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1.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS


Como já tivemos a oportunidade de mencionar, o objetivo principal deste trabalho era
constatar até que ponto os alunos conheciam e valorizavam a sua terra, a sua história
mais próxima, as suas raízes. Foram vários os momentos em que se pode, nas diferentes
turmas, abordar esta questão, mediante a planificação de aulas em torno deste objetivo e
da criação de vários e diversificados instrumentos de recolha de dados.
Este capítulo tem como finalidade específica apresentar todos os dados obtidos através
dos vários instrumentos aplicados para aproximar os alunos da História da sua região.
Para além da apresentação estatística de dados, vamos poder fazer um cruzamento entre
eles, seja no que diz respeito a comparações entre resultados do questionário aplicado os
membros de direção e professores, seja em comparação entre os resultados do primeiro
e segundo ciclo do ensino secundário.
O nosso grande objetivo será constatar se este trabalho, produziu os efeitos desejados
para os alunos e para pesquisador bem como se correspondeu às questões e expetativas
iniciais.

1.1. Questionário aplicado aos membros de direcção da Escola


O primeiro questionário foi aplicado aos membros de direcção para se perceber destes
sobre o hitórial da escola, existencia de arquivos históricos (Museu e biblioteca) que
conservam os acervos da historia local, bem como os planos de visitas escolares aos
lugares históricos da zona.
Quando procuramos saber da existência de algum documento que relata o historial da
escola, todos os membros de direcção questionados foram unanimes em afirmar que não
existe nenhum documento oficial referente ao historial da Escola Secundária Eduardo
Silva Nihia de Malema, Província de Nampula, apenas conseguimos colher de fontes
orais e sem datas fidedignas que a escola foi fundada no Posto Administrativo de
Mutuali, no ano de 1997, e foi designada Escola Secundária de Mutuali. A Escola
funcionava nas instalações da igreja católica.
No ano de 2006, a escola foi transferida para a sede do distrito e consequentemente o
nome foi alterado para Escola Secundária Eduardo Silva Nihia, em Memória de um
renomado filho do distrito e heroi nacional general na reserva ‘Eduardo Silva Nihia’.
Partindo do pressuposto de que através dos estudos de história local, quer o historiador
quer a comunidade estarão aptos para a resolução de alguns dos seus problemas
ajudando na busca da sua identidade, pois “se a comunidade for capaz de descobrir a
história e o património da sua região, se for capaz de o valorizar e proteger, poderá
descobrir permanentemente a sua identidade, o que lhe permitirá uma participação mais
ativa no seu desenvolvimento e afirmação”. (Nunes, 1996, p. 75) ficamos preparados
para mais surpresas uma vez que a prórpia escola não tem “história”, não esperavamos
ouvir a história de outros naquele local.
 Questionamos sobre a existencia de museus e bibliotecas, e a resposta tambem foi
unanime de que tanto a escola como o distrito, ambos não dispoe de nenhuma biblioteca
nem museu, facto que contribui bastante para o desconhecimento da história local e
desvalorisazão do património cultural naquele distrito comprovando assim a nossa
hipótese primária: “O nível de implementação do currículo local é tido como razoável,
devido a insuficiência e difícil acesso de documentos que tratam da história da
comunidade onde as escolas estão inseridas para a materialização dos objectivos
visados”;
Sobre o plano de visitas aos locais históricos, membros de direcção questionados,
mostraram dificuldade em responder, mas também não exitaram em afirmar que não
existe nenhum plano de visita a esses locais, porém os professores interessados,
remetem suas cartas de pedido de autorização para sair com os alunos, que muitas das
vezes isso tem acontecido nas vesparas de uma data comemorativa.

