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ENTRE

LETRAS

GRAMÁTICA
CADERNO
DE AULA
LC ORTOGRAFIA

AULAS
45 E 46 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1e5 1, 2, 3 e 17

CASOS GERAIS
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 VOLUME 6

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4  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


EXERCÍCIOS
1. (UNICAMP) Por ocasião da comemoração do dia dos professores, no mês de outubro de 2003, foi
veiculada a seguinte propaganda, assinada por uma grande corporação de ensino:

Parabéns [Pl. de parabém] S. m. pl. 1. Felicitações, congratulações. 2. Oxítona terminada


em "ens", sempre acentuada. Acentuam-se também as terminadas em "a", "as", "e", "es",
"o", "os", e "em".

Para a homenagem ao Dia do Professor ser completa, a gente precisava ensinar alguma coisa.
www.destakjornal.com.br, 13/05/2013. Adaptado.

a) Observe os itens 1 e 2 do verbete PARABÉNS. Há diferenças entre eles. Aponte-as.


b) Levando em conta o enunciado que está abaixo do verbete, a quem se dirige essa propaganda?
c) Diferentes imagens da educação escolar sustentam essa propaganda. Indique pelo menos duas dessas
imagens.

2. (IFSC) O padeiro

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do
apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido algu-
ma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é
um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo
a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.
Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café
vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à
porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava
gritando:
— Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
“Então você não é ninguém?”
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera
bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e
ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera
dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era
ninguém...
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para
explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu tam-
bém, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de
jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na mão
um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do
forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal
que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica
ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do
meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre;
“não é ninguém, é o padeiro!”
E assobiava pelas escadas.
BRAGA, Rubem. O padeiro. In: ANDRADE, Carlos Drummond de; SABINO, Fernando; CAMPOS, Paulo Mendes;
BRAGA, Rubem. Para gostar de ler: v. 1. Crônicas. 12ª ed. São Paulo: Ática, 1982. p.63 - 64.

Considere as palavras abaixo, que aparecem acentuadas no texto, e assinale a única alternativa na
qual a acentuação da palavra está corretamente justificada.
VOLUME 6

a) “ninguém”: paroxítona terminada em em.


b) “detê-lo”: oxítona terminada em o.
c) “máquina”: acento diferencial.
d) “saía”: paroxítona terminada em ditongo.
e) “lá”: monossílaba tônica terminada em a.

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3. (UNIFESP)A questão baseia-se em fragmentos de três autores portugueses.

Auto da Lusitânia (Gil Vicente – 1465-1536)

Estão em cena os personagens "Todo o Mundo" (um rico mercador) e "Ninguém" (um homem ves-
tido como pobre). Além deles, participam da cena dois diabos, Berzebu e Dinato, que escutam os
diálogos dos primeiros, comentando-os, e anotando-os.
Ninguém para Todo o Mundo: E agora que buscas lá?
Todo o Mundo: Busco honra muito grande.
Ninguém: E eu virtude, que Deus mande que tope co ela já.
Berzebu para Dinato: Outra adição nos acude:
Escreve aí, a fundo, que busca honra Todo o Mundo, e Ninguém busca virtude.
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas outro mor bem qu'esse?
Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo quanto eu fizesse.
Ninguém: E eu quem me repreendesse em cada cousa que errasse.
Berzebu para Dinato: Escreve mais.
Dinato: Que tens sabido?
Berzebu: Que quer em extremo grado Todo o Mundo ser louvado, e Ninguém ser repreendido.
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas mais, amigo meu?
Todo o Mundo: Busco a vida e quem ma dê.
Ninguém: A vida não sei que é, a morte conheço eu.
Berzebu para Dinato: Escreve lá outra sorte.
Dinato: Que sorte?
Berzebu: Muito garrida: Todo o Mundo busca a vida, e Ninguém conhece a morte.
(Antologia do Teatro de Gil Vicente)

Os Maias (Eça de Queirós – 1845-1900)

– E que somos nós? – exclamou Ega. – Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim?
Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela
razão...
Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram mais felizes esses que se dirigiam só pela
razão, não se desviando nunca dela, torturando-se para se manter na sua linha inflexível, secos,
hirtos, lógicos, sem emoção até o fim...
– Creio que não – disse o Ega. – Por fora, à vista, são desconsoladores. E por dentro, para eles
mesmos, são talvez desconsolados. O que prova que neste lindo mundo ou tem de se ser insensato
ou sem sabor...
– Resumo: não vale a pena viver...
– Depende inteiramente do estômago! – atalhou Ega.
Riram ambos. Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele
deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada
recear... Não se abandonar a uma esperança – nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem
e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e
de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-
-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo... Sobretudo não ter
apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida,
era da inutilidade de todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma
na Terra – porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesiastes, em desilusão e poeira.
(Eça de Queirós, Os Maias)

Ode Triunfal Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa – 1888-1935)

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica


Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
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Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!


Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!

6  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical –


Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes elétricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
(Fernando Pessoa, Obra Poética)

Nos fragmentos de "Os Maias" e "Ode triunfal", existem palavras que recebem acento gráfico, de
acordo com suas regras específicas. Indique a alternativa em que todas as palavras são acentuadas
graficamente, segundo a mesma regra.
a) estômago, colégio, fábrica, lâmpada, inflexível.
b) Virgílio, fúria, carícias, matéria, colégio.
c) trópicos, lábios, fúria, máquinas, elétricas.
d) sério, cérebro, Virgílio, sábio, lógico.
e) Ésquilo, carícia, Virgílio, átomos, êmbolo.

4. (IFSC) Leia a tirinha abaixo, na qual aparecem Mafalda e seu pai, e responda à questão.
O contexto é a Argentina da década de 70 ou 80 do século passado.

Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
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Sei que canto. E a canção é tudo.


Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
(Meireles, Cecília. “Motivo”. In: Viagem. Lisboa: Editorial Império, 1939)

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Na tirinha, temos “por que” nas perguntas (1º e 4º quadrinhos) e “porque” na resposta (2º qua-
drinho). Quanto a esses e outros usos de porque / por que, é CORRETO afirmar que:
a) se Mafalda tivesse perguntado, “As vacas, que têm tanto campo aqui, vão para o estrangeiro por que?”,
a grafia por que estaria correta, mesmo com mudança para o final da frase.
b) na frase “Ela não soube dizer porque o marido tardava tanto”, está correta a grafia porque, pois não
se trata de uma pergunta.
c) em “Deve haver um porquê para tanto ódio”, está correto o uso do acento em porquê, pois se trata de
um substantivo, sinônimo de motivo, razão.
d) na frase “O carro por que me interessei era caro demais”, há erro quanto à grafia de por que.
e) no verso inicial do poema “Motivo”, (“Eu canto porque o instante existe”), deveria ter sido usado por
que, separado, uma vez que não se trata de uma resposta, pois não há nenhum texto antes.

5. (UFSM) Chapeuzinho Vermelho e o lobo

Pois é! Estava 1eu em 2minha casa, pois, como sabem, a mata é a única casa que 4tenho, quando vi
uma menina 6branquela e com horroroso 10chapeuzinho vermelho caminhando 8displicentemente
e levando uma sacola debaixo do braço. “Puxa, bem que será capaz de atirar copos e garrafas plás-
ticas sem cuidado na minha mata e 5devo adverti-la para que tenha cuidado e respeito ao meio
13
ambiente”. Assim pensando, dirigi-me à garota. Esta, entretanto, ao 3me ver, gritou horrorizada:

— Meu Deus! Meu Deus! Um terrível 17lobo. E, em desespero, nem deu tempo para explicação e saiu
correndo em disparada.
Fiquei sinceramente ofendido, magoado mesmo, mas refleti: “É ainda uma criança, nada 12sabe sobre
a beleza animal e de nada adiantarão meus ecológicos conselhos”. Deduzindo que por certo iria 11até
a casa da velhota lá perto do riacho, cortei caminho e me antecipei, tentando argumentar com sua
avó adulta. Foi inútil. Esta, ao me ver, gritou com igual 14pavor e já ia avançando sobre a espingarda,
quando, em último recurso, tive de devorá-la. Aí pensei: “Se a garota chega e me encontra em meus
trajes habituais, por certo vai continuar a me ofender e não me dará ouvidos”. Foi por esse motivo
que, 9depressa, vesti as roupas da velha e cobri-me em sua cama.
Pois não é que a menina, assim que me viu e pensou ser a avó, continuou sua sessão de ofensas e
desmoralizações. Foi logo dizendo:
— Meu Deus, 15vovó, como seus olhos estão 7horrorosos...
Essa dura crítica mexeu com minha autoestima e ofendeu-me até a última gota de sangue. Sei que
não tenho os olhos de Brad Pitt, mas ainda assim lutei contra a revolta e, com doçura, argumentei:
— São para melhor enxergá-la, meu amor...
Foi inútil essa demonstração de 16afeto. A garotinha continuou a escandalizar meus ouvidos, minha
respiração, meus sentimentos, até o limite máximo da tolerância, quando, esmagado por tantas
ofensas, devorei-a também.
O final da história 18vocês conhecem... veio o caçador, abriu-me a barriga, salvando a Chapeuzinho e
a avó e aqui me largando ensanguentado e à morte. Tudo em nome da ecologia! Não é um absurdo?
ANTUNES, Celso. Casos, Fábulas, Anedotas ou Inteligências, capacidades, competências. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 51-52. (adaptado)

Segundo estudiosos da gramática da língua portuguesa, em quase todo território brasileiro, "e"
e "o" átonos, em final de palavra, correspondem, respectivamente, aos fonemas /i/ e /u/. Esse
fenômeno é conhecido como redução da vogal. Entretanto, se e e o forem tônicos, o fenômeno da
redução não ocorre (FARACO e MOURA, 2003). A alternativa em que ambas as palavras, no contexto
em que foram usadas, apresentam condições para a ocorrência do fenômeno redução da vogal é:
a) “vermelho” (ref. 10) e “displicentemente” (ref. 8).
b) “até” (ref. 11) e “sabe” (ref. 12).
c) “ambiente” (ref. 13) e “pavor” (ref. 14).
d) “vovó” (ref. 15) e “afeto” (ref. 16).
e) “lobo” (ref. 17) e “vocês” (ref. 18).
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8  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


6. (ENEM) Diante da visão de um prédio com uma placa indicando SAPATARIA PAPALIA, um jovem
deparou com a dúvida: como pronunciar a palavra PAPALIA?

Levado o problema à sua sala de aula, a discussão girou em torno da utilidade de conhecer as regras
de acentuação e, especialmente, do auxílio que elas podem dar à correta pronúncia de palavras.
Após discutirem pronúncia, regras de acentuação e escrita, três alunos apresentaram as seguintes
conclusões a respeito da palavra PAPALIA:
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a palavra seria paroxí-
tona terminada em ditongo crescente.
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a" estariam formando hiato.
III.Se a sílaba tônica for LI, a escrita deveria ser PAPALIA, pois não haveria razão para o uso de
acento gráfico.
A conclusão está correta apenas em:
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.

