Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
585
artigo4.QXD 18-03-2008 17:53 Page 586
586
artigo4.QXD 18-03-2008 17:53 Page 587
587
artigo4.QXD 18-03-2008 17:53 Page 588
onde a incorporação de situações de expe- integrariam de uma forma equilibrada uma ver-
riência óptima é vista por Isabella Cski- tente de desafio e de expressão de capacidades e
zentmihalyi, (Cskizentmihalyi, 1988) como competências individuais. Uma outra característica
condição sine qua non de sobrevivência da experiência óptima, de igual modo presente –
individual para os seus membros e histórica o acesso a formas de feedback imediato (ou quase)
como organização humana; relativamente ao desempenho comportamental –
b) O segundo refere-se à experiência dos gangs seria dada pelas práticas descritas por Inácio de
de motociclistas japoneses, o “Bosozoku” Loyola como “Exercícios Espirituais”. Esta prática,
descrito por Sato (1988), onde se salientam normativa e previamente estruturada, devia ser
as circunstâncias culturais e de desenvol- realizada duas vezes por dia e teria como fina-
vimento da identidade pessoal como hori- lidade fundamental, em termos psicológicos, uma
zonte da experiência óptima; gestão da consciência muito rigorosa, possuindo
c) O terceiro, relata a educação do optimismo por si mesma as características de reforço e moti-
desenvolvida por Neto e Marujo no contexto vação intrínsecos. Decorreriam daí consequências
da formação de professores e pais em Portugal, comportamentais assinaláveis, como por exemplo
onde são salientadas estratégias e técnicas a capacidade de superar situações aversivas como
decorrentes da investigação sobre optimismo as inóspitas condições das selvas da América do
que têm como objectivo transcender as situações Sul ou o contacto com populações asiáticas cuja
de stress enfrentadas pelos educadores, opti- hostilidade era do conhecimento geral na época,
mizando a sua atitude optimista perante a podendo por vezes chegar à tortura e martírio. Seria
vida. interessante considerarmos os eventuais resultados
de uma escala de stress aplicada naquelas situações.
Este modelo psicológico sobre a experiência
O FLOW E A PRAXIS JESUÍTA óptima aplicada às práticas de uma organização
religiosa cuja acção, independentemente de outros
O estudo de caso apresentado por Isabella Csiks- juízos, está descrita na história recente do ocidente,
zentmihalyi em 1988 explicita uma questão de não pode deixar de ser considerado como relevante
grande interesse na interface entre a explicação a vários títulos. Com efeito, o flow integrado norma-
psicológica e a descrição de natureza histórica. tivamente na prática dos jesuítas ajuda a compre-
Sustenta a autora que não é possível explicar o ender, não apenas a expansão e sucesso daquela
êxito do empreendimento e expansão mundial dos instituição, mas também a secundarização de outras
jesuítas no século XVI e seguintes, recorrendo a suas congéneres da época como os franciscanos
conceitos de ordem estritamente “materialista”, e os dominicanos. A análise de Isabella Csiks-
isto é, sem evocar uma explicação de tipo psico- zentmihalyi perspectiva-se, também, como uma
lógico e experiencial. É assim proposta pela autora possibilidade metodológica no domínio da Psico-
uma explicação mais consentânea com as razões -História. Num momento histórico em que o stress
idiossincráticas que levaram vários milhares de se tornou uma experiência incontornável e quase
indivíduos a integrarem desde o século XVI aquela inevitável nas sociedades ocidentais, passando
organização religiosa, em grande medida respon- de um fenómeno individual e típico da vida em
sável pela contra Reforma e, em muitas e adversas condições naturalmente inóspitas, a um fenómeno
circunstâncias, a arriscarem a sua vida pessoal, colectivo urbanístico ou, se quisermos, a uma forma
posses e bem estar. Aliás, todo o século XVIII de cultura, este tipo de enquadramento pode vir a
português com a relação daquela organização com entender-se como inspirador para a investigação
o Marquês de Pombal, e a subtracção do actual e a acção futura para regular o stress.
Paraguai ao território da portuguesa terra brasilis,
atestam a relevância histórica da questão.
