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República de Moçambique

Ministério do Turismo

Plano Estratégico
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique
(2004-2013)
Aprovado na 15ª Sessão Ordinária do Conselho
de Ministros de 12 de Outubro de 2004
República de Moçambique
Ministério do Turismo

Plano Estratégico
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique
(2004-2013)
Aprovado na 15ª Sessão Ordinária do Conselho
de Ministros de 12 de Outubro de 2004
Prefácio
A indústria turística e de viagens cons-
titui neste período de arranque do sé-
culo 21 o sector líder da economia mundi-
actualmente aproxidamente 32,000 postos
de trabalho.
O turismo de lazer, a procura de ambi-
al, com níveis de crescimento anual bas- entes tropicais, nomeadamente as praias,
tante significativos. Nos países em vias de a fauna representada pelos chamados big
desenvolvimento, o turismo tem dado um five, a cultura e o turismo de negócio são
grande contributo na luta contra a pobreza segmentos que continuam a dominar as
através da valorização dos recursos natu- motivações de viagens para os destinos tu-
rais e do património histórico e cultural que rísticos dos países em vias de desenvolvi-
propicia a promoção de investimentos e do mento, como é o caso de Moçambique. As
emprego assim como a geração de recei- vantagens comparativas consubstanciadas
tas em moeda externa. O seu carácter trans- na sua localização estratégica, na qualida-
versal estimula outros sectores de activi- de dos recursos naturais em virtude da sua
dade, contribuindo desta forma nos esfor- preservação e da singularidade do seu pa-
ços de diversificação da economia. trimónio histórico e cultural, constituem
Contudo, para que esta contribuição tenha oportunidades ímpares a explorar.
os efeitos desajados é necessário uma A Política do Turismo estabelece prin-
abordagem coordenada e integrada entre cípios orientadores sobre o desenvolvi-
os sectores que concorrem neste proces- mento do turismo em Moçambique resul-
so. O Plano Estratégico para o Desenvol- tantes das mudanças operadas no sector
vimento do Turismo 2004-2013 é o e que ditam a necessidade de estabele-
corolário do trabalho empreendido no cer a relação do binómio produto-merca-
sector ao longo dos últimos anos e cons- do; maior valorização das áreas de con-
titui um instrumento orientador com vis- servação como elemento importante do
ta ao desenvolvimento de um destino tu- produto turístico; integração da aborda-
rístico atraente e vibrante na Região. gem do Programa de Alívio e Redução da
O turismo em Moçambique está gradu- Pobreza Absoluta (PARPA) no desenvol-
almente a recuperar o seu lugar na econo- vimento do sector do turismo; e do
mia nacional. O crescimento dos investimen- ordenamento compatível com as
tos ao longo dos últimos anos que resulta- tendencias globais no turismo (eco-turis-
ram na expansão da capacidade de mo, cruzeiros, aventura, desportos
alojamento e dos serviços similares e no me- nauticos); o papel das comunidades lo-
lhoramento da qualidade do produto são cais. As iniciativas de desenvolvimento
factores que testemunham o futuro das áreas de conservação transfronteiriças
encorajador desta indústria no País. O inves- enquadram-se no espírito da Nova Parce-
timento empresarial resultou na expansão da ria de Desenvolvimento de Africa
capacidade hoteleira, durante o presente (NEPAD) e constituem marcos para maior
quinquenio, em mais de 2500 camas com cooperação e integração regional, sendo
destaque para estabelecimentos de luxo (5 também factores de preservação e con-
e 4 estrelas), de primeira (3 estrelas) e eco- solidação da Paz.
nómica. Em termos de emprego, nota-se um
crescimento em cerca de 26,1% comparado O Ministro do Turismo
aos níveis dos princípios de 2000, atingindo Fernando Sumbana Júnior
Índice
1. Introdução ............................................................................................................................................................ 7
2. Contextualização ........................................................................................................................................... 11
2.1. Importância Económica do Turismo ................................................................................................ 12
2.2. Perspectiva Regional e Internacional ............................................................................................... 13
2.3. Perspectiva Nacional ........................................................................................................................... 14
2.4. Quadro Legal e Institucional ............................................................................................................. 16
2.5. Política e Estratégia do Turismo ........................................................................................................ 18
2.6. Produto Turístico de Moçambique ................................................................................................... 19
2.7. Conservação e Turismo ...................................................................................................................... 22

3. Modelo Estratégico Para o Desenvolvimento do Turismo ................................................ 39


3.1. Análise do Potencial do Turismo em Moçambique ....................................................................... 40
3.2. Mercados Estratégicos para Moçambique ...................................................................................... 44

4.Visão do Turismo .......................................................................................................................................... 49


4.1.Visão do Turismo para o Futuro ....................................................................................................... 50
4.2. Força dos Recursos ............................................................................................................................. 50
4.3. Factores-Chave do Sucesso ............................................................................................................... 51
4.4. Mercados Estratégicos para Moçambique ...................................................................................... 53
4.5. Mercados de Nicho Estratégicos para Moçambique ................................................................... 53
4.6. Mercados Emissores Estratégicos para Moçambique .................................................................. 55
4.7. Conjugação de Produtos e Mercados ............................................................................................. 56
4.8. Factores de Base .................................................................................................................................. 57

5. Processos Fundamentais de Implementação .............................................................................. 59


5.1. Enfoque e Quadro Espacial do Turismo ........................................................................................ 60
5.2. As Regiões de Moçambique ............................................................................................................... 61
5.3. Definição de Áreas Prioritárias para Investimento no Turismo ................................................ 62
5.4. A Abordagem Dual para o Desenvolvimento de Destinos Turísticos ...................................... 63
5.5. Desenvolvimento de Rotas e Circuitos Estratégicos do Turismo ............................................ 69

6. Implementação do Plano Estratégico .............................................................................................. 75


6.1. Quadro de implementação ................................................................................................................ 76
6.2. Quadro Institucional para o Desenvolvimento do Turismo em APITs e ACTFs ................... 78
6.3. Planificação do Desenvolvimento Integrado .................................................................................. 78
6.4. Desenvolvimento de Recursos Humanos ...................................................................................... 79
6.5. Marketing ............................................................................................................................................... 81
6.6. Conservação ......................................................................................................................................... 84
6.7. Planos de Acção ................................................................................................................................... 87
Palma

Nangade
Mocímboa
da Praia
Rio Rovuma Mueda
Sanga Mecula Muidumbe
Lago
Niassa Lago
Mavago nda
CABO Macomia
Meluco Quissanga Ibo
ge
Lu
Muembe
Rio DELGADO Pemba
Lichinga Marrupa Montepuez Ancuabe
Mecúfi
Balama Chiúre
Majune NIASSA Namuno
Ngauma Maúa Eráti
Nipepe
Mandimba Metarica Rio Lurio Memba
Cuamba Lalaua Mecuburi Nacaroa
Cid. Nacala
Chifunde
Macanga Angónia
Mecanhelas
Malema NAMPULA
Ribáuè
Muecate Nacala-a-Velha
Monapo Mossuril
Marávia
TETE Lago
Nampula Meconta Ilha de
TsanganoChirua Moçambique
Guruè Alto Murrupula
Zumbo Chiúta Molocúe
Cahora Bassa Mogincual
Rio

Mágoè Namarrói Mogovolas


Ch

Moatize Milange Gilé


Tete Lugela
ire

Angoche

Changara Tambara
Mutarara ZAMBÉZIA Ile
Mocuba Moma
Chemba
Morrumbala Maganja
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Guro Namacurra Pebane


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da Costa
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Nicoadala
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Báruè Macossa
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Mopeia
Caia
MANICA Marínguè Marromeu
Inhassunge
Quelimane
Cheringoma
Gorongasa Chinde
Manica
Muanza
Chimoio SOFALA
Gondola
Nhamatanda
Sussundenga Dondo
Búzi
Beira
Chibabava
Mossurize

Machanga
Machaze
Govuro
Rio Save
Inhassoro
Massangena

Mabote
Vilankulo
Chicualacuala

INHAMBANE
Ri
o

Chigubo
Lim

Funhalouro Massinga
po
po

GAZA Morrumbene
Homoíne Maxixe
Mabalane
Panda
Massingir Inhambane
Inharrime Jangamo
Guijá
Chókwè Chibuto
Mandlacaze Zavala
Magude
Xai-Xai
Moamba Bilene
MAPUTO Manhiça

Matola Marracuene
Namaacha
Boane MAPUTO
Matutuíne
1 Introdução
1. Introdução
O “Plano Estratégico para o Desenvol- oridades específicas, define produtos e
vimento do Turismo em Moçambique” mercados, identifica Áreas Prioritárias para
(PEDTM) é resultado de um esforço que o Investimento em Turismo (APIT) e focali-
vem sendo empreendido no sector com za os recursos necessários.
vista a estabelecerem-se as bases de O PEDTM define as áreas, as linhas e
implementação da Política e Estratégia do as acções estratégicas, e os antecedentes
Turismo. Este processo compreendeu duas que conduziram à formulação das acções
fases, nomeadamente a da revisão e estratégicas resumidas. O PEDTM também
actualização da política e estratégia do tu- faz uma avaliação do potencial de merca-
rismo levado a cabo entre Julho 2002 e Fe- do, da base de recursos do turismo, do pa-
vereiro 2003 e a elaboração do presente pel actual e potencial da conservação para
Plano Estratégico para o Desenvolvimento o turismo e apresenta de forma detalhada
de Turismo em Moçambique. Um aspecto as acções Estratégicas de Desenvolvimen-
de grande realce neste processo é o facto to de Recursos Humanos no Turismo e o
de se ter privilegiado o método Quadro Espacial para o Turismo.
participativo para a concepção destes ins- O presente Plano Estratégico compor-
trumentos, onde dominaram as consultas ta (6) seis Capítulos, o primeiro capítulo
e debates a nível das instituições do Esta- apresenta o contexto em que o Plano Estratégico é
do, com as associações económicas, os estabelecido, incluindo a importância económica do
operadores individualmente e a socieda- turismo e o papel do turismo no alívio à
de civil. pobreza, o quadro legal e institucional do
Neste plano estratégico procurou-se país , o sumário sobre a Política e Estraté-
colocar em evidência o importante papel gia do Turismo, as características correntes
que as áreas de conservação podem de- e históricas do produto turístico
8 sempenhar na promoção e desenvolvimen- moçambicano, o papel da conservação no
to do turismo no país, enaltecendo a ne- turismo.
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento cessidade de se estabelecer uma relação O Segundo capítulo apresenta o Mode-
do Turismo em Moçambique de simbiose entre as duas áreas de modo lo Estratégico para o Desenvolvimento do
(2004 - 2013) Turismo, uma análise das áreas-chave de in-
a complementarem-se de forma sustentá-
vel. fluência, incluindo tendências internacio-
Se a “Política do Turismo e a Estratégia nais e regionais de turismo e os seus im-
da sua Implementação” aprovada em Abril pactos no futuro do turismo em
de 2003 veio substituir a “Política e Estra- Moçambique.
tégia Nacional do Turismo” de 1995, o pre- O Terceiro capítulo é referente a visão
sente PEDTM procura seguir e colocar, num para o desenvolvimento do turismo onde
único documento, as linhas do plano es- a Planificação integrada, o Marketing e De-
tratégico elaborado em 1995 (“Estratégia senvolvimento do Produto e Recursos Hu-
para o Desenvolvimento de Turismo em manos são os processos identificados como
Moçambique: 1995-1999”), do plano de de- a chave para o desenvolvimento.
senvolvimento estratégico para o turismo O Quarto capítulo aborda os processos
nas zonas litorais elaborado em 1997 (“Um consideradas fundamentais de
Quadro de Planificação para o Desenvolvi- implementação do plano, onde é definido
mento de Turismo Regional em o quadro espacial que identifica as Áreas
Moçambique”) e a nova abordagem da Po- Prioritárias para Investimento no Turismo
lítica do Turismo em relação a conjugação (APITs), as Áreas de Conservação, incluin-
do binómio produto-mercado e as áreas do as transfronteiras, os circuitos turísticos
prioritárias para o desenvolvimento do tu- e as Rotas Turísticas.
rismo, com relavancia para integração das No último capítulo são abordadas as li-
áreas de conservação. nhas de implementação do Plano Estraté-
O PEDTM, tem como pilar a “Política do gico, onde se identifica áreas de interven-
Turismo e a Estratégia da sua ção, nomeadamente: quadro institucional,
Implementação” e, serve de base no pro- planificação integrada, desenvolvimento de
cesso de planificação estratégica. Fixa pri- recursos humanos, marketing, áreas de con-
servação e os conteúdos a observar na ela- relativamente modesta e para assegurar
boração dos planos de acção. uma maior eficiência no uso dos poucos
O presente plano tem um horizonte de recursos disponíveis, as acções foram
dez anos, de 2004 até 2013, e sua criteriosamente seleccionadas e ordenadas,
implementação materializa-se através dos tendo em conta as prioridades do governo
planos quinquenais de acção, sendo o pri- de acordo com as linhas gerais definidas no
meiro o de 2004 – 2008. A base de partida PARPA e na Política do Turismo.
do processo de implementação do Plano é

9
2 Contextualização
2. Contextualização
2.1. Importância Económica uma diversidade de sectores económicos,
como transporte, agricultura, alimentação e
do Turismo bebidas, serviços financeiros, construção e
O Turismo é um sector económico em cons- artesanato. Em muitos países da África Aus-
tante crescimento em todo o Mundo. É uma tral, o turismo provou ser um sector econó-
actividade económica internacional que, mico de grande importância e na África sub-
em 2001, contribuiu com 4.2% para o Pro- Sahariana foi responsável por 7.5% do em-
duto Interno Bruto (PIB) da economia glo- prego total em 2001 (WTTC).
bal e empregou 8.2% da população econo- Contudo, reconhece-se que como sec-
micamente activa do mundo. É um negócio tor económico que é, o turismo provoca na
internacional em crescimento e altamente sociedade impactos que podem ser tanto
competitivo. Como sector económico, o tu- positivos como negativos, conforme resu-
rismo é um dos poucos que pode contri- midos no quadro abaixo (quadro 1). Os inú-
buir para o crescimento e oferta de empre- meros impactos positivos que a indústria
go à escala necessária para fazer a diferen- provoca na sociedade podem ser
ça em Moçambique. maximizados e os negativos minimizados
O turismo é um sector de trabalho in- ou mesmo suprimidos se houver uma vi-
tensivo e abrangente em termos de habili- são e uma implementação estratégica a isso
dades e níveis de formação. Está ligado a conducente.

Quadro 1 – Impactos Associados ao Turismo como um sector económico

12 A este sector económico estão associados vários benefícios directos:

Plano Estratégico • Rendimento – O acto de satisfazer um turista implica a compra de uma variedade de serviços e
para o Desenvolvimento de bens que podem ocorrer em diferentes momentos e locais, facto que resulta numa série de
do Turismo em Moçambique rendimentos significativos para a economia.
(2004 - 2013)
• Emprego – O turismo é um sector de trabalho intensivo que integra todos os graus de habilidade,
do mais complexo ao mais simples, envolvendo todas as camadas sociais. Dada a sua característica
transversal, estimula o mercado de emprego nos outros sectores da economia.
• Conservação – Quando gerido de forma adequada, o turismo fortalece a viabilidade económica
das áreas protegidas e reduz a pressão sobre o ambiente.
• Investimento – A intensidade do capital no sector cria várias oportunidades de investimento para
os sectores público e privado.
• Infra-estruturas – O potencial e a dinâmica do crescimento do sector do turismo aliados aos
benefícios económicos associados dita a necessidade de criar e investir em infra-estruturas.
• Prestígio – O prestígio internacional e, finalmente, a conquista de um lugar na “lista” dos destinos
preferidos tem implicações comerciais e económicas positivas.
• Criação de pequenos negócios – O turismo está directa e indirectamente ligado a uma diversi-
dade de sectores da economia e, por isso, cria oportunidades para pequenos negócios.

Contudo, o desenvolvimento do turismo pode também provocar impacto negativo:

• Impactos sociais – Mudanças no estilo de vida resultantes da migração pelo trabalho, de mudan-
ças na cultura, do aumento da taxa de criminalidade e até da prostituição, etc.
• Impactos ambientais – Tanto o desenvolvimento irresponsável de um projecto como uma
avalanche de turistas num ambiente sensível e frágil podem destruir o equilíbrio da natureza.
• Fugas – Ocorrência do fluxo de dinheiro para o exterior resultantes das necessidades de impor-
tação de bens e serviços, promoção internacional e publicidade, comissões de venda às agências
estrangeiras, salários do pessoal estrangeiro e repatriamento de lucros representam perdas nas
contribuições para a economia.
• Dependência excessiva – O turismo é volátil e responde rapidamente a influências negativas
como distúrbios políticos, ataques terroristas, desastres naturais, etc.
2.2. Perspectiva Regional e
Internacional
Os serviços de turismo e de viagens estão 403 milhões de chegadas em 2000 o que
a surgir como os impulsionadores principais equivale a 58% do turismo internacional. No
da economia no século XXI. As chegadas mesmo período, África recebeu 28 milhões
nos diferentes destinos evidenciam um de chegadas, o equivalente a 4% do negó-
crescimento de 25 milhões em 1950 para cio mundial neste domínio. A diferença
682 milhões em 2001. As receitas geradas entre os destinos de eleição constituídos
no turismo atingiram 476 biliões de dóla- pela Europa e pelas Américas em compa-
res americanos em 2000, o que significa um ração com África é enorme. O extremo Ori-
crescimento de 4.5% em comparação com ente/Pacífico, por sua vez, continuou a dar
o ano de 1999. O estudo da Organização sinais de grande crescimento em matéria
Mundial do Turismo (OMT) sobre a Visão de turismo externo e, presentemente, aco-
do Turismo para 2020 prevê que, em 2020, lhe 15% das chegadas internacionais. O con-
as chegadas de turistas aos vários destinos junto constituído por África, Médio Oriente
no mundo alcançarão cerca de 1,6 biliões. e Ásia do sul detém, aproximadamente, 5%
Estes turistas gastarão cerca de 2 triliões de das chegadas internacionais. Uma análise
dólares americanos. das quotas do Mercado em função dos con-
Do ponto de vista histórico, os fluxos tinentes e dos destinos turísticos preferen-
do turismo têm estado polarizados entre e ciais é reflectida nos diagramas que se apre-
no seio da Europa Ocidental e Estados Uni- sentam a seguir.
dos da América. Só a Europa gerou mais de

Figura 1 – Percentagem do Mercado por Continente

Quota mercado por continente (1997-2001) Contextualização 13

Figura 2 - Os Primeiros 15 Destinos

Os primeiros 15 destinos turísticos


A tendência crescente do acesso às vi- tas, cerca de 80% das chegadas na Tanzânia,
agens e as mudanças nas preferências do que é um país com as mesmas característi-
consumidor têm resultado numa mudança cas naturais e linhas de produto, mas sem
nos padrões de viagens, dos fluxos este- a proximidade e rotas directas de acesso
oeste para os de norte-sul. De uma manei- em relação à África do Sul. Este país rece-
ra geral, à medida que se melhora o acesso beu, em 2001, 6 milhões de entradas e, se-
por intermédio dos transportes e gundo a OMT, prevê receber 30 milhões de
tecnologias de informação, se desenvolvem entradas em 2020.
atracções turísticas, facilidades e serviços A contribuição do turismo para o Pro-
e tornam-se conhecidos e desejáveis como duto Interno Bruto (PIB) é também relati-
destinos turísticos, os países em desenvol- vamente baixa. Em 2002, Moçambique
vimento vêem a sua participação na capta- atraiu cerca de 900 mil turistas,
ção de turistas internacionais a crescer. Os maioritariamente dos países vizinhos. O
países do G7 (i.e. Reino Unido, EUA, Ale- turismo contribuiu com 1.2% para o PIB (Mi-
manha, França, Itália, Canadá e Japão) con- nistério do Plano e Finanças) e represen-
tinuarão a ser responsáveis pela oferta da tou 0.9 por cento do total de receitas
maioria dos turistas internacionais no futu- registadas pelas cem maiores empresas em
ro próximo. Ao contribuir com 16% do mer- 2001 (KPMG, As Cem Maiores Empresas de
cado em 2000, o que significou um cresci- Moçambique). Na África do Sul, o sector con-
mento de 1% quando comparado com 1999, tribui com cerca de 8% para a economia, na
a região do extremo Oriente/Pacífico tem África sub-Sahariana com uma média de
sido a que tem estado a crescer de forma 6.9% do PIB e, no Mundo, com uma média
mais rápida, nos últimos anos. Em relação de 10.2% do PIB (WTTC). Mesmo se se to-
à África existem poucas evidências sobre o marem em consideração as diferenças no
crescimento do turismo – a quota do mer- método do cálculo, torna-se claro que exis-
cado pelo continente cresceu em 1% ao lon- te uma oportunidade considerável para
go do período de 15 anos. Moçambique participar no crescimento in-
14 Contudo, existe no continente africano ternacional e regional.
Plano Estratégico
uma extensa gama de produtos de turismo, Como um sector de investimento
para o Desenvolvimento encerrados num caleidoscópio de ambien- prospectivo, o turismo tem estado a regis-
do Turismo em Moçambique tes urbano, costeiro, faunístico e rural. A se- tar avanços significativos, tendo nos últimos
(2004 - 2013)
mente que serve como capital está relacio- anos (período 1998–2002) respondido com
nada com a natureza sobre a qual se pode 16% de aplicações de investimentos totais
construir um vibrante sector económico. De em Moçambique. Com um investimento
acordo com a OMT, as chegadas turísticas total de 1,3 bilhão USD, o turismo passa a
aos países da região da SADC totalizaram ser o terceiro maior sector em investimen-
10.7 milhões em 2001, o que representa to no país, depois da indústria (33%) e ener-
1.6% das chegadas a nível mundial. Calcu- gia e recursos naturais (18%) (Dados forne-
la-se que na próxima década, à medida que cidos pelo CPI).
o impacto do sector se desdobra pela eco- Reconhecendo as oportunidades que o
nomia da região, serão criados 1.6 milhões sector de turismo pode oferecer para o cres-
de novos postos de trabalho. Neste contex- cimento económico e a criação de trabalho,
to, espera-se que o crescimento mais forte o Governo de Moçambique criou em 2000
da indústria ocorra na África Austral, com a o Ministério do Turismo. Em 2001, foi
África do Sul a receber perto de 30.5 mi- transferida a responsabilidade das Áreas de
lhões de chegadas em 2020. Prevê-se que Conservação do Ministério de Agricultura
o crescimento do turismo anual seja de 6.5% para o Ministério do Turismo.
na África e 7.8% na África Austral, isto é, bem O potencial do turismo de Moçambique
acima do crescimento médio do mundo é invejável: 2700 km de litoral tropical,
calculado em 4.1%. biodiversidade de grande valor ecológico,
incluindo espécies endémicas, e um patri-
mónio histórico cultural bastante rico. Con-
tudo, os actuais dados estatísticos ainda
2.3. Perspectiva Nacional não são suficientes para revelar a real con-
Em 2001, entraram no país, através das fron- tribuição económica que o sector do turis-
teiras da zona sul, cerca de 400.000 turis- mo pode trazer para a economia do país.
Moçambique tem uma oportunidade vem um crescimento rápido e equilibrado
aberta para partilhar os benefícios são favoráveis aos pobres por criar progres-
económicos e sociais relacionados com o so acelerado e sustentável na luta contra a
crescimento do turismo na África Austral. O pobreza. O investimento, a produtividade
trabalho conjunto com os parceiros regio- e a criação de postos de trabalho são con-
nais, a criação de ligações espaciais, a ori- siderados factores fundamentais para o
entação das respostas para as exigências do crescimento global e é responsabilidade do
mercado, a promoção de investimentos Governo criar um ambiente favorável, in-
apropriados e dirigidos, a ênfase na con- vestindo no capital humano, no desenvol-
servação, o alinhamento e a coordenação vimento de infra-estruturas, em programas
de políticas, de iniciativas e de recursos são para melhorar a qualidade das instituições
isso essenciais se pretender que o poten- públicas e políticas de administração
cial seja materializado em benefício do macro-económica e financeira. Acções com-
país. plementares que contribuirão para um cli-
ma de investimento melhorado e promo-
verão eficiência em áreas específicas tam-
2.3.1. Plano de Acção do Governo bém devem ser promovidas.
O Turismo é visto como um “sector com-
para a Redução da Pobreza
plementar” por se encontrar intrinsecamen-
Absoluta te ligado a muitas das prioridades primári-
O Plano de Acção do Governo para a Redu- as, o que lhe confere um papel significati-
ção da Pobreza Absoluta (PARPA) serve de vo no desenvolvimento económico do país.
guião para a redução da pobreza através de Referência particular é feita no PARPA ao
processos de desenvolvimento. O objecti- papel do turismo no estímulo da procura
vo central do Governo é a redução signifi- para bens localmente produzidos, contri-
cativa dos níveis de pobreza absoluta em buindo então para a criação de mais opor-
Moçambique através da adopção de medi- tunidades de emprego e para a importân-
das tendentes a melhorar as capacidades cia da criação de uma cultura de “turismo Contextualização 15
e oportunidades disponíveis para todos os doméstico” como estratégia do aumento
moçambicanos, especialmente os pobres. das receitas globais do turismo. Para a pros-
O objectivo específico é reduzir a incidên- secução destes objectivos, o sector estabe-
cia da pobreza absoluta de 70%, em 1997, lece o programa de acção que focaliza: (i) o
para menos que 60% em 2005, e para me- fortalecimento da política, a estratégia e os
nos de 50% no final da década. A estratégia planos de acção do sector, (ii) o estímulo à
de redução da pobreza estabelece seis áre- criação de negócios locais de apoio ao tu-
as prioritárias para a promoção do desen- rismo e o desenvolvimento de ligações en-
volvimento sócio-económico no país. Estas tre si com vista à redução tanto quanto pos-
“áreas fundamentais de acção” são: (i) edu- sível das importações (iii) a promoção de
cação, (ii) saúde, (iii) agricultura e desen- condições tanto para turismo doméstico
volvimento rural, (iv) infra-estruturas bási- como para o internacional, (iv) a facilitação
cas, (v) boa governação, e (vi) administra- do acesso de turistas ao país e (v) a forma-
ção macro-económica e financeira. Como ção profissional.
“actividades complementares” integram:
programas sociais seleccionados; habitação;
políticas sectoriais e programas que contri- 2.3.2 Papel do Sector do Turismo
buem para a geração de receitas e oportu-
no Alívio à Pobreza nos
nidades de emprego (desenvolvimento de
negócios, pesca, recursos minerais e minas, Países em Desenvolvimento
indústria e turismo); programas para redu- Os pontos seguintes mostram o papel que
zir a vulnerabilidade a desastres naturais; o turismo pode ter no processo de desen-
e políticas que apoiam o crescimento sus- volvimento económico de países em de-
tentável (transporte e comunicações, senvolvimento:
tecnologia e gestão ambiental). • O turismo pode dar uma contribuição
O PARPA considera o desenvolvimento significativa às economias de países
humano e o crescimento global como pobres. Constata-se que 80% da popu-
interdependentes. As políticas que promo- lação mundial abaixo da linha da pobre-
za (abaixo de $1 por dia) vivem em 12 hotéis, gerando empregos directo e in-
países. Em 11 destes, o turismo é signi- directo e rendas numa economia. Em
ficativo ou em crescimento. De entre os termos de impacto indirecto, o IFC cal-
cerca de 100 países mais pobres, o tu- cula que os turistas gastam, na econo-
rismo é significativo em quase metade mia local em outros bens e serviços,
dos países de baixa renda, e pratica- entre 50% a 190% do que gastam em
mente significativo em todos os países hotéis e similares. O turismo tem impac-
de média renda (contribuindo com mais to na construção, indústrias agro-pecu-
de 2% do PIB ou 5% das exportações) árias, artesanato e atracções culturais
(DFID, 1999). tradicionais, actividade bancária, pesca,
• De acordo com o Conselho Mundial de fábricas, seguro, telecomunicações, me-
Viagens e Turismo (WTTC), as chegadas dicina, segurança e vendas a retalho.
de turismo para países em desenvolvi- • De acordo com o IFC, o turismo é uma
mento subiram uma média de 9.5% anu- actividade de trabalho intensivo com
almente desde 1990, duas vezes mais cerca de 1.2 a 1.5 empregados directos
rápido que o crescimento do turismo por quarto de hotel em países em de-
mundial no mesmo período. senvolvimento, dependendo do tipo de
• De acordo com a OMT, na última déca- hotel e níveis de habilidade locais. Foi
da, as despesas em turismo cresceram calculado que o benefício de trabalho
cerca de 132.9% nos países em desen- indirecto pode estar entre 3 e 5 empre-
volvimento, e cerca de 154.1% nos paí- gados por quarto de hotel.
ses menos desenvolvidos, uma percen- O turismo é uma aglomeração de sectores
tagem de crescimento muito mais alta e, por isso, cria oportunidades para a ex-
que nos países de OECD (64.3%) e da pansão transversal de pequenas empresas
UE (49.2%). e do mercado informal na economia, onde
• De acordo com a Comissão da ONU para muitos tipos de pequenos negócios podem
16 a Agenda 21 de Desenvolvimento Sus- ser iniciados com capital ainda modesto.

