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LUTAS
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Dr. Leonardo Vidal Andreato
Dr. Victor Silveira Coswig
LUTAS
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jetos especiais Daniel F. Hey, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida
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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
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com princípios éticos e profissionalismo, não maiores grupos educacionais do Brasil.
somente para oferecer uma educação de qualidade, A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão soluções inteligentes para as necessidades de todos.
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- Para continuar relevante, a instituição de educação
nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
e espiritual. coragem e compromisso com a qualidade. Por
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. do conhecimento, formando profissionais cidadãos
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais que contribuam para o desenvolvimento de uma
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos sociedade justa e solidária.
pelo MEC como uma instituição de excelência, com Vamos juntos!
boas-vindas
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autores
LUTAS
Caro(a) aluno(a), este livro tem por objetivo apresentar aspectos relevantes e atuais
sobre diferentes perspectivas relacionadas às Lutas, Artes Marciais e Modalidades
Esportivas de Combate. Inicialmente, é preciso destacar que as Lutas fazem parte
da cultura do movimento humano, juntamente com o Esporte, a Ginástica, o Jogo
e a Dança. De fato, a dimensão “Luta” ainda perpassa pelas demais expressões e,
por vezes, confunde-se com o Esporte, com o Jogo e, até mesmo, com a Dança.
Dito isto, este conteúdo faz parte da base da Educação Física e a atuação dos
professores e profissionais deve (ao menos deveria) contemplar aspectos histó-
ricos, sociais, técnicos, científicos e pedagógicos relacionados às lutas. Ademais,
especialmente nos aspectos científicos, apresenta-se um crescimento em volume
e relevância das pesquisas na área das ciências dos esportes de combate. Consi-
derando, então, as Lutas como conteúdo base da Educação Física e reconhecendo
seu papel na sociedade e na ciência, torna-se indispensável que você seja capaz de
dialogar sobre a temática com criticidade e por diferentes óticas.
Neste contexto, este livro busca proporcionar bases teóricas e metodológicas
para dar suporte a sua atuação nos estágios e no mercado de trabalho, bem como
em diversos espaços da comunidade. Para isso, inicialmente, são apresentados os
conceitos terminológicos e aspectos históricos que ilustram o modo em que as
Lutas estão enraizadas no DNA dos seres humanos (Figurativa e literalmente). Sim,
literalmente, já que traços do nosso DNA primitivo diferenciam povos que saíram
da África e conquistaram a Eurásia e o mundo daqueles que pereceram. Essas dife-
renças envolviam o modo de resolver conflitos e as práticas de lutas como rituais.
Na sequência, é dado foco na atuação didática e pedagógica que envolve o ato
de lutar. Você será convidado a refletir criticamente sobre o modelo vigente de
ensino nos diferentes espaços que oferecem práticas de lutas, bem como ao Sistema
Iemoto, que é carregado de hierarquia e comando. Obviamente, não serão traçadas
apenas as críticas, mas serão também sugeridos os modelos alternativos que de-
verão servir de referência para as práticas dos futuros professores e profissionais.
Ainda fazem parte do escopo deste livro as questões relativas ao perfil físico e
fisiológico de lutas e lutadores de modalidades esportivas de combate, bem como
acerca das avaliações e prescrições de treinamento específicas das Lutas, já que
estas apresentam características distintas de outras modalidades esportivas.
Por fim, esperamos que este livro ajude a qualificar sua carreira profissional e
acadêmica. Mais do que isso, esperamos que você seja encorajado a pensar com
criticidade e que possa conhecer melhor um dos conteúdos base e que, por vezes,
não recebe o protagonismo que lhe é devido.
Boa leitura!
su mário
UNIDADE II
130 Periodização e Organização do Treinamento
de Lutadores
ENSINO DE LUTAS
133 Considerações finais
46 O Ensino das Lutas e a Educação Física
137 Referências
52 Categorizações, Regras de Ação e Jogos de
Oposição 139 Gabarito
56 Modelo de Ensino Tradicional e Predomi-
nante UNIDADE V
60 Modelos de Ensino das Lutas Por Meio da Tática FISIOLOGIA E PERFIL DAS MODALIDADES ESPORTIVAS
64 Organização e Trato Pedagógico das Lutas DE COMBATE
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Conceitos em lutas, artes marciais e esportes de combate
• Origem e desenvolvimento das lutas
• Histórico das lutas na perspectiva oriental
• Histórico das lutas na perspectiva ocidental
• As lutas no Brasil
Objetivos de Aprendizagem
• Conceituar Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas
de Combate.
• Indicar panorama histórico-cultural das Lutas e seu papel
na sociedade.
• Apresentar a evolução das lutas no oriente.
• Apresentar a evolução das lutas no ocidente.
• Apresentar a evolução das lutas no Brasil.
unidade
I
INTRODUÇÃO
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EDUCAÇÃO FÍSICA
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REFLITA
Além do contexto geral de se referir às práticas cor- Infelizmente, é preciso reconhecer que, talvez, você
porais de combate genericamente como “Lutas”, se- já tenha utilizado os termos que dão título a este tó-
jam elas Artes Marciais ou esportivas, podemos ter pico como sinônimos de Lutas. Digo infelizmente,
uma interpretação mais específica e que remete dire- pois esta associação, por muitas vezes, acaba por
tamente às práticas pedagógicas que serão aprofun- afastar e distanciar da prática de lutas quem acredi-
dadas na Unidade II. Essa classificação diz respeito ta que Artes Marciais ou Modalidades de Combate
à interpretação de que as lutas fazem parte dos jogos apresentam relação direta com o ato de brigar ou
categorizados como de oposição (Agon) (CALLOIS, guerrear. Se você considerar que guerras envolvem
2001), que apresenta como características básicas oposição direta entre nações ou comunidades, uti-
como ter por alvo o próprio adversário, ser pratica- lização de tecnologia ilimitada e meios de destrui-
dos por duas ou mais pessoas e apresentar ataque e ção em massa com objetivo territorial, econômico/
defesa simultâneos (DEL VECCHIO; FRANCHINI, financeiro ou ideológico pode facilmente associar
2006; PAIVA, 2015). É possível, ainda, encontrar ao termo Arte Marcial mencionado anteriormente.
menções com os termos jogos de combate ou brin- Não obstante, as brigas podem ser caracterizadas
cadeiras de luta. pela oposição direta, entre duas ou mais pessoas,
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que, se não fosse a ausência de regras, a não ser as in- SAIBA MAIS
trínsecas ao próprio indivíduo, poderia ser associa-
da às modalidades esportivas de combate. Por outro Atualmente, é possível que você, especial-
lado, apesar de as diferenças terminológicas serem mente por ser estudante de Educação Física,
relativamente pequenas, o contexto sócio-histórico- esteja familiarizado(a) com manifestações de
Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esporti-
-cultural é oposto. Por exemplo, enquanto as brigas vas de Combate que vão além das definições
são geradas e guiadas por sentimentos de aversão, apresentadas. Um exemplo é a utilização de
repúdio e/ou ódio, as modalidades de combate de- gestos motores das Lutas para atender ob-
jetivos relacionados à aptidão física e saúde,
vem seguir o espírito esportivo, ou seja, o indivíduo que estão presentes em academias e clubes.
praticante respeita e precisa do seu adversário, já E estas se apresentam em aulas de ginástica
que, sem ele, não há prática. (Body CombatTM, Fitboxing...) ou em protocolos
de HIIT (exercícios intermitente de alta inten-
sidade) e, de fato, parecem ser uma estraté-
gia interessante para aumentar a adesão, a
motivação, a aptidão física e o gasto calórico,
inclusive em idosos.
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LUTAS
Origem e Desenvolvimento
das Lutas
Neste ponto, você já foi apresentado às diferenças Conforme anteriormente mencionado de modo
terminológicas entre Lutas, Artes Marciais e Moda- breve, o ato de lutar faz parte da história dos seres
lidades Esportivas de Combate. Daqui em diante, humanos e de outros grandes primatas. Imagine que
o termo “Lutas” será utilizado de modo genérico você vive na pré-história em um ambiente altamente
neste e nos próximos tópicos, de modo que aborde hostil, no qual sua principal preocupação envolve a
as diferentes manifestações deste fenômeno cul- sua sobrevivência e a de sua espécie. Neste ambiente
tural, social e esportivo. Mas de onde se originam primitivo, guiado principalmente pela necessidade
as Lutas? Os homens das cavernas lutavam? E de de se alimentar e se defender de outros agressores,
que modo estas práticas corporais evoluíram até o escolher não lutar parece não ser uma opção. Porém,
ponto como conhecemos hoje? Neste tópico, estu- além disso, o ato de lutar já era associado à conquis-
daremos questões sobre a origem e evolução das ta de poder, seja pela conquista de território ou para
perspectivas relacionadas às Lutas. disputas relacionadas à dominação sexual de parcei-
ros para acasalamento (PAIVA, 2015).
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EDUCAÇÃO FÍSICA
REFLITA
Mas estas lutas se limitavam a expressões irracionais Este estudo indica que há uma relação forte entre
e instintivas de sobrevivência e conquistas? Parece aspectos herdados geneticamente e os aspectos cul-
que não. Em um estudo importante, Moreno (2011) turalmente construídos ao longo da evolução da es-
busca entender o papel das lutas na sociedade primi- pécie humana. Então isso significa que o ato de lutar
tiva de Homo Sapiens que migrou da África para po- foi passado geneticamente entre gerações? Não ne-
voar a Europa e a Ásia há, aproximadamente, 80.000 cessariamente. Na verdade, indica que as constru-
anos. Por meio de análises genéticas, etnográficas e ções culturais ao longo da história apresentam uma
arqueológicas, os resultados indicam que os homi- força hereditária quase tão forte quanto os fatores
nídeos do período que prosperaram conquistando genéticos (PAIVA, 2015).
outros continentes eram agressivos, resolviam con- Porém, a partir disso, de que modo as Lutas evo-
flitos com assassinatos e praticavam rituais de lutas, luem? E qual seu papel nas sociedades que se for-
que poderiam envolver atividades simples associa- mam ao longo da história? Estas práticas de luta que
das à música e dança ou mais complexas, como trei- inicialmente estavam relacionadas especialmente ao
namentos de guerreiros para futuros conflitos entre sacrifício (oferendas aos deuses) ou ao ciclo de vida
tribos ou sacrifícios ofertados aos deuses. Por outro do guerreiro (transição para fase adulta) passam a ser
lado, as tribos que não apresentavam estes compor- praticadas em tempos de paz, como forma de prepa-
tamentos acabaram extintas. De modo adicional, te- ração física e técnica para os combates que viriam.
oriza-se que os hominídeos que povoavam a Europa Este fato, acredita-se, acaba por originar as Artes
e a Ásia neste mesmo período (Homo Neandertha- Marciais ao longo da história (POLIAKOFF, 1987).
lensis e Homo Erectus, respectivamente) acabaram Curiosamente, a prática de combates para transição
sendo substituídos por estas tribos. O status de tribo do jovem para o adulto permanece em diferentes so-
guerreira foi, portanto, relacionado à prosperidade ciedades ao longo dos séculos e, até mesmo, atual-
destes grupos de 1000 a 1500 indivíduos caçadores- mente. No Brasil, a prática é presente na cultura dos
-coletores, enquanto tribos que preferiam se deslo- povos indígenas do Alto Xingu, por meio do Huka-
car para evitar conflitos não evoluíram. -Huka (CURBY; JOMAND, 2015), que será melhor
abordado à frente, ainda nesta unidade.
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em um túmulo em Beni Hasan, datado do século senvolvimento das Artes Marciais deste ponto em
20 a.C. Até mesmo antes disso, placas encontradas diante (REID; CROUCHER, 2003). A partir deste
em escavações na Antiga Mesopotâmia (3500 a.C) momento, as Artes Marciais chinesas se dissemi-
indicavam a prática de modalidades de lutas com nam pela Ásia, chegando à Coréia e ao Japão, entre
socos (MURRAY, 2008). Neste sentido, a Índia e outros países. Novamente, é pouco provável que
o Egito antigos apresentam aprimoramento nas estes países já não tivessem suas próprias Artes
práticas corporais de combate e parece que, ainda Marciais, porém, a influência chinesa parece indu-
na antiguidade, a China passa a receber maiores zir de modo importante no avanço destas práticas.
influências das práticas do sul da Ásia enquanto De qualquer modo, ao avançar da história, esta co-
que os impérios grego e, posteriormente, o roma- nexão entre espiritualidade e prática corporal de
no acabam por ter maiores influências egípcias combate permanece.
(POLIAKOFF, 1987; REID; CROUCHER, 2003). Apesar de esta contextualização histórica se
Essas influências geram diferenças entre estas fazer necessária como base para as próximas re-
abordagens orientais (Asiática) e ocidentais (Eu- flexões, este não é o objetivo central deste tópico.
ropeia e Norte Americana) que permanecem até o Então vamos a ele. Conhecendo esta perspectiva
presente momento. de origem oriental e o desenvolvimento das Ar-
Na perspectiva oriental, um ponto marcante tes Marciais, você consegue perceber como isso
parece ter sido a chegada de um monge indiano influenciou o modo como estas práticas são en-
à China, em 520 d.C. Bodhidharma é conhecido sinadas ainda nos dias de hoje e os componentes
por alguns como padroeiro das Artes Marciais que ainda permanecem? Mesmo após a “esportivi-
orientais e seria criador do estilo de luta Shaolin e zação” que viria posteriormente, elementos essen-
do Budismo Zen. De modo resumido, as práticas ciais estão presentes no ensino de lutas orientais
corporais foram introduzidas por ele no contex- em todo mundo. Você pode constatar isso ao ana-
to do monastério com objetivo de condicionar os lisar modalidades que apresentam indumentária
monges que permaneciam por longos períodos em específica de caráter oriental, nas quais o profes-
meditação (REID; CROUCHER, 2003). Por outro sor utiliza contagem em idiomas, como coreano,
lado, existem relatos chineses anteriores (200 d.C) japonês ou chinês. Nestas práticas, o Sensei (pro-
que já indicavam a presença de exercícios de luta fessor ou mestre em Japonês) não se trata apenas
baseados em movimentos de animais, como o ti- de alguém que passa técnicas e golpes aos seus alu-
gre, o urso e o macaco e outros relatos de práticas nos, mas é aquele indivíduo que se mantem acima
de Wushu (popularmente conhecido por Kung-Fu) hierarquicamente, responsável por ensinar valo-
que datariam de 5000 anos atrás. Independente- res, como relacionamento, a fraternidade, a dis-
mente de você acreditar na lenda de Bodhidharma ciplina, o civismo e o respeito (VIRGÍLO, 2000).
ou não, é da elevada probabilidade de a China já Este modelo é baseado no Sistema Iemoto (Mestre
apresentar suas próprias práticas de lutas à época, proprietário) que é caracterizado por Franchini,
é inegável a influência do Templo Shaolin no de- Emerson e Del Vecchio (2007):
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Ao avançar da história no século 2 a.C. ocorre, em Novamente reforço que essa contextualização his-
Roma, o primeiro combate documentado entre gla- tórica é importante para que possamos entender
diadores, prática que atingiria seu auge com a inau- algumas diferenças relevantes quanto à evolução
guração do Coliseu em meados de 72 d.C. e per- das Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esporti-
maneceria em alta por mais 300 anos. As técnicas vas de Combate. No entanto, conforme falamos no
e armas de combate seguem a evoluir e as práticas tópico anterior, a sua dúvida, neste ponto, prova-
europeias de lutas ganham um caráter ainda mais velmente tem algo a ver com: mas de que modo
esportivo, inicialmente com os cavaleiros durante a estas práticas ocidentais se diferenciam das orien-
era medieval e depois com o pugilismo na Inglaterra tais? De que modo o modelo de ensino se apresen-
(entre 1000 e 1800 d.C.). Em 1896, ocorre a primeira ta neste contexto?
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REFLITA
Bom, enquanto no modelo Oriental o Sistema
predominante era o Iemoto, no qual o professor
(Sensei) era detentor do conhecimento que ia além Independentemente da sociedade, geografia
ou data, os seres humanos lutam desde sua
da prática corporal e avançava para fatores filosó-
origem, seja por fins bélicos, status social,
ficos; no modelo Ocidental, as características são poder, estética, aptidão física, religião ou por
diferentes. O professor não precisava (e ainda não fins espirituais.
precisa) ser, necessariamente, alguém que passou
por um processo de graduação e atravessou um
mar de hierarquias e graduações. Também não Nestes dois últimos tópicos, vimos que, apesar das
precisava dominar a arte da meditação e este não diferentes perspectivas de evolução das Lutas, Ar-
tem, necessariamente, poder sobre o aluno sub- tes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate,
misso. O “Professor” das modalidades da Grécia seja no ocidente ou no oriente, os modelos de ensi-
Antiga, por exemplo, era chamado do “Paidotri- no parecem não atender às demandas pedagógicas
bo” e normalmente era um ex-campeão que pas- atualmente sugeridas. Na próxima unidade, discu-
sava adiante seus conhecimentos sobre as técnicas tiremos, de modo mais aprofundado, as consequ-
das modalidades, somado a algumas noções de ências disso e as alternativas para o ensino das lutas
terapias e medicina (DEL VECCHIO; FRANCHI- em diferentes contextos.
NI, 2006; POLIAKOFF, 1987). Mais uma vez, a
participação do aluno é nada reflexiva, é coadju-
vante e se limita à imitação dos gestos executados
pelo indivíduo mais experiente (DEL VECCHIO;
FRANCHINI, 2006).
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As Lutas no Brasil
Agora que você já teve um panorama internacional mente, por ter acompanhado os tópicos anterio-
da origem e da evolução das Lutas, Artes Marciais res, você sabe que, de algum modo, as Lutas que
e Esportes de Combate, faz-se necessário conhecer se originaram no Brasil apresentam influências de
algumas características destas práticas corporais as- civilizações anteriores, já que a prática de combates
sociadas à cultura brasileira. corporais é constante em toda história da humani-
Você já se perguntou se existem Lutas original- dade. Mas existem práticas que sofreram influência
mente brasileiras? Se sim, é possível que a Capo- local a ponto de terem sido “naturalizadas” brasi-
eira tenha vindo à sua mente. Mas você sabia que leiras? A resposta é sim. E o objetivo deste tópico
existem outras modalidades que podem ser consi- será abordar estas modalidades e sua relação com
deradas como tendo sua origem por aqui? Obvia- a nossa cultura.
