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SINOPSE DO CASE: Limites e possibilidades do uso da inteligência artificial na

entrevista psicológica. Ad Astra (2019)

Marina Candeira Correia²

Thaisa Privado³

1. DESCRIÇÃO DO CASO

Em um mundo em que a exploração do universo está bem avançada, o major e


engenheiro espacial Roy McBride recebe uma importante missão. 20 anos após o
desaparecimento de seu pai, um lendário astronauta que estava em uma missão para
buscar vida inteligente em Netuno, Roy recebe a notícia de que o mesmo pode estar vivo.
Logo, embarca em uma missão que busca responder se seu pai está vivo, além de
solucionar um mistério que ameaça a sobrevivência do sistema solar.
A cada viagem espacial, Roy passa por um processo automático de avaliação
psicológica, e o espectador pode assim conferir o estado mental e emocional do
personagem e, ao mesmo tempo, refletir sobre suas atitudes. O filme é uma ficção
científica que levanta questionamentos sobre a robotização do ser humano, sobre um
mundo que não se pode mais sentir, e em que avaliações psicológicas precisam ser
aprovadas por monitoração constante e incessante de Inteligências Artificiais (IA).
Nesse contexto intrigante, emergem questões intrigantes sobre os limites e
possibilidades do uso da inteligência artificial na área da psicologia. O papel do psicólogo
como alguém capaz de compreender e interpretar as complexidades do ser humano, suas
emoções, motivações e dilemas morais, surge como algo irredutível à máquina. Além
disso, a empatia, o julgamento ético e a capacidade de estabelecer uma relação genuína
com o paciente são aspectos que permanecem inacessíveis à IA.
Portanto, no cerne deste caso, encontramos a ponderação sobre : até que ponto a
IA pode ser uma aliada na psicologia, auxiliando em diagnósticos e tratamentos, e até que
ponto ela deve ser complementada pelo toque humano?

1 Case apresentado à disciplina de Entrevista Clínica ,na Unidade de Ensino Superior Dom Bosco –UNDB. 2
Aluna do 6 Período do curso de Psicologia, da UNDB. 3 Professora , orientador
2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO

2.1 Descrição da possível decisão:

2.1.1. Uso de IA’s como ferramenta da práxis em Psicologia.

2.2. Argumentos capazes de fundamentar cada decisão

2.2.1 Uso de IA’s como ferramenta da práxis em Psicologia.

De acordo com Feigenbaum (1981, apud, FERNANDES, 2003) define-se como


Inteligência Artificial (IA) a área da ciência da computação que se dedica a criar
sistemas e algoritmos capazes de realizar tarefas que, quando executadas por seres
humanos, exigiriam o uso de inteligência. Essas tarefas incluem o aprendizado, o
raciocínio, a resolução de problemas e a tomada de decisões. A IA se baseia em
algoritmos que permitem que máquinas processem grandes volumes de dados,
identifiquem padrões e aprendam com experiências passadas.
Nesse contexto, observa-se que a Psicologia enquanto campo de conhecimento
e profissão que, se compromete com a investigação da influência do contexto
sóciocultural-histórico na subjetividade e dinâmicas das relações humanas, deve se
manter a par dos avanços cientificos e tecnólogicos e, como estes podem se
apresentar em suas práticas. Ao passo em que, como ratifica Alcofarado(2016),

O avanço tecnológico se mostrou util em diversas areas das ciencias.


Assim como as outras ciências, a Psicologia tem aproveitado desse avanço
tecnológico para aperfeiçoar suas tecnicas de investigaçao e com isso as
praticas que guiam seus profissionais.