Plano Estratégico
tentável, o turismo é o sector que ab-
para o Desenvolvimento sorve mais mulheres e trabalhadores
do Turismo em Moçambique sem formação profissional, e é econo-
(2004 - 2013)
micamente significativo na maioria de
2.4 Quadro Legal e
países de baixa renda. Tem uma impor- Institucional
tância particularmente acrescida para as
mulheres, uma vez que o emprego no
sector de turismo é mais flexível que nos 2.4.1 Quadro Legal
sectores tradicionais de manufactura ou O turismo é um sector transversal por lidar
agricultura, e existe uma actividade eco- com vários outros sectores e, assim, em
nómica informal que se expande com muitos aspectos tem implicações na apli-
facilidade, permitindo uma crescente cação dos instrumentos legais e leis.
actividade económica consistente com Desde 1994 que o Governo de
a vida familiar. Os postos de emprego Moçambique tem vindo a adoptar e a apro-
no turismo são normalmente mais sau- var várias políticas sectoriais e legislação
dáveis e seguros que o tipo de trabalho para uma gestão melhorada de recursos
noutros sectores, como a indústria naturais, que desempenham um papel im-
açucareira, a mineração, as actividades portante na promoção do turismo. Entre as
madeireiras e a manufactura. Com a ab- que têm relações directas com o sector
sorção de trabalhadores sem formação podem mencionar-se as seguintes:
e sem habilidades, existe uma oportu- • Lei do Turismo (2004)
nidade enorme para o desenvolvimen-
• Política do Turismo e Estratégia da sua
to dos recursos humanos através da for-
Implementação (2003)
mação e aperfeiçoamento de habilida-
des e capacidades. • Política e Estratégia Nacional de Flores-
ta e Fauna Bravia (1995)
• O Turismo é um enorme catalisador eco-
nómico, pois, os visitantes gastam di- • Lei de Floresta e Fauna Bravia (1999)
nheiro directamente em hotéis e fora de
• Lei de Terras (1997) vés do Decreto Presidencial no 1/2000 de
• Programa Nacional de Gestão Ambiental 17 de Janeiro, tendo o Decreto Presidenci-
(1995) al no 9/2000 de 23 de Maio, definido as suas
atribuições e competências como sendo a
• Lei Quadro Ambiental (1997) direcção, planificação e execução das polí-
• Lei das Pescas ticas nos seguintes domínios: actividades
• Lei de Investimento turísticas; indústria hoteleira e similar; e
áreas de conservação para fins do turismo.
Em relação à componente ambiental, Para a realização das suas atribuições e
salienta-se que para assegurar a coordena- competências, o Ministério do Turismo or-
ção efectiva e a integração de políticas ganiza-se de acordo com as seguintes áre-
sectoriais e dos planos relativos a gestão as de actividade:
ambiental ao nível mais alto, o Conselho de
Ministros criou, em 1997, através da Lei do a) Actividades turísticas;
Ambiente, a Comissão Nacional para o De- b) Indústria hoteleira e similar;
senvolvimento Sustentável (CONDES).
Por outro lado, várias acções ligadas a c) Áreas de conservação para fins do tu-
projectos e empreendimentos turísticos rismo;
estão condicionadas pelo Regulamento de d) Inspecção do turismo
Avaliação dos Impactos Ambientais, que O Ministério do Turismo tem como órgãos
especifica que todos os programas e pro- a nível central a Direcção Nacional do Tu-
jectos que possam afectar, directa ou indi- rismo (DINATUR), Direcção Nacional para
rectamente áreas sensíveis, devem ser su- as Áreas de Conservação para fins Turísti-
jeitos a uma Avaliação dos Impactos cos (DNAC), Direcção Nacional de Promo-
Ambientais (AIA), incluindo as áreas de con- ção Turística (DPT), Direcção de Planifica-
servação e zonas de valor arqueológico, his- ção e Cooperação (DPC), Inspecção Geral
tórico e cultural que devem ser preserva- do Turismo (IGT), Departamento de Recur-
das. sos Humanos (DRH), Departamento de Contextualização 17
A actividade do sector privado é consi- Administração e Finanças (DAF), Departa-
derada o motor principal para o crescimen- mento Jurídico (DJ) e Unidade de Coorde-
to económico, e está estreitamente ligada nação das Áreas de Conservação
ao aumento de emprego e alívio à pobreza Transfronteira (ACTF).
em Moçambique. A legislação adequada e A nível local, o Ministério do Turismo é
a sua implementação são factores-chave representado pelas direcções provinciais
para a promoção do investimento na indús- do turismo, prevendo-se a possibilidade de
tria do turismo. A Lei de Investimento e a vir a ter direcções ou serviços distritais. Em
restante legislação que estabelecem os Janeiro de 2004, o Ministério do Turismo
benefícios fiscais, o repatriamento dos lu- estabeleceu Direcções Provinciais de Turis-
cros e o emprego de estrangeiros também mo em todas as províncias do país, com
são consideradas essenciais no contexto do excepção da Província e Cidade de Mapu-
quadro legal para o turismo. to. Em termos de instituições tuteladas pelo
Uma nova lei do turismo a entrar em Ministério do Turismo existem:
vigor no presente ano procura actualizar os
a) o Fundo Nacional do Turismo (FUTUR),
conceitos em vigor na indústria assim como
responsável pela promoção do desen-
estabelecer princípios éticos para um de-
volvimento do turismo através do
senvolvimento são do turismo no país, in-
marketing, assistência técnica e financei-
cluindo a necessidade de se desencorajar
ra aos operadores locais, formação e pro-
qualquer tentativa de prática do turismo
visão de assistência aos empreendimen-
sexual infantil, discriminação social, entre
tos de interesse turístico.
outras.
b) o Hotel Escola Andalucia, vocacionado
para formação do pessoal do ramo ho-
2.4.2 Organização Institucional teleiro de nível básico, nas áreas de re-
cepção, cozinha e pastelaria, bar e an-
Num esforço para a dinamização do proces- dares.
so de desenvolvimento do turismo, foi cri-
ado, em 2000, o Ministério do Turismo, atra-
Actualmente, o MITUR possui um total de directrizes cuja finalidade é de orientar a
cerca de 600 trabalhadores entre pessoal implementação das acções com vista ao al-
do órgão central, pessoal afecto às Direc- cance dos objectivos e princípios estabe-
ções Provinciais e pessoal empregue nos lecidos na Política do Turismo, através de
parques e reservas nacionais (400). medidas estratégicas essenciais.
Um aspecto fundamental da política é
a abordagem orientada para o
2.5. Política e Estratégia do envolvimento das estruturas distritais e das
Turismo comunidades locais. Tal situação tem im-
plicações enormes nos processos de admi-
Através da Resolução nº 14 de 4 de Abril nistração pública e desenvolvimento da
2003 o Governo aprovou a “Política do Tu- capacidade de recursos humanos. Outras
rismo e Estratégia da sua Implementação” novas direcções fundamentais na nova po-
que estabelece a perspectiva orientadora lítica são o reconhecimento do valor real
do crescimento e desenvolvimento do tu- das Áreas de Conservação no desenvolvi-
rismo no futuro. mento do sector, a ênfase colocada no pa-
A Política do Turismo identifica os Prin- pel que o sector do turismo pode ter no
cípios Gerais, os Objectivos do Turismo e alívio à pobreza e o desenvolvimento de
as Áreas Prioritárias de Intervenção e Actu- novas linhas de produto na perspectiva dos
ação. vários segmentos de mercado.
A Política inclui a estratégia para a sua
implementação que consiste numa série de

Quadro 2 - Princípios da Política do Turismo

A política do Turismo preconiza os seguintes princípios:


18
• integração do Turismo na política geral, planificação e estratégia do desenvolvimento do País;
Plano Estratégico • assumpção do Governo aos níveis Nacional, Provincial e Local da responsabilidade pela definição e
para o Desenvolvimento controlo dos padrões de desenvolvimento de qualidade do Turismo;
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013)
• planificação e coordenação do desenvolvimento dos mercados, produtos e infra-estruturas turísticas
no pais;
• estabelecimento de um quadro institucional de mecanismos de planificação e controle de participação
activa no desenvolvimento do Turismo;
• reconhecimento do sector privado como força motriz do desenvolvimento da indústria;
• consciencialização sobre a importância do Turismo e sobre o valor do património natural e cultural;
• formação e profissionalização dos recursos Humanos como forma de aumentar a qualidade do turis-
mo;
• promoção do envolvimento efectivo da comunidade nos programas de desenvolvimento.

Quadro 3 - Objectivos do Turismo

Os objectivos Globais do Turismo assentam em três vertentes: Económica, Social e Ambiental

• desenvolver e posicionar Moçambique como destino turístico de classe mundial;


• contribuir para a criação de emprego, crescimento económico e alívio à pobreza;
• desenvolver um turismo responsável e sustentável;
• participar na conservação e protecção da biodiversidade;
• preservar os valores culturais e orgulho nacional; e
• melhorar a qualidade de vida dos moçambicanos.

Fonte: Política do Turismo e Estratégia da sua Implementação, Abril 2003.


Quadro 4 – Áreas Prioritárias para Intervenção e Actuação

• Planificação integrada • Desenvolvimento de Recursos Humanos e


• Acesso a Terra para o Desenvolvimento do Formação
Turismo • Envolvimento Comunitário
• Infra-estruturas e Serviços Públicos • Desenvolvimento Social
• Turismo Sustentável • Financiamento
• Áreas de Conservação • Áreas Prioritárias para o Investimento do Tu-
• Desenvolvimento do Produto Turístico rismo
• Valorização do Património Cultural. • Regulamentação e Controlo da Qualidade.
• Promoção Turística

Fonte: Política do Turismo e Estratégia da sua Implementação, Abril 2003.

2.6. Produto Turístico de to apreciável e na cidade de Maputo foram


abertos vários hotéis vocacionados para o
Moçambique turismo de negócio e restaurantes. A pro-
cura de lazer com base em praias tem esta-
1.1.1. Perspectiva Histórica do a estimular o desenvolvimento do alo-
jamento nas estâncias turísticas do sul: na
Historicamente, Moçambique era conside- Ponta do Ouro, Inhambane, Bilene etc. Os
rado um dos destinos turísticos de primei- investimentos foram feitos predominante-
ra classe em África e este sector jogava um mente em cabanas de praia, locais de cam-
papel importante na economia do país. Em pismo e acomodação com cozinha própria
1973 Moçambique recebeu cerca de 400.000 destinados ao mercado regional. Têm es-
turistas provenientes principalmente da tado a realizar-se investimentos dirigidos
África do Sul, Zimbabwe e Portugal. O tu- aos mercados mais exigentes nas ilhas do Contextualização 19
rismo desenvolveu-se em torno de três te- Parque Nacional do Bazaruto e na área con-
mas – as praias, a fauna e o ambiente dinâ- tinental de Vilankulos. Nos tempos mais
mico oferecido pelos centros urbanos – e recentes, os investidores começam a mos-
concentrava-se principalmente nas zonas trar interesse pelas regiões situadas a nor-
sul e centro do país. As praias tropicais, as te do país, principalmente em Pemba, no
águas quentes e as oportunidades arquipélago das Quirimbas e na zona de
marcantes de pesca e de andar de barco Nacala.
eram únicos na África Austral. O ambiente Em 2001, Moçambique recebeu através
continental, a cozinha mediterrânea e as das fronteiras do sul cerca de 400.000 turis-
cidades cosmopolitas de Maputo e Beira tas, aproximadamente o equivalente aos
constituíam uma componente importante números recordes registrados no tempo
da experiência turística. O produto colonial. Em termos de capacidade de alo-
faunístico encontrava-se muito desenvolvi- jamento, actualmente, Moçambique ofere-
do e o Parque Nacional da Gorongosa era ce um total de 12.000 camas, das quais cer-
considerado uma das melhores reservas de ca de 5.000 se enquadram nos padrões in-
animais da África Austral e a caça nas ternacionais de luxo ou de primeira classe
coutadas (áreas de caça) na zona centro (3 estrelas para cima), comparado com al-
possuíam padrão internacional. guns destinos da região (a Cidade do Cabo
As mudanças em termos de segurança, possui cerca de 30.000 camas e as Maurícias
verificadas depois de 1973, resultaram num cerca de 19 600 camas).
rápido declínio do desempenho do sector.
As infra-estruturas turísticas degradaram-se
devido à guerra e os recursos faunísticos,
com destaque para os grandes mamíferos,
2.6.2. Perfis Regionais
foram virtualmente dizimados. Moçambique pode ser dividido em três
A assinatura do Acordo de Paz, em 1992, regiões geográficas: o norte, constituído
marcou o início da revitalização do sector pelas províncias de Cabo Delgado,
do turismo. A partir de meados dos anos Nampula e Niassa, o centro, com as provín-
noventa, a economia regista um crescimen- cias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia e o
sul, com Maputo-Cidade, províncias de gião de Vilankulos, a infra-estrutura do tu-
Maputo, Gaza e Inhambane. As característi- rismo compreende principalmente facilida-
cas geofísicas, o desenvolvimento sócio- des de nível médio.
económico e os perfis turísticos diferem O desenvolvimento do Parque
bastante entre as três regiões e as distânci- Transfronteiriço do Grande Limpopo irá pro-
as entre elas são significativas. porcionar à zona sul do país mais um pro-
jecto âncora. O Parque Transfronteiriço in-
clui o Parque Nacional do Kruger na África
Perfil Regional Sul do Sul, Gonarezhou no Zimbabwe e o Par-
que Nacional do Limpopo em Moçambique.
O turismo encontra-se concentrado no sul
Embora seja de esperar que ainda decor-
do país. A cidade de Maputo e as provínci-
rerá algum tempo até que o Parque N.
as de Maputo, Gaza e Inhambane detêm 50
Limpopo esteja operacional para o turismo
% da capacidade total de estabelecimentos
fotográfico, existem já oportunidades para
registados e 65 % do total das camas. Em
a zona de Massingir se ligar imediatamente
2001, 60% das dormidas do país foram ven-
ao Parque de Kruger, tirando proveito da
didas em Maputo-Cidade. Nota-se que esta
popularidade e infra-estrutura deste. Outras
região está a beneficiar de níveis conside-
oportunidades no eco-turismo são ofereci-
ravelmente elevados de desenvolvimento
das pela Reserva Especial de Maputo e pela
e detém a melhor infra-estrutura de todo o
AFTC de Libombos no sul da província de
país. O turismo de negócios encontra-se
Maputo.
concentrado em Maputo-cidade, enquanto
a província de Inhambane alberga o maior
número de facilidades de acomodação para
o lazer, correspondendo, neste momento, Perfil Regional Centro
à zona do país que recebe maior número Historicamente, o centro desempenhou
de turistas ligados ao lazer. Nos anos mais também um papel de relevo no turismo em
20 recentes, o desenvolvimento ao longo da Moçambique. O Parque Nacional da
zona costeira da região sul fugiu ao contro- Gorongosa era uma das reservas de animais
Plano Estratégico lo e os governos provinciais decidiram to- mais famosas da África Austral e a caça nas
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique
mar medidas para reverter a situação, cri- coutadas do centro figurava entre as melho-
(2004 - 2013) ando uma plataforma para o crescimento res do mundo. O conflito armado afectou
sustentável do turismo. todas as áreas de conservação do país, sen-
Maputo é o portal primário para do a zona centro uma das mais afectadas. A
Moçambique relativamente a negócios e Reserva de Búfalos de Marromeu, que ou-
lazer. A oferta de alojamento na capital tem trora era conhecida pela sua população de
estado a crescer a um ritmo relativamente mais de 20.000 búfalos, hoje apenas possui
rápido a partir de meados dos anos noven- algumas centenas. A fauna bravia na
ta. No final de 2002, 10 hotéis ofereciam um Gorongosa foi dizimada. Contudo, existem
total de 1300 quartos, cifra que há cinco anos sinais de recuperação das espécies e os
se situava em 6 hotéis e pouco mais de 750 animais de pequeno porte estão de novo a
camas. ser cada vez mais vistos. O número dos ani-
O turismo de lazer está a desenvolver- mais que compõem os chamados “Big Five”
se em várias partes das províncias de Ma- é baixo nos parques e o turismo fotográfico
puto, Gaza e Inhambane. Os centros de de- provavelmente não acorrerá no futuro mais
senvolvimento incluem a Ponta do Ouro e a próximo. Todavia, com uma boa gestão,
Ponta Malongane para desportos aquáticos, dentro de 15 a 20 anos os parques podem
Macaneta, Bilene e Xai Xai para turismo fa- recompor-se e retomar a sua antiga força.
miliar e a zona costeira de Inhambane com A cidade da Beira é a segunda cidade
uma mistura de todas as características já de Moçambique e um centro económico de
mencionadas. A maior parte dos empreen- importância regional. O seu porto desem-
dimentos tem estado a ocorrer na provín- penha um papel importante na ligação de
cia de Inhambane, com os nódulos do de- Moçambique com o Zimbabwe e outros
senvolvimento a surgirem em Vilankulos/ países vizinhos localizados no centro. Actu-
Bazaruto e na zona costeira próxima da ci- almente, o crescimento do turismo da cida-
dade de Inhambane. Com excepção da re- de da Beira baseia-se no comércio e negó-
cios. A importância comercial da Beira foi Perfil Regional Norte
destacada com o estabelecimento do Cor- O norte do país pode designar-se como
redor de Desenvolvimento da Beira. No sendo a “jóia do turismo” relativamente vir-
período colonial, as praias de Sofala consti- gem de Moçambique. Aqui se encontra a
tuíam uma grande atracção. Elas eram fre- rica história do passado da Ilha de
quentadas sobretudo em combinação com Moçambique e do Ibo, a vida marinha e a
visitas à Gorongosa ou a uma das coutadas. beleza do que é provavelmente um dos
A procura era principalmente proveniente mais lindos arquipélagos no mundo, o ar-
do vizinho Zimbabwe (antiga Rodésia). Nos quipélago das Quirimbas, a selva intacta e
tempos mais recentes, os zimbabweanos extensa da Reserva do Niassa e a
voltaram a frequentar as praias da Beira e biodiversidade única do Lago Niassa. To-
Savane. No entanto, a falta de infra-estrutu- dos estes factores fornecem, quer em ter-
ras tem obrigado a que muitos desçam para mos de qualidade, quer em termos de di-
a costa norte da província de Inhambane. É versidade, uma experiência única de turis-
importante salientar, porém, que nestes dias mo. A proposta de formação de uma ACTF
a situação económica do Zimbabwe tem es- entre a Reserva do Niassa e a do Selous na
tado a reflectir-se num decrescimento do Tanzânia irá resultar numa das maiores e
número de turistas de praia. mais espectaculares experiências de fauna
A região centro contribui com 18% do to- bravia em África. A natureza fornece uma
tal da capacidade de alojamento que existe excelente base para o turismo. Contudo, a
no país. Uma em cada duas ocupações de região enfrenta dificuldades sérias em ter-
quartos que acontecem fora da Cidade de mos de acesso para e entre as diferentes
Maputo tem lugar na região centro. A movi- zonas no norte e, durante estes últimos
mentação está principalmente relacionada anos o turismo ainda não se desenvolveu
com negócios e comércio e concentra-se na de modo significativo.
Beira e nos centros de negócios perto das As províncias de Nampula, Cabo Del-
fronteiras com o Zimbabwe, Zâmbia e Malawi. gado e Niassa repartem entre si menos de
Beira tem dois hotéis de padrão razoável a 25% de todas as unidades registadas de
Contextualização 21
pesar de os níveis de preço/qualidade serem alojamento e menos de 10% do total das
inferiores comparados com os de Maputo. camas ocupadas em 2001. Niassa, a pro-
Manica, de acordo com os padrões internaci- víncia menos desenvolvida de Moçambi-
onais de negocio não possui por enquanto que, tem a capacidade mais baixa com
alojamento adequado. Em Quelimane, o úni- apenas 15 unidades e 280 camas. Nampu-
co hotel de qualidade, no tempo colonial, la, com 40 unidades e mais de 1000 camas
encontra-se sob gestão estatal e oferece ser- registadas encontra-se acima da média
viços razoáveis, mas a preços elevados. Em nacional, enquanto Cabo Delgado possui
Tete, o antigo hotel de “luxo” nos tempos pas- 27 unidades e acima de 800 camas. Contu-
sados está a ser gerido pelo sector privado, do, importa realçar o facto de que esta re-
mas não possui água canalizada, e só algu- gião já ter sido “descoberta” pelos inves-
mas das secções do hotel estão renovadas e tidores. Recentemente foi aberto um ho-
permanecem a um nível muito modesto. Em tel de luxo de cinco estrelas em Pemba e
geral, as opções na zona Centro são escassas uma pequena estância de luxo numa das
e os preços são muito elevados. As alternati- ilhas das Quirimbas. Constata-se haver
vas aos hotéis antigamente geridos pelo Es- interesses significativos por parte dos
tado são muito difícil de encontrar e as op- empreendedores, mas também especu-
ções de alojamento com cozinha própria são ladores em novos projectos de hotéis e
muito reduzidas. Todas as cidades têm algu- de estâncias turísticas, nomeadamente
mas “pensões” a custos razoáveis, mas não nas ilhas das Quirimbas e na zona litoral
possuem padrões de serviços internacional- de Pemba.
mente aceitáveis. Os hotéis em todas as pro- O turismo encontra-se principalmente
víncias da zona centro enfrentam dificulda- concentrado em Nampula, Nacala e Pemba.
des para encontrar pessoal qualificado. O O Corredor de Nacala é um dos
aprovisionamento em bens deconsumo mos- catalisadores importantes do desenvolvi-
tra-se bastante difícil e oneroso, em particu- mento da região: liga Nacala e Nampula ao
lar em Tete e na Zambézia. Lago Niassa e ao Malawi por ar, estrada e
infra-estrutura marítima. A ênfase colocada tre vários países, ( Lebombo, GPT Limpopo,
no desenvolvimento da área já resultou Chimanimani) em que as diversas áreas têm
num aumento da procura de quartos em diferentes formas de conservação, tais
Nampula e Nacala e há um aumento de pos- como reservas de animais privadas, áreas
sibilidades de escolha ao mesmo tempo de gestão comunitária dos recursos natu-
que novos empreendimentos estão a ga- rais e as concessões para a caça e coutadas.
nhar forma. As ACTFs tem um papel importante na ace-
O norte tem permanecido relativamen- leração do desenvolvimento das éreas de
te intocável comparado com o tipo de pro- conservação de Turismo em Moçambique.
jectos que estão a ser desenvolvidos no sul As ACTFs, porém, não são um fim em
do país. A zona tem as melhores condições si mesmo. Daí que maior enfoque deve ser
para ensaiar um processo de planificação dado ao seu papel no quadro turístico, com
integrada e sustentável do turismo dado o ênfase na criação das ligações entre as
isolamento, a qualidade geral do produto ACTFs e a costa (bush-beach linkages) com o
e as necessidades consideráveis de infra- objectivo de criar uma plataforma para a
estruturas. Dada a experiência da zona sul, atracção de investimento e promoção do
afigura-se urgente a tomada de medidas no crescimento.
sentido de se potenciar as oportunidades De importância estratégica serão a ha-
a longo prazo e evitar os impactos bilidade de Moçambique para se unir aos
ambientais e sociais adversos que têm es- mercados de turismo mais desenvolvidos
tado a surgir no sul. dos países vizinhos, de se promover como
um destino adicional para estes países
(principalmente África do Sul, mas também
2.6.3. Integração Regional (África a Suazilândia , o Zimbabwe e os países vi-
Austral) zinhos no norte do país, incluindo a Zâmbia,
A imagem da África Austral como destino Malawi e Tanzânia), e de usar efectivamen-
turístico permanece ainda ligada à selva, te as infra-estruturas existentes nestes pa-
22 íses (principalmente os aeroportos interna-
onde o “Big-Five”, o eco-turismo e outras
Plano Estratégico experiências baseadas na natureza desem- cionais, agências de viagens e operadores
para o Desenvolvimento penham um papel importante. turísticos).
do Turismo em Moçambique
A região da SADC registou um cresci-
(2004 - 2013)
mento relativamente consistente em turis-
mo nos últimos anos. Prevê-se que nos pró-
ximos anos o crescimento do turismo na
2.7. Conservação e Turismo
região da SADC seja significativamente mais Em 1948, foi criada a União Mundial de Con-
elevado do que no resto do mundo. Uma servação da Natureza (UICN) cujos mem-
integração mais forte entre nações da Áfri- bros são governos ou instituições governa-
ca Austral é considerada uma pré-condição mentais e ONGs, universidades e institu-
para fortalecer a posição do continente afri- tos de pesquisas científicas. A UICN facilitou
cano na competição mundial, sempre cres- a formulação de um sistema global de con-
cente. As tendências internacionais para servação centrado na identificação de áre-
viagens múltiplas só ajudam a justificar a as especiais de valor ecológico ou de
necessidade de uma integração regional biodiversidade, e define como “área pro-
mais sólida. tegida” uma porção de terra e/ou mar es-
África Austral testemunhou recente- pecialmente dedicada à protecção de di-
mente a criação de várias iniciativas versidade biológica e de recursos culturais/
transfronteiriças que fortalecem a coopera- naturais e associados, que é administrada
ção regional e fornecem oportunidades ex- através de meios legais ou outros meios
citantes para a conservação e desenvolvi- efectivos (UICN, 1994).
mento do turismo. Os países africanos do sul do Sahara
As Áreas de Conservação Transfronteira têm a vantagem de possuir o nicho do mer-
(ACTFs) desempenham um papel impor- cado de turismo denominado “o turismo de
tante no estabelecimento de uma coope- natureza” suportado pelas áreas de conser-
ração mais sólida. As ACTFs compreendem vação. Os mais beneficiados são os países
regiões que se estendem às fronteiras en- da África Oriental e Austral que dispõem
de grande variedade de fauna bravia. Na
sua rede de áreas de conservação, a atrac- Uma atenção crescente tem sido orien-
ção não se limita apenas à mega fauna, mas tada para o desenvolvimento de sistemas
estende-se a toda vida selvagem que se participativos de gestão de conservação,
encontra no seu estado natural. Assim, os incluindo a criação de áreas protegidas,
turistas são atraídos pelas áreas de conser- durante o último século, como resultado do
vação devido ao seu estado natural, à fauna declínio dos recursos naturais.
selvagem, e às culturas ricas e dotadas de A maioria dos governos no mundo com-
tradições sócio-culturais. A palavra “safari” preendeu que se tornou difícil suportar os
é utilizada para a promoção nos mercados custos de gestão e administração das Áre-
internacionais e internos, significando “o as Protegidas (APs) e busca formas alterna-
turismo de aventura” que tem captado o tivas de gestão para responder aos desafi-
interesse de muitos turistas. os, dada a necessidade de promover a saú-
Além disso, a África é conhecida por de, a educação e o desenvolvimento. A
imagens de vida tropical, praias ricas aceitação do princípio de delegação dos
rodeadas de palmeiras e mar cheio de vida. processos de tomada de decisão às autori-
Todos os que têm esperança de visitar Áfri- dades de gestão das Áreas Protegidas per-
ca pelo prazer e pela aventura ficam forte- mite a realização e utilização de receitas
mente motivados pela vontade de uma ex- provenientes do uso sustentável destas
periência africana no seu estado natural e áreas.
agradável. Portanto, os países africanos, em
geral, e Moçambique em particular, queren-
do competir no mercado internacional do
2.7.1. Administração de Áreas
turismo, terão de salvaguardar e fazer a ges- Protegidas no Contexto
tão dos seus recursos naturais de maneira Global
a criarem produtos turísticos desejáveis.
A União Internacional da Conservação da
Fazendo isto e colocando esses produtos à
Natureza (UICN) estabeleceu critérios para
disposição dos turistas, devem garantir que
a categorização das áreas de conservação Contextualização 23
os mesmos não sofram alterações resultan-
de acordo com o uso e objectivos da ges-
tes da sua utilização por turistas e nem per-
tão. Uma intenção fundamental do estabe-
cam o seu valor. A conservação é o instru-
lecimento destes critérios foi encorajar os
mento de que o governo e a sociedade ci-
governos a desenvolver sistemas de áreas
vil dispõem para proteger os seus recursos
protegidas virados para a gestão a nível lo-
naturais especialmente os ecossistemas, e
cal e nacional. Existem seis categorias que
a sua biodiversidade com vista ao uso sus-
permitem níveis de uso de acordo com o
tentável, sendo o turismo um mecanismo
grau, tipo e intensidade das actividades
preferencial de utilização destes recursos
humanas que podem ter lugar em cada uma
naturais. Assim, sem margem de dúvida não
das categorias.
se pode separar o turismo da conservação.