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HUKA-HUKA
A luta Huka-Huka é de origem indígena, de modo tornar líderes ou grandes campeões passam por uma
mais específico, é praticada pelos índios do Alto preparação específica que envolve alimentação espe-
Xingu, localizado no estado do Mato Grosso. A cial, ensinamentos dos mais velhos, treinamentos in-
modalidade de agarre tem por objetivo projetar o tensos e diários, além de longos períodos de reclusão
oponente ao solo, sendo vencedor, ainda, o lutador (chegando a 6 anos) e o adiamento do início da vida se-
que agarrar a região posterior da coxa do adversário, xual até que este se torne um grande lutador (MADEI-
levantá-lo do solo ou ficar sobre suas costas. Além RA, 2006; PAIVA, 2015). A relação destas práticas com
das competições, o Huka-Huka faz parte do Quarup o passado da tribo e com a espiritualidade associada
(ritual de homenagens a mortos ilustres), encerran- aos seus deuses parece remeter ao que foi visto junto
do o ritual (GUERREIRO, 2015). aos primórdios do início das práticas de luta, apesar de
Infelizmente, as informações científicas sobre a que, atualmente, a modalidade ganha características
modalidade são escassas, mesmo assim gostaria de esportivas, mas tem por objetivo manter viva a memó-
propor uma reflexão sobre o significado da prática do ria dos ancestrais e dos tempos de guerra, mantendo,
Huka-Huka para estas tribos. Jovens que objetivam se ainda, os indivíduos em constante preparação.
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AGARRADA MARAJOARA
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considerações finais
N
esta unidade, foi possível estudar o modo como surgem e evoluem
as lutas de modo associado à evolução humana, não só biológica,
mas, principalmente, como seres sociais. Além disso, você deve ser
capaz de entender a terminologia debatida e identificar as diferentes
expressões destas práticas de combate. Por outro lado, não existe necessidade real
de classificar uma prática específica como Luta, Arte Marcial ou Modalidade de
Combate, o que existe é a necessidade de contextualizar o que será abordado de
acordo com uma destas perspectivas.
É importante que você identifique, nos tópicos abordados, que as práticas
corporais de combate sempre estiveram presentes, desde a sociedade mais pri-
mitiva até a mais evoluída. Negar a relação da luta com nossa história parece
ser semelhante a reprimir instintos que são naturalmente humanos, o que, teo-
ricamente, poderia desencadear situações extremas que geram conflitos e brigas.
Ao contrário, vivenciar e conhecer o dano que pode ser causado e recebido em
embates corporais pode aumentar a capacidade do indivíduo de avaliar quando
entrar ou não em confronto.
Atualmente, as práticas de combate receberam uma conotação “esportivi-
zada”, mas você, sendo professor/profissional de Educação Física, não deve se
limitar aos Esportes de luta. Nesta unidade, você pôde perceber que Lutar apre-
senta relação com significados filosóficos, sociais e culturais que não devem ser
esquecidos. Evitar práticas pouco reflexivas e contextualizá-las pode aumentar o
interesse e o fascínio dos alunos. As estratégias para fazer isso serão apresentadas
ao longo da próxima unidade, mas já adianto que tematizar as aulas de lutas pode
ser uma escolha inteligente para estimular o componente lúdico e a fuga da rea-
lidade. Por fim, são apresentados elementos que permitem que você associe estes
conteúdos a outras disciplinas em uma abordagem interdisciplinar.
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atividades de estudo
1. Os termos nominais para lutas são fundamentais b) Hierarquia inexistente, que permite que o
para aumento da visibilidade dos artigos científi- aluno permaneça tempo suficiente, progri-
cos relacionados à temática, sugerindo que estes da de graduações e tenha seus próprios
(e outros) podem ser utilizados sem discrimina- alunos, mas sem necessidade de tutela de
ção, como potencial especificação destas modali- seu “mestre”.
dades esportivas. Sobre terminologia aplicada às c) Autoridade do Iemoto, que indica que o
Lutas, assinale a alternativa correta. mestre mais graduado é responsável por
a) Estes termos são sinônimos. toda a organização e do licenciamento dos
futuros mestres, gerindo as graduações
b) Lutas não têm relação com fatores culturais. superiores.
c) Artes Marciais e guerras são sinônimos. d) Relação pseudoconexão, que se refere
d) Modalidades esportivas de combate e jogos ao fato de se procurar manter a relação
de oposição são sinônimos. dos dirigentes das associações sob tute-
la de descendentes identificáveis do cria-
e) Nenhuma das anteriores.
dor original.
2. A presença de rituais de luta podem ter diferencia-
4. As Lutas que se originaram no Brasil apresentam
do os primeiros Homo Sapiens de outros huma-
influências de civilizações anteriores, já que a práti-
nos primitivos e contribuído para que estes pros-
ca de combates corporais é constante em toda his-
perassem. Os primeiros relatos de expressões
tória da humanidade. No Brasil, três modalidades
corporais relacionadas às lutas remetem a:
recebem destaque, o Huka-Huka, a agarrada Mara-
a) Índia. joara e a Capoeira. Das modalidades citadas a se-
b) Grécia. guir, indique qual recebeu grande contribuição
a ponto de ser internacionalmente conhecida
c) África antiga.
brasileira.
d) China antiga.
a) Judô.
e) Egito antigo.
b) Boxe.
3. A histórica das lutas é muito importante para que c) Muay-Thai.
possamos entender algumas diferenças relevan-
d) Jiu-Jitsu.
tes quanto à evolução das diferentes modalida-
des que as envolve. Principalmente, os modelos e) Karatê.
metodológicos empregados. Assinale a alternativa
5. Nos dias atuais, as práticas de combate rece-
que não corresponde à característica do sistema
beram uma conotação “esportivizada”, o que
Iemoto:
não deve se limitar aos Esportes de luta e suas
a) Relação professor-aluno de pura submis- origens históricas. Indique as principais diferen-
são, na qual o professor é detentor de
ças que podem ser percebidas ainda hoje nas
todo conhecimento e não deve ser ques-
modalidades de combate, de acordo com sua
tionado. Ao aluno também não é permitido
origem oriental ou ocidental.
trocar de professor/equipe.
35
LEITURA
COMPLEMENTAR
Leia este trecho do artigo “Conceito dos tipos de lutas a partir de uma visão de cultura cor-
poral”, que reforça os conceitos abordados nesta unidade e apresenta as lutas folclóricas.
36
LEITURA
COMPLEMENTAR
As lutas folclóricas e/ou culturais são aqui conceituadas por aqueles folguedos feitos por
uma cultura ou país com características de confronto, pertencente à tradição de deter-
minado país. Assim, poderíamos dizer que existe, para cada país, uma formas de luta
típica. Por exemplo: Damnyè ou Ladja da Martinica, no Caribe. O Many de Cuba. Cheibi
gad ga de Manipur na Índia, Chausson ou Savate francês, Escrima ou Arnis das Filipinas,
Krabi-krabong e Muay thai da Tailândia, Guresh da Turquia, Glima da Islândia, Pentjak silat
da Indonésia, Gouren Bretão e o Uka uka de índios no alto Xingu, entre outros.
Também podemos enquadrar como lutas folclóricas e culturais as brincadeiras infantis,
realizadas em forma de confronto. Enquadram-se, aqui, os desafios de cabo de guerra,
desafios de desequilíbrio, as brigas de galo, e outros, típicos dos conteúdos das aulas
de Educação Física infantil.
Algumas modalidades de lutas foram tão difundidas que acabaram se esportivizando.
Sendo assim, por esporte de combate entendemos as Artes Marciais que se tornaram
competitivas, tais como o Judô e o Taekwondô. Para se tornarem modalidades espor-
tivas, foi necessário minimizar de alguma maneira sua forma de execução tradicional,
criando-se regras para as competições.
Também podemos entender por esporte de combate as lutas historicamente feitas nos
Jogos Olímpicos, tais como boxe, luta olímpica e greco-romana. Estas últimas derivadas
do antigo Pankracio grego, luta realizada nos Jogos Olímpicos da antiguidade.
Ainda como esporte de combate entendemos como as lutas criadas para competição.
Exemplos são o Full Contact e o Kick boxing. O primeiro criado na década de 70 quando
caratecas americanos criaram regras específicas para competições desta modalidade.
Já o Kickboxing é uma junção de técnicas de chutes ao boxe tradicional.”
37
material complementar
Terra de luta
Ano: 2017
Sinopse: o documentário faz uma viagem pelas origens da luta no Brasil, partin-
do dos primeiros registros arqueológicos pré-históricos encontrados no Brasil,
na Serra da Capivara (PI); passando pela Huka-Huka dos índios do Xingu, no
Mato Grosso; pela Luta Marajoara, da Ilha de Marajó (PA), até a Capoeira em
Salvador (BA).
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referências
39
referências
40
gabarito
1. E.
2. C.
3. B.
4. D.
5. Vestimentas, reverências, sistema Iemoto, filosofia e formação dos professores.
41
ENSINO DE LUTAS
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• O ensino das lutas e a educação física
• Categorizações, regras de ação e jogos de oposição
• Modelo de ensino tradicional e predominante
• Modelos de ensino das lutas por meio da tática
• Organização e trato pedagógico das lutas
Objetivos de Aprendizagem
• Contextualizar o ensino das lutas na escola e nas
academias de luta.
• Categorizar pedagogicamente as lutas, os jogos de
oposição e as brincadeiras de lutas.
• Apresentar os problemas dos modelos vigentes.
• Apresentar modelos de ensino por meio da tática como
alternativa aos modelos tecnicistas.
• Sugerir progressão de conteúdo das lutas de acordo com
faixas etárias.
unidade
II
INTRODUÇÃO
A
pesar de ser altamente indicado por diferentes diretrizes de en-
sino da Educação Física, sabe-se que o ensino das lutas neste
contexto é extremamente raro. Infelizmente, outros conteúdos
são “preferidos” e, normalmente, envolvem modalidades es-
portivas coletivas, como futebol, futsal, handebol, basquetebol e voleibol.
Nos piores cenários, as modalidades coletivas dominam a totalidade das
aulas de Educação Física, ainda em uma perspectiva na qual a Educação
Física se confunde com o ensino de esportes.
Além disso, esporte é apenas uma das dimensões da cultura do mo-
vimento humano, ao lado dos jogos, ginástica, dança e as lutas. Por
isso, não são apenas as lutas que acabam por receber menor atenção do
que o ideal. É possível perceber essa disparidade, inclusive, em progra-
mas governamentais, como o Segundo Tempo, ou ainda, em diretrizes
com a Base Comum Curricular. Para ter como exemplo, no primeiro,
existem sugestões sobre modalidades “para aprender” e modalidades
“para conhecer”. Não surpreende que aquelas que estão na primeira
categoria são usualmente coletivas, enquanto as lutas se apresentam
(quando muito) na segunda.
Mas você provavelmente já conhece essa realidade. Se pergunte quan-
tas aulas de lutas você teve no ensino fundamental e médio. Agora faça
este mesmo exercício com a turma. Caso vocês estejam na média do que
se conhece do ensino no Brasil, poucos indicarão contato com as lutas e,
destes, serão relatos sobre atividades isoladas.
Nesta unidade, vamos problematizar estes aspectos e o modelo vi-
gente de ensino de luta. Além disso, é objetivo dar condições teóricas e
indicações diretas sobre como modificar essa realidade!
Vamos lá!
LUTAS
46
EDUCAÇÃO FÍSICA
você me permite, ainda vou além. Busque na me- tre as práticas ofertadas nas disciplinas de educação
mória seu histórico com Lutas e Educação Física física, 93% envolve Futebol/Futsal, 90% jogos, 75%
Escolar, compartilhe essas memórias com seus Handebol, 70% Voleibol, 60% Dança, Ginástica e
colegas, amigos e familiares. Possivelmente pou- Atletismo, 40% Basquetebol, enquanto Lutas apa-
cas pessoas participaram de atividades de lutas na rece com 14%, atrás, até mesmo, da opção “outros”,
escola (lembre-se que luta é diferente de briga) e, que fica com 30% (VIEIRA; SOUZA, 2007). E como
quando houve, provavelmente foi por meio de al- isso se justifica? Os argumentos são diversos, mas
guma atividade com professores de modalidades acabam envolvendo, de modo geral, a falta de estru-
esportivas de combate convidados. Isso nos leva a tura, a falta de preparação específica do professor,
outra questão: para dar aula de lutas, na escola, o resistência dos pais e o risco de promover situa-
professor precisa ter experiência com Modalidades ções violentas, além, é claro, daqueles que indicam
Esportivas de Combate? No decorrer desta aula que o conteúdo Lutas é inapropriado para escolas
vou tentar ajudar você a encontrar argumentos que (FONSECA; FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2013;
lhe permitam responder a todas essas questões. REGO; FREITAS; MAIA, 2011; VIEIRA; SOUZA,
2007). A partir de agora, convido você a aprofundar
REFLITA cada um desses argumentos.
(Jean-Claude Olivier)
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LUTAS
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Como vimos, apesar de não ser o pensamento da a realidade? Alguns desses indivíduos indicam que
maioria dos docentes, a prática de Lutas para crian- depende da abordagem do professor. Pois bem, ini-
ças ainda é vista como possível catalisadora de cialmente vamos diferenciar uma briga de uma brin-
ações violentas (FONSECA; FRANCHINI; DEL cadeira de luta? De acordo com Marques (2010), as
VECCHIO, 2013; REGO; FREITAS; MAIA, 2011; características de cada uma destas situações se mos-
VIEIRA; SOUZA, 2007). Mas será que isso reflete tram de acordo com o quadro a seguir:
Percebe-se, portanto, que as situações são ampla- de conflitos sociais, vide novelas, filmes, telejornais
mente diferentes e a distinção entre elas não é di- e a própria convivência em comunidade. Por outro
fícil, facilitando, assim, o julgamento de quando lado, torna-se papel do professor de Educação Físi-
intervir ou não. ca e da escola desmistificar esta ideia e transformar
E o jogo de luta pode levar à briga? Segundo Oli- as brigas em jogos de luta que sejam regrados, rela-
vier (2000), a proposta é justamente o inverso. Em cionados aos valores inerentes às práticas corporais
um mundo informatizado, é perceptível que a prá- e reflexivo, no sentido controle da agressividade e o
tica de lutas é frequentemente associada à resolução conhecimento desta ação oposta do outro.
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LUTAS
De modo adicional, a ciência têm confirmado outra pesquisa investigou o efeito da prática de
a hipótese de que a prática de Lutas parece redu- Artes Marciais em relação à práticas de bullying.
zir e não aumentar a violência. Uma meta-análise Os achados indicam que aqueles alunos que mais
recente, realizada a partir de 9 estudos que reu- frequentaram as atividades de luta apresentaram
niram 507 crianças de 6 a 18 anos, mostrou que a menor frequência de agressões e a maior fre-
a prática de Artes Marciais reduziu o comporta- quência de comportamento de suporte (ajuda a
mento antissocial e de externalização e promoveu quem é vítima de bullying). Os autores relacio-
maior autocontrole, autoconfiança, autoestima naram os resultados à melhoria de empatia e ao
e estabilidade emocional (HARWOOD; LAVI- autocontrole, além de estratégias pacificadoras
DOR; RASSOVSKY, 2017). No mesmo sentido, (TWEMLOW et al., 2008).
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EDUCAÇÃO FÍSICA
SAIBA MAIS
Fonte: o autor.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Ilynx: remete-se à busca da vertigem, a exemplo de Mimicry: remete-se à fuga da realidade, frequente-
práticas em que crianças giram até sentirem tontu- mente associada a imitações, ou aceitação da exis-
ra. Não será difícil para você lembrar de atividades tência de um ambiente paralelo, irreal e temporário.
de luta, em especial relacionadas ao modelo orien- Criam-se personagens e requer imaginação e criati-
tal, nas quais o praticante se coloca em situações de vidade. Apesar de não ser a melhor dimensão para
desequilíbrio extremo. Apesar desse exemplo, fica associar às lutas, tenho certeza que você já presen-
evidente que esta não é a melhor dimensão para se ciou (ou você mesmo) uma criança que se intitula
classificar os jogos de combate. um determinado herói e luta com espadas (jornais
enrolados) contra seu perigoso (e imaginário) opo-
nente. Além disso, expressões atuais como a luta livre
(WWE), muito popular no México e nos EUA, asso-
ciam a fantasia e o ambiente fictício a golpes de luta.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
A partir deste momento, peço que revise a classifica- 4. Jogos para desequilibrar: em uma perna só.
ção por regras de ação. É a partir desta que surgirão Em duplas, os indivíduos ficam de frente, dão
algumas das sugestões de práticas a serem inseridas as mãos e retiram um pé do solo. O objetivo
nas aulas de educação física e na iniciação às lutas. é desequilibrar o colega, o que é verificado
quando este coloca o pé no solo novamente.
Mas além destas, vamos estudar mais um modelo de
classificação, agora de modo específico aos jogos de 5. Jogos para reter, imobilizar e se livrar: a
oposição e as brincadeira de lutas. imobilização.
Para Olivier (2000), os jogos podem ser classifi- Em duplas, um dos jogadores se deita ao solo
cados em seis categorias que irão envolver aspectos com a barriga para cima. O outro se coloca
que os tornam mais ou menos complexos de acordo acima com o objetivo de imobilizar o opo-
nente. Ao sinal, o jogador de baixo tenta se
com o número de situações a qual a criança é expos-
livrar enquanto o atacante tenta imobilizá-lo.
ta, exigido o aumento ou redução do contato físico
e quanto a presença ou ausência de componentes 6. Jogos para combater: Huka-Huka adaptado.
específicos, como quedas e projeções, por exem- De modo semelhante à luta indígena brasilei-
plo. Assim, veja como os jogos são categorizados e ra, os participantes começam ajoelhados de
exemplos diretos para cada categoria: frente um para o outro. Ao sinal, sem bruta-
lidades, tentam colocar o colega de costas ao
1. Jogos de rapidez e atenção: balões estourados. solo ou imobilizá-lo por 3 segundos.
Em duplas, amarra-se um balão cheio ao tor-
nozelo de um dos indivíduos. Ao outro cabe
REFLITA
a tarefa de estourá-lo sem o auxílio das mãos.