1.2. Questionário Aplicado aos Professores de História


Com vista a colher a percepção destes sobre a história local, bem como o papel da
história na valorição da identidade cultural do aluno e que estratégias têm sido
desenvolvidas no seu dia-a-dia para integração da história local como forma de Levar os
alunos a compreender sua História mais próxima, o seu passado e identidade locais para
os integrar na comunidade e despertar o sentimento de pertença.
A questão em que se solicitou o contributo do ensino da História local para a
Valorização da identidade cultural dos alunos foi de especial interesse para nós. Após a
sua análise constatamos então uma realidade que já não nos era completamente
estranha:
Os três professors inquiritos reconheceram o contributo da história local como uma
ferramenta chave para a valorização da identidade cultural do aluno. Uma das respostas
dada pelo professor de História primeiro cíclo curso diúrno foi exactamente a proposta
na hipotise segundária:
“A História local fortalece a identidade cultural do aluno, pois cria nele o sentimento
de pertença na sua sociedade e a valorização do seu património cultural.”
As abordagens ligadas a história local apresentam um ganho pedagógico para os alunos
ao tornar disponíveis narrativas, lendas e memórias que foram excluídas ou silenciadas
nas interpretações dominantes da história. A importância da história local reside no
facto de que ela permite conhecer a realidade do processo histórico local e regional e, ao
mesmo tempo torna-se indispensável à identidade do grupo humano. Além de que,
satisfaz a necessidade de entender o que esta próximo de nós e muitas vezes esta
directamente relacionado a nossa vida social, económica e cultural.
Da interação havida com os professores de história, por um lado ficamos satisfeitos ao
perceber que os professores de história da Escola Secundária Eduardo Silva Nihia,
entendem a vital importância do ensino da História local nas aulas de história, por outro
lado ficamos meio constrangidos em relação a resposta dada a questão referente as
estratégias desenvolvidas para integração da história local nas aulas de história.
Ao analisarmos as respostas notamos que os professores mostravam dificuldades em dar
suas respostas, por um lado deveu-se pelo facto destes não serem naturais facto que
segundo eles lhes torna difícil falar da história que não lhes pertence, e por outro lado
alegaram que os alunos não não conhecem a sua história facto que quando em plena
aula o professor questiona algo que diz respeito a cultura local, estes mantem-se
completamente mudos, alguns por vedrgonha e outros por falta de informação.
Uma outra questão que nos surpreendeu a sua resposta foi a referente a mobilização dos
alunos para a produção de material didáctico que ilustra a história local.
Dos três professores questionados apenas 1 afirmou ter urientado uma vez, mas não teve
resultados satisfatórios.
Quando a questão referente a frequência dos professores e alunos em visitas aos locais
históricos, todos respeonderam que são raras vezes, visto que o distrito tem pouos
monumentos conhecidos e que só são visitados em dias de festas ou datas
comemorativas.
Analizando estas respostas concluimos que o nível de implementação do currículo local
tido como razoável, é devido a insuficiência e difícil acesso de documentos que tratam
da história da comunidade onde a escola está inserida;
Os professores são mediadores entre os vestígios do passado e os seus alunos. Por isso,
devem refletir sobre o seu papel nesta relação, tendo em conta a compreensão das fontes
como evidência histórica pelos alunos.
Correspondendo a um perfil de menor elaboração – Informação – as respostas de alguns
professores referem o contributo das atividades relacionadas com património para a
aprendizagem dos alunos, mas sem clarificarem como poderiam usar as fontes
patrimoniais. Referem informação retirada dos documentos oficiais (fragmentos). Para
esses professores, uma atividade baseada na observação direta do património seria “uma
forma de ensinar História a partir das suas manifestações, em que se parte do concreto,
do conhecido para o desconhecido” (Luís, professor de História 8ª Classe).
Outros consideram que “tudo depende não só da fonte que se escolhe, ser mais ou
menos rica, como do estudo e desenvolvimento que se dê ao que foi selecionado
(Marlene, professora de História 10ª Classe).
Já no perfil Do contexto para a fonte, as respostas de alguns professores sugerem a
realização de uma visita de estudo focando monumentos e usando as fontes patrimoniais
como ilustração da informação já fornecida, e não como pesquisa conceptual: “através
de uma visita de estudo a um monumento localizado na região, estes [alunos]
conseguem reconhecer e identificar, no local, as principais características dos estilos
românico e gótico” (Namarocolo, professor de História 12ª Classe).
Abordando o passado tendo em consideração as fontes como colecção de informação,
não como fragmentos – cruzamento de fontes em contexto – alguns professores
consideram que a maior vantagem da observação dos vestígios do passado é a sua
proximidade: “Muitas vezes os nossos alunos vêm a História como algo distante, algo
que não toca o seu universo imediato; afinal, a História dos manuais está mesmo ‘ao
virar da rua’, naquele local por onde tantas vezes passaram e que pouco valorizaram.”
(Eduardo, professor de História 11ª Classe).
Segundo Lowenthal (1999, P.125), Tais vestígios materializam o passado
proporcionando aos alunos a possibilidade de lidarem com as fontes como evidência.
“a observação das fontes patrimoniais, nomeadamente os monumentos, as pinturas
rupestres de época, é uma realidade muito diferente da que observam no seu dia-a-dia e
do seu próprio espaço de habitação, em muitos casos ainda rural.” (Agira, professora de
História 9ª Classe).
Apenas um pequeno grupo de professores referiu o processo de construção de
conhecimento a partir das fontes patrimoniais – das fontes para os contextos –
reconhecendo o facto de elas proporcionarem a interpretação de modos de vida
diferentes dos do presente e a compreensão de distintos contextos:
As fontes utilizadas permitem aos alunos […] inferirem que [a cidade] ocupava um
lugar de destaque no século XIX, em termos industriais, lugar que viria a manter em
termos, por exemplo, de indústria de fiação, tecelagem e cutelaria, até há bem pouco
tempo. (Namarocolo, professor de História 12ª Classe). Usando uma diversidade de
fontes – textos, objectos, edifícios – as atividades educativas permitem uma abordagem
multisensorial, provocando um diálogo histórico com significado entre os sujeitos e o
passado:
Os alunos ao observarem com atenção a localização das igrejas e mesquitas da Vila e
espaço envolvente, a grandeza desses monumentos, as partes que o constituíam e os
pormenores da sua construção podem depreender […] que o clero era um grupo social
com prestígio e grande poder económico.
Ao analisarem as partes constituintes desses monumentos religiosos podem inferir sobre
a vida quotidiana das igrejas e mesquitas. (Eduardo, professor de História 11ª Classe).

