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Revisão técnica:

Sabrina Assmann Lücke


Arquiteta e Urbanista
Mestra em Ambiente e Desenvolvimento
com ênfase em Planejamento Urbano

H987i Huyer, André.


Introdução a arquitetura e urbanismo / André Huyer,
Sabrina Assmann Lücke, Betina Conte Cornetet ; [revisão
técnica : Sabrina Assmann Lücke]. – Porto Alegre :
SAGAH, 2018.
140 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-256-0

Arquitetura. I. Lücke, Sabrina Assmann. II. Cornetet, Betina


Cornetet. III. Título.

CDU 72

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147

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UNIDADE 3
A arte e a estética
na arquitetura
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer as relações entre arte, estética e arquitetura.


„„ Identificar os movimentos e os estilos artísticos presentes na arquitetura.
„„ Comparar as diferentes vertentes artísticas nos diversos períodos da
arquitetura.

Introdução
A arquitetura tem sido uma marca da identidade das sociedades, desde
as mais antigas até as atuais. Em muitas delas, representava o ápice do
trabalho artístico, conjugando o que de melhor havia nas áreas de
escultura, pintura, decoração, paisagismo e demais artes em templos
e santuários. Nas sociedades mais modernas, as artes foram ganhando
maior expressividade e independência, não estando mais atreladas à
arquitetura, provocando até mesmo uma inversão nessa relação, ou seja,
os movimentos artísticos começaram a influenciar os rumos da arquitetura.
Neste capítulo, você vai estudar como se deram as relações entre arte,
estética e arquitetura.

Arte e estética e suas relações com a arquitetura


Muitas foram as manifestações artísticas e estéticas presentes na história da
humanidade. Desde a antiguidade clássica, com os povos gregos e romanos,
essas formas de arte foram reproduzidas na arquitetura. Diversos autores

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consideram arte, estética e arquitetura três áreas indissociáveis, pois ao ana-


lisarmos um deles, vemos características do outro. Ao buscar a definição de
cada um destes itens, você verá que a ligação entre elas é evidente, acompanhe
os itens a seguir.

Definindo arte, estética e arquitetura


O termo arte é definido como uma atividade, técnica ou habilidade humana
ligada às manifestações estéticas, produzidas por artistas com significados
únicos e diferentes. Está ligada à estética por ser considerada uma atividade
na qual o homem cria objetos (veja Figura 1) buscando atingir os padrões de
beleza, equilíbrio e harmonia manifestados em um conjunto de técnicas de
representação estabelecidos em cada período artístico.
Para o filósofo Aristóteles, a arte é uma imitação da realidade. Relacionada
a essa definição, e analisando os períodos históricos e artísticos, podemos dizer
que a arte sempre esteve relacionada à religião, ou à política, ou à ciência,
dependendo de qual era o ponto de destaque do momento, assim como as
representações estéticas.
A estética é vista como uma ciência que remete à beleza relacionada a
algum sentimento, demonstrado por suas manifestações artísticas e naturais.
É estética vista como a filosofia da arte.
A arquitetura, por fim, era vista como a mais significativa das artes, sendo
considerada a “grande arte”, pois conjugava o mais precioso que se pode-
ria expressar nas pinturas, esculturas, decoração, paisagismo, entre outras
características.
A independência da arte e da arquitetura foi ganhando maior força nas
sociedades mais modernas, por meio dos movimentos artísticos, ganhando
destaque no final da Idade Média e fortalecendo-se durante o Renascimento.

Movimentos e estilos artísticos na arquitetura


Os movimentos e os estilos artísticos eram expressões que buscavam repre-
sentar o momento histórico de uma cultura por meio da arte. A quebra de
paradigmas e a insatisfação de um determinado período eram motivadores
para que houvesse diversidade nas formas de artes, que eram utilizadas para
expressar as ideias desses períodos, inclusive a arquitetura.

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Assim como conseguimos identificar na análise histórica de cada período


evolutivo das sociedades características que impulsionaram seus povos e que
os distinguiam, na arquitetura conseguimos os definir.

Características dos movimentos e estilos artísticos


representados na arquitetura
Ao caracterizar os estilos arquitetônicos por períodos e movimentos artísticos,
você perceberá que o retrato das sociedades esta impresso. Na pré-história,
por exemplo, a vida rupestre do homem primitivo e nômade imprimiu sua
arte por meio das cavernas e das pinturas em suas paredes, como você pode
observar na Figura 1, que retratavam as atividades cotidianas.