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REFLITA
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nejamento das decisões, a execução deste plano e MORENO, 2017; KOZUB, F.; KOZUB, M., 2004;
o feedback quanto ao desempenho na atividade. LAGE; RAMOS, SOUTO NUNES; NAGAMINE,
Neste sentido, os Estilos são distribuídos de acordo 2004; NA; NURSING; SOURCE, 2009).
com quem é responsável pelas tomadas de decisão Sobre o Ensino do Taekwondo, é sugerido que
em cada estágio, ou seja, no estilo “A”, os três está- as práticas específicas sejam separadas de acordo
gios são determinados pelo professor e, à medida com o objetivo de aprendizagem e relacionam cada
que avançamos em direção ao “K”, a tomada de de- particularidade a uma sugestão de estilo de ensino
cisão por parte do aluno aumenta (LAGE; RAMOS, (NA; NURSING; SOURCE, 2009). Neste sentido,
SOUTO NUNES; NAGAMINE, 2004; MOSSTON; os autores indicam que o aprendizado de técnicas
ASHWORTH, 2008; NA; NURSING; SOURCE, consideradas fundamentos podem ser trabalhadas
2009). Desse modo, estilos de ensino entre “A” por meio do comando (A) ou do estilo recíproco
e “E” colocam o aluno na posição de reprodutor (C); o aprendizado do Poomsae (prática solo sem
e memorizador do conhecido, enquanto de “F” a oponente real) poderia ser otimizado por meio do
“K”, o aluno passa a ser produtor e descobridor do estilo de autocontrole (D); enquanto a prática de
desconhecido (LAGE; RAMOS, SOUTO NUNES; defesa pessoal ou a luta em si teriam maior benefí-
NAGAMINE, 2004). cio por meio dos modelos de descoberta guiada (F
ao H). Em um sentido mais amplo, quanto ao Ka-
a. COMANDO
ratê, é sugerido que cada um dos Estilos do Espec-
b. PRÁTICO
tro tenha sua aplicabilidade de acordo com o ob-
c. RECÍPROCO
jetivo específico e com período (LAGE; RAMOS,
d. AUTOCONTROLE
SOUTO NUNES; NAGAMINE, 2004).
e. INCLUSÃO
Quanto ao Judô, especificamente sobre uma
f. DESCOBERTA GUIADA
técnica de imobilização (Hon Kesa Gatame), su-
g. DESCOBERTA DIVERGENTE
gere-se a aplicação de modelos de descobrimento
h. DESCOBERTA CONVERGENTE
guiado e de resolução de problemas, nos quais o
i. INDIVIDUAL
professor indica a tarefa (imobilizar ou se livrar)
j. INICIADO PELO ALUNO
e não provê respostas, mas indica elementos que
k. AUTOENSINO
possibilitem aos alunos resolver o problema (DO-
Apesar desta riqueza de possibilidades, vimos, no MÍNGUEZ; MORENO, 2017).
tópico anterior, que o modelo atual de Ensino, in- Adicionalmente, apresenta-se a abordagem
felizmente, é baseado praticamente de modo ex- do Teaching Games for Understanding (Ensino de
clusivo no estilo de comando, no qual o professor Jogos por meio da Compreensão), na qual existe
toma todas as decisões a serem memorizadas e repe- uma inversão da lógica usual de progressão que
tidas pelos alunos (DEL VECCHIO; FRANCHINI, parte do aprendizado da técnica e avança para o
2006). Neste sentido, estudos têm investigado sobre entendimento tático. Entendendo que tática, nes-
as possibilidades alternativas de aplicação de dife- te contexto, significa a capacidade do indivíduo
rentes estilos no ensino de Lutas (DOMÍNGUEZ; de compreender o jogo, o aluno deveria ser apre-
61
LUTAS
sentado às situações de jogo para, posteriormente, quando você derruba o oponente, e que o foco de
aprimorar o desempenho técnico, ou seja, o apren- aprendizagem nesta aula envolve a mudança de di-
de-se a jogar, jogando. Este modelo é baseado na reção na qual o movimento será executado. Nes-
premissa de que é pouco eficiente aprender técni- te ponto, o objetivo será escolher corretamente a
cas que estão desconectadas do jogo. direção para a qual irá tentar projetar os colegas.
Para ilustrar, vamos pensar no aprendizado A atividade então se desenvolve iniciando com o
de um chute no Futsal: para treinar a precisão do executante de costas para os demais, enquanto es-
chute, usualmente é utilizado um modelo de Co- tes indicam ao professor se farão resistência para
mando no qual o aluno executa incontáveis repeti- frente ou para trás. Na sequência, eles se colocam
ções de modo isolado do contexto do jogo, ou seja, em linha e o executante procura projetá-los na di-
elementos importantes como a imprevisibilidade reção correta. Um ponto importante é que, neste
da marcação, dos colegas de equipe e do tempo de momento, o executante não sabe a resposta correta
bola (entre outras). Porém, quando a solicitação e este problema será resolvido através da prática,
para esta tarefa ocorre em ambiente real (durante ou seja, apenas ao final da atividade executada por
o jogo), todos esses elementos estarão presentes e todos será pedido aos executantes para relatar as
podem ser “estranhos” ao aluno, prejudicando sua conclusões/descobertas que acabaram de ser feitas.
precisão por uma limitada visão do jogo completo. Espera-se que os alunos descubram que quando há
Este mesmo conceito se aplica para as modalida- resistência para trás eles devem tentar projetá-los
des de combate. para frente, sendo o contrário verdadeiro (KOZUB,
Imagina que em uma modalidade de impacto, F; KOZUB, M., 2004).
o fato de conectar um golpe no oponente depende Um ponto deve ser destacado no exemplo ante-
não apenas da execução técnica do gesto motor, mas rior. Se você percebeu, a atividade sugerida, apesar
de visualizar a oportunidade de ataque, durante uma de voltada para o aprendizado da tática, exige um
abertura na defesa do oponente, enquanto defende- grau mínimo de técnica, ou seja, para projetar os co-
-se de um possível contra-ataque ou de um ataque lega para frente ou para trás, o aluno precisa conhe-
mútuo. Neste contexto, o Teaching Games for Unders- cer pelo menos uma técnica para cada direção. Isso
tanding tem sido sugerido como estratégia para que mostra como essas propostas não negam o aprendi-
o aluno compreenda o jogo de combate e, à medida zado da técnica, apenas buscam melhorar a propor-
que este jogo se torna mais complexo, o aprendizado ção do que é feito em situação de Jogo/Luta e o que
da técnica é inserido de acordo com sua exigência é feito de modo estático, repetitivo e cíclico. Outros
(DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006; KOZUB, F.; exemplos que não exigem a condição técnica, e que
KOZUB, M., 2004). podem encorajar professores sem experiência prévia
Mas como seria uma atividade com estas carac- e com pouco conhecimento sobre técnicas específi-
terísticas? Imagine que seu problema tático a ser cas de modalidades esportivas de combate, já foram
resolvido é marcar pontos no Judô, o que é feito mencionados anteriormente, no segundo tópico.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
63
LUTAS
Organização e
Trato Pedagógico das Lutas
Caro(a) aluno(a), para chegar a este tópico, você delos de ensino vigentes, seus problemas e sugestões
foi convidado a conhecer diferentes manifestações de estratégias para modificar esta realidade a partir
das Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas da inserção de modelos mais reflexivos presentes
de Combate e, a este ponto, já estudou sobre a im- no Espectro de Mosston. Pois bem, mas ainda resta
portância da introdução deste conteúdo no âmbito uma visão geral sobre como este conteúdo se orga-
escolar e não escolar. Além disso, estudamos que niza e se distribui durante um bimestre, semestre ou
estas práticas podem ser classificadas de diferentes ao longo dos anos de prática. Neste tópico, meu ob-
modos e que uma delas inclui os jogos de oposição. jetivo é apresentar algumas possibilidades de como
Por fim, você foi convidado a refletir sobre os mo- estruturar o conteúdo conforme planejado.
64
EDUCAÇÃO FÍSICA
Uma proposta relativamente consolidada quan- Muito bem, agora você já consegue estruturar algo
to à organização dos conteúdos ao longo do tempo semelhante com Lutas? Sugiro que, neste ponto,
deriva do conhecimento de fatores invariantes de você pare a leitura e tente antes de seguir em frente.
uma determinada prática corporal. Primeiramente, Quais seriam as invariantes das Lutas que cha-
tomemos como exemplo as modalidades coletivas. maremos de princípios operacionais? Se você lem-
De acordo com Daólio (2002), estrutura-se o Mode- brar do modo como definimos o termo Luta na
lo Pendular para o ensino de modalidades esportivas Unidade I, você tem a resposta. De modo geral,
coletivas, o qual parte de uma progressão do ensino as invariantes envolvem ter por alvo o próprio ad-
a partir de componentes invariantes da prática até versário, ser praticados por duas ou mais pessoas e
atingir fatores com maior variação. Nesta proposta, apresentar ataque e defesa simultâneos (DEL VEC-
as invariantes nestas modalidades, que ficam na base CHIO; FRANCHINI, 2006). Muito bem, seguindo
fixa do pêndulo, seriam uma bola, um espaço de jogo, o modelo pendular, avançaríamos para as regras de
parceiros com os quais se joga, adversários, um alvo ação. Este tema foi abordado de modo mais recen-
a atacar e regras específicas. Enquanto na outra ex- te, para ser mais preciso, no segundo tópico desta
tremidade do pêndulo, aquela que varia mais, estão unidade, e você foi apresentado aos conceitos de
os gestos técnicos específicos, como o passe, o chute, toque e agarre diretos e indiretos. Por fim, a pro-
o arremesso, o drible, o cabeceio e assim por diante. gressão avança para os gestos técnicos específicos
Entre as extremidades apresentadas, localizam-se as que derivam de Modalidades Esportivas de Com-
regras de ação que, nas modalidade coletivas, envol- bate, como Judô, Jiu-Jitsu, Capoeira, Taekwondo,
veriam ações, como criar linhas de passe, posiciona- Boxe e tantas outras.
mento individual em espaços para recepção da bola, Vamos avançar em cada um dos momentos pe-
desmarcação, entre outras. Neste sentido, o autor dagógicos em separado, utilizando exemplos de ati-
sugere que o processo de ensino-aprendizagem siga vidades. Ressalto que são sugestões genéricas e di-
esta progressão pendular: princípios operacionais, visões etárias arbitrárias, feitas para fins didáticos,
regras de ação e gestos técnicos específicos. ficando a critério do professor ajustar a aplicação de
acordo com cada realidade.
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LUTAS
66
EDUCAÇÃO FÍSICA
Em suma, as regras de ação podem originar ati- quais os alunos apresentam forte ligação, como fil-
vidades simples e complexas, mas apresentam forte mes, jogos e desenhos animados (GONÇALVES,
relação com os conteúdos a serem trabalhados de 2010). Outra possibilidade envolve o “Jogo possível”,
modo subsequente. no qual regras, espaço e objetivos são moldados para
tornar a prática facilitada ao nível do aluno e fazen-
Gestos técnicos específicos (A partir de 12 anos) do com que o aluno vivencie plenamente o jogo, já
Talvez aqui seja o ponto de maior surpresa para que muitas vezes o “jogo completo” ou o “jogo real”
você! Sim, os gestos específicos de modalidades es- é complexo demais para determinadas fases da ini-
portivas (aqui não apenas as de combate) deveriam ciação (CAVAZANI et al., 2016).
ser aprimorados, junto aos demais conceitos espe- Por fim, chegamos ao fim da mais uma unidade
cíficos (iniciação à preparação física, regras, entre e, neste ponto, você deve estar familiarizado com os
outros), apenas a partir da transição da terceira conceitos de pedagogia do esporte aplicada às lu-
infância para a adolescência (DAÓLIO, 2002; DEL tas, artes marciais e esportes de combate e com esta
VECCHIO; FRANCHINI, 2006). Obviamente que instrumentação deve ser capaz de elaborar aulas e
estes conceitos podem aparecer antes, mas em uma avaliar criticamente os modelos vigentes aos quais
proporção muito reduzida, normalmente utilizando invariavelmente você irá presenciar.
para contextualizar a prática. Por exemplo, você fará
uma atividade de toque direto e utiliza exemplos do
boxe amador para ilustrar a relação entre a atividade
e o objetivo final. Para professores que não se sen-
tem aptos a inserir socos, chutes, projeções e imo-
bilizações específicas de modalidades de combate,
existem algumas opções que podem ser interessan-
tes, como a utilização de vídeos, solicitar trabalhos
de casa sobre as modalidades a serem apresentados
em sala, convidar professores especialistas, visitar
locais de treinamento, entre outras.
Seguindo esta sugestão de modelo pendular é
possível perceber que esta estrutura também aten-
de a outros modelos, como o da iniciação esporti-
va universal (GRECO, 2012). Devemos considerar,
ainda, algumas estratégias que se refletem em pos-
sibilidades a serem agregadas à estrutura do modelo
pendular. Uma delas é a tematização das Lutas que
pode aproveitar muitas relações midiáticas, com as
67
considerações finais
68
atividades de estudo
1. A ritualização ou tematização das Lutas pode sig- 3. A organização dos conteúdos ao longo do tempo
nificar “brincar de fazer como se fosse”, sem vio- deriva do conhecimento de fatores invariantes
lência, já que esta não faz parte do jogo e fazê-lo de uma determinada prática corporal. Explique
seria acabar com a brincadeira. Por que ensinar brevemente o que entende por modelo pendular
lutas na Educação Física escolar? Assinale a al- de progressão no ensino de lutas.
ternativa que melhor responde a esta per-
4. As lutas, artes marciais e modalidades esportivas
gunta.
de combate fazem parte de uma gama cultural
a) Envolve modalidades esportivas de com- que é maior do que o ambiente de educação e
bate de elevada relevância no ambiente escolar. Explique o espectro de Mosston e dê um
esportivo internacional e contemporâneo
exemplo de atividade para cada extremidade do
e, deste modo, se relaciona com o conte-
modelo.
údo de Esporte.
5. Uma visão ampla dos estilos de Mosston e a apli-
b) Envolve fatores sócio-histórico-culturais
inerentes a todas as sociedades ao longo cação de modelos baseados no Teaching Games
da história e, portanto, trata-se por si só for Understanding podem contribuir. Das classi-
de um conteúdo da cultura do movimento ficações dos Jogos Oposição e brincadeiras de
humano. luta, elabore uma atividade de reter, imobili-
zar e se livrar.
c) Envolve conceitos que se associam forte-
mente ao conteúdo de Jogos, em especial
os de oposição, que é também conteúdo
base da cultura do movimento humano.
d) Nenhuma das anteriores.
e) As alternativas a, b e c estão corretas.
69
LEITURA
COMPLEMENTAR
Leia este trecho do artigo “Jogo de luta ou luta a sério?” que apresenta uma síntese
sobre a importância de reconhecer jogos de luta de brigas.
“Podemos afirmar que existem formas de identificar jogo de luta e luta a sério no mo-
mento em que os incidentes acontecem, tendo em conta que algumas características
são observáveis e distinguíveis. Verificamos que, nos jogos de luta, as crianças se agar-
raram mutuamente, puxaram-se para o solo usando todo o seu corpo e eliminaram
as distâncias entre si, sem medo de caírem ou de ficarem debaixo do outro, enquan-
to nas lutas a sério as crianças evitaram se aproximar demasiado do outro, evitaram
agarrar-se e ir para o chão. Aparentemente, nas lutas a sério as crianças assumem que
existem riscos e procuram evitá-los mantendo as distâncias e posturas equilibradas,
e não arriscam cair e ficar presas debaixo dos outros, o que poderia provocar lesões.
Reconhecendo as diferenças, torna-se mais fácil a educadores, professores e outros
adultos decidir com maior certeza e segurança se determinado incidente é um jogo
que se pode deixar continuar, ou se, por outro lado, se trata de uma luta a sério que
implica a sua intervenção no sentido de pará-la e evitar que as crianças se magoem.
Este estudo não nos permite afirmar que são apenas estas as categorias a observar
para identificar e distinguir jogo de luta de luta a sério. Provavelmente, o estudo deveria
ser replicado com amostras maiores e/ou em diferentes níveis de escolaridade, parti-
cularmente os níveis pré-escolar e 2.º ciclo, de modo a percebermos se as categorias
identificadas ajudam a tomar decisões noutros níveis etários.”
70
material complementar
71
referências
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72
referências
73
gabarito
1. E.
2. E.
3. Modelo no qual o início do processo é marcado por poucas variações (prin-
cípios operacionais), seguido de uma variação intermediária (Regras de ação)
e, ao avançar, aumenta as possibilidades de variações (Gestos de modalida-
des específicas).
4. Trata-se de uma distribuição dos modelos de ensino de acordo com a inde-
pendência dos alunos. Na extremidade de menor ação dos discentes está o
modelo de comando. Exemplo: Ensino de formas por imitação. Já na extre-
midade oposta, estão os modelos de maior protagonismo discente. Exem-
plo: Descobrimento Guiado.
5. Qualquer atividade que apresente tentativa de manutenção ou fuga de uma
determinada posição que está sendo mantida por meio do agarre.
74
UNIDADE
III
PLANEJAMENTO DE AULAS DE LUTAS
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Do ensino fundamental ao ensino médio
• Ensino de lutas no ambiente não escolar
• Abordagem de temas transversais por meio do ensino de
lutas
• Montando a aula
• Festivais e competições
Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar modelos de distribuição de conteúdos
relacionados às lutas em longo prazo.
• Descrever aulas em ambientes não escolares.
• Propor estratégias para contemplar conteúdos transversais
da educação.
• Indicar modelos para planejamento das aulas.
• Refletir sobre o papel das competições em ambiente
escolar.
unidade
III
INTRODUÇÃO
O
lá, seja bem-vindo(a) à Unidade III. Na unidade anterior, es-
tudamos sobre a pedagogia relacionada ao ensino de lutas.
Nesta unidade, vamos avançar para aspectos mais práticos
quanto à aplicação destes conteúdos em diferentes contextos.
Destes serão considerados os ambientes escolares e os não escolares.
Particularmente, quanto ao ambiente não escolar, sabemos que, de
acordo com a abordagem da prática, o treinador não precisa ser, necessa-
riamente, professor de educação física. Por exemplo, quando uma aula de
lutas é direcionada para aspectos técnico-táticos e filosóficos de uma mo-
dalidade específica, estes conceitos transcendem os limites da educação
física e envolvem uma ampla gama de expressões dessa cultura corporal.
Por outro lado, quando esta aula apresenta objetivos físicos, seja para de-
sempenho esportivo ou por aspectos estéticos, esta formação se torna
indispensável, seja por segurança ou por eficiência e eficácia.
Independentemente da abordagem e das questões legais sobre atua-
ção profissional, é inegável que a formação em educação física contribui
sobremaneira para a qualificação das aulas em quaisquer destes ambien-
tes. Neste contexto, é objetivo desta unidade propor a você, aluno(a), o
desafio de pensar as questões práticas e a distribuição destes conteúdos
nos diferentes contextos por meio do planejamento diário (planos de
aula) e de longo prazo (semestres e anos).
Além disso, vamos aprofundar os conceitos de jogos de oposição e
associá-los aos temas transversais que precisam fazer parte da atuação
do professor em qualquer ambiente e discutir sobre o papel de eventos
competitivos na formação do aluno.
LUTAS
Do Ensino Fundamental ao
Ensino Médio
Caro(a) aluno(a), neste tópico, convido você a por aprimoramento. A exemplo disso, neste docu-
construir a distribuição dos conteúdos de lutas a mento, as lutas não são sugeridas nos 1º e 2º anos.
longo prazo, com foco em aspectos de “como fazer”. Como vimos na unidade anterior, até mesmo os pe-
Considerando uma distribuição ideal, como deve- quenos poderiam se beneficiar destas práticas com
riam estar postas as expressões das lutas, artes mar- atividades lúdicas, pré-desportivas, recreativas, co-
ciais e modalidades esportivas de combate durante operativas, em forma de brincadeiras e jogos. Neste
o cronograma escolar? ponto, precisa ficar claro para você, aluno(a), que
Apesar de existirem indicações genéricas sobre a atuar com o conteúdo de lutas é ir além das modali-
distribuição dos conteúdos inerentes à educação fí- dades esportivas, e envolve aspectos históricos, cul-
sica, na estrutura vigente (BRASIL, 2018), as suges- turais e filosóficos importantes ao desenvolvimento
tões apresentadas são muito amplas e ainda passam do indivíduo.
