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Ciências Químicas e

das Biomoléculas

Lípidos, Biomembranas e
Transporte membranar

Cassilda Pereira, PhD


Quimicamente
A característica fundamental dos lípidos é a sua
insolubilidade em água e a solubilidade em
solventes orgânicos

Derivados por esterificação e por outras


modificações de ácidos orgânicos
monocarboxílicos, chamados ácidos gordos
(saponificáveis)

Derivados por aposição e posteriores modificações


de unidades isoprenóides (não saponificáveis)

2
Função

Energética:
Combustível de alto valor calórico (10 kcal/g). Em termos celulares só
admitem degradação aeróbica (respiração)

Estrutural:
Formam as membranas plasmáticas de todo o tipo de seres vivos

Informativa:
Sinais químicos (hormonas) como esteróides, prostaglandinas,
retinóides, leucotrienos, calciferóis, etc.

3
4
5
Componentes dos lípidos:

1 – Os ácidos gordos

6
Ácidos gordos saturados

Ácido palmítico (forma ionizada ou palmitato)

7
Ácidos gordos insaturados

Ácido oleico (forma ionizada ou oleato)


8
Na célula os ácidos insaturados apresentam a forma cis.

9
10
11
12
13
14
6

3 Araquidónico

COOH

6
COOH
Linolénico
COOH
Linoleico
9
COOH
Oleico

The double bonds in polyunsaturated fatty acids are separated by at least


one methylene group. 15
Ácidos gordos variam em comprimento da cadeia e no grau de saturação

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Componentes dos lípidos:

1.2 – Os icosanóides

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Icosanóides
•Estruturalmente idênticos ao ácido icosanóico (20 carbonos)
•Biologicamente comportam-se como mediadores da inflamação, participando na
resposta imune, causando edema.

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Icosanóides

•Estruturalmente idênticos ao ácido icosanóico (20 carbonos)


•Biologicamente comportam-se como mediadores da inflamação, participando na
resposta imune, causando edema.
•A sua biogénese, tem origem no ácido araquidónico (20:4 Δ5,8,11,14)

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Metabolismo dos icosanóides

Há duas vias metabólicas de produção de


icosanóides: a via da lipo-oxigenase e a via da
ciclo-oxigenase;

2.1. Via da Ciclo-oxigenase:


A via da ciclo-oxigenase gera compostos ciclicos
a partir dos ácido araquidónico como as
prostaglandinas (hormaonas locais) e
tromboxanos. O ácido salicílico (aspirina) inibe a
biossíntese dos icosanóides (prostaglandinas e
tromboxanos) inibindo a enzima ciclo-oxigenase.

2.2. Via da Lipo-oxigenase


A via da lipo-oxigenase gera compostos lineares
como os leucotrienos;
Os leucotrienos são produzidos nos leucócitos,
e possuem três ligações duplas conjugadas (daí
o nome –trieno)

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Componentes dos lípidos:

2 – Os isoprenóides

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Isoprenóides

O isopreno é um hidrocarboneto insaturado de cinco carbono, com ligações duplas e


configuração trans. São derivados deste composto os responsáveis por cores, aromas e
sabores espalhados por todo o mundo vivo.

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Isoprenóides

O isopreno polimeriza-se facilmente para


originar:

Terpenos
Estrutura linear ou ciclica de 2 a 6
subunidades de isopreno

Carotenóides
Estrutura linear com 8 subunidades de
isopreno

Esteróides
Estruturas ciclicas

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Terpenos

De acordo com o número de cadeias de isopreno presentes, os terpenos são


classificados como:

C5: hemiterpenos;
C10: monoterpenos;
C15: sesquiterpenos;
C20: diterpenos;
C30: triterpenos;
C40: tetraterpenos.

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Monoterpenos

25
Tetraterpenos

β-caroteno (cenoura)

Licopeno (tomate)

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Esteróides
São derivados isoprenóides cíclicos formados por 17 carbonos dispostos em 3 anéis
hexagonais e 1 anel pentagonal cuja estrutura básica ou núcleo esteróide forma o
esqueleto de importantes substâncias biológicas entre as quais se encontram o
colesterol, ácidos biliares e seus sais e hormonas esteróides.

Os anéis são designados com letras maíusculas A, B, C e D. A numeração dos carbonos


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inicia-se no anel A.
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Vitaminas lipossolúveis

São substâncias essenciais necessárias em pequeníssimas quantidades para


inúmeras funções orgânicas.

