Você está na página 1de 7

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/307857053

OS IMPACTOS AMBIENTAIS PERMANENTES EM UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL E A COMPENSAÇÃO AMBIENTAL:
ESTUDO DE CASOS PARA O ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

Conference Paper · September 2009

CITATIONS READS

0 151

5 authors, including:

Frederico Alexandre Roccia Dal Pozzo Arzolla Gláucia Cortez Ramos de Paula
Instituto Florestal - Governo do Estado de São Paulo Instituto Florestal - Governo do Estado de São Paulo
35 PUBLICATIONS 55 CITATIONS 21 PUBLICATIONS 26 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by Frederico Alexandre Roccia Dal Pozzo Arzolla on 06 September 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


OS IMPACTOS AMBIENTAIS PERMANENTES EM UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL E A COMPENSAÇÃO
AMBIENTAL: ESTUDO DE CASOS PARA O ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

RESUMO

A compensação ambiental decorrente de obras e instalações de infra-estruturas em Unidades


de Conservação de Proteção Integral no Estado de São Paulo, Brasil, é calculada aplicando-se
um percentual sobre o valor total da obra. Essa compensação financeira não considera os
impactos ambientais de natureza permanente resultantes do funcionamento contínuo do
empreendimento. No presente trabalho foram analisadas as obras e instalações de infra-
estrutura em três Unidades de Proteção Integral da região metropolitana de São Paulo.
Constatou-se a necessidade de revisão dos termos de licenciamento desses empreendimentos,
para adequá-los à legislação ambiental vigente, por meio da aplicação da Licença
Retificadora, nos termos do Decreto no 4.340/2002; da celebração de Termo de Compromisso
Ambiental - TCA administrativo, previsto pela Resolução SMA no 5/1997; ou do Termo de
Ajustamento de Conduta - TAC, em procedimento instaurado pelo Ministério Público
Estadual e Federal, consoante a Lei no 7.347/1985.

ABSTRACT

An environmental compensation resulting from workmanships and installation of infra-


structures in Integral Protection Conservation Units in the State of Sao Paulo, Brazil, is
calculated by a percentage of the total value of the workmanship. This financial compensation
does not consider the permanent environmental impacts resulting from the continuous
operation of the enterprise. The workmanships and infrastructure installations were analyzed
in three UCs of Integral Protection in the metropolitan region of São Paulo. The need for a
revision of the terms of licensing of these enterprises was evidenced to adjust them to the
effective environmental legislation, by means of the application of the Rectifying License, in
the terms of the Decree number 4.340/2002; or of the celebration of the Term of Environment
Commitment - TEC, administrative, foreseen by Resolution SMA number 5/1997; or of the
Term of Behaviour Adjustment - TBA, in procedure introduced by the State and Federal
Public Ministry, based on Law number 7.347/1985.

INTRODUÇÃO

As Unidades de Conservação da Natureza - UCs são espaços territoriais especialmente


protegidos, abrangendo seus recursos ambientais e águas jurisdicionais. Possuem
características naturais relevantes e limites definidos e são instituídas pelo Poder Público com
objetivos de conservação (MMA, 2004). Com a criação dessas áreas, busca-se preservar os
ecossistemas no seu estado natural, de modo a compatibilizar o desenvolvimento econômico-
social com a preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico (IBAMA, 2002).
Conforme a Lei nº. 9.985/2000-SNUC, nas Unidades sob o regime de Proteção
Integral, é admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais, comportando somente
atividades voltadas à pesquisa científica e ao uso público1.

Apesar da ampla legislação ambiental incidente, muitos empreendimentos de infra-


estrutura pública, para atendimento das demandas por estradas, energia, água,
telecomunicação e dutos, são instalados no interior dessas áreas especialmente protegidas,
pois representam alternativas locacionais vantajosas sob os aspectos técnicos e/ou
econômicos.

Com o advento da Lei n o. 6.938/812, o art. 14 definiu a responsabilidade objetiva do


poluidor-pagador. Essas obrigações começaram a ser exigidas no âmbito administrativo e
judicial, consolidada posteriormente, com a Lei nº 7.347/853.

A Lei no 9.985/2000 prevê a destinação de recursos financeiros na ordem de um


percentual igual ou superior a 0,5% do valor total da obra, para aplicação nas UCs, conforme
a ordem de prioridade estabelecida no artigo 33 do Decreto nº 4.340/20024, que regulamentou
seu artigo 36.