80
EDUCAÇÃO FÍSICA
Bom, mas como poderia ocorrer a distribuição modifica-se a questão chave: quais as capacidades
destes conteúdos a longo prazo? Seguindo as indica- esportivas envolvidas nas lutas? Lembre-se da opo-
ções gerais apresentadas no último tópico da unida- sição, da imprevisibilidade, da fusão entre ataque e
de anterior, vamos especificar. defesa, dos ataques mútuos e do fato de ter o corpo
Partindo da estrutura sugerida por Greco e do oponente como alvo para agarre ou toque diretos
Brenda (GRECO, 2012), uma disposição de fases e ou indiretos.
etapas pode ser pensada para uma iniciação espor-
tiva universal e, apesar de o ambiente escolar não TRANSIÇÃO
se limitar ao aspecto esportivo, vamos usá-lo como
base do desenvolvimento para as atividades e asso- Esta etapa divide-se nas fases Universal 3 (10 a 12
ciar esta progressão aos conteúdos transversais. anos), de orientação (12 a 14 anos) e de direção
O modelo sugere uma estrutura com 3 fases para (14 a 16 anos). Neste ponto, iniciam-se os concei-
cada uma das 3 etapas de desenvolvimento que estão tos esportivos propriamente ditos com universali-
contidas na idade escolar. Neste contexto, as etapas dade esportiva, aprendizagem de várias modalida-
são de formação, de transição e de decisão. des esportivas e direcionamento para uma ou duas
modalidades a serem futuramente especializadas,
FORMAÇÃO respectivamente. No contexto das modalidades es-
portivas de combate, a universalidade proposta na
A etapa de formação é dividida nas fases Pré-escolar fase Universal 3 indica o conhecimento das seme-
(<6 anos), Universal 1 (6 a 8 anos) e Universal 2 (8 lhanças e diferenças entre habilidades esportivas de
a 10 anos). Nestas, o objetivo das práticas envolveria diversas modalidades de combate, seguindo uma
habilidades motoras fundamentais, habilidades mo- progressão direta da fase que precede. Já na fase de
toras fundamentais combinadas e a combinação de orientação, migra-se das habilidades esportivas para
habilidades esportivas, respectivamente. Neste pon- as modalidades propriamente ditas, enquanto que o
to, questões chave podem ajudar a entender quais direcionamento de uma ou duas modalidades rece-
atividades podem relacionar o conteúdo das lutas beriam maior atenção. Neste último, possivelmente
a estas fases. Por exemplo: quais são as habilidades haja conflito com a proposta escolar, o que pode ser
motoras fundamentais que podem ser adquiridas resolvido com atividades em turno inverso ou en-
por meio de jogos de oposição e brincadeiras de corajamento para práticas em ambiente não escolar.
combate? Uma atividade de agarrar pode estar asso-
ciada à modalidades de domínio, do mesmo modo DECISÃO
que uma atividade de rolar pode fazer parte da ini-
ciação às técnicas de absorção de impacto de quedas Nesta etapa, já ao fim da vida escolar, o aluno pas-
e projeções. Portanto, poderiam ser manipuladas saria por uma fase de escolha que envolve a prática
de modo isolado na fase Pré-escolar, ao passo que esportiva de lutas com fins estéticos, de saúde e de
podem ser combinadas entre si e com outras (como lazer ou a prática competitiva que visa performance
equilíbrio) na fase Universal 1. Já na Universal 2, e alto rendimento.
81
LUTAS
Como mencionado anteriormente, é possí- lidades “para saber praticar” e modalidades “para
vel que, neste ponto, perceba-se que o objetivo da conhecer”. Neste sentido, a primeira recebe maior
prática, talvez, fuja do escopo escolar. Por outro atenção e frequência de aulas, enquanto a segunda
lado, se os princípios pedagógicos do esporte fo- é trabalhada por meio de vivências. No entanto, é
rem considerados, fazer com que o escolar goste de necessário destacar que precisa haver variações nas
praticar esporte e se torne um adulto fisicamente modalidades de cada categoria, ao invés de deixar
ativo parece ser uma contribuição social relevante. que modalidades hegemônicas, como o futebol,
handebol, voleibol e o basquetebol, caiam sempre na
REFLITA categoria “para saber praticar”.
82
EDUCAÇÃO FÍSICA
83
LUTAS
Ensino de Lutas
no Ambiente não Escolar
As lutas, artes marciais e modalidades esporti- Usualmente, aulas de lutas em ambientes fora da
vas de combate fazem parte de uma gama cultu- escola seguem uma estrutura altamente tecnicista,
ral que é maior do que o ambiente de educação nas quais os modelos de comando (lembre-se dos es-
e escolar. Isto ocorre pois as expressões das lutas tilos de Mosston) ainda são predominantes. De modo
transcendem aos muros das escolas e são percep- geral, estas aulas são compostas por aquecimentos,
tíveis nos mais diversos espaços. Nos ambientes treinamento da técnica e momento de luta. Obvia-
de academias, praças, centros esportivos e centros mente que existem professores que fogem a esta regra,
de treinamento, a prática de lutas é realizada para especialmente com o crescimento da inserção do pro-
manutenção e promoção da saúde, defesa pessoal, fessor de educação física e da ciência do esporte nes-
aprimoramento da técnica, alívio do estresse, esté- tes contextos; por outro lado, este ainda parece ser o
tica e para fins competitivos. Mas como funciona a modelo vigente. Assim, vamos analisar uma aula ha-
estrutura dessas aulas? bitual de lutas considerando estas como perspectivas
vigentes por meio da análise de problemas e soluções.
84
EDUCAÇÃO FÍSICA
O AQUECIMENTO
Se você já praticou lutas ou assistiu a uma aula/treino, talhes de uma, certifique-se de que o aquecimento não
pode perceber que, com frequência, os aquecimentos promova elevado dano muscular e fadiga, pois esta con-
nas modalidades de combate são, normalmente, lon- dição pode afetar negativamente a aquisição de infor-
gos (>20 min) e compostos por exercícios calistênicos mação que deverá ser, posteriormente, automatizada.
e corridas que pouco se aproximam dos gestos que Por outro lado, se o objetivo for aprimorar uma técni-
serão utilizados. Isso ocorre, pois, em muitos casos, ca já conhecida e dominada pelo lutador, existe, sim,
existe uma tentativa de promover preparação física a possibilidade de manipular o aquecimento para que
associada à preparação técnico-tática. Assim, o pro- seja mais exigente (não necessariamente mais longo).
blema se encontra justamente neste ponto. Por exem- Isto faz com que o indivíduo experimente a aplicação
plo, um aquecimento exaustivo e com volume pro- das técnicas em situações que se assemelham às das
longado pode afetar negativamente o aprendizado da lutas. Ainda, o professor pode, neste momento, criar
atividade técnica subsequente, do mesmo modo que condições situacionais das lutas, tais como iniciar uma
uma parte inicial repleta de alongamentos forçados luta de Jiu-jitsu com o oponente em uma posição de
pode atrapalhar a produção de potência. Um segundo vantagem como a montada, ou um lutador de Muay-
ponto negativo é a pouca (ou nenhuma) relação com -Thai pode iniciar uma sessão de treinamento de uma
os gestos específicos da modalidade. posição desfavorável/favorável utilizando o clinch ou
Solucionar esse problema pode ser simples. Você as cordas do ringue.
se lembra dos jogos de oposição apresentados na Uni- Apesar de pouco utilizados, é neste momento
dade II? Por que não começar a prática de modalidades que os estilos de ensino de Mosston, como o desco-
de combate com este tipo de atividade? Motivos são brimento guiado e a resolução de problemas, pode-
muitos e envolvem a manutenção da especificidade, ou riam ter uma aplicabilidade interessante.
seja, a intensidade se aproxima da experimentada em
luta e os gestos simulam os desafios que serão solicita- A LUTA
dos na hora da luta, como a imprevisibilidade, o ataque
mútuo, o contato corpo a corpo e a oposição em si. Após incontáveis repetições de gestos motores previ-
síveis e nada reflexivos, possivelmente haverá um mo-
O TREINAMENTO DA TÉCNICA mento de luta. Normalmente ocorrem de modo livre
e com temporalidade aleatória. Não é à toa que este,
Logo após o aquecimento, inicia-se o momento da aula possivelmente, seja o momento mais esperado das au-
voltado para o aprimoramento da técnica. Novamente las, visto que o que se quer é lutar. Neste sentido, a in-
por estilo de comando e por meio da imitação, os alu- dicação geral é que o ato de lutar tenha maior papel e
nos são submetidos a incontáveis repetições de movi- atenção durante essas aulas. De fato, se as fases anterio-
mentos cíclicos e previsíveis. Neste ponto, é necessário res foram exaustivas, esta também o será, deve-se en-
considerar um fator essencial que é a fadiga. Se o objeti- tender que há aumento nas chances de lesões, visto que
vo aqui é aprender uma nova técnica ou aprimorar de- o suporte muscular fica comprometido pela fadiga.
85
LUTAS
86
EDUCAÇÃO FÍSICA
ORIENTAÇÃO SEXUAL
87
LUTAS
PLURALIDADE CULTURAL
Sugestões de abordagem
Para este item, os conceitos históricos e culturais
abordados nas unidades anteriores podem ajudar.
Como estratégias, o estudo histórico das modali-
dades de combate parece ser interessante, ao passo
que as vivências e experiências das diferenças entre
gestos, costumes, vestimentas e demais característi-
cas podem ilustrar o modo como estas expressões
culturais se aproximam e divergem dependendo do
ponto de vista.
SAÚDE
88
EDUCAÇÃO FÍSICA
após a realização de combates e jogos de oposição rapeutas, professores de educação física, gestores,
pode ser uma opção, você precisa medir a frequên- promotores de eventos, publicitários e outros que
cia cardíaca e a pressão arterial dos alunos, ao final apresentem suas perspectivas sobre a atuação com
calcula o duplo produto (frequência cardíaca x pres- atletas de lutas.
são arterial sistólica) e pede que os alunos interpre-
tem os resultados. MEIO AMBIENTE
TRABALHO E CONSUMO A relação das lutas com o meio ambiente pode ser
entendida a partir de aspectos espirituais, que se dá
Parte-se do pressuposto que vivemos em uma so- por meio de meditação. Além disso, há, de fato, uma
ciedade de hiperconsumo que parece manter uma proximidade dos lutadores com os cuidados com a
tendência exponencial neste mesmo sentido. Para natureza, visto que se parte de questões filosóficas
dar conta deste consumismo, aumenta-se a deman- que permeiam as artes marciais.
da por trabalho e produtividade, o que nem sem-
pre (ou raramente) parece apresentar relação com Questões norteadoras
ascensão social. Quais são os ambientes em que as lutas são desen-
volvidas? Existem materiais de lutas que são reciclá-
Questões norteadoras veis? Como descartar/reaproveitar materiais para o
Como é e quem são as pessoas que trabalham com uso nas lutas?
lutas? Como são as condições dos atletas de moda-
lidades de combate? Quem são os profissionais que Sugestões de abordagens
atuam de modo profissional direta e indiretamente Neste ponto, uma relação interessante pode ser feita
com lutas? com a necessidade de improvisar materiais para as
aulas de lutas. Confeccionar “espadas” com garrafas
Sugestões de abordagem pet ou “espaguetes” de piscina velhos e criar um ta-
Visitas a espaços nos quais as lutas são oferecidas e tame com raspas de pneu e lona são exemplos.
visitas de pessoas que atuam com lutas podem ser
relevantes; seminários com atletas e professores EXEMPLO DE PLANOS DE AULA
também. Além disso, trabalhos que busquem pes-
quisar a atuação de profissionais de diferentes áreas Veja este exemplo de plano de aula para lutas rela-
nas lutas pode ser outra ideia interessante. Imagine cionado a temas transversais proposto no programa
um seminário com odontólogos, médicos, fisiote- segundo tempo (RUFINO, 2014):
89
LUTAS
RODA INICIAL
• Essa aula enfatizará o tema do trabalho e do consumo e sua relação com as lutas. Inicial-
mente, pergunte aos alunos quais são os principais materiais utilizados nas lutas (ves-
timentas, como o kimono, as faixas coloridas, luvas, protetores para diversas partes do
corpo, entre outros).
• Além disso, pergunte quais outros materiais relacionados às lutas eles conhecem e que
estão presentes no dia a dia como, por exemplo, bonés, camisetas, bermudas, cadernos e
outros utilizados por muitos jovens cujas marcas representam as lutas.
• Pergunte se os alunos conhecem algumas marcas relacionadas às lutas. Fale para eles
sobre o UFC (Ultimate Fighting Championship), um evento de luta de MMA e também uma
marca de materiais diversos que tem se popularizado muito nos últimos tempos. Deixe
claro que o UFC não é sinônimo de MMA, mas apenas uma marca que organiza eventos de
MMA, assim como existem inúmeros outros no mercado.
• Pergunte para os alunos quais desenhos, filmes, gibis etc. eles conhecem sobre lutas. Se
possível, peça que eles escrevam em uma folha de papel quais são os desenhos e filmes
favoritos e discuta sobre essas preferências.
DESENVOLVIMENTO
1. Adaptando materiais: peça para os O objetivo do jogo é que um dos alu-
alunos trazerem materiais alternativos nos, o atacante, conquiste o objeto. En-
para a aula, tais como jornais, peda- quanto isso, o outro aluno, o defensor,
ços de madeira, tecidos, entre outros: deverá evitar que o colega conquiste
a) Como esses materiais poderiam ser o objeto; d) Para realizar as ações só
usados nas lutas? b) Peça para os alu- é permitida a realização de movimen-
nos, em grupos, apresentarem as pos- tos de agarre; e) Decorridos alguns mi-
sibilidades de utilização desses mate- nutos, o professor inverte as ações e
riais em lutas; c) Após a apresentação, quem estava atacando passa a defen-
discuta com os alunos as possibilidades der e vice-versa; f) Ao final, é importan-
de uso desses materiais e como isso se te deixar claro que a atividade simula
relaciona com a questão do consumo e a conquista de objetos que podem re-
ambiente em nossa sociedade. presentar os bens materiais existentes
2. Lutando pelos objetos: em duplas, em nossa sociedade, ou seja, aqueles
um de frente para o outro: a) Cada du- que conquistaram mais objetos repre-
pla deverá ter um objeto que pode ser sentam os grupos sociais que têm mais
uma pequena bola de tênis, um pren- bens de consumo, ou seja, as classes
dedor, ou algum outro implemento; b) mais ricas, dessa forma esse jogo pode
O objeto deverá ser colocado no chão ser uma representação simbólica do
a uma distância pequena das duplas; c) que acontece em nossa sociedade.
90
EDUCAÇÃO FÍSICA
3. A mímica das lutas nos filmes e dese- 4. Lutando contra o lixo: dois times com
nhos: as lutas têm grande projeção nos o mesmo número de integrantes em
filmes e desenhos, por isso, devem ser cada um. É preciso haver diversos ar-
vivenciadas situações que permitam en- cos espalhados pelo chão nessa ativi-
tender o que acontece com as lutas nas dade. Cada time começará em um lado
mídias, tais como os superpoderes de da quadra (usar o espaço da quadra de
alguns personagens, por exemplo: a) Di- voleibol, que é menor), um time será
vidam os alunos em pequenos grupos; b) o time da ‘sujeira’ e o outro time será
Cada grupo deverá elaborar uma cena de o time da ‘limpeza’. O objetivo do time
luta que imite algum desenho ou filme. da ‘limpeza’ será entrar na quadra do
As opções são diversas, tais como Ben time da ‘sujeira’ e colocar cada um dos
10, Power Rangers, Dragon Ball Z, As me- integrantes desse time nos espaços de-
ninas superpoderosas, Jack Chan, Liga da marcados com os arcos que serão con-
justiça, Homem aranha, entre outros. Ou siderados como os ‘lixos’. Para isso: a)
filmes, como Matrix, Kung Fu Panda, O Os integrantes do time da ‘limpeza’ de-
Último Samurai, Rocky, Menina de Ouro, verão executar ações de empurrar e pu-
entre muitos outros; c) Após o grupo en- xar as pessoas do time da ‘sujeira’ até
saiar alguns movimentos de luta relacio- que eles entrem nos arcos dos ‘lixos’; b)
nados aos filmes e desenhos, começarão Os integrantes do time da ‘sujeira’, por
as apresentações que deverão ocorrer sua vez, deverão se opor às pessoas do
em formato de mímica; d) Cada grupo outro time também por ações de em-
apresentará sua cena sem poder falar purrar e puxar, evitando entrar nos ar-
nada. Enquanto isso, os outros grupos cos; c) Após algum tempo de atividade
tentarão adivinhar a cena; e) Após a apre- delimitado pelo professor (pode variar
sentação dos grupos, é possível questio- de acordo com o número de integran-
nar aos alunos quais deles gostam des- tes nas equipes) computa-se quantas
ses filmes e desenhos e os motivos disso. pessoas do time da ‘sujeira’ entraram
É importante discutir que a mídia em ge- no ‘lixo’; d) Posteriormente, os papéis
ral apresenta as lutas como forma de bri- dos times são invertidos e quem estava
ga, ou então de vitória a qualquer custo, na ‘limpeza’ passa a fazer parte do time
e não na perspectiva do respeito; f) Além da ‘sujeira’ e vice-versa; e) Por fim, dis-
disso, há, em grande parte das vezes, um cute-se com os alunos o lixo produzido
exagero de quem luta e ganha de todos pela humanidade, reforçando os malefí-
os outros. cios do consumo exagerado.
RODA FINAL
• Pergunte aos alunos se eles gostaram das atividades propostas.
• Enfatize a importância das relações de trabalho e consumo no que corresponde às lutas
com as atividades vivenciadas.
• Por fim, peça que os alunos realizem uma pesquisa sobre as principais marcas relaciona-
das as lutas na sociedade.
91
LUTAS
SAIBA MAIS
Fonte: o autor.
92
EDUCAÇÃO FÍSICA
93
LUTAS
Montando a Aula
Agora que já visitamos os conceitos de progressão Aulas de educação física ou de lutas nas academias
em ambientes formais e não formais e discutimos passam por uma estrutura praticamente universal
os fatores transversais no contexto das lutas, convi- que contempla parte inicial, parte principal e volta a
do você a pensar em como se dá a estrutura de uma calma, que também podem receber a nomenclatura
aula de lutas em ambos os ambientes. Além disso, de Roda inicial, Desenvolvimento e Roda Final (RU-
são apresentados alguns exemplos que podem servir FINO, 2014). Em cada um destes momentos, ativi-
como base para que você possa ajustar à sua realidade. dades e objetivos específicos são sugeridos.
94
EDUCAÇÃO FÍSICA
Neste momento de início da aula, uma introdução se Ao final do encontro o fechamento e a reflexão são
faz necessária. Você deve apresentar os objetivos da necessários. É importante retomar os objetivos apre-
aula e deixar claro o que espera atender ao final dela. sentados na Roda inicial e relembrar de que modo
Frequentemente, esse momento é repleto de exercí- eles foram atingidos. Reflexões adicionais sobre a
cios de alongamento e aquecimento, especialmente generalização dos conteúdos para outros ambientes
em academias, mas a conversa inicial nem sempre podem ser bem vindas. É também o momento de
é contemplada. Sem as informações sobre os obje- avaliação, tanto seu sobre a participação e engaja-
tivos, metas, o tema e as atividades do restante da mento dos alunos quanto dos alunos sobre o desen-
aula, os alunos podem demorar a entender e se en- volvimento da aula, os objetivos, as atividades e o
gajar nas atividades propostas, o que reduz seu po- modo como o professor direcionou as práticas. Por
der de participação, contribuição e criticidade. fim, é interessante apresentar as atividades para casa
(se houver) e algumas indicações sobre o que será
DESENVOLVIMENTO abordado no próximo encontro.
