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_________________________________________IFPA - Edificações - Estruturas de Concreto I

4. Estados-limite, ações e segurança

4.1. Introdução

Os estados limites podem ser estados limites últimos ou estados limites de serviço. Os estados limites
considerados nos projetos de estruturas dependem dos tipos de materiais de construção empregados e devem
ser especificados pelas normas referentes ao projeto de estruturas com eles construídas.

Os estados-limite considerados no cálculo das estruturas de concreto armado são: estado-limite último
(ELU) e estado-limite de serviço (ELS).

4.2. Estado-limite último ou de ruína (ELU)

O estado-limite último é aquele relacionado ao colapso ou a qualquer outra forma de ruína estrutural
que determine a interrupção, no todo ou em parte, do uso da estrutura. No projeto, usualmente devem ser
considerados os estados limites últimos caracterizados por:

 perda de equilíbrio, global ou parcial, admitida a estrutura como um corpo rígido;


 ruptura ou deformação plástica excessiva dos materiais;
 transformação da estrutura, no todo ou em parte, em sistema hipostático;
 instabilidade por deformação;
 instabilidade dinâmica.

NOTA: Em casos particulares pode ser necessário considerar outros estados limites últimos que não
os aqui especificados.

De acordo com a NBR 6118:2007 item 10.3, a segurança deve sempre ser verificada em relação aos
seguintes estados-limite últimos:

a) estado limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como corpo rígido;
b) estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo ou em parte,
devido às solicitações normais e tangenciais, admitindo-se a redistribuição de esforços internos, desde
que seja respeitada a capacidade de adaptação plástica, e admitindo-se, em geral, as verificações
separadas das solicitações normais e tangenciais;
c) estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo ou em parte,
considerando os efeitos de segunda ordem;
d) estado limite último provocado por solicitações dinâmicas;
e) estado limite último de colapso progressivo;
f) estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo ou em parte,
considerando exposição ao fogo, conforme a ABNT NBR 15200;

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g) estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, considerando ações


sísmicas, de acordo com a ABNT NBR 15421;
h) outros estados limites últimos que eventualmente possam ocorrer em casos especiais.

Os estados-limite últimos, de acordo com a NBR 8681:2003, decorrem de ações que podem ser
classificadas de três maneiras, de acordo com sua variabilidade no tempo:

 permanentes: são as que ocorrem quase permanentemente durante toda a vida da construção, como o
peso próprio dos materiais (NBR 6120:1980).
 variáveis: são constituídas pelas cargas acidentais previstas para o uso da construção (NBR
6120:1980), pela ação do vento (NBR 6123:1988) e da chuva.
 excepcionais: aquelas cujos efeitos não possam ser controlados por outros meios, tais como explosões,
choques de veículos, incêndios, enchentes ou sismos excepcionais.

Domínios de dimensionamento

A ruína da seção transversal para qualquer tipo de flexão no estado-limite último é caracterizada pelas
deformações específicas de cálculo do concreto e do aço, que atingem (uma delas ou ambas) os valores últimos
(máximos) das deformações específicas desses materiais.

Os conjuntos de deformações específicas do concreto e do aço, ao longo de uma seção transversal


retangular com armadura simples (só tracionada) submetida a ações normais, definem seis domínios de
deformação, esquematizados na Figura 4.1. Os domínios representam as diversas possibilidades de ruína da
seção; a cada par de deformações específicas de cálculo.

Para determinar a resistência de cálculo de uma dada seção transversal, é preciso saber primeiramente
em qual domínio está situado o diagrama de deformações específicas de cálculo dos materiais (aço e concreto).

Os domínios podem caracterizar os seguintes tipos de ruptura:

 Alongamento ou deformação excessiva da armadura com valor de 10‰;


 Esmagamento do concreto em seções parcialmente comprimidas, onde a fibra mais comprimida atinge
o valor de 3,5‰;
 Esmagamento do concreto em seções totalmente comprimidas, onde a deformação na fibra situada a
(3/7) h da borda mais comprimida atinge o valor de 2‰.