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LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  9


LC FUNÇÕES DE "A", "QUE" E "SE

AULAS
47 E 48 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1 1, 2 e 3

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10  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


EXERCÍCIOS
Leia o texto abaixo para responder à questão

1. (ANHEMBI MORUMBI – MED UNESP) No trecho “o Ministério da Saúde estima que 200 mil vidas
poderão ser salvas já nos 3 primeiros anos do programa.” o segmento em destaque exerce a mesma
função sintática que se encontra destacada em
a) “Bata no peito com orgulho.”
b) “O Brasil lança a maior pesquisa do mundo...”
c) “O Ministério da Saúde acaba de dar início ao maior estudo com células-tronco...”
d) “pelo tratamento celular, que, além de recuperar as condições do paciente sem riscos de rejeição,
diminui o número de reinternações ...”
e) “Brasil. Um País que está trabalhando...”

Leia o trecho do romance O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos, para responder à questão.
Pus-me a examinar colombinas fáceis, do lado da Praça Sete, quando inesperadamente me vi en-
volvido no fluxo de um cordão. Procurei desvencilhar-me, como pude, mas a onda humana vinha
imensa, crescendo em torno de mim, por trás, pela frente e pelos flancos. Entreguei-me, então,
àquela humanidade que me pareceu mais cansada que alegre. Os sambas eram tristes e os homens
pingavam suor como se viessem do fundo de uma mina. Um máscara-de-macaco deu-me o braço
e mandou-me cantar. Respondi-lhe que, em rapaz, consumi a garganta em serenatas e que esta,
já agora, não ajudava. Imagino a figura que fiz, de colarinho alto e pince-nez1, no meio daquela
roda alegre, pois os foliões se engraçaram comigo, e fui, por momentos, o atrativo do cordão. Tanto
fizeram que, sem perceber o disparate, me pus a entoar velha canção de Vila Caraíbas.
Uma gargalhada espantosa explodiu em torno de mim. Deram-me uma corrida e, depois de me
terem atirado confetti2 à boca, abandonaram-me ao meio da rua, embriagado de éter. Novo cordão
levou-me, porém, para outro lado, e, nesse vai-vem, fui arrastado pelos acontecimentos. Um jacto
de perfume me atingia às vezes. Procurava, com os olhos gratos, a origem dessa carícia, mas perce-
bia, desanimado, que aquele jacto resvalara de outro rosto a que o destinara uma boneca holande-
sa. Contudo, aquelas migalhas me consolavam e comoviam. Deem-me um jacto de éter perdido no
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espaço e construirei um reino. Mas a boneca holandesa foi arrastada por um príncipe russo, que a
livrou dos braços de um marinheiro.
(O amanuense Belmiro, 1938.)

1
pince-nez: óculos, sem hastes laterais, que se prendem ao nariz com uma mola.
2
confetti: confetes.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  11


2. (UNIVAG – MED UNESP) “Procurava, com Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos de-
os olhos gratos, a origem dessa carícia, mas pois de o Homo sapiens deixar uma mão com
percebia, desanimado, que aquele jacto res- tinta estampada em uma pedra, a humanida-
valara de outro rosto a que o destinara uma de era capaz de descrever matematicamente
boneca holandesa” (2o parágrafo) a maior estrutura conhecida: o Universo. A
Os termos destacados constituem, respecti- façanha intelectual levava as digitais de Al-
vamente, bert Einstein (1879-1955).
a) um pronome, uma preposição, uma preposi- Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico
ção e um artigo. de origem alemã escreveu a um colega di-
b) um artigo, uma preposição, um artigo e um zendo que o que produzira o habilitaria a
pronome. ser “internado em um hospício”. Mais tar-
c) um artigo, uma preposição, uma preposição
de, eferiu-se ao arcabouço teórico que havia
e um pronome.
d) um pronome, uma preposição, um artigo e construído como um “castelo alto no ar”.
um artigo. O Universo que saltou dos cálculos de Eins-
e) um artigo, um artigo, uma preposição e um tein tinha três características básicas: era fi-
pronome. nito, sem fronteiras e estático – o derradeiro
traço alimentaria debates e traria arrependi-
Leia a fábula “O porco selvagem, o cavalo e o mento a Einstein nas décadas seguintes.
caçador”, do escritor grego Esopo (620 a.C.?- Em “Considerações Cosmológicas na Teoria
564 a.C.?), para responder à questão. da Relatividade Geral”, publicado em feve-
reiro de 1917 nos Anais da Academia Real
O porco selvagem e o cavalo dividiam o mes- Prussiana de Ciências, o cientista construiu
mo pasto. Como o porco toda vez destruía (de modo muito visual) seu castelo usando
o capim e turvava a água, o cavalo – que- as ferramentas que ele havia forjado pouco
rendo se vingar dele – tomou como aliado o antes: a teoria da relatividade geral, finali-
caçador. Tendo este dito que não conseguiria zada em 1915, esquema teórico já classifica-
de modo algum ajudá-lo, a menos que ele do como a maior contribuição intelectual de
suportasse o bridão1 e o aceitasse como sua uma só pessoa à cultura humana.
montaria, o cavalo a tudo se submeteu. E o Esse bloco matemático impenetrável (mesmo
caçador, montando nele, não só derrotou o para físicos) nada mais é do que uma teoria
porco como também, levando o cavalo à co- que explica os fenômenos gravitacionais. Por
cheira, lá o prendeu. exemplo, por que a Terra gira em torno do
(Fábulas, 2017.)
Sol ou por que um buraco negro devora avi-
1
bridão: tipo de embocadura utilizada em ca- damente luz e matéria.
valos, também denominada “doma”. Com a introdução da relatividade geral, a te-
oria da gravitação do físico britânico Isaac
3. (UNIVAG – MED UNESP 2019) Em “Tendo Newton (1642-1727) passou a ser um caso
este dito que não conseguiria de modo al- específico da primeira, para situações em
gum ajudá-lo, a menos que ele suportasse o que massas são bem menores do que as das
bridão e o aceitasse como sua montaria, o estrelas e em que a velocidade dos corpos é
cavalo a tudo se submeteu”, os termos subli- muito inferior à da luz no vácuo (300 mil
nhados constituem, respectivamente, km/s).
a) pronome, artigo e artigo. Entre essas duas obras de respeito (de 1915
b) pronome, artigo e preposição. e de 1917), impressiona o fato de Einstein
c) preposição, pronome e artigo. ter achado tempo para escrever uma peque-
d) preposição, artigo e pronome. na joia, “Teoria da Relatividade Especial e
e) artigo, pronome e preposição. Geral”, na qual populariza suas duas teo-
rias, incluindo a de 1905 (especial), na qual
mostrara que, em certas condições, o espaço
Leia o trecho extraído do artigo “Cosmolo-
pode encurtar, e o tempo, dilatar.
gia, 100”, de Antonio Augusto Passos Vi-
Tamanho esforço intelectual e total entrega
deira e Cássio Leite Vieira, para responder
ao raciocínio cobraram seu pedágio: Einstein
à questão.
adoeceu, com problemas no fígado, icterícia
“Vou conduzir o leitor por uma estrada que e úlcera. Seguiu debilitado até o final daque-
eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” A frase la década.
VOLUME 6