1.3.Finalidades de Ensino e divulgação da História Local


Sendo mediadores entre os vestígios do passado e os seus alunos, os professores devem
reflectir também sobre a forma como podem ajudar a desenvolver o pensamento
histórico dos alunos, procurando ter consciência desse processo e da relação identitária
dos alunos com o património histórico local.
Em relação ao processo de aprendizagem de História pelos alunos, os professores
revelam concepções diversas quanto aos objetivos e procedimentos de contacto direto
com fontes patrimoniais e sua exploração.
Algumas respostas mostram interesse em que os alunos vejam o passado como algo que
esteja próximo da sua experiência quotidiana – motivação – mostrando uma tendência
para o “presentismo” ou seja, para verem o passado como algo útil e/ou idêntico ao
presente:
“compreender o passado da sua comunidade e dos seus “antepassados”, aliado a um
sentido de “aventura” e de descoberta, característico do adolescente.” (Eduardo,
professor de História 11ª Classe). Alguns professores admitem implicitamente a
consolidação de conhecimento como o principal objectivo do contacto com as fontes
patrimoniais; outros fazem-no explicitamente:
sugerindo que essas ferramentas culturais utilizadas para ajudar os alunos a darem
sentido ao passado, podem auxiliar a compreensão histórica dos alunos: “guardassem na
sua memória a riqueza que um edifício deste tipo contém enquanto testemunho de
manifestações artísticas e religiosas de outras épocas.” (Agira, professora de História 9ª
Classe).
Noutras respostas parece claro que o papel do professor deverá ser o de proporcionar
aos alunos a orientação, quando necessária, no seu diálogo com as fontes patrimoniais,
interpretadas como evidência histórica – construção de conhecimento. Desta forma o
pensamento dos alunos pode tornar-se mais sofisticado: “Propor a discussão de
situações do quotidiano e de fontes locais, levando os alunos a formarem opiniões
fundamentadas e argumentarem de acordo com as fontes que lhes são sugeridas. Eles
sentir-se-ão, certamente, “fazedores” de história e valorizarão o seu património.
(Namarocolo, professor de História 12ª Classe).
Em termos de consciência patrimonial, nomeadamente no que respeita à consciência
acerca da relação identitária dos alunos com o património, os professores revelam
concepções diversas quanto à atitude dos alunos face os vestígios do passado.
Alguns professores realçam o facto de as actividades com fontes patrimoniais
proporcionarem a sensibilização para a preservação do património local – sentido de
identidade local – mas ainda relacionadas diretamente com a consolidação de
conhecimentos:
As actividades propostas têm como principais objectivos sensibilizar os alunos para a
importância da divulgação e preservação do Património Local, aplicar e consolidar os
conhecimentos adquiridos nas aulas lecionadas, com o intuito destes ficarem a conhecer
um monumento de grande valor patrimonial, pertencente à sua região (Namarocolo,
professor de História 12ª Classe).
Salientando o respeito pelo património, pelas marcas do passado que pode ser evocado
para uso no presente, outros professores parecem revelar uma consciência de tipo
tradicional, que implica que o sujeito se considere condicionado pelos seus ancestrais e
o comprometimento com uma determinada identidade colectiva:
“Ao conhecer o seu património e a história da sua comunidade os alunos apropriam-se
dele, sentem-se parte dele e se não se apaixonarem por ele, de certeza que o passam a
respeitar e defender como parte integrante da sua identidade.” (Eduardo, professor de
História 11ª Classe).
Outros professores pareceram considerar que o património local materializa a identidade
da comunidade, mediando uma mensagem para as jovens gerações como depositário de
casos exemplares relevantes para a resolução dos seus problemas do presente:
“É de extrema importância que nas escolas se comece a utilizar o património local como
recurso educativo, para que a população crie uma relação mais forte com a sua herança
cultural, compreender melhor o modo de vida dos nossos antepassados, os problemas
que enfrentaram e como os solucionaram. Ao apoderarem-se destes conhecimentos a
população poderá projectar melhores soluções para os problemas que enfrenta, e não
repetir os mesmos erros do passado” (Laura, professora de Hisdtória 10ª Classe).
A um nível mais elaborado, para um pequeno grupo de professores, é possível ensinar a
partir da observação do local para o quadro nacional.
Através da análise das fontes do património local, os alunos experienciam
oportunidades de exploração de questões acerca da identidade – sentido de identidades
múltiplas – permitindo que as narrativas dominantes ou alternativas (enraizadas em
mitos ou noções de identidade) possam ser verificadas, validadas ou refutadas,
promovendo uma consciência mais sofisticada do passado:
Estimular nos alunos o raciocínio e o espírito crítico, numa perspectiva de valorizarem
os aspectos positivos na abordagem de conteúdos, sem escamotear os negativos,
valorizando o que une as diferentes épocas e culturas. Propor a discussão de situações
do quotidiano e de fontes locais, levando os alunos a formarem opiniões
fundamentadas. Sentir-se-ão, certamente, fazedores de história e valorizarão o seu
património. (Laura, professora de Hisdtória 10ª Classe).
Em termos gerais, as referências dos professores relativamente ao uso de fontes
patrimoniais no ensino de História parecem situar-se quer no seu ambiente cultural e
educacional quer no contexto da investigação. A formulação das questões – de carácter
mais geral na primeira, ou mais directa na segunda, usando os termos ‘inferir’ e
‘contextualizar’) – podem ter influenciado uma explanação menos ou mais clara pelos
professores.

