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Abstract: The writing skill development is, among the basic teaching skills, one
of the biggest challenges for teachers of Portuguese Language. For
1
Mestre em Estudos Literários pela UFG.Coordenadora-líder da pesquisa. Professora de Estágio Supervisionado em
Língua Portuguesa e Literatura na Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária de Inhumas. E-mail:
kellenmil@gmail.com.
2
Bolsista PVIC. Graduada em Letras Português/Inglês na UEG – UnU-Inhumas. E-mail:
eunocomputador@hotmail.com.
3
Pesquisadora voluntária. Graduada de Letras Português/Inglês na UEG – UnU-Inhumas. E-mail:
enesfreire@gmail.com.
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understanding better the development of this ability, this study examined the
acquisition of written language in two methods of Portuguese language teaching:
one emphasizes the metalinguistics teaching, that is set on the structural study of
phrases and sentences, though taken out from texts, focusing on the acquisition
of grammatical classifications; the other is aimed at teaching the language
through the use of text, in which linguistic phenomena are observed in the
textual issue. The aim of this study was to compare the teaching and learning of
Portuguese language writing skill in the two methods. Students in the 6th and
9th grades of elementary school were chosen as research subjects. The aspect
that motivated the choice of these students was because they correspond to the
initial (6th year) and final (9th year) phases of elementary school, important
steps to indicate the level of written language learning. The study revealed that
both ways of teaching provide the grammar learning, however the second
method, based on the use of text, also provides the development of an awareness
of the text aspects.
1 Gramática e texto
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não se deve ensinar a língua só com base na gramática. Segundo, é preciso expor
os alunos a muita leitura. A gramática deve ser usada para mostrar como os
textos funcionam. Para mostrar quais as pistas que um texto dá para que o leitor
seja capaz de construir um sentido.
A gramática pode nos oferecer “lições” que vão muito além das geralmente conhecidas:
no modelo normativo, como conjunto de regras para aprender a escrever e falar bem; no modelo
descritivo, como conjunto que descreve fatos de uma língua; no modelo estruturalista, a
gramática pode ser utilizada como meio de descrição das formas e estruturas da língua; no
modelo gerativo, a gramática funciona como sistema de regras que o falante aciona
intuitivamente ao comunicar-se com os outros; entre outros modelos.
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escolha da escola, é que esta instituição tem o recurso de material fotocopiado, disponibilizado à
escola devido a uma parceria com uma empresa de reprografia. Por essa razão, o professor leva
para a sala textos atuais, que despertam o interesse pelas aulas, como se observou naquelas que
foram acompanhadas.
Por outro lado, na escola que não tem esse recurso, vale-se basicamente dos textos do
livro didático, maior recurso disponível, e, também, livros literários da biblioteca e textos da
internet. Em relação a esse fato, a professora P.1.2 escreveu no questionário, referente à pergunta
17: “Esta instituição de ensino propicia condições favoráveis para o desenvolvimento da sua
aula? O que poderia melhorar?”, ela respondeu: “Sim, mas gostaria de poder imprimir atividades
extras para os alunos”. Por sua vez, a professora P.2.1 confirma que a escola 2 dá condições para
que o professor prepare suas aulas: ”A instituição oferece um projeto de ensino bem flexível,
adequado às necessidades dos alunos. Além disso, temos condições favoráveis para preparar
material para as aulas, temos uma ótima biblioteca, entre outros”.
As duas professoras argumentaram que o material didático, principalmente o texto que
será trabalhado, faz diferença no desenvolvimento de uma aula. Em relação a essa mesma
questão, a professora P.1.1, da mesma escola que a professora que reclama a necessidade de levar
textos diversificados para a sala, respondeu: “Sim, temos a biblioteca e um laboratório de
informática”. Essa professora está satisfeita com os recursos disponíveis na escola, recursos,
aliás, importantes, como a internet, disponível a todos os alunos. No entanto, conforme se pôde
verificar nas aulas observadas, o laboratório é disponibilizado aos professores sob agendamento,
assim, não é sempre que se precisa dele que está disponível, fator que não faz desmerecer a
reclamação da outra professora. É preciso considerar, ainda, que nem todos os textos de revistas e
jornais estão disponíveis na internet. Por outro lado, a professora P.2.2 mostra-se satisfeita com a
instituição, mas reclama a pouca presença da família, como se verifica em sua resposta à questão
17: “Sim. Mais participação das famílias no processo de aprendizagem”.
