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História do povo brasileiro História do povo brasileiro História História do povo brasileiro História do povo brasileiro História do
do povo brasileiro
sua implementação nos remotos seringais no interior Este livro de María Verónica Secreto conta a história
MaríaVerónica Secreto
do povo brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasilei-
da região Norte. Mas, se o governo não valorizava a extraordinária de homens e mulheres, a grande maioria
linguagem e o significado dos contratos, os “soldados” nordestinos, que participaram da chamada “Batalha da
EsteHistória
e suas mulheres, sim, insistiam nos direitos indicados Borracha” nos anos da Segunda Guerra Mundial. Mas
Históriadedoborracha
povo brasileiro História
Unidos do povo brasileiro
asileiro História brasileiro História doMARÍA
povo abrSegunda HistóSECRETO
ria do povo brasileiro
reclamaram seus direitos, denunciando os trabalhos Foi em resposta à seca de 1932 que o governo Vargas in-
demasiado pesados que eram obrigadas a fazer e insis- nos Estados durante VERÓNICA troduziu a imagem do sertanejo como um bandeirante
tindo até no direito de fumar, contrariando o regime novo, destinado a povoar os “espaços vazios” da nação.
Guerra Mundial. “Soldados da borracha” ajuda a
do povo esclarecer
brasileiro a complexidade
História do povo brasileiro História e do povo História do povo brasileiro História do povo brasileiro História do
disciplinar da diretoria dos “núcleos” onde elas e suas A autora demonstra que o trabalhador rural, apesar de
famílias residiam. ser na maior parte excluído dos benefícios da legislação
Barbara Weinstein
Professora de História da América Latina
na University of Maryland
das relações trabalhistas
da questão da cidadania no governo Vargas, analisando Soldados da
brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasileiro povo brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasilei-
social getulista, fazia parte de uma visão de mobilização
e colonização das “fronteiras” que procurava colocar
“cada um no seu lugar”.
o lugar do trabalhador rural, do Nordeste e da
Amazônia nos discursos e na política do Estado Novo. borracha A “Batalha da Borracha”, porém, era menos uma con-
seqüência da política federal e mais um programa de
História do povo brasileiro História do povo brasileiro História roHistória do povo brTrabalhadores
asileiro História do povo obrsertão
asileiro História
emergência para lidar com o enorme déficit de borra-
Arquivo pessoal
do povo bruma
asileiro Históriae alternativa
do povo br da asileiro História do povo do povo brasileiroHistória do povo brasileiro História do povo
veis, principalmente no Ceará, embora os nordestinos
hesitassem em virar “soldados da borracha” devido às
visão abrangente história brasileira,
denúncias de abusos cometidos pelos seringalistas na
combinando rigor historiográfico com linguagem acessível
brasileiroHistória do povo brasileiro do povo brasileiro brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasileiro
Históriacompetência
época do boom e às imagens de trabalho semi-escraviza-
do associadas com os seringais da Amazônia. Por isso, o
MaríaVerónica Secreto é doutora em História e publicando obras de autores de reconhecida governo Vargas procurava criar uma contra-imagem de
Econômica pela Universidade Estadual de Campinas um novo tipo de seringueiro que ia chegar na floresta
nos temas selecionados para cada volume.
História do povo brasileiro História do povo brasileiro História História do povo brasileiro História do povo brasileiro História do
e professora no Departamento de Desenvolvimento, com um contrato na mão e direitos garantidos pelo
Agricultura e Sociedade da Universidade Federal governo — e até assistência monetária e social para
Rural do Rio de Janeiro. Foi professora da Univer- sua mulher e seus filhos.
do povo brasileiro História do povo brasileiro História do povo povo brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasileiro
no qual realizou parte da pesquisa apresentada aqui. aspecto da “Batalha da Borracha” é uma contribuição
Nascida na Argentina, em Necochea, interior da ISBN 978-85-7643-025-4 absolutamente preciosa à historiografia das relações
província de Buenos Aires, formou-se em História trabalhistas e da questão da cidadania durante o Es-
brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasileiro História do
na Universidade Nacional de Mar del Plata, onde tado Novo. Segundo a autora, os representantes do
também lecionou. Realizou o mestrado em História governo federal sempre entenderam que os contratos
9 788576 430254
Social na Universidade Federal Fluminense . teriam pouca força, porque não havia como garantir
História do povo brasileiro História do povo brasileiro História do povo brasileiroHistória do povo brasileiro História do povo brasileiro
capa soldados da borracha.indd 1 2/13/07 3:49:45 PM
História do povo brasileiro
MariaVerónica Secreto
Soldados da borracha
Trabalhadores entre o sertão
e a Amazônia no governoVargas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Secreto, Verônica
Soldados da borracha : trabalhadores entre o sertão e a
Amazônia no governo Vargas / Verônica Secreto. — São Paulo : Editora
Fundação Perseu Abramo, 2006. — (Coleção história do povo brasileiro)
Bibliografia.
ISBN 978-85-7643-025-4
1. Borracha — Brasil 2. Brasil — História — Getúlio Vargas, 1930-1945
3. Seringueiros 4. Trabalho e classes trabalhadoras — Brasil I. Título
II. Série
06-4002 CDD-331.7667820981062
Índices para catálogo sistemático:
1. Brasil : Governo Vargas : Seringueiros : Extração da borracha :
História econômica
331.7667820981062
2. Trabalhadores na extração da borracha : Governo Vargas :
História econômica
331.7667820981062
Para Norberto e Mariana.
Coordenador da coleção
Fernando Teixeira da Silva
Equipe Editorial
Alexandre Fortes, Antonio Negro, Fernando Teixeira da Silva (editor deste volume),
Hélio da Costa e Paulo Fontes
Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica
Eliana Kestenbaum
Imagem da capa
xxxxxxxxxx
Pesquisa iconográfica
Maria Verônica Secreto
Revisão
Maurício Balthazar Leal
Márcio Guimarães de Araújo
Soldados da borracha
Copyright @ 2003 by Maria Verônica Secreto
isbn 978-85-7643-025-4
1a edição: março de 2007
Introdução ............................................................................................................ 7
Os sertões, a Amazônia e o trabalhador rural no discurso varguista .............
A dualidade litoral/sertão .........................................................................
“Viu a terra, ouviu o homem. E compreendeu
os anseios de todos”......................................................................................
Continuidade: bandeira e tempo afetivo ..............................................
Atingidos pelas palavras ..............................................................................
Passagens de Proa. As migrações nordestinas na rota amazônica
A seca: do naturalismo à história ambiental ........................................
De retirantes a imigrantes .........................................................................
Norte ou Sul. ..................................................................................................
“Mais borracha para aVitória” ............................................................................
A borracha: de Amazónia para Ásia e de volta a Amazónia............
A propaganda do varguismo......................................................................
Da sequidade à uberdade: outra viagem ...............................................
Do plano do Conselho de Imigração e Colonização ao do Conselho
Nacional de Economia.................................................................................
“De tua triste e sem sorte esposa”. As cartas das mulheres do nordeste
O Serviço de Mobilização de Trabalhadores
para Amazonas (semta) ..............................................................................
A peça fundamental: o contrato ..............................................................
Maridos e esposas..........................................................................................
A Assistência às famílias ..............................................................................
A modo de conclusão: Antônio e Jovelina ...........................................................
Notas
Bibliografia .............................................................................................................
Introdução
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fiscalização eficaz, nem sequer minimamente eficaz. A distância entre a lei escrita
e a prática jurídica, como em outros casos, continuava a ser imensa.
Como veremos, os únicos “fiscais” foram os próprios trabalhadores e suas
mulheres.
***
Memória e história têm muitas coisas em comum, mas não são sinônimos.
Todos temos direito à memória, mas os historiadores também têm a obri-
gação de analisar como esta é construída e por quê. Não podemos simplesmente
reproduzir os depoimentos individuais, como se a história fosse a somatória de
versões particulares.
Quem lembra, lembra desde o seu presente. Lembra as lembranças do evo-
cado. Constrói, a partir de dados posteriores, uma memória do vivido.
As reflexões geradas em torno de um evento contemporâneo ao narrado
nestas páginas serão provavelmente úteis para pensarmos a relação entre his-
tória e memória. No verão de 1944, enquanto se retirava do norte da Itália,
o exército alemão realizava uma série de massacres numa aldeia chamada
Civitella della Chiana, onde 175 homens foram separados de suas mulheres
e filhos, e fuzilados. Os habitantes da aldeia justificaram o massacre como
retaliação às ações de resistência. Cinqüenta anos depois, uma conferência
internacional ocupava-se do massacre. Esse encontro, afirma o historiador
Eric Hobsbawm, aconteceu num clima de desconfiança e de incômodo. Al-
guns jovens historiadores estavam surpresos de que os habitantes da pequena
cidade culpassem mais os homens da resistência do que os próprios alemães
pelo massacre.
Pelos critérios universalmente aceitos da disciplina histórica, argumenta
Hobsbawm, a narrativa dos aldeões devia ser cotejada com as fontes. O histo-
riador segue afirmando que os não-acadêmicos – que “necessitam e consomem”
o que produzem os historiadores – não se preocupam com as diferenças entre
os procedimentos científicos e as construções retóricas. Para aqueles não-aca-
dêmicos, boa história é a história que é boa para a “causa” deles3. Mas o que têm
a ver estas referências à memória dos aldeões de Civitella della Chiana com os
soldados da borracha? Muito.