Tabela 1 – Categorias de Áreas Protegidas de Acordo com os Objectivos de Gestão1

Categoria Propósito de Área Protegida Nomes das APs


Categoria I Administrado principalmente para ciência ou protec- (a) Reserva de Natureza Restrita
ção da selva (b) Área Selvagem
Categoria II Administrado principalmente para protecção de Parque Nacional
ecossistema e recreação
Categoria III Administrado principalmente para conservação de ca- Monumento de Natureza
racterísticas naturais específicas
Categoria IV Administrado principalmente para conservação atra- Reserva Parcial
vés de gestão participativa
Categoria V Administrado principalmente para conservação da pai- Ambiente Terrestre ou Marítimo
sagem terrestre e marítima e recreação Protegido
Categoria VI Administrado principalmente para uso sustentável de Área Protegida para Gestão
ecossistema natural de Recursos

1 Classificação de acordo com UICN


O sistema de categorias de gestão das mos para salvaguardar espécies e a
áreas protegidas baseia-se no objectivo pri- biodiversidade, através de acordos e trata-
mário de gestão de actividades específicas, dos internacionais. Existem os seguintes
tais como pesquisa científica, turismo e re- acordos de conservação: a Convenção so-
creação ou uso sustentável de recursos. bre Diversidade Biológica (CBD); a Conven-
Moçambique é membro da UICN e ção sobre Comércio Internacional de Espé-
assuas áreas de conservação encontram-se cies de Flora e Fauna em Perigo de Extinção
em três Categorias deste organismo: Par- (CITIES); a Convenção sobre Espécies Mi-
ques Nacionais (Categoria II), Reservas Na- gratórias (RAMSAR); a Convenção das Na-
cionais (Categoria IV) e Coutadas (Catego- ções Unidas para o Combate à
ria VI). Desertificação (UNCCD) e o Comité Inter-
nacional de Baleias. Além disso, dois ou-
tros acordos, a Convenção sobre o Patrimó-
2.7.2. Gestão Comunitária de nio Natural e Cultural Mundial em Proprie-
Recursos Naturais (GCRN) dades Naturais e Culturais (WHC) e o
Programa sobre o Homem e Biosfera (MAB)
Os Recursos naturais são geralmente vistos também se aplicam aos processos de con-
como propriedade do Estado na maioria servação.
dos países. Historicamente, as áreas pro- Moçambique é signatário da CBD,
tegidas foram criadas para preservar ele- CITIES, UNCCD e da Convenção de Heran-
mentos fundamentais destes recursos, ça Mundial (WHC) e está em processo a
usando a terra que era formalmente pro- adesão à RAMSAR.
priedade ou ocupada por comunidades lo-
cais. A natureza exclusiva das abordagens
clássicas de gestão de áreas protegidas pra- 2.7.4. Conceitos Globais,
ticada em muitos países colonizados no iní-
cio e meados do século XX, invariavelmen-
Abordagens e Princípios
24 te conduziu a tensão e conflitos entre os Inerentes a Conservação
gestores das áreas protegidas e as comuni- Existem conceitos reconhecidos global-
Plano Estratégico dades circunvizinhas. A exigência de aces-
para o Desenvolvimento
mente que influenciam também a conser-
do Turismo em Moçambique so e direito de uso dos recursos naturais e vação da natureza no mundo. Em primeiro
(2004 - 2013) terra nessas áreas, como também nas ter- lugar, entre outros, estão os conceitos de
ras comunitárias, forçou os gestores de APs “uso sustentável” e “gestão de
a desenvolverem grandes organismos de ecossistemas.
fiscalização a custos elevados de controle O conceito do usos sustentável defini-
do processo o que não podia ser sustenta- do a nível mundial reconhece que o uso
do pelo Estado, delegando assim, os po- consumptivo e não consumptivo da diver-
deres para a comunidade gerir e usar os sidade biológica é fundamental para as eco-
recursos naturais sob certos critérios e con- nomias, culturas e bem estar de todas as
dições. Deste modo, surgiram na Ásia mo- nações e povos, e se esse “uso” for susten-
vimentos sociais sobre florestas que inicia- tável pode servir as necessidades humanas
ram o que é hoje conhecido como CBNRM. numa base contínua contribuindo para a
Esta é uma abordagem global envolvente conservação da diversidade biológica.
para a solução inovadora dos problemas A abordagem do ecossistema e uso sus-
modernos de desenvolvimento e da con- tentável são uma estratégia que comparti-
servação. lham muitos elementos mas diferem prin-
cipalmente nas respectivas metas. O uso
sustentável pode utilmente ser visto den-
2.7.3. Convenções e Tratados tro do quadro da abordagem do
Internacionais ecossistema. A meta do uso sustentável
representa um objectivo intermediário, va-
O comércio excessivo, a super-exploração
lioso por si mesmo, mas que também pode
de espécies e a mudança de habitats natu-
contribuir para a meta mais larga de man-
rais para a agricultura a nível mundial inci-
ter os processos do ecossistema.
tou a necessidade da adopção de mecanis-
2.7.5. Tendências Globais de ecossistemas, como também para a
GCRN. A região também contribuiu global-
Emergentes na Conservação
mente para a evolução técnica da “ciência”
A nível internacional e, em particular den- de Gestão de Áreas Protegidas (PAM –
tro da região Austral de África, há várias ten- Protected Areas Management), através das
dências de práticas de referência que têm suas abordagens inovadoras e visionárias
emergido nas últimas duas décadas, que de administração e governação.
orientam as abordagens modernas da ges- A África do Sul iniciou algumas das pri-
tão de processos de conservação: meiras formas de quadros de gestão (para-
• A conservação tem sido, de forma cres- estatais) nos Parques do Kwa-Zulu Natal e
cente, conceptualizada como um negó- do Norte-Oeste. Tornando-se para-estatais,
cio “baseado em incentivos” que admi- foi possível responder de modo eficaz e
nistra a produção, o fornecimento, o efectivo aos seus clientes e capitalizar ra-
acesso e o uso de bens e serviços que pidamente as oportunidades empresariais,
derivam das áreas de conservação; em resultado de:
• Determinada autonomia financeira e
• Os governos concentram-se cada vez
poder de delegar: permitindo que a or-
mais em políticas e regulamentos em
ganização use e disponha das suas pró-
vez de operações e implementação;
prias receitas para financiar parte de
• O sector privado (inclusive empreendi- seus serviços, reduzindo a sua depen-
mentos das comunidades) tem sido dência do orçamento do Estado;
cada vez mais aceite como
• Flexibilidade da tomada de decisão:
“implementador” de processos de con-
onde o poder de tomada de decisão é
servação – normalmente em parceria
delegado a uma organização, a adminis-
com as comunidades;
tração pode responder mais rápida, efi-
• Globalmente, os governos estão a des- caz e efectivamente à demanda
centralizar, levando a tomada de deci- ambiental e oportunidades de merca- Contextualização 25
sões aos cidadãos e outros do, permitindo, assim, que os funcioná-
intervenientes; rios de conservação sejam vistos como
mais atenciosos e responsáveis pelas
• De uma forma ou de outra, os governos necessidades das comunidades;
estão cada vez mais à procura de ges-
tão colaborativa; • Elevação das capacidades do pessoal:
uma organização que é independente
• Particularmente em países em desen- dos processos de comissão de serviço
volvimento, a necessidade de normali- público, obtem pessoal altamente qua-
zação da vida das populações tende a lificado através de processos de merca-
afastar dos orçamentos o financiamento do-livre e competitivos e, através dis-
para a conservação. Isto exige que os so, promover outros trabalhadores a ní-
processos e áreas de conservação se veis mais altos de competência. A
tornem auto-sustentáveis; e remuneração competitiva e os benefíci-
os oferecidos permitem a manutenção
• Os processos de conservação requerem
do pessoal motivado, produtivo e efici-
políticas e regulamentos fortes, visioná-
ente.
rios e efectivos do governo, que asse-
gurem que as gerações presente e futu- • Exigência de responsabilidade pública:
ras possam beneficiar dos resultados a organização está sujeita, através da
desses processos. legislação, à responsabilidade pública
e auditoria para assegurar o controlo
2.7.6. Perspectiva Regional apropriado de fundos públicos, com
penalização por falta de desempenho.
A África Austral é reconhecida globalmente
pela sua abordagem pragmática e visioná- Os processos de conservação no Zimbabwe,
ria da conservação. A região contribuiu sig- Namíbia, Botswana, África do Sul e Tanzânia
nificativamente para o desenvolvimento têm levado à delegação de poderes e di-
dos conceitos de uso sustentável e gestão reitos sobre os recursos naturais a níveis
mais baixos de governação e, em alguns 2.7.7. Novo Paradigma para as
casos, para as próprias comunidades atra-
Áreas de Conservação
vés de processos como CAMPFIRE, LIFE e
o CBNRMP. A delegação de direitos de pro- “Novas soluções para problemas modernos.”
priedade da vida selvagem para proprietá-
rios de terra na África do Sul durante os anos O novo paradigma para as áreas protegidas
80 do século XX precipitou a conversão, reconhece que tais áreas destinadas à con-
quase por completo, das fazendas de gado servação têm um duplo propósito: ser ad-
na Província de Limpopo em fazendas de ministradas para conservação, bem como
gado bravio, criando uma nova indústria de para objectivos sócio-económicos. Anteri-
caça e turismo baseada na natureza, que ormente, as áreas de conservação eram
rende anualmente, mais de 10 milhões de estabelecidas principalmente para a pre-
rands apenas naquela província. Programas servação de populações de animais selva-
de CBNRM no Zimbabwe, Namíbia e gens ou certas espécies e, em alguns ca-
Botswana permitiram a muitas comunidades sos, para paisagens espectaculares. Contu-
reconquistar os direitos para administrar e do, as referidas áreas estão actualmente a
controlar o uso e o acesso aos recursos na- ser criadas e desenvolvidas para fortalecer
turais na sua terra, providenciando fluxos de os objectivos de desenvolvimento e criar
benefícios que aumentaram imensamente emprego e oportunidades empresariais
as suas rendas anuais per capita durante a para as populações circunvizinhas. De sali-
última década. As concessões de caça pro- entar que actualmente a administração não
tegidas em terras comunitárias no Zimbabwe só se preocupa com os visitantes e turistas,
proporcionaram às comunidades centenas mas sobretudo com o bem estar das popu-
de milhares de dólares durante a última dé- lações.
cada.

26
Figura 3 - Tendência do Crescimento das Áreas de Conservação Privadas e Comunitárias
Plano Estratégico durante a Última Década
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013)

O novo paradigma para as áreas de conser- turais e de áreas protegidas, como se pode
vação tem desenvolvido abordagens mais ver na Tabela 2.
inclusivas à administração de recursos na-
Tabela 2 –Tendências de Administração das Áreas de Conservação

Passado - Áreas de Conservação Futuro - Áreas de Conservação


TÓPICO eram: serão:
• Exclusivas e reservadas para a • Criadas e administradas com objectivos
Objectivos
preservação de populações animais, ecológicos, sociais e económicos em
espécies e paisagens /cenários espec mente
taculares • Administradas tendo em mente as
• Administradas principalmente para populações locais
visitantes e turistas • Valorizadas pela sua importância cultural
• Valorizadas como selva • Auto regulação com consultas entre os
• Focalizadas em protecção e fiscalização parceiros

Autoridade • Geridas pelo Governo Central • Geridas por vários parceiros principal-
mente o sector privado e comunidades

Comunidades • Planeadas e geridas contra as comuni • Geridas com, para e, em alguns casos, por
locais dades locais comunidades locais
• Administradas sem ter em conta as • Geridas para a satisfação das necessidades
opiniões dos locais das comunidades locais

Planificação • Planificadas e desenvolvidas e adminis • Planificadas como parte de um sistema


tradas como unidades separadas local, nacional e internacional
• Desenvolvidas como redes ligando áreas
protegidas e zonas-tampão através de cor-
redores verdes
• Terra e recursos vistos principalmente • Vistas também como um recurso de
Percepções
como propriedades do Estado–acesso comunidade–devolução do acesso e
e direitos de uso restritos direitos de uso
• Vistas como uma preocupação nacional • Vistas também como preocupação local
e internacional (continuidade perfeita de
direitos e obrigações) Contextualização 27
• Geridas reactivamente num curto • Geridas de forma ajustada numa perspec
Técnicas de
período de tempo tiva de longo termo
administração
• Geridas de uma forma tecnocrática • Geridas numa perspectiva de negócio/
comercial com considerações políticas

Finanças • Pagas por contribuintes • Pagas por benefícios provenientes de re


cursos que são geridos e protegidos
• Administradas por cientistas e peritos • Administradas por pessoal comercialmen
Formas de
de recursos naturais te orientado, guiado por cientistas e pe-
administração
ritos
• Valorizando indivíduos com orientação
técnica múltipla e utilizando conhecimen
to local

2.7.8. Abordagens de Governação tipos de abordagens de gestão de recur-


Emergentes para os sos naturais e áreas de conservação duran-
te as últimas duas décadas, representan-
Sistemas de Conservação do uma contínua delegação de poderes,
Os governos da África Austral usaram seis como se mostra na Figura 4.

Figura 4 – Abordagens de Governação para Áreas de Conservação (De Graham et al 2003)


As características de cada uma destas for- cada uma destas formas de abordagens de
mas de abordagens de governação ou ges- governação ou gestão são indicadas na Ta-
tão são indicadas na As características de bela 3.

Tabela 3 - Descrição das Abordagens num Quadro Contínuo da Gestão da Conservação

Nr. Abordagem Critérios

I Administração A Responsabilidade pela gestão da área de conservação assen-


Exclusiva do Governo ta somente numa agência de governo que não tem nenhuma
obrigação de envolver outros intervenientes antes da tomada
de decisões.
Ii Administração Consul- A Responsabilidade pela gestão assenta numa agência do go-
tiva do Governo verno que normalmente consulta e pode ter a obrigação de
consultar outros intervenientes antes da tomada de decisões.
A Responsabilidade pela gestão da área de conservação assenta
iii Administração Coopera- numa agência do governo que tem, como exigência, cooperar
tiva do Governo com outros intervenientes identificados na tomada de decisões.
A Responsabilidade pela gestão da área de conservação assen-
ta numa agência do governo (ou agências) e representantes de
iv Administração Con- outros intervenientes não governamentais que junto colabo-
junta ram na tomada de decisões.
A Responsabilidade pela gestão da área de conservada é dele-
v Delegação da Administra- gada a uma ou mais organizações claramente designadas (estas
ção poderiam incluir corpos do governo locais, organizações de
comunidade, corporações privadas, ONGs ambientais ou multi-
sectoriais) que administrem a área e tomem decisões dentro
de princípios definidos.
A Responsabilidade pela gestão da área de conservação é de
28 indivíduos não pertencentes ao governo, corporações ou re-
vi. Administração pela Co-
Plano Estratégico munidade ou por Privados presentantes de comunidades locais que são donos da terra
que foi usada para a conservação, que administram a área e
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique
tomam decisões.
(2004 - 2013)

Qualquer que seja a abordagem adoptada, sultado lógico deste fenómeno foi a dele-
o sucesso depende de uma boa gação, a vários níveis, da posse de recur-
governação, cometimento e responsabili- sos às comunidades, como uma forma de
dade. Com boa governação, assuntos como encoraja-las a atribuirem um valor econó-
relação, níveis de poder e autoridade, res- mico à vida selvagem e assumirem a guar-
ponsabilidade, confiança e justiça devem da conjunta desses recursos.
ser aplicados de forma equitativa e clara. Em muitas áreas, esta abordagem tem
dado frutos, e as comunidades participan-
tes têm recebido níveis significativos de
2.7.9. Gestão Comunitária dos benefícios a partir de actividades de caça
Recursos Naturais de quotas específicas de animais selvagens,
Em muitos países da África Austral grandes do desenvolvimento de facilidades turísti-
populações de animais selvagens encon- cas como locais de acampamento, ou da
tram-se em terras comunitárias. Em alguns participação em empreendimentos conjun-
países, a extensão de tais populações ex- tos com o sector privado no desenvolvi-
cede a população de animais em áreas for- mento de estâncias turísticas.
malmente protegidas sendo, portanto, va- Moçambique também iniciou recente-
liosos recursos naturais. A gestão de recur- mente programas comunitários de conser-
sos naturais pela comunidade na região vação e eco-turismo, estando em
partiu da constatação de que os sistemas implementação os programas Tchuma
governamentais não poderiam administrar Tchato (Tete), Xipange Tcheto (Niassa) e
ou controlar adequadamente as popula- Chimanimani (Manica).
ções fora das áreas de protecção. Um re-
2.7.10. Aparecimento de Áreas de nas áreas formais de conservação, mas tam-
bém em áreas comunitárias – proporcionan-
Conservação Transfronteira do-lhes efectivamente novos modos de
vida e outras opções económicas além da
Uma tendência emergente na conservação agricultura. As ACTFs tornam-se, assim, uma
a nível global é o encorajamento da exten- ferramenta para facilitar o desenvolvimen-
são de áreas de conservação para abarcar to das comunidades marginalizadas.
ecossistemas críticos ou permitir que ani- Os governos da África Austral estão a
mais selvagens tenham maiores áreas para negociar planos para criar uma vasta rede
levar a cabo os seus ciclos de vida naturais. de ACTFs numa proporção significativa das
Como resposta a esta tendência, e como fronteiras de todos os países. 1.5
meio de dar maior visibilidade à conserva-
ção, o desenvolvimento de Áreas de Con-
servação Transfronteira tornou-se uma for- 2.7.11. Relação entre
ma globalmente aceite de administração de
áreas protegidas. Moçambique tem sido lí-
Conservação e Turismo
der na África Austral nesta abordagem, cri- Sendo a conservação o mecanismo que o
ando caminho para várias novas iniciativas governo e a sociedade civil usam para pro-
de ACTF no sub-continente. teger os recursos naturais, e o turismo um
A ACTF do Grande Limpopo proporci- dos que mais uso faz desses recursos, tor-
ona um modelo no qual as áreas de conser- na-se evidente que o turismo e a conserva-
vação formais podem ser combinadas com ção não podem ser separados. Assim, é
a CBNRM num conceito único de gestão in- necessário compreender como é que a con-
tegrada da conservação. Por envolver efec- servação apoia o turismo a alcançar os seus
tivamente as comunidades no conceito glo- objectivos nacionais, e como é que o turis-
bal, o caminho está preparado para facili- mo também ajuda a conservação na conse-
tar a reabilitação da vida selvagem, não só cução dos seus objectivos (Fig. 5).
Contextualização 29

Figura 5 - A Relação Simbiótica entre Conservação e Turismo


2.7.12. O papel da Conservação 2.7.13. O Papel do Turismo na
no Turismo Conservação
O turismo não pode acontecer sem trazer Há uma tendência global de redução do fi-
alterações ao ambiente natural. Nesse sen- nanciamento do governo central para a con-
tido, o turismo coloca uma ameaça à inte- servação, sendo as áreas de conservação
gridade das áreas naturais. Mas também cada vez mais consideradas capazes de
pode apoiar a conservação, encorajando in- gerar receitas suficientes para serem auto-
vestimentos e o desenvolvimento de infra- sustentáveis. Contudo nem todas as áreas
estruturas que permitam aos turistas ace- de conservação podem se tornar auto-sufi-
der às áreas de conservação. Tal situação cientes.
cria oportunidades de emprego e produz O turismo doméstico, internacional (re-
receitas, algumas das quais podem ser di- gional e intercontinental) é visto como sen-
rectamente canalizadas para a gestão dos do o mecanismo através do qual as áreas
impactos do turismo e para a promoção de de conservação gerarão receitas. Em alguns
uma conservação sã. países, as áreas de conservação foram bem
Os benefícios internos provenientes da geridas por muitos anos e são ícones na in-
conservação relacionada com o turismo são dústria turística. A sustentabilidade finan-
variados e estão em todos os sectores da ceira dessas áreas de conservação é mais
economia. Ao nível externo, o sucesso dos fácil do que nos casos em que estas têm de
destinos turísticos de conservação cria pres- ser reabilitadas e para as quais o mercado
tígio para o país e encoraja o apoio e inves- precisa de ser desenvolvido como é o caso
timentos para o seu desenvolvimento e de Moçambique que para reconquistar a
esforços de conservação. Os turistas que sua posição no mercado do turismo e gerar
visitam as áreas de conservação consomem receitas para o seu maneio sustentável, a
um grande leque de produtos e serviços curto e médio prazo, deverá efectuar uma
internos, muitos dos quais não estão direc- apreciação do potencial das áreas de con-
30 servação a fim de contribuir para um turis-
tamente relacionados com áreas de conser-
vação, tais como a actividade bancária, co- mo que motive a alocação de recursos para
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento municações, transporte e serviços de saú- a conservação. A promoção nacional do tu-
do Turismo em Moçambique de. Porque as áreas de conservação estão rismo, baseada na forte convicção do im-
(2004 - 2013) portante papel futuro das áreas de conser-
geralmente em zonas rurais pobres, elas
podem contribuir para o bem estar social e vação no turismo, pode apoiar a reabilita-
económico em situações onde existem mui- ção e, assim, ajudar a conservação a atingir
to poucas opções. Em Moçambique, as áre- os seus objectivos nacionais.
as de conservação estão situadas em todas A conservação esteve sempre ligada ao
as províncias. Deste modo, os turistas que turismo, mas mais como um serviço social
frequentam as áreas de conservação trazem do que como negócio. O turismo está
os benefícios das suas visitas à economia estruturado segundo princípios comerci-
contribuindo assim para a consecução dos ais, e como tal orienta as práticas de con-
objectivos nacionais do Turismo. servação para a adopção de modelos de
Os turistas anseiam, de forma crescen- negócios.
te, por experiências pessoais nos destinos No contexto de um país em desenvolvi-
por si escolhidos. Tal tendência encoraja o mento que não pode elevar a conservação a
desenvolvimento de mercados de nicho um nível de santuário, baseado em exigên-
tais como mergulho, pesca de alto mar, caça, cias puramente ecológicas, biológicas ou ci-
observação de aves, eco-turismo e aventu- entíficas, o anterior modelo promove a adop-
ras de eco-turismo. Todas estas áreas de- ção de uma abordagem mais flexível à ges-
pendem fortemente da presença de um tão de recursos naturais e áreas de
processo efectivo de conservação com vis- conservação. No entanto, isso não exclui a
ta a garantir uma boa qualidade da experi- necessidade de adoptar uma perspectiva
ência. Deste modo, considerar o alto po- racional na gestão e uso de tais recursos e
tencial dos mercados de nicho associados áreas, com base na necessidade de servir o
às áreas de conservação contribuirá signifi- bem comum da nação e, em casos específi-
cativamente para que o turismo atinja os cos, o bem comum onde espécies em peri-
seus objectivos nacionais. go de extinção devem ser protegidas.
Geralmente os visitantes tendem a tro das áreas de conservação designadas
sentir- se atraídos de uma forma distinta como totalmente protegidas (Parques Na-
por diferentes categorias de áreas prote- cionais e Reservas Nacionais), a realidade
gidas. Neste contexto e sem perder a ên- é que há um número significativo de comu-
fase em condições ecológicas e outras, um nidades que vivem dentro destas áreas pro-
país pode ter categorias diferentes de áre- tegidas. Isto constitui um desafio conside-
as protegidas para aumentar a sua vanta- rável à gestão destas áreas, dando origem
gem competitiva na atracão de turistas. A a geração de conflitos (homem-animal) e
indústria do turismo mundial responde a degradação de recursos (destruição de
demanda específicas, desenvolvendo vá- habitats e abate indiscriminado de ani-
rios tipos de mercados de nicho. O turis- mais).
mo baseado na natureza ou eco-turismo é Moçambique tem uma boa rede ou sis-
globalmente um dos mercados de nicho tema de áreas protegidas ou de conserva-
com crescimento mais rápido. Este tipo de ção cuja cobertura estende-se em todas as
turismo pode ser classificado em duas ca- eco-regiões e biomas que asseguram a sua
tegorias, eco-turismo forte e eco-turismo integridade como uma porção representa-
ligeiro, sendo este aquele cujas activida- tiva da herança natural do país (Ver tabela
des têm uma abordagem mais casual, me- abaixo). A rede principal das áreas protegi-
nos dedicada para a actividade ou atrac- das, i.e., os Parques e Reservas Nacionais,
ção natural, e com um desejo de viver a cobre cerca de 12.6% da superfície total do
experiência com um determinado confor- país, mas essa cobertura aumenta para,
to. O eco-turismo forte (incluindo activida- aproximadamente, 15% quando se incluem
des de aventura) envolve interesse de es- as coutadas.
pecialistas ou uma abordagem mais Porém, a maioria das áreas de conser-
dedicada, com uma predisposição para vação em Moçambique apresenta núme-
enfrentar ambientes ao ar livre ou a selva, ros de populações de animais reduzidos
com pouco ou mesmo nenhum conforto. devido a conflitos armados internos pro-
Contudo, importa salientar que as di- longados antes e depois da independên- Contextualização 31
rectrizes da Comissão da UICN sobre Par- cia e a caça descontrolada. Como
ques e Áreas Protegidas (CNPPA) atribuem consequência, áreas que eram ricas em
grande importância à determinação do espécies diversificadas de fauna bravia,
modelo de abordagem de gestão e usos como os parques nacionais de Gorongoza,
permitidos em cada área. Zinave, Banhine e Limpopo e as Reservas
Nacionais de Marromeu e Gilé, agora pos-
suem apenas populações ou fragmenta-
2.7.14. Conservação e Áreas de dos de animais raras ou em perigo de
Conservação em extinção. Além disso, a instabilidade civil,
não só dizimou a fauna bravia como tam-
Moçambique bém teve um impacto profundo na infra-
Os propósitos do sistema de áreas de con- estrutura das áreas de conservação para
servação em Moçambique são: conservar os além de ter movimentado populações para
ecossistemas, habitat, diversidade biológi- dentro dos parques, reservas nacionais e
ca e recursos naturais para o benefício das coutadas oficiais.
gerações presentes e futuras e, em segun- A ausência de gestão durante o perío-
do plano, contribuir para o desenvolvimen- do da guerra levou à deterioração de todas
to sócio- económico e para o bem-estar dos as infra-estruturas de apoio existentes aos
cidadãos através do turismo doméstico e Parques e Reservas Nacionais. Os postos
internacional, disponibilizando produtos administrativos foram abandonados, o que
de vida selvagem e outros recursos natu- conduziu à falta de manutenção de estra-
rais para o consumo local. das, fontes de abastecimento de água, de
No caso de Moçambique, apesar de a energia tendo-se degradado as habitações
legislação actual (Lei de Terra de 1997 e a devido a actos de vandalismo e falta de
Lei de Florestas e Fauna Bravia de 1999) manutenção.
não permitir assentamentos humanos den-
Tabela 4 (a) - Parques Nacionais

Parques Nacionais
Província Designação Ano de Criação Área (km2)
CABO DELGADO Parque Nacional das Quirimbas 2002 7,500
SOFALA Parque Nacional da Gorongoza 1960 3770 (Área central )
1600 (Área tampão)
INHAMBANE Parque Nacional de Zinave 1973 6,000
Parque N. do Arquipélago de Bazaruto 1971 1,600
GAZA Parque Nacional do Limpopo 2001 10,000
Parque Nacional de Banhine 1973 7,000
Área total 37,470

Tabela 4 (b) - Reservas Nacionais

Reservas Nacionais
Província Designação Ano de Criação Área (km2)
NIASSA Reserva Nacional do Niassa 1964 Área central = 15,000
zona tampão = 17,000
ZAMBEZIA Reserva Nacional do Gilé 1960 2,100
SOFALA Reserva Especial do Marromeu 1960 1,500
MANICA Reserva Nacional de Chimanimani 2000 7,500
INHAMBANE Reserva Nacional do Pomene 1964 200
MAPUTO Reserva Especial do Maputo 1960 700

32 O estabelecimento das áreas de conserva- crescimento dos parques (a criação dos res-
ção no país é um fenómeno recente. A dé- tantes 33,3%) e das reservas (os 17%).
Plano Estratégico cada de 60 e o princípio da década de 70 A criação das áreas de conservação de
para o Desenvolvimento foram o período em que as áreas de con- exploração orientada, como são as de caça
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013)
servação da categoria de protecção total (coutadas oficiais), deu-se praticamente na
foram criadas. Os princípios da década de década de 60, com especial destaque para
60 foram marcados pela criação das reser- o último ano em que foram criadas cerca
vas nacionais (83,3% das reservas nacionais de 67% das actuais 12. Por seu turno, as 7
e 17% dos parques nacionais). Já no início fazendas de caça existentes no país foram
da década de 70 foi marcado pela criação introduzidas a partir do princípio da pre-
dos parques, (cerca de 50% dos existentes sente década.
no país). A década de 2000 iniciou com o

Tabela 5 (a)