Caracterizam-se pelas suas propriedades lipossolúveis.

Em excesso podem provocar toxicidade, enquanto que em carência pode


provocar deficiências alimentares.

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Vitaminas lipossolúveis

Vitamina A ou Retinol
Origem animal; Realiza acções
importantes na fisiologia da visão;

Vitamina E ou Tocoferol
Origem vegetal – óleos e azeites;
Efeito antioxidante

Vitamina K
Origem vegetal – frutas e legumes;
na flora bacteriana intestinal; Efeito
anticoagulante. 30
Lípidos de importância fisiológica

1 - Triglicéridos
Storage lipids Membrane lipids

Esfingolípidos
Fosfolípidos Glicolípidos

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Triglicéridos

O nome comum dado a este grupo de lípidos é de triglicéridos, no entanto a designação


correcta é acilgliceróis. Tanto numa designação como na outra, está implícito o
glicerol.

Os ácidos gordos têm uma grande facilidade em esterificar com alcoóis orgânicos. O
glicerol é um pequeno tri-álcool orgânico com apenas 3 carbonos:

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Monoglicéridos

G
Ácido gordo L
I
C
E
R
O
L
Diglicéridos

G
Ácido gordo L
I
C
Ácido gordo
E
R
O
L
35
Triglicéridos

G
Ácido gordo L
I
C
Ácido gordo
E
R
Ácido gordo O
L
36
37
Triglicéridos

Simples: o mesmo tipo de ácido gordo nas 3


posições
Mistos: 2 ou 3 tipos de ácidos gordos. São os mais
comuns.
Apolares, hidrofóbicos, praticamente insoluveis em
água.

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Triglicéridos

Armazenamento de energia em
gotículas no citoplasma das células

Lipases: enzimas que catalisam a


hidrólise dos triglicéridos e libertam os
ácidos gordos que são transportados
para onde é necessária energia.

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Lípidos de importância fisiológica

2 - Fosfolípidos
Storage lipids Membrane lipids

Esfingolípidos
Fosfolípidos Glicolípidos

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Glicerofosfolípidos

G
Ácido gordo L
I
C
Ácido gordo
E
R
O Fosfato Álcool
L
42
43
Biossíntese da esfingosina Palmitoyl CoA + Serine
Serine
palmitoyltransferase

A esfingosina é obtida a partir da


3-ketosphinganine
serina e do ácido palmítico.
3-ketosphinganine
reductase
Sphingosine
kinase
Sphinganine Sphinganine-1-phosphate
Sphingosine-1-P Sphingosine-1-P
phosphatase lyase
Dihydroceramide
synthase
Figure 1: The metabolism of sphingolipids in the Hexadecanal +
endoplasmic reticulum (Blue arrows) and Golgi Etanolamine phosphate
Dihydroceramide
apparatus (Red arrows). Enzymes are shown in
Dihydroceramide Sphingosine-1-P
italics. desaturase Sphingosine lyase
kinase
Sphingosine Sphingosine-1-
phosphate
Ceramide Sphingosine-1-P
Sphingomyelin phosphatase
synthase

Sphingomyelin
GlcCer
GalCer synthase
synthase

Ceramide-1-P Galactoceramide Glucosylceramide

44
Fosfolípidos
Esfingofosfolípidos

E S F I NG
O
S
Ácido gordo I
N
A
Fosfato Álcool

45
Glicolípidos
Esfingoglicolípidos

E S F I NG
O
S
Ácido gordo I
N
A
Sacarídeo

46
47
48
Níveis elevados de triglicéridos e colesterol são factores de risco para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares

rastreio

diagnóstico
químico /laboratorial

49
Programas de rastreio
Triglicéridos

Colesterol

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Membranas biológicas

Good fences make good neighbors.


