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UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná

Departamento de Filosofia

Centro: Ciências Humanas e da Educação


Tema: A Educação Pedagógica de Aristóteles
Professor (a): Antônio Carlos de Souza
Aluno (a): João Pedro Langame Mairinck
Curso: Filosofia

A Educação Pedagógica de Aristóteles

1) O presente escrito tem o objetivo de analisar os métodos lógicos, pedagógicos e educacionais


aristotélicos, tanto ontológicos, políticos, lógicos, metafísicos e retóricos, partindo da
concepção de Aristóteles no que condiz a educação, extraindo traços educacionais dos
mesmos e aplicando eles na realidade.

Aristóteles e a Educação

A educação aristotélica, é vista em várias ferramentas descritas em todo o corpus aristotelicum, como
a poética, retórica, política, metafísica, categorias e ética. Começando com a poética, Aristóteles traz a
concepção de (mímēsis) que é o método imitativo, ele descreve que ao presenciar algo na realidade o
ser humano mimetiza em sua mente esse algo, tanto por meio de sons, imagens artísticas, diálogos e
observação do real, mas o que isso tem a ver com a educação? Tem tudo a ver, pois o ser humano se
educa através da sua experiência, seja ela uma experiência artística e contemplativa de uma obra de
arte, ou seja, ela uma experiência natural que é a visualização e observação da natureza e das coisas da
realidade, por exemplo, se eu visualizar uma linda árvore com flores, logo gravarei a imagem dessa
árvore em minha mente de forma mimética, e sendo assim aprendi e me eduquei através da minha
visualização dessa árvore e gravei ela em minha mente, pois a educação também é aquilo que vemos e
experienciamos como seres viventes. Uma pessoa, que mimetiza algo por meio de sons, falas e
diálogos, também está se educando, por exemplo, um aluno que está em sala de aula, quando ouve a
fala do professor, se essa fala for de fácil compreensão e boa didática, logo esse aluno ao ouvir essa
fala gravará ela de forma mimética em sua mente. Segundo Aristóteles, alguns mimetizam muitas
coisas, apresentando-as em imagens por meio de cores e esquemas (em função da arte ou do hábito);
outros fazem por meio do som, devido a isso penso, que se um aluno em sala de aula tiver o hábito de
ouvir o som da fala do professor e sua linguagem e também se ele tiver uma prosa com esse professor,
que Aristóteles denomina como linguagem em prosa (mónon toîs lógois psiloîs), e tiver uma
observação atenta nas imagens reais e cores da sala de aula, ao gravar todas essas coisas em sua
mente, esse aluno está se educando de forma mimética. (Aristóteles, APIITOTEAOTI IIEPI
IlOIHTIKID (Poética), páginas 41–43).

Agora falaremos da educação metafísica aristotélica, abordando a educação através da concepção do