Figura 1. Pintura rupestre.


Fonte: Marisa Estivill/Shutterstock.com.

Os povos egípcios viam na arquitetura uma forma de expressar sua devoção


aos deuses. Eram uma sociedade bastante complexa em sua organização social
e nas suas realizações culturais. Usavam a arte e a arquitetura para cultuar os
vivos e os mortos, sendo as pirâmides seu principal marco. As características
gerais da arquitetura egípcia são a solidez e a durabilidade, o sentimento de

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eternidade e seu aspecto misterioso e impenetrável, como podem ser verificadas


no conjunto de pirâmides. As preocupações estéticas e as demonstrações de
artes, como as pinturas e as esculturas, estavam nos detalhes e nas obras no
interior das tumbas.
A arte egípcia seguia uma devoção espiritual, em oposição, a Arte Grega
se posicionou de uma maneira muito mais racional, valorizando a inteligência
humana e a relação com os povos e seus reis, que aqui eram mortais, e não
deuses. Predominam o ritmo, o equilíbrio e a harmonia. Suas principais ca-
racterísticas são o racionalismo, o amor pela beleza, o interesse pelo homem
(considerado “a medida de todas as coisas”) e a democracia. Assim como nas
artes, na arquitetura também são valorizadas características como a simetria,
tanto em planta como em elevações e perspectivas. A preocupação estética
ficou ainda mais evidente com as ordens criadas nas colunas classificadas
como dórica (veja a Figura 2), jônica e coríntia.

Figura 2. Exemplo de colunas dóricas.


Fonte: Junior Braz/Shutterstock.com.

Os principais representantes da arquitetura grega foram os templos, teatros,


ágoras e ginásios. Nas artes, a pintura foi muito expressiva na cerâmica. Já a

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maior representação do equilíbrio e perfeição atingidos pelo ser humano está


nas esculturas. O antropomorfismo trata-se das esculturas da forma humana,
que eram esculpidas em mármore ou bronze. Os deuses foram esculpidos e
dispostos dentro dos templos dedicados a eles. Porém, pouco dessa cultura
pode ser vista intacta atualmente.
A Arte Romana foi influenciada por duas vertentes: a arte etrusca popular,
que representava o cotidiano dos povos, e a grego-helenística, que buscava
um ideal de beleza e estética. As abóbadas presentes nos arcos das edifica-
ções desse período são uma herança da arte etrusca. Como características da
arquitetura romana associada às artes e à estética, podemos elencar a busca
do senso de realismo, grandeza material, ideia de força, energia e sentimento
expresso, predomínio do caráter sobre a beleza e a origem do urbanismo, com
vias de comunicação entre as diversas áreas das cidades romanas. Além disso,
os anfiteatros e as termas eram locais de encontro e exercício da democracia.
A pintura utilizou-se dos mosaicos, que estavam espalhados pelos muros e
edificações. As esculturas representavam a forma real humana, e não a forma
ideal como era cultuado pelos gregos.
Os mosaicos tiveram seu desenvolvimento máximo no período Bizantino,
pois, além de serem utilizados como expressões artísticas, eram utilizadas
com a finalidade de instruir os fiéis cristãos, mostrando-lhes cenas da vida
de Cristo, dos profetas e dos imperadores. Porém, a forma de elaborá-los não
tinha semelhança com os mosaicos romanos, pois as técnicas eram diferentes
e se aplicam também aos afrescos das catedrais do período, que utilizavam
o dourado em demasia.
Este período sofreu influência das artes gregas, romanas e do oriente,
devido à posição geográfica de Constantinopla, cidade símbolo do período,
sendo a união dos elementos dessas culturas a marca que determinou o
estilo Bizantino, rico em técnicas e cores. Foi dirigida pela religião, em
que o clero era o responsável por organizar as artes, rotulando os artistas a
meros executores. Em virtude disso, a arquitetura das igrejas era de grande
importância, sendo a verticalidade uma busca característica do período,
por simbolizar a universalidade e o poder divino absoluto, e que se con-
cretizou na Igreja de Santa Sofia, localizada em Istambul e projetada por
Talles de Mileto, que você pode observar na Figura 3. As esculturas não
tiveram tanto destaque nesse período por serem associadas ao paganismo
dos períodos anteriores.