Um exemplo disso pode-se verificar através do Woebot é um programa de


inteligência artificial (IA) projetado para oferecer suporte em saúde mental e bem-estar
emocional. Ele foi desenvolvido por psicólogos e experts em inteligência artificial da
Universidade de Stanford, nos Estados Unidos como uma ferramenta de terapia digital
que utiliza técnicas de terapia cognitivo-comportamental (TCC) para ajudar as pessoas
a lidar com uma variedade de problemas de saúde mental, como ansiedade e

depressão. Com base nas respostas e no estado emocional identificado, o Woebot

pode enviar recursos como vídeos, podcasts e orientações simples projetados para
melhorar o bem-estar emocional. Essas intervenções são cuidadosamente
supervisionadas por profissionais de saúde mental e são fundamentadas em evidências
científicas.Neste sentido, observa-se que a capacidade da tecnologia poder atuar em
problemas de saúde mental do homem já foi avaliada e evidenciada (MINER et al.,
2016)
Dessa maneira ,no contexto da entrevista psicológica, torna-se possível notar que
a utilização de IA’s pode ser benéfica de várias outras maneiras. Por exemplo, ela pode
ser, usada para analisar e interpretar dados objetivos coletados durante a entrevista,
identificando tendências e padrões que podem ser valiosos para compreender o estado
emocional e comportamental dos pacientes. Além disso, as IA’s podem ser utilizadas para
aprimorar a eficiência da avaliação psicológica, automatizando tarefas de rotina, como a
análise de questionários e escalas de avaliação. Isso permite que os psicólogos
economizem tempo e se concentrem mais nas interações humanas significativas durante
a entrevista
No entanto, é importante destacar que a IA não pode substituir completamente os
psicólogos.Na medida em que,inicialmente entende-se que,

Uma entrevista, na prática, antes de poder ser considerada uma técnica,


deve ser vista como um contato social entre duas ou mais pessoas. O
sucesso da entrevista dependerá, portanto, de qualidades gerais de um
bom contato social, sobre o qual se apóiam as técnicas clínicas
específicas. Desse modo, a execução da técnica é influenciada pelas
habilidades interpessoais do entrevistador. Essa interdependência entre
habilidades interpessoais e o uso da técnica é tão grande que, muitas
vezes, é impossível separá-las. O bom uso da técnica deve ampliar o
alcance das habilidades interpessoais do entrevistado e vice-
versa.(TAVARES, 2000)

Desse modo,as competências e habilidades humanas, como a empatia, a


compreensão das nuances emocionais, a interpretação da linguagem não verbal e o
julgamento ético, são insubstituíveis. No que se refere a estas ultimas, Nunes(2021)
afirma ainda que,

[...}é até possível que uma máquina consiga identificar emoções em


pessoas através de suas imagens, mas isso se dá estritamente através de
um calculo matematico sobre a imagem, sem que nenhum elemento
próximo à afetividade esteja envolvido.

E,reitera que,

Essa questão da afetividade pode, então, apontar a toda uma gama de


operações que inteligências artificiais, na forma como existem hoje, seriam
incapazes de realizar, assim como outras em que pode haver uma forma
alternativa e estritamente racional de realizar. Esses diferentes cenários
são bastante relevantes para que se discuta que papéis a IA pode não
assumir para a sociedade humana.( NUNES, 2021)

Ademais, nota-se que toda a atuação do profissional da Psicologia em sua práxis


é balizada por principios éticos. Sendo, estes definidos como uma relação constitutiva da
vivência humana sempre presente a partir de seus elementos.(NUNES,2001).Tendo isso
em vista, a apreensão e a aprendizagem formal dos valores éticos só pode se dar por
meio das relações humanas.Por conseguinte, as IA’s enquanto progamas de computador
que operam com base em algoritmos e dados, entram em conflito quando são
encarregadas de tomar decisões que têm implicações éticas.Na medida em que, a
capacidade de compreender o contexto ético mais amplo e fazer julgamentos com base
na empatia e no discernimento humano é limitada ou inexistente nas IAs.
Relacionado à isso,pontua-se ainda um aspecto de extrema importancia durante
a execução de uma Entresvista Clinica: o sigilo. De acordo com o Código de Ética
Profissional do Psicologo(2005),

Art. 9° É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de


proteger, por meio da contidencialidade, a intimidade das pessoas,
grupos ou organiza-ções, a que tenha acesso no exercício profissional.