real e além do real, ainda utilizando o mesmo como ponto de partida para a nossa análise. Segundo
Aristóteles, todo homem deseja conhecer por natureza, ou seja, todo ser humano como ser vivente
deseja conhecer algo, seja ele real ou meta real, que podemos dizer o conhecimento das coisas que
estão além do aqui e do agora. Ao observamos a natureza e os acontecimentos físicos ocorridos no
nosso dia a dia, como o movimento dos carros que andam na rua, a observação do céu e o
relacionamento que temos com outras pessoas e nossa conversa com elas, através da compreensão e
observação dessas coisas, estamos nos educando, pois elas nos traz o conhecimento da realidade, e faz
com que alguns de nós queiramos ir além da própria realidade, por exemplo, quando eu observo os
acontecimentos e as coisas ao meu redor, isso me dá o desejo de querer ir além desses acontecimentos,
mesmo sendo as coisas que estão além desses acontecimentos inacessível para mim, sei que tem uma
série de fatores políticos e sociais que faz esses acontecimentos ocorrerem, e que às vezes são visíveis
ou invisíveis. Os fatores políticos e sociais invisíveis que influenciam de alguma forma a realidade
humana, não podem ser descobertos ou visualizados por uma grande parcela de pessoas da sociedade,
e isso faz que esses fatores políticos e sociais pareçam primeiros motores metafísicos aristotélicos, e
que sejam inalcançáveis para algumas pessoas da sociedade. Essas pessoas têm uma educação
observatória dos movimentos e acontecimentos ao seu redor, mas não podem alcançar os fatores
políticos e sociais usados por políticos do alto cargo público que, influenciam os movimentos e
acontecimentos que elas visualizam, pois a educação delas é precária demais para que possam
alcançarem esses fatores, e isso é intencional de políticos da burguesia que usam fatores políticos e
sociais para que a educação de muitas pessoas da sociedade seja limitada, impossibilitando que elas
possam ir além, como sociedade e seres viventes. Se para Aristóteles, o homem deseja conhecer por
natureza, para mim nem todo homem que faz parte da natureza pode conhecer todas as coisas que
estão na própria natureza onde ele se encontra, sejam elas políticas ou sociais, independente de qual
seja seu gênero. E devido a isso, tenho a conclusão de que as pessoas da sociedade necessitam de uma
educação metafísica social, para que alcancem a causa primeira, tanto política e social, que influencia
a realidade que elas observam. (Aristóteles, ΤΩΝ ΜΕΤΑ ΤΑ ΦΥΣΙΚΑ A (Metafísica) Livro I
(A), páginas 79-80).

A Educação Justa e Ética de Aristóteles

Para Aristóteles, ser justo e ético é agir de forma justa e eticamente, ou seja, uma pessoa só é justa e
ética se ela age conforme a ética social e justiça social. Portanto, se ela age de forma justa e
eticamente como participante da vida social, ela tem uma educação justa e ética independente da sua
posição social, por exemplo, se uma pessoa xinga, maltrata ou fere o caráter de outra pessoa por meio
de calúnias e difamações, ela é injusta e anti-ética. E isso mostra que ela não tem uma educação ética
e justa, pois a educação é ética e justa, sei que nem todas pessoas da sociedade conseguem ter uma
educação ética e justa, pois mesmo a educação sendo ética e justa, muitas pessoas da sociedade não
são alcançadas e contempladas por ela, e isso é visível atualmente, e principalmente no Brasil que a
educação pública é desvalorizada nos estados, e propriamente pelos governadores desses estados, e
devido a isso a educação deixa de ser justa e ética para muitos da sociedade, pois a mesma passa a ser
injusta e anti-ética para eles. Ela também passa a ser desigual, pois para Aristóteles ser justo é ser
igual, e é o dever do estado manter a igualdade entre seus indivíduos, e garantir que todos eles sejam
contemplados com as ferramentas necessárias para sua sobrevivência na sociedade e dentro dele
mesmo. Nas palavras de Aristóteles, em última instância, ser justo consiste em ser igual, e no entender
do mesmo: uma relação é justa, seja ela uma relação entre pessoas ou uma relação entre um estado e
seus indivíduos, no entanto, ela só é justa desde que essas pessoas e o estado promovam a igualdade, e
isso tem tudo a ver com a educação, pois se ela é igual para todos os indivíduos da sociedade, então a
relação dela com essas pessoas da sociedade é justa e ética. Mas não é o que vemos no Brasil
atualmente, quando o novo ensino médio diminui, a carga horária de duas ferramentas importantes
para o conhecimento humano que é a filosofia e sociologia. Pois não querem uma sociedade que
pensa, mas sim uma sociedade que aceite tudo aquilo que eles falam, fazem e mostram, mesmo que
seja um absurdo humano. (Aristóteles, HΘIKA NIKOMAXEIA (Ética a Nicômaco) Livro V (5),
tradução, Introdução e Notas de Marco Zingano, Página 26).
Aristóteles Nos Dias Atuais