COUTADAS
Província Designação Ano de Criação Área (km2)
MANICA N.º 4 1969 4 300
N.º 9 1969 4 333
N.º 7 1969 5 408
Nº13 1960 5 683
SOFALA N.º 5 1972 6 868
N.º 6 1960 4 563
N.º 8 1969 310
N.º 10 1961 2 008
N.º 11 1969 1 928
N.º 12 1969 2 963
N.º 14 1969 1 353
N.º 15 1969 2 300
Área Total 42 017
Reflectindo o período em que estas texto, a revisão dos limites, assim como do
coutadas foram criadas (baixa densidade plano de uso dos espaços das áreas das
populacional, entre outras) nota-se, porém, coutadas, tendo em conta os vários interes-
que os limites de muitas coutadas apresen- se, é crucial e urgente. Este processo de-
tam-se desajustadas à realidade actual, verá incluir a revisão da abordagem do re-
havendo casos de conflitos latentes de in- lacionamento entre as actividades econó-
teresse entre as populações que cresceram micas de safaris e as comunidades locais
(seja por factores naturais ou por movimen- de forma a criar condições de canalização,
tações voluntárias ou involuntárias impos- aos locais, dos benefícios resultantes das
tas pelo conflito armado que terminou em actividades de safaris.
1992) e os operadores de safaris. Neste con-

Tabela 5 (b)
FAZENDAS DE BRAVIO
Província Designação Ano de Criação Área (ha)
CABO DELGADO Negomano Safaris Lda. 2000 10 000
Messalo Safaris 2000 10 000
Cabo Delgado Biodiversity
& Tourism - 5 342
SOFALA Sabie Safaris Tours Lda. 2000 10 000
ZAMBÉZIA Game Farm Naora Gile 2000 10 000
GAZA Paul & Ubisse 2000 30 000
MAPUTO Sabie Game Park 2001 40 000
SAPAP (Sociedade de Abastecimento 2000 10 000
e Produção Agro-Pecuária)
Contextualização 33
Área Total 125 342

Tabela 6
ACTFs
Localização Designação Áreas de Conservação nas ACTFs
Moçambique, África do ACTF dos Lubombo Reserva Especial do Maputo
Sul e Suazilândia
Moçambique, África do Sul ACTF do Grande Limpopo PN Limpopo, PN Banhine PN Zinave
e Zimbabwe
Moçambique e Zimbabwe ACTF dos Chimanimani Reserva Nacional de Chimanimani
Figura 6 – Áreas de conservação em Moçambique

34
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013)

2.7.15. Áreas de Conservação natureza, tanto na costa como no interior,


Transfronteira e GCRN em que poderá tornar o país um destino de
turismo privilegiado no leste e sul de Áfri-
Moçambique ca até ao ano 2020.
Moçambique reconhece que a conservação Algumas das áreas costeiras existentes
é uma forma valiosa e compatível de uso já se tornaram destinos turísticos de alta
da terra e que, quando correctamente ad- procura e desenvolveram infra-estruturas e
ministrada, providencia bens e serviços instalações consideráveis para responder a
sócio-económicos sustentáveis para o bem- essa procura. Porém, as áreas interiores têm
estar das comunidades, contribuindo para poucas infra-estruturas e poucos produtos
o alívio da pobreza. O país é dotado de uma desenvolvidos para oferecer, dado que a
variedade de sistemas ecológicos que são fauna bravia foi dizimada durante os anos
ricos em espécies endémicas, incluindo lar- de conflito.
gas áreas marinhas e sistemas de água doce Reconhecendo isto, o país tem sido pi-
que transcendem os limites nacionais. oneiro no desenvolvimento de novas áre-
Moçambique tem potencial para desenvol- as de conservação através do projecto de
ver uma indústria de turismo baseada na Áreas de Conservação Transfronteira. Esta
iniciativa pretende criar esquemas de co- senvolvimento de um sector forte e robus-
laboração com os países vizinhos em que to, que apoiarão o turismo a longo prazo.
as áreas contíguas possam ser geridas em Essas propostas incluem:
conjunto, aumentando efectivamente as • fixar e definir claramente os objectivos
áreas de conservação. As ACTFs são parte para o uso das várias categorias de áre-
de uma estratégia que fornece um quadro as de conservação;
para que o sector privado invista no desen- • integrar a planificação da conservação e
volvimento de novas instalações e serviços o desenvolvimento geral;
de turismo nestas áreas, à medida que es-
tas são formadas ou reabilitadas. A rede • instituir a boa governação para
MAB (AfriMAB) pretende promover a coo- incrementar esquemas de parcerias,
peração regional nos campos de conserva- colaboração e redes de informação;
ção da biodiversidade e desenvolvimento • desenvolver mecanismos de prestação
sustentável através de projectos de serviços que sejam atractivos para o
transfronteiriços que são primariamente ba- sector empresarial;
seados em reservas de biosfera, embora • reconhecer e levar em consideração, nos
Moçambique não seja um parceiro activo planos de gestão das áreas de conser-
deste programa. Reservas de biosfera são vação, a conservação da biodiversidade
áreas de ecossistema terrestres e costeiros e outras funções não turísticas das áre-
que promovem soluções para reconciliar a as de conservação;
conservação de biodiversidade com o seu
uso sustentável. (Ver Anexo I). • adoptar os novos e emergentes
Moçambique já tem acordos com Áfri- paradigmas de conservação, o que é
ca do Sul, Zimbabwe e a Suazilândia para essencial se Moçambique pretende re-
formar a ACTF do Grande Limpopo, a ACTF abilitar o seu sector de conservação a
de Chimanimani e a ACTF dos Libombos e curto prazo e tornar-se reconhecido
encontra-se em negociação um acordo para como uma agência de conservação regi-
o estabelecimento de uma ACTF com o onal de algum significado; Contextualização 35
Zimbabwe e Zâmbia a ser denominada • adoptar políticas boas e propícias rela-
ACTF-ZIMOZA. Estão em curso planos de tivas à conservação e um quadro legal
uma ACTF com a Tanzânia, que irá juntar a adequado são elementos importantes
Reserva do Niassa e a Reserva do Selous, para aumentar a segurança dos recursos,
outra com a cadeia de ilhas Quirimbas, e atrair investimentos e proporcionar des-
ainda uma outra ACFT costeira/marinha com tinos atraentes para turistas e outros
a África do Sul para juntar Ponta de Ouro e usuários das áreas de conservação.
Kosi Bay, que podem ser incorporadas na O plano estratégico nacional para a conser-
ACFT dos Libombos. vação deve ser elaborado assegurando o
A CBNRM é aceite como uma forma fun- reconhecimento da conservação como uma
damental de uso da terra no país baseada forma legítima e viável do uso da terra,
na conservação, que promove a delegação praticada para levar a cabo dois objectivos:
da gestão de recursos naturais às comuni- conservação de biodiversidade e geração
dades e proporciona uma plataforma para de produtos económicos para a indústria
atribuir a posse da terra e desenvolver ca- do turismo.
pacidade de gestão institucional. O Progra-
ma Tchuma Tchato na província de Tete foi
o projecto pioneiro no país, servindo de 2.7.17. Pontos Fortes, Fracos ,
modelo para outras iniciativas de CBNRM Desafios e oportunidades
no futuro.
Uma análise dos pontos fortes, fracos, opor-
tunidades e ameaças da conservação em
2.7.16. Situação Actual da Moçambique gira em torno de aspectos re-
lativos ao desenvolvimento de políticas
Conservação
boas e adequadas relacionadas com a con-
Uma análise da situação actual de conser- servação e de quadros legais para a gestão
vação no país permite realçar várias ques- dos recursos naturais e áreas de conserva-
tões que devem ser consideradas no de- ção, com vista a aumentar a biodiversidade
e abordar aspectos de desenvolvimento, ca delegação dos direitos de acesso e
especialmente através da sua contribuição uso;
para o sucesso do desenvolvimento do tu- • Níveis altos de pobreza, que conduzem
rismo. Contudo, boas políticas só são signi- a uma dependência excessiva no uso de
ficativas se houver capacidade para recursos naturais para sobrevivência;
implementar estratégias concebidas por
forma a alcançar os objectivos. • Coordenação fraca entre os vários
intervenientes em processos de conser-
vação;
Pontos Fortes
• Integração inadequada de processos de
• Floresta de miombo da costa oriental gestão ambiental;
• Floresta de miombo do sul • Fracos sistemas de gestão da informa-
• Florestas de Mopane ção – recolha de dados, armazenamento
• Floresta litoral do sul de Zanzibar – e análise inadequados – inibindo a efi-
Inhambane cácia da gestão;

• Mangal da costa oriental de África • Recursos humanos inadequados para


responder às exigências das necessida-
• O ecossistema marinho da costa orien- des existentes ou para a expansão de
tal e Madagáscar. programas de conservação;
Presentemente, Moçambique tem uma sig- • Assentamentos humanos significativos
nificativa rede de áreas de conservação que dentro da maioria dos parques e reser-
cobrem os três biomas e eco-regiões, e in- vas nacionais;
clui as seguintes categorias de áreas de con-
servação: Parques Nacionais (6); Reservas Oportunidades
Nacionais (6); Concessões para Caça
(Coutadas) (12). Embora a fauna bravia tenha sido
36 Os Parques e Reservas Nacionais co- depauperada, a existência de alguns assen-
brem cerca de 12% da área total de tamentos humanos em muitas áreas do in-
Plano Estratégico Moçambique. Com a inclusão das Conces- terior representa uma grande oportunida-
para o Desenvolvimento
sões de Caça, esta proporção passa para de para o aumento de populações de fauna
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013) quase 15%. bravia existentes ou a sua reintrodução nou-
tros locais, como forma de uso da terra. Uma
ampla reabilitação apropriada da fauna bra-
Pontos Fracos via em todas as áreas permitiria que o país
• Redução drástica de populações de se tornasse um destino preferencial de tu-
fauna bravia rismo na África Austral nos próximos vinte
anos.
• Uma base de recursos de fauna bravia
muito fraca que precisa de reabilitação
e restauração para ser competitiva na
Desafios
atracção de turistas na região austral de O governo moçambicano enfrenta um du-
África; plo desafio: reabilitar e restaurar e restau-
rar muitas áreas de conservação, com gra-
• Dotações orçamentais do Estado insufi-
ves constrangimentos orçamentais. O gover-
cientes para o sector de conservação,
no definiu princípios que irão nortear a sua
devido a distorções na definição de pri-
actuação influenciar a direcção das suas res-
oridades, levando à falta de recursos fi-
postas tais desafios:
nanceiros para a reabilitação e gestão
• garantir a participação das comunida-
destas áreas;
des na tomada de decisões sobre aspec-
• Confusão histórica sobre a posse de ter- tos que possam afectar o seu modo de
ra, direitos das comunidades e práticas vida e bem-estar;
incompatíveis de uso da terra;
• conceber modelos inovadores e prag-
• Fraca definição institucional, visto que máticos para resolver o problema das
a conservação é administrada por dois comunidades que residem no interior
ministérios; de Parques e Reservas Nacionais sem
• Centralização da posse de recursos e fra- prejudica-las;
• fortalecer e expandir um sistema das AC • criar um quadro institucional apropria-
em geral e as ACTFs em particular; do, que reflicta abordagens de interven-
• desenvolver abordagens e incentivos ção efectiva de conservação;
que possam fortalecer o sector de con- • estimular o desenvolvimento da caça
servação e facilitar a rápida reabilitação desportiva;
da fauna bravia em todas as áreas pro- • optimizar o uso da fauna bravia através
tegidas do país; do sector privado no desenvolvimento
• criar mecanismos de Gestão partici- e expansão da indústria de caça
pativa das AC; desportiva.

Tabela 7 – Assentamentos Humanos em Algumas Áreas de Conservação em Moçambique

Assentamentos Humanos em Algumas Áreas de Conservação em Moçambique


Áreas de População Actividades principais
Conservação Principal Uso Apoio Mudanças Parceiros
de Terra
PN de 15 000 Agricultura; A Administração Diversificação do SPFFB. ORAM.
Gorongosa Pesca; Criação do Parque e os uso de recursos na Administração
de animais de SPFFB providenci- zona tampão: api- do distrito.
pequena es- am um apoio técni- cultura, produção Conselho de
pécie; Caça. co e formação à de carvão. Caça gestão da Zona
comunidade. cultural no PN. tampão
As ONG’s apoiam a
obtenção de títulos
de ocupação na
zona tampão.

Reserva do 5 000 Agricultura; ONG’s apoiam o Diversificação do A agência para o Contextualização 37


Pesca; Criação fortalecimento da uso de recursos na desenvolvimento
Maputo
de animais de capacidade institu- zona tampão: agri- do Corredor de
pequena es- cional e aquisição de cultura, apicultura. Maputo apoia a
pécie; Caça. títulos de ocupação gestão da zona
na zona tampão. tampão.

Reserva do 21 000 Agricultura, Apoio técnico do Infra-estrutura SGDRN


Niassa pesca e caça. sector privado e in- social.
vestimento nas co-
munidades.

55 000 Agricultura, Governo da pro- Participação da WWF


PN das
Pesca, Criação víncia, a administra- comunidade no
Quirimbas
de animais de ção do PN, ONG’s zoneamento do
pequena es- e as comunidades Parque.
pécie e caça. determinam zonas
do Parque.
NP de Zinave 2 000 IUCN
3 Modelo Estratégico
Para o Desenvolvimento
do Turismo
3. Modelo Estratégico Para o Desenvolvimento
do Turismo

3.1. Análise do Potencial do tas diferenças e usá-las como uma vanta-


gem.
Turismo em Dentro do continente africano,
Moçambique Moçambique permanece um país relativa-
mente inexplorado com verdadeiras áreas
Para análise do potencial turístico em
de selva e oportunidades para experimen-
Moçambique, foram tomados em conside-
tar a real vida africana. A paisagem é larga-
ração factores como as forças competitivas
mente virgem e, com a excepção das áreas
do produto turístico moçambicano, cons-
mais densamente povoadas, permanece
trangimentos para o desenvolvimento do
intacta, pouco afectada pela acção huma-
turismo. Nesta perspectiva:
na. Quase nenhuma indústria existe fora das
zonas industriais que cercam as principais
3.1.1. Forças Competitivas do cidades e a actividade agrícola comercial
Produto Turístico está muito limitada. Moçambique foi aben-
çoado com uma paisagem cénica e viajar
Moçambicano entre os diferentes destinos de turismo
Os elementos-chave competitivos em constitui uma experiência interessante. Nas
Moçambique distinguem-se pela qualida- zonas rurais, as Áreas de Conservação ofe-
de dos seus produtos de praia, pelo ambi- recem uma larga variedade de paisagens e
ente exótico, perfil cultural do país ecossistemas e proporcionam uma platafor-
multifacetado e pela biodiversidade e flo- ma rica e variada para o desenvolvimento
40 restas selvagens. Moçambique é um dos do sector do turismo baseado na natureza
poucos países que pode oferecer produtos e fauna bravia.
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento
assim diversificados de praia, eco-turismo
do Turismo em Moçambique e cultura. 3.1.2. Constrangimentos para o
(2004 - 2013) Moçambique é um país abençoado com Desenvolvimento do
os recursos costeiros mais fortes da África
Turismo
Austral. O litoral de Moçambique permane-
ce inexplorado e é muito diversificado em No país há consensos gerais de que o turis-
paisagem, flora e fauna. A vida marinha está mo tem um grande potencial para o desen-
presente em grandes quantidades e o mer- volvimento de Moçambique. Porém, este
gulho e a pesca correspondem aos padrões potencial precisa de se traduzir em produ-
internacionais de alta qualidade. Ao longo tos e serviços de qualidade aceitáveis.
da costa de Moçambique encontramos es- Sentimentos relativos ao estado fraco
pécies marinhas como golfinhos, baleias, de desenvolvimento do sector apontam
tubarões, raias, tartarugas, e, em algumas para:
áreas, os muito raros dugongos, criando as- • uma falta de recursos financeiros, huma-
sim uma experiência litoral diversa e inte- nos e materiais no sector público que
ressante. se traduz numa fraca capacidade de
Em termos fronteiriços, os países vizi- implementação das políticas e progra-
nhos de Moçambique têm um passado mas aprovados pelo governo. Por con-
anglófono. Moçambique é o único país na seguinte, mesmo onde foram formula-
região que oferece um ambiente cultural das políticas, directrizes e programas de
diferente por ter uma herança diversificada acção clarividentes, essa falta de recur-
e rica, onde são reflectidas as influências sos limita consideravelmente a capaci-
árabe, swahili, portuguesa e africanas. Isto dade de intervenção institucional;
reflecte-se na vida quotidiana em • a necessidade da criação e desenvolvi-
Moçambique através da história, arquitec- mento de uma maior capacidade de in-
tura, língua, gastronomia, artes e expressões tervenção pública, com introdução de
culturais. Moçambique tem de apreciar es- recursos qualificados e adequados à
demanda, particularmente ao nível lo- permanece obscura. Os recursos para o
cal, concentrando-se nos distritos com marketing são bastante exíguos e mani-
maior potencial turístico. Isto não só se festamente insuficientes. Por outro lado,
aplica ao turismo, mas também em re- a falta de órgãos criados direccionados
lação a outras instituições do governo para a realização das actividades de
que interagem com o sector do turismo marketing e a fraca ou quase inexistência
no seu todo; de estratégias sectoriais de marketing são
• o fraco nível de planificação e de admi- considerados factores-chave e
nistração integradas; determinantes para o acolhimento de
novos investimentos de vulto e para o
• a falta de dados estatísticos seguros e o impacto no crescimento e desenvolvi-
estabelecimento de um sistema de mento do turismo em Moçambique;
“Satellite Accounting” para formar uma
base de planificação e para medir o im- • o fraco nível de parcerias entre o sector
pacto económico actual do turismo na privado e público e comunidades é
economia nacional; identificado como assunto primordial e
apontado como estratégia que deverá
• a falta de mão-de-obra qualificada, cuja ser incorporada nos futuros programas
atenção deverá estar direccionada para do sector;
a formação e educação aos níveis bási-
co e médio. Considerando estas como • o uso de áreas da conservação em turis-
sendo as prioridades imediatas do sec- mo permanece inexplorado. Os obstá-
tor, o esforço de educação e formação culos incluem: números reduzidos de
não deve restringir-se apenas aos futu- fauna bravia, assuntos não resolvidos
ros profissionais específicos do sector relativos às comunidades, falta de recur-
do turismo, mas incluir outros importan- sos humanos devidamente preparados
tes actores tais como a migração, polí- e treinados para exercer cabalmente as
actividades de fiscalização, bem como Modelo Estratégico
cia, serviços de transporte, comunida- Para o Desenvolvimento
des, etc.; falta de apoio logístico e operacional.
do Turismo
41
Consequentemente, a falta de investi-
• o sector privado manifesta preocupação mento por parte do sector privado, o
face a excessiva burocracia e fraca capa- quadro institucional e a falta de adequa-
cidade de planificação no sector. As pre- ção institucional com vocação e capaci-
ocupações têm a ver com os procedi- dade para o fomento e realização de
mentos de investimento, a disponibili- parcerias entre o sector público e priva-
dade, distribuição e difícil acesso a terra do e comunidades, resultam em facto-
e a falta de disponibilidade de infra-es- res que urgem ser devidamente revis-
truturas e serviços básicos. A falta de tos e solucionados a fim de garantir ao
quadros qualificados e o acesso ao cré- sector do turismo colher vantagens das
dito constituem, entre outras, parte das oportunidades disponíveis.
preocupações deste mesmo sector;
A Tabela 7 resume os principais assuntos
• a falta de envolvimento da população levantados durante os seminários provin-
local, particularmente em termos de ciais e regionais sobre a Política e Estraté-
propriedade, emprego, investimento, gia Nacional do Turismo. Embora os assun-
desenvolvimento de Pequenas, Médias tos esboçados aqui não sejam no seu todo
e Micro Empresas (PMMEs) e o melho- abrangentes, eles representam temas, ele-
ramento de habilidades profissionais; mentos e factores fundamentais por onde
• a necessidade de incentivo do Investi- se podem estabelecer referências como
mento Directo Estrangeiro (IDE) como pontos de partida de estudos mais com-
sendo fulcral para o crescimento futuro pletos que resultem em directivas mais
do sector. Um crescimento equilibrado claras e objectivas de acordo com a reali-
do IDE e do investimento por parte do dade e interesses do país. Estes temas
sector empresarial moçambicano é fun- orientaram a Política Nacional de Turismo
damental; e também direccionaram o Plano Estraté-
• a imagem e posicionamento de gico do Turismo.
Moçambique como destino turístico
Tabela 8 – Constrangimentos Fundamentais para o Desenvolvimento do Turismo

Infra-estrutura
Desenvolvimento institucional
• Falta de planeamento, zoneamento e de planos directores para áreas estratégicas do turismo.
• Falta de comunicação, coordenação e interligação entre sectores e entidades administrativas.
• Procedimentos complicados para os pedidos de investimentos e procedimentos de alocação de terra.
• Fraca promoção de investimento.
• Fraca capacidade de intervenção institucional.
• Fraca disponibilidade de recursos materiais e financeiros no sector do turismo.
• Fraca capacidade de controle e monitoramento, quer nas Áreas de Conservação (combate à caça furtiva),
quer nas Zonas Costeiras (construções desordenadas e ilegais).
• Procedimentos menos expeditos na gestão do movimento internacional de pessoas. Resultado: longas
esperas e má imagem em relação a migração (vistos, fronteiras).
• Segurança.
Recursos humanos
• Baixa qualidade e quantidade de pessoas formadas em matérias de conservação, de hotelaria e turismo.
• Limitadas instituições de formação e de educação e sua distribuição geográfica.
• Fraca consciência sobre a importância do turismo no seio da população local, especialmente junto das
comunidades rurais.
• Fraco envolvimento das comunidades nos processos de desenvolvimento de empreendimentos turísticos.
• Falta de comunicação interna acerca do significado do turismo e seus benefícios associados para a
economia e para as comunidades locais.
Marketing e produtos
Ambiente
• Saúde; doenças e situação de higiene (malária, cólera, HIV/SIDA) e qualidade e quantidade de hospitais e
clínicas.
• Erosão.
• Uso não sustentável dos recursos naturais (produção mineral, caça furtiva, desflorestação).
42 • Fraca intervenção em termos de conservação e preservação das zonas de turismo.
• Escassez de directrizes e normas para a construção de estabelecimentos de turismo.
Plano Estratégico • Proliferação de comportamento impróprios por uma parte dos turistas no que respeita às regras e
para o Desenvolvimento normas de convivência com os recursos naturais.
do Turismo em Moçambique • Fraco nível de informação e formação de pessoas pertencentes às comunidades locais com vista à
(2004 - 2013) preservação e manutenção de valores e recursos nacionais.
Conservação e Turismo
• Baixo número de fauna bravia na maioria das Áreas de Conservação.
• A caça furtiva por caçadores ilegais e comunidades locais.
• Comunidades que vivem em Áreas de Conservação e o impacto das actividades de subsistência nos
ecossistemas (as práticas de queimadas, caça, agricultura).
• Falta de fiscais treinados nas Áreas de Conservação.
• Falta de equipamentos para o pessoal (uniformes, botas, transporte, rádio, armas de fogo, etc.) e baixos
níveis de provisão de infra-estrutura (estradas, acomodação, serviços de saúde, etc.).
• Falta de investimento do Sector Privado nas Áreas de Conservação e falta de condições para o atrair.
• Falta de planos de gestão e zoneamento das áreas para o desenvolvimento de turismo.
Fonte: Seminários sobre a Política e Estratégia de Turismo, 2002 e 2003, Banco Mundial/ KPMG/MITUR

3.1.3. Análise SWOT do Turismo


one também um excelente potencial para o
em Moçambique crescimento da componente eco-turística.
Uma análise dos pontos fortes, fraquezas, A falta de infra-estruturas é um factor
oportunidades e ameaças (SWOT – limitante que inibe o investimento e o de-
Strenghts, Weaknesses, Opportunities and senvolvimento de melhores produtos turís-
Threats) do turismo em Moçambique (Ta- ticos, além de um desenvolvimento não
bela 8) mostra que as suas praias constitu- planificado e descontrolado do sector ao
em actualmente um factor preponderante longo da costa, que constitui uma das mai-
na oferta dos produtos nacionais, embora o ores ameaças que a indústria enfrenta na
seu interior relativamente intacto proporci- actualidade.
Tabela 9 – Pontos fortes, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças do Turismo em Moçambique

PONTOS FORTES FRAQUEZAS


• Praias tropicais e águas quentes durante • Imagem (afectada pelo passado de Moçambique
o ano inteiro. e assuntos relacionados com o continente afri
cano como instabilidade política, minas,
criminalidade, desastres naturais, pobreza, HIV/
AIDS, malária e outras doenças, etc.).
• Ilhas tropicais exóticas, sendo muitas parte de uma • Nível global de instalações e serviços (água, ser-
reserva marinha nacional. Estas Ilhas são procu viço de saúde pública, esgoto, saúde).
radas por muitos turistas de alto rendimento,
havendo poucas na África Austral.
• Extensões longas de recifes de corais de alta qua • Falta de planeamento do uso da terra e outros
lidade e variedade e uma vida marinha rica que recursos, bem como fraca interligação
inclui animais do mar de grande porte como interinstitucional na história de desenvolvimen-
to do turismo em Moçambique.
baleias, golfinhos, tartarugas, dugongos, etc.
• Qualidade de pesca desportiva. • Fraca Capacidade institucional por parte do Go-
verno para elaborar, controlar e monitorar a pla-
nificação de Turismo.

• Terras húmidas, ecossistemas e flora e fauna na • Fraco investimento e responsabilidades


zona litoral sem igual. institucionais não claramente definidas e atribuí-
das.

