Você está na página 1de 3

Aula: 19

Temática: A narração e a narratividade

Em vários momentos do nosso dia-a-dia, deparamo-nos


com inúmeros textos narrativos: estamos sempre contan-
do algo ou ouvindo o relato de alguém. O mesmo ocorre
quando abrimos um jornal, ouvimos um noticiário ou assistimos a um tele-
jornal. Esses textos, embora narrativos, não são considerados, por alguns
autores, narração, uma vez que não pertencem ao campo da ficção, que
não têm por objetivo o envolvimento do leitor pela trama, pelo conflito. Di-
ferentemente do da narração, seu propósito é transmitir fatos acontecidos,
situações vividas, informações. Seriam relatos.

Narração Relato
- reflexão - informação
funções
- ludicidade - argumentação
- apresentação de acon-
- apresentação de fatos verídi-
tecimentos imaginários,
cos, cujos agentes são seres hu-
características vividos pelos seres ao
manos ou instituições, e que se
básicas longo de um determina-
deram num determinado tempo
do tempo e num certo
e num certo espaço
espaço
- presença freqüente de
- presença freqüente de marca-
marcadores temporais
dores temporais
- linguagem conotativa
trabalho de - linguagem denotativa
- predominância dos
linguagem - predominância dos tempos do
tempos do pretérito
pretérito
- coerência interna (nos
- coerência interna e externa
fatos e nas figuras)

O ponto em comum entre esse tipo de texto e as narrações ficcionais é que


ambos são marcados pela temporalidade. É isso que nos permite dizer que
nos relatos há narratividade, ou seja, o modo de ser da narração.

Há narratividade, portanto, em qualquer texto marcado pela seqüência


temporal de acontecimentos e pela transformação sofrida pelos seres (ani-
mados ou inanimados) neles envolvidos.

Em sua edição de 2 de junho de 2002, O Estado de S.Paulo deu o seguinte


título a uma das reportagens de seu caderno de “Economia & Negócios”:
Com a Samello, pólo de Franca vai ao topo da moda. Nesse título há narra-
tividade, pois havia pressuposta uma situação inicial A (embora seja, já há
UNIMES VIRTUAL
88 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO
muito tempo, um importante produtor e exportador brasileiro de calçados,
Franca ainda não havia chegado ao topo da moda internacional) que, numa
sucessão de acontecimentos (trabalho da família Samello, investimentos,
negociações) levou a uma situação B (a Samello, tradicional fabricante de
calçados masculinos de Franca, estava começando, em 2002, a fornecer
seus produtos para a Car-Shoe, marca do grupo italiano Prada), distinta da
anterior.

O texto abaixo, em linguagem não verbal, também apresenta narratividade.

Crescimento da População Urbana Mundial


população rural população urbana

80%
70%
60% 68%
62%
50%
55% 54%
40% 46%
45%
30% 38%
32%
20%
10%
0%
1955 1975 1995 2015

Fonte: Fundo de População das Nações Unidas (apud Miriam & Miriam.
Geografia/Economia Urbano-Industrial. S.P. Ed. Nova Geração, 2001, p.67

Vamos analisar e entender por que podemos dizer que esse gráfico apre-
senta narratividade: em seu título, “Crescimento da população urbana
mundial”, já aparece uma idéia de mudança de situação – a população
urbana cresceu, enquanto a rural diminuiu; as colunas estão agrupadas
aos pares e organizadas em ordem cronológica (1955, 1975, 1995, 2015),
já que essa mudança se deu ao longo do tempo, havendo, inclusive uma
projeção para 2015.

Mesmo que o gráfico não tivesse título (o que não deve acontecer), seria
possível perceber a narratividade nas mudanças que percebemos nas co-
lunas que registram as porcentagens.

O mesmo acontece com o gráfico de linha reproduzido a seguir, que mos-


tra o comportamento da produção e da importação de petróleo, no Brasil,
entre os anos de 1954 e 1999. Há nele, portanto, narratividade.

UNIMES VIRTUAL
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO 89
Época. no. 56. 14/6/99

UNIMES VIRTUAL
90 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO

Você também pode gostar