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Os sertões, a Amazônia
e o trabalhador rural no
discurso varguista
A dualidade litoral–sertão
P ara alguns historiadores, a revolução de 1930 significou o rompimento
com o ordenamento agrário-conservador6. O sucesso do modelo econômico
e de desenvolvimento, por meio da substituição de importações, dependia do
alargamento do mercado interno. Este garantiria o desenvolvimento econômico
e permitiria romper com a dependência das flutuações do mercado internacional,
condenando-se assim o predomínio da política agrário-exportadora. Para o sucesso
deste plano, seria necessária a intervenção do Estado em matéria de infra-estrutura
viária e mercado de trabalho, além – e o mais importante para os nossos objetivos
– do incentivo à mobilidade da fronteira, incorporando amplos “espaços vazios”,
e da reunião dos diversos núcleos demográficos isolados. Para tal fim, a ideologia
da fronteira, ou bandeirantismo, teve um papel fundamental.
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BANDEIRANTISMO
As bandeiras entre os séculos xvi e xviii entraram na história oficial paulista
como sinônimo de expedição de alargamento territorial. Mas, como afirma o his-
toriador francês Fernand Braudel, em menos de um século os aventureiros de São
Paulo percorreram, sem tomar posse, metade do continente. Ou, segundo John
Monteiro, referindo-se aos remanescentes da expedição de Antonio Raposo Tava-
res que, em 1651, chegou a Belém do Pará depois de mais de três anos de imenso
périplo pelo continente, esta, como tantas outras expedições, nada tem a ver com
expansão territorial.
Seguindo John Monteiro, o desejo de assegurar um lugar de destaque para
seus antepassados levou os estudiosos paulistas a menosprezar o motivo básico da
penetração nos sertões: a busca de mão-de-obra indígena para os empreendimentos
agrícolas paulistas.
O termo bandeirante entrou na historiografia tradicional, assim como no
imaginário, como sinônimo de pioneiro, aventureiro intrépido, abnegado. O ban-
deirante seria, nesta interpretação, o responsável pelo alargamento das fronteiras
luso-americanas e, como tal, lhe caberia um lugar no panteão dos vultos nacionais.
Apagou-se em grande parte seu caráter de “devastador” e “despovoador”.
O fazendeiro paulista, enquanto desbravador e pioneiro, tem sido assimilado
ao bandeirante.
Cassiano Ricardo foi um continuador da tradição paulista de enaltecimento da
figura do bandeirante que, “destemidamente”, penetrou no território desconhecido
e extraiu dele as riquezas ocultas, arrancou da natureza o que esta escondia e criou,
a partir disso, uma civilização.
Braudel, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo. Séculos xV-xVIII. São
Paulo, Martins Fontes, 1995 (primeira edição: 1979), p. 82.
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“Quem examinar o panorama que nosso país oferece no momento […] vê,
com pesar, que durante longos anos se processou no país o inverso do objetivo
colonizador, na marcha lenta e assustadora da população rural para as cidades
litorâneas do leste” (grifo nosso)19.
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esta última instância aparece como uma “astúcia”, quando em geral se está
diante do que pode ser entendido pelo conceito de transação. Diante da hege-
monia política, a transação consiste em aceitar as relações pessoais para obter
benefícios de tipo individual.
No caso do Estado Novo, sua cuidadosa geração de idéias faz parte de um
discurso hegemônico articulado nos mínimos detalhes. Mas este discurso, pelo
menos no caso que nos ocupa, retoma idéias seculares como a de ingenuidade, a
de autenticidade, a de simplicidade e a de paciência do homem rural. O discurso
gerado desde o Estado, em torno da “Marcha para Oeste”, é acolhido favora-
velmente porque satisfaz expectativas e reproduz idéias há muito consensuais.
Responde às expectativas, talvez urbanas, do que deve ser o campo e às expec-
tativas rurais do que deve ser a cidade. Retoma, para corrigir, o mito dos “dois
Brasis”. Como temos demonstrado, o discurso estadonovista sobre os sertões
recolhe idéias elaboradas durante séculos de colonização e, principalmente, do
pensamento social brasileiro do século xix.
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direitos trabalhistas, por causa da distância entre a lei escrita e a prática jurídica,
mas foi importante na luta por direitos, uma luta com poucas conquistas, é certo,
mas com vários episódios e confrontos.
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Passagens de proa – as migrações
nordestinas na rota amazônica
Quem quiser compreender a história da Amazônia da metade
do século passado para cá, forçosamente terá de entender e
estudar profundamente o “cearense imigrante”.
Samuel Benchimol, 194438
Mas, enquanto o cortiço dickensiano subsiste no currículo
da história mundial, os filhos da fome de 1876 e 1899
desapareceram. Quase sem exceção, os historiadores modernos
que escrevem a história mundial do século xIx, de um
privilegiado ponto de vista metropolitano, têm ignorado as
mega-secas e fomes de fins da era vitoriana que engoliram o
que agora chamamos de Terceiro Mundo.
Mike Davis, 200239
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De retirantes a imigrantes
No século xix, o deslocamento de trabalhadores do Nordeste para outras
regiões, especificamente para o Sudeste, era bem conhecido, sobretudo pelo
fenômeno do comércio interprovincial de escravos entre as estagnadas ou de-
cadentes regiões produtoras de açúcar e as pujantes produtoras de café. Mas no
triênio 1877-1879, anos de dura seca, o Nordeste, em seu conjunto, e o Ceará,
em particular, experimentaram outro tipo de deslocamento de trabalhadores:
o dos pobres-livres-flagelados. A classe proprietária tomou a decisão de abrir
– temporariamente – uma exceção ao controle desse reservatório de mão-de-
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Fotos de J. A. Correa que formam parte de uma série de fotografias sobre o tema vítimas da seca de 1877-78. Estas imagens
foram publicadas n’ O Besouro, do Rio de Janeiro, periódico considerado um dos marcos no processo de incorporação da
fotografia pela imprensa ilustrada. (J. A. Castro, Secca de 187-1878. Iconografia. Biblioteca Nacional.)
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rou ao regime biológico dos homens a ponto de fazer parte do cotidiano. Um dos
motivos eram os rendimentos cerealíferos medíocres. Uma ou duas más colheitas,
às vezes, eram suficientes para provocar uma catástrofe. O rendimento medíocre
deixava a população camponesa sumamente vulnerável, resultado das quantidades
de sementes dadas por espiga, da reserva das necessárias para viver e para a próxima
semeadura e das que poderiam armazenar-se para consumo alimentício. Apesar
de serem os citadinos os que mais se queixavam da fome, não convém acreditar
muito neles, afirma Braudel, já que dispunham de outros recursos, como comprar
no estrangeiro, além das próprias reservas da cidade. Por outro lado, ao camponês,
em caso de má colheita, não restava outra solução senão mudar-se para a cidade a
qualquer custo, mendigar ou, muitas vezes, morrer nas ruas. A mesma coisa fazia
o retirante no final do século xix e nas primeiras décadas do xx: acudia às cidades,
mendigava nas ruas – quando o deixavam – e alguns também morriam lá, já que
ter chegado ao litoral não era garantia de ter passado o perigo.
A oligarquia cearense viu-se na incômoda situação de ter que decidir entre
a abertura para a saída de trabalhadores52 – inclusive, organizar essa saída – e
o aperfeiçoamento dos mecanismos de controle de circulação de trabalhadores
por meio de um dispositivo de regulação da mobilidade pessoal. Durante quase
todo o século xix existiram mecanismos de controle da circulação da população
pobre-livre. Mas estes intensificaram-se a partir de meados daquele século. O
projeto de repressão à ociosidade, apresentado quase simultaneamente com a
abolição da escravidão, reconhecia duas condições elementares para definir o
delito de vadiagem: o hábito e a indigência. A perseguição da vadiagem só pôde
acontecer de forma sistemática como complemento da formação de um mercado
de trabalho livre. Foi um dos instrumentos disciplinares para a mão-de-obra. Por
isso, no Brasil, se fez freqüente a perseguição de vadios e ébrios após a abolição.
Em áreas em que o trabalhador livre teve grande relevância, como no Ceará, as
formas de controle sobre a população pobre foram mais intensas. Colocava-se o
problema da mão-de-obra junto com o de manter a ordem social, nos termos de
levar o liberto ou livre a vender sua força de trabalho ou tornar-se “dependente”
ou “cliente” de algum senhor local, como agregado, morador, parceiro etc. Essa
questão apresentava duas dimensões: por um lado, a prática que visava medidas
que obrigassem este potencial trabalhador a vender sua força de trabalho e, por
outro, a revisão de conceitos e valores que construíssem a ética do trabalho.
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Norte ou Sul
Como afirmávamos, no Ceará, depois de março, se ainda não choveu,
perdem-se as plantações e o gado adoece ou fica em suas últimas forças. Assim,
esgotadas as possibilidades de permanecer no sertão, os agricultores marcham
para o litoral, porque é lá que podem encontrar algum recurso para sobreviver.
A presença dos retirantes na cidade inicia as negociações, o pedido de “socorros”:
comida, roupa, assistência médica, passagens. Passagens para emigrar para fora
da área atingida pela seca. Para São Paulo ou para a Amazônia.