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Figura 3. Igreja de Santa Sofia, Istambul.


Fonte: Bayurov Alexander/Shutterstock.com; Faraways/Shutterstock.com.

Na Idade Média, tivemos o desenvolvimento de outras manifestações artísti-


cas. Neste período, surge a Arte Românica, que se assemelhava nas edificações
com os antigos romanos. Porém, desenvolve características próprias, como o uso
de abóbodas em vez de telhados, pilares de sustentação para as paredes maciças
e espessas, aberturas raras e estreitas, uso de torres no cruzamento das naves
ou nas fachadas e arcos com 180 graus, até então não utilizados na arquitetura.
A dimensão das igrejas desse período é o que chama a atenção, sendo sempre
grandes e sólidas, como se representassem uma fortaleza divina, demonstrando
sua pouca preocupação estética e todo o funcionalismo pretendido pelo clero,
que foi o responsável pelo seu desenvolvimento. A Catedral de Pisa, que você
pode observar na Figura 4, é um exemplo do período, sendo o seu campanário
a edificação mais conhecida, a Torre de Pisa.

Figura 4. Catedral e Torre de Pisa.


Fonte: Kokophotos/Shutterstock.com.

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A arte românica utilizou as pinturas e as esculturas para narrar histórias


da bíblia e comunicar os valores religiosos aos fiéis, que eram, na maioria,
analfabetos. A pintura estava presente em murais e afrescos, tendo seus motivos
relacionados à natureza religiosa, como os sentimentos religiosos e a inter-
pretação mística da realidade. A figura de Cristo sempre era representada em
proporção superior as demais figuras humanas, demonstrando a superioridade
cristã. O colorismo, que era a utilização de cores chapadas, sem jogos de luz
e sombra, foi a técnica utilizada no período.
A pintura românica desenvolveu-se, sobretudo, nas grandes decorações mu-
rais, por meio da técnica do afresco, que originalmente era uma técnica de pintar
sobre a parede úmida. Observe um exemplo da pintura românica na Figura 5.

Figura 5. Pintura no interior da Catedral de Cefalú, Sicília, Itália.


Fonte: perspectivestock/Shutterstock.com.

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Os motivos usados pelos pintores eram de natureza religiosa. As caracte-


rísticas essenciais da pintura românica foram a deformação e o colorismo. A
deformação, na verdade, traduz os sentimentos religiosos e a interpretação
mística que os artistas faziam da realidade. A figura de Cristo, por exemplo,
é sempre maior do que as outras que o cercam. O colorismo realizou-se no
emprego de cores chapadas, sem preocupação com meios tons ou jogos de luz
e sombra, pois não havia a menor intenção de imitar a natureza. Os mosaicos
também foram utilizados nesse período.
No estilo Gótico, você pode ver como diferença do período românico a pre-
sença de três portais de acesso às naves internas das igrejas, sendo um central
e dois laterais. A arquitetura expressa a grandiosidade e a crença em um Deus
como ser único e superior, em que tudo se volta para o alto, projetando-se para
o céu. A presença da rosácea também é característica desse período, presente
em praticamente todas as suas igrejas, assim como os arcos góticos ou ogivas
e os vitrais coloridos. As principais catedrais góticas são as de Notre-Dame
de Paris e Notre-Dame de Chartres, veja as imagens da Figura 6.

Figura 6. Catedrais Notre-Dame de Paris (esquerda) e Notre-Dame de Chartres (direita).


Fonte: Anna Kucherova/Shutterstock.com; jorisvo/Shutterstock.com.

As esculturas, assim como a arquitetura, eram verticalizadas. Já a pintura se


caracterizou pela busca da realidade, sendo as imagens humanas sempre muito
fiéis, demonstrando motivos religiosos, personagens com os corpos bastante
volumosos e cobertos e com olhar voltado ao plano celestial.