• Beleza cénica das rotas do turismo (p.e. a costa • Níveis profissionais baixos no sector público e
do sul e as montanhas do norte). privado para a identificação de cenários de de-
senvolvimento adequados.
• Ambiente tropical/exótico (diferente de outros • Níveis altos de burocracia e processos compli-
países anglo-saxónicos na região), reflectido atra cados para atrair investimento.
vés da língua, música, arte, arquitectura, gastrono- Modelo Estratégico
mia, etc. Para o Desenvolvimento
do Turismo
43
• Frutos do mar (mariscos como camarão, lagosta, • Relação preço/qualidade não equilibrada. Os pre-
lagostim). ços praticados são demasiado elevados.
• Cidades históricas (Inhambane, Ilha de • Comunidades e empresários locais têm pouca
Moçambique). experiência no turismo.
• Arquitectura especial e sem igual nas grandes ci- • Pouco diversidade na oferta de produtos utili-
dades (principalmente Beira e Maputo). zando-se o potencial das cidades.
• Parques Marinhos Nacionais (Bazaruto, Quirimbas) • Serviço e qualidade de acomodação baixos, em
geral.
• Proximidade do Parque Nacional de Kruger na • Vias de acesso e cuidados preventivos contra a
África do Sul. Malária, cólera e outras doenças.
• Carácter relativamente pouco desenvolvido e a • Distâncias enormes e serviços de transporte li-
existência de floresta virgem relativamente intac- mitados no país.
ta nas zonas mais isoladas.
• Registos mundiais: dunas de areia mais altas, maio- • Dificuldades em infra-estruturas, acesso, recur-
res populações de dugongos, litoral do Índico mais sos humanos, aspectos institucionais, marketing,
longo, luta armada pela independência. ambiente, conservação, etc.
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
• Hipótese de interligação bush/ beach com Kruger • Impactos ambientais e perda de recursos marinhos
Park e a ACTF do Limpopo e as praias de pelo crescimento descontrolado de turismo e téc-
Inhambane/Gaza. nicas artesanais de pesca.
• Safaris de Indico (uma forma mais activa de turis- • Crescimento descontrolado do sector de turismo.
mo de sol, praia e mar com o objectivo de obser-
var a vida marinha e os grandes animais do mar).
• Rotas turísticas e circuitos de turismo que liguem • Domínio de operadores e turistas de África de Sul
as principais atracções turísticas do país e da re- e outros países da região ou de países com interes-
gião. se complementar a Moçambique.
• Mercado do eco-turismo • Comunidades não participam efectivamente nos
programas do turismo.
• Marketing de Nicho. Nichos de alto potencial para • Falta de incentivos governamentais e de alocação
Moçambique: observação de pássaros, caça, mer- de recursos para a realização das actividades de
gulho, pesca, turismo cultural, eco-turismo e aven- marketing e de atracção de investidores
tura.
• Marketing das regiões de Moçambique (o norte, • Crescimento desequilibrado dos mercados regio-
o centro e o sul têm perfis e oportunidades muito nal/doméstico/internacional e de investidores.
diferentes)
• Integração regional (África Austral) através da cri- • O clima de instabilidade em alguns países na África
ação de ligações entre o interior e a costa, ACTFs, Austral ameaça toda a região, em geral, e o merca-
corredores e circuitos de turismo regional. do moçambicano, em particular.
• Tendências de decrescimento do mercado do- • A contínua fraca disponibilização de quadros quali-
méstico da África do Sul e da região. ficados para a concepção e implementação dos pro-
gramas.
• O recente processo de descentralização de com- • Fraca disponibilidade de recursos técnicos e finan-
petências do governo prevê oportunidades para ceiros para a implementação de planos integrados
a planificação e desenvolvimento aos níveis Pro- e estratégicos para o desenvolvimento do turismo.
vincial e Distrital.
44
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento mos produtos. Neste capítulo são aborda-
Considerando o potencial turístico dado
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013) pelos seus recursos naturais, Moçambique dos elementos fundamentais para o desen-
deve perspectivar o seu futuro desenvol- volvimento de mercados importantes para
vimento devidamente enquadrado em es- Moçambique. Neste contexto temos:
tratégias que assentem, por um lado, na ne-
cessidade de dar resposta às demandas do 3.2.2. Mercados Emissores para
mercado interno, regional e internacional,
África do Sul
estratégicos para o país e, por outro, na
definição correcta das zonas de desenvol- A ligação com o sector do turismo da África
vimento para a elevação da qualidade do do Sul é uma condição primordial para
produto turístico. Moçambique, cuja oportunidade geográfi-
ca é primordial, considerando mesmo que
os padrões estandardizados do turismo na
3.2. Mercados Estratégicos África do Sul poderão ter uma certa influ-
para Moçambique ência na futura estrutura do sector em
Moçambique.
O sector do turismo na África do Sul
3.2.1. Análise de Mercados redefiniu a sua estratégia de crescimento
em 2002. Assim, em termos de chegadas e
Estratégicos para
receitas, foram identificados, em primeiro
Moçambique plano, o Reino Unido, Alemanha, EUA, Fran-
A correcta avaliação dos mercados emisso- ça, Itália, Países Baixos, Canadá e Austrália
res e a identificação de segmentos e ten- que constituem o foco dos esforços de
dências pertinentes são condições prévias marketing do sector turístico sul africano.
para o desenvolvimento efectivo de pro- O Japão, a Suécia e a China representam
dutos turísticos e realização de programas oportunidades de segundo plano.
de marketing focalizados para esses mes-
Figura 7 – Análise dos Mercados Emissores para a África do Sul

Analisando os mercados emissores, pode- sul-africano em Janeiro de 2000, quase me- Modelo Estratégico
se constatar que apresentam interessantes tade (46%) de todos os visitantes dos paí- Para o Desenvolvimento
45
oportunidades de marketing para os merca- ses africanos à África do Sul deslocam-se do Turismo
dos africanos, que contribuíram com 65% com o propósito de negócios. 78% de to-
das chegadas totais em 2000. Espera-se que dos os visitantes africanos foram para
a quota das chegadas intra-regionais nas Gauteng.
chegadas internacionais totais para o con- O turismo de retalho pertence aos visi-
tinente africano continue a aumentar de tantes de outros países que entram na Áfri-
57%, em 1995, para 65% no ano de 2020. ca do Sul com o objectivo principal de com-
Embora o número de chegadas à África do prar bens e serviços para levar para os seus
Sul reflicta significativamente chegadas pro- países de origem. A maioria de comprado-
venientes do mercado africano, os países res “transfronteiriços” é oriunda dos países
geradores de procura no continente não da SADC, com chegadas crescentes dos
têm merecido a devida atenção. países do norte do continente como a
África continua a ser tratada como um Nigéria e o Gana. As cidades sul-africanas
mercado uniforme de compradores de Gauteng e, particularmente,
“transfronteiriços” de baixa renda, o que é Joanesburgo estão bem posicionadas para
claramente incorrecto. Dados estatísticos capitalizar o turista de retalho africano.
detalhados sobre as actuais rendas são di- Os turistas de retalho enfrentam cons-
fíceis de obter, uma vez que os turistas afri- trangimentos relativos a transporte, proce-
canos têm tendência de gastar menos di- dimentos de migração e travessia
nheiro em parâmetros de turismo transfronteiriça de bens, segurança, acomo-
“mensuráveis”, como por exemplo aloja- dação satisfatória e acessível, etc. Estes
mento e entradas em parques, e mais em constrangimentos devem ser devidamen-
compras a retalho e entretenimento. te considerados e atendidos para que os
Contudo, com a pouca informação dis- esforços de marketing tenham impacto na
ponível, é possível verificar que os princi- manutenção e aumento da procura.
pais segmentos dos mercados africanos são O mais interessante a este respeito é
“turismo de retalho” e “turismo de negóci- notar que o número de moçambicanos que
os”. Conforme a “Pesquisa de Turistas In- visitou a África do Sul é maior (aproxima-
ternacionais” feita pelo Sector do Turismo damente 500.000, em 2000) em relação às
visitas de sul africanos a Moçambique (cer- 3.2.4. Mercados Emissores
ca de 300.000 no ano de 2001).
Emergentes para
Ainda neste mesmo contexto africano,
o mercado angolano oferece outras interes- Moçambique
santes oportunidades para Moçambique. A Competir nos mercados saturados como a
semelhança de culturas e de língua e a exis- Alemanha, o Reino Unido e os EUA, onde
tência de um segmento com altos rendi- Moçambique concorre com outros destinos
mentos constituem uma base sólida para a mundiais emergentes com um potencial de
sua exploração. Num futuro próximo, produto comparável como Honduras,
Moçambique também pode beneficiar dos Etiópia, Madagáscar, Vietname etc., será
fluxos africanos existentes para a África do difícil e oneroso numa primeira fase.
Sul através da oferta de pacotes “Fun and Na componente de marketing ter-se-á
Sun”, ligando os produtos de entretenimen- gastos elevados contudo, espera-se em al-
to e de retalho de Gauteng com o turismo guns mercados algum tipo de sinergia com
de sol, praia e mar da zona costeira do sul Moçambique. Neste contexto, será neces-
de Moçambique. sário um olhar mais profundo sobre os mer-
cados emissores emergentes como Médio
3.2.3. Mercados Emissores para Oriente, América do Sul e Ásia. Os turistas
Moçambique do Médio Oriente enfrentam, cada vez mais
e de modo geral, complicações para a aqui-
Tradicionalmente, os fluxos de turismo para sição dos vistos para visitar os destinos tu-
Moçambique provinham da África do Sul e rísticos desenvolvidos nas Américas e Eu-
Portugal. Em 1997, as chegadas internacio- ropa, e estão à busca de alternativas.
nais registadas foram aproximadamente de A proximidade relativa de Moçambique
300.000, e no ano 2001 atingiram 404.095, ao Médio Oriente e a elevada influência
oriundas na sua maioria desses países. muçulmana no país constituem excelentes
Embora se tenha registado este incre- oportunidades, o mesmo acontecendo com
46 mento, o que constitui uma tendência po- o Brasil, na América do Sul. A semelhança
sitiva, as chegadas correntes permanecem da cultura e língua entre estes dois países
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento relativamente baixas em comparação com e a percentagem da população com raízes
do Turismo em Moçambique outros destinos similares ao nível regional, africanas (aproximadamente 45%), combi-
(2004 - 2013) continental e global com valor de atracção nada com o crescendo da população que
comparável ao moçambicano. se predispõe a viajar, abre uma boa base
As chegadas da África são as dominan- de exploração.
tes, com registos que assinalam um cresci-
mento de 350 por cento sobre o ocorrido
em 1999. A República da África do Sul é a 3.2.5. Impulsionadores da
fonte principal do mercado de Demanda
Moçambique, tendo contribuído com apro-
Os principais impulsionadores de deman-
ximadamente 67 por cento nas chegadas
da para as condições de Moçambique po-
totais em 2001. Outros mercados vizinhos
dem ser identificados nos seguintes mer-
como a Suazilândia, para citar um exemplo,
cados:
também geram alguma demanda, embora
com uma base relativamente baixa. Portu-
3.2.5.1. Mercado Doméstico
gal é a principal fonte do mercado interna-
cional e contribuiu com, aproximadamen- Uma cultura de turismo doméstico é impor-
te, 7,5 por cento das chegadas internacio- tante para qualquer destino. Apesar da sua
nais totais em Moçambique no ano de 2001. limitação em termos de tamanho, o merca-
Assim sendo, é de considerar que no- do doméstico está a crescer. A fonte primá-
vos mercados emissores para Moçambique ria da procura doméstica é constituída por
deverão ser objecto de atenção das autori- Maputo e, com importância crescente, en-
dades do sector do turismo, onde oportu- contram-se os centros urbanos da Beira,
nidades em África similares ao exemplo Chimoio e Nampula. Estas cidades encon-
acima citado em relação a Angola deverão tram-se situadas próximo de atracções tu-
ser avaliadas e direccionadas com vista ao rísticas e podem gerar uma quantidade con-
incremento do turismo de retalho. siderável de viagens. O futuro preconiza
que o turismo doméstico estará associado atrair números consideráveis de casais, de
aos seguintes sectores principais: profissionais e pessoas em lua-de-mel, de
• Negócios – incluindo o sector privado, alto rendimento. O enfoque estratégico
o governo e o sector de desenvolvimen- será colocado para a obtenção de um va-
to (ONGs, embaixadas, parceiros de co- lor maior deste mercado, recorrendo a ven-
operação, etc.); das para níveis cada vez mais altos e a cru-
• Lazer – incluindo famílias, pequenos zamentos com outras áreas de produtos,
grupos, casais, estrangeiros residentes penetrando em novos segmentos de gran-
em Moçambique, que viajam com o pro- de rendimento.
pósito de passar férias, fazer pequenos A procura regional de turismo será pro-
intervalos de fim-de-semana, excursões veniente dos seguintes sectores principais:
diárias, eventos, desportos, compras, • Negócios – viajantes comerciais, viajan-
entretenimento etc.; tes para estudos de viabilidade, mis-
sões de negócio, visitantes para negó-
• Visita a amigos e familiares (VFR) – mui- cios e visitantes do governo, ONGs,
tos moçambicanos que moram nas gran- agências de desenvolvimento, embaixa-
des cidades têm laços fortes com paren- das, etc.;
tes que residem em áreas rurais e visi-
tam-nas durante os feriados e as férias; • Lazer – incluindo famílias, pequenos
grupos, casais, estrangeiros que vivem
• Visitas de Trabalho (MICE) – o mercado na região. Os propósitos de viagem in-
de reuniões, incentivos, conferências e cluem passar férias escolares/de verão,
exposições. Os objectivos da viagem fazer pequenos intervalos de fim-de-
incluem negócios, formação de equipas, semana, excursões diárias, eventos, des-
encontros sociais, religião, etc. portos, compras, entretenimento, visita
a amigos e familiares (VFR), etc.;
3.2.5.2. Mercado Regional • Viagem de Trabalho (MICE) – para de- Modelo Estratégico
A nível global, o turismo doméstico e regi- Para o Desenvolvimento
signar mercado de reuniões, conferên-
do Turismo
47
onal tende a tornar-se mais importante do cias e exposições. Os objectivos da via-
que o turismo internacional, quer em ter- gem incluem negócios, formação de
mos de actividades, quer em termos das equipas, encontros sociais, religião, lan-
transacções monetárias. A África do Sul çamento de produtos, etc.; e
constitui uma fonte-chave regional de mer-
• Interesse especial – incluem pesca de
cado para Moçambique. Tem uma popula-
alto mar, mergulho, aventura, eco-turis-
ção relativamente com mais posses em ter-
mo, overlanders e entusiastas de 4x4, ob-
mos regionais e com uma forte propensão
servação de pássaros, entusiastas de
para gastar em viagens, lazer e entreteni-
cultura, caça, etc.
mento.
As famílias, turistas de aventura e pes-
cadores são os segmentos tradicionalmen- 3.2.5.3. Mercado Internacional
te atraídos por Moçambique que procuram Actualmente, os visitantes internacionais
principalmente as praias do sul. Actualmen- vêm a Moçambique acima de tudo para
te, as preferências apontam para a existên- negócios ou para visitar amigos e familia-
cia de um mercado mais diversificado pro- res. Aqueles visitantes que não têm estas
veniente da África do Sul. O mercado regi- duas razões como motivos para a sua che-
onal de jovens está a ganhar poder de gada a Moçambique, são principalmente os
compra e estes começam a viajar mais com que vêm numa “Viagem à África Austral”.
o propósito de lazer do que apenas para A caça também tem contribuído histo-
visitar amigos e familiares. O ambiente so- ricamente para a procura do turismo inter-
cial dos locais a serem visitados, o factor nacional e continua a desempenhar um
de estar longe de casa e a cultura de praia papel preponderante no crescimento do
podem atrair maiores números de pessoas turismo internacional. Os overlanders e
deste segmento do mercado. backpackers começam, cada vez mais, a in-
A natureza virgem, isolada e romântica cluir Moçambique nas suas rotas de aven-
que ainda existe, praticamente nas três turas pela África Austral, com Maputo e
grandes regiões de Moçambique, poderá Inhambane já a consistirem “destinos ha-
bituais e familiares”, enquanto outros pou- participação numa actividade especial (por
cos também usam Moçambique como pas- exemplo, mergulho ou pesca), enquanto as
sagem (via região centro) a caminho do motivações de viagem dos mercados ge-
Malawi. rais são mais abrangentes e incluem, por
Assim, a procura do turismo internacio- exemplo, relaxamento e conhecer novas
nal está essencialmente ligada aos seguin- pessoas.
tes sectores: O produto turístico de Moçambique
• Visita a amigos e familiares – estes vi- ainda é relativamente desconhecido e es-
rão principalmente do mercado portu- forços de marketing serão principalmente
guês, bem como de amigos e familiares necessários para aumentar essa consciên-
que visitam o pessoal que trabalha jun- cia. O marketing do turismo, quando está
to das agências de desenvolvimento, especialmente engrenado aos mercados
embaixadas e empresas internacionais; internacionais gerais, é extremamente one-
roso. Uma abordagem de nicho, de acordo
• Lazer – incluindo viajantes independen-
com as tendências globais para uma
tes, grupos de viagem independentes,
segmentação significativa de mercado, é, na
grupos de turismo organizado, viajantes
perspectiva do marketing, muito mais efec-
internacionais de alto rendimento;
tiva em termos de custos do que uma abor-
• Negócios – viajantes comerciais, viajan- dagem “geral”. Os mercados de nicho são
tes para estudos de viabilidade, mis- frequentemente mais fáceis de abordar
sões de negócio, visitantes para negó- através de revistas especializadas, web sites,
cios e visitantes do governo, ONGs, agências de viagens especializadas, asso-
agências de desenvolvimento, embaixa- ciações e clubes, e do poder da palavra.
das, etc.; Os turistas de nicho são, frequentemen-
• Interesse especial – inclui mergulho, te, menos exigentes em termos de níveis
pesca, eco-turismo, observação de pás- de serviços e infra-estruturas. Assim, eles
saros, caça, turistas de aventura, representam um factor que poderá ser uti-
48 lizado para o desenvolvimento de uma re-
backpackers, entusiastas de cultura, cru-
Plano Estratégico zeiro. gião com menos serviços e infra-estruturas.
para o Desenvolvimento Assim sendo, este facto constitui um bene-
do Turismo em Moçambique fício para um certo tipo de mercado espe-
(2004 - 2013) 3.2.5.4. Mercados de Nicho cializado, por exemplo a caça, o eco-turis-
Uma análise das tendências internacionais mo e o turismo de aventura, no qual as pes-
e regionais aponta para uma propensão soas procuram uma experiência fora do
para produtos de turismo mais mundo desenvolvido.
especializados e habituais, em vez dos pro- Por isso, os mercados de nicho tam-
dutos genéricos. Factores-chave de moti- bém podem constituir uma meta a curto
vação para os mercados especializados in- prazo para o desenvolvimento e marketing
cluem visitas a uma atracção específica (por de diferentes produtos que o país pode
exemplo, um ecossistema particular) ou oferecer.
4 Visão
do Turismo
para o Futuro
4. Visão do Turismo Quadro 5 – Visão do Turismo para
Moçambique em 2025

“Até ao ano de 2025 Moçambique será o desti-


no turístico mais vibrante, dinâmico e exótico
4.1. Visão do Turismo para o de África, famoso pelas suas praias e atracções
Futuro litorais tropicais, produtos de eco-turismo ex-
celentes e pela sua cultura intrigante, que dá
Tendo em conta a modesta base de desen- boas-vindas a mais de 4 milhões de turistas por
volvimento e das infra-estruturas para o tu- ano.
rismo e as metas e objectivos definidos no As áreas de conservação constituem uma par-
te integrante do turismo e os seus benefícios
PEDTM, a visão sobre o turismo, devida-
darão um contributo significativo para o PIB,
mente contemplada no processo de plani- trazendo riqueza e prosperidade para as comu-
ficação estratégica, deverá reflectir a natu- nidades do País”’
reza ambiciosa desses objectivos, cujas
metas só poderão ser realisticamente fixa-
das e alcançadas a longo prazo. Assim, é Para a materialização desta visão a missão
identificado o ano de 2025 como o ano de da gestão macro do turismo assenta nos
referência para a Visão do Turismo em princípios gerais da política do turismo.
Moçambique.

Quadro 6 – Missão para o Desenvolvimento do Turismo em Moçambique

A missão da Administração do Turismo consiste na implantação da visão do turismo, trans-


formando-a numa realidade. Nessa direcção, essencialmente deverá:
• Estabelecer um quadro institucional, com mecanismos adequados de planificação e de controlo e
uma capacidade de implementação efectiva de programas aos níveis nacional, provincial e distrital;
• Estabelecer os mecanismos de marketing efectivo que resultem na criação de uma imagem forte do
50 país através dos programas nacionais de marketing, bem como resultantes das parcerias com o sector
privado;
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento • Desenvolver mecanismos para o estabelecimento de produtos turísticos prósperos e a criação de
do Turismo em Moçambique um ambiente de investimento harmonioso para investidores nacionais e internacionais;
(2004 - 2013) • Proceder à reabilitação e reorganização das Áreas de Conservação do país;
• Proceder à implementação de políticas práticas e sustentáveis para a planificação e desenvolvimento
do turismo;
• Criar as condições para o envolvimento efectivo das comunidades no desenvolvimento do sector do
turismo;
• Participar activamente na constituição de parcerias efectivas com os países vizinhos e a promoção de
uma integração regional forte entre os países da SADC em marketing, a oferta de pacotes de diferen-
tes produtos, iniciativas transfronteiriças (corredores, ACTFs) e a coordenação e alinhamento de
políticas e legislação relativas à migração, transporte e turismo;
• Desenvolver uma base de recursos humanos a todos os níveis profissionais no sector privado e
público e dentro das comunidades através da educação e formação;
• Realizar programas de sensibilização para todos os moçambicanos sobre a importância do turismo e
o valor do património e das heranças natural e cultural.

Adaptado de “Princípios Gerais da Política de Turismo”, Política e Estratégias do Turismo, Parágrafo 5

4.2. Força dos Recursos estes representam pode ser considerada a


“Força dos Recursos” de Moçambique. Esta
O potencial do turismo de Moçambique é “Força” é dada pela:
determinado pela sua “Força em termos de 1) qualidade das praias e recursos litorais
Recursos”. Essa força está relacionada com (a linha de produto “azul”);
a terra, fauna bravia, recursos naturais, re-
2) diversidade e qualidade dos recursos
cursos humanos, artesanais, os trunfos na-
naturais e de fauna bravia e as oportu-
turais e litorais, o património e as heranças
nidades que estes oferecem para o de-
natural e cultural. A atracção turística que
senvolvimento de produtos turísticos (a Estes recursos devem ser valorizados, pro-
linha de produto “verde”); tegidos e continuamente desenvolvidos
3) identidade cultural de Moçambique, para garantir o valor de atracção do “Desti-
determinada pela sua herança, povos e no Moçambique”. As estratégias específi-
história, que difere significativamente cas para o uso correcto de cada uma das
da de outros países na África Austral (li- “Forças dos Recursos” consistem no seguin-
nha de produto “cor de laranja”). te:

Tabela 10 – Estratégias para o Uso de ‘Forças de Recursos’ de Moçambique

Recurso Estratégia Explicação


Recursos litorais e marinhos Capitalizar O litoral vasto de Moçambique, as praias tropicais
e as águas quentes e os recursos marinhos são de
qualidade excepcional e sem igual na África Aus-
tral. Moçambique deveria capitalizar esta posição
no marketing e desenvolvimento de produtos, en-
quanto, ao mesmo tempo, a conservação e pro-
tecção dos recursos litorais e marinhos frágeis
deveriam ser uma prioridade.
Recursos da Natureza e Fauna Desenvolver Para poder competir na África Austral,
Bravia Moçambique tem de desenvolver o seu produto
baseado na natureza e fauna bravia. Esforços deve-
riam ser focalizados na reabilitação e construção
das infra-estruturas, na promoção de investimen-
tos nas zonas de conservação, no desenvolvimen-
to de recursos humanos e na repovoação dos ani-
mais.
Recursos culturais e artificiais Captar Moçambique tem uma identidade cultural, deter- Visão do Turismo
minada pela sua herança, povos e história, que di- para o Futuro 51
fere significativamente da de outros países na África
Austral. O “sabor” da cultura deve ser melhor usa-
da no marketing e enriquecer as linhas de produto
“azul” e “verde” e, por outro lado, também deve-
ria ser desenvolvida uma linha específica de pro-
dutos culturais.

4.3. Factores-Chave do de Moçambique é fundamental. Três facto-


res adicionais emergem como instrumen-
Sucesso tos impulsionadores para conduzir
A força dos recursos no turismo representa Moçambique para o seu futuro estatuto de
o potencial do turismo que o país possui. destino turístico internacional. Estes são: (1)
Assim, devem ser desenvolvidas estratégi- integração regional (África Austral), (2)
as sãs com vista a traduzir este “potencial” marketing e desenvolvimento de produtos
na oferta real do turismo e em benefícios virados para os mercados emissores e ni-
económicos e sociais sólidos para o país. chos seleccionados, (3) enfoque espacial na
A implementação efectiva das três es- planificação, marketing e desenvolvimento
tratégias para o uso das forças dos recursos de produtos.
Figura 8 – Factores-Chave do Sucesso para Maximizar o Potencial do Turismo de Moçambique

Os factores-chave do sucesso com vista à tural, determinada pela sua herança,


52 maximização do potencial do turismo de povos e história, que difere significati-
Moçambique são: vamente da de outros países na África
Plano Estratégico • Capitalização dos recursos marinhos e Austral. Moçambique deve acarinhar
para o Desenvolvimento litorais – O vasto litoral de Moçambique, estas diferenças para “condimentar” os
do Turismo em Moçambique
as praias tropicais e as águas quentes e seus produtos das linhas “azul” e “ver-
(2004 - 2013)
os recursos marinhos são de qualidade de”, bem como para desenvolver uma
excepcional e sem igual na África Aus- oferta especial de produtos “laranja” ou
tral. Moçambique deveria capitalizar produtos culturais.
esta posição no marketing e desenvolvi- • Integração com países vizinhos (África
mento de produtos, enquanto prioriza, Austral) – Nenhum país na África Aus-
ao mesmo tempo, a conservação e pro- tral será capaz de enfrentar a competi-
tecção dos recursos litorais e marinhos ção forte no mercado de turismo inter-
frágeis. nacional sozinho. A integração regional
• Desenvolvimento de produtos basea- e o desenvolvimento de um destino afri-
dos nos recursos da natureza e fauna cano são técnicas de sobrevivência es-
bravia – Moçambique ainda não é um senciais para todos os países na África
actor no sector do eco-turismo na África Austral. Moçambique tomará o papel de
Austral. Para ser capaz de competir na líder neste contexto através i) do desen-
África Austral, Moçambique tem de de- volvimento e promoção de ligações
senvolver o seu produto baseado na bush-beach com países vizinhos, ii) duma
natureza e fauna bravia. Esforços deve- participação pró-activa na criação e ges-
riam ser focalizados na reabilitação e tão das ACTFs, e iii) duma participação
construção das infra-estruturas, na pro- activa em iniciativas de marketing e de-
moção de investimento nas zonas de senvolvimento regional.
conservação, no desenvolvimento de • Mercados estratégicos: Mercados de
recursos humanos e no repovoamento Nicho – Com a oferta actual de produ-
de animais. tos e a disponibilidade limitada de re-
• Inserção da Força da Cultura – cursos para marketing e desenvolvimen-
Moçambique tem uma identidade cul- to de produtos, Moçambique tem que
concentrar os seus recursos limitados 4.4. Mercados Estratégicos
em alguns mercados seleccionados, ba-
seado numa análise profunda das ten- para Moçambique
dências do turismo e das forças dos re- Moçambique procurará activamente uma
cursos de Moçambique. Actividades tais mistura de segmentos de mercado-alvo
como mergulho, pesca de alto mar, caça, (alto/médio/baixo rendimento; negócios/
observação de pássaros, eco-turismo, lazer; doméstico/regional/internacional) e
aventura, turismo de praia e ilhas de implementará uma abordagem de nicho
alto-rendimento, e turismo cultural po- para mercados internacionais focalizados
derão emergir como nichos estratégicos. nos nichos de alto potencial como mergu-
• Mercados estratégicos: Mercados Emis- lho, pesca de alto mar, caça, observação de
sores – Com um baixo domínio dos mer- pássaros, eco-turismo, aventura, turismo de
cados estrangeiros e recursos limitados praia e ilhas de alto-rendimento, e turismo
disponíveis para marketing e desenvol- cultural. Abordagens mais gerais serão usa-
vimento de produtos, Moçambique das para os mercados regionais e domésti-
deve concentrar os poucos recursos nos cos onde os segmentos de mercado princi-
poucos mercados seleccionados. Os pais continuam a concentrar o turismo de
mercados emissores estratégicos foram sol, praia e mar, e o turismo familiar.
seleccionados usando três critérios: (i) Assim, a abordagem do desenvolvi-
mercados emissores estratégicos para a mento de mercado terá dois enfoques: os
África do Sul; (ii) mercados de nicho com mercados emissores seleccionados e os
alto potencial; e (iii) a existência de uma produtos de nicho.
sinergia cultural forte.
• Enfoque espacial: Regiões de 4.5. Mercados de Nicho
Moçambique – O país é muito vasto e
diverso e não pode ser considerado e Estratégicos para Visão do Turismo
administrado como um único destino. As Moçambique para o Futuro 53
três regiões de Moçambique, o sul, cen-
tro e norte têm cada uma a sua própria Os mercados de nicho estratégicos para
identidade, forças de recursos, priorida- Moçambique são:
des de desenvolvimento e parceiros re- • Mergulho – Mergulhar é um dos despor-
gionais. O perfil do turismo da região sul tos de aventura em rápido crescimento
enfatiza o turismo regional e domésti- e é cada vez mais popular entre pesso-
co, o turismo litoral e os desportos aqu- as jovens. Os peritos consideram
áticos; a região centro posiciona-se me- Moçambique um dos melhores destinos
lhor como um destino de eco-turismo e do mundo para o mergulho. No seio dos
aventura, principalmente para mercados backpackers e no mercado regional,
de nicho internacionais e backpackers, Moçambique, em particular a província
enquanto a região norte provavelmen- de Inhambane, já é famoso pela diver-
te se desenvolverá como um exclusivo sidade de espécies, com particular re-
destino de praia e eco-turismo interna- levância para as grandes espécies mari-
cional com uma forte componente de nhas como baleias, tubarões, tartarugas,
cultura. golfinhos e raias, e pela qualidade de
recifes de coral.
• Enfoque espacial: APITs, ACTFs, Rotas
e Circuitos – O turismo é espacial por • Pesca de alto mar – Desde o tempo co-
natureza e áreas geográficas lonial Moçambique foi famoso pela sua
seleccionadas deveriam ser priorizadas grande pesca desportiva (big game-fish).
no processo de desenvolvimento. As Atum, marlim e agulhão estão entre as
ACTFs (Áreas de Conservação espécies regulares. Esta realidade é
Transfronteira), APITs (Áreas Prioritárias coadjuvada pelo clima tropical, as águas
para Investimento em Turismo) e as Ro- quentes e as infra-estruturas de embar-
tas Turísticas são os pontos identifica- cação que agora existem ao longo da
dos em espaços onde os recursos para costa do sul. A pesca de mar alto é uma
o desenvolvimento de turismo serão actividade fundamental, especificamen-
concentrados. te para o mercado regional e os merca-
dos internacionais de alto rendimento. cipalmente ligada ao ar livre (outdoors) e
• Caça – Caçar é um negócio de pequena que atinge alguma forma de risco, exci-
escala, mas muito lucrativo. A qualida- tação e desafio pessoal. Moçambique
de de troféus em Moçambique (especi- tem um potencial significativo para o
almente no norte do país) é muito alta desenvolvimento de actividades de
com uma variedade boa de espécies. A “hard” e “soft” aventura, incluindo esca-
caça requer esforços de marketing e pode lar montanhas, “abseiling” (inselbergs no
ser um catalisador de novas áreas, como norte), circuitos de 4x4, caminhadas
é o caso do turismo fotográfico. (hiking) e desportos fluviais e aquáticos
como a canoagem e o rafting.
• Observação de pássaros – “Ornitofilia”
é o passatempo com os níveis de cres- • Cruzeiro – O mercado de cruzeiro está
cimento mais elevados no mundo e, glo- em crescimento rápido a nível mundial.
balmente, é um dos segmentos de eco- Os operadores olham para o Oceano
turismo com maior crescimento. A vari- Índico para expandir a gama de produ-
edade e densidade de espécies de aves tos de cruzeiro. Com 2700 km de litoral
em Moçambique são excepcionais e cer- e muitas cidades históricas e outros lu-
tas áreas, como a Montanha de gares e opções de actividade interessan-
Gorongosa, Panda, em Inhambane, e as tes, a oportunidade para Moçambique
lagoas litorais em Bazaruto e no distrito se tornar um actor importante neste ni-
de Matutuíne são famosas entre os cho é significativa.
ornitólogos. Moçambique possui poten- • Mercado de luxo de alto rendimento –
cial significativo para se desenvolver Este sector de mercado é altamente
como um destino de ornitofilia interna- educado, tem um rendimento disponí-
cional. vel significativo e é atraído pelo desti-
• Eco-turismo – O segmento de aventura no ou pelo prestígio do operador. A for-
representa mundialmente 5 milhões de ça da palavra e imagens de um estilo de
54 turistas por ano ou, aproximadamente, vida exclusiva são bastante importantes
1% do total de chegadas turísticas inter- no marketing deste segmento. A força da
Plano Estratégico marca é um elemento cada vez mais
para o Desenvolvimento nacionais, e é um segmento em cresci-
do Turismo em Moçambique mento (Travel and Tourism Analyst Nº 4, importante no processo de escolha de
(2004 - 2013)
2001). Viagens de aventura podem ser destino. As estâncias turísticas têm de
definidas como uma actividade intensi- ser pequenas e exclusivas e os clientes,
va de lazer, sobretudo ao ar livre profissionais, casais e reformados que
(outdoors) e que envolve alguma forma de aí afluem encontram-se, socializam e
risco, excitação e desafio pessoal. relaxam num ambiente de luxo total. As
Moçambique tem um potencial signifi- estâncias turísticas nas ilhas tropicais
cativo para o desenvolvimento de acti- têm uma atracção particular para este
vidades de “forte” e “suave” aventura, mercado.
incluindo escalar montanhas, “abseiling” • Turismo cultural – A rica herança cultu-
(inselbergs no norte), circuitos de 4x4, ca- ral de Moçambique proporciona bastan-
minhadas (hiking), e desportos fluviais e tes oportunidades para o turismo cultu-
aquáticos como a canoagem e balsa ral. Ícones como a Ilha Moçambique e,
(rafting). num grau menor, a cidade de Inhambane
• Turismo de aventura – O segmento de são de um valor histórico e cultural ex-
aventura representa mundialmente 5 cepcional e atrairão o mercado especi-
milhões de turistas por ano ou, aproxi- alizado internacional. Um outro nicho
madamente, 1% de total de chegadas com alto potencial é o da arquitectura,
turísticas internacionais, e é um segmen- que é de uma variedade e qualidade
to de crescimento (Travel and Tourism excepcional, com destaque para Mapu-
Analyst No 4, 2001). Viagens de aventura to e Beira. Novos nichos de cultura po-
podem ser definidas como uma activi- dem ser desenvolvidos na música tra-
dade intensiva de lazer, que está prin- dicional e contemporânea.
4.6. Mercados Emissores forte), (2) mercados de nicho (países estra-
tégicos para a África do Sul que têm um
Estratégicos para potencial de mercado de nicho alto) e (3)
Moçambique mercados de sinergia emergentes (merca-
dos emissores em desenvolvimento que
Reconhecendo o fraco domínio em relação
têm uma sinergia cultural forte com
aos mercados estrangeiros e os recursos li-
Moçambique).
mitados disponíveis para o marketing e de-
Na figura abaixo, apresenta-se o agru-
senvolvimento de produtos, os esforços de
pamento dos mercados emissores estraté-
marketing serão concentrados apenas em
gicos para Moçambique. Portugal e África
alguns mercados emissores devidamente
do Sul são mercados actuais de
seleccionados: Portugal, por causa da his-
Moçambique. Entre os mercados emisso-
tória e da língua, e África do Sul, fundamen-
res estratégicos para a África do Sul, os EUA,
talmente devido à proximidade geográfica.
o Reino Unido, a Alemanha e os Países Bai-
Estes constituem os dois mercados “natu-
xos e a Itália foram identificados como es-
rais” para Moçambique. Na selecção de
tratégicos para Moçambique pela sua pre-
outros mercados emissores de alto poten-
ferência por produtos de nicho estratégi-
cial, deve-se aplicar um marketing astuto e
cos e a Itália também pela sinergia cultural.
inteligente.
Dentro do agrupamento da “Sinergia”, Por-
Os mercados emissores estratégicos
tugal e África do Sul foram identificados
foram seleccionados usando três critérios:
como o foco primário por causa dos laços
(i) mercados emissores estratégicos para a
históricos; os outros países indicados (Itá-
África do Sul; (ii) mercados de nicho com
lia, Espanha, Brasil, Arábia Saudita, EAU,
alto potencial; e (iii) sinergia cultural. Três
Angola, Zimbabwe e Suazilândia) foram
categorias de mercados emissores estraté-
identificados como mercados de foco se-
gicos emergiram: (1) mercados naturais (ba-
cundários.
seados em proximidade e sinergia cultural Visão do Turismo
para o Futuro 55