REFLITA
95
LUTAS
RODA INICIAL
• Quantas modalidades de luta existem no mundo? O professor pergunta aos alunos quais
são as modalidades de lutas que eles conhecem e solicita que anotem em um quadro
(ou papel).
• Tente ajudá-los tanto com as modalidades mais conhecidas como o judô, jiu jitsu, caratê,
kung fu, boxe etc., até aquelas menos conhecidas como krav maga, kendo, aikido, hapkido,
entre outras.
• Pergunte-lhes o que há em comum nas lutas: chutes, socos, agarres? Podemos fazer uma
comparação com práticas mais curtas, que exigem agarres, e mais distantes, como os chu-
tes e socos. Pergunte quais são as distâncias possíveis nas lutas.
• Deixe claro que não será possível ensinar todas as modalidades de luta na escola por
conta de uma série de fatores, mas que haverá um esforço para ensinar diferentes carac-
terísticas das modalidades de modo geral. Convide os alunos a entrarem no universo das
lutas a partir das vivências das distâncias.
DESENVOLVIMENTO
• Aquecimento no trem das lutas (ações • Estica e puxa (ações de curta distância –
de média distância – toque no outro): agarre no outro): em duplas, um de fren-
os alunos devem formar uma fila, um te para o outro. O objetivo da atividade é
atrás do outro com os braços no om- que uma pessoa da dupla consiga deslo-
bro do companheiro da frente. Eles car a outra em um espaço delimitado (as
não podem soltar as mãos do ombro linhas da quadra podem servir de mar-
do colega ao longo da brincadeira. O cação), esta deverá buscar manter-se no
objetivo da atividade é que o primeiro lugar: a) A pessoa que estiver puxando,
aluno (que está na frente da fila) pegue só poderá fazer isso pelos braços da ou-
o último aluno da fila sem fazer com tra pessoa; b) O aluno que estiver para-
que o ‘trenzinho das lutas’ se desfaça: do, por sua vez, deverá buscar formas
a) Caso o aluno da frente concretize de manter-se no lugar. Para isso, é im-
seu objetivo e pegue o último aluno, portante aprender a usar o quadril, ou
ele deverá ir para o final da fila e o se- seja, abaixar um pouco, flexionar os joe-
gundo colocado na fila assume a po- lhos e fazer força como quadril no senti-
sição de primeiro lugar e, consequen- do contrário. Se a pessoa puxar para um
temente, torna-se o pegador e assim lado, o quadril deve forçar para o outro
por diante, repetidamente até o sinal e vice-versa; c) Decorridos alguns segun-
do professor; b) Repete-se a atividade dos, trocam-se as funções e quem esta-
procurando sempre trocar quem está va tentando se manter parado passa a
na frente e atrás da fila. puxar a outra pessoa e vice-versa.
96
EDUCAÇÃO FÍSICA
• De cara com a fera (ações de curta dis- ser 2 ou 4 grupos). O objetivo da ativi-
tância – agarre no outro): em duplas, dade é que cada aluno possa adquirir a
os alunos devem estar postos um de fita do oponente do outro grupo. Para
frente ao outro: a) Os braços devem isso: a) ao sinal do professor, os alunos
estar estendidos e as palmas das mãos que estão em primeiro lugar de cada
das duas pessoas da dupla devem es- grupo deverão dirigir-se correndo ao
tar se tocando; b) As pernas estendidas centro da quadra e iniciar o processo
e o corpo levemente projetado para a de aquisição da fita do colega do outro
frente; c) O objetivo é apoiar-se na ou- grupo que deverá fazer a mesma coi-
tra pessoa e buscar desequilibrá-la para sa; b) Assim que um dos dois conseguir
um dos lados, porém buscando manter- adquirir a fita do outro, eles deverão se
-se em equilíbrio. dirigir de volta aos seus respectivos gru-
• Estafeta das lutas (ações de média dis- pos; c) O aluno que se saiu vitorioso do
tância – toque no outro): em grupos enfrentamento deverá depositar a fita
com o mesmo número de participantes do colega do outro grupo em uma caixa,
em cada um. É necessário que cada alu- localizada próximo a sua fila (podendo
no tenha uma fita (ou corda, ou papel ser substituída por uma sacola, balde
crepom, ou algum outro material) presa etc.); d) Ganha a atividade o grupo que
em sua cintura o qual deverá ser puxa- conseguir adquirir mais fitas do grupo
do por alguém da outra equipe (pode que enfrentou na estafeta.
RODA FINAL
• Pergunte aos alunos: quais as principais características das atividades vivenciadas? O que
elas têm em comum? E de diferente?
• No diálogo, é importante encaminhar a discussão para que os alunos entendam que vi-
venciaram atividades de diferentes distâncias, algumas mais próximas dos companheiros
(atividades 2 e 3), outras mais distantes (atividades 1 e 4) e que isso provoca estratégias de
ação diferentes, ou seja, é diferente lutar mais próximo e mais distante.
• Das atividades vivenciadas, quais os alunos mais gostaram? Por quê?
• Peça para que os alunos pesquisem sobre lutas em que não haja o combate entre duas
pessoas como aquelas atividades de demonstração de formas e movimentos coreografa-
dos (katas e katis), que serão o tema para a próxima aula.
97
LUTAS
SAIBA MAIS
Fonte: o autor.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
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LUTAS
Festivais e Competições
100
EDUCAÇÃO FÍSICA
O ato de competir, por vezes, dividiu e até mesmo Apesar de serem altamente focadas em modali-
polarizou pensadores da Educação Física. De fato, dades coletivas com bola, as competições escola-
este debate abrange questões norteadoras da área, res são uma ferramenta potencial para o ensino
em especial a pedagogia do Esporte. Se por um lado de lutas. Atualmente, dificilmente as competições
as competições podem ser excludentes, por outro escolares promovem momentos de reflexão, par-
podem ser uma ferramenta valiosa para o ensino de ticipação, cooperação, inclusão, co-educação, in-
valores positivos associados ao esporte, como o fair ter e transdisciplinaridade e outros tantos con-
play, a cooperação, o respeito ao oponente e a inclu- ceitos que fazem parte do balizamento da atuação
são. Parece que, antes de discutir esse tema, precisa- do professor. No modelo vigente, você pode ter
mos partir da premissa de que não é o esporte por si vivenciado que algumas escolas acabam por sele-
só que educa, mas sim o conjunto daquilo que faze- cionar seus alunos por desempenho na modalida-
mos, em especial os professores, com esta manifes- de de interesse para que façam parte de equipes de
tação da cultura corporal que determinará se essas treinamento específicas e um certo grau de pres-
práticas auxiliam ou atrapalham o desenvolvimento são é imposto, independentemente da faixa etária.
social dos indivíduos. De modo contrário ao modelo vigente, sugestões de
Além disso, vale reforçar que duas perspectivas festivais e competições com caráter educativo mu-
têm sido sugeridas acerca do Esporte e, obviamen- dam este panorama para uma abordagem voltada
te, das modalidades esportivas de combate no en- para o esporte a favor do aluno, e não o contrário.
sino formal: i) O esporte na escola e ii) O esporte Partindo desta perspectiva, o seu desafio como pro-
da escola. O primeiro trata-se de uma perspectiva fessor será de inserir os conceitos de competitivida-
de transferência direta daquilo que é praticado fora de, minimizando os efeitos negativos que essas prá-
dos portões da escola para dentro dela sem qual- ticas poderiam gerar.
quer ajuste de contextualização. Você percebe pais, Assim, Reverdito et al. (2008) reforçam que
colegas e professores agindo como expectadores em competir é importante, mas que, talvez, não pre-
finais de libertadores. Por outro lado, o esporte da cise ser, necessariamente, “contra”, mas “com” os
escola pode absolutamente o oposto. Neste sentido, demais colegas e lembram que competições esco-
este tópico convida a lembrar de suas experiências lares são uma ótima oportunidade para a interdis-
competitivas e a pensar em estratégias para utilizar ciplinaridade, não devendo o professor de Educa-
a competição como aliada no processo formativo e ção Física ser o único responsável. Na verdade, os
de modo contextualizado aos esportes de combate. alunos deveriam estar inseridos e serem responsá-
veis pelos processos organizacionais, participando
REFLITA da elaboração de documentos, regulamentos e do
processo gerencial dos eventos competitivos. Em
Reflita sobre as suas experiências relaciona- suma, os autores destacam que é possível aprender
das às competições no ambiente escolar e pelo esporte e pela competição, mas não por si só
debata brevemente com um grupo de colegas. e sim pelo direcionamento dado.
101
LUTAS
Esta perspectiva, inclusive, aplica-se nas com- No modelo anterior descrito, 100% dos entrevis-
petições fora das escolas. No Judô, por exemplo, tados (crianças e pais) se mostraram satisfeitos. Rela-
competições infantis seguem os modelos dos adul- tos sobre o fato de todos saírem felizes e de como foi
tos, mesmo que isso seja incoerente em sua essên- positivo “não precisar lidar com um grande número
cia. Como contraponto, uma estrutura de festi- de indivíduos (crianças) frustrados”, foram os princi-
val foi proposta (LEONÍDIO; KOHL; GONDIM, pais pontos fortes apontados pelos pais. Em contra-
2017). Nela, ao invés de classes por massa corporal partida, gestores e promotores de competições infan-
e regras rígidas em sistemas de vencedores e per- tis, no caso o judô, não se mostraram sensibilizados
dedores, os autores propuseram um sistema em com estes achados e indicam que o tradicionalismo
circuito de atividades que tinha por objetivo con- não pode ser quebrado e que “perder ensina e faz
templar os aspectos específicos das lutas, mas evi- parte da vida”, o que parece ser uma visão simplista
tar as experiências negativas de todos aqueles que do processo educacional e defendida especialmen-
sairiam perdedores em um modelo tradicional. O te por aqueles que (especula-se) foram vencedores.
circuito era composto por 6 estações: i) Jogos de Em suma, uma reflexão a ser proposta é sobre como
equilíbrio; ii) Jogos de atenção; iii) Handori (luta ensinar esporte e esportes de combate em sua plen-
propriamente dita); iv) Vídeo Game (David Dou- itude sem proporcionar práticas competitivas. Se
illet – PS2); v) Ukemi Waza (Técnicas de absorção você também entende que a resposta para essa per-
de impacto após projeções): e vi) Pintura (avalia- gunta é “não há como”, nos resta pensar em como
ção do evento). Perceba que a luta em si está pre- inserir estes modelos competitivos.
sente, mas de modo descompromissado, como se Sugere-se que o balizador do processo de toma-
fosse mais um dia de treinamento comum. Além da de decisões neste tópico é a Intenção Educativa,
disso, jogos de oposição propostos por Olivier e já ou seja, seja em ambiente escolar ou não, competi-
anteriormente estudados nas unidades anteriores ções para crianças devem partir de um caráter edu-
são componentes presentes (OLIVIER, 2000). A cacional. Se tornam requisitos deste modelo a inter-
inserção do vídeo game de luta associa o conceito disciplinaridade, a co-participação (protagonismo
de arte marcial milenar a aspectos presentes no dia do aluno), a contextualização com o projeto peda-
a dia das crianças. Por fim, perceba que à criança é gógico e o respeito aos princípios pedagógicos do
dado o poder da avaliação. esporte (REVERDITO et al., 2008).
102
considerações finais
Caro (a) aluno (a), chegamos ao final de mais uma unidade e, nesta etapa, em
especial, espero que você tenha absorvido elementos essenciais no processo de
planejamento de aulas de lutas em diferentes contextos.
Gostaria de reforçar que as lutas transcendem os limites da Educação Físi-
ca, visto que fazem parte de uma dimensão da cultura do movimento humano.
Mesmo assim, os conhecimentos que você está adquirindo durante sua formação
permitirão que você seja capaz de analisar criticamente a realidade das Lutas, Ar-
tes Marciais e as Modalidades de Combate, bem como será capaz de intervir para
aprimorar estas práticas nos diferentes ambientes onde se manifestam.
Não esqueça que, ao planejar suas atividades, os momentos iniciais e finais
são altamente relevantes para apresentar a temática e direcionar as atividades
com lógica e para encerrar de modo reflexivo de acordo com o conteúdo propos-
to, respectivamente.
Ainda vale destacar o papel formador (para o bem e para o mal) das compe-
tições de Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate. Lembre-se
que o modelo utilizado para os adultos não deve ser replicado para crianças. Na
verdade, para crianças, eventos “competitivos” podem ser substituídos por even-
tos cooperativos, com alto teor de atividades lúdicas e com pouca ou nenhuma
preocupação por classificações ou pódios e, com certeza, sem a exigência de pro-
cessos de perda e ajuste de massa corporal.
103
atividades de estudo
1. Quando esta aula apresenta objetivos físicos, seja 3. Dos temas transversais citados neste livro, esco-
para desempenho esportivo ou por aspectos esté- lha um e indique uma estratégia para abordá-lo
ticos, esta formação se torna indispensável, seja por na escola ou na academia.
segurança ou por eficiência e eficácia. De acordo
4. Indique o que deve conter em cada uma das
com o modelo de distribuição de conteúdos apre-
etapas sugeridas para compor a aula e quais
sentado, assinale a alternativa correta:
são estas.
a) Sugere-se focar em um número reduzido
de modalidades, desde o ensino funda- 5. O ato de competir, por vezes, dividiu e até mes-
mental, para formar atletas em potencial. mo polarizou pensadores da Educação Física.
Quanto às competições para crianças, assinale a
b) O direcionamento para modalidades espe-
alternativa correta.
cíficas ocorre apenas após os 12 anos.
a) Crianças devem competir como adultos,
c) Especialização precoce é positiva para que afinal perder educa e faz parte da vida.
haja tempo hábil para formar os futuros
medalhistas. b) Crianças não devem ser expostas a ne-
nhum tipo de competição, afinal existe ris-
d) Aprendizado da técnica recebe foco nas co de traumas físicos e psicológicos.
fases iniciais e o desempenho deve ser co-
brado até a fase adulta. c) Competições com foco em cooperação ou
festivais com múltiplos jogos são estraté-
2. As expressões das lutas transcendem aos muros gias interessantes.
das escolas e são perceptíveis nos mais diversos d) Competições com foco em técnica e tática
espaços. Nos ambientes de academias, praças, ajudam a aprimorar o desempenho motor
centros esportivos e centros de treinamento, a das crianças.
prática de lutas é realizada para manutenção e
e) Competições com foco em técnica e tá-
promoção da saúde, defesa pessoal, aprimora-
tica aumentam as chances de a escola
mento da técnica, alívio do estresse, estética e
vencer jogos escolares, o que deve ser
para fins competitivos. Nas academias e centros um objetivo.
de treinamento que oferecem lutas, a sugestão
pedagógica é:
a) Ignorar o que é sugerido para as escolas,
afinal são ambientes diferentes.
b) Ignorar o que é sugerido para as escolas,
afinal, na escola, não existem mestres e fai-
xas pretas nas modalidades.
c) Seguir estrutura de progressão dos conte-
údos de modo similar à escola, já que é,
também, ambiente formador.
d) Seguir estrutura de progressão dos conte-
údos de modo similar à escola, visto que
isto faz parte do sistema Iemoto.
e) Nenhuma das anteriores.
104
LEITURA
COMPLEMENTAR
Leia este trecho do livro “Lutas, Capoeira e Práticas Corporais de Aventura” e considere
as afirmações sobre as competições na infância.
105
material complementar
106
referências
gabarito
1. B.
2. C.
3. Orientação sexual; Pluralidade cultural; Saúde; Trabalho e consumo ou
Meio ambiente.
4. Roda inicial, parte principal e roda final.
5. C.
107
AVALIAÇÃO E PREPARAÇÃO FÍSICA
DE LUTADORES
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Avaliações físicas gerais para lutadores
• Avaliações físicas específicas para lutadores
• Métodos para condicionamento metabólico de lutadores
• Métodos para condicionamento neuromuscular de
lutadores
• Periodização e organização do treinamento de lutadores
Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer avaliações gerais aplicadas às lutas.
• Conhecer avaliações específicas aplicadas às lutas.
• Propor métodos de treinamento metabólico.
• Propor métodos de treinamento neuromuscular.
• Discutir modelos de periodização para atletas de lutas.
unidade
IV
INTRODUÇÃO
O
lá, seja bem-vindo(a) à Unidade IV. Até aqui você estudou
sobre a história das lutas, sobre a pedagogia aplicada às lu-
tas e sobre o planejamento de aulas. Deste ponto em diante,
reforçamos o caráter biológico e relacionado ao desempenho
esportivo. Imagine-se no papel de preparador físico de lutadores. Quais
variáveis são importantes para a tomada de decisões? Como medi-las?
São as mesmas variáveis para “lutadores” ou as especificidades de cada
modalidade, categoria de peso e característica da competição devem ser
levadas em consideração? E como organizar os estímulos durante o ciclo
olímpico, durante o ano ou durante o mês?
Nesta unidade, convido você a explorar conceitos e estratégias para
monitorar e prescrever cargas de treinamento de atletas de modalidades
esportivas de combate. Vamos iniciar com uma abordagem geral sobre
avaliações aplicadas a lutadores e avançamos para as avaliações especí-
ficas para modalidades de impacto e de domínio. Em seguida, passamos
a conversar sobre estratégias para aprimorar o condicionamento físico
metabólico, que é composto pelos componentes de aptidão aeróbia e
anaeróbia. E avançamos para o condicionamento neuromuscular, que
envolve as manifestações de força e flexibilidade. Por fim, indicações
sobre a periodização e organização do treinamento são feitas a partir de
diferentes modelos teóricos. Mas atenção, esta unidade aborda aspectos
físicos e, portanto, aspectos técnico-táticos, psicológicos e cognitivos,
que também fazem parte da preparação dos atletas, não serão aborda-
dos com profundidade.
Neste ponto, você deve estar se perguntando se estes tópicos já não fo-
ram ou não serão abordados em outras disciplinas, como a de avaliações
físicas ou de treinamento desportivo. De fato imagino que estes pontos
estão sendo ou serão reforçados nestas e em outras disciplinas. Por esse
motivo, nesta unidade, não iremos abordar aspectos conceituais mais
aprofundados, mas sim na aplicação prática direcionada aos lutadores.