O presente trabalho, a partir de estudo de casos no estado de São Paulo, discute a


necessidade da aplicação da compensação ambiental permanente para os impactos de natureza
permanente que interferem com as áreas das UCs de Proteção Integral.

MATERIAIS E MÉTODOS

Localização da área de estudo

O Parque Estadual do Jaraguá, criado pelo Decreto Estadual n o 10.877, de 30/12/1939,


com área de 492,68 ha, localiza-se no município de São Paulo, e protege a Floresta Ombrófila
Densa e os Campos de Altitude (São Paulo, 2000).

O P. E. da Cantareira foi criado pelo Dec. Est. nº 41.626, de 30/11/1963, e pela Lei nº
10.228, de 24/9/1967, com área de 7.916,5 ha. Situa-se nos municípios de Caieiras,
Guarulhos, Mairiporã e São Paulo. Protege a Floresta Ombrófila Densa (São Paulo, 2000).

1
Lei Federal no 9.985, de 18/7/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.
2
Lei Federal no 6.938, de 31/8/1981, que dispôs sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e criou o Sistema
Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.
3
Lei Federal no 7.347, de 24/7/1985, que disciplinou a ação civil pública de responsabilidade por danos causados
ao meio ambiente, ao consumidor e bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
4
Decreto Federal no 4.340, de 22/8/2002, que regulamentou artigos do SNUC.
O P. E. do Juquery criado pelo Dec. Est. no 36.859, de 5/6/1993, com área de 1.927,7
ha, está inserido nos municípios de Caieiras e Franco da Rocha. Protege a Floresta Estacional
Semidecidual e fitofisionomias do Cerrado (São Paulo, 2000).

Método

Procedeu-se um levantamento das obras e instalações de infra-estrutura nessas três


UCs, situadas em área urbana, onde a demanda por infra-estrutura básica é crescente. Foram
identificados os principais impactos diretos e indiretos de natureza permanente, em razão da
existência e do funcionamento dessas estruturas. Analisou-se os documentos encartados em
procedimentos administrativos, especialmente os expedientes que trataram do licenciamento e
das permissões e autorizações para uso de próprio estadual, com vistas a uma proposta de
adequação dos empreendimentos (Costa et al., 2004).

RESULTADOS

Parque Estadual da Cantareira

Neste Parque existem duas linhas de transmissão, uma vinculada a Furnas Centrais
Elétricas, e outra à Companhia de Transmissão de Energia Paulista – CTEEP, com 3.265 e
5.530 metros de extensão, respectivamente.

Devido à passagem da linha de transmissão de Furnas Centrais Elétricas pela Unidade


de Conservação foi celebrado em 1986, um convênio entre o Instituto Florestal e a Empresa,
para o aporte de recursos de compensação ambiental, com a finalidade de implantação de
projetos de proteção, prevenção e combate a incêndios florestais, programas de uso público e
educação ambiental.

No período 2005/2006, a linha de transmissão - LT Guarulhos-Anhanguera que


atravessa o Parque, administrada pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista
- CTEEP, foi objeto de novo licenciamento para repotenciação, passando de 230 para 345
kV. A linha original instalada há cerca de 40 anos foi desativada, sendo que o novo traçado
localiza-se nos limites do Parque. No entanto, não foram implementadas quaisquer medidas
de compensação ambiental pela intervenção da obra, pois no processo de licenciamento
entendeu-se que o empreendimento apresentava baixo impacto ambiental, dispensando,
portanto, a exigência do Estudo de Impacto Ambiental – EIA, previsto pela Lei n o
6.938/1981, Resolução CONAMA n° 1/1986 e Resolução CONAMA n° 237/1997, o que
suscitou o questionamento da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, sobre a dispensa da
apresentação do EIA. A exigência restringiu-se à apresentação do Relatório Ambiental
Preliminar – RAP e à implantação de medidas de mitigação dos impactos através dos
programas de monitoramento de fauna e flora, de proteção e educação ambiental e a
revegetação de áreas do Parque.