Falar que Aristóteles, tem total influência no meio educacional atual seria um exagero, mas falar que
ele não tem influência nenhuma é um exagero maior ainda, pois a educação ainda hoje tem uma
influência em pequeno grau de alguns escritos aristotélicos, seja eles lógicos, metafísicos ou éticos, e
isso se aplica através da lógica aristotélica, principalmente nos argumentos lógicos e pedagógicos dos
meios educacionais atuais, no que condiz a sua argumentação em forma de textos e explicações nos
colégios e faculdades, por exemplo, um professor ao trazer um argumento em sala de aula, seja ele um
argumento retórico ou escrito, não pode se contradizer segundo o princípio da não contradição que é
um silogismo aristotélico, esse professor deve ser lógico em sua definição e explicação argumentativa
perante seus alunos, isso faz muito sentido atualmente, pois claramente existe professores lógicos e
não contraditórios em suas definições retóricas e escritos argumentativos em sala de aula, e isso é
muito aristotélico, pois foi Aristóteles em seu silogismo que propôs que a definição de algo não pode
ser inconclusiva e contraditória. Ex:

Se uma professora em sala de aula falar para seus alunos que todos os homens são doentes, e for
achado alguns homens não doentes, ela está se contradizendo, pois a fala dela não condiz com a
realidade lógica, mas se, por outro lado, ela falar que alguns homens são doentes, e for achado alguns
homens doentes, ela não está se contradizendo, pois a fala dela condiz com a realidade lógica, porque
A deve ser A e não B. Esse método lógico, é muito usado nos meios educacionais, acadêmicos e
científicos, onde um argumento deve ser lógico e não ser contraditório em nenhuma parte, seja ele
acadêmico, educacional ou científico. Aristóteles, fala que é impossível alguém supor que algo é e não
é ao mesmo tempo, pois uma coisa é ou não é, ela não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Ex:

Se eu falar que todos os seres humanos são bons por natureza, e for encontrado seres humanos maus,
que roubam, matam e que destrói seu próprio corpo e alma, eu estarei me contradizendo, pois minha
fala não condiz com a realidade lógica silogística aristotélica, mas se, por outro lado, eu falar que
alguns seres humanos são bons por natureza, e for achado seres humanos bons, que respeitam as
pessoas, não matam, não roubam e que cuidam do seu próprio corpo e alma, eu não estarei me
contradizendo, pois minha fala condiz com a realidade lógica silogística e aristotélica, porque Pedro
deve ser Pedro e não Paulo. O que foi dito anteriormente, pode ser denominado “Educação Lógica
Aristotélica”, que se aplica de alguma forma nos meios educacionais, acadêmicos e científicos atuais.
(Aristóteles, ΤΩΝ ΜΕΤΑ ΤΑ ΦΥΣΙΚΑ Γ Livro IV (Γ) Metafísica, Livro 4, 1005 a 1 capítulo 3
20, página 153).

Quadro Lógico
Ex:

A no quadro lógico é contraditório a letra E, porque se estou afirmando que algo é A esse algo não
pode ser E. Pois a lógica consiste nas afirmações conclusivas e definitivas, e que uma afirmação deve
ser ela mesma e não contraditória a ela mesma.

A Educação Lógica e Categorial Aristotélica

Para Aristóteles, a existência consiste em categorias lógicas e substanciais, que são as ditas
substâncias do ser, por exemplo, o homem faz parte da categoria humana, e este mesmo consiste em
matéria, esse método categorial lógico do ser faz parte da educação aristotélica, pois o ser que analisa
as categorias e substâncias da existência, está partindo de uma educação filosófica para analisar essas
categorias e a própria existência. O método lógico pedagógico educacional aristotélico, consiste no
analisar as categorias da existência, pois a educação não existiria sem uma análise da existência, tanto
ontológica, social e política, a educação para Aristóteles consiste em vários métodos de análise, tanto
política, lógica e poética e também da análise partindo da própria educação, para ele a educação é uma
atividade que contém vários métodos de análise. Segundo a sua fisiologia política, Aristóteles diz que
o homem é por natureza um ser civil (physei politikon zôon), ou seja, o mesmo tem uma tendência em
viver em comunidade política, sendo assim se o homem é um ser civil e político, ele deve ser educado
e também educar a si mesmo como um ser civil e político, e entender as categorias e substâncias da
sua própria existência. (Antoine Hourdakis, Aristóteles e a Educação, Página 18, Aristóteles,
Política, 1253 a 2-3, 7-8).