Observou-se, na escola 2, que ela trabalha com a distinção de gêneros textuais: conto,
artigo de opinião, resenhas, o que foi comprovado no questionário respondido, em que as
professoras fizeram a seguinte observação: Professora P.2.1.: “Tentamos trabalhar com diversos
gêneros ao longo do ano”; Professora P.2.2: “Os gêneros textuais são trabalhados de forma
equilibrada, sem ênfase total em um deles. No geral, os alunos trabalham muito a narrativa, o
texto argumentativo e as resenhas”. Apesar de nessa resposta haver uma confusão entre tipo e
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gênero textuais, notou-se que os textos trabalhados em sala são de gêneros diversificados e lidos
conforme sua classificação de “gênero”.
A escola 1 trabalha mais com as noções de tipos textuais, o narrativo e o dissertativo,
sem focar muito nos vários gêneros de cada tipo. No 6º ano, trabalhou-se mais o narrativo, e no
9º ano, o dissertativo. O questionário do professor e os cadernos dos alunos recolhidos para
reprografia comprovam esse dado. A professora P.1.1, na questão 09, referente aos gêneros
textuais mais produzidos pelos alunos, marcou: narrativa e artigo de opinião. A professora P.1.2
marcou: artigos argumentativos.
De acordo com o questionário respondido pelas professoras, todas trabalham a produção
textual semanalmente. Por sua vez, a professora P.1.1 respondeu que a trabalha duas vezes na
semana. Há um dia da semana destinado à produção textual, em que os alunos produzem um
texto sugerido por ela. Por certo, a outra produção deve ser a sugerida pelo livro didático, esse
dado não foi comprovado.
Em relação aos textos produzidos pelos alunos, era objetivo do Projeto analisar textos do
início do ano letivo, para compará-los com os do final. Como não foi possível recolhê-los na
escola 2, porque a autorização para acompanhamento de aulas aconteceu no segundo semestre,
pudemos coletar apenas produções desse período, uma vez que as redações são devolvidas aos
alunos. Na escola 1, como a maioria dos textos são feitos em um caderno, tivemos acesso aos
produzidos no início do ano, porém não foram usados. Assim, foram analisadas, nas duas escolas,
produções do mesmo período letivo, final do segundo semestre de 2007. A quantidade de
produções textuais feitas pelos alunos, durante o ano letivo, nas duas escolas, é praticamente
igual, como foi comprovado pelo questionário respondido pelos alunos.
Nesse questionário, foram feitas doze perguntas sobre o que os alunos têm estudado na
disciplina Língua Portuguesa, relativas à leitura e produção textuais. O foco do projeto é a escrita,
no entanto, considerou-se que “escrever satisfatoriamente ou bem [...] pressupõe, via de regra,
entre outras exigências, ler muito bem” (BRITO, 1994, p. 73). Foi perguntado aos alunos se
gostavam de ler. As respostas podem ser observadas no gráfico 1:
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Gráfico 1
E1 – Escola 1;
E2 – Escola 2.
∗ Essa opção foi criada por um aluno.
Percebe-se que a porcentagem de alunos que gostam de ler é menor nas duas séries da
escola que trabalha mais com textos, assim, consequentemente, o número de alunos que não
gostam é maior. Contudo, resta saber se essa diferença tem prejudicado a competência
linguística, principalmente relacionada ao desenvolvimento da habilidade escrita, o que se
buscará verificar nas análises das produções textuais. Apesar dessa pequena diferença, o gosto
pela leitura é satisfatório nas duas escolas.