Isabella Csikszentmihalyi propõe como expli- O FLOW E OS GANGS DE MOTOCICLISTAS
cação que se considerem os procedimentos nor- NO JAPÃO
mativos que regulavam a vida quotidiana dos membros
como característicos dos estados de flow. Ou seja, A fase do ciclo de vida coincidente com a juven-
o modus vivendi e o estilo de vida da instituição tude inclui variadas situações stressantes. Por outro
588
artigo4.QXD 18-03-2008 17:53 Page 589
589
artigo4.QXD 18-03-2008 17:53 Page 590
590
artigo4.QXD 18-03-2008 17:53 Page 591
de forma indirecta, ao criar contextos de relação Csikszentmihalyi, I. (1997). Finding Flow: The Psychology
do próprio consigo mesmo, e com os outros, e climas of Engagement with Everyday Life. New York: Basic
emocionais escolares, mais positivos, desdrama- Books.
tizados e esperançados. Csikszentmihalyi, M., & Csikszentmihalyi, I. (1988).
Optimal experience: Psychological studies of flow
in consciousness. Cambridge: Cambridge University
Press.
CONCLUSÃO Csikszentmihalyi, I., & Larson, R. (1984). Being adoles-
cent: Conflict and growth in the teenage years. New
Stress e psicologia positiva, perspectivas histo- York: Basic Books.
ricamente delimitadas em quadrantes teóricos dife- Csikszentmihalyi, I., & Schneider, B. (2000). Becoming
renciados, surgem aqui entrecruzadas, ao advogar adult: How teenagers prepare for the world of work.
um investimento no desenvolvimento do funciona- New York: Basic Books.
mento humano óptimo como uma forma inovadora Diener, E., Lucas, R. E., & Oishi, S. (2002). Subjective
e complementar de delimitar a experiência de emoções well-being: The science of happiness and life satis-
negativas perante a adversidade. Assim, defendemos faction. In C. Snyder & S. Lopez (Eds.), Handbook
que a facilitação e o treino em redor da descoberta of Positive Psychology (pp. 63-73). Oxford: Oxford
University Press.
das forças e possibilidades das pessoas e dos sistemas,
Emmons, R. A., & Shelton, C. M. (2002). Gratitude and
e a criação de contextos de vida facilitadores de the science of Positive Psychology. In C. Snyder &
experiências óptimas e positivas – quer seja em S. Lopez (Eds.), Handbook of Positive Psychology
etapas de vida consideradas mais desafiadoras (pp. 459-471). Oxford: Oxford University Press.
como a adolescência, em momentos onde a luta Gergen, K. J. (2001). Psychological science in a postmodern
pela sobrevivência se impõe, ou onde as circuns- context. American Psychologist, 56, 803-813.
tâncias profissionais são exigentes, ou mesmo Harter, S. (2002). Authenticity. In C. Snyder & S. Lopez
perturbadoras – sejam expoentes de novas linhas (Eds.), Handbook of Positive Psychology (pp. 382-
de investigação e de intervenção psicológica. -394). Oxford: Oxford University Press.
Hewitt, J. P. (2002). The social construction of self-
esteem. In C. Snyder & S. Lopez (Eds.), Handbook of
Positive Psychology (pp. 135-147). Oxford: Oxford
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
University Press.
Larrauri, B. G. (2006). Programa para mejorar el sentido
Averill, J. (2002). Emotional creativity: toward “spiri-
del humor. Porque la vida con buen humor merece
tualizing the passions”. In C. Snyder & S. Lopez (Eds.),
Handbook of Positive Psychology (pp. 172-187). Oxford: la pena! Madrid: Ediciones Pirámide.
Oxford University Press. Mahoney, M. J. (2002). Constructivism and Positive Psy-
Baltes, P. B., Gluck, & Kunzmann, U. (2002). Wisdom: chology. In C. Snyder & S. Lopez (Eds.), Handbook
Its structure and function in regulating successful of Positive Psychology (pp. 745-750). Oxford: Oxford
life span development. In C. Snyder & S. Lopez (Eds.), University Press.
Handbook of Positive Psychology (pp. 327-349). Marques Pinto, A., Lima, M. L., & Lopes da Silva, A.