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Figura 4.1 – Domínios de deformação no estado-limite último (NBR 6118, 2003)

A reta a e os domínios 1 e 2 correspondem ao estado-limite último por deformação plástica excessiva


(aço com alongamento máximo); os domínios 3, 4, 4a, 5 e a reta b correspondem ao estado-limite último por
ruptura convencional (ruptura do concreto por esmagamento).

a) Reta a

- tração uniforme.

b) Domínio 1 – tração não-uniforme, sem compressão:

- início: 𝜀𝑠 = 10‰ 𝑒 𝜀𝑐 = 10‰; 𝑥 = −∞ 𝑟𝑒𝑡𝑎 𝑎, tração uniforme;

- término: 𝜀𝑠 = 10‰ 𝑒 𝜀𝑐 = 0‰; 𝑥1 = 0;

- o estado-limite último é caracterizado pela deformação 𝜀𝑠 = 10‰

- a reta de deformação gira em torno do ponto A (𝜀𝑠 = 10‰);

- a linha neutra é externa à seção transversal;

- a seção resistente é composta por aço, não havendo participação do concreto, que se encontra
totalmente tracionado e, portanto, fissurado;

- tração simples (a resultante das tensões atua no centro de gravidade da armadura – todas as fibras
têm a mesma deformação de tração – uniforme, reta a) ou tração composta (tração excêntrica – não uniforme
onde as deformações de tração são diferentes em cada fibra) em toda a seção.

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c) Domínio 2 – flexão simples (seção subarmada) ou composta

- início: 𝜀𝑠 = 10‰ 𝑒 𝜀𝑐 = 0‰; 𝑥1 = 0;

- término: 𝜀𝑠 = 10‰ 𝑒 𝜀𝑐 = 3,5‰; 𝑥 = 𝑥2,3 = 0,259 ∙ 𝑑;

- o estado-limite último é caracterizado pela deformação 𝜀𝑠 = 10‰;

- o concreto não alcança a ruptura (𝜀𝑐 < 3,5‰);

- a reta de deformação continua girando em torno do ponto A (𝜀𝑠 = 10‰);

- a linha neutra corta a seção transversal (tração e compressão simultâneas);

- a seção resistente é composta por aço tracionado e concreto comprimido;

- a ruína é dúctil ocorre com aviso (grandes deformações no aço).

d) Domínio 3 – flexão simples (seção normalmente armada) ou composta

- início: 𝜀𝑠 = 10‰ 𝑒 𝜀𝑐 = 3,5‰; 𝑥 = 𝑥2,3 = 0,259 ∙ 𝑑;

- término: 𝜀𝑠 = 𝜀𝑦𝑑 𝑒 𝜀𝑐 = 3,5‰; 𝑥3,4 = 0,628 ∙ 𝑑(CA-50), 𝑥3,4 = 0,585 ∙ 𝑑(CA-60);

- o estado-limite último é caracterizado pela deformação 𝜀𝑐 = 3,5‰;

- a reta gira em torno do ponto B (𝜀𝑐 = 3,5‰);

- a linha neutra corta a seção transversal (tração e compressão simultâneas);

- a seção resistente é composta por aço tracionado e concreto comprimido;

- a ruína é dúctil ocorre com aviso (grandes deformações);

- a ruptura do concreto ocorre simultaneamente ao escoamento da armadura: situação ideal, pois os


dois materiais atingem sua capacidade resistente máxima (são aproveitados integralmente).

e) Domínio 4 – flexão simples (seção superarmada) ou composta

- início: 𝜀𝑠 = 𝜀𝑦𝑑 𝑒 𝜀𝑐 = 3,5‰; 𝑥 = 𝑥3,4 = 0,628 ∙ 𝑑(CA-50), 𝑥3,4 = 0,585 ∙ 𝑑(CA-60);

- término: 𝜀𝑠 = 0 𝑒 𝜀𝑐 = 3,5‰; 𝑥 = 𝑑;

- o estado-limite último é caracterizado pela deformação 𝜀𝑐 = 3,5‰;

- a reta de deformação continua girando em torno do ponto B (𝜀𝑐 = 3,5‰);

