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A Bíblia usa várias palavras diferentes em seus textos originais para se referir ao

que muitas vezes traduzimos como "inferno". A palavra "inferno" vem do latim
"infernum" ou "inferus", que significa "abaixo" ou "no submundo". A raiz dessa palavra
em latim, "inferus", é um adjetivo que significa "baixo", "de baixo", "abaixo", ou
"subterrâneo".

Em muitas culturas antigas, o mundo dos mortos era frequentemente imaginado como
um lugar localizado sob a terra, e é dessa concepção que a palavra "inferno"
provavelmente deriva.

Nos textos originais do Antigo e do Novo Testamento, diferentes palavras são usadas
para se referir ao reino dos mortos ou ao lugar de punição final: Sheol, Hades,
Gehenna e Tartarus. Quando esses textos foram traduzidos para o latim na Vulgata
de São Jerônimo no final do século IV e início do século V, o termo "infernum" foi
frequentemente usado para traduzir essas palavras, contribuindo para a evolução do
significado de "inferno" no cristianismo.

Sheol (hebraico): Esta palavra é usada no Antigo Testamento hebraico. "Sheol" é um


termo bastante neutro que se refere ao mundo dos mortos ou ao lugar dos mortos,
sem distinção entre justos e injustos. Essa palavra aparece cerca de 65 vezes no Antigo
Testamento.

Hades (grego): No Novo Testamento, escrito originalmente em grego, a palavra


"Hades" é usada. "Hades" é o equivalente direto de "Sheol" na Septuaginta (a tradução
grega do Antigo Testamento hebraico). É geralmente traduzido como "inferno", mas
como "Sheol", refere-se ao mundo dos mortos, não necessariamente um lugar de
tormento. "Hades" aparece 11 vezes no Novo Testamento.

Gehenna (grego): Esta palavra é uma referência ao Vale de Hinom, um lugar nos
arredores de Jerusalém onde, segundo a tradição judaica, o lixo da cidade era
queimado e, no passado, foram realizados rituais pagãos, incluindo sacrifícios de
crianças. No Novo Testamento, "Gehenna" é usada para se referir ao destino final dos
ímpios. É frequentemente associada a fogo e tormento. "Gehenna" aparece 12 vezes
no Novo Testamento.

Tartarus (grego): Esta palavra só aparece uma vez no Novo Testamento, em 2 Pedro
2:4. Na mitologia grega, Tartarus era um lugar de tormento para os ímpios localizado
mais fundo que o Hades. No contexto bíblico, Tartarus parece ser um lugar onde os
anjos que pecaram são mantidos.

Esses termos não são perfeitamente sinônimos e seus significados podem variar com
base no contexto. Cada um deles carrega nuances e conotações diferentes, e todas
essas palavras foram traduzidas de diferentes maneiras em diferentes versões da Bíblia.
Portanto, é importante entender o contexto e a cultura em que cada livro da Bíblia foi
escrito para interpretar corretamente esses termos.

Gehenna é uma palavra de origem hebraica que se refere ao Vale de Hinom, um lugar
próximo a Jerusalém. Nos tempos bíblicos, este vale foi associado ao fogo perpétuo do
lixo da cidade e a práticas de idolatria que incluíam o sacrifício de crianças. Jesus usa
"Gehenna" em suas parábolas como uma metáfora para a destruição final dos ímpios.
As referências de Jesus a Gehenna podem ser encontradas nestas passagens:
1. Mateus 5:22 - "Mas eu lhes digo que todo aquele que se irar contra seu irmão
estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: 'Raca',
será levado ao tribunal. E qualquer que disser: 'Louco', corre o risco de ir para o
fogo do inferno (Gehenna)."
2. Mateus 5:29-30, 10:28, 18:9, e 23:15, 33
3. Marcos 9:43, 45, 47
4. Lucas 12:5