Oxford: Oxford University Press. (2003). Stress Profissional em Professores Portugueses:
Carver, C., & Scheier, M. (2002). Optimism. In C. Snyder Incidência, Preditores e Reacção de Burnout. Psy-
& S. Lopez (Eds.), Handbook of Positive Psychology chologica, 33, 181-194.
(pp. 231-243). Oxford: Oxford University Press. Marujo, H., & Neto, L. M. (2001). Psicologia positiva
Cassell, E. J. (2002). Compassion. In C. Snyder & S. nas escolas: metodologias apreciativas na construção
Lopez (Eds.), Handbook of Positive Psychology da disciplina. In Actas do XI Colóquio AFIRSE:
(pp. 434-458). Oxford: Oxford University Press. “Violência e Indisciplina na escola”. Lisboa.
Cooperrider, D. L., & Whitney, D. (1999). Appreciative
Marujo, H., & Neto, L. M. (2003). Inteligência emocional,
Inquiry: A positive revolution in change. In P. Holman
optimismo e psicologia positiva na formação de pro-
& T. Devane (Eds.), The change handbook: Group
methods for shaping the future. San Francisco, CA: fessores, pais e educadores: perde alguma coisa se
Berrett-Koehler Publishers, Inc. experimentar os óculos cor-de-rosa? Revista do Sindicato
Csikszentmihalyi, I. (1988). Flow in a historical context: de Professores da Zona Centro, Conversas Educa-
the case of the Jesuits. In M. Csikszentmihalyi, & I. tivas I, 58-73.
Csikszentmihalyi (Eds.), Optimal experience: Psy- Marujo, H., & Neto, L. M. (2004). Optimismo e esperança
chological studies of flow in consciousness (pp. 222- na educação: fontes inspiradoras para uma escola
-248). Cambridge: Cambridge University Press. criativa. Lisboa: Editorial Presença.
591
artigo4.QXD 18-03-2008 17:53 Page 592
Marujo, H., & Neto, L. M. (submetido para publicação). Tangney, J. P. (2002). Humility. In C. Snyder & S.
The cultural arquitecture of depression in Portugal: Lopez (Eds.), Handbook of Positive Psychology (pp.
Embodying the social construction of psychopa- 411-421). Oxford: Oxford University Press.
thology. Submetido para publicação na Revista Culture Taylor, S. E. (1989). Positive illusions: creative self-
and Psychology. deception and the healthy mind. New York: Basic
Mccullough, M. E., & Witvliet, C. V. (2002). The psycho- Books.
logy of forgiveness. In C. Snyder & S. Lopez (Eds.),
Handbook of Positive Psychology (pp. 89-105). Oxford:
Oxford University Press.
Nakamura, J., & Csikszentmihalyi, M. (2002). The RESUMO
concept of flow. In C. Snyder & S. Lopez (Eds.),
Handbook of Positive Psychology (pp. 89-105). Oxford: Aqui se efectua uma análise da relação entre alguns
Oxford University Press. dos conceitos presentes nas literaturas sobre regulação
Neto, L., Marujo, H., & Perloiro, M. F. (1999). Educar de stress e Psicologia Positiva, nomeadamente, optimismo,
para o optimismo: guia para educadores e pais. Lisboa: bem-estar subjectivo, experiência óptima (flow) e esperança.
Editorial Presença. Nesta literatura são também discriminados e perspecti-
Peterson, C., & Steen, T. (2002). Optimistic Explanatory vados alguns conceitos relativos a uma segunda geração
Style. In C. Snyder & S. Lopez (Eds.), Handbook de investigadores localizados naquele referido domínio
of Positive Psychology (pp. 244-256). Oxford: Oxford das publicações científicas da Psicologia, particular-
University Press. mente os conceitos de pessimismo defensivo e falsa espe-
Rabinowitz, S. L. (2004). Organizational stress mana- rança.