Desa forma, a relação terapêutica na psicologia é fortemente ancorada no sigilo


e na confidencialidade, com os pacientes compartilhando questões pessoais e íntimas
com seus terapeutas, confiando que essas informações permanecerão estritamente
protegidas.Todavia, a introdução da inteligência artificial (IA) na entrevista clínica suscita
preocupações específicas relacionadas à confidencialidade e à segurança dos dados
sensíveis dos pacientes.Nesse interím, quando a IA é integrada ao processo de entrevista
clínica, é crucial garantir que os princípios éticos e legais do sigilo sejam mantidos
intactos. Um dos riscos mais significativos é o vazamento de dados. Como as IAs
dependem da coleta e do processamento de grandes volumes de informações, incluindo
detalhes pessoais, existe a possibilidade de que esses dados possam ser vazados ou
acessados por terceiros não autorizados, colocando em risco a privacidade e a
confidencialidade dos pacientes.
Mediante à isso, IA deve ser vista como uma ferramenta complementar que pode
enriquecer o processo de entrevista psicológica, mas não substituir a presença e a
expertise do profissional.Ao passo em que, as competências e habilidades humanas
desempenham um papel insubstituível no estabelecimento de uma relação terapêutica
sólida e na compreensão profunda das necessidades dos pacientes.
3. Descrição dos critérios e valores contidos em cada decisão possível

Inteligência Artificial: é um campo interdisciplinar que se concentra no desenvolvimento


de sistemas de computador capazes de realizar tarefas que normalmente exigiriam
inteligência humana. Isso inclui coisas como reconhecimento de padrões, aprendizado de
máquina, resolução de problemas complexos e processamento de linguagem natural. A
IA tem aplicações em uma ampla variedade de setores, incluindo medicina, finanças,
transporte e entretenimento.

Entrevista Clínica em Psicologia: A entrevista clínica em psicologia é uma parte


fundamental da prática psicológica. É um encontro estruturado entre um psicólogo e um
paciente, onde o psicólogo faz perguntas específicas para coletar informações sobre a
história, emoções, comportamentos e pensamentos do paciente. Essas informações são
usadas para investigar, avaliar, diagnosticar e tratar problemas psicológicos, como
transtornos de ansiedade, depressão ou traumas.

Vínculo Terapêutico: O vínculo terapêutico é a qualidade da relação entre o terapeuta e o


paciente durante a terapia. Ele envolve elementos como empatia, confiança, respeito e
compreensão mútua. Um vínculo terapêutico forte é essencial para o sucesso da terapia,
pois permite que o paciente se sinta seguro para compartilhar seus pensamentos e
sentimentos mais profundos, promovendo a eficácia do tratamento.

Ética: refere-se ao estudo dos princípios morais que orientam o comportamento humano.
Na psicologia e em muitas outras profissões, a ética desempenha um papel crucial. Isso
inclui a obrigação de tratar os pacientes com respeito, proteger sua privacidade, evitar
conflitos de interesse e agir de maneira responsável e moralmente correta em todas as
interações profissionais.
REFERÊNCIAS

FERNANDES, Anita Maria da Rocha. Inteligência artificial: noções gerais.


Florianópolis: Editora da UFSC, 2008.

Tavares, M. (2000). Entrevista Clínica. In Cunha, J. A. et al. Psicodiagnóstico - V. Porto Alegre:


Artmed. p. 45-56.

NUNES, Luiz Joaquim Dias de Lima. Um estudo introdutório dos aspectos


psicossociais da artificialização das inteligências. 2021. Dissertação (Mestrado em
Psicologia Social) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2021.

PRIMI, R.. Avaliação Psicológica no Século XXI: de Onde Viemos e para Onde
Vamos. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 38, n. spe, p. 87–97, 2018.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional dos


Psicólogos, Resolução n.º 10/05, 2005.

MINER, A. S. et al. Smartphone-based conversational agents and responses to


questions about mental health, interpersonal violence, and physical health. JAMA
internal medicine, American Medical Association, v. 176, n. 5, p. 619–625, 2016.

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