—Robert Frost, “Mending Wall,” in North of Boston, 1914
Membranas biológicas

Funções Movimento
• Definem limites externos das células Crescimento
• Regulam tráfego molecular Protecção
• Compartimentalizam a célula Reprodução
• Conservação de energia Revestimento
• Comunicação célula-célula Metabolismo
Transporte
Reconhecimento
Membranas biológicas

Propriedades físicas Componentes

• Flexível • 50-75% Proteínas


• Auto reparadora • 25-50% Lipidos polares
• Selectivamente permeáveis • Hidratos de carbono
a solutos polares (glicoproteínas e glicolípidos
• Permeáveis a solutos
apolares
Lípidos de membrana Em solução aquosa

Colesterol

54
55
Lípidos de membrana
Entre os lípidos que compõem a membrana os
fosfolípidos são os mais abundantes.
Os fosfatos podem conter grupos polares
adicionais como a colina, a etanolamina, serina
e inositol aumentando a hidrofilia.

O colesterol pode estar presente até 50% da Fosfatidilcolina


totalidade dos lípidos de membrana.
É mais pequeno e menos anfipático que os
fosfolípidos.

Outros lípidos como ceramidas e esfingolípidos


também podem fazer parte da membrana.

A distribuição dos lípidos de membrana é


assimétrica
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A membrana celular é assimétrica
Percentagem total Fosfolípido de Folheto interno Folheto externo
do fosfolípido na membrana 100 0 100
membrana
30 Fosfatidiletanolamina
27
* Fosfatidilcolina
23
15
* Esfingomielina
Fosfatidilserina
Fosfatidilinositol
Fosfatidilinositol 4-fosfato
5
Fosfatidilinositol 4,5-bifosfato
Ácido fosfatídico

Mais frequentes no folheto externo


* 57
Colesterol Influencia na fluidez de membrana

A fluidez das membranas é influenciada


pelo seu conteúdo em colesterol. Este
afecta a temperatura de transição entre
ordem e desordem das membranas.

– Interage com as caudas dos fosfolípidos


promovendo a sua rigidez.

– Promove a rigidez das “caudas” dos


fosfolípidos e por isso diminui a – Impede a demasiada aproximação das
permeabilidade da membrana a pequenas “caudas” dos fosfolípidos, impedindo as
moléculas solúveis na água. membranas de cristalizarem (de
congelarem), fazendo o mesmo papel dos
ácidos gordos com ligações duplas.

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Fluidez de membrana em função da temperatura
1
Fluidez de
Membrana Bicamada

(Unidades
Bicamada +
arbitrárias) colesterol

0 Temperatura
0 1 2
(unidades arbitrárias)
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O modelo do mosaico fluído propõe que as
Movimentos nas membranas membranas não são estruturas estáticas mas dotadas
de plasticidade, de movimento: as membranas
celulares são dinâmicas.

Assim, relativamente ao movimento de lípidos de


membrana podemos classificá-los em 3 categorias:

a) Movimento de flexão entre os resíduos de ácidos


gordos que constituem um fosfolípido;

b) Movimento lateral dos lípidos ao longo de um


folheto

c) Translocação de lípidos entre os dois folhetos da


membrana ou flip-flop.

Os movimentos lateral e de flexão são movimento


rápidos enquanto que o flip-flop é um movimento lento.

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Proteínas de membrana
• Proteínas integrais
(transmembranares) – ligações
hidrofóbicas com os lípidos

• Proteínas periféricas – interacções


electrostáticas e ligações de hidrogénio
com proteínas integrais ou com grupos
polares dos lípidos

• Proteínas anfitrópicas – citosol ou


associadas a membranas. Regulação
alostérica ou covalente. Reversível.
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Proteínas de membrana

Funções
• Adesão celular
• Endocitose / exocitose
• Fusão membranar

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Os aminoácidos
em contacto com a
porção lipídica
hidrofóbica são
apolares

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Anfipatia das proteínas
de membrana
As proteínas são moléculas com
propriedades anfipáticas uma vez que
podem ser constituidas por aminoácidos
hidrofóbicos e hidrofílicos na mesma
molécula peptídica.
Na imagem ao lado, podemos ver como
os resíduos aminoacídicos apolares
(hidrofóbicos) estão embebidos na região
interna da membrana, junto com os
resíduos de ácidos gordos e como a
glicina, prolina, isoleucina e metionina. Na
imagem podemos também ver exemplos
de aminácidos polares (hidrofílicos) que
estão em contacto com os ECF e ICF,
como por exemplo o aspartato, serina,
tirosina e glutamato.