gement: A case for positive Psychology-Based Psycho- Apresentam-se, por fim, três estudos de caso ilustra-
educational Interventions. Retirado da Internet em tivos da problemática subjacente à articulação das duas
6/12/2005 em http://appreciativeinquiry.case.edu/ literaturas acima mencionadas: a) O primeiro, de carácter
research/bibCompletedDissertationsDetail.cfm?coid= histórico, referido às práticas de reforço intrínseco no
702 estilo de vida dos jesuítas, articulando-as com o conceito
Salovey, P., Mayer, J., & Caruso, D. (2002). The positive de flow, seguindo a proposta de Isabella Cskizentmi-
psychology of emotional intelligence. In C. Snyder halyi (1988); b) O segundo, mais caracteristicamente
& S. Lopez (Eds.), Handbook of Positive Psychology sócio-cultural, relativo aos gangs de motociclistas japo-
neses (Bosozoku), seguindo com Sato (1988) a descrição
(pp. 159-171). Oxford: Oxford University Press.
da experiência óptima associada ao culto; c) O terceiro,
Sato, I. (1988). Bosozoku: flow in Japanese motorcycle
referido ao contexto nacional, sobre o uso das práticas
gangs. In M. Csikszentmihalyi & I. Csikszentmi-
apreciativas e conscientizadoras na formação de profes-
halyi (Eds.), Optimal experience: Psychological studies sores, propostas por Neto, Marujo e Perloiro (1999).
of flow in consciousness (pp. 92-117). Cambridge: O intuito das opções patentes nesta reflexão é o de
Cambridge University Press. deixar em aberto novos campos para investigação e
Seligman, M. P. (1991). Learned optimism: how to change intervenção futuras na regulação e prevenção do stress,
your mind and your life. New York: A. A. Knopf. bem como exemplos práticos, já concretizados, da sua
Seligman, M. P. (2002). Positive Psychology, Positive aplicabilidade e pertinência social.
Prevention and Positive Therapy. In C. Snyder & Palavras-chave: Optimismo, stress, experiência óptima
S. Lopez (Eds.), Handbook of Positive Psychology (flow), educação do optimismo.
(pp. 3-9). Oxford: Oxford University Press.
Seligman, M. P., & M. Csikszentmihalyi (2000). Positive
Psychology: An introduction. American Psycholo-
gist, 55 (1), 5-14. ABSTRACT
Simonton, D. K. (2002). Creativity. In C. Snyder & S.
Lopez (Eds.), Handbook of Positive Psychology (pp. This article presents an analysis of the relation between
189-201). Oxford: Oxford University Press. some concepts found in the literatures on stress mana-
Snyder, C., & Lopez, S. (Eds.) (2002). Handbook of Positive gement and of Positive Psychology, namely well-being,
Psychology. Oxford: Oxford University Press. flow and hope. In this literature we analyse and put in
Snyder, C. R., Rand, K., King, E., Feldman, D., & Taylor, perspective some concepts related to a second generation
J. (2002). “False” hope. Journal of Clinical Psycho- of researchers, elements of the some area of scientific
logy, 58, 1003-1022. research in Psychology, in particular the concepts of
Snyder, C., Rand, K. L., & Sigmon, D. R. (2002). Hope defensive pessimism and false hope.
theory: A member of the Positive Psychology Family. The authors end up presenting three case studies
In C. Snyder & S. Lopez (Eds.), Handbook of Positive that are emblematic of the challenges underlying the
Psychology (pp. 257-276). Oxford: Oxford University articulation of the two mentioned literatures: a) The first
Press. one, under an historic frame, referred to the practices
592
artigo4.QXD 18-03-2008 17:53 Page 593
of intrinsic motivation in the Jesuit life style is articu- tive and self-awareness practices in the training of teachers,
lated with the concept of flow, according to the proposal put forward by Neto, Marujo and Perloiro (1999).
of Isabella Cskizentmihalyi (1988); b) The second one, The aim of the options presented in this reflexion is
of a more socio cultural nature, is related to the Japanese to leave open new fields for research and future inter-
motorcycle gangs (Bosozoku), following the work of ventions in stress management and stress prevention,
Sato (1998), the description of the optimal experience as well as presenting practical examples, already tried,
related to their cult; c) The third one, referred to the of its applicability and social relevance.
Portuguese national context, about the use of apprecia- Key words: Optimism, stress, flow, educating for optimism.
593