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Quatro crianças em farrapos. (Fotografia sem autor. Secca do Ceará. Iconografia. Biblioteca Nacional.)
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FAMÍLIA PRADO
Os Silva Prado são das mais ricas e influentes famílias de São Paulo, cuja
importância e cuja fortuna remontam ao século xviii. Eles tiveram papel desta-
cado no comércio, nas finanças, no cultivo do café, nas ferrovias, na indústria, na
política, na imprensa, na cultura e nas artes paulista e brasileira. Mas seu apogeu
deu-se com o café. Antônio da Silva Prado ocupou durante o Império e a Pri-
meira República cargos estratégicos para os interesses paulistas e de sua classe,
tendo sido ministro do Exterior e da Agricultura. No Ministério da Agricultura
promoveu a formação de colônias de imigrantes no Espírito Santo, Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Em 1886 a lavoura cafeeira representava 60% das exportações brasileiras. A
carência de mão-de-obra motivara a adoção de medidas de estímulo à imigração,
como a criação da Sociedade Promotora da Imigração por Antônio da Silva Prado,
então ministro da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas da Agricultura.
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Inspetoria de Obras Contra a Seca. Horto Florestal em Quixadá. Eucaliptos de 30 meses. 1915. (Guilherme, Oscar.Vistas das
obras contra o flagelo das secas. 1915. Iconografia. Biblioteca Nacional.)
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O ano de 1942 também foi marcado pela seca, criando uma conjuntura
favorável ao recrutamento de trabalhadores para os seringais da Amazônia. Em
1942 foram assinados os acordos com Washington, comprometendo o governo
Vargas a produzir borracha para os aliados, com o lema “mais borracha em menos
tempo”. Mas para isso precisava-se de um recrutamento maciço de trabalhadores
dispostos a deixar seus lares de um dia para o outro. A urgência marcava o ritmo
dos trabalhos de preparo de um amplo esquema de recrutamento e condução
dos trabalhadores até os seringais amazônicos.
A borracha no Brasil vinha de uma crise que se estendia desde 1910, quando
seu preço começou a cair, depois de dois anos de aumento e de uma alta abrupta
entre abril e maio. Em 1900 o Brasil produzia 26.750 toneladas de borracha e, em
1919, 34.285, enquanto a Ásia passou, no mesmo período, de 3 mil para 381.860
toneladas71. A indústria automobilística norte-americana vinha absorvendo grande
parte dessa produção asiática, mas a guerra interrompeu o comércio entre a Ásia
e os Estados Unidos depois do ingresso do Japão na guerra.
Fazia tempo que os Estados Unidos pesquisavam com a Alemanha em busca
da produção de borracha sintética, mas também não descuidavam das pesquisas
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“Mais borracha para a vitória”
Art. 207. Aliciar trabalhadores de um local para outro do
território nacional.
Deve entender-se no dispositivo supra. Como crime de
aliciamento de trabalhadores […] a sedução para que o
trabalhador abandone serviço em que se ache ocupado para ir
para outra localidade do território nacional.
[…]
Como sedução no aliciamento de trabalhadores é de
considerar como eficiente a distribuição de prospectos,
oferecendo vantagens de bom tratamento e altos salários,
visivelmente impossíveis de ser pagos, pela natureza do
trabalho a fazer.
Aliciar, no sentido expresso acima, é recrutar: escolher
determinada espécie de trabalhadores, para um trabalho em
indústria especializada…
Ribeiro Ponte, Código Penal Brasileiro, 194272
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vários navios mercantes brasileiros: dois nas costas dos Estados Unidos e seis nas
costas brasileiras, tendo morrido 607 passageiros e tripulantes.
O ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, propôs ao presidente
Getúlio Vargas a organização de uma Força Expedicionária Brasileira (feb) para
tornar efetiva a participação do Brasil na guerra. A feb adotou como emblema
uma cobra fumando, em alusão àqueles que diziam que o Brasil entraria na guer-
ra apenas no dia em que cobra fumasse. O Brasil, finalmente, entrava na guerra
enviando para a Itália 25 mil homens, totalizando 239 dias de combate, nos quais
morreram 465 homens.
Os afundamentos dos navios mercantes geravam grande apreensão, sobretudo
para os retirantes embarcados para a Amazônia:
“O porto de Fortaleza, como é sabido, ainda não tem cais, e, portanto, o embarque
tinha de ser feito, da ponte para o navio, através de embarcações.
“Assim, foram embarcados os 15.105 trabalhadores e 8.065 dependentes. A vida
a bordo era de apreensão pois que estávamos em tempos de guerra e a presença
do caça-submarinos e do avião não permitia que alguém pudesse esquecer tal
situação.
“Embora mal acomodados, na viagem que durava três a quatro dias, os nordestinos
esticavam suas redes onde houvesse um espaço disponível. Nem de outra forma
poderia ser…”
Relatório da Comissão de Encaminhamento de Trabalhadores para Amazônia.
Dezembro de 1945.
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BORRACHA
Segundo o Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa, “cautchu” significa subs-
tância elástica e resistente, resultado da coagulação do látex de diversas plantas.
“Borracha” é a substância elástica feita do látex coagulado de várias plantas, prin-
cipalmente a seringa, a goma elástica, o caucho etc.
partir de final do século xix, intentou-se contornar tais dificuldades por meio
do contrabando para a Grã-Bretanha de algumas mudas da Hevea brasiliensis que
HenryWickham realizara em 1876. No Kew Garden, jardim botânico de Londres,
a planta foi aclimatada e dali passou para as possessões britânicas no Ceilão e as
possessões holandesas em Java, lugares onde foi cultivada de forma sistemática.
Segundo Celso Furtado, podemos desdobrar a produção da borracha em duas
etapas: a primeira se desenvolveu inteiramente dentro do território amazônico e
representou uma solução de emergência para o problema da oferta, fase que se
caracterizou também pelos preços crescentes, chegando à média de 512 libras a
tonelada.A segunda etapa caracterizou-se pela produção no Oriente, organizada em
bases racionais, introduzindo-se a borracha de forma regular no mercado a partir
da Primeira Guerra Mundial e reduzindo-se os preços a algo inferior a 100 libras a
tonelada. Esta última etapa implicou a decadência da produção amazônica.
No período entre guerras, Henry Ford teceu a idéia de produzir borracha
de forma racional e sistemática no território amazônico. Se a empresa iniciada
por Henry Wickham tinha levado a borracha a menos de 100 libras a tonelada,
ele cogitava conseguir abastecer suas indústrias por muito menos do que isso.
A “espionagem agrícola” de Henry Wickham levou a seringueira para o
Ceilão, Malásia e Java, numa experiência prévia de aclimatação, processo que
acontecia com todas as espécies vegetais transportadas de seus lugares de origem.
Lembremos que o produto de maior exportação brasileira do século xix, o café,
também teve que ser aclimatado. Originário da Etiópia, passou para a Holanda,
onde foi aclimatado no jardim botânico, de lá se deslocou para a França e desta
para suas possessões coloniais. Segundo a tradição, em 1726, o sargento-maior
Francisco de Melo Palheta foi enviado do Maranhão para a Guiana Francesa. Des-
sa viagem, voltou ao Pará com algumas sementes e mudas, apesar da proibição
expressa a respeito, dando-se assim início ao cultivo do café no Brasil75.
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história do povo brasileiro
O empreendimento de Ford era pioneiro pela escala que tinha. Tudo dele
era medido em milhares e milhões. No final da década de 1920, o estado do Pará
havia concedido terras no Tapajós à Companhia Ford Industrial do Brasil. Em
1934, por meio de um termo aditivo ao contrato, a empresa trocou uma área
da primeira concessão por outra da mesma extensão e mais próxima à foz do
Tapajós. O nome Fordlândia, com que ficou conhecido o empreendimento de
Ford na Amazônia brasileira, corresponde estritamente à primeira área; a segunda
recebeu o nome de Belterra.
Quando a empresa começou a demonstrar algum sucesso, isto é, quando
foram plantadas 1 milhão de mudas e estas começaram a dar sinais de grande
vitalidade depois de dois anos, ninguém tinha dúvidas de que a empresa era bem-
sucedida, embora muita coisa ainda estivesse para acontecer.
ABAIXO O ESPINAFRE!
Por ocasião do x Congresso Brasileiro de Geografia (1944), o ibge (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) publicou Amazônia brasileira, uma coletânea de
trabalhos sobre a Amazônia, o tema do momento. Gastão Cruls contribuiu com um
artigo intitulado “Impressões de uma visita à Companhia Ford Industrial do Brasil”,
resultado de uma viagem que ele tinha realizado em 1938 e sobre a qual escrevera um
ano depois para a Revista Brasileira de Geografia. Suas palavras não poderiam ser mais
elogiosas para o empreendimento da Companhia Ford no rio Tapajós, na Amazônia.
Da conversa que Cruls manteve com o diretor-gerente da companhia, o senhor A.
