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O

Autêntico
Método
do Barça
Nível 2. Aprender a
Jogar com os
Companheiros

Laureano Ruiz
O AUTÊNTICO MÉTODO DO BARÇA PARA DESENVOLVER JOGADORES
Laureano Ruiz

Nível 2 – Aprender a Jogar com os Companheiros (dos 11 aos 14 anos)

- Uma criança, uma bola;


- Neste nível, as crianças devem estar em permanente contato com a bola;
- É vital que cada criança tenha a sua bola, fazendo-a sua amiga permanente e
dedicando o seu tempo livre ao ensaio e domínio da habilidade;
- Pela necessidade de equilíbrio, recomendamos que dediquem muito tempo a
executar malabarismos, tentando manter a bola o máximo tempo possível no ar e
utilizando como superfícies de contato os pés, as coxas, o peito e a cabeça. Estes
malabarismos exigem um movimento contínuo dos pés para se conseguir o equilíbrio
conveniente, o que dará a longo prazo um grande controlo corporal;
- No Nível 1, as crianças eram totalmente egocêntricas, mas agora, ao conviverem com
os outros, conseguiram ter consciência da realidade e descobrir a sua personalidade.
Por isso, é o momento de iniciar o jogo coletivo, ainda que não se abandone o
individual fazendo-se grande finca-pé em aperfeiçoar o controlo da bola, os dribles e
as fintas;
- Iniciaremos o jogo coletivo, já que física e mentalmente as crianças já têm capacidade
de superar os nossos ensinamentos;
- As crianças têm de compreender que realizar um passe para a corrida de um
companheiro e para onde os adversários não o esperam, é uma jogada muito superior
ao melhor drible. Também é superior ao melhor drible uma desmarcação de
“dispersão” (levar um ou mais adversários a uma posição falsa), para criar um espaço,
onde aparecerá um companheiro sem oposição;
- Os mestres do nosso desporto estão convencidos de que só praticando o futebol,
competindo, se aprende a jogar. Isto é certo, mas existem muitas dificuldades. Por
exemplo, a obsessão que os pais têm por ganhar, treinadores, diretores e jogadores
faz com que, competindo, poucas vezes se alcance o objetivo;
- Para se “ser” futebolista há que controlar perfeitamente a bola, saber conduzi-la e
passá-la antes ou depois do drible. Como os principiantes ainda não o dominam,
cometem erros que custam golos e, quem sabe, o jogo;
- Pelo exposto, os treinadores obcecados com o resultado compreenderam – não de
maneira racional, mas intuitiva – que se os aprendizes batem a bola para a frente – ou
para fora -, desaparecem os erros e os golos na sua baliza. E se os adversários tentam
elaborar o jogo, é fácil ganhar o encontro, aproveitando os seus inevitáveis erros;
- Os cinco principais objetivos que pretendemos alcançar neste nível são os seguintes:
1. Ocupar bem o terreno, para que diminua a densidade de jogadores em pouco
espaço, o que facilitará a relação criança-bola-companheiros e também o domínio da
bola e equilíbrio do corpo;
2. A aprendizagem do controlo da bola, a sua condução, drible, remate e
cabeceamento. Pretendemos que todos saibam superar um adversário, num confronto
direto;
3. Adquirir o hábito de deslocar-se e estar em movimento constante, mas com sentido
do jogo, não de forma aleatória (sem bola);
4. Ao final deste Nível 2, aprendizagem da proteção da bola, início no domínio das
fintas e começo de um trabalho específico para melhorar a perna “débil”;
5. Como aos 13 anos todos os jovens terão conseguido o hábito de prosseguir na
jogada depois de desprender-se da bola – “quando a passo, começo a jogar” –, aqui
começa o ensino da “tabela/parede”.

Os jovens que têm talento são individualistas. Agora há que fazer-lhes compreender
que, trabalhando em grupo, com os companheiros, o jogo adquire outra dimensão e
a diversão unida à qualidade acrescenta-se.