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O Renascimento, um dos mais significativos períodos artísticos e inte-


lectuais da história da humanidade, foi marcado pelo desenvolvimento de
novas técnicas presentes nas artes, nas construções, na literatura e nas ciên-
cias. Movido pelo ideal do humanismo, valorizando o homem e a natureza,
opunha-se aos preceitos da Idade Média, movida pelo divino e o sobrenatural.
As principais características do Renascimento foram a racionalidade, o rigor
científico, o humanismo e o resgate das artes greco-romanas.
Na arquitetura, a ocupação do espaço pelo edifício baseia-se nas relações
matemáticas, na geometria. Nas obras desse período, é possível verificar arcos
de volta perfeita, simplicidade na construção e resgate das ordens arquitetô-
nicas dórica, jônica e coríntia. O nome mais importante do Renascimento foi
Leonardo Brunelleschi, arquiteto, pintor e escultor, cuja principal obra foi a
cúpula da Catedral de Florença, representada na Figura 7.

Figura 7. Catedral de Santa Maria Del Fiore, em Florença.


Fonte: Kondratev Alexey/Shutterstock.com.

A pintura foi muito desenvolvida nesse período, em especial pelo uso da


perspectiva, até então não utilizada nas artes. O uso do claro e do escuro dão
realismo e profundidade as obras, que passam a utilizar a tinta a óleo. Come-
çam a ser produzidas telas, e há uma dissociação entre a pintura, a escultura

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e a arquitetura, até então vistas como detalhes arquitetônicos. Leonardo Da


Vinci, conhecido por sua obra Monalisa, além de pinturas de afrescos e estudos
antropométricos é um dos artistas desse período.
A escultura é marcada pela representação realista da figura humana e a
busca pela proporção tendo o homem como medida das coisas (antropometria).
Utilizava-se muito o bronze e o mármore. Michelangelo foi um dos mais
importantes escultores da época, devido a seu conhecimento em anatomia,
com várias obras produzidas, inclusive para o Vaticano. Veja a escultura Davi,
de Michelangelo, na Figura 8.

Figura 8. Davi, de Michelangelo.


Fonte: Shoriful Chowdhury/Shutterstock.com.

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O Maneirismo, movimento que se desenvolveu paralelo ao Renascimento,


foi marcado pelo exagero do uso de detalhes, sendo considerado um período
de transição entre o Renascimento e o Barroco. Foi uma busca pela aplicação
de todas as técnicas desenvolvidas no Renascimento na arquitetura religiosa,
e pela volta da religiosidade dos povos, por meio da Reforma Luterana. Com
isso, os artistas da época, como pintores, escultores e arquitetos criam uma
arte de labirintos, espirais, conchas, caracóis e proporções estranhas, sendo
esta a marca do estilo maneirista.
Na arquitetura, as igrejas aparecem mais longas do que altas ou largas e
deixam de lado a centralidade das cúpulas, dispondo-as em pontos não mais
centrais como era comum no Renascimento clássico. Passam, também, a ser
mais escuras, com escadas espirais que não conduziam a lugar algum, apenas
com finalidades estéticas.
Palladio é o grande nome do período, com a construção das igrejas de
San Giorgio Maggiore (veja Figura 9) e Il Redentore, em Veneza. Sua obra
referenciou arquitetos ingleses e franceses do Barroco.

Figura 9. Igreja de San Giorgio Maggiore.


Fonte: photo.ua/Shutterstock.com.

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A pintura maneirista surge como uma ruptura total do Renascimento. Nela,


as formas humanas são esguias e alongadas, os rostos aparecem melancólicos
e misteriosos em meio a drapeados e cores brilhantes. Utilizam-se sombras
irreais, e o protagonista da cena não está mais situado no centro da perspectiva.
El Greco foi o mais famoso pintor do período.
As esculturas apresentavam composição típica de um grupo de figuras
dispostas umas sobre as outras, unidas por contorces extremos e alongamento
muscular exagerado. A postura para proporcionar o entrelace era descomunal,
com proporções estranhas ou superposição de planos. Os principais escultores
foram Bartolomeo Ammanati e Giambologna. A Fonte de Netuno, ilustrada
na Figura 10, é um destes exemplares.

Figura 10. Fonte de Netuno, de Giambologna.


Fonte: Fabio Lotti/Shutterstock.com.