– que tem algo da essência do hoje clássico Se deslocados de sua época, Einstein e sua
A estrada não percorrida (1916), do poeta cosmologia podem ser facilmente vistos
norte-americano Robert Frost (1874-1963) como um ponto fora da reta. Porém, a his-
– está em um artigo científico publicado há toriadora da ciência britânica Patricia Fara
cem anos, cujo teor constitui um marco his- lembra que aqueles eram tempos de “cos-
tórico da civilização. mologias”, de visões globais sobre temas

12  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


científicos. Ela cita, por exemplo, a teoria da O pão era particularmente atingido. Em seu
deriva dos continentes, do geólogo alemão romance de 1771, The expedition of Hum-
Alfred Wegener (1880-1930), marcada por phry Clinker, Smollett definiu o pão de Lon-
uma visão cosmológica da Terra. dres como um composto tóxico de “giz, 2alu-
Fara dá a entender que várias áreas da ci- me e cinzas de ossos, insípido ao paladar e
ência, naquele início de século, passaram a destrutivo para a constituição”; mas acusa-
olhar seus objetos de pesquisa por meio de ções assim já eram comuns na época. A pri-
um prisma mais amplo, buscando dados e hi- meira acusação formal já encontrada sobre a
póteses em outros campos do conhecimento. adulteração generalizada do pão está em um
(Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado.) livro chamado Poison detected: or frightful
truths, escrito anonimamente em 1757, que
4. (UNESP) Em “O Universo que saltou dos cál-
revelou segundo “uma autoridade altamen-
culos de Einstein tinha três características
te confiável” que “sacos de ossos velhos são
básicas [...]” (4o parágrafo), a oração desta-
usados por alguns padeiros, não infrequen-
cada encerra sentido de
temente”, e que “os ossuários dos mortos
a) consequência.
são revolvidos para adicionar imundícies ao
b) explicação.
alimento dos vivos”.
c) causa.
d) restrição. (Em casa, 2011. Adaptado.)
e) conclusão. 1
terebintina: resina extraída de uma planta
Leia o trecho do livro Em casa, de Bill Bry- e usada na fabricação de vernizes, diluição
son, para responder à questão a seguir. de tintas etc.
2
alume: designação dos sulfatos duplos de
Quase nada, no século XVII, escapava à as- alumínio e metais alcalinos, com proprie-
túcia dos que adulteravam alimentos. O açú- dades adstringentes, usado na fabricação de
car e outros ingredientes caros muitas vezes corantes, papel, porcelana, na purificação de
eram aumentados com gesso, areia e poeira. água, na clarificação de açúcar etc.
A manteiga tinha o volume aumentado com
sebo e banha. Quem tomasse chá, segundo
5. (UNESP) É invariável quanto a gênero e a
autoridades da época, poderia ingerir, sem
número o termo sublinhado em:
querer, uma série de coisas, desde serragem
a) “o resto era composto de areia e sujeira” (1º
até esterco de carneiro pulverizado. Um car-
parágrafo).
regamento inspecionado, relata Judith Flan-
b) “O pão era particularmente atingido” (3º pa-
ders, demonstrou conter apenas a metade de
rágrafo).
chá; o resto era composto de areia e sujeira.
c) “O açúcar e outros ingredientes caros” (1º
Acrescentava-se ácido sulfúrico ao vinagre
parágrafo).
para dar mais acidez; giz ao leite; 1terebin-
d) “uma autoridade altamente confiável” (3º
tina ao gim. O arsenito de cobre era usado
para tornar os vegetais mais verdes, ou para parágrafo).
fazer a geleia brilhar. O cromato de chumbo e) “um pouquinho de manipulação e engodo”
dava um brilho dourado aos pães e também (2º parágrafo).
à mostarda. O acetato de chumbo era adicio-
nado às bebidas como adoçante, e o chumbo
avermelhado deixava o queijo Gloucester, se
não mais seguro para comer, mais belo para
olhar.
Não havia praticamente nenhum gênero que
não pudesse ser melhorado ou tornado mais
econômico para o varejista por meio de um
pouquinho de manipulação e engodo. Até as
cerejas, como relata Tobias Smollett, ganha-
vam novo brilho depois de roladas, delica-
damente, na boca do vendedor antes de se-
rem colocadas em exposição. Quantas damas
VOLUME 6

inocentes, perguntava ele, tinham saboreado


um prato de deliciosas cerejas que haviam
sido “umedecidas e roladas entre os maxila-
res imundos e, talvez, ulcerados de um mas-
cate de Saint Giles”?