Figura 9 – Carteira de Mercados Emissores Estratégicos para Moçambique


4.7. Conjugação de Produtos os impulsionadores de demanda para os
mercados domésticos, regionais e interna-
e Mercados cionais, os seguintes mercados estratégicos
Combinando os mercados de nicho estra- emergem para Moçambique:
tégicos, mercados emissores estratégicos e

Tabela 11 – Segmentos de Mercado Estratégicos para Moçambique

Mercado estratégico Critérios de selecção Mercados Emissores


Mercados naturais Proximidade e sinergia cultural forte Mercado doméstico, África do
Sul, Portugal, Zimbabwe,
Suazilândia
Mercados de nicho Países emissores estratégicos para Áfri- Espanha, Itália, Reino Unido, EUA,
estratégicos ca do Sul que tem um potencial alto para Alemanha, Países Baixos
produtos de nicho estratégicos
Mercados de sinergia emer- Mercados emissores em desenvolvimen- Brasil, Arábia Saudita e UAE e
gentes to com uma forte sinergia cultural com Angola
Moçambique

Os mercados “naturais” primários são o volvimento e marketing de ligações bush-


mercado doméstico, a África do Sul e Por- beach entre estes países também serão ins-
tugal. A África do Sul e Portugal represen- trumentos importantes.
tam, actualmente, quase 75% das chegadas Os países sul-europeus, Itália e
totais e espera-se que continuem a domi- Espanha, também são incluídos nesta ca-
nar o mercado a curto e médio prazo. A tegoria. Só que a abordagem para estes
56 Suazilândia e o Zimbabwe, como resultado países será ligeiramente diferente da dos
da sua proximidade e as tendências para outros países e concentrar-se-á no merca-
Plano Estratégico um aumento intra-regional em viagens re- do de alto rendimento de sol, praia e mar.
para o Desenvolvimento presentam os mercados “naturais” secun- A procura nestes países será direccionada
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013)
dários. Dada a corrente situação económi- para o lazer, principalmente concentrada
ca e política no Zimbabwe, esforços espe- em turismo de praia exclusivo e de interes-
cíficos para desenvolver este mercado terão se especial, incluindo desportos aquáticos
que ser adiados até à recuperação econó- (pesca de alto mar e mergulho), eco-turis-
mica deste país. A procura a partir deste mo e cultura.
mercado cingir-se-á aos segmentos de lazer, Como uma última categoria foram iden-
visita de amigos e familiares e ao sector de tificados os mercados emergentes com uma
negócio, enquanto, para a África do Sul, os forte sinergia cultural com Moçambique. O
produtos seleccionados de nicho, principal- Brasil emerge como um mercado de alto po-
mente baseados na praia e mar como a tencial devido às similaridades em cultura
pesca de alto mar e o mergulho, serão im- e língua entre os dois países. A Arábia
portantes e determinantes. Saudita e os EAU devem-no à proximidade
Uma abordagem específica do marketing relativa de Moçambique e à afinidade reli-
de nicho será adoptada para os mercados giosa (muçulmana).
emissores seleccionados que sejam estra- A figura abaixo apresenta graficamente
tégicos para a África do Sul e tenham um os três segmentos de mercado estratégicos,
potencial forte para os produtos de nicho os seus impulsionadores de procura e os
estratégicos de Moçambique. A oferta de mercados emissores principais dentro de
pacotes de produtos da África do Sul e de cada segmento.
Moçambique (product packaging) e o desen-
Figura 10 – Segmentos de Mercado Estratégicos para Moçambique

4.8. Factores de Base volvimento do sector, muitos destes facto-


res, tais como a infra-estrutura e a estabili- Visão do Turismo
Um sector de turismo saudável só pode dade e segurança, não são da responsabi- para o Futuro 57
emergir em países com um nível básico de lidade directa da administração nacional de
provisão de infra-estruturas e serviços. Esta turismo, o que torna o turismo vulnerável
indústria depende muito das infra-estrutu- ao desempenho noutros sectores. Também
ras sócio-económicas do país. Daí que se- demonstra que o sector do turismo deve
jam exigências para o desenvolvimento do ser uma prioridade nacional, em que a in-
turismo a provisão e qualidade mínima de tervenção intersectorial é imprescindível
infra-estruturas, o conhecimento (estatísti- para garantir que seja assegurada a aten-
cas de turismo, migração, o impacto econó- ção apropriada e sejam devidamente aten-
mico de turismo, pesquisa de mercado, didos todos os factores de base.
etc.), os recursos humanos e um quadro Assim, constitui responsabilidade da
institucional adequado (leis, governação, administração nacional de turismo a iden-
cooperação sectorial), a estabilidade, a se- tificação das exigências de desenvolvimen-
gurança e os recursos financeiros. to mínimas e a cooperação com outros sec-
Na realidade, sem esta combinação tores para que todos esses factores de base
harmoniosa dos factores acima menciona- para o desenvolvimento do turismo sejam
dos, o desenvolvimento de turismo será contemplados nos seus programas e, assim,
efectivamente impossível. Negligenciar um contribuam para o estabelecimento de pla-
ou mais destes factores de base é conde- nos nacionais.
nar a partida o desenvolvimento harmoni- A constante actualização desses facto-
oso do sector que poderá conhecer efeitos res de base é considerada uma prioridade
desastrosos na realização desordenada de e o Plano Estratégico para o Desenvolvi-
empreendimentos turísticos sem a correc- mento de Turismo aborda, no quadro da
ta interligação com os programas e objecti- implementação, as exigências que o sector
vos traçados pelo Governo. do turismo coloca para cada um dos facto-
Embora sejam essenciais para o desen- res básicos acima referenciados.
Figura 11 - Factores de Base para o Desenvolvimento do Turismo

58
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013)
5 Processos
Fundamentais
de Implementação
5. Processos Fundamentais de Implementação
Emergem três processos estratégicos de 2) Desenvolvimento de produtos: Melho-
implementação que atravessam os factores rar os produtos e serviços de turismo
críticos de sucesso, o desenvolvimento de existentes e desenvolver novos produ-
factores de base e o uso das forças de re- tos e serviços.
cursos de Moçambique, que guiarão as es- 3) Marketing: Melhorar os esforços de
tratégias futuras para desenvolver marketing para criar consciência, aplican-
Moçambique como actor internacional em do princípios de marketing adequados e
turismo: inteligentes focalizados em mercados
1) Planificação integrada: Implementar emissores e nichos estratégicos selec-
princípios sustentáveis nos processos cionados, e no mercado doméstico.
de planificação de terra e na planifica-
ção e coordenação organizacional e fi- Estes três processos são “os processos-cha-
nanceira, que conduzam à um cresci- ve da implementação” e devem ser reali-
mento controlado e responsável do tu- zados concomitantemente.
rismo.

Figura 12 – Processos-Chave de Implementação para o Desenvolvimento do Turismo em


Moçambique

60
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013)

5.1. Enfoque e Quadro mo tempo. O turismo é, por natureza, es-


pacial, neste sentido estão identificada três
Espacial do Turismo plataformas para o seu desenvolvimento,
Moçambique tem potencial para se desen- nomeadamente (1) as Áreas Prioritárias para
volver como destino turístico de classe Investimento em Turismo (APITs), (2) as Áre-
mundial. Porém, encontra-se ainda numa as de Conservação Transfronteira (ACTFs )
fase embrionária de desenvolvimento com e as Áreas de Conservação (ACs), e (3) as
muitos constrangimentos por ultrapassar. Rotas de Turismo. Há, de algum modo,
Os recursos humanos e financeiros e a ca- sobreposição entre estas três plataformas.
pacidade institucional são bastante limita- Por exemplo, algumas APITs cobrem intei-
dos, o que torna praticamente impossível ramente partes de uma ACTF ou Áreas de
o desenvolvimento do país inteiro ao mes- Conservação.As primeiras duas (APITs e
ACTFs ) são indicadas como “destinos”. As ligações entre os destinos formam a
Contudo, um destino tem duas carac- última plataforma para a implementação
terísticas fundamentais: ter uma atracção deste Plano Estratégico. Estas ligações são
suficiente, por exemplo na forma dos recur- as rotas que ligam os vários destinos. As
sos naturais, e ter uma provisão básica de rotas são estabelecidas de um modo lógi-
infra-estruturas e serviços, como acesso, co, formando circuitos de turismo que de-
acomodação, lojas, actividades, etc. Todas terminam ligações entre os diferentes des-
as APITs, ACTFs e Áreas de Conservação tinos turísticos do país. A ligação entre as
estabelecidas no plano possuem os requi- ACTFs, APITs e Rotas acontece a nível regi-
sitos referentes ao factor atracção, mas pou- onal, criando, assim, três agrupamentos de
cos garantem uma oferta básica de infra-es- destinos ou circuitos turísticos: sul, centro
truturas e serviços. De acordo com a defini- e norte.
ção acima feita, nem todas as APITs, ACTFs Por outro lado, para se desenvolver o
e Áreas de Conservação são efectivamente Turismo, um segundo conceito crucial deve
destinos, mas porque eles constituem os ser adoptado para guiar o marketing e para
futuros destinos do país, são assim consi- posicionar o país, bem como para o quadro
derados, no contexto deste Plano Estraté- institucional de governação do sector, é o
gico. de “Regiões de Moçambique”.

Figura 13 – Elementos do Quadro Espacial de Moçambique

Processos Fundamentais
de Implementação 61

5.2. As Regiões de cada uma a sua própria identidade, forças


de recursos, prioridades de desenvolvi-
Moçambique mento e parceiros regionais.
O país é muito vasto e diverso e não pode As áreas de “enfoque espacial” e as “Re-
ser considerado e administrado como um giões de Moçambique” são plataformas es-
único destino. As três regiões de paciais para a implementação do “PEDTM”.
Moçambique, o sul, o centro e o norte têm
Quadro 8 - Perfis Regionais de Moçambique

Sul de Moçambique: Províncias de Maputo, Maputo Cidade, Gaza, Inhambane. Mercados


regional/domestico: sol, praia e mar e desportos aquáticos. Mercado internacional: nichos -
mergulho, eco-turismo e cultura.
O sul de Moçambique continuará a ser caracterizado como destino principal para os mercados regionais
e domésticos, com ênfase em sol, praia e mar, férias de família, desportos aquáticos, entretenimento. O sul
também se posicionará como destino para o mercado internacional, mas com enfoque nos produtos de
nicho e “ícones” da região. Actividades fundamentais são mergulho e safaris oceânicos com objectivo de
apreciar “as grandes espécies marinhas”. Os ícones do sul são: ACTF de Limpopo (eco-turismo), Reserva
de Elefantes de Maputo (eco-turismo), Bazaruto (sol, praia e mar exclusivo) , Inhambane (cultura e mergu-
lho) e Maputo (cultura e entretenimento).

Centro de Moçambique: Províncias de Sofala, Manica, Tete Abordagem de Nicho de eco-


turismo para todos mercados geográficos.
Mercados regional e doméstico: negócios e comércio e sol, praia e mar (Zimbabwe).
O centro é caracterizado pela sua riqueza em oportunidades de eco-turismo e aventura. “Ícones” como
Chimanimani, Cahora Bassa e Gorongosa têm de ser desenvolvidos e posicionados principalmente para
os mercados internacionais e regionais. Actividades fundamentais para o marketing e para o simultâneo
desenvolvimento de produto são caminhada (hiking), pesca nos rios e lagos, observação de pássaros e
caça. Esta região atrairá principalmente as viajantes de aventura independentes (incluindo backpackers) e
overlanders. Para os mercados doméstico e regional próximos (Zimbabwe), “negócios e comércio”, “sol,
praia e mar” são de importância secundária.

Norte de Moçambique: Províncias de Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia. Destino


exclusivo para segmentos de alto rendimento. Destino exclusivo de praia, ilhas e eco-turis-
mo com uma influência forte de cultura.
O norte de Moçambique será um destino ímpar do país. Daí que as iniciativas de marketing e o desenvol-
62 vimento do produto devem destacar o carácter exclusivo e selvagem da região. “Estâncias turísticas”
pequenas e ímpares surgirão ao longo da costa e ilhas de Cabo Delgado e Nampula. Os “ícones” fortes da
Plano Estratégico região são Pemba, o Parque Nacional e o Arquipélago das Quirimbas, a Ilha de Moçambique, a Reserva de
para o Desenvolvimento Niassa e o Lago Niassa. Eco-turismo exclusivo (aventura, observação de pássaros, caça, actividades de
do Turismo em Moçambique lago) pode ser desenvolvido, principalmente nas áreas remotas do Niassa e Cabo Delgado.
(2004 - 2013)

5.3. Definição de Áreas conhecimento profundo do local, e tem


como alicerces a Política de Turismo, as pri-
Prioritárias para oridades nela definidas e a experiência
Investimento no internacional e regional na planificação e de-
senvolvimento do turismo.
Turismo Os critérios para a identificação das áre-
A priorização das áreas de desenvolvimen- as foram desenvolvidos em sessões de tra-
to do turismo constituiu sempre uma preo- balho com uma variedade de intervenientes
cupação dos governos, incluindo no perío- do sector aos níveis nacional, provincial e
do da administração colonial. Contudo, distrital. Tais critérios são:
nota-se que as zonas, outrora definidas em • Distância – a área deveria estar a uma dis-
diferentes períodos, eram tendencialmente tância de 3 horas ou menos por estrada a
muito amplas para servirem de base para partir de um ponto de entrada aéreo;
um processo da planificação realista, num • Máximo potencial do produto e marketing
ambiente marcado pela disponibilidade li- – parques marinhos, locais de património
mitada de recursos e sem definição clara mundial, parques nacionais, Áreas de Con-
das responsabilidades relativamente à servação Transfronteira (ACTFs), águas in-
implementação. A priorização continua a ser teriores significativas, centros de comér-
uma necessidade. Assim sendo, desenvol- cio e investimento, portos, praias de qua-
veu-se uma metodologia para dar substân- lidade, diversidade biológica, “ícones”
cia à priorização. Esta metodologia é con- turísticos existentes e potenciais;
sultiva, científica e prática e baseia-se num
• Densidade populacional – o nível da veis gerais de desenvolvimento sócio-eco-
densidade populacional constitui um nómico e de infra-estruturas não estão dis-
factor de influência sobre o tipo de es- tribuídos de forma igual ao longo do país.
tâncias e destinos a desenvolver; Algumas APITs, especificamente no sul, já
• Infra-estruturas e acesso – níveis de alcançaram níveis significativos de desen-
infra-estruturas existentes ou planifica- volvimento, enquanto outras, especialmen-
das, particularmente no que respeita a te em áreas remotas de difícil acesso, ain-
facilidades por via terrestre e aérea; da estão relativamente pouco desenvolvi-
das. Serão necessárias estratégias
• Acomodação – volume e qualidade diferentes para guiar o desenvolvimento de
existente e planificado de alojamento; turismo nas várias APITs, com característi-
• Agrupamento – a lógica da associação cas quase opostas de turismo e de desen-
de atracções de alojamento com atrac- volvimento sócio-económico. Neste contex-
ções turísticas que permita que sejam to, para facilitar a implementação e classi-
acessíveis a partir de um centro comum; ficação, foi adoptada neste Plano
• Ligação com iniciativas económicas na- Estratégico uma abordagem dual para lidar
cionais – a ligação existente ou poten- com os vários tipos de APITs, baseada nos
cial com as principais iniciativas níveis existentes de desenvolvimento de
sectoriais nacionais e regionais com turismo, acesso e desenvolvimento sócio-
mais impacto económico e ambiental económico de cada APIT.
(por exemplo, iniciativas de desenvol- A APIT do tipo “A” é aquela que possui
vimento espacial (IDEs), ACTFs, Corre- já um certo nível de desenvolvimento de
dores de Desenvolvimento, etc.); e turismo e infra-estrutura de turismo. Estas
áreas já atraíram investimento em turismo,
• Áreas estratégicas – áreas de importân- ou têm merecido um grande interesse por
cia estratégica nacional do ponto de vis- parte dos investidores, havendo uma gran-
ta do desenvolvimento do produto, do de variedade de opções de acomodação e Processos Fundamentais
mercado e/ou das infra-estruturas. produtos existentes. Os níveis de provisão de Implementação 63
Os critérios foram medidos e mapeados de infra-estrutura e a quantidade e quali-
usando Sistemas de Informação Geográfi- dade de produtos estão muito longe da
ca (GIS) e os resultados são: o mapa sobre perfeição, mas já existe um mínimo de faci-
o “Potencial Estético Total do Turismo”, lidades. Prioridades nestas áreas apontam
que mostra as características físicas do país para um desenvolvimento controlado, para
como elevação, uso de terra, cobertura de a integração de planos de desenvolvimen-
terra, recifes corais, etc.; o mapa que ava- to entre sectores, o desenvolvimento de
lia o potencial turístico do país baseado recursos humanos e a necessidade de
em critérios infra-estruturais e outras de ca- marketing dos produtos existentes.
rácter antropológico, como população, As APITs tipo “B” são áreas que foram
infra-estrutura, electricidade, acomodação seleccionadas como Áreas Prioritárias, prin-
existente, etc. As áreas mais escuras neste cipalmente por causa do seu elevado po-
mapa representam as áreas com maior tencial de turismo ou da sua localização
potencial do turismo. estratégica, mas que efectivamente ainda
não têm nível significativo de desenvolvi-
mento do turismo. Muitas destas áreas são
5.4. Abordagem Dual para o de acesso difícil, com baixos níveis de pro-
Desenvolvimento de visão de infra-estruturas e serviços e os ní-
veis de desenvolvimento sócio-económico
Destinos Turísticos são, em geral, modestos. As prioridades
As APITs, as ACTFs e as ligações entre elas, para estas áreas apontam para a melhoria
as rotas, são consideradas o veículo fun- de infra-estruturas, planificação integrada
damental para a implementação deste Pla- e promoção de investimento.
no Estratégico para o desenvolvimento do Esta abordagem dual para o desenvol-
turismo. vimento de destinos turísticos guiará a
Há que notar aqui que os níveis de de- estruturação adicional do Plano Estratégi-
senvolvimento turístico, assim como os ní- co para o Desenvolvimento do Turismo.
Figura 14 - Abordagem Dual para o Desenvolvimento de APITs

As APITs são indicadas no mapa com um e permitir o desenvolvimento de activida-


círculo simbólico. Uma demarcação da área des em cada APIT.
real dentro de cada APIT através de pro- As APITs identificadas constituirão os
cessos provinciais de planificação, determi- pontos focais para planificação e alocação
nará a forma final de cada uma. Os tama- dos recursos do turismo. O objectivo é cri-
nhos e formas finais podem variar entre as ar centros de excelência e modelos de pla-
64
APITs. Nesta fase, as APITs ainda se encon- nificação, investimento e sustentabilidade
Plano Estratégico tram numa fase conceptual, devendo a fase do turismo que serão reaplicados no resto
para o Desenvolvimento de implementação dar vida à forma actual do país.
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013)
Figura 15 – Potencial estético para turismo

Elevação
+
Fisiografia
+ Processos Fundamentais
Cobertura da Terra de Implementação 65
+
Uso da Terra
+
Vegetação
+
Áreas Protegidas
+
Importantes Rios
+
Zona Costeira
+
Recifes de Coral
Figura 16 – Acessibilidade e Infra-estruturas do Turismo

Densidade Populacional
+
Turismo Existente
66 +
Electricidade
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento +
do Turismo em Moçambique Iniciativas de Desenvolvimento Espacial
(2004 - 2013) +
Infra-estrutura

Condição de Accessibilidade nos Aeroportos Internacionais

Infra-estruturas Disponíveis para o Turismo


Baixa

Moderada

Alta

O quadro seguinte resume as APITs timento em Turismo. Dezoito áreas foram


identificadas e estabelece directrizes gerais identificadas como APIT; três áreas como
em relação ao tipo de produtos e segmen- APIT tipo “A”, destinos existentes; cinco áre-
tos de mercado que cada APIT pretende as como APIT tipo “A/B”, destinos com um
desenvolver. limitado nível de desenvolvimento de tu-
O mapa seguinte combina os aspectos rismo; e dez áreas como APIT tipo “B”, des-
estéticos e infra-estruturais num mapa úni- tinos com um alto potencial turístico, mas
co. Este mapa é usado como a base para não desenvolvidos.
identificar as Áreas Prioritárias para Inves-
Fugura 17 – Áreas prioritárias para investimento do turismo

APIT’s Tipo ‘A’


2. Zona de Grande Maputo Processos Fundamentais
6. Zona Costeira de Inhambane de Implementação 67
7. Zona de Vilanculos/Bazaruto
APIT’s Tipo ‘A/B’
1.Zona de Costa de Elefantes
3.Zona Costeira de Xai-Xai
8. Zona de Turismo de Sofala
14. Zona de Ilha de Moçambique/Nacala
15. Zona de Pemba/Quirimbas
APIT’s ‘B’
4.Zona de Limpopo – Massingir
5.Zona de Limpopo – Mapai
9. Zona de Turismo de Gorongosa
10. Zona de Turismo de Manica
11. Zona de Tur. de Cahora Bassa
12. Zona de Gilé/Pebane
13. Zona de Turismo de Guruè
16. Zona de Norte de Cabo Delgado
17. Zona de Lago de Niassa
18. Zona de Reserva de Niassa
Tabela 12 – Áreas Prioritárias para Investimento em Turismo (APITs)

Áreas Prioritárias para Investimento em Turismo (APITs)


Destinos existentes (Tipo A)
Zona Tipo Nome & Local Produtos Chave Segmentos de mercado
2 A Zona do Grande Maputo – in- Turismo urbano e de Negócios domésticos, regio-
clui Maputo Cidade, Marracuene negócios nais e internacionais
e Inhaca Sol, praia e mar Trânsito e lazer internacional
Cultura e VFR (amigos e familiares),
Eco-turismo Lazer doméstico e VRF
6 A Zona Costeira de Inhambane Sol, praia e mar Lazer doméstico
– de Inharrime até Massinga, na Desportos aquáticos Lazer regional e internacional
Província de Inhambane Cultura Interesses especais
Backpackers
7 A Zona de Bazaruto Vilanculos Eco-turismo costeiro Lazer internacional
– inclui o Arquipélago do Sol, praia e mar Lazer regional
Bazaruto e a costa de Vilankulos Desportos aquáticos
até Inhassoro, na Província de
Inhambane

Destinos existentes com desenvolvimento limitado (Tipo A/B)


Zona Tipo Nome & Local Produtos Chave Segmentos de mercado

1 A/B Zona de Turismo da Costa Eco-turismo costeiro Lazer regional e doméstico


dos Elefantes – a zona costei- Desportos aquáticos Lazer internacional de nicho e
ra entre Catembe e Ponta do Sol, praia e mar de alto rendimento
Ouro na Província de Maputo
3 A/B Zona Costeira de Xai Xai – a Sol, praia e mar Lazer regional
68 zona costeira de Bilene até ao Desportos aquáticos Lazer doméstico
Lago Chidenguele, na Província Cultura
Plano Estratégico
de Gaza
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique Zona de Turismo de Sofala – Turismo urbano
8 A/B MICE e negócios doméstico e
(2004 - 2013) inclui Beira, Sofala e a zona cos- Sol, Praia e mar regional
teira de Savane em Província de Cultura, eco-turismo Lazer doméstico
Sofala litoral Lazer regional
14 A/B Zona da Ilha de Moçam- Cultura Nichos de lazer internacional
bique – Nacala - de baía de Sol, praia e mar Lazer regional
Macambo no sul até à Baia de Desportos aquáticos
Memba, no norte da Província
de Nampula

15 A/B Zona de Pemba – Quirimbas Sol, praia e mar Nichos de lazer internacional
– de baía de Pemba, até à Ilha Desportos aquáticos Lazer regional
de Matemo e os parques mari- Cultura
nho e terrestre do Parque Na- Eco-turismo
cional das Quirimbas, na Pro-
víncia de Cabo Delgado
Destinos emergindo (Tipo B)
Zona Tipo Nome & Local Produtos Segmentos de mercado
Fundamentais

4 B Zona do Limpopo Massingir - Eco-turismo, Lazer doméstico e regional


inclui a vila de Massingir, a albu- Aventura MICE doméstico e regional
feira de Massingir e o parte sul Interesses especiais Lazer internacional
do Parque Nacional do Limpopo, Desportos aquáticos Nichos de eco-turismo
na Província de Gaza
Cultura
5 B Zona do Limpopo Mapai - na Eco-turismo,Aventu- Lazer doméstico
Província de Gaza, na zona norte ra Lazer regional e internacional
do Parque Nacional do Limpopo Interesses especiais Nichos de eco-turismo
9 B Zona de Turismo de Gorongosa E c o - t u r i s m o Lazer internacional e doméstico
- Inclui o Parque Nacional e a Observação de pás- Nichos de eco-turismo
Montanha de Gorongosa saros
10 B Zona de Turismo de Manica - Eco-turismo Backpackers e overlanders
inclui Manica, Chicamba e o parte Aventura Nichos de eco-turismo
norte de reserva de Chimanimani, Cultura
na Província de Manica Interesses especiais
11 B Zona de Turismo de Cahora Eco-turismo Nichos de eco-turismo
Bassa - inclui Songo, partes da al- Aventura Backpackers e overlanders
bufeira Cahora Bassa e a área co- Interesses especiais Interesses especiais
munitária de turismo de Tchuma
Cultura
Tchato, na Província de Tete

12 B Zona de Turismo da Reserva Eco-turismo Mercado de lazer doméstico


do Gilé–Pebane – inclui a reser- Sol, praia e mar Nichos internacionais
va de Gilé e a zona costeira de Cultura
Pebane, na Província da Zambézia. Processos Fundamentais
Interesses especiais 69
de Implementação
13 B Zona de Turismo do Guruè – Aventura Lazer doméstico
zona de Gurué na Província da Eco-turismo Nichos internacional e regional
Zambézia Cultura
Zona Costeira do norte de Sol, praia e mar Lazer internacional
16 B
Cabo Delgado - inclui Palma e Desportos aquáticos Lazer regional
Mocímboa da Praia até a frontei- Cultura Interesses especiais
ra com Tanzânia no norte da Pro-
víncia de Cabo Delgado
17 B Zona de Turismo do Lago Eco-turismo Lazer internacional
Niassa - inclui as margens do Desportos aquáticos Lazer regional
lago de Metangula até Cóbuè e a Eco-turismo Interesses especiais
zona leste de Manda Wilderness,
Cultura
na província de Niassa

18 B Zona da Reserva do Niassa Interesses especiais Nichos de eco-turismo interna-


– a reserva e blocos de caça de cionais
Reserva de Niassa na Província
do Niassa

5.5. Desenvolvimento de mento do turismo. Baseia-se na ideia de


que há um grupo de produtos que ofere-
Rotas e Circuitos cem diversidade de experiências e é mais
Estratégicos do Turismo atractivo do que as suas componentes in-
dividuais. A Caixa 10 explica algumas razões
por que as rotas são importantes.
5.5.1. Importância das Rotas O desenvolvimento de rotas é também
A identificação e a promoção de rotas cons- extremamente importante porque além de
titui um poderoso conceito no desenvolvi- estabelecerem uma ligação espacial entre
produtos diversos, também reforçam a As rotas fornecem as ligações entre as
atenção sobre potenciais atracções que po- APITs e destinos, mas também são elemen-
deriam ser perdidas por turistas que plani- tos essenciais do quadro espacial do turis-
ficam, de forma independente, os seus iti- mo. Geralmente, as rotas unem tanto os
nerários. As rotas podem também consti- espaços, como as experiências.
tuir um instrumento forte de marketing, pois Foram identificados dois tipos de ro-
proporcionam opções para oferecer paco- tas, nomeadamente: Corredores de Trans-
tes que podem ser concebidos especifica- porte Primários e Rotas Turísticas ou Jorna-
mente em função dos interesses de um cli- das do Visitante.
ente.