O Barroco foi uma arte que iniciou na Itália e acabou sendo difundida
pelo mundo, por meio dos colonizadores portugueses e espanhóis. Trata-se
da arte que rompeu com o equilíbrio entre o sentimento e a razão, ou, ainda,
entre a arte e a ciência, presentes no Renascimento, trazendo o predomínio
das emoções, visto que era uma época de conflitos espirituais e religiosos.

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Ficou conhecido por trazer para as representações artísticas o duelo entre o


bem e o mal, o céu e a terra, a alegria e a tristeza, o paganismo e o cristianismo,
o espírito e a matéria. Para isso, buscou efeitos decorativos e visuais, com o uso
de curvas, colunas retorcidas, contrastes entre luz e sombra bem evidentes e
pinturas com efeitos ilusionistas. Ainda sobre a pintura, caracterizou-se pelas
assimetrias, utilizando efeitos em diagonais, acentuada noção de profundidade
pelo uso de claros e escuros, além de retratar todas as camadas sociais e a
representação de cenas no seu momento de maior intensidade dramática.
Caravaggio utilizou muito expressivamente a luz, usada intencionalmente
para dirigir a atenção do observador. Observe uma de suas obras na Figura 11.

Figura 11. Detalhe de pintura de Caravaggio, que se encontra na igreja Santa Maria delle
Grazie, Milão, Itália.
Fonte: Claudio Giovanni Colombo/Shutterstock.com.

Nas esculturas, o destaque fica com o nome de Bernini, arquiteto, urbanista,


decorador e escultor. Algumas de suas obras serviram de elementos decorativos
para igrejas, como o baldaquino e a cadeira de São Pedro, ambos na Basílica
de São Pedro, no Vaticano, assim como a Praça de São Pedro, também no
Vaticano (ver Figura 12).

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Figura 12. Praça de São Pedro, Vaticano.


Fonte: JJFarq/Shutterstock.com.

Como desdobramento do Barroco, o Rococó surgiu na França com mais


leveza e intimismo, sendo utilizado inicialmente na decoração de interiores.
Por meio da arquitetura, disseminou-se para as demais expressões de arte.
Teve sua difusão pela igreja católica da Alemanha, Prússia e Portugal. Na
França ficou também conhecido como estilo Luiz XV.
As principais características do Rococó foram o uso abundante de formas
curvas e elementos decorativos como conchas, laços e flores, além disso tinha
elegância, leveza, caráter intimista, alegria e exuberância. Na arquitetura ainda
se utilizou de cores em tons pastéis, luz difusa (principalmente pelo uso de
muitas janelas) e texturas suaves, as estruturas edificadas eram mais leves e
o espaço interno unificado. O principal nome da arquitetura do estilo Rococó
é Johann Michael Fischer (1692-1766), responsável pela abadia beneditina de
Ottobeuren, marco do Rococó bávaro e pelo restauro de inúmeras igrejas,
mosteiros e palácios. Nas esculturas, o destaque é para Ignaz Günther (1725-
1775), escultor alemão que produzia esculturas em madeira e a seguir aplicava
policromias. Exemplos de suas obras são Anunciação, Anjo da guarda, Pietà.
Com o fortalecimento da burguesia, uma nova tendência estética chamada
Neoclassicismo predominou nas criações dos artistas europeus no final do sé-
culo XVIII e início do XIX. Suas principais características foram o retorno aos
modelos greco-romanos e do Renascimento italiano, academicismo nos temas
abordados e regras aplicadas, além da visão da arte como uma imitação da

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natureza, cultuando pensadores como Aristóteles. Na arquitetura, temos como


um dos exemplos mais significativos a Igreja de Santa Genoveva, transformada
depois no Panteão Nacional de Paris, e a Porta do Brandemburgo, em Berlim.
Na pintura, houve grande influência do renascentista Rafael, mestre no
equilíbrio da composição. As principais características apresentadas foram o
racionalismo formal, contornos bem definidos e a harmonia das cores.
Ao final do Neoclassicismo, com a procura pela libertação do academicismo
e a favor da livre expressão da personalidade do artista, surge o Romantismo,
caracterizado pela valorização dos sentimentos, o nacionalismo, a valoriza-
ção da natureza e pelo tema da Revolução Francesa “Liberdade, igualdade
e Fraternidade”. A pintura foi a expressão artística que mais se desenvolveu
neste período, sendo a arquitetura e a escultura praticamente inexpressivas,
mantendo a influência neoclássica.
A arquitetura teve grande evolução entre 1850 e 1900, com o Realismo,
influenciado pela industrialização das sociedades. As obras do período são
marcadas pelo cientificismo, a valorização do objeto (obra) e a sobriedade. Os
arquitetos e engenheiros da época precisavam encontrar respostas ao urbanismo
que se desenvolvia, em que os palácios deram lugar a casas, fábricas, ferrovias,
edificações comerciais, escolas, hospitais, entre outras. O marco do período
foi a obra de Gustavo Eiffel e a torre que leva seu nome, em Paris, como você
pode observar na Figura 13.

