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UTILIZAR Os subprodutos, ou até os

resíduos obtidos nas usinas

CANA-DE- de açúcar e álcool, podem ser


usados como alim ento para

AÇÚCAR criação, auxiliando a


comp/ementação ou
substituindo forragens e
grãos. Além disso a
colheita da cana coincide
exatam ente com a época
das secas, quando o verde
está escasso e mais caro

ensar em açúcar e álcool é

P muito pouco quando se fala


em plantações de cana-de-
açúcar. Sem nenhum prejuízo
para a obtenção desses produtos,
os pés de cana podem ser aprovei­
tados de ponta a ponta, represen­
tando uma substancial economia
nos custos de alimentação das
criações e para o enriquecimento
do solo.
CANA-DE-AÇÚCAR
Mesmo que você não deseje ob­
ter açúcar e álcool, o cultivo de
cana-de-açúcar - apenas para ser
usado na alimentação animal —, já
é vantajoso. O caldo de cana (ga-
rapa), obtido através de esmaga-
mento das varas, é o melhor
exemplo. Esse caldo é uma fonte
de energia para os suínos que são
os grandes beneficiados. A garapa
pode substituir o milho (parte em
grãos da ração) em até 50%. Com
isso você dispõe dos grãos para
outros usos, e economiza muito,
pois os litros diários que cada ani­ ao gado confinado
mal consome (até oito) são mais como suplementação
baratos que cada quilo de milho ao verde. Em massa seca, ser misturada com
acrescentado à ração. Para servir, a ponta da cana apresenta de melaço-uréia e fubá de milho.
é só misturar o caldo aos outros 4% a 6% de proteína, 2% a 4,5% O bagaço da cana é resultante
alimentos. de gordura e 28% a 47% de fibras. do esmagamento das varas para
A ponta da cana, que é a parte Os novilhos alimentados com es­ obtenção do caldo. Nas usinas e
mais alta do pé (espiguilha), onde sas folhas (o fornecimento não destilarias a obtenção de bagaço é
crescem apenas folhas, pode ser pode exceder os 17%) chegam a muito grande, estando na ordem
aproveitada; essa parte é despre­ um ganho de peso diário de 480g. de 180kg a 250kg de bagaço por
zada durante as colheitas pois se Com o gado adulto obtém-se um tonelada de cana esmagada. De­
deseja a parte mais nobre da plan­ rendimento maior: de 650g a 950g pois de recolhidos podem passar
ta que são as varas. Depois de pi­ de ganho de peso por dia. A ponta por vários processos de tratamen­
cada, a ponta pode ser ministrada da cana, depois de picada, pode to como: fermentação, desidrata-
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APROVEITAMENTO Ponta da cana: obtida líquido nos rios e provocavam sé­
nas colheitas como
m aterial im prestável. rios danos aos peixes e à ecologia.
Pode ser servida como Sabe-se, no entanto, que, depois de
forragem aos rum inantes, concentrado, ele serve como ma­
Varas: dão origem ao e dá origem a ração
caldo de cana, m atéria- peletizada se m isturada
téria-prima para o fabrico de ra­
prim a para obtenção de com outros alim entos ções. A concentração visa baixar
açúcar e álcool. o alto teor de umidade que o líqui­
Pode ser servido do possui. Depois de preparado o
aos suínos, e dele
derivam outros vinhoto entra numa proporção de
produtos líquidos ^ 10% nas rações para bovinos, 4%
com o: fundo de nas de suínos e de 2% a 3% para as
doma, vinhoto,
torta de filtro . . .
aves.
O vinhoto também é utilizado
como adubo, pois é rico em maté­
ria orgânica e potássio, além de
cálcio, magnésio e enxofre. Con­
Bagaço: forme a aparelhagem da usina,
m aterial resultante do tipo de cultura, mosto etc., esses
O vinhoto tam bém pode esm agam ento das varas. elementos podem variar de quan­
ser usado para adubar o solo. Pode ser picado e servido a
rum inantes. Se misturado
tidade. Em 100 m3de vinhoto exis­
Rico em potássio e m atéria
orgânica, para prepará-lo com outros alim entos tem em média 150kg de potássio,
