Você está na página 1de 3

RESENHA CRÍTICA DOS RELATOS 3, 4, 5 E 6 QUE COMPÕE A COLETÂNEA

“TEORIA E EDUCAÇÃO NO LABIRINTO DO CAPITAL” ORGANIZADO POR


GAUDÊNCIO FRIGOTTO E MARIA CIAVATTA.

Kaique Sampaio Santos


Prof. Dr. Antônio Sousa Alves

No terceiro relato da obra Teoria e Educação no Labirinto do Capital, que tem como
título: Epistemologia pós-moderna: a visão de um historiador, Ciro Flamarion Cardoso nos
remete que até a década de 1960, as teorias acerca das sociedades complexas estavam organizadas
por duas posições polares. Uma, enfatizava a integração social, e a outra, o conflito social. Na
teoria da integração social, a sociedade passa a ser vista como uma soma de indivíduos com
interesses sociais compartilhados, mais do que oposto. Ainda nesta teoria, a exploração social é
um custo normal da estratificação social. Já na teoria do conflito social, vislumbramos uma
perspectiva de que o Estado surgiu em razão do aparecimento de interesses divididos na sociedade
que se tornava complexa, e estaria baseado na dominação, na exploração, na coerção. Nesta
concepção, as classes dominantes exploram e degradam as massas para poderem existir e manter-
se no poder.

Se tratando da epistemologia pós-moderna Cardoso ressalta que os principais temas pós


modernos são cinco: a) crítica da presença ou da apresentação em favor da representação, b)
crítica da origem em favor dos fenômenos, c) crítica da unidade, em favor da pluralidade, d)
crítica da transcendência das normas em favor de sua imanência, e f) único ponto positivo de tipo
metodológico: analise dos fenômenos mediante a alteridade constitutiva.

O primeiro tema, refere-se à qualidade da experiência imediata e aos objetos que por meio
dela se apresentam também imediatamente. Assim, a percepção, a sensação, os dados sensoriais
foram considerados por diversas épocas, condutos de tipo imediato para a realidade, mais
confiáveis do que os conteúdos mentais, representados e alterados pelo pensamento e pela
linguagem. O pós-modernismo questiona e por vezes rejeita tal distinção. O segundo ponto tem a
ver com a contestação do problema da origem. Para as filosofias modernas do eu, a tentativa de
descobrir a origem do eu constituiria o caminho para a autenticidade, o pós-modernismo nega tal
possibilidade. Tal corrente é intencionalmente superficial, por considerar a superfície dos
fenômenos negando a noção de existir uma fonte do objeto que estiver sendo considerado.

Em terceiro lugar, temos a negação da unidade e a afirmação da pluralidade. Os pós-


modernos tentam mostrar que o que os outros viram como uma unidade, é na verdade, plural,
posto que as relações são inevitavelmente plurais, o elemento postulado habitualmente como
individual, é de fato plural. O quarto ponto da epistemologia pós-moderna tem a ver com a
negação da transcendência das normas. Normas como verdade, bondade, beleza, racionalidade
não são mais vistas como sendo independentes dos processos cujo governo ou juízo servem.

Por fim, algo afirmativo, o quinto princípio, trata-se de uma estratégia metodológica
centrada no emprego da noção de “alteridade constitutiva” ao analisar qualquer entidade cultural.
Nesta perspectiva, os grupos privilegiados precisam produzir e manter ativamente sua posição
representando ou figurando a si mesmos, como estando isentos das propriedades atribuídas aos
grupos não-privilegiados, e precisam representar estes últimos como desprovidos de propriedades
dos grupos privilegiados. Não foi por acaso que nas ultimas décadas um modo de pensar apoiado
nessas frágeis premissas foi desenvolvido. Cardoso considera os pós-modernos como os mais
intolerantes diante de um debate intelectual, pois, as novas elites se constituem como base social
fundamental no pós-modernismo.

No quarto relato da obra em comento que tem como título Limites e possibilidades de
Marx e sua dialética para a leitura crítica da história neste início de século, de Leandro Konder,
temos a perspectiva de que o pensamento de Marx atravessa o século XX como uma presença
marcante. Neste relato, o autor discute os pontos problemáticos que estão embutidos nos pontos
fortes, e os pontos fracos que estão embutidos nos pontos tidos como fortes, nas obras de Karl
Marx. Além disso, Konder nos relembra que o marxismo é uma construção feita por pessoas que
vieram depois de Marx, realizando um reajustamento de suas ideias às realidades novas. Partindo
de tais considerações, o autor enfatiza a necessidade de repensar o marxismo de acordo com as
ideias de Karl Marx.

Adiante, Konder discute dez temas relacionados àquilo que precisa ser mudado em relação
ao pensamento de Marx: o legado do iluminismo, a racionalidade da história, o conceito de
ideologia e sua aplicabilidade, as ambiguidades da utopia, a análise de Marx sobre a política, a
capacidade de Karl Marx analisar e enxergar os conflitos que não cede a pressão da ideologia, a
concepção da construção da cidadania, necessidade de revisão da maneira de lidar com o Estado,
a construção cultural como um elemento de intervenção decisiva no processo da história, e por
fim, a própria dialética.

Em seguida, Konder reconhece que em razão das deficiências de informações, imagens


que as mídias veiculam, acabamos sendo induzidos a não reconhecer as manifestações de
vitalidade da perspectiva dialética de Karl Marx.
No quinto relato da obra, Virginia Fontes traz discussões a respeito de História e Verdade,
com apoio em teorias de Karl Marx e Max Weber, dois pensadores com posições radicalmente
diferentes frente à história e verdade. Para Max Weber, há uma diferença irredutível entre as
ciências da natureza e históricas, essa diferença está no fato de que o sujeito e objeto são idênticos
no caso das ciências históricas, sendo ambos dotados de consciência e de historicidade, não é
possível lidar com tais ciências das mesmas forma do que as ciências da natureza.

Já Karl Marx, procura estabelecer um ponto concreto calado na vida material, a partir do
qual se poderia definir o processo histórico, considerando os homens não a partir dos valores aos
quais aderem, mas a partir da forma social de produção e produção na qual se inserem. Há assim
para Marx, um principio de verdade para os fenômenos históricos. Fontes destaca que os
historiadores não podem nunca abrir mão da tensão trazida pela discussão sobre a verdade, não
devemos nos iludir com a tentação do absoluto, mas podemos construir uma verdade em processo.

No sexto relato da obra, Maria Ciavatto traz como título: O conhecimento histórico e o
problema teórico-metodológico das mediações, a escritora ressalta que a aproximação com a
realidade e seu reconhecimento como um saber tem gerado diferentes lógicas de construções do
conhecimento. Em geral, na produção do conhecimento reconhecido como cientifico, aceita-se
que a explicação do método e o rigor na sua aplicação confere ao conhecimento obtido a
qualidade de cientifico e verdadeiro.

Ciavatto ressalta que a metodologia tende a reduzir-se a técnicas de investigação, cada vez
mais os círculos metodológicos tendem a empobrecer-se pelo desconhecimento dos grandes
problemas epistemológicos que foram surgindo ao longo da história. Uma outra dificuldade é a
concepção fragmentada da realidade presente em todas as áreas do conhecimento. A mediação
implica uma perspectiva de analise que começa com a própria definição do objeto, e não constitui,
strictu sensu, solução para uma relação insuficiente de causalidade, empiricamente estabelecida.

REFERÊNCIAS

FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. (orgs.). Teoria e Educação no Labirinto do Capital.


2ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

Você também pode gostar