Hades, por outro lado, é uma palavra de origem grega que se refere ao reino dos
mortos. No contexto do Novo Testamento, "Hades" é geralmente usado como
equivalente ao "Sheol" hebraico, o mundo dos mortos onde todas as almas vão após a
morte, independentemente de serem justas ou ímpias. As referências de Jesus ao
Hades são:
1. Mateus 11:23 - "E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não, tu serás jogada
até o Hades. Porque, se os milagres que em ti se operaram tivessem ocorrido
em Sodoma, ela teria permanecido até hoje."
2. Mateus 16:18 - "E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la."
3. Lucas 10:15 - "E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não, tu serás jogada
até o Hades."
Portanto, em resumo, Jesus usa "Gehenna" para se referir à destruição final dos ímpios,
enquanto "Hades" é usado para se referir ao mundo dos mortos em geral. Cada um
desses termos tem um significado ligeiramente diferente, baseado em suas origens
culturais e usos bíblicos.

A concepção cristã do inferno – como um lugar de punição eterna para os ímpios – é


bastante específica e pode não ser compartilhada exatamente da mesma maneira por
outras religiões. No entanto, existem conceitos semelhantes de punição após a morte
em muitas tradições religiosas. Aqui estão alguns exemplos:

1. Islam: O Islã tem uma concepção de inferno, conhecida como Jahannam, que é
bastante semelhante à visão cristã em muitos aspectos. Jahannam é descrito
como um lugar de tormento físico e espiritual para os pecadores e incrédulos.
No entanto, também é frequentemente apresentado como sendo
eventualmente purificador e temporário para muitos, com exceção dos mais
ímpios.
2. Hinduísmo: No hinduísmo, a ideia de um lugar de tormento após a morte é
menos enfatizada, mas existe um conceito de mundos inferiores ou infernos
temporários chamados "Narakas" onde as almas podem ser enviadas para
expiar seus pecados antes de reencarnar novamente. No entanto, o hinduísmo é
uma religião muito diversificada com muitas tradições diferentes, e nem todas
podem compartilhar essa visão.
3. Budismo: Similarmente, em algumas tradições budistas, existem diferentes
reinos de existência que as almas podem reencarnar após a morte, incluindo
reinos inferiores de sofrimento. No entanto, como no hinduísmo, estes são
vistos como temporários e não eternos.
4. Zoroastrismo: No zoroastrismo, existe uma concepção de um lugar de punição
após a morte para os ímpios chamado "Druj-demana". No entanto, ao contrário
do inferno cristão, é visto como temporário e terminará no final dos tempos,
quando o mal será finalmente derrotado.

Em resumo, embora muitas religiões tenham conceitos de punição após a morte, a


concepção cristã do inferno como um lugar de tormento eterno para os ímpios é
bastante específica e pode não ser compartilhada exatamente da mesma forma por
todas as outras tradições. Além disso, vale lembrar que existem muitas diferenças e
nuances dentro de cada uma dessas tradições, e as crenças podem variar
significativamente entre diferentes grupos e indivíduos.

DANTE ALIGHIERi

Os sete pecados capitais, conforme reconhecidos pela tradição cristã, Uma


das primeiras referências aos pecados capitais pode ser encontrada no século IV, com o
monge Evágrio do Ponto, que listou oito pensamentos ou paixões malignas que
deveriam ser combatidas. Esses pensamentos se tornaram a base para a futura
classificação dos pecados capitais.
No século VI, o Papa Gregório I, conhecido como Gregório Magno, forneceu uma lista
de sete vícios capitais em suas obras "Moralia in Iob" e "Expositio in librum beati Job".
Esses vícios eram: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça . Essa
lista, elaborada por Gregório I, foi amplamente aceita e se tornou a base para a
posterior teologia dos pecados capitais.

Os 7 pecados capitais são:

1. Soberba: Excesso de orgulho e arrogância.


2. Avareza: Desejo excessivo por riquezas e possessões materiais.
3. Luxúria: Desejo sexual descontrolado e imoral.
4. Ira: Sentimento de raiva e desejo de vingança.
5. Gula: Excesso na busca de prazeres alimentares e sensuais.
6. Inveja: Desejo injusto de possuir o que outra pessoa tem.
7. Preguiça: Falta de diligência, preguiça e negligência.