LUTAS
Avaliações Físicas
Gerais para Lutadores
Caro(a) aluno(a), neste tópico, busco apresentar a Inicialmente, precisamos categorizar os testes
você possibilidades de testes físicos que podem ser que serão indicados e essa categorização será a mes-
utilizados como indicadores indiretos da aptidão ma utilizada para diferir os métodos de treinamento
dos atletas. O termo “geral” se refere ao fato de que que seguirão nos Tópicos 3 e 4 desta unidade. Você
são avaliações de componentes básicos da aptidão e está familiarizado com os termos “condicionamento
não, necessariamente, envolvem gestos motores ou metabólico” e “condicionamento neuromuscular”?
características específicas das modalidades esporti- Pois bem, o primeiro se refere ao condicionamento
vas de combate. De fato, muitos dos testes aqui apre- associado às fontes energéticas, ou seja, o quão apto
sentados são aplicáveis a outras modalidades espor- seu atleta/aluno é aeróbia ou anaerobiamente? Ao
tivas. Aqui estes testes serão contextualizados para retomar conceitos das aulas de fisiologia do exercí-
que você entenda o por quê da sua relação com as cio você irá lembrar que os conceitos aeróbios são
lutas e o que os resultados podem indicar. associados à aptidão de consumir oxigênio (O2), en-
112
EDUCAÇÃO FÍSICA
quanto que os anaeróbios dizem respeito à aptidão só terá acesso a estes equipamentos em laboratórios
de utilização de fontes energéticas dos fosfagênios de pesquisa, e se tem acesso, você possivelmente já
(ATP e ATP-CP) e glicolítica (FRANCHINI, 2016a). sabe como manusear este equipamento. O foco, en-
Já o condicionamento neuromuscular refere-se às tão, será nos meios de medir de modo indireto com
manifestações de força que são a força máxima, a maior aplicabilidade prática e sem a necessidade de
resistência de força e a força explosiva ou potência equipamentos caros, o que (acredito), parece ser
muscular. Ainda nesta categoria, encontra-se a flexi- mais próximo da realidade da maioria dos atletas.
bilidade, que diz respeito aos graus de mobilidade e Pois bem, ainda neste tópico, uma divisão adicio-
amplitude articulares (FRANCHINI, 2016b). nal precisa ser feita. Capacidade aeróbia diz respeito
à intensidade na qual é possível manter a predomi-
TESTES GERAIS PARA APTIDÃO META- nância desta fonte energética por longos períodos de
BÓLICA tempo e é normalmente expressa pelo limiar anaeró-
bio ou de lactato. Já a potência aeróbia diz respeito à
máxima quantidade de O2 que um indivíduo pode
consumir em exercício extremo e é normalmente ex-
pressa pelo consumo máximo de O2 (VO2máx). Dito
isso, apresento um modelo de avaliação que pode ser
útil para estimar estes valores e para o qual você pre-
cisará de uma esteira e um cardiofrequencímetro.
Inicialmente são medidos os valores de frequ-
ência cardíaca (FC) em repouso e, na sequência,
um aquecimento de 5 a 10 min que contenha al-
guns sprints deve ser executado. Lembre-se que este
aquecimento precisa ser padrão para as reavaliações.
A velocidade inicial da esteira depende da aptidão
Como vimos, a aptidão metabólica se divide nos do atleta e, em lutadores, usualmente varia entre 6 e
componentes aeróbios e anaeróbios, portanto, apre- 8 km/h. Após o início, deve-se incrementar 1 Km/h
sento, aqui, possibilidades de testes que podem ser a cada 2 minutos (BILLAT; KORALSZTEIN, 1996).
aplicados para cada uma destas capacidades. O teste segue até a desistência do atleta, por exaus-
tão volitiva. Você deve anotar a FC a cada estágio, a
Condicionamento aeróbio FC imediatamente pós-teste (FCmáx) e a velocidade
Usualmente testes de aptidão aeróbia são aplicados final atingida (vVO2max) para posterior estimativa
com auxílio de ergoespirometria, ou seja, são usados do VO2max (BILLAT; KORALSZTEIN, 1996), se-
equipamentos que medem continuamente a relação gundo a equação:
entre o consumo de O2 e a produção de dióxido de
carbono (CO2). Não será objetivo deste tópico dis- VO2max = 2,209 + 3,163 x vVO2max + 0,000525542
cutir avaliações diretas e o motivo é simples, você x vVO2max3
113
LUTAS
170
REFLITA
Frequência Cardíaca (bpm)
160
130
114
EDUCAÇÃO FÍSICA
115
LUTAS
SAIBA MAIS
Fonte: o autor.
116
EDUCAÇÃO FÍSICA
117
LUTAS
Caro(a) aluno(a), conforme visto anteriormente, Neste contexto, vou apresentar testes para mo-
existem inúmeras possibilidades de testes físicos ge- dalidades de impacto e, na sequência, para modali-
rais a serem aplicados em lutadores para monitorar dades de domínio. Dentre estes serão apresentados
as adaptações ao treinamento, inclusive a partir de testes para componentes metabólicos e neuromus-
aplicativos para dispositivos móveis, como smar- culares. Não espere uma gama muito ampla de pos-
tphones. Neste tópico, mudamos a perspectiva para sibilidades, visto que esta perspectiva de proposi-
a aplicação de testes específicos, ou seja, testes que se ção de testes específicos ainda é recente na ciência
propõem a identificar questões praticamente exclu- do esporte de combate. Além disso, alguns testes
sivas de algumas modalidades e que utilizam gestos não serão mencionados por ainda não terem vali-
motores próximos aos utilizados em lutas. dação científica.
118
EDUCAÇÃO FÍSICA
119
LUTAS
120
EDUCAÇÃO FÍSICA
121
LUTAS
122
EDUCAÇÃO FÍSICA
Caro(a) aluno(a), agora que você já entende o que Antes de seguir reforço, modalidades esportivas
significa condicionamento metabólico e conhece de combate são intermitentes e de alta intensidade e
métodos para avaliar este componente da aptidão por isso, o treinamento deve obedecer esta caracte-
física de lutadores, seja de modo geral ou específi- rística para respeitar o princípio da especificidade.
co, resta saber quais são as estratégias sugeridas para Exercícios com esta característica têm sido chama-
promover ganhos neste aspecto. dos de HIIT (High Intensity Intermittent Training).
Inicialmente, você precisa entender que moda- Mas é qualquer HIIT que pode ser aplicado a estas
lidades esportivas de combate são essencialmente modalidades? Se você quiser ser específico, não.
aeróbias (CAMPOS et al., 2012; JULIO et al., 2017). Atualmente, está em alta na literatura cientí-
Isso mesmo, apesar de apresentarem momentos de fica o conceito de análise de time-motion (tempo-
alta intensidade e concentrações de lactato muito -movimento) a partir da qual podemos identificar
acima do limiar anaeróbio, o componente aeróbio as relações entre esforço e pausa e entre alta e bai-
é, sem dúvida, predominante em combates e é res- xa intensidade. Partindo deste conhecimento sobre
ponsável pela recuperação entre ações anaeróbias, a modalidade, você pode montar seu protocolo de
pela manutenção da intensidade elevada até o fim treinamento específico. Veja a Tabela 1 que apresen-
do combate, pela ressíntese de PCr e participam de ta a descrição das relações entre esforço e pausa de
modo crescente e progressivo da contribuição ener- diferentes modalidades.
gética para ações de alta intensidade (FRANCHINI,
2016a). Isso ocorre por causa da natureza intermi- Tabela 1 - Descrição da relação entre esforço e pausa
tente destas modalidade, nas quais existem momen- em diferentes modalidades esportivas de combate
to de altíssima intensidade seguidos de momentos
Número Faixa
de recuperação parcial (GASTIN, 2001). MODALIDADE Esforço Pausa
de atletas etária
Assim, podemos dizer que, nas lutas, predomi-
JUDÔ 587 Adulto 2a6 1
na o metabolismo aeróbio, enquanto o metabolismo
JIU JITSU 66 Adulto 10 1
anaeróbio é determinante do sucesso competitivo.
LUTA OLÍMPICA 42 Adulto 2,5 1
Isso se dá, pois ações curtíssimas de intensidade má-
TAEKWONDO 128 Adulto 1 7
xima são aquelas que geram pontos e podem levar
KARATÊ 12 Juvenil 2 1
ao knockout ou submissão do oponente.
Dependendo da fase da periodização do trei- MUAY THAI 12 Adulto 2 3
123
LUTAS
Neste modelo, ações em baixa intensidade podem TREINO METABÓLICO ESPECÍFICO PARA
ser movimentações e transições leves com pouca ou MMA
nenhuma resistência do oponente, enquanto que as
ações de alta intensidade devem ser feitas com resis- Considerando o Mixed Martial Arts (MMA), Del
tência do oponente e tentativas de projeção, raspa- Vecchio et al. (2011) propuseram um modelo que
gem ou finalizações. segue uma lógica semelhante aos mencionados ante-
riormente, apesar de ainda carecer de mais investiga-
TREINO METABÓLICO ESPECÍFICO PARA ções para testá-lo. Veja como é a estrutura sugerida.
TAEKWONDO O atleta deve executar duas séries de:
30” em baixa intensidade em pé.
Considerando, agora, as modalidades de impac- 15” em alta intensidade em pé.
to, um exemplo é o treinamento específico para 10” recuperação passiva.
Taekwondo, proposto por Haddad et al. (2011). 40” em baixa intensidade no solo.
Nele, um protocolo tradicional composto por 4 15” em alta intensidade (Ground & Pound) no solo.
séries de 4 minutos, sendo 10 seg a 100% da vVO- 10” em recuperação passiva.
124
EDUCAÇÃO FÍSICA
SAIBA MAIS
Fonte: o autor.
125
LUTAS
126
EDUCAÇÃO FÍSICA
gráfico a seguir, irá perceber que pessoas que trei- Este modelo é baseado nos conceitos de potencia-
nam de modo lento e com cargas elevadas podem lização pós-ativação (PPA). Isso significa que após
atingir níveis maiores de força máxima (Linha B), a execução de um exercício condicionante ocorre
porém, isto não, necessariamente, reflete-se em um processo de potencialização das ações mo-
uma elevada TDF (Linha A). toras, o que leva a um aumento momentâneo na
produção de potência. Como se sabe, treinar com
750
B elevada produção de potência pode promover me-
700
650 lhora neste componente, esta seria uma estratégia
Força (N)
REFLITA
TREINAMENTO COMPLEXO
127
LUTAS
TREINAMENTO PLIOMÉTRICO
SAIBA MAIS
128
EDUCAÇÃO FÍSICA
129
LUTAS
Periodização e Organização do
Treinamento de Lutadores
Caro(a) aluno(a), seguindo a lógica proposta indicações com aplicabilidade prática direcio-
nesta unidade, chegamos ao ponto de organizar nada às modalidades de combate. Para tal, dois
e distribuir os estímulos do treinamento ao lon- modelos serão discutidos, o primeiro sugerido
go do tempo. Novamente, não serão apresenta- para iniciantes (Modelo linear clássico) e o se-
dos ou aprofundados os conceitos básicos, visto gundo para atletas de maior nível competitivo
que serão abordados em outras disciplinas, mas (Modelo em blocos).
130
EDUCAÇÃO FÍSICA
131
LUTAS
132
considerações finais
O
processo de preparação física não é simples e muitos erros concei-
tuais podem ser vistos nos mais diferentes espaços. Nesta unidade,
você foi convidado a refletir sobre as demandas de diferentes mo-
dalidades de combate, bem como métodos para avaliar os atletas e
para prescrição de treinamento. Além disso, conceitos de organização e perio-
dização foram apresentados.
Com base nisso, ao concluir a leitura desta unidade, você deve ser capaz de
acompanhar e liderar um processo completo de preparação física de um lutador.
Obviamente, estas abordagens aqui apresentadas acabam por ter uma certa su-
perficialidade e é sua responsabilidade aprofundar os estudos a partir das disci-
plinas que complementam esses conceitos e de leituras de outros livros e artigos.
Porém, antes de encerrar esta unidade, vamos lembrar de dois pontos chave
que foram direcionados nos tópicos que seguiram. O primeiro deles diz respeito
à especificidade. Lembre-se que modalidades esportivas de combate são essen-
cialmente aeróbias, mas têm componentes anaeróbios como determinantes do
sucesso. Lembre-se, também, que, para aprimorar a taxa de desenvolvimento de
força, serão necessários treinamentos com alta velocidade nas fases concêntricas
e os treinamentos tradicionais não darão conta.
O segundo ponto chave é o monitoramento. Antes de respeitar modelos te-
óricos de periodização, respeite as respostas do seu atleta/aluno. Por exemplo,
imagine que chegou no ponto de transição no seu planejamento e os estímulos
de força darão lugar aos estímulos de potência. Porém, os níveis desejados de
força já foram atingidos duas semanas atrás. Isso significa que são duas sema-
nas a menos de treinamento específico para potência, que é mais importante
para lutadores.
Deste modo, espero que os conceitos tenham sido claros o suficiente para
encorajá-lo a monitorar e prescrever treinos com especificidade. Neste caso,
falamos de lutadores, mas são conceitos que se aplicam para qualquer moda-
lidade esportiva.
133
atividades de estudo
134
LEITURA
COMPLEMENTAR
Caro(a) aluno(a), leia este trecho do livro “Preparação Física para lutadores” e debata
com colegas sobre o papel das lutas.
“Vários estudos demonstraram que as MECs são modalidades intermitentes de alta in-
tensidade, nas quais a participação glicolítica é alta, conforme inferido pelos valores da
concentração de lactato apresentados nesses estudos. Porém, altos valores de lactato
não representam que a contribuição anaeróbia lática é predominante nas MECs. Por
outro lado, outros estudos demonstraram que, quando analisado os valores de delta
do lactato, há uma diminuição glicolítica no decorrer das lutas ou rounds.
Além disso, os estudos que analisaram a contribuição energética dessas modalidades
demonstraram predominância do metabolismo aeróbio, embora as ações decisivas
sejam determinadas pelo metabolismo anaeróbio. Portanto, existe a necessidade do
desenvolvimento prioritário da aptidão anaeróbia dos lutadores. Nesse caso, a exe-
cução de ações específicas as quais levem em consideração a razão esforço:pausa de
cada modalidade, pode ser uma estratégia eficaz para o aprimoramento da aptidão
anaeróbia dos lutadores.”
135
material complementar
136
referências
137
referências
138
gabarito
1. A.
2. C.
3. F; V; F.
4. F; F; F.
5. Ganho de potência máxima exigem ausência de fadiga e maior intervalo de
recuperação, enquanto resistência de potência exige o oposto.
139
FISIOLOGIA E PERFIL
DAS MODALIDADES
ESPORTIVAS DE
COMBATE
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Duração de luta em esportes de combate
• Categorias de peso e perda de peso em esportes de
combate
• Estrutura temporal nos esportes de combate
• Perfil antropométrico e funcional de atletas de esporte de
combate
• Respostas fisiológicas e perceptivas em esportes de
combate
Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar aspectos relacionados à duração de luta em
esportes de combate.
• Apresentar as divisões por categoria de peso e aspectos
relacionados ao processo de perda de peso em esportes
de combate.
• Discutir sobre a estrutura temporal nos combates e
possibilidades de aplicação desse conceito.
• Discutir sobre o perfil antropométrico e funcional de
atletas de esporte de combate.
• Apresentar conceitos relacionados às respostas fisiológicas
e perceptivas em esportes de combate.
unidade
V
INTRODUÇÃO
Duração de Luta em
Esportes de Combate
144
EDUCAÇÃO FÍSICA
Um dos primeiros pontos que você deve entender é A seguir, iremos conhecer algumas das caracte-
que há diferenças, tanto entre modalidades quanto rísticas do esportes de combate de domínio. Apenas
dentro de cada modalidade. Entre modalidades, há este entendimento, da peculiaridade de cada mo-
uma nítida diferença nas técnicas utilizadas e per- dalidade, já nos possibilitará um grande avanço na
mitidas (ex.: derrubar, socar, chutar, projetar, imobi- organização e prescrição de treinos. Essa parte pode
lizar), tempo do combate (duração total das dispu- parecer bastante simples, mas acredite, é primordial.
tas), estrutura temporal (tempo de esforço e pausa, E o pior, é desconhecida ou desprezada por muitos
tempo em ações de alta e baixa intensidade), divisão profissionais que atuam na preparação de pratican-
das categorias de peso, entre outros aspectos. Dentro tes e atletas de esportes de combate.
da mesma modalidade também existem diferenças
nos padrões de luta, que podem ser influenciados e/ DURAÇÃO DO COMBATE NAS MODALI-
ou potencializados pelo efeito do gênero, graduação DADES DE DOMÍNIO
e categoria de peso. Por exemplo, o padrão de luta
de atletas leves tende a ser diferente de atletas mais
pesados, assim como o padrão de luta de atletas ju-
venis tende a ser diferente dos padrões de adultos.
Essas diferenças devem ser consideradas no planeja-
mento da preparação física.
Devido a essas particularidades, não é possível a
criação de um único tipo de treinamento, fórmula de
treinamentos ou sistemas engessados de preparação
que serão efetivos para todos os atletas de todos os
esportes de combate. Dessa forma, a preparação de
um atleta de boxe não deveria ser idêntica à de um
judoca. Ainda, o sistema de preparação de atletas do O primeiro ponto indispensável que você deve co-
mesmo esporte não deve, necessariamente, ser idên- nhecer e compreender é o fato de que a duração dos
tico. A preparação de uma judoca de 50 kg não deve- combates é diferente nos esportes de combate de do-
ria ser igual à de um judoca de 115 kg. Esses atletas mínio. No Quadro 1, podemos observar que a dura-
possuem características distintas, que resultam em ção de um combate de judô é de 4 min na categoria
ações distintas durante o combate. Logo, não seria adulto, tanto para homens quanto mulheres, inde-
então lógico submeter eles à mesma sistematização pendente da sua graduação. De faixa-branca à faixa-
de treinos. -preta, a regra define combates de 4 min de duração,
Cabe a você e aos demais profissionais envol- sem implicar singularidades para cada graduação.
vidos na preparação dos atletas compreenderem as No entanto, uma luta de judô pode acabar a
características da modalidade que irão atuar, para qualquer momento. A regra atual define que a ocor-
então conseguir definir estratégias específicas à ne- rência de um ippon (golpe perfeito) ou dois waza-ari
cessidade de seus alunos. (golpe quase perfeito) resultam no fim de combate,
145
LUTAS
com vitória a quem atingiu essas pontuações. Em Quadro 2 - Tempo de combates oficiais de Brazilian
contrapartida, em caso de empate no tempo regu- jiu-jitsu
lamentar do combate, a luta vai para a prorroga-
Idade Sexo Graduação Tempo de luta
ção, que pode durar até 4 min. Assim, uma disputa
Adulto F/M Branca 5 min
oficial de judô pode durar poucos segundos, assim
Adulto F/M Azul 6 min
como pode durar até 8 min cronometrados (coman-
Adulto F/M Roxa 7 min
dos de pausa do árbitro implicam em congelamento
Adulto F/M Marrom 8 min
do cronômetro).