- a linha neutra corta a seção transversal (tração e compressão simultâneas);


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- no estado-limite último, a deformação da armadura é inferior a 𝜀𝑦𝑑 (não atinge a tensão de


escoamento);

- a seção resistente é composta por aço tracionado e concreto comprimido;

- a ruína é frágil, sem aviso, pois o concreto se rompe sem que a armadura atinja sua deformação de
escoamento (não há grandes deformações do aço nem fissuração do concreto que sirva de advertência);

- São antieconômicas, pois o aço não é utilizado com toda sua capacidade resistente, assim, se possível,
devem ser evitadas.

f) Domínio 4a – flexão composta com armaduras comprimidas

- início: 𝜀𝑠 = 0‰ 𝑒 𝜀𝑐 = 3,5‰; 𝑥 = 𝑑;

- término: 𝜀𝑠 < 0 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)𝑒 𝜀𝑐 = 3,5‰; 𝑥 = ℎ;

- o estado-limite último é caracterizado pela deformação 𝜀𝑐 = 3,5‰;

- a reta gira em torno do ponto B (𝜀𝑐 = 3,5‰);

- a linha neutra corta a seção transversal na região do cobrimento da armadura comprimida;

- a seção resistente é composta por aço e concreto comprimidos;

- armaduras comprimidas e pequena zona de concreto tracionado;

- a ruína é frágil, sem aviso, pois o concreto se rompe com o encurtamento da armadura (não há
fissuração nem deformação que sirvam de advertência).

g) Domínio 5 – compressão não uniforme, sem tração

- início: 𝜀𝑠 < 0 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)𝑒 𝜀𝑐 = 3,5‰; 𝑥 = ℎ;

- término: 𝜀𝑠 = −2,0‰ , 𝜀𝑐 = −2,0‰; 𝑥 = +∞ 𝑟𝑒𝑡𝑎 𝑏, compressão uniforme;

- o estado-limite último é caracterizado pela deformação 𝜀𝑐 = 3,5‰ (na flexo-compressão) e 𝜀𝑐 =


2,0‰ (na compressão uniforme);

- a reta de deformação gira em torno do ponto C, distante (3/7) h da borda mais comprimida;

- a linha neutra não corta a seção transversal, que está inteiramente comprimida;

- a seção resistente é composta por aço e concreto comprimidos;

- compressão simples (uniforme, na reta b) ou composta (excêntrica);

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- a ruptura é frágil, sem aviso, pois o concreto se rompe com o encurtamento da armadura (não há
fissuração nem deformação que sirvam de advertência);

h) Reta b

- compressão uniforme.

NOTA: Os domínios aplicam-se a qualquer seção e disposição da armadura e também a situações de


flexão oblíqua.

4.3. Estado-limite de serviço (ELS)

O estado-limite de serviço é aquele relacionado à durabilidade das estruturas, à aparência, ao conforto


do usuário e à boa utilização funcional das mesmas, seja em relação à pessoas, máquinas e/ou equipamentos.

No período de vida da estrutura, usualmente são considerados estados limites de serviço caracterizados
por:

 danos ligeiros ou localizados, que comprometam o aspecto estético da construção ou a durabilidade


da estrutura;
 deformações excessivas que afetem a utilização normal da construção ou seu aspecto estético;
 vibração excessiva ou desconfortável.

A segurança das estruturas pode exigir a verificação de alguns dos seguintes estados-limite de serviço,
segundo a NBR 6118:

a) estado limite de formação de fissuras (ELS-F): Estado em que se inicia a formação de fissuras.
Admite-se que este estado limite é atingido quando a tensão de tração máxima na seção transversal for
igual a fct (ver 13.4.2 e 17.3.4 da Norma);
b) estado limite de abertura das fissuras (ELS-W): Estado em que as fissuras se apresentam com aberturas
iguais aos máximos especificados em 13.4.2 da Norma;
c) estado limite de deformações excessivas (ELS-DEF): Estado em que as deformações atingem os
limites estabelecidos para a utilização normal dados em 13.3 da Norma;
d) estado limite de descompressão (ELS-D): Estado no qual em um ou mais pontos da seção transversal
a tensão normal é nula, não havendo tração no restante da seção. Verificação usual no caso do concreto
protendido (ver 13.4.2 da Norma);
e) estado limite de descompressão parcial (ELS-DP): Estado no qual garante-se a compressão na seção
transversal, na região onde existem armaduras ativas. Essa região deve se estender até uma distância
dada da face mais próxima da cordoalha ou da bainha de protensão;