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  13


LC PONTUAÇÃO I

AULAS
49 E 50 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1, 6, 8 e 9 1, 2, 3, 4, 18, 27 e 29

CASOS GERAIS
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14  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


EXERCÍCIOS
Leia o texto a seguir para responder à questão
O fast-food também adotou a dieta de low carb
No século XXI, a “correria” do dia a dia (vai para o escritório, depois vai para a faculdade, depois
para a academia, depois passa na casa do namorado...) faz com que as pessoas sofram com a falta
de tempo para preparar comida ou sequer ir a um restaurante e, por isso, os fast-foods estão aí.
Todavia, para os seguidores de dietas, esses estabelecimentos eram terríveis, pois não ofereciam
pratos alternativos que fossem menos calóricos. Felizmente, o consumidor de poucos carboidratos
de hoje não precisa sair de sua dieta, já que os muitos restaurantes de fast-food estão tomando a
dianteira e servindo várias alternativas com baixo teor de carboidratos.
Diante da grande expansão das dietas de baixo carboidrato, as grandes lanchonetes do mundo
também criaram novas opções nos seus cardápios os quais se adaptam à nova moda.
Algumas dessas lanchonetes optaram por servir, em alguns pratos, saladas no lugar do pão, que
é um dos principais alimentos detentores de carboidratos (e é composto praticamente por eles!).
Outras preferiram pesquisar diferentes tipos de pães que contêm menor quantidade de carboidra-
tos, não descaracterizando assim os tradicionais sanduíches lá encontrados. Além disso, expõem
nos seus restaurantes o valor dos carboidratos contidos naquele alimento. Assim, o cliente pode
escolher de forma bem mais consciente.
A lanchonete X, por sua vez, oferece diferentes tipos de molho, transmitindo assim ao cliente o
direito de escolher. A Y também tem seus sanduíches montados por clientes.
NEER, Ketherine. Disponível em: http://saude.hsw.uol.com.br/dietacom-baixo-teor-de-carboidratos.htm (Adaptado)

1. (ANHEMBI MORUMBI – MED UNESP) “A lanchonete X, por sua vez, oferece diferentes tipos de mo-
lho, transmitindo assim ao cliente o direito de escolher.”
As vírgulas presentes no texto se justificam, respectivamente, por
a) demarcarem uma expressão explicativa e uma oração subordinada reduzida de gerúndio.
b) enfatizarem termos coordenados organizados em sua produção oral, em registro informal.
c) especificarem termos subordinados deslocados da sua posição canônica em frases portuguesas.
d) isolarem o sujeito da oração de seu predicado, além de separarem um adjunto adverbial antecipado.
e) separarem expressão explicativa e demarcarem um adjunto adverbial deslocado do seu lugar canônico.

2. (FUVEST) Leia as seguintes manchetes:

GRUPO I GRUPO II
Esperada, na Câmara, a mensagem pe- Quase metade dos médicos receita o que
dindo a decretação do estado de guerra indústria quer
Jornal do Brasil, 07 de outubro de 1937. Folha de S. Paulo, 31 de maio de 2010.

Encerrou seus trabalhos a Conferência Novo terminal de Cumbica atenderá 19 mi-


de Paris lhões ao ano
Folha de S. Paulo, 26 de junho de 2011.
Folha da Manhã, 16 de julho de 1947.

MEC divulga hoje resultados do Enem por


Causaram viva apreensão nos E.U.A. os
escolas
discos voadores Zero Hora, 22 de novembro de 2012.
Folha da Manhã, 30 de julho de 1952.

a) Cada um dos grupos de manchetes acima reproduzidos, por ter sido escrito em épocas diferentes,
caracteriza-se pelo uso reiterado de determinados recursos linguísticos. Indique um recurso linguístico
VOLUME 6

que caracteriza as manchetes de cada um desses grupos.


b) Manchetes jornalísticas costumam suprimir vírgulas. Transcreva a última manchete de cada grupo,
acrescentando vírgulas onde forem cabíveis, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  15


