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Krenak (2015) apresenta uma visão crítica acerca da relação que comumente

a sociedade mantém com o mundo e ressalta as diferenças desta para a relação que
os povos indígenas mantêm com o ambiente. Apresenta críticas a uma sociedade
que está tentando recolonizar os povos indígenas, que ainda tentam viver a partir de
sua própria terra e seus métodos, transformando-os em uma população marginalizada
e mais pobre, pois são forçados a viver nos moldes capitalistas e tecnológicos.
Buscam a todo momento apagar e diminuir sua história e sua relação com a natureza.
O Brasil, chamado assim pelos colonizadores, já possuía uma forma de vida e uma
história também com seus próprios meios de subsistência, povos que viviam e fruíam
das terras sem esgotá-las.

A contínua tentativa de recolonizar esses povos nos dias de hoje mostra como
a população invisibiliza a história indígena com as paisagens. Uma história de
conexão não apenas intersubjetiva e social, mas uma conexão com a própria
paisagem, com o espaço. Ligação que não se limita a usufruto, mas é conexão familiar
que nos lembra que somos um só organismo com a natureza. Enquanto as sociedades
atuais poluem e envenenam a natureza, elas estão se envenenando e se adoecendo.
Lembrar de como os povos indígenas se conectavam e se conectam com a natureza
é voltar a entender que as máquinas ou brinquedos do capitalismo, como chama
Krenak, não tem o poder de quebrar o ciclo natural da vida, algo profundamente
entendido pelos indígenas.

Krenak (2015) denuncia o grande assédio da cultura capitalista que mesmo


com os ideais educacionais de alfabetização para todos, está apagando a memória, a
língua, as práticas e a cultura desses povos originários. Buscam padronizar modos de
vida que não devem ser padronizados, também buscam igualar todos e, por fim,
acabam com a diversidade e com as possibilidades do novo. Então o silenciamento
indígena é um esforço para apagar o diferente, provocar uma erosão cultural para
encaixá-los no modo de vida capitalista que os empobrece e tira desses povos sua
capacidade de subsistência. Os tornam pobres, os tornam mão de obra barata no
sistema sufocante do lucro.

O resultado desse sistema é o distanciamento entre ser humano e o ambiente,


uma desconexão, uma desfiliação que só acontece porque em algum momento esta
sociedade começou a pensar a natureza como um mecanismo. Descobriram a técnica
para utilizar a natureza em favor, por exemplo, do prolongamento da vida. Pensaram
o uso e não o usufruto.

Krenak (2020) aponta para a relação natural e não sobrenatural que os povos
indígenas mantêm com a natureza como uma forma de lembrar a profunda conexão
que têm, conexão que vai além de afetividade, pois é tomada como prolongamento
da existência, sem buscar um prolongamento da vida ou uma quebra do ciclo da vida.
O autor faz duras e verdadeiras críticas à mentalidade capitalista que usa da natureza
para ir contra a natureza e conseguiram que os seres humanos proliferassem na terra
como vírus, pois continuam destruindo à medida em que exploram. Perdeu-se
completamente a ligação com a natureza como se não fossemos feitos dela, do ar que
vem dela, da sombra, dos alimentos etc. Os ensinamentos indígenas lembram que a
terra sim é um organismo vivo, diferente dos brinquedos e utopias capitalistas que nos
fazem sentir deslocados no ambiente do qual fazemos parte como um organismo só.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KRENAK, Ailton. Paisagens, territórios e pressão colonial. Espaço Ameríndio,


Porto Alegre, v. 9, n. 3, p. 327- 343, jul./dez. 2015.

KRENAK, Ailton. A máquina de fazer coisas. In: A vida não é útil. São Paulo:
Companhia das letras, 2020

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