Em relação à questão “o que mais lêem”, as respostas foram as seguintes, como se pode
observar no gráfico 2:
Gráfico 2
A maioria dos alunos respondeu mais de um item, todos foram computados.
∗ Do total de 23%, na E2-6º ano, 15% justificaram o que gostam de ler: teorias, histórias, mangás.
No 9º ano da escola 2, 100% dos alunos leem livros literários. Nas demais turmas, essa
leitura é menor na escola 1, número próximo ao 6º ano da escola 2. Abaixo desse gênero textual,
há o gosto por revistas (E1-9º ano) e histórias em quadrinhos (E2-6º ano e E1-9º ano). Na E2, 6º e
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9º anos, há um número considerável de alunos que leem jornais, na escala dos 20%, gênero
bastante usado em sala, como foi verificado nas observações de aulas.
A literatura é uma opção de leitura por excelência, por trabalhar com valores, temas,
problemáticas, linguagem e outros fatores importantes. Como foi visto, é ainda um desafio para a
escola despertar o interesse por sua leitura entre os alunos, como se pode verificar no gráfico 3,
que apresenta a quantidade de livros lidos, durante o ano letivo.
Gráfico 3
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Gráfico 4
Nas duas escolas, o número de respostas “às vezes” é superior ao “sim”. Na escola 1, no
6º ano, a diferença entre o “Sim” e o “Às vezes” é de 4%. Na escola 2, nessa mesma série, essa
diferença sobe para 46%. Comparando, porém, a resposta “Às vezes” entre as duas escolas, a
diferença é de 17%, sendo a porcentagem maior da escola 2. Já no 9º ano dessa escola, a
porcentagem de alunos que “gosta” de escrever e “não gosta” ficou, igualmente, em torno de
20%, a maioria dos alunos “às vezes” gosta de escrever. O maior número de alunos que marcou
essa opção foi o 9º ano da Escola 1, é, também, o menor número dos que gosta de escrever.
Como se pôde perceber, a leitura é mais atrativa que a escrita. Pode-se considerar que
esta é uma habilidade complexa tanto para o professor trabalhar em sala, quanto para o aluno
desenvolver.
O gosto pela escrita é restrito, como se pôde comprovar. A opção “Às vezes”, nas duas
escolas, é muito superior às outras opções. O 6º ano da escola 2, comparado com a escola 1,
possui um número menor de alunos que gosta de ler; um número maior que não gosta e que às
vezes gosta de escrever. Já no 9º ano, o número de alunos da escola 2 que gosta de ler é também
menor que o da escola 1. Em relação à escrita, apenas a opção “Às vezes” é menor que o da
escola 1, mas, em compensação, o número que “não” gosta de escrever é maior.
Quando se pretendeu investigar o processo de desenvolvimento da habilidade escrita em
duas séries da segunda fase do Ensino Fundamental, foi por acreditar que a aquisição da escrita
não é uma prática apenas da primeira fase, quando da alfabetização da criança, mas uma
habilidade que se desenvolve ao longo da vida, devido à sua complexidade. A dificuldade de
desenvolvimento dessa habilidade advém, em muitos casos, pelo fato de os alunos não gostarem
de escrever. Essa dificuldade, por sua vez, ocorre ora porque a escrita é dada como forma de
punição, ora porque é uma atividade, até certo ponto, praticada, mas pouco valorizada no sentido
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Gráfico 5
∗ Nessa opção, alguns alunos (E1 – 9º ano) responderam que gostavam de outras disciplinas (Educação Física
e artes), não entenderam a pergunta. Outro aluno não respondeu a esta questão. Um aluno (E2-9º ano)
respondeu que gosta de produzir textos, alternativa que não fora dada.