Johnston, podemos destacar o principal problema que a administração enfrentava: a
falta de mão-de-obra. O maior número de homens teria sido obtido em 1931, quando
trabalhavam para a companhia 3.100 seringueiros. Mas, em lugar de aumentar nos
anos seguintes, este número diminuiu para 1.700 em 1938. Afirmava Johnston que
isto se devia à falta de costume do caboclo com o trabalho metódico e com a fixação
à terra. Johnston percebia que havia alguma diferença de natureza cultural, embora
talvez não conseguisse medir as suas conseqüências. Continuava o diretor informando
que havia horários de trabalho fixos: de 6h30 até 15h30, com uma hora para o almo-
ço. Este horário era marcado num relógio registrador, como o utilizado nas fábricas,
havendo relógios espalhados por vários pontos da imensa propriedade. Apoiando-se
num decreto estadual, em toda a concessão eram proibidas a venda e o uso de bebi-
das alcoólicas. Como em outras propriedades da Amazônia, havia um regulamento
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Soldados da borracha
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história do povo brasileiro
implicava a “forma americana de vida” (american way of life), cuja rejeição ia do es-
pinafre à casa quente construída sobre o chão, e não sobre palafitas80.
Com a deflagração da guerra, afirma o historiadorWarren Dean, descobriu-se
que as companhias químicas norte-americanas não dominavam o procedimento
para a produção de borracha sintética, daí a busca frenética de alternativas81. A
partir de 1940, antes do bombardeio a Pearl Harbour, o governo norte-americano
aprovou medidas destinadas a adquirir borracha. Em 1940 foi criada a Rubber
Reserve Company, com um capital de 140 milhões de dólares, cuja finalidade
era a aquisição de borracha. Outra instituição norte-americana, que interviria
na América Latina nas áreas gomíferas, ou nas que a seringa poderia se adaptar,
foi o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (usda – United States
Department of Agriculture), que planejava estratégias a longo prazo: ampliar a
heveicultura.
Na conjuntura de busca de suprimentos de borracha nos Estados Unidos,
lembrou-se que Ford tinha imensos seringais na Amazônia.Técnicos brasileiros
e norte-americanos visitaram as plantações. Buscava-se desenvolver espécies
que reunissem duas qualidades: produtividade e resistência ao mal-das-folhas.
Segundo Warren Dean, os pesquisadores do usda estavam convencidos de
que encontrariam no território do Acre e do Mato Grosso árvores que com-
binassem tais qualidades82. Mas esse projeto de heveicultura não implicava
que o cultivo sistemático das espécies borracheiras se limitasse ao território
brasileiro, nem ao amazônico. As espécies clonais resistentes serviriam para
os plantios no Panamá e na Costa Rica. Segundo Dean, a preferência dos nor-
te-americanos pela América Central deve-se talvez à estreita relação entre os
homens do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, que realizavam
o trabalho de campo na América Latina, e os homens da Goodyear, que tra-
balhavam na América Central.
Observadores da rdc (Rubber Development Corporation) e do usda
visitaram as possessões de Ford em 1942 e examinaram os estragos causados
pelo mal-das-folhas. Os seringais foram novamente abatidos em 1944-1945.
Em 1946, Ford se retirou do Brasil; já desde 1944 existia a borracha sintética
e, desde 1942, os Acordos de Washington previam o incremento da produ-
ção de borracha no velho esquema: atividade extrativa com recrutamento
de mão-de-obra no Nordeste do Brasil. Quando Ford retirou-se do Brasil,
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Soldados da borracha
A propaganda do varguismo
Assinalamos anteriormente que, nas décadas de 1930 e 1940, com o discurso
de “unidade nacional”, um setor da sociedade, o formado pelos trabalhadores rurais
e pelos habitantes do campo, em geral, foi incorporado de forma simbólica ao
“corpo da nação”. Pela natureza desta incorporação, foi fundamental o trabalho
da propaganda oficial.
Durante o primeiro governo de Vargas surgiram órgãos de propaganda
oficial, que implicavam também controle e repressão de idéias contrárias ou
consideradas ameaçadoras. Com o Estado Novo, foi criada, em 1939, uma peça
fundamental: o Departamento de Imprensa e Propaganda (dip), órgão vinculado
diretamente à Presidência da República, que se ocupava não só do controle dos
meios de comunicação, isto é, da censura, mas também da difusão e da divulgação
das mensagens propagandistas. Em 1940 o dip teve seu poder ampliado com a
instalação, em cada estado do país, de um Departamento Estadual de Imprensa
e Propaganda (deip). Entre os objetivos do dip, estava centralizar, coordenar e
orientar a propaganda e auxiliar os ministérios e as entidades públicas e privadas
sobre a propaganda nacional, assim como incentivar a arte e a literatura “genui-
namente brasileiras”.
O trabalhador e o trabalho não eram prioritários nos meios de comunicação.
Por exemplo, na imprensa paulista controlada pelo dip os temas dominantes eram
a doutrina do Estado Novo e suas realizações. Entre 127 textos pesquisados por
José Inácio Melo Souza, 2,2% referiam-se a trabalho84. Silvia Goulart analisou o
conteúdo das matérias publicadas pelo deip de São Paulo na imprensa local em
seu estudo de 5.799 recortes de jornais anexados nos processos do deip. Esses
processos eram constituídos por correspondência de empresas editoriais recla-
mando o pagamento da publicação de materiais oficiais. Da tabela temática que
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história do povo brasileiro
ela elabora a partir das matérias pagas entre 1941 e 1944, depreende-se que o
tema trabalho teve uma média de 2,2%85.
Segundo Maria Helena Capelato, o trabalhador que aparecia nos cartazes
produzidos pelo dip era representado como força de trabalho. A organização
racional do trabalho era representada pelo binômio trabalhador–máquina. Nes-
se binômio, a máquina ofuscava o trabalhador. Capelato explica a inexpressiva
representação do operário na iconografia varguista pela negação estadonovista
de identidade de classe, substituída pela identidade nacional. Mas na propaganda
destinada ao recrutamento de nordestinos para a Amazônia o homem-trabalhador
foi a figura central (mais adiante veremos por quê).
A propaganda política vale-se de idéias e conceitos transformados em ima-
gens e símbolos. A principal referência da propaganda é trabalhar com elementos
de ordem emocional. Segundo Capelato, o objeto da propaganda política se define
no terreno onde política e cultura se mesclam com idéias e se relacionam com o
estudo dos imaginários sociais. Um dos conceitos-símbolo utilizados pelo Estado
Novo foi a bandeira e o bandeirismo, aos quais já temos nos referido bastante.
O regime também utilizou-se de outros de menor sofisticação teórica, mas de
grande aceitação popular, tais como: a simplicidade e a autenticidade da população
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história do povo brasileiro
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história do povo brasileiro
Imagem 2 - Grupos de
trabalhadores vão para a
Amazônia,“para a fartura”.
Cartaz colorido. (Acervo
Jean Pierre Chabloz - Mu-
seu de Arte da Universidade
Federal do Ceará.)
Imagem 3 - Uma imagem
idílica da floresta amazô-
nica começou a surgir nos
cartazes de recrutamento do
SEMTA. Neste, a exploração
de borracha aparece como
uma atividade de “fundo de
quintal”. (Acervo Jean Pierre
Chabloz - Museu de Arte
da Universidade Federal do
Ceará.)
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Soldados da borracha
brincando e uma mulher pendurando roupas brancas no varal. Até mesmo a densa
floresta amazônica não é tão fechada e deixa passar alguns raios de sol. A casa está
cercada e o homem está tirando látex de uma seringa vizinha ao cercado (ver imagem
3). Segundo Samuel Benchimol, o que a monocultura fez em outras regiões do Bra-
sil, o extrativismo fez na Amazônia: “Seringa e roça, portanto, não rimam bem…
Seringa rima bem é com béri-béri, com charque e farinha, com pirarucu seco e
feijão. Não combina com batatas, legumes, galinhas, ovos, leite”93. Nesta ilustração
de Chabloz, o extrativismo é uma atividade complementar na economia camponesa.
Salientemos que o público a que é dirigido o cartaz é sobretudo camponês, para o
qual a agricultura é uma parte importante do seu cotidiano.
O trabalhador recrutado recebia um enxoval composto por uma calça
de mescla azul, uma blusa de morim branco, um chapéu de palha, um par de
alparcatas de rabicho, uma caneca, um prato fundo, um talher que era colher e
garfo, uma rede e um saco de estopa. Esse enxoval foi desenhado por Chabloz
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história do povo brasileiro
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Imagem 7 - Na colagem feita com fotografias, o protagonista é o soldado da borracha. Ele aparece em formação militar,
fazendo ginástica, sendo examinado pelos médicos, cortando o cabelo, fazendo a barba, sendo vacinado, jogando vôlei, luzin-
do seu uniforme, marchando nos caminhões. Colagem realizada com fotografias da Aba Filme. (Acervo Jean Pierre Chabloz
- Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará.)
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história do povo brasileiro
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Imagens 8a e 8b - A migração se apresenta nestas imagens como um percurso entre dois pontos: um seco, de
formações vegetais tortuosas e com espinhos, e outro verde e frondoso. Se a sequidade é a pobreza, a umidade
é a riqueza; por isso, a esperança se transforma em certeza, em fartura. Bosquejo e cartaz definitivo. (Acervo
Jean Pierre Chabloz - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará.)
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Foi criado um serviço especial para cuidar da saúde dos recrutados, o Ser-
viço Especial de Saúde Pública (sesp), que manteve uma estreita relação
com o semta.Tipos biológicos como o deste desenho eram utilizados para
Homens do Pouso do Prado, já uniformizados, “catalogar” os trabalhadores.
ouvem, embaixo do alto-falante, as indicações
que continuamente recebiam por este meio.