Quadro 9 – O Valor das Rotas de Turismo

• Os turistas nem sempre optam pela rota mais curta e mais rápida, mas tendem a equilibrar o
“esforço de lá chegar” com a qualidade da experiência e segurança.
• A planificação e promoção adequadas de rotas pode influenciar e mudar os padrões de viagem dos
turistas.
• Rotas não se aplicam apenas às estradas. Rotas férreas, aéreas e marítimas são componentes
integrais para transportar turistas de um destino para outro.
• Rotas podem constituir uma plataforma credível para o marketing e o controlo de qualidade de
operadores turísticos. Bons exemplos são as famosas rotas na África.

É importante notar que as rotas não se apli- 5.5.2. Corredores Primários


cam apenas às estradas. Rotas ferroviárias,
Os corredores primários oferecem a rota
70 aéreas e marítimas são componentes inte-
mais curta e mais conveniente entre o pon-
grais para transportar turistas de um desti-
to A e B. Os corredores, apresentados na
Plano Estratégico no para outro. Por exemplo, em
para o Desenvolvimento
Tabela 11, foram identificados como sendo
Moçambique, o acesso aéreo entre as áre-
do Turismo em Moçambique os mais urgentes para o desenvolvimento
as prioritárias e as ligações aéreas entre os
(2004 - 2013) geral de Moçambique. Estes corredores são
destinos nacionais e regionais são tão im-
principalmente rotas existentes de trans-
portantes como a estrada devido ao redu-
porte e de negócios. A acessibilidade das
zido tempo que consome e à eficiência de
atracções e infra-estruturas vai começar a
custos, o estado inicial de desenvolvimen-
dar forma aos padrões de consumo,
to e a capacidade para abrir novos desti-
centrando-se assim no turismo. Os corredo-
nos a longo prazo. Em vez de limitar o al-
res são também importantes rotas de aces-
cance das rotas para um único produto ou
so e de abastecimento para Moçambique a
tema, as rotas deverão integrar diferentes
partir dos países vizinhos.
produtos e expor os visitantes à uma diver-
sidade de experiências.

Tabela 13 – Corredores Primários de Transporte em Moçambique

Corredores primários de transporte

• N4 (Corredor de Maputo): Joanesburgo – Maputo • Corredor de Tete: Tete – Malawi


• EN1(Rota Costeira): Maputo – Beira • Corredor de Nacala: Nacala – Lilongwe
• EN6 (Corredor da Beira): Beira – Harare

5.5.3. Rotas Turísticas maiores atracções do país.


Este tipo de pontos turísticos satisfaz
As rotas de distribuição secundária repre-
uma função de três componentes, na me-
sentam as rotas turísticas ou “jornadas do
dida em que permite a edificação de uma
visitante” entre os pontos de entrada e as
massa crítica do produto turístico, introduz podem percorrer, de acordo com o tempo
o turista numa experiência mais ampla de e orçamento disponível e os seus interes-
Moçambique e cria oportunidades econó- ses, parte de uma rota ou circuito. A maio-
micas em áreas populacionais. As Rotas são ria das rotas turísticas em Moçambique
“jornadas do visitante” a nível nacional e os pode fazer parte de circuitos turísticos re-
Circuitos são “jornadas do visitante” a ní- gionais.
vel regional (entre países) em movimentos A Tabela 14 apresenta as rotas propos-
relativamente circulares. Os turistas não tas que deveriam ser desenvolvidas e pro-
têm necessariamente que seguir uma rota movidas dentro do prazo proposto neste
ou circuito desde o início até ao fim, mas Plano Estratégico.

Figura 18 - Rotas Turísticas e Circuitos de Turismo

Processos Fundamentais
de Implementação 71

Rotas do Sul
Rota de Libombo ou da Costa dos Elefantes
Rota de Costa das Lagoas
Rota de Limpopo
Rota da Selva-Praia
Rotas do Centro
Rota de Aventura Moçambique/Zimbabwé
Rota de Aventura Moçambique/Malawi
Triângulo de Eco-Turismo (Marromeu,
Gorongosa, Chimanimani)
Rota de Lagos (Chicamba, Cahora Bassa)
Rotas do Norte
Rota da Costa e Cultura
Rota da Coast Swahili (Moçambique/Tanzania)
Rota do Lago-Costa
Tabela 14 – Rotas Turísticas Nacionais e Circuitos de Turismo Regionais

Rotas Turísticas do Sul


Circuito de Libombos Kosi Bay (AS) - Santa Lúcia (SA) - Ponta do Ouro – Reserva
de Elefantes de Maputo – Maputo – Namaacha – Suazilândia
Uma experiência única que combina praia, selva, património,
desportos aquáticos, diversidade cultural, beleza de paisagem,
actividades de interesse especial une Moçambique, Suazilândia
e África do Sul.
Rota da “Costa das Lagoas” Ponta do Ouro – Reserva dos Elefantes de Maputo – Mapu-
(interior/costa) to - Xai-Xai – Inhambane – Vilankulos
Uma Rota da zona costeira sul de Moçambique que começa
em Maputo ou mesmo na fronteira África do Sul/Moçambique,
na Ponta do Ouro, e vem pela costa acima até Vilankulos/
Arquipélago do Bazaruto. Esta Rota centra-se sobre o eco-
turismo da zona costeira e liga os vários lagos da costa sul.
ARota associa beleza de paisagem, praia, desportos aquáti-
cos, ecossistemas e flora e fauna diversos (dunas e florestas
de areia, lagos costeiros, aves, tartarugas, vida marinha, etc.)
Circuito bush-beach do Grande Limpopo (Joanesburgo) – Nelspruit - Parque Nacional de Kruger –
Parque Nacional de Limpopo – (Pafuri – Parque Nacional de
Gonarezhou (Zim) – Mapai) – Parque Nacional de Banhine -
Parque Nacional de Zinave -Vilankulos – Bazaruto –Inhambane
– Xai-Xai – Bilene – Maputo
Uma rota excitante que reúne eco-turismo, cultura e costa.
Capitaliza em fluxos existentes no KNP. Para muitos turistas
internacionais isto representará umas “férias de sonho” que
liga o parque maior do mundo com as praias lindas e ilhas
tropicais de Moçambique. Partida em RSA (Joanesburgo ou
Nelspruit) ou seguir em sentido contrário, começando em
72 Maputo.
Maputo – Bilene – Chokwe – Massingir – Parque Nacional
Plano Estratégico Rota do Lipompo
para o Desenvolvimento de Limpopo - Parque Nacional de Kruger (RSA) - Malelane –
do Turismo em Moçambique Komatipoort - Ressano Garcia – Maputo
(2004 - 2013) Uma versão do Circuito do Grande Limpopo mais consoli-
dada. Esta rota permite uma relativamente rápida inclusão de
Moçambique no turismo regional e fornece ao visitante, de-
pois de saborear a praia, um acesso directo ao Parque
Transfronteiriço do Grande Limpopo. Estabelece-se que seja
uma rota circular com início e fim em Maputo.
Rotas Turísticas do Centro
Rota de aventura Moç/Zim Inhambane – Vilanculos – Gorongosa – Albufeira de Chicamba
– Manica – Chimanimani –Zimbabwe
Virada para o mercado de backpackers e “viajantes de aven-
tura”, a região centro já é uma “rota de passagem” a partir
das praias moçambicanas para o interior de África. O desafio
consiste em fornecer uma massa crítica de atracções já pron-
tas para o mercado e facilidades e amenidades de turismo de
modo a alargar o tempo de permanência. Devem ser criadas
ligações estratégicas que comecem a aproximar atracções
locais fortes aos itinerários dos visitantes , como é o caso de
Gorongosa e Chimanimani.A Rota Moç/Zim começa nas prai-
as do sul de Moçambique e liga os destinos eco-turísticos ao
longo do corredor da Beira com o interior do Zimbabwe via
Machipanda/Murare.
Rota de aventura Moç/Malawi Inhambane – Vilanculos – Gorongosa – Albufeira de Chicamba
– Cahora Bassa – Tchuma Tchato – Malawi
Tal como acima, mas centrando-se na passagem para o Malawi
com ênfase nos destinos de eco-turismo de Cahora Bassa e
Thcuma na Província de Tete.
Rota de Eco-turismo do centro Beira – Reserva de Marromeu – Parque Nacional de Gorongosa
– Montanha de Gorongosa – Chimoio – Reserva de
Chimanimani – Albufeira de Chicamba – Manica – Beira
Uma rota circular que combina os destaques de eco-turis-
mo das províncias de Sofala e Manica. Rica em aves e opor-
tunidades de hiking, esta rota atrairá entusiastas de eco-tu-
rismo.
Rota de Lagos do centro Beira – Albufeira de Chicamba – Chimoio – Tete – Cahora
Bassa – (Malawi –Lago Niassa)
Uma rota focalizada em eco-turismo que combina os “gran-
des lagos da região centro” e do norte (Lago Niassa).A albu-
feira de Chicamba é conhecida pelo peixe tilapia gigantesca,
Cahora Bassa e famosa pela abundância e tamanho do peixe
tigre. Esta viajem pode ser estendida até ao Lago Niassa, que
representa oportunidades magníficas para mergulhar na água
doce.
Rotas Turísticas do Norte
Rota de “Costa e Cultura” Nampula/Nacala - Ilha de Moçambique – Pemba – Quirimbas
A única rota de curto prazo no norte que liga a Ilha de
Moçambique, património mundial da UNESCO, com as prai-
as tropicais, ilhas virgens, águas quentes e recursos marinhos
ricos e vários. As oportunidades de eco-turismo nas
Quirimbas e a experiência cultural de ilha do Ibo completam
esta jornada de descoberta dos tesouros do norte de
Moçambique.
Costa de “Shawili” Zanzibar – Bulawayo – Pemba (Tan) - Mtwara (Tan) – Palma
– Mocímboa da Praia – Quirimbas – Pemba
Uma oportunidade de longo prazo que liga as experiências
costeiras de Moçambique e da Tanzânia. O sucesso depende Processos Fundamentais
do desenvolvimento da APIT do norte em Cabo-Delgado, o de Implementação 73
Corredor de Mtwara e o Circuito do sul da Tanzânia. A cul-
tura dos povos da região e a rica tradição e história de co-
mércio, as lindas praias e as oportunidades de desportos
aquáticos constituem os elementos-chave desta rota.
Rota “Lago-a Costa” Pemba – Quirimbas – Reserva de Niassa – Lago Niassa
Uma rota de longo prazo que liga as águas quentes do Índico
às águas doces do Lago Niassa. Uma versão consolidada des-
ta rota, Pemba – Reserva de Niassa, ligando as praias tropi-
cais de Cabo Delgado com a selva absoluta do Niassa já está
a funcionar, principalmente para caçadores e outros merca-
dos de nichos. Actualmente existem constrangimentos rela-
tivamente à infra-estrutura e será necessário fazer impor-
tantes investimentos em estradas e tráfico aéreo.
Descoberta do norte Nacala/Ilha de Moçambique – Corredor de Nacala – Nampula
– Gurue – Cuamba – Lichinga – Metangula – Reserva de
Niassa – Palma – Quirimbas –Pemba – Nacala
Uma rota circular que liga todas as APITs do norte.As vastas
distâncias e a falta de infra-estrutura vai exigir uma rede aé-
rea entre as APITs. A rota deve juntar cultura, praia e vida
selvagem.

Cada rota varia em termos de extensão, tem- car as suas necessidades às autoridades de
po de viagem e infra-estrutura disponível. transporte e obras públicas para considera-
Contudo, o reconhecimento da oportunida- ção e tomada de decisões relacionadas com
de destas rotas permite ao turismo comuni- a provisão de estradas e infra-estruturas.
6 Implementação
do Plano
Estratégico
6. Implementação do Plano Estratégico

6.1. Quadro de • Força dos Recursos

implementação A força dos recursos-chave de


Moçambique são: a qualidade das suas
O quadro de implementação prevê uma es- praias e recursos litorais sem igual na
trutura e um sistema de implementação do África Austral, a diversidade e qualida-
Plano Estratégico. Identifica acções práticas de do seu ambiente natural e recursos
e pragmáticas e intervenções necessárias de fauna bravia, as oportunidades que
para guiar o desenvolvimento do turismo estas providenciam para o desenvolvi-
durante os próximos dez anos em mento do turismo e a identidade cultu-
Moçambique. ral de Moçambique, determinada pela
O Quadro de Implementação consiste sua herança, povos e história que dife-
num Modelo para o Desenvolvimento do rem significativamente de outros países
Turismo em Moçambique, com cinco áre- na África Austral. Estes recursos devem
as-chave de implementação e respectivos ser apreciados, protegidos e continua-
planos de acção. mente desenvolvidos para garantir o
O Modelo para o Desenvolvimento do valor da atracção de “Destino
Turismo em Moçambique traça a contribui- Moçambique”.
ção estratégica para um desenvolvimento
• Factores de Base
próspero do turismo e integra as estratégi-
as apresentadas na Estratégia para o De- Uma provisão mínima de infra-estrutu-
senvolvimento do Turismo em ras de qualidade, conhecimento (esta-
Moçambique. tísticas de turismo, migração, o impacto
As cinco áreas-chave para a implementação económico de turismo, pesquisa de
76 são: mercado, etc.), recursos humanos e um
• Estrutura Institucional e Administração quadro institucional adequado (leis,
Plano Estratégico governação, cooperação sectorial), esta-
e Coordenação das APITs e ACTFs
para o Desenvolvimento
bilidade, segurança e recursos financei-
do Turismo em Moçambique • Planificação do Desenvolvimento Inte-
(2004 - 2013) ros são exigências para o desenvolvi-
grado
mento do Turismo. Sem uma provisão
• Desenvolvimento dos Recursos Huma- básica destes factores, o desenvolvi-
nos mento do turismo é efectivamente im-
• Marketing possível. Cabe à instituição responsável
pela supervisão do sector do turismo
• Conservação
identificar as necessidades básicas para
O Quadro de Implementação identifica os o desenvolvimento de todos os facto-
vários elementos e factores que influenci- res de base e contribuir para o estabe-
am o desenvolvimento próspero do turis- lecimento de planos nacionais para con-
mo e tem como fim a realização dos objec- tinuamente desenvolver e melhorar os
tivos do Turismo numa visão mais ampla: a níveis de provisão desses factores. A
Visão 2025. Neste sentido, foram identifi- actualização dos factores de base é con-
cados três processos fundamentais para a siderada uma prioridade, e o Plano Es-
implementação do Plano Estratégico: Pla- tratégico para o Desenvolvimento de
nificação Integrada, Marketing e Desenvol- Turismo aborda, no quadro de
vimento de Produtos. implementação, as exigências do turis-
mo para cada um deles.
Os elementos do Quadro de
Implementação são os seguintes:
Figura 19 – Elementos e Processos de Desenvolvimento do Turismo

Implementação do
Plano Estratégico 77
• Participação nistração do turismo ambiental e soci-
O desenvolvimento do turismo é um almente sustentável e responsável, bem
processo complexo, fundamentado na como os modelos nacionais de
interacção entre um grande número de governação que afectam seriamente a
intervenientes. O compromisso entre estrutura do sector. “Turismo sustentá-
eles, o grau de envolvimento, a contri- vel”, “turismo pró-pobre”,
buição e o assumir dos planos e proces- “descentralização” e “integração regio-
sos são fundamentais para um desen- nal” foram identificados como os princí-
volvimento sustentável do turismo. O pios fundamentais que influenciam o
Plano Estratégico para o Desenvolvi- desenvolvimento sustentável do turis-
mento de Turismo em Moçambique re- mo em Moçambique. A filosofia
conhece a importância das comunida- subjacente ao “Plano Estratégico para o
des, do sector privado e do sector pú- Desenvolvimento de Turismo em
blico a nível nacional, provincial e Moçambique” é baseada nestes princí-
distrital em todos os sectores que inter- pios, e os seus valores e influência es-
vêm no desenvolvimento do turismo, e tão reflectidos em toda a estratégia.
orienta o papel que estas entidades • Tendências Turísticas
devem desempenhar e como obter uma As tendências do turismo são os padrões
melhor coordenação e interacção entre do consumidor e da indústria que de-
eles. terminam o mercado mundial de turis-
• Princípios mo e os tipos de produtos de turismo
As filosofias fundamentais que influen- que as pessoas, de facto, procuram. O
ciam a política do turismo e o processo desenvolvimento e marketing de produ-
de definição de estratégias foram iden- tos devem ser geridos de acordo com
tificados como princípios. Estas incluem as preferências e necessidades dos con-
práticas de referência internacionalmen- sumidores de hoje, sendo também ne-
te aceites que conduzem a uma admi- cessária uma compreensão profunda
das necessidades futuras para o desen- rismo 2025” e os “Objectivos do Turis-
volvimento futuro de novos produtos. O mo”. Estes últimos definem os objecti-
PEDTM baseia-se numa análise profun- vos globais que se pretendem alcançar
da das preferências dos consumidores, com o desenvolvimento de um sector de
dos produtos do turismo e tendências turismo próspero e de um equilíbrio de
económicas e sociais a nível internacio- interesses económicos, sócio-culturais e
nal e regional. ambientais.
• Processos-Chave de Implementação
A implementação dos processos-chave
conduzirá à realização dos objectivos do
6.2. Quadro Institucional
turismo. Estes processos-chave serão para o Desenvolvimento
suportados por processos de desenvol- do Turismo em APITs e
vimento relativos a “factores de base”,
participação efectiva entre comunida-
ACTFs
des, sector privado e sector público, e As Áreas Prioritárias para o Investimento em
gestão e desenvolvimento efectivos da Turismo (APITs) e as rotas entre elas são o
“Força dos Recursos”. fundamento deste Plano Estratégico para
A “Planificação Integrada”, Marketing e “De- o Desenvolvimento do Turismo. Transfor-
senvolvimento do Produto” são os proces- mar o conceito de APIT numa realidade é o
sos identificados como chave para o desen- desafio principal e requer coordenação e
volvimento do turismo em Moçambique. Os recursos adequados aos níveis nacional,
quadros na figura 18 detalham os conceitos provincial e distrital.
básicos dentro de cada um destes proces- As principais tarefas associadas à
sos-chave. implementação do conceito das APIT são:
• coordenação aos níveis nacional, provin-
• Enfoque cial e distrital;
78
As ACTFs (Áreas de Conservação • planificação do desenvolvimento inte-
Plano Estratégico Transfronteira), APITs (Áreas Prioritárias grado;
para o Desenvolvimento para Investimento em Turismo) e as Ro- • padrões de arquitectura e construção;
do Turismo em Moçambique
(2004 - 2013)
tas Turísticas são os pontos identifica-
• promoção de investimento; e
dos, no espaço, onde devem ser con-
consciencialização.
centrados os esforços para o desenvol-
vimento de turismo. Um segundo
conceito crucial para guiar as acções de
marketing e para posicionar o país e de-
6.3. Planificação do
senvolver um quadro institucional de Desenvolvimento
administração do sector, é o de “Regi- Integrado
ões de Moçambique”. O país é muito
vasto e diverso e não pode ser conside- A Planificação do Desenvolvimento Integra-
rado e administrado como um único do (PDI) é um dos processos centrais que
destino. As três regiões de conduzirão ao desenvolvimento próspero
Moçambique, o sul, o centro e o norte do turismo em Moçambique. A PDI preten-
apresentam cada uma a sua própria de promover o desenvolvimento de todos
identidade, forças de recursos, priorida- os sectores de uma forma integrada e
des de desenvolvimento e parceiros priorizada. É um processo genérico que
regionais. As áreas de “enfoque espaci- pode ser aplicado em qualquer sector, mas
ais” e as “Regiões de Moçambique” são quanto mais sectores agregar mais sentido
as plataformas espaciais para a terá a integração. Para tal deve:
implementação do PEDTM. • unir, integrar e coordenar os planos ten-
do em conta as propostas para o desen-
volvimento da área;
• Destino Moçambique
• harmonizar os recursos e capacidades
O sucesso da implementação do PEDTM da autoridade responsável com a
conduzirá à realização da “Visão do Tu- implementação do plano;
• formar o quadro das políticas e criar uma • O Turismo apoiará tanto quanto possí-
base geral para orçamentação. vel as iniciativas do PDI e as agências
As vantagens da implementação da PDI implementadoras. Evitará a duplicação
como um processo comum a todas as par- de esforços ou criar processos de PDI “só
tes são: maior facilidade de definir metas do turismo”. O Turismo apoiará e, onde
comuns, de integrar, partilhar recursos e for possível, fortalecerá os processos de
alcançar sinergias. Não é um processo a ser PDI existentes e implementados pelo
operacionalizado apenas por uma institui- MICOA, através dos CDSs e dos proces-
ção. É um processo integrador que deve ser sos da Avaliação Ambiental Estratégica,
institucionalizado por todas as partes de que conduzem a propostas de macro-
forma que, em conjunto, possam alcançar zoneamento nos distritos e municípios;
metas comuns que, de contrário, não seri- • A administração central do turismo pro-
am alcançadas. Para ser efectiva, a PDI pre- move a descentralização em processos
cisa de ser defendida por uma “instituição do PDI e apoiará iniciativas locais de
líder” que pode ser responsável pelo pro- PDI, providenciando, sempre que pos-
cesso global, operando com o apoio e com- sível, a direcção, orientação e
prometimento de organizações parceiras. capacitação ao nível local para assegu-
Apesar de o turismo não ser responsável rar a inclusão do turismo nos processos
pela planificação do desenvolvimento, de- do PDI.
vido à sua natureza espacial, o desenvolvi-
mento controlado e planificado a nível do
destino é de importância extrema para um 6.4. Desenvolvimento de
crescimento coordenado do sector. É papel
do MITUR assegurar que o turismo seja in-
Recursos Humanos
tegrado nas políticas gerais a nível nacio- Moçambique é um país que se encontra em
nal, provincial e distrital e nos processos fase de recuperação de um longo período
Implementação do
de planificação e desenvolvimento de es- de instabilidade social e económica e o 79
Plano Estratégico
tratégias, bem como promover e defender desenvolvimento de recursos humanos é
os Processos de Planificação do Desenvol- reconhecido como prioridade nacional.
vimento Estratégico nos distritos, municí- Existem fragilidades em matéria de expe-
pios e províncias, especialmente nas áreas riência e especialização nos sectores públi-
com elevado potencial turístico. co e privado que precisam de ser supera-
das para que o país usufrua dos dividen-
dos do seu potencial, transformando-se
• O sector considera a Planificação do num destino turístico de nível internacio-
Desenvolvimento Integrado a base para nal. Em sintonia com as prioridades nacio-
o desenvolvimento controlado e alcan- nais, a formação e educação e o desenvol-
ce dos padrões internacionalmente acei- vimento de recursos humanos no sector do
tes no turismo. turismo, conservação, hospitalidade e áre-
• O MITUR, não sendo uma instituição lí- as relacionadas são, por isso, considerados
der na implementação do PDI, terá, con- fundamentais para o desenvolvimento do
tudo, um papel fundamental no desen- turismo em Moçambique.
volvimento de uma cultura de PDI e na
promoção e defesa dos seus princípios 6.4.1. Estratégia para o
aos níveis nacional, provincial e local;
Desenvolvimento de
• Definiu-se uma gama de directrizes re-
Recursos Humanos no
lativas à planificação integrada do turis-
mo a nível nacional, à planificação inte- Turismo
grada do turismo aos níveis provinciais A estratégia para o desenvolvimento de
e distritais e ao zoneamento (Cf. Políti- recursos humanos no turismo identifica dois
ca de Turismo e Estratégia da sua desafios principais a enfrentar. O primeiro
Implementação, Abril, 2003). O sector relaciona-se com a necessidade de compe-
considera a implementação destas di- tir, com sucesso, na economia global, carac-
rectrizes uma prioridade; terizada por competição crescente e
globalização. O segundo relaciona-se com nefícios económicos e sociais para a
a necessidade de eliminar a pobreza e de população.
fazer face às questões das desigualdades. O alcance das metas acima indicadas irá
Assim sendo, o desafio que o país enfrenta determinar o rumo do desenvolvimento do
no sentido de se transformar num destino sector do turismo em Moçambique, não
turístico tem duas vertentes. Em primeiro apenas nos próximos cinco anos, mas tam-
lugar, refere-se a como oferecer experiên- bém num futuro próximo.
cias de turismo iguais às melhores do mun- Com base naquelas metas, são delineados
do. Em segundo, trata-se de canalizar os os seguintes objectivos estratégicos para
potenciais benefícios económicos e sociais guiar o quadro de implementação da es-
do turismo para a vasta gama de tratégia para o desenvolvimento de recur-
beneficiários, tanto quanto possível, em sos humanos em turismo:
particular para os mais necessitados em • investir nas pessoas para assegurar o
termos de acesso a oportunidades econó- crescimento do turismo;
micas.
A falta generalizada de capacidade dos • promover o emprego de nacionais com
recursos humanos é em parte reflexo do os mais diversos níveis de formação no
facto de ser um sector de turismo relativa- turismo e sectores relacionados, inclu-
mente jovem, de uma falta de operadores indo áreas de conservação e sectores
de maior dimensão com experiência inter- vocacionados para apoiar o seu desem-
nacional para fazer a diferença, mas tam- penho, recorrendo à formação e
bém da falta de programas de formação e capacitação;
de qualificações formais. O nível actual de • adoptar medidas apropriadas de modo
formação é insuficiente e muitos dos pe- a dar resposta às questões de oferta de
quenos operadores não têm absolutamen- mão-de-obra e implementação dos pa-
te nenhuma educação formal. Como drões nacionais de formação e educa-
consequência disto, o nível de serviços e a ção de habilidades;
80 qualidade dos produtos são geralmente • comprometer-se a desenvolver e a in-
Plano Estratégico
baixos. A capacidade técnica e vestir num sistema de educação que
para o Desenvolvimento organizacional no sector público é também conduza à auto-suficiência e redução da
do Turismo em Moçambique muito fraca. Criado em 2000, o Ministério dependência em relação à mão-de-obra
(2004 - 2013)
de Turismo é ainda relativamente novo, e habilidades importadas;
enfrentando falta de pessoal nos níveis na-
cional e provincial, enquanto os níveis de • desenvolver recursos humanos qualifi-
capacidade técnica são também baixos. cados para a gestão e fiscalização das
Existe a necessidade urgente de Áreas de Conservação; tendo em conta
capacitação a todos os níveis de formação a importância das Áreas de Conservação
e de desenvolvimento de habilidades pro- para o sector de turismo e a importân-
fissionais em todos os organismos funcio- cia de um turismo baseado nos recur-
nais e provinciais. sos naturais e de fauna bravia,
O desenvolvimento de recursos humanos • apoiar o envolvimento do sector priva-
constitui uma pedra angular para vencer os do e instituições com ele relacionadas,
desafios do processo de edificação do des- na disponibilização de educação e de
tino turístico. Três requisitos são fundamen- formação.
tais para se erguer um destino turístico de A estratégia para o desenvolvimento de
sucesso: recursos humanos em turismo baseia-se nas
1) uma força de trabalho, no sector do tu- 10 áreas focais, que influenciam os objecti-
rismo, competente e motivada; vos de “desenvolvimento de um destino de
2) desenvolvimento de habilidades, for- excelência” e “desenvolvimento humano”.
mação e desenvolvimento de carreiras; Estas áreas focais identificadas foram
e traduzidas em metas estratégicas que
3) funcionários do Governo com capacida- nortearão o processo de desenvolvimento
de e vontade para implementar os ob- dos recursos humanos nos próximos cinco
jectivos do turismo e maximizar os be- anos.
Figura 20 – Áreas de Focais da Estratégia para o Desenvolvimento de Recursos Humanos no
Turismo