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Os tipos de aulas que mais despertam o interesse dos alunos são leitura de livros
literários e discussão de temas atuais. Um fator aqui exposto é que na primeira série da segunda
fase do Ensino Fundamental (6º ano), cerca de 14% (E1) e 23% (E2) dos alunos gostam de aulas
com exercícios gramaticais, por sua vez, nos 9º anos, a porcentagem é zero, nenhum dos alunos
consultados gostam. Por outro lado, em relação à discussão de temas atuais, essa série demonstra
muito interesse, por volta de 70% (E1) e 80% (E2).
O professor de língua, ao preparar suas aulas, após conhecer as dificuldades dos alunos,
tanto linguísticas quanto não linguísticas, deve pensar, em primeiro lugar, quais os problemas
mais urgentes que precisam ser superados, e, nesse sentido, quais os textos, conteúdos e materiais
didáticos ele deve usar para atender aos objetivos de ensino aprendizagem.
Durante a observação das aulas, foram recolhidas algumas produções dos alunos de 6º e
9º anos para serem estudadas. Como já foi dito, apenas vinte e três (23) alunos entregaram
autorização para que seus textos pudessem ser analisados. No entanto, para organização
equivalente entre as duas escolas, foram analisados textos de apenas dezoito (18) alunos.
Conforme havia sido definido no Projeto, seriam observados os graus de dificuldades e/ou
adequações textuais à série/idade em que seriam verificados elementos linguísticos e não
linguísticos. Na análise quantitativa geral dos textos, chegou-se aos seguintes resultados,
apontados pelo gráfico 6:
Gráfico 6
É importante esclarecer que, em cada escola, foram analisados, nos 6º anos, três textos
de cada aluno (4 alunos), e, nos 9º anos, dois textos de cada aluno (5 alunos). Assim, os dados
obtidos na análise das produções textuais, cujos resultados gerais estão registrados no gráfico
acima, referem-se apenas a essa quantidade de alunos.
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Gráfico 7
* Não foi possível quantificar devidamente esse aspecto por falta de enunciado da proposta textual.
Gráfico 8
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Nos demais, a escola 1 apresenta maior número de desvios. A escola 2 não apresentou
dificuldade com a adequação ao tipo de texto e tema.
Apesar de o 6º ano da escola 1 apresentar desvios ortográficos em todos os textos, eles
não representam o aspecto mais grave. Foram expostos, na tabela 1, alguns exemplos dos casos
que correspondem ao que chamamos de problemas nos textos:
E1-6º ANO
Confusão
Confusão entre os
Influência Esquecimento Analogia
Ausência Transferência: entre termos pares
da ou com
de Fonema - de classes de mínimos:
modalidade desconhecimento termos
nasalização grafema palavras pontos e
oral da ortografia conhecidos
diferenciadas modos de
articulação
Tambom A i (aí) Hotem Picapal Com Mais (mas) Juva x chuva
(está bom) Etava (estava) (hontem) (picapau) comigo (= Fiajão
Vê (ver) Viscode Nau (não) Obedeçe com você) (viajam)
Em terigente (visconde) (obedece) Dudo (tudo)
(inteligente) Vol (vou)
Tabela 1
E2-6º ANO
Confusão
Confusão
Influência Esquecimento Analogia entre os pares
Ausência Transferência: entre termos
da ou com mínimos:
de Fonema - de classes de
modalidade desconhecimento termos pontos e
nasalização grafema palavras
oral da ortografia conhecidos modos de
diferenciadas
articulação
Tabom (está Derrepente (de Ates (antes) Conheçe Qual quer Mais (mas) Referencia
bom) repente) Respodi (conhece) (qualquer) (reverencia)
Verdadero Groseiria (respondi) Bagunçento Na quela Encontranos
(verdadeiro) (grosseria) Quado (baguncento) (naquela) (encontramos)
Cordenadas (quando) Enxistiu
(coordenadas) (insistiu)
Tabela 2
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E1- 9º ANO
Confusão entre
Confusão entre
os pares Transferência: Esquecimento
termos de classes Influência da
mínimos: pontos Fonema - ou desconhecimento da
de palavras modalidade oral
e modos de grafema ortografia
diferenciadas
articulação
A (há) Fala (falar) Audisimo Decendente Horiveis (horríveis)
Mais (mas) Melhora (altíssimo) (descendente) Asustado (assustado)
(melhorar) Ouso (ouço) Agresivo (agressivo)
Alguo (algo) Pespectiva (perspectiva)
Criancas (crianças)
Tabela 3
E2- 9º ANO
Confusão entre Confusão entre os
Transferência: Esquecimento
termos de classes Influência da pares mínimos:
Fonema - ou desconhecimento da
de palavras modalidade oral pontos e modos de
grafema ortografia
diferenciadas articulação
Mais (mas) Inrresponsabilidade Diviam (deviam) Extrupada Corupta (corrupta)
(irresponsabilidade) (estrupada)
Tabela 4
Para melhor verificar esses aspectos, será analisada uma produção textual de cada escola
e série. As produções analisadas, a seguir, referem-se a alunos do 6º ano e correspondem a textos
que mais apresentaram problemas de escrita.