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Soldados da borracha
O semta teve uma vida curta e intensa. Por meio dele foi organizado ra-
pidamente todo um sistema que implicava assistência às famílias, seleção dos
trabalhadores, alojamento nas barracas, chamadas de pousos, exames médicos,
alimentação, transporte, vestuário e adiantamentos até ser colocado nos seringais.
Mas o encontro do litoral com o sertão não seria tão simples como fora pensado
e projetado no papel. Um funcionário encarregado de recrutar trabalhadores no
interior, ante a dificuldade de conseguir um número relevante de “voluntários”
por terem começado as chuvas, dizia que os boatos sobre a natureza do trabalho
que deviam realizar eram “desconcertantes e estúpidos”, arraigados na mentali-
dade dos sertanejos.
Do Crato, Paulo Assis Ribeiro, diretor do semta, escreveu para um de seus
colaboradores, em 24 de fevereiro de 1943:
“Prezado Hyder
Escrevo-lhe às pressas, às dez horas da noite, no ligeiro intervalo de mil coisas a
tratar, do insano trabalho de manter em ordem esse grupo de vadios que estou
procurando fazer viajar amanhã…”97
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Leva de soldados da borracha em caminhões e marchando pelo centro de Fortaleza antes de uma das partidas para a Amazônia.
(Acervo Jean Pierre Chabloz - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará.)
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Soldados da borracha
tradicional, já que a classe proprietária do Nordeste não abria mão tão facilmente
daqueles trabalhadores-moradores que constituíam sua força política e econô-
mica. Em todas as oportunidades em que os proprietários do Nordeste haviam
aberto mão de “sua” força de trabalho, fizeram-no em condições-limite, quando
já não podiam reter essa população no território, quase sempre nos complicados
quadros de seca. Os agentes tradicionais sabiam, mais ou menos, como lidar com
os coronéis. Tradicional também foi o “aproveitamento” que se fez da conjuntura
de seca, quando em 1942 milhares de sertanejos rumaram para o litoral em busca
de auxílio98.
No destino, em lugar de famílias povoando e ocupando a região amazônica na
qualidade de pequenos proprietários, como o discurso varguista vinha salientando,
a urgência da demanda e as condições impostas pelo financiador do projeto – os
Estados Unidos, por intermédio da rdc – vieram reforçar uma velha prática.
Assim, os seringalistas se beneficiaram de uma política nacional numa conjuntura
internacional específica.
Angela de Castro Gomes99 afirma que desde a Primeira República vinha-se
abandonando o liberalismo, o que se evidenciava na política tarifária, de valori-
zação do café e da imigração. A novidade, a partir dos anos 1930, era a demanda
por uma intervenção do Estado no mercado de trabalho. Mas, no caso dos traba-
lhadores rurais do Nordeste, essa intervenção também tinha seus antecedentes.
Não foi a primeira vez que o Estado interveio para agenciar trabalhadores para
outras oligarquias regionais.
Como em muitos outros aspectos do Estado Novo, produziu-se uma ci-
são entre o escrito e a realidade concreta. A respeito da legislação trabalhista
plasmada na clt (Consolidação das Leis do Trabalho), John French100 analisa
a distância entre o real e o ideal. Este historiador afirma que, considerada em
seu momento como uma das leis mais avançadas no mundo, quando se examina
mais acuradamente o mundo do trabalho vê-se que na prática ela era aplicada
de forma muito irregular e insatisfatória. Havia desigualdades evidentes entre
campo e cidade, entre regiões do país e, inclusive, entre setores e ocupações nas
áreas urbanas. Como já assinalamos em outro capítulo, os benefícios das “leis
sociais” não eram para os trabalhadores do campo. Segundo o declarado pelos
homens do regime, não seriam os trabalhadores rurais os beneficiários dessas
leis naquele momento histórico, embora argumentassem que seriam posterior-
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história do povo brasileiro
maridos e esposas
O semta recrutava e encaminhava homens, somente homens. Porque,
como mostramos, já não se tratava mais de um projeto de colonização, mas de
uma campanha de exploração: “Mais borracha em menos tempo”. Entretanto,
essa preferência não implicou que todos os recrutados fossem solteiros e não
tivessem família.
Os trabalhadores podiam assinar tipos de contrato que estabeleciam assis-
tências diferenciadas para suas famílias. Os contratos de encaminhamento eram
idênticos para todos os trabalhadores, o que mudava era o tipo de assistência
familiar. Os dependentes do trabalhador, em sua maioria mulher e filhos, podiam
permanecer em hospedagens administradas pelo semta, comprar os alimentos
nos barracões do semta a preços mais baixos que os de mercado ou poderiam
receber a assistência somente até a chegada do trabalhador no seringal. Paulo
de Assis Ribeiro, diretor do semta, comunicava aos funcionários em São Luís e
Belém que os contratos dos trabalhadores cujas famílias eram assistidas levavam
um carimbo indicando o tipo de assistência e o número de dependentes. Seguem
diferentes tipos de contratos:
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Soldados da borracha
“502 – Declaro que opto por que meus dependentes diretos só recebam a assis-
tência relativa a eles durante a vigência do contrato de encaminhamento, ficando
sua assistência por minha conta quando estiver localizado nos seringais.”
“503 – Declaro que meus dependentes diretos devem ser nucleados de acordo
com as normas da assistência dada pelo semta aceitando as condições fixadas
para este caso nas cláusulas respectivas do contrato de encaminhamento e
subseqüentes.”
“504 – Declaro que meus dependentes diretos ficarão para efeito de receberem
a assistência dada pelo semta, associados às cooperativas organizadas pelo semta,
aceitando as condições fixadas nas cláusulas respectivas do contrato.”
“505 – Declaro que os meus dependentes diretos ficam sob minha exclusiva
responsabilidade.”
O folheto de propaganda “Rumo à Amazônia”107, destinado a motivar tra-
balhadores para se apresentarem como voluntários para a batalha da borracha,
depois de apelar ao patriotismo e às vantagens econômicas para o trabalhador,
dizia, em sua décima página:
“AMPARO À FAMÍLIA:
A família deste homem – a sua esposa, os seus filhos?…
Também não foram esquecidos. As pessoas de família, que dependem do
trabalhador alistado no semta, ficarão a salvo das necessidades, amparadas
financeiramente com a quantia de Cr$ 2,00 (dois cruzeiros) até Cr$ 8,00
(oito cruzeiros), cada uma, ou, cabendo-lhes, alojamento, alimentação – e,
em todos os casos, assistência médica, prática da religião católica etc. À fa-
mília do soldado da borracha não faltarão elementos para manter dignidade
de vida…”
O Regulamento do SEMTA108 dedicava-se no capítulo 2, seção iii, à assistência
social, estabelecendo:
“Art. 13 – O semta, tendo como finalidade no campo social garantir a preser-
vação da família do trabalhador mobilizado, a qual só poderá seguir para junto
do mesmo quando os meios de transporte e as condições locais de saneamento
e abastecimento na Amazônia forem favoráveis, organizará os serviços de assis-
tência social de forma a atingir a consecução deste objetivo fundamental.
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história do povo brasileiro
Art. 14 – A Assistência econômica aos dependentes será feita por meio do fundo
de assistência às famílias, constituído pelas contribuições fixadas nos acordos
respectivos.
Art. 15 – As formas de assistência variarão conforme os casos de dependentes
que desejem ou não o alojamento fornecido pelo semta.
Art. 16 – Será facultado aos dependentes, nos locais de nucleamento, assistência
nas formas econômica, médico-social, educacional e religiosa, sendo nestes
pontos facultado trabalho a todos que estejam em idade e condições físicas de
prestá-lo.”
Um grande número de mulheres e crianças, dependentes dos soldados da
borracha que optaram pela assistência “nucleada”, ficaram na cidade de Fortaleza
no núcleo Porangabussu, dirigido pela senhora Regina Frota, mulher de Jean
Pierre Chabloz – o artista plástico contratado para realizar tudo o que implicasse
propaganda e desenho gráfico, do qual tratamos no capítulo anterior.
Crianças com dos funcionários do SEMTA no Núcleo das famílias em Parangabaçu, em Fortaleza. (Acervo Jean Pierre Cha-
bloz - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará.)
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Soldados da borracha
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história do povo brasileiro
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Soldados da borracha
pois tu sabes que eu não passo sem o fumo. Quero que tu mandes dinheiro
para eu comprar.”
Quase um mês depois, Maria Filisolina de Abreu escrevia a seu esposo,
Abel, para comunicar-lhe a situação em que se encontrava no Núcleo: “Aqui sou
uma desprezada”. Segundo ela, todos os problemas começaram quando o doutor
Pinto levou a mulher para o núcleo e esta “inventou umas leis que não podem
ser criadas”; primeiro, quis proibir o fumo, mas, como não obteve êxito, então
decidiu cercar um dos barracos para as fumantes.