acrescenta-se nitrogênio e fósforo dá origem a rações 30kg de cálcio, 20kg de magnésio
peletizadas ^ 70kg de enxofre. Esses mesmos
100m3, aplicados em 1 hectare,
contêm todo o potássio necessário
ção, ensilagem, peneiramento e 10% de proteína bruta, de 15% a para o plantio da própria cana. As­
peletização. Esse último processo 30% de fibra e 5% a 10% de gordu­ sim, aproveitando-se do potássio já
é o mais aconselhável. A peletiza­ ra, além de cálcio e fósforo. Pode existente, adiciona-se nitrogênio
ção consiste em picar o bagaço até ser acrescentada à alimentação de por meio de amônia e acrescenta-
reduzi-lo a pó e depois reconcen- novilhos de pasto, para auxiliar a se fósforo, completando os ele­
trá-lo em pequenos pedaços mis­ engorda. Sirva misturada e na pro­ mentos para a adubação do solo.
turando-se ou não outros produ­ porção de 2kg de melaço para Para saber das quantidades, você
tos. Depois disso a ração pode ser cada quilo de torta. precisa de análise de seu tipo de
armazenada por dois ou três me­ O melaço ou mel final é um solo e cultura, além da presença
ses. O bagaço pode ser incluído líquido xaroposo de cor marrom- de um técnico para a manipulação
nas rações para gado de corte e de escura, apresentando cerca de do produto.
leite (misturado ao melaço da ca­ 56% de açúcares e representando O fundo de doma é obtido após
na), desde que sua participação uma excelente fonte de energia. É o processo de fermentação e desti­
não ultrapasse 20% na oferecido a diversas espécies ani­ lação do mosto (caldo antes de
ração de engorda mais não apenas para aumentar a terminada a fermentação), consti­
dos novilhos. palatabilidade, mas também para tuindo-se um dos mais nobres resí­
aumentar o poder aglutinante de duos industriais destinados à ali­
rações peletizadas. No caso de bo­ mentação animal. O fundo de dor­
vinos é fornecido à vontade, e é na é pastoso, rico em leveduras e
também onde a uréia encontra um contém 30% de proteínas, 10% de
SUBPRODUTOS DO dos mais apropriados veículos gorduras, vitaminas do complexo
para sua completa incorporação. B e um ótimo balanço de aminoá-
AÇÜCAR cidos. Para ser servido deve ser de­
Além da ponta de cana e do ba­ SUBPRODUTOS DO sidratado, pois possui alta percen­
gaço, o fabrico de açúcar, princi­ ÁLCOOL tagem de água e é de rápida dete­
palmente em grande escala, deixa Durante a fabricação do álcool rioração. A secagem pode ser feita
resíduos como a torta de filtro e o são obtidos vários subprodutos a céu aberto, desde que tomados
melaço. como o fundo de doma e o vinho­ os cuidados para não haver conta­
A torta de filtro (lodo, bagaci- to (além da ponta e do bagaço). minação do material. O forneci­
nho ou cachaça) é retirada dos O vinhoto é produzido numa mento de levedura para os animais
chamados filtros de borra e resulta proporção de 13 por 1, isto é, para está associado à eficiência digesti­
da purificação do caldo nas usinas cada litro de álcool são produzidos va e ao aumento da percentagem
de açúcar. Produzida na propor­ 13 litros de vinhoto ou vinhaça. de proteína bruta e de gordura no
ção de 1% a 4% do peso da cana Quando ainda não havia conheci­ leite. Podem ser fornecidos até
moída, essa torta decompõe-se fa­ mento para o uso desse subprodu­ 4kg de levedura por dia às vacas
cilmente. Possui 1% de açúcares, to, as destilarias lançavam esse em lactação.
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Em área relativamente pequena é possível ,
manter boa comida para ajudar o gado a passar
bem a seca. Um hectare pode render até 120
toneladas de cana
HERMANN P. HOUFFMANN e diminuir ao máximo a infestação
SIZUO M ATSUOKA de plantas indesejáveis.
Estando o solo preparado, reco­
ara qualquer pecuarista, a menda-se coletar amostras de solo