No primeiro texto apresentado a seguir, a proposta de redação era dar continuidade a
uma introdução de texto narrativo dada pela professora. A parte em itálico refere-se ao que foi
dado ao aluno. Todos os textos analisados foram digitados conforme a escrita dos alunos, não
houve nenhuma alteração.
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Farta feijão
Farta águia.
E uma fartura danada
São vários os aspectos a serem considerados nesta produção do aluno 1XC. Para
começar, ele não deu continuação à história, criou outro texto. Essa atitude denota que o aluno
não entendeu a proposta. Veja que o texto dado pela professora termina com o conectivo “e”,
sugerindo que o aluno deveria descrever o que o sujeito da narrativa, Lindolfo, deveria fazer após
arrumar as malas. O aluno, pelo contrário, separa seu texto do anterior com um traço, e reinicia
um outro texto, sem ligação narrativa com o anterior. O novo texto criado pelo aluno é do tipo
dissertativo, enquanto a proposta era de produção de tipo narrativo.
Pelo que se pôde perceber, o aluno não prestou atenção à explicação da professora sobre
como faria a produção. Conforme foi observado em outros cadernos, não foi passado o enunciado
no quadro-giz, apenas o tema/título, o tipo de texto e o início da história. Assim, subentende que
a explicação sobre o que deveriam fazer foi feita de forma oral.
Dessa forma, há problemas de textualidade, aspecto grave, pois o texto não apresenta
uma história contextualizada: o texto apresenta falta de coerência referencial e adequação à
proposta dada e ao tipo textual solicitado; falta de coesão, não há uma relação de sequência
textual entre as orações do texto; falta intencionalidade, ou seja, não informa sobre o assunto,
tanto que ao final do texto há uma quebra de originalidade, pois há a citação de um texto/piada
corrente entre os jovens, o que expõe falta de imaginação para criação do próprio texto. Não que
seja proibido usar esses chavões, o problema foi que o aluno o usou para fechar seu texto, como
que dando uma solução rápida para a finalização da produção, uma indicação da falta de ideias
básicas para a construção textual.
É importante salientar que todos os alunos do 6º ano da escola 1 são iniciantes na escola.
A maioria dos Colégios Estaduais é responsável apenas pela segunda fase do Ensino
Fundamental e Ensino Médio.
Na escola 2, a produção que mais apresentou problemas foi a do aluno 2XC, primeiro
ano que estuda nessa escola. Uma de suas produções foi transcrita a seguir:
A Ilha do Tesouro
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meu pai tinha uma estalagen grande e bonita mas, não era de luxo, um dia
chegou um com um baú.
- Esse lugar tem muita freguesia? O marujo pergun(tou).
- Não. O pai disse
- Então ficarei aqui.
Um dia o marujo estava almuçando e lhe perguntei.
- Você tem um nome marujo? Deivide disse.
- Tenho mas pode me chamar de Baybi. O marujo disse.