Estava se organizando outro núcleo para o qual as mulheres e crianças seriam
trasladadas e, dizia-se em Porangabussu, que seria coordenado pela mulher do
doutor Pinto. Maria Filisolina prognosticava ao marido que nesse dia, quando dona
Ivete fosse diretora do Núcleo, começaria a “guerra civil”, porque as mulheres não
aceitavam as leis dela, que era do Rio de Janeiro, porque elas eram do interior,
conforme a carta. Filisolina o informa também de que o inconformismo não era
de uma ou duas famílias, mas de muitas. Muitas “que combinam que a liberdade da
tu deve compreender em que sentido eu digo mas acho tão custosos estes seis meses
mas como Deus te levou pode trazer ou mesmo levar portanto vou-me conformar
não é. Quantas noite, quantos dias o meu coração invadido de umas infindas saudades
e muitas vezes derramam-se meus olhos lágrimas por esta tua ausência por tão longos
tempos, sempre vejo-te em sonho mas tão diferente comigo, sonho realizado o que
mais desejo, compreende? é…
Cursino, peço-te que quando tiveres dinheiro não esqueça de mim e dê sempre
notícias que servirá de conforto para mim, conte-me tudo como é e como passas.
Eu fui assistir a tua saída com o Samuel e não mais encontrei foi para mim um dia
de Juizo.
Cursino, posso ficar tranquila? Como tu [não] me escreve sempre e manda me
buscar com 6 meses? Tua mãe manda abraços e te abençoa, ela reclama porque tu
é muito grosseiro em não dar notícia. Samuel e Agenice envia-te abraços. Abençoa
o Samuel.
Adeus tua saudosa esposa
Elcidia Galvão
Fortaleza, 20/6/43
Responda”
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história do povo brasileiro
escravatura foi acabada”. Mas por que essa relação com a escravidão? Não somente
pelas regras do “bom viver”, como não fumar, mas porque se dizia que no outro
Núcleo as mulheres iriam trabalhar sem receber nenhuma remuneração. Joana
tinha escrito para Guilhermino: “O cativeiro aqui está de não suportar. Vamos
para o outro com mais sujeição que os presos, é para todo mundo trabalhar”.
Embora as cartas de Elcidia, Joana e Maria Filisolina não tivessem chegado
ao destino, outras o conseguiram. Eram cartas que deveriam conter mais ou
menos as mesmas queixas. Alfredo Mesquita de Oliveira, por exemplo, escreveu
de Manaus, em 15 de julho, a dona Regina pedindo como favor que, quando
fizessem trabalhar às mulheres, dessem serviços mais “maneiros” a sua esposa,
Antonia Araújo, e que esta levasse as filhas sempre consigo. Alfredo pedia trabalhos
“mais maneiros”, pois tinha tomado conhecimento de que elas iriam fazer tijolos,
telhas e “trabalhar de enxada”, e a mulher dele não tinha costume de fazer esses
trabalhos. Além disso, escreve ele, “quando eu fui fazer a ficha de família falamos
em trabalhos maneiros como tem de fazer rendas e engomar bordados, criar
galinhas e diversos maneiros”.
Em 13 de agosto, Manoel Souza Viana escrevia também a Regina Frota.
Dizia que tinha recebido informação de que no Núcleo havia problema com o
trabalho pesado e difícil, que ele achava não ser adequado para essas mulheres e
mães de família, sendo
“irresistível principalmente para a minha senhora [porque] ela não tem cos-
tume e mesmo eu nunca botei ela para fazer esses trabalhos, […] não assinei
este contrato de nuclear a minha mulher para ela trabalhar pesado. O con-
trato que eu assinei foi para ela ficar no Núcleo obtendo o conforto assistida
e amparada”.
Como dissemos, o contrato poderia ser um pedaço de papel para o serin-
galista, mas não para o seringueiro. Não era por acaso que Alfredo e Manoel
sublinhavam, respectivamente: “Quando eu fui fazer a ficha...”, “o contrato que eu
assinei...”. O papel que eles tinham assinado implicava “assistência e amparo”: as-
sim estava escrito e assim o compreenderam. O contrato mencionava 20 vezes o
termo “assistência” e isso não tinha passado despercebido pelos trabalhadores.
As mulheres do Núcleo Porongabussu não estavam de favor ali e assim
também não se sentiam. Segundo o contrato, ao trabalhador que optasse pela
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Soldados da borracha
assistência providenciada pelo semta para seus dependentes, lhe seriam creditados
sete cruzeiros por dia transcorrido sem prestar serviço, e 11 cruzeiros por dia em
que o prestasse. Além disso, como assistência à família, seriam creditados pelo
semta dois cruzeiros por dependente. No momento de assinar a ficha familiar, os
trabalhadores foram informados de que as mulheres realizariam alguns trabalhos
no Núcleo, mas estes seriam “maneiros”, como costurar, bordar, engomar etc.
Trabalhos que eles e elas consideravam apropriados para uma mulher.
Sabemos que a origem dessas mulheres, na sua imensa maioria, era o in-
terior do Ceará, sendo elucidativa a esse respeito a frase “porque ela é do Rio e
nós somos do interior”. Foi lá, nos sertões, que se incentivaram os mecanismos
do recrutamento dos trabalhadores para serem encaminhados ao Amazonas.
Devemos lembrar que 1942 foi ano de seca, a qual, embora não tenha sido tão
grave como a de 1932, disponibilizou grande número de trabalhadores do inte-
rior. Essa conjuntura foi aproveitada pela agência recrutadora, assim como pelo
discurso oficial, de forma a apresentar a migração para a Amazônia como uma
ação de socorro público.
As mulheres e os filhos que estavam no Núcleo aí permaneceriam tempo-
rariamente, à espera do retorno de seus cônjuges ou de serem encaminhadas
para junto deles. Essa última alternativa era a forma que tinha encontrado o
semta para conciliar os interesses norte-americanos, de mais borracha, e os
estadonovistas, de povoamento. Por esse motivo, as cartas das mulheres citadas
aqui lembram seus maridos sobre o prazo de seis meses a partir do qual eles
poderiam levá-las.
Em uma segunda carta, Elcidia Galvão dirá a seu Cursino: “Se você não
tomar providência aí com o chefe eu aqui tomo, retirando-me nem que seja para a
Emigração Getúlio Varga”, e quando menos você espera eu chego como ‘aflagelado’
ainda no Pará.” As opções destas mulheres eram muito restritas. Uma era a rua:
“João você mande nos buscar para nós ir, se você não mandar, você vai ver eu sair
daqui nem que seja para o meio da rua porque eu nunca levei descomposta de nin-
guém para hoje eu levar”. Outra opção era o distante e complicado encontro com
seus maridos na Amazônia. Não obstante isso, elas não se deixaram amedrontar.
Chegar como “aflagelado”, como anunciava Elcidia a seu marido, era posicionar-
se num lugar de extrema inferioridade. “‘Aflagelado’” – diz Lúcia Arrais Morales
– “é alguém no extremo da sobrevivência em condições de inferioridade e cuja
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história do povo brasileiro
ida para o Norte somente pode ser realizada no marco dos socorros públicos”.
Flagelado se opunha a mobilizado109.
A partir da idéia de “miserabilidade” da população nordestina na conjuntura
de crise, chegou-se à errada conclusão de que as esposas aceitariam qualquer
condição. Não era bem assim. Essas mulheres não sentiam que lhes estavam
“matando a fome”, não se conformavam com um prato de comida balanceado
por uma nutricionista, não fariam qualquer trabalho por um teto e uma cama
limpa. Elas tinham alguns costumes que pretendiam manter. Elas queriam fumar
e estavam cientes de que era o trabalho de seus maridos o que as mantinha. Não
sentiam nenhum tipo de agradecimento pela “assistência”.
Entre os maridos, o sentimento de gratidão é maior. Eles tinham deixado
suas famílias na “segurança” de que seriam amparadas. A figura maternal de Regina
Frota, com quem trataram antes de partir, é muito importante em seu julgamento
do Núcleo e na decisão de empreender a viagem sozinhos.
A vida do semta foi curta, sendo substituído, em 14 de setembro de 1943,
pela caeta. As explicações dadas para esta mudança não foram muitas nem con-
vincentes. No relatório realizado depois de um ano de funcionamento, a caeta
assim explicava sua existência:
“Trabalhadores já haviam sido recrutados no Nordeste e encaminhados para
a Amazônia por dois órgãos federais: o Serviço Especial de Mobilização de
Trabalhadores para Amazônia e a Superintendência de Abastecimento do
Vale Amazônico. O primeiro fazendo o recrutamento e encaminhamentos
até Belém, no estado do Pará, e o segundo continuando o encaminhamento
além de Belém, até a colocação dos trabalhadores nos seringais.
A prática havia demonstrado que a execução do serviço em dois setores não
era aconselhável.
Surgiu assim a necessidade de se continuar o serviço sob a administração de
um único órgão.”
O ministro João Alberto, coordenador da Mobilização Econômica, emi-
tiu uma portaria em novembro de 1943 na qual comunicava que, por meio do
acordo celebrado em 14 de setembro de 1943 entre o presidente da Comissão
de Controle de Acordos de Washington, a rdc, e a sua repartição, extinguia-se o
contrato firmado em 21 de dezembro de 1942 entre o semta e a Rubber Reserve
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Soldados da borracha
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história do povo brasileiro
A assistência às famílias
Do Crato (Ceará), um grupo de mulheres escreveu ao presidente dizendo que a
assistência às famílias tinha sido cortada e, em seu lugar, eram oferecidas passagens ao
Amazonas para, supostamente, se encontrarem com seus maridos, dos quais não sabiam
se ainda estavam vivos, muito menos o domicílio. A resposta que deu a Presidência
da República a essas mulheres não a conhecemos, porque não aparece no processo,
não obstante este caso tenha sido mencionado como um antecedente quando a caeta
teve que dar uma resposta pouco tempo depois a outro telegrama escrito em termos
semelhantes, enviado pelas mulheres de Mossoró (Rio Grande do Norte), motivo
pelo qual acreditamos que a resposta deve ter sido mais ou menos a mesma.