P formaçào de um pequeno
canavial é uma medida pre­
ventiva bastante apropriada e eco­
nômica Mesmo com o princípio
e enviá-las para análise em labora­
tório. A partir do resultado da
análise deve-se fazer a correção do
solo e a adubaçáo recomendada A
das chuvas é interesante utilizar a esse cuidado a cana retribui com
cana para suplementar a alimen­ altas produções no primeiro corte
tação do gado pois isto permite e nos seguintes. Mais importante
uma melhor recuperação das pas­ do que iáso é que com uma boa
tagens. A parte do canavial que adubaçáo ocorre um incremento
não foi necessário utilizar*, o reco­ na qualidade nutritiva da cana
mendável é vender para uma uni­
dade de processamento (usina, Variedades — Deve-se optar
destilaria ou engenho de aguar­ por variedades rústicas e de alta
dente). Se isso não p r o d u tiv id a d e ,
for possível, o reco­ além de outras ca­
mendável é cortar ra c te rístic a s: 1-
ou roçar, depen­ C ana no Boa capacidade de
dendo do ta m a ­ rebrota Como as
nho. É se m p re VERÃO AJUDA canas forrageiras
bom lembrar que são cortadas justa­
se deve p la n ta r A PRESERVAR m ente na época
um a q u an tid ad e mais seca do ano, é
s u fic ie n te p a r a O PASTO essencial que as
uma estiagem mé­ --------------- v a rie d a d e s p o s­
d ia de cerca de suam boa capaci­
quatro meses, não mais do qiRris- dade de rebrota Quanto maior o
so. O canavial tem a finalidade de número "dê cortes obtidos maior
ser uma reserva paia imprevistos, será a diluição dos custos de for­
mesmo onde se utiliza feno ou si- mação do canavial, que é a opera­
lagem. Canaviais bem formados ção mais cara É desejável se con­
proporcionam rendimentos mé­ seguir pelo menos 5 cortes.
dios de massa verde de até 120 to­ 2- Ausência de florescimento.
neladas por hectare, de forma que florescimento representa o fim do
um hectare é suficiente para a ali­ crescimento vegetativo a partir daí
mentação de 60 cabeças por qua­ as canas começam a chochar e se­
tro meses, em regime de alimenta­ car, parando de emitir novas fo­
ção máxima lhas e diminuindo a quantidade
de caldo.
F n n ro He n la n tin — Os necua-
portante hoje em dia muitas va
)f\IXU(ZiV\ v riedades que serão adiante reco­
mendadas apresentam boa resis­
tência a todas elas.
6- Manejo. Para uma maior p
dução de massa por área é reco­
3- Porte ereto, despalha fácil, mendada a redução do espaça­
ausência de joçal e folhas sem bor­ mento entre sulcos, o usual nos
das serrilhadas. Como a cana é canaviais comerciais é de l,40m,
cortada crua, todas essas caracte­ mas pode-se estreitar para até
rísticas são desejáveis para facili­ 0,90m. Após o corte da cana, po­
tar o corte e o manuseio. de-se opcionalmente não enleirar
4- Teor de açú­ a palha, isto é, dei-
car. O açúcar é a xá-la espalhada.
fonte de energia da Com isso controla-
cana Uma das ra­ E xcedente se o mato. Mas se
zões da vantagem ainda surgir muito
da cana sobre ou­ p o d e ser mato, deve-se utili­
tras capineiras é zar um herbicida
justam ente o seu V E N D ID O À pós-emergente.
alto conteúdo de Considerando o
sacarose, que é o U S IN A que foi exposto, e
principal açúcar mais algumas pes­
da cana Portanto, quisas e observa­
quanto mais doce (rica em açú­ ções práticas, são recomendadas
car) melhor a variedade. Àntiga- as seguintes variedades:
mente se tinha uma idéia diferen­
te que a cana servia apenas como • RB72454. É uma variedade
volumoso, por isso, se p.ocurava que se mostrou adequada quando
colher a cana nova, com bastante avaliada como forrageira, além
folhagem. A cana é utilizada na es­ disso, por ser hoje muito plantada,
tiagem, de julho a outubro, e qual­ é fácil de conseguir mudas dela.
quer variedade utilizada para in­ • RB785148. É uma variedade
dustrialização se apresenta com especialmente recomendada para
bom teor de açúcar nessa época. solos muito fracos, sendo de alta
5- Resistência a doenças. A fer­ produção e de alta capacidade de
rugem é lima doença bastante im­ rebrota. Apresenta, porém, a dês-
vantagem de ser uma cana muito
dura para corte.
• RB825336. Também é uma
variedade que produz bastante e
rebrota muito bem, mas não deve
ser plantada em solos muito ruins.
Mas é preciso avaliar seu alto teor
de fibra que pode ser um empeci­
lho.
• RB 845257. Esta é uma que
deverá ser variedade comercial
muito em breve e tem todas as ca­
racterísticas para ser uma boa va­
riedade forrageira.
Deve-se picar a cana em máqui­
na forrageira, preferencialmente
logo após o corte {máximo de 48
horas após a colheita), sem as fo­
lhas secas para se ter uma quali­
dade melhor, e fornecer imediata­
mente. A recomendação dos técni­
cos é suplementai' a cana com ou­
tros alimentos para um melhor
balanceamento. A mistura com
uréia dá bons resultados.