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Gangliósidos
Os glicolípidos de membrana desempenham
diversos papéis funcionais nas membranas.
Veja-se o exemplo dos gangliósido
(ceramida+oligossacarídeo complexo)

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Fluid mosaic model
(Singer e Nicholson, 1972)

50-75% Proteínas
25-50% Lipidos

Movimento
Crescimento
Protecção
Reprodução
Revestimento
Metabolismo
Transporte
Reconhecimento
66
67
Fluído extracelular
(ECF)
Proteínas e glícidos envolvi-
dos na formação da matriz
extracelular, na adesão
entre células e tecidos e na
comunicação célula-célula.

Fluído intracelular
(ICF)

68
Transporte transmembranar

69
Tipos de transporte transmembranar

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TRANSPORTE PASSIVO
(sem gasto de ATP)
Difusão Simples

A difusão é a tendência das moléculas ou dos iões


dispersar uniformente por todo o seu ambiente. As
moléculas deslocam-se com movimento constante
(energia cinética) de uma forma aleatória, colidindo com
outras moléculas e/ou paredes do recipiente; O
movimento faz-se no sentido do local onde as moléculas
se encontram mais concentradas, para onde a sua
concentração é menor.

Difusão Facilitada

A difusão através da membrana faz-se implica que as


moléculas necessitem de uma elevada ΔG (energia livre)
para ultrapassar todas as barreiras que isso implica.
Assim, a presença de transportadores (proteínas),
facilitam a difusão através das membranas biológicas.

71
72
Difusão Osmose
A osmose é a difusão de água através das
membranas biológicas, no sentido do meio
menos concentrado para o meio mais
concentrado.

73
Tonicidade
É a capacidade do formato de
uma célula ser modificado pela
solução em que está imersa. A
solução muda a forma da
célula, alterando o seu volume
interno de água.

Meio hipertónico:
Plasmólise (a)

Meio hipotónico:
Turgescência (c)

a b c
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Transporte
Passivo TRANSPORTE Uniporte

(difusão facilitada)
Permeases

co-transporte
SIMPORTE
Transporte activo

Utiliza proteínas transportadoras que podem ligar-se ANTIPORTE


específica e reversivelmente aos átomos/moléculas
transportados com gasto de energia metabólica (ATP)

T.A. primário T.A. secundário


A energia provém A energia provém do
directamente da hidrólise gradiente iónico causado
de ATP pelo trans-porte activo
primário

75
Co-transporte
Uniporte Simporte Antiporte

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BOMBA DE SÓDIO E POTÁSSIO – Transporte
activo primário

BOMBA DE GLUCOSE (enterócitos)


Transporte activo secundário

BOMBAS

Transportadores de moléculas,
iões, produtos excedentários do
metabolismo e toxinas, contra-
gradiente.

77
P-type ATPases

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Na+K+ ATPase
Aquoporinas
Apesar das moléculas de água serem
polares, o seu pequeno tamanho (0,3
nm de diâmetro), permite-lhes uma
rápida difusão através das membra-nas
celulares. A maioria das membranas
plasmáticas tem, no entanto, uma
permeabili-dade à água 10 vezes maior
que uma membrana lipídica artificial.
Esta constatação pode ser explicada
pela presença das aquaporinas -
proteínas membranares que formam
canais através dos quais se dá a difusão
da água.

A descoberta das aquaporinas, valeu o Premio


Nobel da Química em 2003 a Peter Agre.

(http://www.nobleprize.org)

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80
Ionóforos
Carrier
São transportadores de microorganismos e
que se dividem em duas classes: carriers e
canais.

Vamos ver dois ionóforos (transportadores


de iões) microbianos e que são
actualmente usados como antibióticos:
Valinomicina e Gradinamicina A.

Na imagem do lado, pode visualizar-se o


exemplo de um carrier.

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Valinomicina
A Valinomicina é um transportador do tipo
carrier. É uma molécula circular que transporta
K+ e é constituída por 3 unidades da sequência
representada abaixo:

D-Val and L-Val represent the D and L enantiomers of Valine, D-


HyV is D-Hydroxyvaleric acid and L-Vac is L-Lactic acid.

A valinomicina é anfipática: o interior desta


molécula é polar enquanto que o exterior é
hidrofóbico .

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Gramicidina A
A Gramicidina é outro exemplo de antibiótico ionóforo
(transportador de iões), um péptido que forma um canal
na bicamada lipídica. Possui aminoácidos tanto na forma
D- como na forma L-. Este péptido dimeriza em forma de
-hélice.

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