Então passaram um mês e ele o Baybi morreu (morre-ou) e deixou o bau
mas nós eu e minha não achavamos nem uma chave até então eu achamos uma
coisa e quando terei era uma cave e quando fui abrir o baú tinha o sinal negro e
uns outros papeis e abrimos o saco vimos um mapa que tinha um tesouro
marcado um (x) numa ilha chamada Rondegue.
Eu e meu pai fomos escolher um barco e os marinheiros. E no caminho achamos
um barco mas bem grande e tava escrito “Esse barco é para Deivid” e meu pai
ficou feliz, e com isso nós entramos no barco e fomos até o ancoradouro
Rodugue é escolhemos. Os marinheiros e fomos a ilha e encontramos muitos
peratas mas conseguimos contornar a ilha com alguns arraonheis no barco mas
entramos na ilha e logo encontramos uma caverna e nesta caverna encontramos
um tesouro e com a inicial “M” e levaram melhoraram a estalagem. Mas e claro
que deixamos uma parte para o Juiz Jhony Rogerio silver.
E para o Doutor Dogeer para construir mais hospitais para o povoado e mais
casas e mais lojas. Uma vez tinha entrado um marujo, e o marujo era o meu
vovô.
- David você está aí? Disse o vô do Dayvid
- Vô é você? Dayvid disse
- Sou eu sim. Vô disse
- há! Disse Dayvid
- Venha Ca. O
- Tabom.
- Eu tenho que te dar uma coisa
- Eu vou te dar um baú.
- Um baú!!!
- Ele tem um mapa aqui que eu acho que você sabi onde fica.
Então ele me mostrou o mapa e vi que era o mesmo mapa e falei: - Eu já peguei
esse tesouro.
O aluno 2XC produziu um conto. Para se chegar a essa produção, a professora trabalhou,
conforme as aulas observadas: a leitura do livro A ilha do tesouro, de Robert Louis Stevenson;
assistiram ao filme Planeta do tesouro, da Disney Pictures; fizeram discussões em sala sobre o
livro e o filme e também atividade avaliativa sobre o livro.
Os alunos passaram muito tempo trabalhando o tema, viram a história em duas versões:
o livro e o filme e discutiram em sala as duas histórias. O texto do aluno 2XC foi o mais curto,
dentre as produções recolhidas para análise, e a que mais apresentou problemas de escrita.
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Entre os problemas pode-se destacar: pressa em escrever o texto, nota-se pela troca das
pessoas do discurso: “eu sou Deivid [...] mora na Inglaterra”, “encontramos um tesouro e com a
inicial ‘M’ e levaram melhoraram a estalagem”; ausência de palavras no texto, aspecto
recorrente: “Um dia chegou um (?) com um baú”; “mas nós eu e minha (?) não achavamos nem
uma chave”; problemas de coerência referencial, ao final do texto foram mencionados
personagens como se já fossem conhecidos. Provavelmente, são personagens do livro, por isso
foram citados sem preocupação de apresentá-los ao leitor; mudanças na ortografia de alguns
nomes: Rondegue/Rodugue; Deivid/Dayvid.
Ao comparar as duas produções, é preciso tomar alguns cuidados, até porque há uma
diferença considerável em relação ao número de linhas escritas. No texto do aluno 1XC, não há
desenvolvimento da história, ao contrário do texto do aluno 2XC que, apesar de apresentar
problemas ortográficos, coesão, coerência, pontuação, acentuação, esses problemas não
interferem na compreensão da história criada.
No texto de 1XC, a falta de desenvolvimento do assunto pode ser uma consequência da
falta de familiaridade com o tema. O aluno expôs aquilo que sabia, não havendo mais o que falar,
ele criou uma forma rápida de encerrar o texto, um chavão. Outro problema que atrapalhou o
desenvolvimento do texto foi o aluno não ter entendido a proposta de produção (dar continuidade
a um texto narrativo). Se o aluno tivesse pelo menos entendido qual o gênero textual deveria
escrever, talvez tivesse escrito mais.