1.4. Questionário aplicado aos alunos

Teve como objetivo principal recolher informações sobre as ideias prévias dos alunos
acerca da temática da História local.
Começando pela idade dos alunos do primeiro ciclo (8ª -10ª Classes) comprende a faixa
etária dos 13-18 anos e o segundo ciclo (11ª e 12ª Classes) compreende uma faixa etária
dos 16-24 anos.
Em relação a proveniência, na maioria dos alunos do 1º ciclo são provenientes da vila e
seus arredore enqunto que os dos segundo ciclo saiem das localidade e outros pontos da
provincia e do distrito visinho do Gurue.
Indo para a análise dos dados obtidos na entrevista feita aos alunos temos a dizer o
seguinte:
Quando questionamos aos alunos se sabia o que é património histórico, estes mostraram
que tinham noção do que se tratava mediante as escolhas feitas em alguns exemplos de
património histórico apresentados no questionário, como ilustra o gráfico abaixo.

Sabes o que é património Histório?

100 90 90
80 80
80
60 50
40 20
20 10 10 5 2
0

Quando procuramos saber dos alunos se davam alguma importancia conhecer o


património histórico das sulas localidades, 70% afirmaram que era importante, os
restantes 30% não, provavelmente por não conhecerem o que é isso de patreimónio
histórico.
De igual modo, enquanto uns achavam importante cuidar do património histórico,
outros não, estas respostas conduziram-nos a cocluir que na escola secundária eduardo
silva nihia há um défice de diceminação da informação sobre o património histórico
local e sua valorização, facto que leva alguns alunos a desconhecerem a sua propria
história.
Consideras importante conhecer o Consideras importante cuidar
parimónio histórico da tua e preservar o património
localidade? histórico?

