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Introdução
“Dar um passo atrás e olhar o quadro geral é a chave para evitar as ciladas da fixação
cognitiva ou de ser sufocado pelos dados. Esse processo de aproximar‐se e distanciar‐se
pode evitar que você seja paralisado por um contexto amplo demais e pule rapidamente
para novos modismos. Parte desse processo consiste em desenvolver áreas de interesse que
atendam às suas necessidades, de modo que você não precisa examinar tudo. Qualquer
‘conselho’ que exclua todos os outros e exija seu foco exclusivo, prometendo benefícios
incríveis, exige uma perda de contexto e equilíbrio. Você precisa olhar mais criticamente,
para filtrar em busca de um sentido nesse fluxo de dados em mudança”. (Yoram Wind et al,
A força dos modelos mentais, p. 212).
O objetivo da técnica do zoom é melhorar nossa eficácia para lidar com a complexidade e a
imensa quantidade de informações do mundo em que vivemos.
2. Olhar de longe, isto é, ver o contexto, o quadro geral. Em termos de tempo, equivale
mais ao médio e longo prazo. É o olhar sistêmico.
Olhar somente de longe faz com que nos percamos na complexidade dos fluxos de dados e
informações. Olhar somente de perto faz com que fiquemos excessivamente focados e
propensos a perder o surgimento de algo importante em contextos mais amplos. Olhar ao
mesmo tempo de perto e de longe corrige as limitações dos modos anteriores.
Metáforas e exemplos
2. A capacidade de olhar desses dois modos é importante para lidar com a complexidade.
Para tanto, é necessário equilibrar as duas atitudes: a focal e a global. A esse respeito, há
um texto do filósofo espanhol José Ortega y Gasset que é um bom exemplo de pensamento
complexo.
Ortega lembra um antigo provérbio alemão, que diz que a altura das árvores impede a visão
do bosque. Vemos algumas árvores do bosque, mas não conseguimos vê‐lo em sua
totalidade. O bosque real é o conjunto formado pelas árvores que não podemos ver. Se
percorrermos o bosque, também não o veremos. Tudo o que vemos são algumas das
árvores que o formam. O bosque está sempre um pouco mais além de onde estamos, diz
Ortega.
Ainda assim, ele existe como possibilidade: é “uma soma de nossos atos”. Nós o
construímos ao andar nele, isto é, ao interagir com ele.
3. As árvores não nos deixam ver o bosque, mas nem por isso ele deixa de existir. A missão
das árvores que se manifestam (que se tornam patentes), é manter latentes, ocultas, as
demais. O que se vê esconde, mas também inclui o que não se vê, assim como a ordem
contém a desordem e vice‐versa.
O bosque está latente nas árvores e estas estão latentes no bosque. A possibilidade da
existência do bosque está nas árvores e a possibilidade de existência das árvores está no
bosque. Na metáfora de Edgar Morin, os fios possibilitam a existência do tapete e este, ao
ser desfeito, possibilita a existência dos fios separados.
O mundo profundo é tão claro quanto o real, só que exige mais de nós”, diz Ortega. É claro
que para decidir qual modo de olhar deve ser adotado é necessário antes que
determinemos a que distância – perto ou longe – estamos do que pretendemos olhar. Se
estivermos longe devemos nos aproximar, e vice‐versa.
4. No livro As paixões do ego, de Humberto Mariotti, é citada uma metáfora que pode
ilustrar o conceito de pensamento complexo. Eis o trecho:
Precisamos dessas duas noções para as práticas do cotidiano. Mas elas não são suficientes,
o que nos leva a ampliar o exemplo desses autores e dizer que: a) do ponto de vista do
pensamento linear a Terra é plana; b) pela perspectiva do pensamento sistêmico ela é
redonda; c) por fim, do ângulo do pensamento complexo — que promove a
complementaridade dos dois anteriores — ela é ao mesmo tempo plana e redonda”.
A técnica do zoom
A técnica do zoom comporta três momentos: a) olhar de perto (visão linear); b) olhar de
longe (visão sistêmica); c) olhar simultaneamente de perto e de longe (visão complexa).
Espírito analítico. Buscar os detalhes, as partes, e fixar‐se nelas. Comparar com observações
semelhantes. Ter sempre em mente as relações custo‐benefício e o rigor quantitativo.
Evitar a amplitude do contexto. É importante que não nos deixemos envolver pela
amplitude do contexto, mas é exatamente por isso que essa abordagem é redutivista.
Quando trabalhamos com análises, contextos amplos atrapalham. Um excesso de dados e
informações significa que a observação não está sendo suficientemente próxima e
redutivista. Por outro lado, a escassez de dados significa que a observação está sendo feita
de perto demais.
Olhar de longe (visão sistêmica). Esse modo de olhar permite ver o quadro geral, o
contexto. Permite ver o bosque. Mas é importante notar que aquilo que chamamos de
“global” pode ser o resultado da limitação de nossa visão. Nossa capacidade de
contextualizar pode estar prejudicada por essa limitação. Olhar de longe permite apreciar o
contexto e evitar temporariamente a complexidade do fluxo de informações. Eis os seus
requisitos básicos:
Reconhecer os limites de nossa visão. O que pode estar além dela? O que ou quem pode nos
ajudar a ampliá‐la? Quais as fronteiras que não conseguimos ultrapassar? Que modos de
pensar nos impedem de fazer essa ultrapassagem? É fundamental prestar muita atenção
àquilo de que mais discordamos, àquilo que mais nos desafia.
Evitar a fixação cognitiva. O que nos amarra demasiadamente a determinados pontos? Que
modos de pensar nos tornam demasiadamente fixados em um único ou em poucos focos?
Observar o contexto. Qual é o contexto da decisão que devemos considerar? Como o
avaliamos?
Afastar‐se temporariamente da complexidade do fluxo de informações. Dê um descanso a si
mesmo. Saia temporariamente do fluxo (as vezes bastante turbulento) de dados,
informações e eventos. Essa saída representa o “passo atrás” que você dá e que o capacita a
avaliar o quadro mais amplo. Na prática, pode corresponder a algumas horas afastado dos
detalhes do dia‐a‐dia. Separe um tempo para reflexão, que lhe permita sair do fluxo e
apreciá-lo à distância.
Conclusão