Triângulo Aristotélico

O triângulo acima nos mostra, um tipo de categoria educacional aristotélica, onde a base é a natureza,
ou seja, o natural e real, pois a educação começa, pela observação e percepção do real e aquilo que é
natural da existência humana, e é através da atividade analítica das categorias dessas coisas reais e
naturais, que é feita a educação aristotélica, para que o ser humano entenda onde ele se encontra como
um ser civil e político na sociedade. É na fisiologia política que Aristóteles traz a sua teoria da
educação, a mesma devido à atenção do legislador, deve desenvolver todas as condições necessárias
para a segurança do regime e saúde do Estado. A fisiologia política aristotélica pode ser considerada
uma categoria lógica educacional, pois é através da mesma que se analisa a existência política e
social. (Antoine Hourdakis, Aristóteles e a Educação, Página 22, Aristóteles, Política, 1263 b,
páginas 36–37). Agora, falaremos das categorias educacionais aristotélicas que descrevem o ser
enquanto existente, as quais são:
1. Substância (τὸ τί ἐστι, to ti esti, õὐσία, ousia, substantia). É o suporte no qual a matéria se assume
uma forma. Nela agem as quatro causas. As substâncias podem ser vistas em seus aspectos essenciais
ou acidentais, conforme Porfírio aplicou a ideia de acidente. Um exemplo, humano, pedra.

2. Quantidade (ποσόν, poson, quantitas). Por exemplo, dois humanos, três pedras.

3. Qualidade (ποιόν, poion, qualitas). Alto, forte, pesado.

4. Relação (πρός τι, pros ti, relatio). Diante de, conectado a.

5. Lugar, espaço (ποῦ, pou, ubi). Casa, na cidade.

6. Quando, tempo (πότε, pote, quando). Hoje, ontem, 15:30.

7. Estado (κεῖσθαι, keisthai, situs). Indica a postura. Sentado, em pé.

8. Hábito (ἔχειν, echein, habere). Ter uma pedra de estimação. Vestir roupas.

9. Ação (ποιεῖν, poiein, actio). Caminhando, vivendo.

10. Paixão (πάσχειν, paschein, passio). Ter sido alvejado por uma pedra, resposta com um sorriso.

Podemos ver que as categorias aristotélicas, se referem a aspectos do ser, começando com o próprio
ser como ponto de partida para que seja feita a análise dessas categorias aristotélicas, e isso é um tipo
de educação analítica educacional, onde o ser humano analisa os aspectos e categorias da sua própria
existência. A substância aristotélica é onde a matéria assume uma forma propriamente dita, e se o ser
humano é dito de alguma substância o mesmo tem uma forma em si. Para entendermos as categorias
aristotélicas de forma educativa e pedagógica, começaremos pelo ser, sua quantidade, qualidade, seu
lugar, sua paixão, seu tempo e estado, esse ser se chama Pedro, ele tem dois braços e duas pernas
(quantidade), ele é bom (qualidade), ele está no planeta terra (lugar), ele levou uma pedrada (paixão),
pois sofreu uma ação praticada por outro, ele se encontra no presente (tempo), ele está na sala de aula
estudando (estado), ele lê livros todos os dias (hábito). Podemos ver, que as categorias aristotélicas, é
um processo que descreve o movimento humano e existencial, e isso é uma forma educacional de
análise da existência humana, onde é descrito cada um dos aspectos do mesmo. (Aristóteles,
KTHΓOPIAI (Categorias), páginas 32–33).