Na obra "Divina Comédia", Dante Alighieri imagina o inferno (Inferno) como um lugar
físico situado no centro da Terra. A estrutura do Inferno de Dante é muito específica e
meticulosa; é formada por nove círculos concêntricos, cada um representando um
pecado e uma punição específica. Cada círculo é dividido em diferentes "girões" ou
"ditches" que contêm pecadores submetidos a diferentes punições.

1. Primeiro Círculo (Limbo): Aqui estão as almas virtuosas que não foram
batizadas ou viveram antes de Cristo. Não são punidos ativamente, mas estão
separados de Deus.
2. Segundo Círculo: Este círculo é para aqueles culpados de luxúria. São arrastados
por ventos violentos, representando a força da luxúria.
3. Terceiro Círculo: Aqui estão os glutões, forçados a deitar-se em um lodo fétido
sob uma chuva contínua de água, neve e granizo.
4. Quarto Círculo: Aqui estão os avarentos e os pródigos, forçados a empurrar
grandes pesos uns contra os outros.
5. Quinto Círculo: Aqui estão os irados, que lutam na lama do rio Estige, e os
melancólicos, que ficam sob a lama.
6. Sexto Círculo: Este círculo contém hereges, presos em túmulos ardentes.
7. Sétimo Círculo: Dividido em três girões, este círculo contém os violentos:
aqueles que são violentos contra os outros, contra si mesmos (os suicidas), e
contra Deus, a arte e a natureza.
8. Oitavo Círculo (Malebolge): Este círculo, dividido em dez fossos, contém os
fraudulentos, incluindo sedutores, aduladores, simonistas, adivinhos, corruptos,
hipócritas, ladrões, conselheiros fraudulentos, semeadores de discórdia e
falsificadores.
9. Nono Círculo: Este círculo é para traidores, que são congelados em um lago de
gelo. Quatro divisões diferentes neste círculo correspondem a diferentes tipos
de traição (traição contra parentes, contra a pátria, contra hóspedes e contra
beneficentes).

SARTRE
"Huis Clos" (Entre Quatro Paredes ou No Exit em inglês) é uma peça de teatro escrita
por Jean-Paul Sartre e publicada pela primeira vez em 1944. A história se passa
inteiramente em uma sala do inferno e conta com três personagens principais: Joseph
Garcin, Inès Serrano e Estelle Rigault.

1. Joseph Garcin: Garcin é um jornalista que viveu no Brasil e foi executado por
tentativa de deserção durante a guerra.
2. Inês Serrano: Inês é uma funcionária dos correios que foi morta pela prima de
sua amante.
3. Estelle Rigault: Estelle é uma mulher da alta sociedade que morreu de
pneumonia. Ela matou seu próprio bebê e causou o suicídio de seu amante.

Ao contrário do que esperavam, no inferno de Sartre não há fogo, nem enxofre, nem
tortura física. A tortura é psicológica. Os três personagens estão trancados juntos para a
eternidade, sem sono, sem privacidade, e sem a capacidade de desligar a percepção
consciente. Eles se tornam o tormento um do outro, julgando e criticando-se
incessantemente.
Conforme a história se desenrola, os personagens tentam entender por que estão
juntos e lidar com a realidade de sua situação. Eles se veem presos em um triângulo
tóxico de manipulação, sedução e recriminação. A peça atinge seu clímax quando os
personagens reconhecem que "o inferno são os outros".

Em suma, "Huis Clos" é uma representação da visão existencialista de Sartre da


condição humana, enfatizando a liberdade individual, a responsabilidade e a angústia
existencial. A peça examina como nos definimos uns aos outros e a nós mesmos e como
podemos ser aprisionados pelos julgamentos e percepções dos outros.

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