“Crato, CEARÁ
Presidente República
Rio
Nós, abaixo assinadas, mulheres dos soldados da borracha, domiciliadas Crato
(Ceará), vimos perante V. Exa pedir providencias sobre suspensão nosso pagamento
diárias, de ordem doutor Falcão, alegando dará passes. Não temos noticias nossos
maridos, cujo paradeiro ignoramos. Impossível aceitar passes porque ignoramos
destino.
Confiamos V. Exa, dará solução satisfatória, mantendo nosso pagamento aqui,
conforme foi combinado. Resposta para Padre Lauro Pita, Crato –Ceará.
Saudações respeituosas.
Irinéa Leandro, Ana Maria Espirito Santo, Isabel Belisa, Ana Maria Conceição,
Argentina Costa, Maria Luiza do Carmo.”
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pela situação de miséria que encontravam-se na sua terra natal, viajaram para
Amazônia etc.”. Mas foi obviamente negligenciada em seu parecer a frase seguinte,
em que Jovelina e as outras dizem: “Com esperanças de serem bem-sucedidos e
prestarem relevante serviço à pátria no combate ao inimigo comum, produzindo
borracha para a vitoria das nações unidas” (o grifo é nosso). É bom observar que
esta última passagem está repleta de expressões do discurso oficial.
Mas continua o auditor dizendo que, já em resposta às mulheres do Crato,
teve a oportunidade de explicar que a assistência às famílias não poderia continuar
sob a responsabilidade da caeta, mediante o que estabelecia o Decreto federal
no 5.813, de 14 de setembro de 1943, que criou a caeta.
Segundo o auditor, não se fazia outra coisa senão cumprir a cláusula segunda
do contrato, de acordo com a qual a assistência às famílias seria paga até a colo-
cação do trabalhador no seringal. Mas, como podemos ver, o contrato estabelece
textualmente:
CLÁUSULA SEGUNDA – A caeta fornecerá também, gratuitamente, assis-
tência em dinheiro aos dependentes do trabalhador, desde a data da assinatura
deste contrato até a colocação nos seringais, uma vez que o trabalhador que o
requerer se comprometa a autorizar a continuação dessa assistência, por sua
conta exclusiva quando colocado nos seringais.
CLÁUSULA TERCEIRA – A assistência de que trata a cláusula anterior será
prestada na base de dois cruzeiros por pessoa da família, até um total de oito
cruzeiros por trabalhador, qualquer que seja o número de seus dependentes.
Após a colocação do trabalhador no seringal, a assistência à família continuará
a ser prestada, sendo as importâncias correspondentes, a partir da assinatura
do contrato de trabalho, debitadas na caderneta do respectivo trabalhador,
para acerto, por ocasião da liquidação da safra, por intermédio do Banco da
Borracha S. A.
[…]
CLÁUSULA QUINTA – Cessará a assistência a que se refere a cláusula anterior:
– quando a família do trabalhador se unir ao mesmo no local de trabalho;
– quando o contrato de encaminhamento ou de trabalho for rescindido;
– quando o trabalhador abandonar o trabalho nos seringais, desertar dos pousos
ou aceitar colocação que não se relacione com a extração da borracha.”
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Soldados da borracha
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história do povo brasileiro
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Soldados da borracha
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história do povo brasileiro
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A modo de conclusão:
Antônio e Jovelina
O planalto de Piratininga nos deu a bandeira. A bandeira nos
deu uma geografia. Esta geografia nos traçou, em sua réplica,
um destino histórico, social, político, até então inédito.
Cassiano Ricardo, 1941
“Lá é assim. A gente está sempre em começo. Nunca vi se
terminar uma coisa. Eu estou cansado de viver pobre e
começar sempre.”
“A seca faz nascer os boatos. Os boatos fazem a influência.
A gente não resiste e acaba vindo.Vem tudo no iludimento, o
pessoal está delirando pelo Amazonas.”
“Coronel, um homem livre não se põe no tronco, mata-se.”
Depoimentos recolhidos por Benchimol em
Manaus em 1942-1943
A seca não tinha sido muito prolongada. Um ano depois de anunciada,
o sertão já estava chovido. Era março de 1943 e Antônio e sua mulher, Jovelina,
decidiram que, apesar da boa nova, não era seguro voltar para o sertão. Enfim,
eles não sabiam quando as chuvas se ausentariam novamente. Estavam cansados
de recomeçar sempre.
Ambos eram quase crianças quando, em 1932, com suas famílias, buscaram
auxílio em Fortaleza. Encontravam-se outra vez nessa cidade. Diferentemente da
vez anterior, agora eram eles que tomavam as decisões. Eles tinham sua própria
família.
Nesses dias, era impossível não ouvir falar da Amazônia, do governo dando
passagens e até dinheiro adiantado para quem quisesse ir para lá. Lá onde o tio-
avô de Antônio tinha se perdido para sempre da família. Mas também lá onde
um compadre do pai de Jovelina tinha feito fortuna. Tanto dinheiro conseguira,
comentava-se no povoado deles, que as filhas não lavavam, nem faziam lavar os
vestidos quando sujos: os jogavam fora.
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história do povo brasileiro
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Soldados da borracha
– Vocês têm família? Porque se têm, não devem se preocupar com ela. Enquanto
vocês acham uma boa colocação e se acostumam com o serviço, o semta tomará
conta dela.
O funcionário sabia que tinha alguém atrás escutando e sabia também do
efeito que o assunto da assistência às famílias causava nos homens.
– Sim, assistência às famílias – disse virando-se para Antônio e indicando com
o dedo o índice na página 10 da brochura.
Fazia algum tempo que Antônio e Jovelina andavam pensando em deixar o
sertão. Mas ir para onde? Como?
No dia seguinte, muito cedo, Jovelina o acompanhou até o Pouso do Prado,
onde muitos homens faziam filas diferentes. Fila para se vacinar, fila para cortar o
cabelo, para receber o café da manhã e outras tantas filas que eles não conseguiam
determinar a função.
Um homem explicava para um grupo de trabalhadores o que dizia o contrato.
Antônio foi conduzido até o grupo e seguiu atentamente a explicação, cláusula
por cláusula.
Saiu de lá atordoado e pensando nas porcentagens de que falava o contrato
e tentando fazer contas no ar, quando encontrou com Jovelina muito agoniada.
– O que foi mulher?
Jovelina tinha ficado ruminando a conversa do dia anterior, sobre ela e as
crianças ficarem no núcleo das mulheres. Não podia deixar de lembrar quando,
junto com seus irmãos e a mãe, tinham ficado no campo do Alagadiço.
– O Alagadiço – disse laconicamente, como quem nomeia um fantasma.
Antônio tinha certeza de que não era como nos campos de concentração.
Ele imaginava o núcleo mais como uma dessas escolas para moças, mas sem tanta
religião nem aulas.
Do pouso, rumaram para o núcleo. Lá conversaram com dona Regina, e a
alma de Jovelina voltou-lhe ao corpo. Tudo era limpo, tudo organizado. Regina
falava com um entusiasmo sem igual e tinha algo mesmo de madre superiora:
entre autoritária e doce. Jovelina e as crianças ficariam lá até que Antônio lhes
comunicasse que podiam se juntar a ele. Ou, se alguma coisa desse errado e ele
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história do povo brasileiro
quisesse voltar antes, as encontraria ali esperando por ele. Durante esse tempo,
seriam mantidos com os seis cruzeiros diários que correspondiam aos três juntos
como assistência familiar. Parecia que nada podia dar errado, que todas as possi-
bilidades tinham sido pensadas por eles. Parecia que Getúlio vira a terra, ouvira
o homem e compreendera seus anseios.
***
Esta bem poderia ser alguma das tantas histórias familiares que compõem este
livro de muitas Jovelinas e muitos Antônios. Uma história verossímil, considerando
as evidências existentes. Olhando a história a partir do presente, sabemos que o
que podia dar errado deu errado, que muitos dos Antônios não voltaram e que
as Jovelinas lutaram por seus direitos através de sua “fúria epistolar”.
Levada a debate da Assembléia Constituinte, a gravidade da situação criada
pela batalha da borracha, foi formada uma cpi que trabalhou entre os meses de
julho e setembro de 1946 juntando documentos e tomando depoimentos dos
funcionários vinculados ao dni, sesp, semta, caeta, Banco do Brasil, Banco de
Crédito da Borracha, do Instituto Agronômico do Norte etc. Os depoimentos
dados à Comissão de Inquérito da Campanha da Borracha deixam transparecer
problemas políticos e até pessoais entre os depoentes. Mas, mais importante que
isto, trazem à luz o verdadeiro desastre que foi a campanha. Alguns tinham cons-
ciência das conseqüências sociais da introdução dos “migrantes nordestinos” nos
seringais, como o responsável pela Hospedaria do Pensador em Manaus, o doutor
Ezequiel Burgos, que de lá escreveu ao senhor Péricles de Carvalho, diretor do
dni, em setembro de 1943, comentando que os trabalhadores que voltavam dos
seringais traziam notícias das piores, que eram maltratados, ameaçados pelos ca-
pangas, que a carne podre era vendida a 16 cruzeiros, que o seringalista lhes negava
remédios quando doentes etc. Burgos levou cópia desta carta, como de outras,
para a cpi. Outros depunham que o transporte dos trabalhadores era realizado em
condições deploráveis, que se desperdiçavam dinheiro e comida jogando ao rio
alimentos em mau estado ou por carecer de meios para distribuir nos seringais,
que se produziu pouca borracha e ainda se adulteraram as estatísticas etc.