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f) estado limite de compressão excessiva (ELS-CE): Estado em que as tensões de compressão atingem
o limite convencional estabelecido. Usual no caso do concreto protendido na ocasião da aplicação da
protensão (ver 17.2.4.3.2.a da Norma);
g) estado limite de vibrações excessivas (ELS-VE): Estado em que as vibrações atingem os limites
estabelecidos para a utilização normal da construção.

Os estados-limite de serviço decorrem de ações que podem ser combinadas de três maneiras, de acordo
com o tempo de permanência na estrutura:

 combinações quase permanentes: combinações que podem atuar durante grande parte do período de
vida da estrutura, da ordem da metade deste período;
 combinações frequentes: combinações que se repetem muitas vezes durante o período de vida da
estrutura, da ordem de 105 vezes em 50 anos, ou que tenham duração total igual a uma parte não
desprezível desse período, da ordem de 5%;
 combinações raras: combinações que podem atuar no máximo algumas horas durante o período de
vida da estrutura.

Cabe ao leitor verificar e aplicar as combinações de ações necessárias ao cálculo e bom desempenho
da estrutura. Vide NBR 8681:2003.

4.4. AÇÕES NAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

Para o estabelecimento das regras de combinação das ações, estas são classificadas segundo sua
variabilidade no tempo em três categorias: a) ações permanentes; b) ações variáveis; c) ações excepcionais.
Ver NBR 8681:2003 e NBR 6120:1980.

Seus valores característicos para verificação das ações de cálculo estão dispostos nas tabelas do
Capítulo 8 - ANEXO.

Permanentes

Ações permanentes são as que ocorrem com valores praticamente constantes durante toda a vida da
construção. Também são consideradas como permanentes as ações que crescem no tempo, tendendo a um
valor limite constante e podem ser diretas ou indiretas. As ações permanentes devem ser consideradas com
seus valores representativos mais desfavoráveis para a segurança.

4.4.1.1. Ações permanentes diretas

As ações permanentes diretas são constituídas pelo peso próprio da estrutura e pelos pesos dos
elementos construtivos fixos e das instalações permanentes. Incluem também os pesos próprios dos elementos
da construção, os pesos dos equipamentos fixos e os empuxos devidos ao peso próprio de terras não removíveis
e de outras ações permanentes sobre elas aplicadas.

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4.4.1.2. Ações permanentes indiretas

As ações permanentes indiretas são constituídas pelas deformações impostas por retração dos materiais
e fluência do concreto, deslocamentos ou recalques de apoio, imperfeições geométricas e protensão. Ver item
11.3.3 da NBR 6118:2007.

Variáveis

É toda aquela que pode atuar sobre a estrutura de edificações em função do seu uso (pessoas, móveis,
materiais diversos, veículos etc.).

Consideram-se como ações variáveis as cargas acidentais das construções, bem como efeitos, tais
como forças de frenação, de impacto e centrífugas, os efeitos do vento, das variações de temperatura, do atrito
nos aparelhos de apoio e, em geral, as pressões hidrostáticas e hidrodinâmicas. Em função de sua probabilidade
de ocorrência durante a vida da construção, as ações variáveis são classificadas em normais ou especiais.

4.4.2.1. Ações variáveis normais

Ações variáveis com probabilidade de ocorrência suficientemente grande para que sejam
obrigatoriamente consideradas no projeto das estruturas de um dado tipo de construção;

4.4.2.2. Ações variáveis especiais

Nas estruturas em que devem ser consideradas certas ações especiais, como ações sísmicas ou cargas
acidentais de natureza ou de intensidade especiais, elas também devem ser admitidas como ações variáveis.
As combinações de ações em que comparecem ações especiais devem ser especificamente definidas para as
situações especiais consideradas.