Leia uma passagem do livro A vírgula, do fi- Pontuar bem é ter visão clara da estrutura
lólogo Celso Pedro Luft (1921-1995). do pensamento e da frase. Pontuar bem é go-
vernar as rédeas da frase. Pontuar bem é ter
A vírgula no vestibular de português ordem, no pensar e na expressão.
“Mas, esta, não é suficiente.” 3. (UNESP) Amanhã serão doutores, e a vírgula
“Porque, as respostas, não satisfazem.” continuará sendo um objeto não identificado.
“E por isso, surgem as guerras.” Com base nesta previsão, o autor acredita que:
“E muitas vezes, ele não se adapta ao meio
a) com a internet, futuramente a vírgula se
em que vive.”
tornará desnecessária e desconhecida.
“Pois, o homem é um ser social.”
b) todos os doutores esquecem o que aprende-
“Muitos porém, se esquecem que...”
“A sociedade deve pois, lutar pela justiça so- ram sobre a vírgula.
cial.” c) quanto à sintaxe, não se pode dizer se a vír-
gula é objeto direto ou indireto.
Que é que você acha de quem virgula assim? d) no futuro, os doutores precisarão consultar
Você vai dizer que não aprendeu nada de pon- ufos para aprender a usar a vírgula.
tuação quem semeia assim as vírgulas. Nem e) mesmo depois de formadas, muitas pessoas
poderá dizer outra coisa. não saberão usar a vírgula.
Ou não lhe ensinaram, ou ensinaram e ele
não aprendeu. O certo é que ele se formou no 4. (UNICAMP)
curso secundário. Lepidamente, sem maiores
dificuldades. Mas a vírgula é um “objeto não
identificado”, para ele.
Para ele? Para eles. Para muitos eles, uma
legião. Amanhã serão doutores, e a vírgula
continuará sendo um objeto não identifica-
do. Sim, porque os três ou quatro mil menos
fracos ultrapassam o vestíbulo... Com vírgula
ou sem vírgula. Que a vírgula, convenhamos,
até que é um obstáculo meio frágil, um ris- Na tira de Garfield, a comicidade se dá por
quinho. Objeto não identificado? Não, objeto uma dupla possibilidade de leitura.
invisível a olho nu. Pode passar despercebido a) Explicite as duas leituras possíveis e expli-
até a muito olho de lince de examinador... que como se constrói cada uma delas.
— A vírgula, ora, direis, a vírgula... b) Use vírgula(s) para discernir uma leitura da
Mas é justamente essa miúda coisa, esse ris- outra.
quinho, que maior informação nos dá sobre as
qualidades do ensino da língua escrita. Sobre TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
o ensino do cerne mesmo da língua: a frase,
sua estrutura, composição e decomposição. Uma última gargalhada estrondosa. 1E de-
Da virgulação é que se pode depreender a pois, o silêncio. O palhaço jazia 2imóvel no
consciência, o grau de consciência que tem, chão. 3Mas seu rosto continua sorrindo, para
quem escreve, do pensamento e de sua ex- sempre. Porque a carreira original do Corin-
pressão, do ir-e-vir do raciocínio, das hesi- ga era para durar apenas 30 páginas. O tem-
tações, das interpenetrações de ideias, das po de envenenar Gotham, sequestrar 4Robin,
sequências e interdependências, e, linguisti- enfiar um par de sopapos na Homem-Mor-
camente, da frase e sua constituição. cego e disparar o primeiro “vou te matar”
As vírgulas erradas, ao contrário, retratam a da sua relação. Na briga final do Batman
confusão mental, a indisciplina do espírito, o nº. 1, o “horripilante bufão”sofria um final
mau domínio das ideias e do fraseado. digno de sua desumana ironia: 5ao tropeçar,
Na minha carreira de professor, fiz muitos
cravava sua própria adaga no peito. Assim
testes de pontuação. E sempre ficou clara a
decidiram e desenharam 6seus pais, os artis-
relação entre a maneira de pontuar e o grau
de cociente intelectual. tas Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson.
Conclusão que tirei: os exercícios de pontua- Entretanto, o criminoso mostrou, já em sua
ção constituem um excelente treino para de- primeira aventura, um enorme talento para
7
senvolver a capacidade de raciocinar e cons- se rebelar contra a ordem estabelecida. 8Seu
truir frases lógicas e equilibradas. carisma seduziu a editora DC Comics, que
Quem ensina ou estuda a sintaxe — que é a impôs o acréscimo de um quadrinho. Já den-
 VOLUME 6

teoria da frase (ou o “tratado da construção”, tro da ambulância, vinha à tona “um dado
como diziam os gramáticos antigos) — for- desconcertante”. E então um médico senten-
çosamente acaba na importância das pausas, ciava: “Continua 9vivo. E vai sobreviver!”.
cortes, incidências, nexos, etc., elementos Tommaso Koch. “O Coringa completa 80 anos e na
que vão se espelhar na pontuação, quando a Espanha ganha duas HQs, que inspiram debates
mensagem é escrita. filosóficos sobre a liberdade”, EI País. Junho/2020.

16  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


5. (FUVEST 2021) As vírgulas em “E depois, o encontrados próximos a telas de Van Gogh.
silêncio.” (ref. 1) e em “Mas seu rosto con- Mas isso não lhe serviu de consolo. Suspeita-
tinua sorrindo, para sempre.” (ref. 3) são va que os sádicos cupins estivessem queren-
usadas, respectivamente, com a mesma fina- do apenas debochar dele. Cupins e Van Gogh,
lidade que as vírgulas em era tudo a mesma coisa.
(O imaginário cotidiano, 2002.)
a) “Após a queda, tomaram mais cuidado.” e
“Quanto mais espaço, mais liberdade.”. 6. (UNIFESP 2020) Tendo em vista a ordem
b) “Aos estrangeiros, ofereceram iguanas.” e inversa da frase, verifica-se o emprego de
“Limpavam a casa, e preparávamos as refei- vírgula para separar um termo que exerce a
ções.”. função de sujeito em:
c) “Colheram trigo e nós, algodão.” e “Eles se a) “Deu-lhe muito trabalho, aquilo.” (4º pará-
encontraram nas férias, mas não viajaram.”. grafo)
d) “Para meus amigos, o melhor.” e “Organizava b) “Em vez de atacar as obras de arte, os cupins
tudo,cautelosamente. preferiram as vigas de sustentação do pré-
e) “Viu o espetáculo, considerado o maior fenô- dio, feitas de madeira absolutamente vul-
meno de bilheteria.” e “‘Conheço muito bem’, gar.” (6º parágrafo)
afirmou o rapaz.”. c) “Para ele era repulsivo, mas para os insetos
era agradável, e isso era o que importava.”
Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de (5º parágrafo)
Moacyr Scliar, para responder à questão a se- d) “Não, usaria um método científico, recorren-
guir. do a aliados absolutamente insuspeitados:
Havia um homem que odiava Van Gogh. Pin- os cupins.” (3º parágrafo)
tor desconhecido, pobre, atribuía todas suas e) “Para isso, recorreu a uma técnica pavlovia-
frustrações ao artista holandês. Enquanto na.” (4º parágrafo)
existirem no mundo aqueles horríveis giras-
sóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles
ciprestes deformados, dizia, não poderei ja-
mais dar vazão ao meu instinto criador.
Decidiu mover uma guerra implacável, sem
quartel, às telas de Van Gogh, onde quer que
estivessem. Começaria pelas mais próximas,
as do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Seu plano era de uma simplicidade diabóli-
ca. Não faria como outros destruidores de te-
las que entram num museu armados de facas
e atiram-se às obras, tentando destruí-las;
tais insanos não apenas não conseguem seu
intento, como acabam na cadeia. Não, usaria
um método científico, recorrendo a aliados
absolutamente insuspeitados: os cupins.
Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro
lugar, era necessário treinar os cupins para
que atacassem as telas de Van Gogh. Para
isso, recorreu a uma técnica pavloviana. Re-
produções das telas do artista, em tamanho
natural, eram recobertas com uma solução
açucarada. Dessa forma, os insetos aprende-
ram a diferenciar tais obras de outras.
Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um
tipo de cupim que só queria comer Van Gogh.
Para ele era repulsivo, mas para os insetos
era agradável, e isso era o que importava.
Conseguiu introduzir os cupins no museu e
ficou à espera do que aconteceria. Sua de-
cepção, contudo, foi enorme. Em vez de ata-
car as obras de arte, os cupins preferiram as
VOLUME 6