A instalação do novo traçado da LT resultou na supressão de 1,14 hectares de floresta,


causando danos ao solo, à fauna e à flora; impacto cênico e paisagístico; e a facilitação da
ocorrência de atividades irregulares no Parque, proporcionada pela abertura de acessos.
Uma das especificações do projeto apresentada no RAP para o empreendimento, era a
redução do número de torres no interior do Parque, de catorze para onze estruturas, o que
contribuiu para o deferimento da autorização ambiental. No decorrer da obra, entretanto,
verificou-se que foram instaladas três torres adicionais, em descumprimento ao estabelecido
no licenciamento. Essa irregularidade foi objeto de adequação através de um Termo de
Compromisso de Ajustamento de Conduta Ambiental - TCCA, de caráter administrativo,
firmado entre a SMA e a empresa, com a aplicação de medidas de compensação financeira
pelo dano, reparação e mitigação ambiental, com base em indicadores contidos em laudo
técnico-científico elaborado pelo Instituto Florestal. Posteriormente em procedimentos de
monitoramento ambiental, foram constatadas outras irregularidades na obra, que foram objeto
de vistoria, resultando na elaboração de um novo laudo, com proposta de nova adequação
ambiental do empreendimento.

Parque Estadual do Jaraguá

O Estado de São Paulo em 1962 cedeu pelo prazo de 20 anos à Rádio Bandeirantes
S.A. uma área de 1.400 m2 no interior do P. E. do Jaraguá. Na ocasião houve um parecer da
Assessoria Técnica do Gabinete da Secretaria de Estado dos Negócios de Esporte e Turismo
para remover as antenas do P. E. do Jaraguá para o P. E. da Cantareira, por entender ser esta a
melhor localização para os referidos equipamentos. Esse local dispensaria o uso de torre de
sustentação da antena, não comprometendo a paisagem e atributos cênicos do Parque. Nesse
parecer foi destacado que os picos do Jaraguá deveriam ser preservados pelos seus aspectos
cênico, histórico e paisagístico. A área para a implantação das torres foi cedida em regime de
comodato, ou seja, a título gratuito e em caráter precário.

Pelo Decreto nº 25.556/1984, a mesma área foi concedida a Radio e TV Bandeirantes,


também a título precário e gratuito, por mais cinco anos, autorizando a comodatária a permitir
que outras empresas instalassem suas antenas na mesma estrutura.

Posteriormente, pelo Decreto nº 42.533/1997, formalizou-se o uso remunerado da área


pelas empresas usuárias, em forma de condomínio, beneficiando várias empresas de tele e
rádio comunicação. No entanto, todos esses procedimentos administrativos não consideraram
os impactos ambientais de qualquer natureza, contemplando apenas o valor locatício do
imóvel público que, até então, era usufruído pelas empresas sem nenhum ônus.

Somente a partir de 1997, após quase quatro décadas de ocupação do espaço


protegido, é que foi instituída a cobrança pelo uso do imóvel público. As estruturas estão
instaladas em áreas que são consideradas o principal atrativo do Parque, restringindo o acesso
dos visitantes, e comprometendo o valor estético e paisagístico, com evidências de
degradação aos campos do Pico do Jaraguá que são um ecossistema de extrema fragilidade.

Parque Estadual do Juquery


No P. E. do Juquery, a linha de transmissão - LT Cabreúva – Mairiporã, administrada
pela concessionária CTEEP, foi implantada em 1970, com 6.500 m de extensão. O Parque foi
criado em 1993 com a finalidade de proteger os Campos Cerrados, Cerrado e Florestas
Estacionais. Na ocasião da instalação do empreendimento, não havia normas de licenciamento
e nenhuma medida mitigatória ou compensatória foi adotada. Em 2002, a empresa celebrou
um TCCA com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, para a adequação do
empreendimento já existente. O Parque não foi contemplado com nenhum recurso adicional
pelos impactos permanentes decorrentes do contínuo funcionamento do empreendimento. Em
2003, a CTEEP apresentou um requerimento para implantação de Torre adicional à Linha
existente, objetivando a repotenciação do sistema.

Como impactos permanentes identificados nas três UCs em estudo foram encontrados
a compactação do solo, destruição de habitats, seccionamento e impedimento à regeneração
natural, impacto cênico e paisagístico, facilitação da ocorrência de atividades irregulares pela
abertura de acessos e possível exposição da fauna e flora a campos eletromagnéticos.