Quadro Das Categorias Aristotélicas


Agora, trarei uma concepção diferente das categorias aristotélicas ditas substâncias, trazendo
a tona que uma análise lógica existencial do ser é um tipo de educação, mostrando que o
conhecimento humano é buscado de várias formas e é mostrado de várias formas.

2a11 A substância, para Aristóteles, é dita no sentido mais fundamental, primeiro e absoluto,
a que não é dita de nenhum sujeito, e nem está em algum sujeito, por exemplo, um homem
individual e o cavalo individual. Ou seja, se a substância primeira é individual, então as
coisas do universo que provém desta substância, principalmente a espécie humana, são
individuais, mas individuais determinadas por que provém dela, sendo assim são elas
segundas substâncias, ou seja, elas são espécies que subsistem nas substâncias ditas no
sentido primeiro. Elas também são gêneros, por exemplo, o homem individual subsiste na
espécie homem e o gênero do mesmo é animal, e, portanto, tanto o homem quanto o animal
são segundas substâncias. Se a substância primeira ontológica aristotélica, não é dita de
nenhum sujeito, então a espécie humana e animal que provém dessa substância são
individuais e determinadas por algum sujeito, ou seja, são determinadas pela própria
substância primeira, se tornando segunda substância. (Aristóteles, KTHΓOPIAI
(Categorias), livro V (5), páginas 113–115).

2a19 Se o homem, é predicado da espécie humana, então esse homem, como espécie do gênero
humano, é segunda substância como toda sua espécie, ele provém da substância primeira individual, e
devido a ela, ele como espécie e gênero humano também é individual, mas individual determinado
pela mesma. Se o homem é dito do homem individual, então a sua individualidade, não está posta
somente em si mesmo, mas em toda sua espécie, como segunda substância (essência). (Aristóteles,
KTHΓOPIAI (Categorias), livro V (5), página 115).

2a34 A substância primeira, é um sujeito que não se encontra em nenhum sujeito, é desta mesma que
todas as outras coisas são ditas segundas substâncias (espécie, gênero). Se ela, não se encontra em
nenhum sujeito, então as outras coisas que provém dela mesma, como o ser humano e os animais, suas
espécies e seus gêneros, se encontram em algum sujeito e se predicam desse sujeito, ou seja, eles se
encontram e se predicam na própria substância primeira, e é por isso que são ditas segundas
substâncias. Para Aristóteles, se não haver substâncias primeiras, é impossível que haja todas as outras
coisas, pois todas as outras coisas são ditas da substância primeira que é um sujeito. O ser humano e
os animais, são transcendentes como segunda substância, e se encontram presentes no universo, e
portanto, por serem segundas substâncias a sua origem transcendental é a própria substância primeira.
(Aristóteles, KTHΓOPIAI (Categorias), livro V (5), páginas 115–117).

2b7 Ele, o próprio ser humano, como segunda substância, se aplicando somente a sua espécie, é mais
substância que seu gênero, pois a sua espécie, na totalidade sem se aplicar ao seu gênero, está mais
próxima à substância primeira e por ela é determinada. (Aristóteles, KTHΓOPIAI (Categorias),
livro V (5), página 117).

2b22 Agora, se aplicando ao seu gênero, o ser humano e sua espécie na totalidade, não é mais
substância do que algo que se encontra dentro da sua própria espécie, porque para Aristóteles todas
aquelas, dentre as mesmas espécies, que não são gêneros, em nada uma é mais substância que a outra.
Portanto, se o ser humano como segunda substância não é mais substância que sua própria espécie,
que é dita das substâncias primeiras, então ele mesmo e sua própria espécie não é mais substância um
do outro, pois se encontram em si mesmos. Um exemplo que Aristóteles dá para isso, é do homem
individual e do boi individual, que fazem parte da mesma espécie, uma humana e outra animal, para
ele tanto o homem individual quanto o boi individual são substâncias no mesmo nível, fazendo assim
que nenhum dos dois seja mais substância que o outro. (Aristóteles, KTHΓOPIAI (Categorias),
livro V (5), páginas 117–119).