Figura 13. Torre Eiffel, de Gustav Eiffel, em Paris.


Fonte: Dmitry Brizhatyuk / Shutterstock.com

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O movimento do Modernismo, na arquitetura, não teve presença mar-


cada de todas as suas variantes artísticas, porém houve influências bastante
importantes para a arquitetura contemporânea. Em relação ao Impres-
sionismo e ao Expressionismo, por exemplo, não foram desenvolvidos
significativamente nada na arquitetura, contudo foram muito valorizados
nas pinturas.
A arquitetura voltou a se desenvolver no início dos anos de 1900, com
o Cubismo, que chegou para romper com as características da arquitetura
renascentista, assim como os demais movimentos ligados ao Modernismo.
Caracterizou-se pela sensação de continuidade espacial, a integração dos
espaços internos e externos e a associação do espaço com o tempo. Seu
formalismo foi o que mais impactou na arquitetura, contribuindo muito com
a evolução da arquitetura mundial. Um dos principais nomes do período foi
Le Corbusier, e alguns dos seus principais trabalhos foram a Casa Maison
(também conhecida como Casa Cook), de 1926, e o Pavilhão Suíço, em
Paris, de 1932.
Ainda no início do século XX, surge o Futurismo, sendo, na arquitetura,
visto como anti-histórico, com uso de linhas horizontais bastante longas,
sugerindo movimento, velocidade e urgência. Suas características gerais são
a volta ao mundo urbano e industrial, a utilização de tecnologias e materiais
modernos e novos, a volumetria arrojada e dinâmica, a aproximação de uma
arquitetura funcional e racional pela abolição da decoração. Ficou marcado
pelos projetos de Antonio Sant´Elia, que influenciou muitos arquitetos con-
temporâneos e o urbanismo moderno com seus planos de edificações recuadas
conforme a altura. Não teve nenhum de seus projetos concretizados, apenas
um grande número de produções.
Juntando-se aos movimentos modernos, nasce, em 1916, em Zurique, o
Dadaísmo, considerado um movimento de negação as produções até então
realizadas. A ideia era que a arte ficasse solta das amarrações racionalistas,
sendo resultado do psicológico criativo do seu autor, combinando elementos
e materiais do acaso, defensor do absurdo, da incoerência, da desordem e do
caos. Teve seu fim no início dos anos 1920. Um de seus exemplos arquitetônicos
é a Casa Dançante, na cidade de Praga, na República Tcheca, que você pode
observar na Figura 14.

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Figura 14. Casa Dançante, Praga.


Fonte: Christian Mueller/Shutterstock.com.

Outra manifestação artística do Modernismo foi o Abstracionismo. As


principais características desse estilo eram a busca pela supressão de toda a
relação entre a realidade e o que estava sendo retratado com as mais diferentes
formas de arte, em que não se consegue definir linhas ou planos, cofres ou
formas. Isto é, como se tudo o que se vê não possa ser definido, mas sentido.
Os elementos compositivos da arte abstracionista, mesmo que não definidos,
deveriam apresentar unidade e harmonia.
Na arquitetura, o Abstracionismo ficou marcado pela emergência dos
engenheiros na projetação arquitetônica, devido ao funcionalismo exacerbado,
com edificações racionais, com formas geométricas puras, muito transparentes
e com espaços internos bastante valorizados. A Bauhaus se destacou neste
período com propostas de linhas simples, tanto no interior como no exterior
das edificações, criando espaços homogêneos. Exemplo disso é o pavilhão
alemão da Exposição Universal de Barcelona, de 1921, projetado pelo arquiteto
Mies van der Rohe.
No mesmo período, nasceu na Holanda o De Stijl, influenciado pela ar-
quitetura japonesa, caracterizada pela sutileza, praticidade e simplificação
de formas. O exemplo mais famoso desse movimento é a Casa Schröder (ver
Figura 15), projetada por Gerrit Rietveld, em 1925.