A Maturidade Tática:
- No aspeto coletivo irá procurar-se a organização do jogo e a maturidade tática de
toda a equipa. Para o atingir haverá um plano, um sistema, um estilo de jogo, o qual se
repetirá e se aperfeiçoará, desenvolvendo-o por vezes na sua totalidade, ainda que o
normal será fracioná-lo, mediante diversos jogos com os que se exercitam e melhoram
os seus princípios básicos: marcações, coberturas, recuos, desdobramentos,
desmarcações, etc.;
- Convém ressaltar que a aprendizagem da tática é o resultado de um ensino
sistemático, como o é o da técnica. Os jogadores, durante o jogo, esquecem-se
involuntariamente das ideias e dos ensinamentos recebidos, mas se estes praticam-se
e repetem-se frequentemente durante os treinos, mais cedo ou mais tarde o
assimilarão;
- Muito importante: Sabemos que o jogador pode melhorar muito a sua condição física
e a sua capacidade técnica, mas nunca de uma forma muito imediata. Precisa-se de um
longo tempo de prática constante. No entanto, muitos aspetos táticos podem ser
melhorados instantaneamente. Basta uma reflexão própria, do treinador e,
inclusivamente, de um companheiro de equipa;
- Estes treinos devem completar-se e complementar-se com a “auto-aprendizagem”. A
criança em sua casa pratica o que não lhe saiu bem no treino ou efetua os exercícios
que o treinador lhe mandou fazer. Estas práticas extras serão estruturadas mediante
programas curtos, adequados à idade dos jogadores. As crianças deverão partilhar
estes jogos com seus irmãos, familiares ou amigos;
- Aconselhamos que os jovens até aos 14 anos atuem em diversas posições, para
depois se especializarem no lugar que tiverem um melhor rendimento;
- A experiência diz-nos que um jovem que se destaca a jogar futebol é porque pratica
muito. Ao praticar mais, joga melhor;
- Mas também sucede o contrário: há jovens que têm excelentes qualidades mas que
não sabem jogar (uns por excessivo alargamento das suas extremidades, o que lhes
produz descoordenação e, a maioria, por ter um desenvolvimento físico tardio). Os
seus treinadores devem prever que quando os primeiros consigam que os seus
membros se equilibrem – com o que alcançarão uma boa coordenação – e os
segundos lhes chegue o crescimento interno e externo, a plenitude, ambos chegarão a
jogar dentro de um nível máximo, sempre que vão treinando muito e bem;
- Para desgraça destes jogadores, a grande maioria, ao não descolar desmotivam-se –
mais ainda se são criticados por companheiros e adultos – e apenas treinam. Assim
temos a repetição de um ciclo: como treinam/jogam pouco, não evoluem. Como não
progridem, ficam desanimados e não treinam. Como não praticam, não melhoram;
- Com a nossa experiência, queremos ajudar os treinadores e jogadores novatos
explicando-lhes as causas pelas quais os futebolistas não realizam uma análise correta
durante a competição (rematar com muitas dificuldades e sem êxito, em vez de passar
a um companheiro situado claramente perante a baliza, driblar quando um
companheiro está livre, fazer drible na própria área com as luzes de perigo acesas,
etc.). Estes são os fatores que podem originar erros:
• A sua capacidade de análise não está desenvolvida (jogou pouco ou o processo
do seu ensino tático não é correto);
• A intenção do jogador é mais forte que a sua perceção (quase sempre deve-se
a um excesso de nervosismo);
• O seu desconhecimento do regulamento faz com que, durante o jogo, na sua
mente não esteja presente o fora-de-jogo, o que supõe que o seu futebol – em
ataque e em defesa – careça de inteligência;
• Em ocasiões a causa é a falta de domínio da bola por parte do jogador (a sua
insuficiência técnica faz com que tenha de “vigiar” sempre a bola, o que
diminui – logicamente – a observação das posições.