DISCUSSÃO

No modelo de valoração econômica de impactos de empreendimentos de


comunicação, rede elétrica e dutos considerou-se que a compensação deve ser paga pelo
tempo que durar o funcionamento da instalação, sendo o valor corrigido anualmente, uma vez
que se trata de impacto permanente. Os cálculos da compensação ambiental independem do
valor estabelecido pela administração pública, a título locatício ou outros, quando se tratar de
imóvel de domínio público utilizado para instalação do empreendimento (IBAMA, 2002). No
caso do P. E. do Jaraguá somente foi considerado o valor do uso locatício.

Apesar das medidas compensatórias aplicadas nas UCs afetadas pelos


empreendimentos em estudo, considera-se que os danos diretos e indiretos, advindos do
funcionamento e operação contínua, são definitivos e irreversíveis, uma vez que as estruturas
instaladas têm natureza permanente e necessitam de manutenção periódica, inviabilizando a
possibilidade de recuperação ambiental.

Ante a impossibilidade da remoção desses empreendimentos face ao interesse público


decorrente de sua utilização, faz-se necessária a aplicação de medidas mitigatórias e
compensatórias. A compensação financeira, por danos ambientais e em razão da utilização de
espaço territorial especialmente protegido, está prevista na legislação ambiental vigente,
destacando-se a Constituição Federal, art. 225, § 3º; Constituição Estadual, art. 193, inc. XII e
XX, a Lei nº 6.938/81, art. 4, inc. VII; a Lei n o 9.985/00, art. 36, e o Decreto no 4.340/02, art.
34. O valor dessa compensação é calculado com base num percentual do valor total da obra,
que compreende as intervenções para a implantação do empreendimento, deixando de
compensar as UCs pelos impactos ambientais permanentes que decorrem dessa atividade.
Assim, o valor da compensação ambiental deverá considerar os danos diretos e indiretos
permanentes das instalações implantadas nas áreas protegidas.
Os empreendimentos em questão são exemplos de instalações que foram implantadas
e funcionam sem a adoção de medidas de mitigação e compensação pelos impactos
ambientais permanentes. Constata-se a necessidade de revisão dos termos do licenciamento
dessas infra-estruturas públicas, para análise da aplicação da compensação ambiental
permanente e de valores locatícios, amparados em trabalhos técnicos científicos, em
consonância com IBAMA (2002).

CONCLUSÕES

Para a adequação dos empreendimentos, as providências mais adequadas serão: a


celebração de um Termo de Compromisso de Conduta Ambiental – TCCA previsto pela
Resolução no5, de 7 de janeiro de 1997, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado
de São Paulo – SMA, ou um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC em procedimento do
Ministério Público, conforme prevê a Lei no. 7.347/85. Para aqueles empreendimentos
anteriores às normas ambientais vigentes, caberá a aplicação da licença retificadora, prevista
pelo Decreto no 4.340/2002.

REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

Brasil. Ministério do Meio Ambiente (MMA). 2004. Sistema Nacional de Unidades de


Conservação da Natureza –SNUC: Lei 9.985 de 18/07/2000 - Decreto 4.340 de 22/08/2002.
MMA/SBF. Brasília.

Costa, S.D.; Oliva, A. & Soares, I.V.P. 2004. A atuação do Ministério Público Federal no
licenciamento de empreendimentos que afetam Unidades de Conservação: o caso da
duplicação da Rodovia Fernão Dias (BR 381) no P. E. da Cantareira, Estado de São Paulo. In:
IV Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, Anais, Curitiba. Pp. 591-600. Rede
Nacional Pró-Unidades de Conservação/ Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.
Curitiba.

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 2002.
Modelo de Valoração Econômica de Impactos em Unidades de Conservação –
Empreendimentos de Comunicação, Rede elétrica e Dutos. Brasília: IBAMA. 64 p.

Pires, L. F. A. Gestão Ambiental da Implantação de Sistemas de Transmissão de Energia


Elétrica Estudo de Caso: Interligação Norte/Sul I. 2005. Dissertação (Mestrado em Ciência
Ambiental) - Universidade Federal Fluminense, Niterói.

São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente. 2000. Atlas das Unidades de Conservação
Ambiental do Estado de São Paulo. IMESP. São Paulo.

View publication stats

Você também pode gostar