2b29 O ser humano, como espécie e gênero, sendo ele parte do restante das coisas da existência, é
segunda substância que está além das substâncias primeiras, pois o mesmo é predicado que revela a
substância primeira. Para Aristóteles, as espécies e gêneros são ditos substâncias segundas, e sendo
assim o ser humano é espécie e gênero, e como substância segunda revela a substância primeira.
(Aristóteles, KTHΓOPIAI (Categorias), livro V (5), página 119).

3a21 Existe uma diferença entre a substância primeira e a segunda, pois a primeira não se encontra em
nenhum sujeito, já a segunda se encontra no sujeito que é a própria substância primeira. Portanto, a
segunda substância, espécie e gênero, é o próprio ser humano, o mesmo não pode existir sem ter um
fundamento essencial, ele existe em seu mundo e se encontra nele, mas a sua existência provém de
algo transcendente. (Aristóteles, KTHΓOPIAI (Categorias), livro V (5), página 121).

3a33 Aristóteles diz, que todas as coisas são ditas a partir das substâncias e diferenças, e as mesmas
pertencem a elas. Devido a isso considero a substância primeira, como um sujeito que não se encontra
em outro sujeito, e que dela todas as coisas vem a ser, pois para Aristóteles vindo da substância
primeira não existe predicado, pois a mesma não se encontra em nenhum sujeito, mas se considero a
substância primeira como um sujeito que não se encontra em nenhum sujeito, então ela sendo
primeira, dela mesma provém algum predicado que se encontra presente no sujeito, sendo ele a
própria substância segunda. Para validar meu argumento, utilizarei a norma culta, propriamente a
oração de ordem direta, em que o sujeito, aparece antes do predicado, por exemplo, criei algo e esse
algo pode ser testado (sujeito eu), e, portanto, se na oração de ordem direta o sujeito aparece antes do
predicado, e eu considero a substância primeira um sujeito, que não se encontra e nem se predica de
nenhum sujeito, então a substância segunda, sendo ela especie e gênero, provém da substância
primeira, sendo predicado dela. Na definição de Aristóteles, das substâncias segundas, a espécie
predica-se do indivíduo, mas porque não invertermos essa questão e dissermos que o indivíduo
predica-se da espécie, pois um indivíduo humano é predicado da sua espécie humana e se encontra
nela, Aristóteles também diz que o gênero predica-se tanto da espécie quanto do indivíduo, nessa
questão ele está correto, pois se um indivíduo humano é predicado da sua espécie humana e se
encontra nela, então esse indivíduo humano tem um gênero que se predica tanto da sua espécie que é
humana e dele mesmo, e pode ser ele tanto do gênero masculino quanto feminino. Da mesma forma,
diz Aristóteles, que as diferenças são predicados tanto da espécie quanto dos indivíduos, ou seja, as
diferenças entre as espécies da existência, são predicados tanto dessas espécies quanto dos indivíduos
que fazem parte dessas espécies, sendo eles indivíduos humanos ou animais. (Aristóteles,
KTHΓOPIAI (Categorias), livro V (5), páginas 121–123).

Para Aristóteles, o ser possui vários sentidos, segundo ele o sentido primeiro do ser indica justamente
a substância, e assim ele é descrito, portanto, se Aristóteles está se referindo ao ser enquanto segunda
substância, espécie e gênero, então podemos colocar o ser humano como ponto de partida para uma
análise, tanto de suas características, sua quantidade, qualidade e em que ele consiste como ser
particular, sendo ele segunda substância. Por exemplo, se dissermos o ser humano é bom, estamos
descrevendo uma qualidade, por outro lado, se perguntarmos qual é a estrutura do ser humano, em que
ele consiste, e falarmos ele é feito numericamente de átomos e células, e, portanto, essas são sua
estrutura e consistência, sendo assim estaremos descrevendo a quantidade que faz o ser humano ser o
que é no mundo físico. Aristóteles diz, que a quantidade e qualidade do ser, e o mesmo, não possui
realmente uma existência independente, e não pode ser separado da sua respectiva substância, ou seja,
o ser humano e sua quantidade e qualidade como substância segunda, não pode existir fora de um
sujeito definido, que faz ele se mostrar como existente na existência. (Aristóteles, ΤΩΝ ΜΕΤΑ ΤΑ
ΦΥΣΙΚΑ Z, livro VII (Z) 7, 1102, 8a10, página 225).