Dar “luz” aos passes:


- As crianças quando começam a jogar, aglomeram-se em redor da bola – as duas
equipas –, o que origina que o portador da bola, desconcertado e nervoso, decida
livrar-se da mesma afastando-a com um pontapé;
- Ao iniciar-se este 2º Nível, tomaremos medidas que solucionem este problema.
Durante o jogo, quase todos os jogadores, quando está na posse de um companheiro,
pedem-na e exigem-na, sem darem-se conta que, pela sua má colocação, não é
possível que ela lhes chegue;
- Para se corrigir esta situação será incutido nos jogadores o que eu chamo de dar “luz”
aos passes, o qual depende do portador da bola e do que, com a sua desmarcação, o
faz possível. Ver a imagem em seguida para uma maior compreensão das nossas
ideias.
Não há “luz”

Há “luz”

Há “luz”
Não há “luz”

- Atingir o explicado é imprescindível para logo desenvolver o jogo entre linhas. Em


todo o mundo os principiantes desmarcam-se de forma rotineira e errada. Se um
companheiro se apodera da bola, sempre correm na direção da baliza adversária. Há
que lhes ensinar que a desmarcação – como vemos na imagem seguinte – pode ser
afastar-se da bola, mas também imobilizar-se ou aproximar-se. O segredo é observar a
posição dos adversários e eleger a desmarcação mais conveniente.
Aproximar-se Imobilizar-se
Afastar-se

- Convém ter em conta que o “entender” o jogo e dar “luz” aos passes o
conseguiremos com os jogos reduzidos, mas também com diversos Meínhos que
inventei.

Mais conselhos e mais jogos:


- Dizíamos que no 1º Nível os treinadores, nos jogos reduzidos, deviam ser pacientes e
intervir pouco, já que as crianças necessitam de menos conselhos e de mais jogo.
Agora devem trabalhar de outra forma, dando-lhes mais conselhos e mais jogos
reduzidos;
- Quando os jogos começam, o treinador observará com toda a atenção e após 8-10
minutos os parará para os jovens recuperem, aproveitando para corrigir os defeitos
mais relevantes, mas sem os martirizar. Para isso, também realçarão as jogadas
excelentes. Tudo isto será repetido durante todo o treino;
- Com os jogos no treino, queremos aperfeiçoar o método, a organização de jogo e os
gestos técnicos. Isto é, tudo o que depois se aplicará na competição. Mas o jogo deve
possuir um alto ritmo e isto depende do treinador. Se é deixado ao livre arbítrio dos
futebolistas, estes – por comodidade – jogarão de maneira lenta e sem intensidade.

Três Conselhos aos Treinadores:


1. O ritmo intenso e forte que pretendemos é imposto pela equipa e jogadores que
não tem a bola, baseando-se num jogo enérgico e poderoso, o qual aumenta a
capacidade dos adversários;
2. Começando este nível, os jovens – Guarda-Redes incluídos – deverão utilizar as
caneleiras, porque se jogam com a intensidade que pretendemos, os golpes são
inevitáveis;
3. Depois dos jogos, comprovamos, em jogadores que tinham tido um rendimento
desastroso, que tinham as meias muito apertadas o que não permitia a correta
circulação do sangue.

Em resumo, os jovens jogarão de maneira informal uma infinidade de jogos reduzidos.


Quando se quiser ter um jogo “sério”, cada equipa formará com um Guarda-Redes e 4
jogadores de campo. O terreno de jogo terá umas medidas de 40x30m, com balizas de
Futsal (4x2m). As áreas – único local onde há fora-de-jogo – estarão delimitadas por
uma linha arredondada que partirá da linha de baliza, mas distanciada 5m de cada
poste. Num campo regulamentar podem-se jogar ao mesmo tempo 4 jogos, com uma
zona central livre, para os treinadores e jogadores suplentes.
Quando os jogadores consigam compreender e dominar o sistema do Futebol de 5 –
normalmente aos 12 anos –, passarão a jogar Futebol de 7.

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