Excepcionais

Consideram-se como excepcionais as ações decorrentes de causas tais como explosões, choques de
veículos, incêndios, enchentes ou sismos excepcionais. Os incêndios, ao invés de serem tratados como causa
de ações excepcionais, também podem ser levados em conta por meio de uma redução da resistência dos
materiais constitutivos da estrutura.

4.5. Durabilidade das estruturas de concreto

Segundo a NBR 6118:2007, as estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas de modo que
sob as condições ambientais previstas na época do projeto e quando utilizadas conforme preconizado em
projeto conservem suas segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante o período correspondente à sua
vida útil.

A durabilidade das estruturas de concreto requer cooperação e esforços coordenados de todos os


envolvidos nos processos de projeto, construção e utilização, devendo, como mínimo, ser seguido o que

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estabelece a NBR 12655:1996 (Preparo, controle e recebimento do concreto), sendo também obedecidas as
condições de uso, inspeção e manutenção.

Mecanismos de envelhecimento e deterioração

4.5.1.1. Relativos ao concreto

a) lixiviação: por ação de águas puras, carbônicas agressivas ou ácidas que dissolvem e carreiam os
compostos hidratados da pasta de cimento;

b) expansão por ação de águas e solos que contenham ou estejam contaminados com sulfatos, dando
origem a reações expansivas e deletérias com a pasta de cimento hidratado;

c) expansão por ação das reações entre os álcalis do cimento e certos agregados reativos;

d) reações deletérias superficiais de certos agregados decorrentes de transformações de produtos


ferruginosos presentes na sua constituição mineralógica.

4.5.1.2. Relativos ao aço

a) despassivação por carbonatação, ou seja, por ação do gás carbônico da atmosfera;

b) despassivação por elevado teor de íon cloro (cloreto).

4.5.1.3. Relativos ao todo

São todos aqueles relacionados às ações mecânicas, movimentações de origem térmica, impactos,
ações cíclicas, retração, fluência e relaxação.

Agressividade do ambiente

A agressividade do meio ambiente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre as
estruturas de concreto, independentemente das ações mecânicas, das variações volumétricas de origem
térmica, da retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas de concreto.

Nos projetos das estruturas correntes, a agressividade ambiental deve ser classificada de acordo com
o apresentado na Tabela 4.1 e pode ser avaliada, simplificadamente, segundo as condições de exposição da
estrutura ou de suas partes.

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Tabela 4.1 – Classe de agressividade ambiental, adaptado de NBR 6118:2007

Classe de
Risco de deterioração
agressividade Agressividade Tipo de ambiente
da estrutura
ambiental
I Fraca Rural/Submerso Insignificante
II Moderada Urbano 1),2) Pequeno
III Forte Marinho1)/Industrial1),2) Grande
Industrial1),3)/Respingos de
IV Muito forte Elevado
maré
1) Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (um nível acima)
para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de
apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com
argamassa e pintura).
2)Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em: obras em regiões
de clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de
chuva em ambientes predominantemente secos, ou regiões onde chove raramente.
3)Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em
indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas.

4.6. Critérios de projeto relativos à durabilidade (NBR 6118:2007)

A seguir destacam-se os principais critérios recomendados por norma para garantia da durabilidade
das estruturas de concreto armado.

Drenagem

 Deve ser evitada a presença ou acumulação de água proveniente de chuva ou decorrente de água de
limpeza e lavagem, sobre as superfícies das estruturas de concreto.
 As superfícies expostas que necessitem ser horizontais, tais como coberturas, pátios, garagens,
estacionamentos e outras, devem ser convenientemente drenadas, com disposição de ralos e
condutores.
 Todas as juntas de movimento ou de dilatação, em superfícies sujeitas à ação de água, devem ser
convenientemente seladas, de forma a torná-las estanques à passagem (percolação) de água.
 Todos os topos de platibandas e paredes devem ser protegidos por chapins. Todos os beirais devem
ter pingadeiras e os encontros a diferentes níveis devem ser protegidos por rufos.