A Educação Hermenêutica da Interpretação Aristotélica

Em seu livro chamado “Da Interpretação”, que também pode ser dito como um livro de hermenêutica
(ΠΕΡΙ ΕΡΜΗΝΕΙΑΣ Peri Hermeneias), Aristóteles trabalha a estrutura lógica da linguagem,
principalmente a linguagem natural, onde estuda as proposições de forma analítica e interpretativa.
Ele traz a concepção de que a linguagem, tanto natural quanto escrita, devem ser analisadas em seu
sentido real, podemos dizer que Aristóteles está ensinando uma forma de interpretação, tanto a
interpretação de algo falado, escrito e real. Segundo ele, os sons pronunciados por algo ou por alguém
são símbolos das afecções da alma, ou seja, das mudanças da alma, e que as coisas que se escrevem
são os símbolos dos sons pronunciados, ou seja, quando alguém pronuncia algo esse algo é um
símbolo da alma, e o que é escrito através desse pronunciamento é um símbolo dele mesmo.
Aristóteles diz, que algo escrito e pronunciado não é igual para todas as pessoas, pois cada uma
interpretará conforme seu entendimento dos mesmos, mas por serem afecções da alma, eles são os
sinais primeiros idênticos para todos, por exemplo, se eu escrever algo e esse algo for lido por duas
pessoas, cada uma delas entenderá o que escrevi de forma diferente, ou seja, a minha escrita é idêntica
para elas, mas por não entenderem igualmente à mesma, elas não sabem decifrar o sentido real dela,
isso dependendo da minha escrita, pois se ela tiver muitas figuras de linguagem, é claro que as
interpretações feitas através dela não serão iguais. Aristóteles, revisita a interpretação de forma lógica,
tanto das coisas pronunciadas, escritas e também a interpretação lógica do real, e isso é uma forma de
ensinar, e se é uma forma de ensinar, logo é uma educação. Um professor em sala de aula,
principalmente um professor de português, não deve ensinar somente seu aluno a ler e escrever, mas
deve ensinar ele interpretar de forma lógica o que lê e o que ele mesmo escreve, buscando o sentido
real das palavras lidas e escritas. E para além do que foi dito, um professor também deve ensinar seu
aluno interpretar de forma lógica e hermenêutica a realidade e sua linguagem, visando a vivência real
do seu aluno e seu contexto como um ser social e político, pois a hermenêutica não é somente a
interpretação lógica de textos filosóficos, mas também a interpretação lógica dos acontecimentos reais
da existência, tanto acontecimentos históricos e político-sociais, buscando na base suas falhas e
contradições. (Aristóteles, ΠΕΡΙ ΕΡΜΗΝΕΙΑΣ (Da Interpretação), livro I, Página 2).

