para a Quais são os pontos fortes e fracos da sua aptidão física?
revista Tatame. Quais desses pontos estão próximos ou distantes dos
“Atualmente, muitos atletas buscam atingir resultados atletas de elite da sua modalidade? O treinamento físico
importantes em diferentes esportes de combate. Muitos que você realizou nos últimos meses melhorou sua per-
desses atletas contam com ótimos profissionais que se formance? Sua performance atual está melhor do que
dedicam a fornecer tudo o que há de melhor e mais re- sua performance do ano anterior? Como você controla
cente para otimizar a sua performance. No entanto, mui- a carga semanal do seu treinamento? A sua recuperação
tos atletas tentam atingir o topo sem o auxílio de uma entre as sessões de treino está sendo a ideal? A prepara-
equipe multiprofissional. Ainda, muitos deles contam ção para a sua última competição importante foi efetiva?
com o auxílio de ótimos profissionais, mas que não são Respondeu as questões? Suas respostas foram basea-
especialistas em esportes de combates. Por esses moti- das na sua percepção, na percepção do seu prepara-
vos, o processo de treinamento acaba sendo prejudicado dor ou em dados numéricos de simples interpretação?
e, por consequência, acaba sendo um obstáculo rumo ao Você têm números para justificar suas respostas? Você
lugar mais alto do pódio. utiliza métodos de avaliação que são válidos para a
Ainda é frequente ver com tristeza que diversos atletas sua modalidade?
se preparam para o futuro seguindo programas que re- Se a resposta, para uma ou mais questões, foi não ou
solviam os problemas de ontem. Nos dias atuais, é muito não sei, saiba que sua preparação física pode e deve me-
fácil perceber que o profissionalismo chegou ao mundo lhorar muito, caso você queira atingir seu potencial máxi-
das lutas. Com essa chegada, o espaço para amadorismo mo. Lembre-se de algo muito importante, que é repetido
está em processo de extinção. Pelo menos para quem por muitos atletas de alto rendimento: “o que te trouxe
quer estar no lugar mais alto do pódio. até aqui não é o que vai te levar para o próximo nível”.
O sucesso esportivo é algo complexo e multifatorial, Mas não fique desmotivado, a boa notícia é que muitos
ou seja, não depende de apenas de um componente. profissionais têm se esforçado muito para desenvolver
Dentre esses componentes podemos citar as aspectos métodos que sejam simples, de fácil aplicação e de bai-
de treinamento físico, nutricionais, técnico, tático e psi- xo custo para resolver esses problemas do seu dia-a- dia
cológico. Especificamente, dentro do treinamento físico como atleta”.
uma etapa muito importante tem sido negligenciada na Fonte: Andreato (2017).
preparação de muitos atletas. E não apenas de atletas
iniciantes e com resultados pouco expressivos, mas tam-
bém de alguns atletas com resultados relevantes.

176
material complementar

Indicação para Ler

Preparação física para atletas de judô


Autor: Emerson Franchini; Fabrício Boscolo Del Vecchio
Editora: Phorte editora
Sinopse: no judô competitivo, a forma como um treinador organiza o processo de
treinamento de seu atleta é uma tarefa muito importante para um bom desem-
penho e um melhor aproveitamento dos procedimentos técnicos. Neste sentido,
para atender esta necessidade, a Phorte Editora lança o livro Preparação Física
para Atletas de Judô, organizada com o objetivo de estruturar o planejamento do
processo de treinamento físico. Em oito capítulos, o livro descreve desde a or-
ganização e a sistematização do treinamento até os casos de lesões que podem
ocorrer com o judoca quando é feito um planejamento técnico limitado. A obra,
inédita no cenário literário nacional, tem fundamento em questões científicas e na
vivência prática dos autores, respeitando cada segmento que compõe o processo
do treinamento no judô.

Indicação para Acessar

Nascido para o Combate: Ronaldo Jacaré


Ano: 2016
Sinopse: um dos principais nomes da atualidade entre os pesos-médios do UFC,
Ronaldo Jacaré, abre a sua vida e conta um pouco de sua história. A infância na
cidade de Cariacica, no Espírito Santo, a relação com a família e, claro, o início e
o reconhecimento no MMA.
Web: https://www.youtube.com/watch?v=puojjmsYTaw

No canal “Brasil Lutas”, no Youtube, os treinadores Diego Souto Morine e Paula


Avakian apresentam diversos materiais relacionados à preparação física voltada
aos esportes de combate, sempre trazendo um olhar científico do assunto.
Web: https://www.youtube.com/channel/UCEY_ry8vow05n6cK_CYrO_A >

177 177
referências

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Referência On-Line

1
Em: <https://venum.com.br/blog/perda-de-peso/>. Acesso em: 09 abr. 2018.

182
gabarito

1. D.
2. A.
3. C.
4. B.
5. B.

183
conclusão geral

Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste livro e es- violência como promovem amadurecimento social e
peramos que o conteúdo tenha contribuído de ma- motor dos alunos.
neira substancial na sua formação técnica, teórica, Já nos clubes, parques, academias e centros de
científica e crítica. Partimos do princípio de que não treinamento, quando as aulas são ministradas para
é necessário experiência prévia em modalidades de crianças, aplicam-se os mesmo cuidados e progres-
combate para que estes conteúdos sejam aplicados são pedagógica utilizados na escola. Alunos defi-
na escola e, tampouco, para que você atue com a ava- cientes, com dificuldades cognitivas ou mesmo ini-
liação e prescrição de treinamento para estes atletas ciantes também se beneficiam dos jogos de oposição
e praticantes. e brincadeiras de luta. Quanto aos praticantes mais
Para reforçar nosso ponto, abordar o conteúdo avançados e os atletas, lembre-se que um dos princí-
“Luta” em ambiente escolar não se trata de uma es- pios mais importantes do treinamento desportivo é a
colha do professor, mas sim um compromisso com a especificidade. Procure elaborar treinos que se asse-
cultura do movimento humano. Além disso, é uma melham ao combate real e não se esqueça da impor-
das indicações da Base Nacional Comum Curricu- tância das avaliações, sejam elas gerais ou específicas.
lar. Para isso, apresentamos inúmeras possibilidades, Outra demanda atual envolve a prática de exer-
desde o convite a mestres e treinadores e visitas aos cícios que remetem às lutas, mas que apresentam
locais de prática às atividades com vídeos, palestras objetivo estético, de saúde e/ou lazer. Independente-
e oficinas. Porém, lembre-se que, idealmente, os jo- mente do local ou abordagem, esperamos que este li-
gos de oposição e as brincadeiras de luta são com- vro tenha instrumentalizado sua prática e embasado
ponentes de fácil aplicação e que não só diminuem a seus conceitos teóricos. Desejamos sucesso.

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