vigas de sustentação do prédio, feitas de ma-


deira absolutamente vulgar. E por isso foram
detectados.
O homem ficou furioso. Nem nos cupins se
pode confiar, foi a sua desconsolada con-
clusão. É verdade que alguns insetos foram

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  17


LC PONTUAÇÃO II

AULAS
51 E 52 COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1, 6 e 8 1, 2, 3, 4, 18, 27 e 29

CASOS GERAIS
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18  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


EXERCÍCIOS 2. (FUVEST) O emprego de aspas em uma dada
expressão pode servir, inclusive, para indicar
que ela
1. (FUVEST 2019) Leia os textos. I. foi utilizada pelo autor com algum tipo de
restrição;
Texto I
II. pertence ao jargão de uma determinada
Devo acrescentar que Marx nunca poderia área do conhecimento;
ter suposto que o capitalismo preparava o III. contém sentido pejorativo, não assumido
caminho para a libertação humana se tives- pelo autor.
se olhado sua história do ponto de vista das Considere as seguintes ocorrências de em-
mulheres. Essa história ensina que, mesmo prego de aspas presentes no texto:
quando os homens alcançaram certo grau de a. “pós-moderna” (ref. 2);
liberdade formal, as mulheres sempre foram b. “mau uso” (ref. 3);
tratadas como seres socialmente inferiores, c. “livre jogo do mercado” (ref. 4);
exploradas de modo similar às formas de d “livre” (ref. 5);
escravidão. “Mulheres”, então, no contexto e “resto do mundo” (ref. 6).
deste livro, significa não somente uma his- As modalidades I, II e III de uso de aspas,
tória oculta que necessita se fazer visível, elencadas acima, verificam-se, respectiva-
mas também uma forma particular de explo-
mente, em
ração e, portanto, uma perspectiva especial a
a) A, C e E.
partir da qual se deve reconsiderar a história b) B, C e D.
das relações capitalistas. c) C, D e E.
FEDERICI, Silvia, Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo d) A, B e E.
e acumulação primitiva. S.l.: Elefante, 2017.
e) B, D e A.
Texto II
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Em todas as épocas sociais, o tempo neces-
sário para produzir osmeios de subsistência O silêncio é a matéria significante por ex-
interessou necessariamente aos homens, celência, um continuum significante. O real
embora de modo desigual, de acordo com o da comunicação é o silêncio. E como o nosso
estádio de desenvolvimento da civilização. objeto de reflexão é o discurso, chegamos a
MARX, Karl, O capital. São Paulo: Boitempo, 2017. uma outra afirmação que sucede a essa: o si-
lêncio é o real do discurso.
a) Existe diferença de sentido no emprego da O homem está “condenado” a significar.
palavra “homens” em cada um dos textos? Com ou sem palavras, diante do mundo, há
Justifique. uma injunção à “interpretação”: tudo tem
b) Explique o uso das aspas em “’Mulheres’”, no de fazer sentido (qualquer que ele seja). O
texto I. homem está irremediavelmente constituído
pela sua relação com o simbólico.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Numa certa perspectiva, a dominante nos
A civilização 2“pós-moderna” culminou em um estudos dos signos, se produz uma sobrepo-
progresso inegável, que não foi percebido an- sição entre linguagem (verbal e não-verbal)
tecipadamente, em sua inteireza. Ao mesmo e significação.
tempo, sob o 3“mau uso” da ciência, da tec- Disso decorreu um recobrimento dessas duas
nologia e da capacidade de invenção nos pre- noções, resultando uma redução pela qual
cipitou na miséria moral 1inexorável. Os que qualquer matéria significante fala, isto é,
condenam a ciência, a tecnologia e a invenção é remetida à linguagem (sobretudo verbal)
criativa por essa miséria ignoram os desafios para que lhe seja atribuído sentido.
que explodiram com o capitalismo monopolis- Nessa mesma direção, coloca-se o “império
ta de sua terceira fase. do verbal” em nossas formas sociais: traduz-
Em páginas secas premonitórias, E. Mandel* -se o silêncio em palavras. Vê-se assim o
apontara tais riscos. O 4“livre jogo do mercado” silêncio como linguagem e perde-se sua es-
(que não é e nunca foi 5“livre”) rasgou o ven- pecificidade, enquanto matéria significante
tre das vítimas: milhões de seres humanos nos distinta da linguagem.
países ricos e uma carrada maior de milhões (Eni Orlandi. As formas do silêncio, 1997.)
nos países pobres. O centro acabou fabricando
a sua periferia intrínseca e apossou-se, como 3. (UNIFESP) No segundo parágrafo do texto,
empregam-se as aspas no termo “condena-
VOLUME 6

não sucedeu nem sob o regime colonial direto,


das outras periferias externas, que abrangem do” para
quase todo o 6“resto do mundo”. a) atribuir-lhe um segundo sentido, equivalen-
Florestan Fernandes, Folha de S. Paulo, 27/12/1993. te a culpado.
b) reforçar-lhe o sentido contextual, equiva-
(*) Ernest Ezra Mandel (1923-1995): econo-
lente a predestinado.
mista e militante político belga.