A Educação Metafísica das Sensações

Só sabemos, ou podemos definir algo através da percepção empírica, ou seja, olhando e observando a
realidade, como a própria natureza, universo e a espécie humana e seu movimento como ser.
Aristóteles, fala das sensações e sentidos, principalmente o sentido da visão, segundo ele todos os
homens desejam por natureza conhecer. Um indicador disto consiste no nosso zelo pelos sentidos já
que, para lá do seu uso efetivo, temos em atenção a sua própria preservação, e acima de tudo o da
visão. Sem uma percepção visual e empírica da realidade, o ser humano não entenderia, ou teria a
ideia de algo na existência, pois o conhecimento de algo só pode ser entendido através da razão
empírica e perceptível do saber. O conhecimento, também vem através da sensação de sentir a
existência, por exemplo, o barulho das correntezas de um rio e o vento que sopra, e isso é uma forma
de se educar através da observação e percepção do real, e principalmente a observação e percepção
que temos da natureza. Aristóteles, coloca a visão como o principal fator do conhecimento, pois é
através dela que temos a noção de existência, e é essa sensação visual que nos faz ter o desejo de
conhecer um indicador como diz Aristóteles. Portanto, poderíamos conhecer, ou saber da existência
sem a sensação visual? Sim, pois se não tivermos a visão, ainda nos restarão os demais sentidos, como
o sentido de ouvir e o de tocar, e através desse ouvir e tocar também teríamos a noção de existência,
mas não somente a noção de existência, como também a noção, o porquê da existência e seus
acontecimentos, seja eles políticos, ontológicos ou sociais. Isso tudo é um tipo de educação, onde um
indivíduo busca conhecimento através da sua percepção de mundo, e isso se aplica ao seu contexto
social e político como parte da sociedade, ou seja, o ser que busca respostas sobre a existência através
do seu contexto histórico, social e político. A arte, baseada numa estética aristotélica, também tem
grande influência na percepção visual de um indivíduo, onde uma obra de arte representa algo da
realidade e da natureza, mas também pode representar a realidade política social dos indivíduos da
sociedade, tanto uma sociedade burguesa e proletária, composta por indivíduos trabalhadores, por
exemplo, as artes periféricas apresentam a realidade dos indivíduos periféricos, mostrando seu dia a
dia e sua rotina diária, e trazendo um conhecimento para o indivíduo dessa sociedade sobre ela
mesma, mas também mostrando em forma artística um protesto contra a opressão política, e suas
contradições.

Segundo Aristóteles, o belo não pode se desligar do homem já que ele está em nós, para ele a arte
(téchne) pode abordar tanto o irracional e impossível, e uma obra de arte pode mostrar tanto a
irracionalidade social quanto a razão e o belo social, pois a mesma deve trazer o que tem de mais belo
na sociedade como existente, e as irracionalidades sociais e políticas que a cercam. Ele diz que a arte é
uma criação humana, então logo a mesma é uma representação da realidade de cada indivíduo social e
político da sociedade humana, e se aplica ao seu contexto histórico e político-social. (Santoro, Arte
Final em Aristóteles, Página 2, Aristóteles, ΠΟΛΙΤΙΚΩΝ (Política), livro 7 1333a, página 4,
Aristóteles, ΤΩΝ ΜΕΤΑ ΤΑ ΦΥΣΙΚΑ A (Metafísica) Livro I (A), páginas 79–80).

Autor do texto: João Pedro Langame Mairinck

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Aristóteles. Política, Tradução de Edson Bini (Edipro, 2019).

Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Ciência da Lógica 2. A Doutrina da Essência (Editora Vozes,
Petrópolis, 2017).

Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Fenomenologia do Espírito (Editora Vozes, Petrópolis, 2014).

Giovanni Reale. História da Filosofia Antiga, Livro V 5. Léxico, Índices e Bibliografia, Tradução de
Marcelo Perine (Edições Loyola, São Paulo, 1995).

Martin Heidegger. Ser e Tempo (Editora Vozes, Petrópolis, 2015).


Hans Georg Gadamer. Verdade e Método I, Traços Fundamentais de Uma Hermenêutica Filosófica
(Editora Vozes, Petrópolis, 2015).

Karl Marx. O Capital Livro I, Crítica da Economia Política. o Processo de Produção do Capital
(Boitempo, São Paulo, 2011).

Santoro, F. Arte Final em Aristóteles. Disponível em:


<http://jayrus.art.br/Apostilas/LitLatina/arte_no_pensamento_de_aristoteles.pdf>. Acesso em: 22 de
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https://ensaiosenotas.com/2022/03/24/as-categorias-de-aristoteles/

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