Nos 9º anos, foram escolhidos, também, os textos que apresentaram mais problemas,
como na produção de 1YE:
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Os argumentos usados pelo aluno 1YE apenas contornam o assunto que realmente
pedia-se que escrevessem. Para ele, a mudança na educação é um fator exclusivamente de
responsabilidade dos pais das crianças, que dão liberdade demais. Para realização desta produção
nenhum texto foi lido, a professora apresentou o tema, falou um pouco sobre ele, uns dois alunos
deram uma rápida opinião e passaram a produzir o texto.
Na escola 2, a produção apresentada, a seguir, é resultado de uma aula semelhante à da
escola 1, discussão sem leitura de texto. A professora apresenta aos alunos o tema “Violência” e
chama a atenção para uma manchete que apareceu, praticamente, em todos os jornais, o caso da
menina que ficou presa, por um mês, em uma cela com vários homens. Após discussão, a
professora escreve no quadro-giz que tratarão do seguinte assunto: “Quem são os responsáveis
pelo estado da violência institucionalizada no Brasil?” Após as discussões, a professora expõe as
respostas: a) policiais; b) governo; c) povo; d) bandidos; e) todas as alternativas.
Foi gasto um bom tempo nessa discussão, vários alunos expuseram suas opiniões. Foram
mencionados, durante as discussões, alguns temas relacionados à violência: educação adequada
para as classes baixas; bandidos políticos; bandidagem hereditária; o filme “Tropa de Elite”, em
que se discutiu o treinamento animalizado dos policiais; estupradores que são violentados nas
prisões; pena de morte. Após o debate, a professora propôs que os alunos fizessem uma reflexão,
a produção de um texto argumentativo, cujo tema foi o mesmo da discussão. O texto a seguir
baseou-se nessa aula:
Eu acho que quem são os responsáveis por essa violência é o governo e a policia
porque o governo? Porque ele estabelece as leis e pronto não faz mais nada, eles
deveriam não só estabelecer as leis mais também impôr que elas sejam
respeitadas, por exemplo se dizerem assim, “se tal lei for desrespeitada suas mão
vão ser cortadas”, não vai acabar totalmente mais vai diminuir isso pode ter
certeza.
Porque a policia? Porque se os policiais fizesse o esforço de pegar tal ladrões,
esses ficariam com mais medo de bandidar iam pensar 3 ou mais vezes antes de
fazer isso ou seja matar alguém, roubar entre outros. Agora não eles fazem o que
fazem e a policia não ta nem aí.
Vamos dar o exemplo daquela menina de 15 anos que roubou e que pagou pelo
[?] que fez, só que sendo extrupada todos os dias pois estava em uma sela com
24 bandidos nisso foi inresponsabilidade da delegada pois como que ela coloca 1
menina com homens e não é só 1 é 24, e depois diz que não viu ela sendo
extrupada todos os dia. Mentira dela!!!. Os policiais tambem como que não
viram tambem.
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ISSN 1984-6576 – v. 3, n. 2 – outubro de 2011 – p. 82-106 – www.ueg.inhumas.com/revelli
Ladrões, tem que criar vergonha na cara, e ver que essa violência só
acontece por causa deles. E parar de dar problema para o país.
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3 Considerações finais
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4 Referências
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FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore G. Villaça. Lingüística textual: introdução. 6. ed.
São Paulo: Cortez, 2002. (Gramática portuguesa na pesquisa e no ensino; 9).
KOCH, Ingedore Villaça. Profissão: professora. Revista Língua Portuguesa. São Paulo, ano II,
n. 19, p. 13-16, maio de 2007.
LABEURB, Claudia Castellanos Pfeiffer. O leitor no contexto escolar. In: ORLANDI, Eni
Pucelli (Org.). A leitura e os leitores. São Paulo: Pontes, 1998.
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NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola?: Norma e uso na Língua
Portuguesa. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
SOUZA, João Ernandes de. A busca da textualização: os equívocos, os caminhos. In: BRITO,
Manoel Bueno. Linguagem básica e leitura sistemática. Goiânia: UFG, 1994.
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