■ Para mais informações, consultar o


Centro Piacionai de Pesquisa de dado
de Leite da Embrapa. em Coronel Pa­
c h e c o , MG. p e lo te le fo n e (0 3 2 )
212.8550.

AE
Época de plantio — Os pecua­
ristas costumam fazer o plantio da
cana em outubro/novembro, com
as primeiras chuvas da primavera.
Esse tipo de plantio é chamado de
“cana-de-ano”. O plantio nessa
época possibilita o uso da cana já
no final do período seco do próxi-
, mo ano. O outro período de plan-
Itio da cana é março/abril, no fim
da estação das águas, o único in­
conveniente é que no auge da seca
do ano seguinte as canas, já com
grande porte, estarão mais sqjei-
tas ao tombamento. dificultando o
corte.

Preparo do solo — A formação


de um canavial inicia-se por um
bom preparo de solo. E, para tan­
to, é preciso dispor de trator e im­
plementos apropriados (próprios
ou alugados): arado, grade e sub-
solador, este quando houver áreas
compactadas. Mesmo que a potên­
cia do trator nào permita um pre­
paro mais proftindo, de modo a
atingir as camadas compactadas,
deve-se ter em mente que destruir
bem os restos vegetais (cultura,
pasto ou capão) é essencial para
Como dar có,,
picada a vacas
• • • Gostaria de obter informação
de como conservar a cana picada
para ser colocada no cocho para
vacas. Ouvi falar de um produto

que conserva a cana por sete dias,


não deixando que ela azede.
Marco Mendonça
ARARAQUARA (SP)

A grande vantagem da cana-de-


açúcar como alimento para ani­
mais ruminantes é seu alto teor
de açúcares disponíveis. Como
explica o pesquisador da Embra-
pa Gado de Leite, João Eustáquio
de Miranda, o ideal, porém, é que
a forrageira dada aos animais se­
ja fresca e enriquecida com 1% de
mistura de uréia, mais fonte de

enxofre (proporção de nove par­


tes de uréia para uma parte de
sulfato de amônia). Segundo Mi­
randa, o produto a que o leitor
deve estar se referindo é a hidróli-
se, um tratamento químico feito
com cal micropulverizada ou so­
da cáustica, que melhora a diges-
tibilidade da fibra da cana. No en­
tanto, Miranda diz que essa técni­
ca é desnecessária, pois, além de
não ter resultados comprovados,
encarece o custo do volumoso
em pelo menos R$ 10/tonelada
de cana, aumentando as despe­
sas com a dieta do rebanho. A
recomendação, aqui, é optar pela
cana fresca enriquecida com
uréia. A dica é, na primeira sema­
na, incorporar a mistura de uréia
e fonte de enxofre à cana na pro­
porção de meio quilo da mistura
para cada 100 quilos de cana, pa­
ra adaptar os animais ao consu­
mo. A partir da segunda semana,
pode-se adotar a proporção de 1
quilo da mistura para cada 100
quilos de cana. Embrapa Gado de
Leite, tel. (0 - 3 2 ) 3249-4700.

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