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  19


c) marcá-lo com sentido conotativo, equivalen- d) Em “(...), por alguns meses, (...)”, no segun-
te a reprovável. do parágrafo, as vírgulas são necessárias para
d) enfatizar-lhe o sentido denotativo, equiva- separar o aposto da expressão a que se refere:
lente a desgraçado. “chegou a trabalhar”.
e) destituí-lo do sentido literal, equivalente a e) No último período, as reticências foram uti-
buliçoso. lizadas como um recurso retórico para obter
efeito de suspense.
4. (INSPER)
5. (ENEM) L.J.C.
— 5 tiros?
— É.
— Brincando de pegador?
— É. O PM pensou que...
— Hoje?
— Cedinho.
COELHO, M ln: FREIRE, M. (Org).
Os cem menores contos brasileiros do século.
São Paulo: Ateliê Editorial. 2004.

Os sinais de pontuação são elementos com


importantes funções para a progressão te-
mática. Nesse miniconto, as reticências fo-
ram utilizadas para indicar
a) uma fala hesitante.
b) uma informação implícita.
c) uma situação incoerente.
Os pais já perceberam e reclamam. Os especia- d) a eliminação de uma ideia.
listas em comportamento listam vários moti- e) a interrupção de uma ação.
vos para o fenômeno – desde falta de autoes-
tima até gosto por novidades. Mas agora é a 6. (ENEM DIGITAL 2020) Muito do que gasta-
vez de os próprios jovens admitirem: "Somos mos (e nos desgastamos) nesse consumismo
feroz podia ser negociado com a gente mes-
consumistas mesmo!".
mo: uma hora de alegria em troca daquele
Para economizar sem abdicar das compras, a
sapato. Uma tarde de amor em troca da pres-
estudante carioca Camila Florez, 18, chegou a
tação do carro do ano; um fim de semana em
trabalhar, por alguns meses, em uma loja de
família em lugar daquele trabalho extra que
um shopping no Rio de Janeiro, onde podia
está me matando e ainda por cima detesto.
comprar modelos com desconto. Não sei se sou otimista demais, ou fora da
O guarda-roupa cheio motivou Camila e a realidade. Mas, à medida que fui gostando
amiga Roberta Moulin, 18, a criarem o blog mais do meu jeans, camiseta e mocassins,
"Reciclando Moda", onde vendem peças que me agitando menos, querendo ter menos,
compraram e nunca foram usadas. "Já vende- fui ficando mais tranquila e mais divertida.
mos muita coisa", comemora Camila, que gas- Sapato e roupa simbolizam bem mais do que
ta parte do dinheiro recebido em... roupas. isso que são: representam uma escolha de
(Folha de S. Paulo, 27/07/2008) vida, uma postura interior.
Nunca fui modelo de nada, graças a Deus.
Partindo do pressuposto de que a pontuação Mas amadurecer me obrigou a fazer muita
exerce importante papel na construção de tex- faxina nos armários da alma e na bolsa tam-
tos escritos, indique a alternativa que apresen- bém. Resistir a certas tentações é burrice;
ta uma explicação correta sobre o emprego dos mas fugir de outras pode ser crescimento, e
sinais de pontuação do excerto acima. muito mais alegria.
a) No primeiro parágrafo, o travessão tem a fina- LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2011.
lidade de introduzir uma explicação e poderia
ser substituído, sem alteração de sentido, por Nesse texto, há duas ocorrências de dois-pon-
ponto-e-vírgula. tos. Na primeira, eles anunciam uma enume-
b) Ao longo do texto, as aspas foram emprega- ração das negociações que podemos fazer co-
das, em suas três ocorrências, com a finalida- nosco. Na segunda, eles introduzem uma
 VOLUME 6

de de demarcar a presença do discurso direto. a) opinião sobre o uso de jeans, camiseta e mo-
c) Na passagem “(...) sem abdicar das compras, cassins.
b) explicação sobre a simbologia de sapatos e
(...)”, a vírgula foi empregada para separar
roupas.
elementos enumerados que exercem a mesma c) conclusão acerca da oposição entre otimismo
função sintática. e realidade.

20  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias


d) comparação entre ostentação e conforto em
termos de vestuário.
e) retomada da ideia de negociação discutida no
primeiro parágrafo.

7. (FUVEST 2020) O Twitter é uma das redes


sociais mais importantes no Brasil e no
mundo. (...) Um estudo identificou que as
fake news são 70% mais propensas a serem
retweetadas do que fatos verdadeiros. (...)
Outra conclusão importante do trabalho diz
respeito aos famosos bots: ao contrário do
que muitos pensam, esses robôs não são os
grandes responsáveis por disseminar no-
tícias falsas. Nem mesmo comparando com
outros robozinhos: tanto os que espalham
informações mentirosas quanto aqueles que
divulgam dados verdadeiros alcançaram o
mesmo número de pessoas.
Superinteressante, “No Twitter, fake news se espalham 6
vezes mais rápido que notícias verdadeiras”. Maio/2019.

No período “Nem mesmo comparando com


outros robozinhos: tanto os que espalham
informações mentirosas quanto aqueles que
divulgam dados verdadeiros alcançaram o
mesmo número de pessoas.”, os dois-pontos
são utilizados para introduzir uma
a) conclusão.
b) concessão.
c) explicação.
d) contradição.
e) condição.

VOLUME 6

LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias  21

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