Adulto F/M Preta 10 min
146
EDUCAÇÃO FÍSICA
Com base nessas informações, podemos verificar as tição (ex.: olímpico, internacional, regional). Desta
peculiaridades intermodalidades e intramodalida- forma, quando você for atuar junto a um lutador,
de. É importante destacar que analisamos apenas a será necessário conhecer as características da mo-
duração de combates na categoria adulta, o tempo dalidade em questão, para então definir as melhores
de combate nas idades maiores ou menores à fai- estratégias de treino, com foco nas demandas reais
xa etária dos adultos sofre ainda mais variações no dos combates em competição.
tempo oficial de combate. No Quadro 4, é apresentado um resumo das ca-
Algo interessante de se notar é que os combates racterísticas de duração dos combates de algumas
do masculino e feminino possuem a mesma duração modalidades de percussão, considerando eventos de
de tempo nos esportes aqui apresentados. No entan- confederações de grande abrangência em cada espor-
to, isso é algo recente. Em partes, tal fato ocorreu por te. No karatê, nas disputas de kumite (confronto entre
influência de indicações do Comitê Olímpico Inter- os atletas), o tempo das disputas é de um round de
nacional (COI), estimulando a igualdade entre sexos. três minutos (WKF, 2015). No taekwondo, a dispu-
ta tem a composição de três rounds de dois minu-
DURAÇÃO DO COMBATE NOS ESPORTES tos cada, com um minuto de intervalo entre rounds
DE COMBATE DE PERCUSSÃO (WTF, 2015).
As competições de Muay Thai da World Muay-
thai Council (WMC) são regulamentadas por cinco
rounds de três minutos com dois minutos de pausa
entre rounds (WMC, 2010). Para as disputas de ki-
ckboxing, a World Association of Kickboxing Orga-
nizations (WAKO) define que, em torneios mundiais
e continentais, a duração deve ser de três rounds de
dois minutos, enquanto na Copa do Mundo ou tor-
neios abertos internacionais, a composição das dis-
putas pode ser dois rounds de dois minutos ou de
apenas um round de três minutos, sempre com um
Assim como observamos nas modalidades espor- minuto de intervalo entre rounds (WAKO, 2018).
tivas de combate de domínio, para os esportes de Para o boxe, temos a diferenciação entre boxe
percussão, o tempo dos combates também varia profissional, e boxe amador. Em geral, no boxe pro-
entre modalidades. Iremos notar que essa variação fissional os combates têm a duração máxima de 12
é ainda maior, podendo ter uma curta duração de rounds de três minutos, com intervalos de um minu-
um round de três minutos no karatê até 12 rounds de to entre rounds (WBA, 2013), ao passo que, no boxe
3 minutos no boxe profissional. Nesse ponto, é im- amador de elite, a duração das disputas é estabele-
portante destacar que a duração dos combates pode cida em três rounds de três minutos cada ou quatro
sofrer alteração de acordo com a confederação que rounds de dois minutos cada, sempre com intervalos
promove o evento, assim como o nível da compe- de um minuto entre rounds (AIBA, 2015).
147
LUTAS
Essas singularidades acerca da duração dos de luta são diferentes, fique gravado na sua memó-
combates irá influenciar diretamente nas demandas ria. Tudo isso porque, com base na minha observa-
energéticas dos combates, alterando a contribuição ção como estudioso da área, muitos erros cometidos
dos diferentes sistemas (anaeróbio alático, anaeróbio na preparação de atletas de esportes de combate se-
lático e aeróbio), impactando diretamente na estru- riam minimizados com esse simples conteúdo. Caso
tura temporal do exercício (iremos discutir nas pró- não esteja convencido, fique tranquilo, pois na aula
ximas aula sobre isso). Todos esses fatores, podem e sobre estrutura temporal essa ideia pode ficar mais
devem ser considerados na prescrição do exercício. clara para você.
Afinal, preparar um atleta para um combate de ka-
ratê, composto de um round de três minutos, não
REFLITA
deveria seguir as mesmas tomadas de decisões da
preparação de um atleta de boxe profissional, que
irá realizar 12 rounds de três minutos. No taekwondo, as disputas são compostas por
dois rounds de dois min com intervalo de um
Essas informações podem parecer muito sim- min entre rounds. É recomendado um atleta
ples, mas eu julgo fundamental apresentar o tempo realizar corridas longas (30–60 min) há poucas
de combate de cada um dos esportes de combate. A semanas antes de um torneio importante?
Quadro 4 - Duração dos combates de karatê, taekwondo, Muay Thai, kickboxing, boxe amador e boxe pro-
fissional
148
EDUCAÇÃO FÍSICA
149
LUTAS
Outro ponto importante que você precisa conhecer e peso, sendo a pesagem realizada sem o judo-gi (nome
respeitar na organização do treinamento nos espor- dado à vestimenta no judô, popularmente conhecido
tes de combate é a divisão das categorias de peso. É como kimono). As divisões de peso variam de até
fundamental que você saiba que os atletas são divi- 48 kg (categoria ligeiro) à acima de 78 kg (categoria
didos quanto a sua massa corporal, com limites de- pesado) no feminino. No masculino, essa amplitude
finidos por cada Confederação. No sistema interna- vai de até 60 kg (categoria ligeiro) a acima de 100 kg
cional, os judocas são divididos em sete categorias de (categoria pesado) (Ver Quadro 5) (IJF, 2007).
150
EDUCAÇÃO FÍSICA
Quadro 5 - Divisões de categorias de peso no judô Quadro 6 - Divisões de categorias de peso no Brazi-
lian jiu-jitsu
Categoria Feminino Masculino
151
LUTAS
No karatê, nas disputas de kumite, existem cinco ca- Quadro 9 - Divisões de categorias de peso no
tegorias de peso (Quadro 8), para ambos os sexos. taekwondo para disputas olímpicas
Para as mulheres, a categoria mais leve limita a mas-
Feminino Masculino
sa corporal em até 50 kg e a categoria mais pesada
acima de 68 kg. Para os homens, a categoria mais < 49 kg < 58 kg
Feminino Masculino
Mosca ligeiro 48 - 51 kg 46 - 49 kg
No sistema olímpico, no taekwondo, homens e
Mosca - < 52 kg
mulheres são enquadrados em quatro categorias
Galo - < 56 kg
de peso (Quadro 9). No feminino, a mais leve li-
Pena < 57 kg -
mita a massa corporal em até 49 kg e a categoria
Leve < 60 kg < 60 kg
mais pesada inicia em 67 kg. Para o masculino,
Meio médio ligeiro - < 64 kg
esses valores são de até 58 kg na categoria mais Meio médio < 69 kg < 69 kg
leve e acima de 80 kg para a categoria mais pe- Médio < 75 kg < 75 kg
sada. Vale lembrar que, no taekwondo, nas com- Meio pesado - < 81 kg
petições não olímpicas, existem mais divisões nas Pesado - < 91 kg
categorias de peso. Super pesado - > 91 kg
Fonte: Confederação Brasileira de Boxe - CBBOXE (2017).
152
EDUCAÇÃO FÍSICA
Para o conteúdo não ficar muito extenso e com in- minuição da massa corporal para competir em uma
formações redundantes, vamos apresentar apenas as categoria mais leve. Isso é diferente de um processo
três modalidades olímpicas de percussão. Contudo, visando o emagrecimento. No emagrecimento, o
ficou mais que claro que os competidores são divi- indivíduo está acima da massa corporal recomen-
didos por sua massa corporal, e que essas divisões dada, apresentando um excesso de gordura corpo-
são específicas de cada modalidade, havendo limites ral. Assim, esse sujeito tem o que diminuir e essa
diferentes para homens e mulheres. Ainda, o limite redução tem efeito positivo para a saúde, uma vez
das categorias de peso pode ser alterado de acordo que tecido adiposo em excesso está relacionado à
com a confederação e o nível da competição. Por diversas doenças.
esso motivo, você deve estar atento à isso quando for Porém, diferente desse caso típico visando o
atuar na preparação de seus atletas. O monitoramen- emagrecimento, a preocupação de muitos atletas
to da massa corporal deve ser realizado de modo a dos esportes de combate é reduzir sua massa na ba-
definir qual melhor categoria para que o atleta possa lança no dia da pesagem para poder competir com
competir, evitando um perigoso problema: a perda atletas, em tese, menores e mais fracos. O impor-
de peso rápida. tante é se enquadrar dentro de uma categoria. O
problema é que muitos desses atletas não têm ex-
PERDA DE PESO NOS ESPORTES DE cesso de gordura para reduzir, pois já apresentam
COMBATE uma composição corporal dentro das recomenda-
ções para a saúde e esporte. Diante disso, muitos
atletas adotam diferentes estratégias para conse-
guir essa perda de peso, normalmente em um curto
período de tempo.
Por exemplo, entre 63 atletas universitários de
wrestling, 89% reportou que adotaram métodos
para perda de peso, sendo que, em 41% deles, as re-
duções foram entre 5,0 a 9,1 kg no período de uma
semana (STEEN; BROWNELL, 1990). No judô, a
prevalência de atletas que realizam a perda rápida de
peso para competir chega a atingir 89% dos atletas
(ARTIOLI et al., 2010). No jiu-jitsu, entre atletas de
A divisão dos atletas dos esportes de combate em nível competitivo nacional e internacional, aproxi-
categorias relativas à massa corporal gera um gran- madamente 50% adotam a perda de peso, chegando
de problema: a perda de peso. Essa “perda de peso” essa prevalência a 62,5% entre atletas de nível regio-
é um termo adotado nessa área para se referir à di- nal (BRITO et al., 2012).
153
LUTAS
SAIBA MAIS
No taekwondo, entre os homens, 77,4% dos
atletas de nível regional/estadual e 75,6% de nível
nacional/internacional declararam adotar a per- A perda de peso no MMA é ainda mais peri-
gosa para atletas do sexo feminino. A mulher
da de peso para competir em categorias mais le-
tem tendência a reter mais água que o ho-
ves. Entre as mulheres, essa prevalência é de 88,9% mem, dificultando a desidratação. A maioria
para as atletas de nível regional/estadual e 88,6% das atletas que participam de esportes de
combate já tem um nível de gordura muito
em nível nacional/internacional. Em média, esses
baixo no corpo. As células femininas precisam
atletas reduziam ~3% de sua massa corporal, sendo de gordura para fabricar estrogênio, hormô-
que alguns deles reduziam ~7% da massa corporal nio responsável por diversos processos no
corpo da mulher. A falta de estrogênio pode
(SANTOS et al., 2016).
causar a doença “Tríade da Mulher Atleta”,
Esse processo de perda de peso pode afetar ne- que consiste nos seguintes sintomas: ame-
gativamente o desempenho dos atletas, mas as con- norreia (falta da menstruação), distúrbios
alimentares e perda mineral óssea. Além de
sequências podem ser ainda mais sérias. É comum
atrapalhar o ciclo menstrual, a tríade causa
atletas adotarem métodos extremamente nocivos à uma diminuição da força e densidade dos
saúde, os quais podem levar à morte. Infelizmente, ossos, provocando fissuras e fraturas com
maior facilidade. Outra característica da tríade
há relatos de ocorrências de óbitos em diferentes
é causar distúrbios alimentares, a campeã
modalidades esportivas de combate em decorrên- Ronda Rousey sofreu de bulimia em seus
cia da perda de peso rápida. Assim, há sugestões de tempos de judoca.
atenção e sobretudo, desestímulo a esse tipo de prá- Fonte: Venum (2015, on-line)1.
tica (ARTIOLI et al., 2016).
Com essas informações em mente, agora é im-
portante saber como aplicar esse conhecimento,
avaliando o atleta para identificar se ele pode reduzir
a massa corporal (se tem excesso de gordura corpo-
ral) e qual a margem para essa perda. Caso o atleta
já apresente composição corporal adequada, a perda
de peso deve ser desestimulada, a fim de preservar a
integridade do atleta.
154
EDUCAÇÃO FÍSICA
155
LUTAS
Estrutura Temporal
nos Esportes de Combate
156
EDUCAÇÃO FÍSICA
Um fato que irá te auxiliar na prescrição de treina- ~20-30 s de esforço por ~10-15 s de pausa, numa ra-
mentos específicos é o entendimento de como uma zão esforço/pausa de 2:1 (FRANCHINI et al., 2013).
disputa é realizada. Particularmente, esse é um dos A fase de esforço para as diferentes modalidades
meus assuntos preferidos, pois tem uma implicação compreende o tempo entre o comando de “lute” e
direta no treinamento, desde que interpretado de “pare” (nomenclatura muda para cada esporte), en-
maneira adequada. quanto a fase de pausa compreende o intervalo entre
Embora um combate de judô tenha a duração de o comando de “pare” e “lute”.
4 min, é pouco provável que os atletas passarão os 4 Especificamente ao judô, as fases de combate po-
min de combate em uma intensidade elevada, com dem ser entendidas da seguinte maneira:
muito emprego de força e potência. O mais provável
(1) Aproximação: compreende o tempo entre
é que os atletas passem um tempo se estudando, pre- o primeiro passo realizado pelos atletas após o
parando espaços para uma boa oportunidade, para, sinal de início de combate (hajime) dado pelo
então, no momento certo realizar uma investida ex- árbitro e a realização da pegada (kumi-kata).
tremamente rápida de modo a finalizar o combate (2) Pegada: compreende o tempo em que os
com um ippon. Nesse caso, teríamos ações de alta atletas permaneceram realizando a pegada
intensidade intercaladas por ações de baixa inten- (kumi-kata) sem a entrada de golpes.
sidade. Essas informações teriam grande aplicação (3) Ataque: compreende o tempo entre a pre-
aos treinadores, os quais poderiam organizar suas paração (tsukuri) e a projeção (kake).
atividades respeitando as demandas específicas de (4) Defesa: compreende o tempo que um atle-
ta passa defendendo a investida de ataques do
seu esporte.
adversário.
A boa notícia é que, para algumas modalida-
(5) Transição: compreende o tempo que leva
des, há publicações nesse sentido. Ao se analisar da luta em pé (com dois atletas em posição
muitas lutas, é possível definir um padrão comum. bipodal) para luta no solo.
Será possível identificar quais são as técnicas mais (6) Luta de solo: compreende o período em
exploradas, quais são as estratégias que o atleta ado- que um ou ambos os lutadores caracteriza-
ta quando está ganhando ou perdendo. Essas defi- ram o trabalho de técnicas de solo (ne-waza).
nições técnicas irão constituir um padrão. Embora (7) Tempo de pausa: compreende o perío-
isso possa variar de atleta a atleta, de acordo com ca- do entre o sinal de interrupção de comba-
racterísticas físicas e também estilo de luta, o enten- te (matte) e o sinal de reinício do combate
(voz de comando hajime). Os comandos
dimento do padrão mais comum pode ser utilizado
para paralisação da luta (sono mama) e
para criar mais especificidade às atividades. reinício (yoshi) também são computados
Na Figura 1, você pode visualizar a estrutura como tempo de pausa.
temporal de um combate típico de judô. Note que,
nessa imagem, são apresentadas as sete diferentes fa- Esse entendimento de cada fase do combate exige
ses (aproximação, pegada, ataque, defesa, transição, um pouco mais de vivência em cada modalidade.
combate no solo e pausa) que constituem as disputas No entanto, o principal é que você analise quais
(MIARKA et al., 2012), gerando a estrutura típica de ações são realizadas em cada fase, assim como qual
157
LUTAS
a contribuição de cada fase no decorrer da disputa. Na Figura 2, agora podemos observar as caracterís-
Por exemplo, com base na Figura 1, você pode ob- ticas das disputas de Brazilian jiu-jitsu, em compe-
servar que as ações de ataque são de curta duração. tições de nível regional. Esse é um dos estudos em
Assim, essa especificidade deve ser considerada no que eu tive a oportunidade de descrever as ações de
treinamento de potência muscular, com estímulos temporalidade no jiu-jitsu. Na imagem, são descri-
médios de 5 segundos. tos os tempos de esforço e pausa, com subdivisão do
tempo de esforço em esforço em alta e baixa intensi-
dades. Assim, a estrutura observada descreve ações
Aproximação
em alta intensidade de ~3 s, alternadas por ações em
12 ± 8 s baixa intensidade de ~25 s, conferindo aos blocos
de esforços uma duração média de ~117 s, sendo os
blocos de esforço intercalados por blocos de pausa
Aproximação
de ~20 s (ANDREATO et al., 2013).
5±6s As ações de alta intensidade têm sido considera-
das quando um atleta tenta avançar/progredir/evo-
luir em uma situação de luta, com claro emprego de
Aproximação
vigor físico, força e/ou potência muscular; enquanto
6±5s as ações de baixa intensidade são as demais que não
atinge as características das de alta intensidade. Res-
salvando-se que uma “progressão” mais tática não é
Aproximação
de alta intensidade, mas pode ser tão efetiva quanto.
3±3s
Aproximação
117 s 20 s
Aproximação
4±3s
Aproximação
3s 3s
158
EDUCAÇÃO FÍSICA
No estilo greco-romano do wrestling, os comba- específica para atletas de Brazilian jiu-jitsu (JAMES
tes possuem uma razão esforço pausa de 2:1 a 3:1, et al., 2014), elaborada por meio de estudo prévio no
sendo os blocos de esforços constituídos de ~37 s, qual foi realizada análise técnico-tática de combates
alternados por blocos de pausa de ~14 s (Figura 3) em competição de nível regional (ANDREATO et
(NILSSON et al., 2002). al., 2013). Nessa proposta, é possível observar que
foi mantida a duração de cada fase do combate. No
entanto, essa não é a realidade de muitos protocolos
utilizados no dia a dia, os quais, embora sejam di-
tos como específicos, configuram tempos de esforço
(alta ou baixa intensidade) e pausa totalmente des-
conexos com as análises de luta.
Você, como responsável pela organização dos
treinamentos, pode aprofundar ainda mais seus es-
Esforço Pausa tudos, para saber se há diferença no padrão de luta
dentro do combate (ex.: diferença de intensidade
37,2 ± 9,8 s 13,8 ± 6,8 s
entre o início, meio e fim da disputa) ou entre os
Figura 3 - Fases de um combate de Brazilian jiu-jitsu
combates de uma mesma competição (ex.: diferença
Fonte: adaptada de Nilsson et al. (2002). entre os combates classificatórios e finais).
Além disso, é sempre importante que você esteja
O conhecimento da estrutura temporal dos com- atento às mudanças de regras, pois esse fato pode al-
bates é importantíssima para inferir as demandas terar significativamente as estratégias de luta.
energéticas dos combate, criando estratégias ade-
quadas de treinamento, os quais serão específicos Bloco de 5 min
159
LUTAS
REFLITA
160
EDUCAÇÃO FÍSICA
161
LUTAS
162
EDUCAÇÃO FÍSICA
Além disso, sempre que possível, você deve se leve. Muitas vezes, os métodos são perigosos e, além
atentar para a existência ou não de diferenças entre de prejudicar o desempenho, podem causar sérios
atletas de diferentes níveis competitivo. Se a força danos à saúde e até mesmo a morte. Nesse sentido,
máxima avaliada no supino é maior em atletas de essa perda de peso deve ser desestimulada.
elite jiu-jitsu, quando equiparados a atletas não-e- Uma das maneiras de avaliar se a perda de peso é
lite, é no mínimo razoável que seja destinada uma possível, é conhecer a composição corporal do atle-
atenção maior para o aprimoramento dessa capaci- ta, a fim de diagnosticar se é viável ter uma redução
dade física. da massa corporal de forma segura, com base em re-
Isso não quer dizer que, se um estudo apontou dução da massa adiposa. Com base nessa avaliação,
determinado resultado, aquilo deve ser uma regra atleta, preparador físico, treinador e nutricionista
aplicável a todos atletas, categorias, sexo, idade, nível podem avaliar em conjunto se é viável a redução do
competitivo ou estilo de luta. Cabe ao treinador co- peso para competir. Além disso, o controle da com-
nhecer os padrões e adaptar essas informações para posição corporal é de suma importância, uma vez
a individualidade de seu atleta. que há uma correlação negativa entre gordura cor-
A seguir, iremos avaliar como você poderá rea- poral e capacidade de locomoção em alguns espor-
lizar isso, com base em alguns elementos físicos im- tes, como o judô, ou seja, quanto maior a quantidade
portantes para a maioria dos esportes de combate. de tecido adiposo, menor é a capacidade de atletas
realizarem técnicas específicas ou exercícios genéri-
COMPOSIÇÃO CORPORAL cos (FRANCHINI et al., 2011).