5%
20%
sim
10%
não sim
70%
não sei 95% não

Ainda no final do questionário solicitamos aos alunos para definirem o patrimonio


histórico e a história local, mas infelizmente somente os alunos do segundo cíclo é que
tentaram argumentar, embora nem todos tenha chegado ao conceito desejado.
Quando questionámos se o professor de história tem falado nas aulas sobre a história
local, os alunos que afirmaram posetivamente não apresentaram nenhum exemplo, os
outros foram mais frios ao dizer que nunca ouviram o professor falar dessa temática, e
outros disseram que as vezes.

O professor de história tem


falado na aula sobre a história
local?
15%
5% sim
não
60% 20%
não sei
às vezes

Uma história muito interessante relatada pelos entrevistados é a de praga de gafanhotos.


Em seus depoimentos, os entrevistados afirmaram que:
Quando acontece uma praga de gafanhotos, o régulo organiza um ritual segundo qual,
enquanto os homens e algumas mulheres se dirigem ao Nantoco para fazer as orações
tradicionais, um grupo de mulheres acompanhada pela sobrinha do régulo recolhe
alguns gafanhotos e levam-nos ao rio Malema. Ao longo da caminhada, elas vão
cantando e insultando. No percurso, as mulheres não podem se cruzar com homem, sob
pena deste ser violado. Uma vez deitados os gafanhotos de amostra no rio, as mulheres
vão se juntar ao grupo que está de Nantoco. Terminada a oração, a praga desaparece.
Esta cerimónia de afugentar a praga, localmente, chama-se “Nansope”. Esta prática faz
parte da vivência quotidiana da população de Chuhulo, um dos postos adminstrativos
que mais preserva a cutura do distrito de Malema.
Para a realização das cerimónias, cada pessoa contribui uns quilogramas de mapira para
se fazer a bebida, “otheca” ou “Nttibwe” que vai ser entregue aos antepassados
acompanhado de um Galinha branca assado. Naquela povoação, se considera de
antepassado aquele que deu um contributo para o bem da comunidade, ancião\anciã ou
herói. Há uma crença no seio das comunidades de que quando mais se presta cultos aos
antepassados, em resposta há uma atenção que resulta de harmonia, boa colheita e boa
saúde. Ainda nessa crença, ninguém deve desobedecer aos antepassados, sob pena de
ser castigado.
Os especialistas em currículo estão de acordo que as culturas locais, o conhecimento
vulgar e as vivências quotidianas são substrato do conhecimento científico. Eles partem
de pressuposto de que o conhecimento resulta das interacções sociais, pois os indivíduos
em relações constroem suas vivências e dão significados as suas experiências. Os
indivíduos organizam as direcções, sistemas de valores, estruturas económicas, teias de
relacionamento que lhes permitem formar uma comunidade caracterizada por rituais e
outras práticas culturais. Eles não estão isolados das suas práticas culturais. As suas
manifestações são expressões de vida que são captadas ou apreendidas e reveladas
intelectualmente.
Essas experiências devem se reflectir no currículo escolar. As formas de construção da
vida examinadas criticamente, constituem base de saber. Um ancião de Calanga
constatou que há uma distância abismal entre a cultura local e a cultura da escola. Para
ele, a escola está isolada e sem abertura com a cultura e a história local. Em seu
depoimento, ele afirma que “há histórias e culturas que os nossos filhos deviam
aprender para preservar a nossa cultura. As práticas sociais, os modos de atribuição de
nomes, as actividades de rendimento local: agricultura, pesca e pastorícia, deviam entrar
na escola”.
A comunidade sente que ainda a educação não atingiu as suas expectativas, para isso, a
escola deve ensinar educação para a vida, trata-se de uma educação voltada aos quatro
pilares propostos por Delors: aprender fazer, aprender ser, aprender estar e aprender a
aprender, que hoje fazem o grosso das competências definidas pela OCDE.
A população de Chuhulo reconhece o papel da mulher na educação das crianças, mas
lamenta a redução da mulher às actividades caseiras. Uma das grandes recomendações
da população é a consideração da mulher na tomada de decisões na família, na
comunidade e no distrito. A população recomendou ainda o ensino das línguas, valores,
histórias e culturas locais como forma de preservar o património cultural. O ensino de
línguas e valores e cultura locais visa conservar a tradição local.
No global, os alunos mostraram capacidades e atitudes em todas as sessões e revelando
vontade de saber mais. Desenvolveram as atividades propostas e adquiriram as
aprendizagens em regime presencial; entenderam os conceitos fundamentais a propósito
do Património histórico, como também a importância da valorização das Tradições e
identidade cultural.

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