Formas arquitetônicas e estruturais

 Disposições arquitetônicas ou construtivas que possam reduzir a durabilidade da estrutura devem ser
evitadas.
 Deve ser previsto em projeto o acesso para inspeção e manutenção de partes da estrutura com vida útil
inferior ao todo, tais como aparelhos de apoio, caixões, insertos, impermeabilizações e outros.

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Qualidade e cobrimento mínimo do concreto

Atendidas as demais condições estabelecidas nesta seção, a durabilidade das estruturas é altamente
dependente das características do concreto e da espessura e qualidade do concreto do cobrimento da armadura.

Ensaios comprobatórios de desempenho da durabilidade da estrutura frente ao tipo e nível de


agressividade previsto em projeto devem estabelecer os parâmetros mínimos a serem atendidos. Na falta destes
e devido à existência de uma forte correspondência entre a relação água/cimento, a resistência à compressão
do concreto e sua durabilidade, permite-se adotar os requisitos mínimos expressos na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 – Classe de agressividade e qualidade do concreto, adaptado de NBR 6118:2007

Classe de agressividade ambiental


Concreto Tipo
I II III IV
Relação CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45
água/cimento
em massa CP ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45
Classe de CA ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40
concreto
(NBR 8953) CP ≥ C25 ≥ C30 ≥ C35 ≥ C40
NOTAS
1 O concreto empregado na execução das estruturas deve cumprir com os requisitos estabelecidos na NBR
12655.
2 CA corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto armado.
3 CP corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto protendido.

Nas obras correntes o valor da tolerância de execução para o cobrimento (∆c) deve ser maior ou igual
a 10 mm. Quando houver um adequado controle de qualidade e rígidos limites de tolerância da variabilidade
das medidas durante a execução pode ser adotado o valor ∆c = 5 mm, mas a exigência de controle rigoroso
deve ser explicitada nos desenhos de projeto. Permite-se, então, a redução dos cobrimentos nominais prescritos
na Tabela 4.3 em 5 mm.

Os cobrimentos nominais e mínimos estão sempre referidos à superfície da armadura externa, em geral
à face externa do estribo. O cobrimento nominal de uma determinada barra deve sempre ser:

 𝑐𝑛𝑜𝑚 ≥ ∅𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎;
 𝑐𝑛𝑜𝑚 ≥ ∅𝑓𝑒𝑖𝑥𝑒 = ∅𝑛 = ∅√𝑛;
 𝑐𝑛𝑜𝑚 ≥ 0,50 ∙ ∅ 𝑏𝑎𝑖𝑛ℎ𝑎.

A dimensão máxima característica do agregado graúdo utilizado no concreto não pode superar em
20% a espessura nominal do cobrimento, ou seja:

𝑑𝑚á𝑥 ≤ 1,2 ∙ 𝑐𝑛𝑜𝑚

NOTA: No caso de elementos estruturais pré-fabricados, os valores relativos ao cobrimento das


armaduras (Tabela 4.3) devem seguir o disposto na NBR 9062.
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Tabela 4.3 – Correspondência entre classe de agressividade e o cobrimento para ∆c = 10 mm

Classe de agressividade ambiental


Tipo Elemento I II III IV3)
Cobrimento nominal em "mm"
Laje2) 20 25 35 45
CA
Viga/Pilar 25 30 40 50

CP1) Todos 30 35 45 55
1) Cobrimento nominal da armadura passiva que envolve a bainha ou os fios, cabos e cordoalhas, sempre
superior ao especificado para o elemento de concreto armado, devido aos riscos de corrosão fragilizante sob
tensão.
2) Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos
finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais como pisos de elevado
desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros tantos, as exigências desta tabela podem ser
substituídas pelas equações anteriores, respeitado um cobrimento nominal ≥ 15 mm.
3) Nas faces inferiores de lajes e vigas de reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, condutos
de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente agressivos, a armadura
deve ter cobrimento nominal ≥ 45 mm.