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Figura 15. Casa Schröder.


Fonte: Adwo/Shutterstock.com.

O auge do funcionalismo na arquitetura ficou marcado pelas obras de Le


Corbusier, francês que projetou diversas edificações utilizando formas geo-
métricas puras e que pudessem ser utilizadas como moradias ou mesmo como
fábricas, sendo chamada de arquitetura multifuncional. Ele ficou conhecido
no mundo inteiro e influenciou inúmeros arquitetos, como os brasileiros
Lucio Costa e Oscar Niemeyer, com quem desenvolveu projetos como o do
Edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, que abrigou o Ministério da
Educação e da Cultura (MEC).
Destaca-se ainda neste período, o arquiteto Frank Lloyd Wright, cujas obras
permeavam entre o orgânico moderno e o novo racionalismo e foram as mais
singulares do século XX, como é o caso da Casa da Cascata.
Como você pode observar, a arquitetura desenvolveu-se lado a lado com
as demais manifestações artísticas. As noções estéticas de cada período
artístico sempre estiveram presentes nas obras das edificações mundiais,
fazendo a arte e a estética estarem presentes na arquitetura mundial, sendo,
muitas vezes, matérias indissociáveis de serem estudadas e compreendidas
individualmente.

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A arte e a estética na arquitetura 99

1. A popularidade das composições c) o projeto apresenta estradas


clássicas é notória entre os alinhadas e retas.
projetistas e o público em d) a arquitetura deveria seguir
geral. Pode-se considerar como os modelos clássicos.
marca da linguagem clássica: e) seu objetivo era criar
a) expressividade, flexibilidade uma aldeia socialmente
e sutilezas. inclusiva e sustentável.
b) se expressa nos projetos por 4. A proposta do regionalismo
meio de detalhes simples. moderno pode ser evidenciada por
c) expressa valores humanos quais dos seguintes fatores?
passageiros. a) Desconsidera o uso de novas
d) está baseada unicamente na tecnologias e os princípios
psicologia do ser humano. modernos de composição.
e) é marcada pela presença b) Há uma discriminação da
de dogmas religiosos. consciência social e das
2. O bairro residencial litorâneo, criado condições do terreno.
em 1981, localizado no Panhandle c) É baseada em um revivalismo
(Flórida), apresenta como destaque: da cultura clássica.
a) A ênfase no moderno, muito d) Está baseada nos valores locais,
utilizado nas construções locais. nas tradições de construções
b) A imposição de um e na linguagem formal.
estilo de arquitetura e) Foca no desenvolvimento de
detalhado e específico. uma linguagem moderna.
c) O instrumento de controle 5. Sobre o Modernismo no Japão,
chamado padrão de projeto. é correto afirmar que:
d) O surgimento de um novo a) a arquitetura moderna japonesa
padrão de projetos, conhecido baseia-se em construções
como “filosofia do urbanismo”. de madeira e pequenas.
e) O consenso de opiniões b) há aplicação de diversos
a respeito do projeto. materiais, inclusive reciclados.
3. Em relação ao projeto de Krier c) O uso de coberturas
para a nova cidade-modelo de abobadadas deixou de ser
Poundbury, criada em 1988, no utilizado largamente.
sul do condado inglês de Dorset, d) o Museu da Madeira, construído
considera-se é correto afirmar que: por Tadao Ando, em 1994,
a) há rompimento com as formas na floresta Mi-kata-gun, ao
e materiais tradicionais. noroeste de Osaka, aplicou
b) a proposta de interação novas técnicas de carpintaria.
comunitária não foi contemplada e) apresenta forte influência
na execução do projeto. barroca e neoclassicista.

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100 A arte e a estética na arquitetura

CHING, F. D. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.


CORTOPASSI, L. Claro-escuro. [S.l.]: Tudo sobre Pintura, 2012. Disponível em: <http://
lucianocortopassipordentrodapintura.blogspot.com.br/2012/11/claro-escuro-luciano-
-cortopassi.html>. Acesso em: 11 nov. 2017.

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Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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