Para esse diagnóstico, é possível, e recomenda-
do, a comparação com atletas da mesma modalida-
de. Vamos supor que queiramos saber se a compo-
sição corporal de um judoca está similar a de outros
atletas da mesma modalidade. Nesse caso, podemos
nos valer das informações presentes no Quadro 12,
o qual apresenta uma série de estudos que reporta-
ram valores percentuais de gordura corporal de atle-
tas de elite de judô (FRANCHINI et al., 2011).
Assim como existem muitos estudos que permi-
tem essa comparação entre judocas (FRANCHINI et
al., 2011), também há outras revisões e literatura que
Como já discutimos na segunda aula desta unidade, fazem um resumo de perfil físico e fisiológico de atle-
na maior parte dos esportes de combate, os atletas tas de karatê (CHAABÈNE et al., 2012), jiu-jitsu (AN-
são divididos quanto a sua massa corporal. Como DREATO et al., 2017), taekowondo (BRIDGE et al.,
consequência, há uma alta prevalência de atletas que 2014), boxe amador (CHAABÈNE et al., 2015) e ki-
adotam métodos de perda de peso, de forma rápi- ckboxing (SLIMANI et al., 2017), com abordagem de
da e abrupta, para competir em uma categoria mais diversos componentes relevantes para o desempenho.
163
LUTAS
Massa Gordura
Características dos atletas Método Referência
corporal (kg) corporal (%)
Homens
Seleção húngara (n=7) 60 – 70 a 8,9 ± 0,8 DC Farmosi et al. (1980)
Seleção húngara (n=11) > 70 b 14,0 ± 7,3 DC
Seleção canadense de 1987 (n=22) 75,4 ± 12,3 9,3 ± 2,1 DC Thomas et al. (1989)
Norte-americanos de elite (n=8) 91,5 ± 2,7 10,8 ± 1,9 DC Callister et al. (1990)
Norte-americanos de elite (n=18) 83,1 ± 3,8 8,3 ± 1,0 DC Callister et al. (1991)
Canadenses (n=17) 79,3 ± 14,6 10,5 ± 1,0 DC Little (1991)
Seleção universitária brasileira (n=6) 86,9 ± 34,4 11,1 ± 5,1 DC Franchini et al. (1997)
Poloneses (n=15) 82,9 ± 16,4 13,7 ± 3,4 DC Sterkowicz et al. (1999)
Seleção universitária brasileira de 2000 (n=13) 89,0 ± 16,0 13,7 ± 5,2 DC Franchini et al. (2005)
Seleção olímpica brasileira de 2000 (n=7) NR 7,0 ± 3,0 DC Koury et al. (2005)
Croatas de elite (n=6) NR 12,0 ± 1,2 DC Sertic et al. (2006)
Seleção brasileira A (n=7) 90,6 ± 23,8 11,4 ± 8,4 DC Franchini et al. (2007)
Seleção brasileira B (n=15) 86,5 ± 16,3 10,1 ± 5,7 DC
Mulheres
Obuchowicz-Fidelus
Seleção polonesa (n=22) 59,1 ± 7,9 20,9 ± 2,0 DC
et al. (1986)
Canadenses (n=8) 62,3 ± 5,2 15,2 ± 2,1 DC Little (1991)
Norte-americanas de elite (n=7) 56,3 ± 0,9 15,8 ± 1,2 DC Callister et al. (1990)
Norte-americanas de elite (n=9) 53,8 ± 1,6 15,2 ± 1,0 DC Callister et al. (1991)
Seleção universitária brasileira (n=7) 66,9 ± 16,3 16,1 ± 3,0 DC Franchini et al. (1997)
Seleção olímpica brasileira de 2000 (n=9) 66,0 ± 8,0 22,0 ± 5,0 DC Koury et al. (2007)
Croatas (n=8) NR 16,6 ± 4,3 DC Sertic et al. (2006)
a
Massa corporal de 60 kg a 70 kg; b Massa corporal foi > 70 kg; NR: não reportado.
Fonte: adaptado de Franchini et al. (2011).
164
EDUCAÇÃO FÍSICA
165
LUTAS
as capacidades de força e potência muscular. Tal fato de referencial a você. Como se pode observar,
ocorre como resultado da concorrência nas adap- entre atletas de jiu-jitsu a aptidão aeróbia é boa,
tações fisiológicas desencadeadas pelo treinamento mas sem valores exacerbados, com consumo de
aeróbio e treinamento de força e potência. oxigênio entre 45 – 52 ml/kg/min. Além disso,
A seguir, no Quadro 12, são descritos dife- analisando de maneira geral, não parece haver di-
rentes estudos que avaliaram a aptidão aeróbia ferença na aptidão aeróbia entre níveis competiti-
de atletas de jiu-jitsu (adaptado de Andreato et vos (ex.: elite nacional e internacional x estadual)
al., 2017). Esses dados podem (e devem) servir ou iniciantes e experientes.
VO2max: aptidão aeróbia; método direto: usando analisador de gases; método indireto: usando fórmulas validadas.
Fonte: adaptado de Andreato et al. (2017).
166
EDUCAÇÃO FÍSICA
Outro exemplo que podemos usar é a análise da po- plos anteriores, esses reportes podem nos auxiliar a
tência muscular. Essa capacidade pode ser considerada identificar qual o grau de similaridade do nosso atleta
fator determinante para a maioria das modalidades de em comparação com outros da mesma modalidade.
combate, uma vez que, nos momentos decisivos para
gerar pontuações ou o término do combate (via nocau- Quadro 13 - Performance no salto vertical contra-
te, ippon, finalização), há o emprego da força rápida. movimento de atletas de karatê
Esse uso de força pode necessitar vencer altas cargas,
Características dos par- Resultado
como para aplicação de algumas projeções no judô em Referência
ticipantes (n) (cm)
que é necessário superar a resistência do adversário; ou Homens
sem necessidade de enfrentar altas cargas, como em Ravier et al. Franceses categoria júnior
44,9 ± 5,9
um chute no karatê, em que a única resistência é o ar. (2004) (10) nível internacional (n=10)
Dessa forma, visto que a execução de chutes no Franceses categoria jú-
40,0 ± 3,8
nior nível nacional (n=12)
karatê necessita de potência de membros inferiores
Roschel et al. Brasileiros de elite –
sem necessidade de superar altas cargas, avaliar esta 48,8 ± 3,4
(2009) (31) vencedores (n=7)
capacidade genérica (potência de membros inferio-
Brasileiros de elite –
res) pode ser relevante para inferir indiretamente 50,8 ± 2,6
vencidos (n=7)
o desempenho específico (potência de chute). Para Doria et al. Italianos de elite kumite
42,8 ± 4,2
tanto, você pode utilizar um teste de ampla aplicação (2009) (44) (n=3)
na ciência dos esporte, que é o teste de salto vertical. Italianos de elite kata (n=3) 42,7 ± 4,4
Koropanovski Sérvios de elite kumite
46,1 ± 4,4
et al. (2011) (57) (n=9)
Sérvios de elite kata (n=9) 48,6 ± 8,1
Mulheres
Doria et al. Italianas de elite kumite
39,2 ± 2,4
(2009) (44) (n=3)
Italianas de elite kata (n=3) 38,3 ± 1,0
167
LUTAS
168
EDUCAÇÃO FÍSICA
A avaliação hormonal é interessante principal- Esses dois tipos de situações têm pontos positi-
mente para avaliação do equilíbrio entre os status vos e negativos, mas de forma alguma são concor-
anabólico e catabólico. Por essa razão, os hormônios rentes, mas sim complementares. Você pode e deve
mais avaliados são testosterona e cortisol, indicado- usar as informações oriundas de ambas as situações.
res de anabolismo e catabolismo, respectivamente. Na Figura 5, podemos observar como ocorre um
Tal informação nos dá base para entender se o atleta aumento das concentrações de lactato durante uma
está entrando em um grau de fadiga que possa com- luta de judô (5 min quando o estudo foi conduzi-
prometer seu rendimento (FRANCHINI et al., 2013). do) (JULIO, 2014). Em outro exemplo, na Figura 6,
O terceiro tipo de avaliação frequentemente uti- podemos observar que há um declínio da ativação
lizado é análise de marcadores de dano celular, indi- glicolítica (estimada indiretamente pelo lactato san-
cando, assim, pequenos danos no tecido muscular guíneo) a partir da terceira luta de uma competição
em decorrência ao exercício físico. O grau do dano de jiu-jitsu (ANDREATO et al, 2015a). Em ambos
pode estar relacionado à intensidade do exercício. os casos, fica clara a necessidade de treinamentos
Avaliando as respostas de dano, é possível entender que estimulem a via glicolítica.
quais estímulos seriam excessivos ao atleta, causan- Essas mesmas análises devem ser realizadas para
do dano e podendo diminuir o desempenho. Nesses as variáveis de interesse de cada modalidade a ser
dois últimos casos, as intervenções agudas são mais trabalhada. Para o foco dos nossos estudos, não é de
delicadas de serem implementadas, mas podem in- extrema importância estudarmos detalhadamente
dicar a necessidade do aprimoramento de alguns essas informações, pois, como dito anteriormente,
componentes da aptidão física (ex.: resistência mus- as respostas irão mudar de acordo com a modali-
cular ou aptidão aeróbia), bem como abrir espaço dade esportiva. Nosso objetivo aqui é compreender
para testar o uso de algum recurso ergogênico (AN- quais medidas devem ser analisadas e como os re-
DREATO et al., 2015a). sultados descritos em pesquisas podem nos auxiliar.
Esses tipos de análises têm sido realizado em si-
mulações de luta (ex.: apenas um combate simulado Combate simulado de judô
ou uma competição simulada) ou em situação real (na 14
a a
competição). A situação real com certeza é mais inte- 12
a, c
Lactato (mmol/L)
10 a, c
ressante, por se tratar do momento para o qual o atleta
8 a, b
se prepara. No entanto, nesse ambiente é complicado
6
avaliar muitos parâmetros, pois pode ser invasivo e
4
prejudicar o desempenho do competidor. Diante disso,
2
as simulações podem prover informações importan- 0
tes para os treinadores, pois é possível controlar uma Pré-luta 1 min 2 min 3 min 4 min 5 min
quantidade maior de fatores e analisar mais variáveis,
Figura 5 - Lactato sanguíneo em combates de judô de diferentes durações
embora tenha a limitação de não refletir com perfeição Fonte: adaptada de Julio (2015).
Legenda: a) diferente do valor pré-luta, b) diferente dos demais tempo
a competição real, com fatores externos próprios (ex.:
de luta, c) diferente dos minutos 4 e 5.
motivação para a vitória, estresse e ansiedade).
169
LUTAS
10 -
8
11 Relativamente fácil
6 12 -
13 Ligeiramente cansatico
4
14 -
2 15 Cansativo
0
16 -
Luta 1 Luta 2 Luta 3 Luta 4 17 Muito cansativo
18 -
Figura 6 - Lactato sanguíneo em competição simulada de jiu-jitsu 19 Exaustivo
Fonte: adaptada de Andreato (2014).
Legenda: a: diferente da terceira luta (adaptado de Andreato et al., 2015a). 20 -
Figura 7 - Escala de percepção subjetiva de esforço 6-20
Fonte: Borg (2000).
RESPOSTAS PERCEPTIVAS
Um exemplo desse uso é a percepção de esforço
Além do conhecimento das respostas metabólicas que de judocas em um combate fragmentado, apre-
irão auxiliar os profissionais na organização do treina- sentada na Figura 8 (JULIO, 2015). É possível
mento de atletas de esportes de combate, informações observar que a resposta perceptiva aumenta em
sobre a percepção de esforço desses atletas em diferen- congruência com a duração do combate. Ao tér-
tes situações (treino e competição) também são rele- mino dos combates, a percepção média de fadiga
vantes para o treinador. É interesse o conhecimento e foi de aproximadamente 16 u.a. (JULIO, 2015), o
controle dessas percepções, a fim de reproduzir trei- que equivale à percepção de “cansativo” (BORG,
namentos que proporcionem estímulos semelhantes 1982). Com base nisso, seria importante avaliar
àqueles requisitados durante o esforço real em com- a percepção de esforço desses mesmos atletas em
petições. Podemos destacar a relevância da percepção situação competitiva (JULIO, 2015). Assim, seria
de esforço geral e da percepção de esforço local. possível diagnosticar se os atletas treinam em in-
A percepção de esforço geral faz referência ao tensidades semelhantes àquelas dos campeonatos.
quanto o atleta se autopercebe fatigado naquele mo- Essa é uma estratégia simples, mas que confere
mento, de forma geral. Um instrumento comum maior especificidade ao treinamento, de modo
para essa avaliação é aplicação da escala de Borg (Fi- que tenta reproduzir os esforços reais performa-
gura 7). Nessa avaliação, o atleta deve indicar o grau dos em competição.
de sua fadiga após a realização do exercício.
170
EDUCAÇÃO FÍSICA
16
14
12
10
8
6
1 min 2 min 3 min 4 min 5 min
Figura 9 - Percepção de esforço local após combates de wrestling no Figura 11- Percepção de esforço local após combates de Brazilian jiu-jit-
campeonato mundial de 1998 (n= 42 atletas e 94 combates) su em competição de nível regional
Fonte: adaptada de Nilsson et al. (2002). Fonte: adaptada de Andreato et al. (2014).
171
LUTAS
172
considerações finais
173
atividades de estudo
174
atividades de estudo
175
LEITURA
COMPLEMENTAR
Leia um trecho da matéria “A busca pelo alto rendi- Faça um teste rápido. Responda algumas questões:
mento nos esportes de combate”, que escrevi para a Quais são os pontos fortes e fracos da sua aptidão física?
revista Tatame. Quais desses pontos estão próximos ou distantes dos
“Atualmente, muitos atletas buscam atingir resultados atletas de elite da sua modalidade? O treinamento físico
importantes em diferentes esportes de combate. Muitos que você realizou nos últimos meses melhorou sua per-
desses atletas contam com ótimos profissionais que se formance? Sua performance atual está melhor do que
dedicam a fornecer tudo o que há de melhor e mais re- sua performance do ano anterior? Como você controla
cente para otimizar a sua performance. No entanto, mui- a carga semanal do seu treinamento? A sua recuperação
tos atletas tentam atingir o topo sem o auxílio de uma entre as sessões de treino está sendo a ideal? A prepara-
equipe multiprofissional. Ainda, muitos deles contam ção para a sua última competição importante foi efetiva?
com o auxílio de ótimos profissionais, mas que não são Respondeu as questões? Suas respostas foram basea-
especialistas em esportes de combates. Por esses moti- das na sua percepção, na percepção do seu prepara-
vos, o processo de treinamento acaba sendo prejudicado dor ou em dados numéricos de simples interpretação?
e, por consequência, acaba sendo um obstáculo rumo ao Você têm números para justificar suas respostas? Você
lugar mais alto do pódio. utiliza métodos de avaliação que são válidos para a
Ainda é frequente ver com tristeza que diversos atletas sua modalidade?
se preparam para o futuro seguindo programas que re- Se a resposta, para uma ou mais questões, foi não ou
solviam os problemas de ontem. Nos dias atuais, é muito não sei, saiba que sua preparação física pode e deve me-
fácil perceber que o profissionalismo chegou ao mundo lhorar muito, caso você queira atingir seu potencial máxi-
das lutas. Com essa chegada, o espaço para amadorismo mo. Lembre-se de algo muito importante, que é repetido
está em processo de extinção. Pelo menos para quem por muitos atletas de alto rendimento: “o que te trouxe
quer estar no lugar mais alto do pódio. até aqui não é o que vai te levar para o próximo nível”.
O sucesso esportivo é algo complexo e multifatorial, Mas não fique desmotivado, a boa notícia é que muitos
ou seja, não depende de apenas de um componente. profissionais têm se esforçado muito para desenvolver
Dentre esses componentes podemos citar as aspectos métodos que sejam simples, de fácil aplicação e de bai-
de treinamento físico, nutricionais, técnico, tático e psi- xo custo para resolver esses problemas do seu dia-a- dia
cológico. Especificamente, dentro do treinamento físico como atleta”.
uma etapa muito importante tem sido negligenciada na Fonte: Andreato (2017).
preparação de muitos atletas. E não apenas de atletas
iniciantes e com resultados pouco expressivos, mas tam-
bém de alguns atletas com resultados relevantes.
176
material complementar
177 177
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182
gabarito
1. D.
2. A.
3. C.
4. B.
5. B.
183
conclusão geral
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste livro e es- violência como promovem amadurecimento social e
peramos que o conteúdo tenha contribuído de ma- motor dos alunos.
neira substancial na sua formação técnica, teórica, Já nos clubes, parques, academias e centros de
científica e crítica. Partimos do princípio de que não treinamento, quando as aulas são ministradas para
é necessário experiência prévia em modalidades de crianças, aplicam-se os mesmo cuidados e progres-
combate para que estes conteúdos sejam aplicados são pedagógica utilizados na escola. Alunos defi-
na escola e, tampouco, para que você atue com a ava- cientes, com dificuldades cognitivas ou mesmo ini-
liação e prescrição de treinamento para estes atletas ciantes também se beneficiam dos jogos de oposição
e praticantes. e brincadeiras de luta. Quanto aos praticantes mais
Para reforçar nosso ponto, abordar o conteúdo avançados e os atletas, lembre-se que um dos princí-
“Luta” em ambiente escolar não se trata de uma es- pios mais importantes do treinamento desportivo é a
colha do professor, mas sim um compromisso com a especificidade. Procure elaborar treinos que se asse-
cultura do movimento humano. Além disso, é uma melham ao combate real e não se esqueça da impor-
das indicações da Base Nacional Comum Curricu- tância das avaliações, sejam elas gerais ou específicas.
lar. Para isso, apresentamos inúmeras possibilidades, Outra demanda atual envolve a prática de exer-
desde o convite a mestres e treinadores e visitas aos cícios que remetem às lutas, mas que apresentam
locais de prática às atividades com vídeos, palestras objetivo estético, de saúde e/ou lazer. Independente-
e oficinas. Porém, lembre-se que, idealmente, os jo- mente do local ou abordagem, esperamos que este li-
gos de oposição e as brincadeiras de luta são com- vro tenha instrumentalizado sua prática e embasado
ponentes de fácil aplicação e que não só diminuem a seus conceitos teóricos. Desejamos sucesso.