Detalhamento das armaduras

As barras devem ser dispostas dentro do componente ou elemento estrutural, de modo a permitir e
facilitar a boa qualidade das operações de lançamento e adensamento do concreto.

Para garantir um bom adensamento é vital prever no detalhamento da disposição das armaduras espaço
suficiente para entrada da agulha do vibrador.

Controle da fissuração

O risco e a evolução da corrosão do aço na região das fissuras de flexão transversais à armadura
principal dependem essencialmente da qualidade e da espessura do concreto de cobrimento da armadura.
Aberturas características limites de fissuras na superfície do concreto dadas em 13.4.2, em componentes ou
elementos de concreto armado, são satisfatórias para as exigências de durabilidade.

Devido à sua maior sensibilidade à corrosão sob tensão, o controle de fissuras na superfície do concreto
na região das armaduras ativas deve obedecer ao disposto na Tabela 4.4.

No caso de as fissuras afetarem a funcionalidade da estrutura, como, por exemplo, no caso da


estanqueidade de reservatórios, devem ser adotados limites menores para as aberturas das fissuras. Para
controles mais efetivos da fissuração nessas estruturas, é conveniente a utilização da protensão. Por controle
de fissuração quanto à aceitabilidade sensorial, entende-se a situação em que as fissuras passam a causar
desconforto psicológico aos usuários, embora não representem perda de segurança da estrutura. Limites mais
severos de aberturas de fissuras podem ser estabelecidos com o contratante, devendo, porém, ser considerado
o possível aumento significativo do custo da estrutura.

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Tabela 4.4 - Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção da armadura

Classe de agressividade e Exigências relativas Combinação de ações


Tipo
protensão à fissuração em serviço a utilizar
Concreto simples CAA I a CAA IV Não há --
CAA I ELS-W wk≤ 0,4 mm
Combinação
Concreto armado CAA II e CAA III ELS-W wk≤ 0,3 mm
frequente
CAA IV ELS-W wk≤ 0,2 mm
Concreto protendido
Pré-tração com CAA I ou Combinação
nível 1 (protensão ELS-W wk≤ 0,2 mm
Pós-tração com CAA I e II frequente
parcial)
Verificar as duas abaixo
Concreto protendido Pré-tração com CAA II ou ELS-F Combinação frequente
nível 2 (protensão Pós-tração com CAA III e
limitada) IV Combinação quase
ELS-D1)
permanente
Verificar as duas abaixo
Concreto protendido
Pré-tração com CAA III e
nível 3 (protensão ELS-F Combinação rara
IV
completa)
ELS-D1) Combinação frequente
1) A critério do projetista, o ELS-D pode ser substituído pelo ELS-DP com ap = 25 mm.
NOTAS:
1 As definições de ELS-W, ELS-F e ELS-D encontram-se em 3.2.
2 Para as classes de agressividade ambiental CAA-III e IV exige-se que as cordoalhas não aderentes
tenham proteção especial na região de suas ancoragens.

Medidas especiais

Em condições de exposição adversas devem ser tomadas medidas especiais de proteção e conservação
do tipo: aplicação de revestimentos hidrofugantes e pinturas impermeabilizantes sobre as superfícies do
concreto, revestimentos de argamassas, de cerâmicas ou outros sobre a superfície do concreto, galvanização
da armadura, proteção catódica da armadura e outros.

Inspeção e manutenção preventiva

O conjunto de projetos relativos a uma obra deve orientar-se sob uma estratégia explícita que facilite
procedimentos de inspeção e manutenção preventiva da construção.

O manual de utilização, inspeção e manutenção deve ser produzido dependendo do porte da construção
e da agressividade do meio e de posse das informações dos projetos, dos materiais e produtos utilizados e da
execução da obra, deve ser produzido por profissional habilitado, devidamente contratado pelo contratante,
um manual de utilização, inspeção e manutenção. Esse manual deve especificar de forma clara e sucinta, os
requisitos básicos para a utilização e a manutenção preventiva, necessárias para garantir a vida útil prevista
para a estrutura, conforme indicado na NBR 5674.

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