Implementação do
Plano Estratégico 81

6.5. Marketing abrangente foi já construída para o país e


para as suas regiões.
Moçambique ainda tem um longo caminho A Política e a Estratégia do Turismo re-
para se posicionar como destino turístico conhecem a importância do marketing para
internacional. A percepção pública em re- a promover o crescimento do turismo. O
lação a Moçambique ainda é afectada por sector pretende criar esquemas
um passado de instabilidade política, de- institucionais adequados que visem esta-
sastres naturais, problemas sócio- belecer um enfoque renovado do marketing
económicos e, infelizmente, os atractivos e um envolvimento maior do sector priva-
naturais e culturais ainda têm pouca influ- do.
ência na imagem pública do país. Mudar O quadro de implementação enfatiza a
estas percepções através do marketing vai importância de três princípios que deveri-
levar algum tempo. O marketing deve ser am suportar o esforço de marketing em
empreendido como um processo paralelo Moçambique, nomeadamente (1) a
ao desenvolvimento de produtos e provi- segmentação do mercado, (2) atribuição de
são de infra-estruturas melhoradas. Nota- uma marca e diversificação da imagem das
se, no entanto, que o esforço de marketing regiões de Moçambique, e (3) o uso de
nacional ainda é bastante modesto, com tecnologias de informação e comunicação.
uma capacidade institucional ainda por Os segmentos de mercado estratégicos
construir e uma base fraca de recursos hu- (nichos estratégicos e mercados emissores
manos e financeiros disponíveis. Pouco estratégicos), as regiões do país e as rotas
apoio e orientação são, por enquanto, de turismo são conceitos fundamentais no
disponibilizados para acções regionais e quadro do marketing nacional. Estes foram
provinciais de marketing, mas nenhuma mar- resumidos na Tabela 13.
ca nacional ou imagem de marketing
Tabela 15 – Enfoque Estratégico do Marketing para Moçambique

Sumário do Enfoque Estratégico do Marketing para Moçambique


Segmentos de mercado Doméstico (1) Negócios, (2) Lazer, (3) MICE.
Regional (1) Negócios, (2) Lazer, (3) MICE, (4) Interesse especial.
Internacional (1) Amigos e Familiares (VFR), (2) Lazer, (3)
Negócios, (4) Interesse especial.
Ni chos Mergulho, Eco-turismo, Observação de pássaros, Caça, Hiking, Aventura,
Cruzeiro, Pesca de alto mar, ilhas e sol, praia e mar exclusivo.
Mercados emissores 1. “Mercados naturais”: mercado doméstico, Portugal, África do Sul,
Zimbabwe, Suazilândia.
2. Mercados de nicho: Espanha, Itália, Reino Unido, Alemanha, EUA,
Países Baixos.
3. Mercados de Sinergia Emergentes: Brasil, Arábia-Saudita, UAE, Angola.
Regiões de Moçambique Sul Regional/Doméstico: sol, praia e mar e desportos
aquáticos. Mercado internacional, abordagem de
nicho: mergulho, eco-turismo e cultura.
Centro Abordagem de nicho para todos os mercados que
focaliza a aventura e o eco-turismo. Para mercados
regionais e domésticos perto também negócios e
comércio e sol, praia e mar.
Norte Destino exclusivo para segmentos de alto rendimento,
com enfoque no mercado internacional. Imagem exclu
siva de um destino de praia e ilhas com influência cultu
ral forte. Nichos de eco-turismo para os produtos “da
selva intacta” de Niassa e interior de Cabo Delgado.
(eco-turismo de luxo, aventura, backpackers, caça).

82
Plano Estratégico
para o Desenvolvimento 6.5.1. Estratégia de Marketing tornam Moçambique diferente e
do Turismo em Moçambique comercializável; desenvolver uma per-
(2004 - 2013) Com vista a promover o desenvolvimento
sonalidade clara e características da
de uma estratégia abrangente de marketing
marca a serem consistentemente
para o sector, foram traduzidos os princípi-
comunicada e facilitar uma imagem de
os e directrizes estabelecidos na Política.
marca muito forte.
As avaliações avançadas neste plano resul-
tam em seis objectivos de marketing que • Objectivo Quatro: Serviços ao Visitante
formarão o esqueleto da Estratégia de e Prestação de Serviços – desenvolver
Marketing para o país: uma série de brochuras com marca con-
• Objectivo Um: Mercados Alvo e Planifi- sistente e peças de comunicação dese-
cação Estratégica – identificar os merca- nhadas com metas de mercado e objec-
dos principais alvo e delinear estratégi- tivos claramente identificados.
as com vista a motivar esses mercados • Objectivo Cinco: Promoção e Relações
a visitarem o país, aumentarem os gas- Públicas – projectar uma imagem posi-
tos e prolongarem o tempo de estadia. tiva de Moçambique, recorrendo à pro-
• Objectivo Dois: Desenvolvimento de dução de material promocional que seja
Produtos e Organização em Pacotes – inspirador e encoraje as pessoas a ex-
determinar os pontos fortes dos produ- perimentarem o país como destino tu-
tos, encorajar o desenvolvimento de rístico.
novas qualidades nessas áreas, organi- • Objectivo Seis: Parcerias e Cooperação
zar os produtos em pacotes de forma para a Promoção – desenvolver campa-
apropriada para os mercados alvo e nhas cooperativas de promoção, acor-
consciencializar as comunidades dos de parceria e encorajar a coopera-
receptoras. ção na indústria.
• Objectivo Três: Marca e Posicionamento
– cristalizar os pontos exclusivos que
6.5.2. Orientação do Enfoque colhidos e o enfoque nos mercados de
nicho seleccionados (ex.: mergulho,
Estratégico
caça, eco-turismo, observação de pás-
• O marketing é considerado um instrumen- saros, cultura, etc.).
to estratégico para influenciar o cresci-
• Serão desenvolvidos perfis de marketing
mento do turismo e o sector deverá cri-
separados para as três regiões de
ar mecanismos institucionais adequados
Moçambique (sul, centro e norte). O
que visam estabelecer um enfoque re-
perfil de marketing para o sul enfatiza o
novado em marketing e a criação de par-
turismo litoral e os desportos aquáticos;
cerias com o sector privado no marketing
o do centro realça o eco-turismo e a
(Política e Estratégia do Turismo).
aventura, e o do norte o turismo exclu-
• O marketing só é efectivo quando associ- sivo de praia e cultura.
ado ao processo de desenvolvimento
• As regiões são o nível privilegiado para
paralelo do produto e à provisão de
os esforços de marketing nacional. En-
infra-estruturas. As três linhas estratégi-
quanto algumas acções de marketing se-
cas de produto, baseadas na água, na
rão dirigidas ao nível nacional, num país
natureza e nas pessoas e experiências
tão vasto e diversificado como é
culturais e urbanas proporcionam a pla-
Moçambique, as acções mais concretas
taforma para o desenvolvimento do pro-
deverão ser desenvolvidas ao nível re-
duto e do marketing nacional de turismo
gional para daí constituírem um enrique-
(Política e Estratégia do Turismo).
cimento aos resultados de âmbito naci-
• O sector definiu uma gama de directri- onal.
zes relativas ao marketing do turismo.
• O fortalecimento da capacidade de
Estas definem os objectivos globais (au-
marketing ao nível regional realçando a
mento das chegadas, duração prolonga-
integração regional, constitui uma prio-
da das visitas e, ultimamente, um au-
ridade. Implementação do
mento das receitas do turismo), Plano Estratégico 83
enfatizam as necessidades de enfoque, • A identificação e o marketing de rotas é
em termos técnicos, sobre os mercados- um conceito poderoso de desenvolvi-
alvo e reconhecem o papel do sector mento do turismo. O desenvolvimento
privado no desenvolvimento de acções de rotas de turismo é um conceito fun-
de marketing turístico. Deve-se estabe- damental para a implementação deste
lecer um quadro institucional efectivo Plano Estratégico. As APITs são mais um
para dinamizar as acções de marketing conceito administrativo e de planifica-
(Política e Estratégia de Turismo). ção e, individualmente, não serão pro-
movidos como “marcas” para os consu-
• O sector definiu a necessidade da cria-
midores, enquanto que as rotas e os cir-
ção de um órgão consultivo para a coor-
cuitos constituem veículos importantes
denação da promoção turística. Defen-
para o marketing nos níveis nacional e
de a criação de um órgão multi-sectorial,
regional (África Austral).
constituído por elementos do sector pri-
vado e público, para o reforço e coorde- • Moçambique considera a integração re-
nação das iniciativas e estratégias vira- gional entre os países da região austral
das para o fortalecimento do produto de África uma condição para o desen-
turístico nacional (Política e Estratégia volvimento próspero do turismo no con-
Turismo). tinente africano. Moçambique terá um
papel activo e principal em iniciativas
• As linhas de produtos estratégicas para
de marketing regional.
Moçambique são: (1) sol, praia e mar e
desporto aquático, (2) eco-turismo e tu- • A oportunidade para implementar as li-
rismo de aventura e (3) turismo basea- gações bush-beach constitui uma vanta-
do na cultura e no ambiente urbano. gem estratégica para Moçambique na
região. Onde for apropriado, as iniciati-
• Os esforços de marketing para os merca-
vas nacionais e regionais de marketing,
dos principais basear-se-ão em duas
devem realizar e promover esta mensa-
abordagens principais, nomeadamente
gem.
o enfoque nos mercados emissores es-
• Usar melhor as tecnologias de informa- do o sector privado como impulsionador do
ção no marketing (web-sites, sistemas de processo.
reserva on-lines, bancos de dados de Muitas das áreas interiores do país pos-
turismo, etc.). suem um potencial agrícola limitado, e com
a indústria e o comércio pouco desenvolvi-
dos em muitas províncias, as perspectivas
6.6. Conservação de promover o crescimento económico e o
desenvolvimento nestas áreas é muito li-
Habitat e recursos naturais são a base para mitado, daí que o turismo baseado na na-
o turismo em Moçambique. A procura e tureza constitua uma opção viável caso se
oferta actuais de serviços do turismo encon- conceda a devida atenção e recursos.
tram-se concentrados nas zonas costeiras –
proporcionando uma base segura sobre a
qual podem ser desenvolvidos mercados
6.6.1. Estratégias de Conservação
existentes. O potencial real depende da para o apoio do
valorização do vasto potencial existente nas Desenvolvimento do
áreas interiores do país, onde grandes efec- Turismo em Moçambique
tivos de fauna bravia existiam até há algu-
mas décadas. Parques Nacionais, como o As estratégias de conservação específicas
da Gorongosa, eram mundialmente conhe- para apoiar o desenvolvimento do turismo
cidos devido à sua fauna bravia abundan- em Moçambique durante os próximos dez
te, e eram a “bandeira” do seu sistema de anos são as seguintes:
conservação. Com uma atenção adequada,
investimento e gestão inovadora e 6.6.1.1. Consolidação da Gestão dos
participativa, Moçambique pode restabe- Principais Recursos Naturais
lecer o seu potencial de fauna bravia. O presente estágio do desenvolvimento do
Quase todas as populações principais turismo e assentamentos urbanos ao longo
84 da chamada mega-fauna carismática de Áfri- da zona costeira é alarmante, e requer, por-
ca – as abundantes e espectaculares espé- tanto, uma planificação e gestão cuidado-
Plano Estratégico cies de animais selvagens de grande porte sas. As áreas marinhas protegidas e a costa
para o Desenvolvimento
do Turismo em Moçambique como o elefante, o leão, o búfalo, a girafa, a são especialmente sensíveis, visto que
(2004 - 2013) zebra, o hipopótamo, etc. – em conjunto abrigam colecções ecológicas frágeis e
com outros elementos associados a expe- biodiversidade importante e precisam de
riências culturais e exóticas como a dos ser geridas para evitar qualquer desenvol-
Massai, Zulus e outros grupos tribais da re- vimento que possa ter efeitos adversos.
gião austral e oriental de África, constitui Cerca de 80% da superfície terrestre do país
uma vantagem competitiva que nenhuma está coberto de floresta de savana natural.
outra região do mundo pode oferecer. É o Assim, a gestão dos recursos naturais
único ponto de venda e Moçambique pre- selvagens, incluindo os costeiros e mari-
cisa de desempenhar um papel fundamen- nhos, deve ser melhorada e consolidada
tal neste mercado. Mas para tal precisa ur- num quadro de gestão de recursos naturais
gentemente de reabilitar os seus efectivos no país que tome em atenção a necessida-
de fauna bravia. de de promover uma abordagem
As tendências globais do turismo indi- estruturada na definição de políticas, regu-
cam que os nichos de mercados orientados lamentação, administração e coordenação
para a aventura e fauna bravia são alguns das actividades relativas a conservação.
dos sectores de turismo em crescimento
mais rápido, visto haver uma tendência 6.6.1.2. Melhoramento da Qualidade
crescente de turistas provenientes do he- de Produtos e Serviços
misfério norte para visitarem lugares inte- Relacionados com a
ressantes e exóticos. Portanto, é urgente de- Conservação
senvolver o sector de fauna bravia para res-
A ausência de regulamentos para
ponder a esta procura. Contudo, isto não
operacionalizar as várias Leis e Decretos
pode acontecer sem uma abordagem estra-
para apoio às actividades nas áreas de con-
tégica para a reabilitação rápida da fauna
servação no país é um dos constrangimen-
bravia em áreas apropriadas do país, usan-
tos de momento. São necessários regula- pulsionar a reprodução; boas áreas para o
mentos específicos para cada área de acti- desenvolvimento de chalés e acampamen-
vidade, nomeadamente: tos turísticos; corredores naturais adjacen-
• Regulamentos e Directrizes sobre de- tes para facilitar o movimento e crescimen-
senvolvimento e uso turístico das áreas to da população faunística; por fim, a sua
marinhas e costeiras protegidas Regu- proximidade à cidade da Beira.
lamentos e Directrizes sobre actividades
de caça desportiva 6.6.1.4. O Papel das ACTFs no
• Regulamentos e Directrizes sobre Ges- Desenvolvimento do Turismo
tão Comunitárias dos Recursos Naturais Através das APITs, a meta primária das áre-
(GCRN) as de conservação é providenciar oportu-
• Regulamentos e Directrizes sobre admi- nidades de recreação de alta qualidade
nistração e comercialização de animais para apoiar o crescimento do turismo.
vivos; Dado o alto perfil alcançado nos últimos
anos pela ACTFGL,ha uma necessidade de
• Regulamentos e Directrizes sobre con- continuar a desenvolver esforços com vis-
cessões e oportunidades de investi- ta ao fortalecimento das ACTFs já criadas(
mentos em áreas de conservação espe- Libombo, e Chimanimani) ACTFs poderão
ciais, i.e., Parques e Reservas Nacionais. ser planificadas e desenvolvidas onde for
possível e considerado apropriado. A Re-
6.6.1.3. Reabilitação Rápida da Fauna serva do Niassa , o Parque Nacional das
Bravia nas Áreas de Quirimbas, o Lago Niassa, bem como a
Conservação ACTF do ZIMOZA devem receber uma
atenção especial.
Dado o reduzido efectivo da fauna bravia
nas áreas de conservação do país e em ter-
6.6.1.5. Estabelecimento de Novas
ras comunitárias, é necessário acelerar a sua Implementação do
reabilitação em locais apropriados. Áreas de Conservação Plano Estratégico 85
Uma campanha específica deverá ser Dada a baixa densidade humana em algu-
lançada para atrair o sector privado, doa- mas áreas, a promulgação de áreas de con-
dores e outros parceiros com vista a sua servação novas é uma opção importante
participação no repovoamento faunístico para aumentar as oportunidades de desen-
nas áreas comunitárias, através de activida- volvimento e preservação dos recursos. A
des tais como fazendas de caça e áreas de proclamação de Locais de Herança Cultu-
conservação em áreas apropriadas para a ral Mundial (caso da Ilha Moçambique)
gestão de fauna bravia, oferecendo incen- como Áreas de Conservação deve ser
tivos de investimento especiais. Tais incen- previlegiada por outro lada há também
tivos serão pesquisados e testados em pro- oportunidades significativas para estabele-
jectos-piloto na ACTF do Grande Limpopo, cer áreas da Categoria VI da UICN, que sur-
para servirem de modelos que permitam gem de iniciativas de CBNRM.
assegurar que as comunidades obtenham
benefícios equitativos para o melhoramen- 6.6.1.6 Fortalecimento e Expansão
to do seu modo de vida, e que o país não da Indústria de Caça
seja prejudicado pela implementação de Desportiva
tais projectos ou incentivos. Os modelos As operações de caça desportiva têm o
bem sucedidos serão implementados nou- potencial de se tornarem uma boa fonte de
tras províncias do país. Esta acção estraté- receitas, especialmente nas áreas de GCRN.
gica será vista como prioritária. Contudo, a indústria de caça desportiva em
O local ideal para um projecto-piloto é Moçambique não está bem desenvolvida,
o Parque Nacional da Gorongosa. Situado se comparada com a Tanzânia, Zimbabwe
no centro do país, Gorongosa tem várias e África do Sul.
vantagens para essa escolha: o seu tama- • Realização de sensos anuais na
nho com habitats naturais diversos; ricos fauna bravia
recursos de água; boas estradas de acesso • Envolvimento de operadores de
ao Parque; rede razoável de estradas inter- caça na promoção e comercialização
nas; bons núcleos de fauna bravia para im- da Indústria
• Elevar o estágio da caça ao nível vação (Ver Secção 6.1.3). Este estatuto pro-
mundial videncia muitas oportunidades para obter
• Adoptar Plataforma de articulação fundos de doadores para facilitar a
a desenvolver entre o sector públi- implementação das actividades de conser-
co e privado vação, especialmente as relativas à gestão
• Regulamentação e monitoria das de biodiversidade e CBNRM.
actividades de caça A participação nas funções de
• Zoneamento para identificação de implementação de convenções internacio-
novas áreas potenciais para caça nais é, por si só, um exercício de aprendi-
zagem e capacitação, aproveitando ao mes-
6.6.1.7. Promoção de Processos de mo tempo a oportunidade para influenciar
GCRN no País a direcção desses órgãos no futuro.Assim,
As Áreas de Conservação Comunitárias são havera necessidade de se encorajar os par-
uma componente fundamental para o de- ceiros nacionais (i.e., instituições
senvolvimento de uma base de turismo no académicas nacionais) a participarem acti-
país, especialmente as ligadas às ACTFs. Os vamente na Comissão da UICN sobre Par-
processos de GCRBN provaram ser efecti- ques Nacionais e Áreas Protegidas (CNPPA),
vos ao facilitarem uma grande participação na Comissão da UICN sobre Gestão de
das comunidades em assumir responsabi- Ecossistemas, no Grupo da UICN de Espe-
lidades de gestão dos recursos naturais, cialistas da Região sobre Uso Sustentável,
particularmente nos países da região aus- na Comissão da UICN na CBD, e nas CITIES.
tral de África. Esta é a oportunidade funda-
mental para aproveitar este potencial em 6.6.1.9. Orientação do Enfoque
Moçambique e, assim, acelerar a reabilita- Estratégico para a
ção da fauna bravia nessas áreas. É tam- Conservação
bém uma oportunidade para assegurar • Adopção de abordagens modernas de
86 que a gestão de ecossistemas e práticas gestão nas organizações responsáveis
de uso sustentáveis sejam divulgadas em pela administração de áreas de conser-
Plano Estratégico todo o país. vação.
para o Desenvolvimento Acções concretas com vista a encorajar
do Turismo em Moçambique • Melhoramento e desenvolvimento de
as comunidades a desenvolverem capaci-
(2004 - 2013) produtos e serviços turísticos relativos
dades para adoptar abordagens e práticas
à conservação, para apoiar os objectivos
de GCRN, de acordo com o potencial dos
do turismo.
recursos naturais na sua região. Isto serão
implementados através de estruturas e co- • Aceleração do repovoamento da fauna
ordenados a nível provincial. bravia em parques e reservas seleccio-
Dever-se-à facilitar e promover o de- nados, em cooperação com os parceiros.
senvolvimento de acordos de empreendi- • Consolidação e expansão das Áreas de
mentos conjuntos entre as comunidades e Conservação e ACTF para o desenvolvi-
o sector privado, assegurando simultanea- mento turístico efortalecimento na coo-
mente e sempre que possível, que direi- peração com os países vizinhos
tos das comunidades sejam protegidos e
• Fortalecimento da indústria de caça
estas obtenham benefícios equitativos e
desportiva através de operações melho-
justos. Os parceiros, juntamente com as
radas, marketing, regulamentos, controlo
estruturas provinciais, também deverão ser
e atribuição de preços competitivos de
encorajados a facilitar o acesso das comu-
trofeus.
nidades aos mercados, de forma a que elas
recebam lucros equitativos do investimen- • Encorajamento e apoio a iniciativas de
to pelos seus produtos e serviços. GCRN no país com o objectivo de pro-
mover uma participação mais activa e
6.6.1.8. Benefícios das Convenções efectiva das comunidades e PMMEs, in-
Internacionais cluindo parcerias e joint-ventures com o
sector privado;
Moçambique é signatário de muitas Con-
venções Internacionais relativas à conser-
6.7. Planos de Acção para a concepção, arquitectura e cons-
trução no sector do turismo
O Quadro de Implementação proporciona
• Desenvolvimento de Rotas Turísticas
directivas estratégicas para as seguintes
actividades, consideradas fulcrais para a • Liberalização dos Transportes Aéreos
implementação do PEDTM: • Construção de Infra-estruturas
• Planificação Organizacional e Financei-
• Rede de Transportes Rodoviários, Fer-
ra
roviários e Marítimos e Infra-estruturas
• Planificação Física
• Conservação 6.7.1.3. Conservação
• Promoção do Investimento Estratégia: Trabalhar com o sector privado,
• Estabilidade e Segurança parceiros e doadores, para reabilitação dos
processos de conservação e das áreas de
• Integração Regional conservação em Moçambique.
• Marketing e Relações Públicas • Rápida Reabilitação da Fauna Bravia
• Desenvolvimento de uma Cultura de • Construção e Reabilitação de Infra-Es-
Turismo truturas
• Estatísticas e“Contas Satélites do Turis- • Administração das Áreas de Conserva-
mo” ção
• Gestão e Desenvolvimento de Recursos • Administração dos Recursos Marinhos
Humanos • Criação de Novas Áreas de Conservação
• Envolvimento das comunidades e par- • Concessões
ticipação das PMMEs
• Regulamento e Controlo. 6.7.1.4. Promoção de Investimento Implementação do
Os planos de acção planeiam as activida- Estratégia: Consolidar os processos e pro- Plano Estratégico 87
des detalhadas a realizar em cada área fo- cedimentos de investimento para o turis-
cal a nível nacional, regional interno e pro- mo e criar oportunidades atraentes para
vincial durante os próximos cinco anos. investidores credíveis.
• Promover Investimento Nacional
6.7.1.1. Planificação Organizacional e
• Promover o Investimento nas Áreas
Financeira
Prioritárias
Estratégia: Melhorar a operacionalidade
• Estabelecimento de Projectos Âncora
(eficácia) institucional do MITUR
• Planificação Institucional
• Elaboração de planos de trabalho e or- 6.7.1.5. Estabilidade e Segurança
çamentos anuais Estratégia: Colaborar com a polícia, organi-
• Procura de Financiadores zações civis e comunidades por forma a criar
• Criação de Comités de Facilitação Tu- um ambiente mais seguro para os turistas
rística a níveis provinciais e investidores.
• Implementação e Coordenação de • Colaborar com a polícia e autoridades
APITs provinciais e organizações comunitárias
• Campanha de Segurança Nacional
6.7.1.2. Planificação Física
• Campanha de Consciencialização Naci-
Estratégia: Aumentar o investimento em
onal
produtos e serviços no sector do turismo,
proporcionando apoio eficiente e efectivo
de planificação ao sector privado, e facili- 6.7.1.6. Integração Regional
tação de uma provisão melhorada de infra- Estratégia: Formar alianças estratégicas com
estruturas. países vizinhos e organizações relevantes,
• Planificação do desenvolvimento inte- desenvolvendo sinergias e integrando pla-
grado nos e acções.
• Elaboração de Directrizes e Padrões • Planos e Estratégias Regionais
• Promover Alianças e Parceirias com Go- sistemas inter-sectoriais, conforme os
vernos Vizinhos e Sectores-Chave requisitos da Conta Satélite do Turismo
• Desenvolver uma capacidade de reco-
6.7.1.7. Marketing e Relações Públicas lha de dados no turismo e sectores re-
Estratégia: Trabalhar com planos e estraté- lacionados
gias de marketing bem definidos e • Recolher e analisar e produzir dados da
optimizar o uso das tecnologias de comu- Conta Satélite do Turismo
nicação e informática com objectivo de
priorizar os mercados estratégicos identifi-
6.7.1.10. Gestão e Desenvolvimento
cados e melhorar a imagem de
de Recursos Humanos
Moçambique como destino turístico.
• Estratégia de Marketing Estratégia: Aumentar a habilidade do
MITUR e da indústria do turismo e relacio-
• Mercados de Nicho Estratégicos
nados para proporcionar produtos e servi-
• Mercados Emissores Estratégicos ços de turismo de alta qualidade, através
• Mercado Doméstico de quadros qualificados e capazes.
• Fortalecimento institucional do MITUR
• Centros de Informação de Turismo
• Formação e Educação
• Eventos e Feiras da Indústria
• Comunicação Electrónica e Informática
6.7.1.11. Envolvimento das
• Marketing das Regiões de Moçambique Comunidades e participação
• Relações Públicas e Media das PMMEs
• Adquirir Facilidades de Escritórios Apro- Estratégia: Permitir uma participação acti-
priados va das comunidades de modo que benefi-
ciem mais através dos processos de turis-
88 mo, criando um ambiente apropriado para
6.7.1.8. Desenvolvimento de uma
desenvolverem empreendimentos e negó-
Cultura de Turismo
Plano Estratégico cios.
para o Desenvolvimento Estratégia: Usar os media e a comunicação • Programas de Turismo Comunitário
do Turismo em Moçambique social para promover campanhas de
(2004 - 2013) • Programas de micro-finanças
sensibilização e consciencialização sobre o
turismo, direccionadas para todos os • Capacitação
intervenientes e público geral, mostrando
os benefícios económicos e sociais deriva- 6.7.1.12. Regulamento e Controlo
dos do apoio e do aumento dos processos
Estratégia: Aperfeiçoar os lucros
de turismo.
económicos e sociais do turismo, a curto e
• Quantificar os Benefícios de Turismo
longo prazo, desenvolvendo e
através da Conta Satélite de Turismo
implementando sistemas de administração
• Campanhas de Consciência sobre o Tu- e mecanismos reguladores mais efectivos.
rismo • Legislação e Regulamentos
• Criar uma Instituição Promotora do Tu- • Planificação integrada
rismo
• Capacidade para fiscalização
• Processos de Concursos e Concessões
6.7.1.9. Estatísticas e Conta Satélite
do Turismo
Estratégia: Desenvolver um banco de da-
dos nacional detalhado e inclusivo com
objectivo de gerir a Conta Satélite de Tu-
rismo nacional, como meio de identificar e
quantificar o impacto económico do turis-
mo na economia do país.
• Análise das necessidades preliminares
• Estabelecimento da coordenação e dos
Com o apoio financeiro da Agência Australiana para o Desenvolvimento
e Banco Mundial

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