O relatório da cpi concluía que se impunha com urgência o amparo ime-
diato aos soldados da borracha e às famílias que haviam ficado no Nordeste, as
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Soldados da borracha
quais seria justo que recebessem a assistência que lhes fora prometida na fase de
propaganda. Aconselhava também a elaboração de um plano geral de assistência
social e econômica.
No balanço entre ruptura e continuidade, podemos pensar a batalha da borra-
cha como um triunfo da segunda. Continuidade da força da tradição, dos aviadores,
do endividamento, da violência e do privatismo por sobre a ruptura representada
pela presença do Estado, da modernidade encarnada no serviço público de saúde,
na legislação trabalhista, na assistência às famílias. Mas é importante ressaltar que
o Estado que chegou ao Amazonas na década de 1940 também era um Estado
debilitado e impregnado pelo privatismo. Warren Dean113 diz que, em outubro
de 1943, quando Valentim Bouças foi entrevistado por um grupo de jornalistas
norte-americanos, estes sabiam que Bouças costumava “usar organismos públicos
para promover seus interesses particulares”. Bouças defendia um preço máximo
moderado para a borracha por ser o diretor da subsidiária brasileira da Goodyear,
que vendia pneus para o estrangeiro sem preços máximos. A Goodyear também
tinha um empregado sujo dentro do Banco de Crédito da Borracha.
Quando Bartolomeu Guimarães114, funcionário do Banco do Brasil, prestou
depoimento à cpi, identificou Bouças como o “vice-presidente da Goodyear,
vice-presidente da Rádio Internacional do Brasil, grande acionista do Banco de
Crédito da Borracha, marajá da Hollerith no Brasil, rei da Coca-Cola, do Kibon e
do Chicabon Sorvex”. Era o mesmo Bouças que fora diretor da caeta, a comissão
que suspendeu o pagamento da assistência familiar.
Quando olhamos para áreas de fronteira, como a da Amazônia, e vemos
casos como o do assassinato da irmã Dorothy Stang, em que grileiros, prefeitos,
juízes e capangas se aliam para dar continuidade ao privatismo, percebemos que a
categoria “herança rural”, mencionada por Sérgio Buarque de Holanda para definir
a invasão do público pelo privado, do Estado pela família, serve para entender a
sociedade de fronteira onde o Estado, como vitória do universal e abstrato sobre
o particular e concreto, ainda não triunfou.
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Notas
1 Fragmento do “Discurso do rio Amazonas”, pronunciado por Getúlio Vargas em Manaus em 1940.
Vargas, Getúlio. A nova política do Brasil. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio, vol. 8 (7 de agosto
de 1940 a 9 de julho de 1941).
2 Andrade, Gilberto Osório de. Um complexo antropogeográfico. Recife, Tipografia do Diário da
Manhã, 1940, p. 14.
3 Hobsbawm, Eric. “Não basta a história de identidade”. In: Sobre história. São Paulo, Companhia
das Letras, 1998, p. 281-292. Alessandro Portelli realiza uma análise sensível e brilhante sobre este
episódio em “O massacre de Civitella della Chiana (Toscana, 29 de junho de 1944): mito e política,
luto e senso comum”. In: Moraes, Marieta de e Amado, Janaina (orgs.). Usos e abusos da história
oral. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1996.
4 A prova do vestibular da Universidade Federal do Ceará, de 2003, pode ser consultada no seguinte
endereço eletrônico: <www.ccv.ufc.br>
5 A primeira epígrafe está no livro de Ricardo, Cassiano. Marcha para Oeste (A Influência da bandeira
na formação social e política do Brasil). Rio de Janeiro, Editora da usp/Livraria José Olympio Editora,
1970, vol. 2. A segunda epígrafe, de Getúlio Vargas, corresponde a um trecho de um discurso
pronunciado no estádio do Vasco da Gama, por ocasião das comemorações do Dia do Trabalhador,
1o de maio, de 1941. In: Vargas, Getúlio. A nova política do Brasil, já citado.
6 A idéia da revolução de 1930 como rompimento com a ordem agrário-conservadora é dos histo-
riadores Linhares, Maria Yedda e SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra prometida: uma história
da questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro, Campus, 1998.
7 Sobre Graciliano Ramos, ver Coutinho, Carlos Nelson. “Graciliano Ramos”. In: Cultura e sociedade
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Soldados da borracha
no Brasil. Ensaio sobre idéias e formas. Rio de Janeiro, dp&a Editora, 2000, p. 157-218
8 Marcha para Oeste, op. cit., vol. 2, p. 648.
9 Esta caracterização de Cassiano Ricardo é de Velho, Otávio G. Capitalismo autoritário e campesinato,
Rio de Janeiro, Difel, 1979.
10 Temos trabalhado com a tradução espanhola dessa obra inclusa no livro de Clementi, Hebe. J.F.
Turner. Buenos Aires, Centro Editor de América Latina, 1992.
11 O ensaio que Capistrano escreveu em 1882 para o concurso que realizou no Colégio Pedro ii é
intitulado Descobrimento do Brasil e seu desenvolvimento no século xvi, no qual começou a dar aos sertões
o tratamento especial que carateriza sua obra, analisando aspectos que, posteriormente, seriam
bastante desenvolvidos em Caminhos antigos de povoamento do Brasil, de 1899, e em Capítulos de
história colonial, de 1907.
12 Chaui, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo, Editora Fundação Perseu
Abramo
13 Lenharo, Alcir. A sacralização da política. Campinas, Papirus, 1986. .
14 Chaui, op. cit.
15 Freyre, Gilberto. Interpretação do Brasil. São Paulo, Livraria José Olympio, 1947. Este livro é com-
posto por uma série de conferências que o autor proferiu nos Estados Unidos.
16 Holanda, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1975, p.
vii.
17 Se tivéssemos que fazer uma caraterização em poucas palavras de Gilberto Freyre e de Sérgio Buarque
de Holanda, diríamos que o primeiro é o historiador do litoral e o segundo o da interiorização.
18 Sobre a revista Cultura Política, ver: Velloso, Mônica Pimenta. “Cultura e poder político. Uma
configuração do campo intelectual” e Gomes, Angela de Castro. “O redescobrimento do Brasil”.
Ambos os textos estão em Oliveira, Lúcia Lippi de, Velloso, Mônica Pimenta e Gomes, Angela de
Castro. (orgs.). Estado Novo. Ideologia e poder. Rio de Janeiro, Zahar, 1982.
19 São vários os números da revista Cultura Política em que apareceram artigos sobre a Marcha para
Oeste, o povoamento do Amazonas e temáticas afins. Citamos o artigo de Péricles Mello Carvalho,
“A concretização da ‘Marcha para o Oeste’”. Cultura Política, ano 1, no 8, out. 1941, p. 15-18.
20 Ver: Guillem, Isabel Cristina Martins. “Cidadania e exclusão social: a história dos soldados da
borracha em questão”. Trajetos, no 2, vol. 1, 2002.
21 O “Discurso do rio Amazonas”, como outros discursos de Getúlio Vargas, está em A nova política
do Brasil, op. cit.
22 Vargas, Getúlio. “Circular aos prefeitos”. In: A nova política do Brasil, op. cit., vol. 10.
23 Idem, ibidem.
24 A opinião de Francisco Pereira da Silva, como dos outros intelectuais consultados, está em “À
margem do ‘Discurso do rio Amazonas’”. Cultura Política, ano 1, no 9, 1941, p. 163-171.
25 A expressão “migração planificada” é de Beneval de Oliveira, do Instituto Nacional do Mate, em seu
artigo “As populações brasileiras e seus movimentos”. Cultura Política, ano iii, no 28, junho 1943.
26 Vargas cita Euclides da Cunha em A nova política do Brasil, op. cit., 1933, vol. 2, p. 163.
27 Carlo Ginzburg tem desenvolvido num texto amplamente conhecido pelos historiadores as limita-
ções das visões maniqueístas de autonomia da cultura popular e de imposição de padrões culturais às
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história do povo brasileiro
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Soldados da borracha
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história do povo brasileiro
1889, p. 92.
60 André Rebouças defende a idéia de fornecer socorros públicos em “troca” de trabalho no texto As
secas nas províncias do Norte. Rio de Janeiro, Typ. G. Leuzinger e Filhos, 1877.
61 O Cearense, 22 de dezembro de 1888.
62 Vianna, Antonio Ferreira. Relatório do Ministério de Negócios do Império. Rio de Janeiro,Typ. Nacional,
1889, p. 92.
63 O grifo nas duas citações é nosso.
65 Citada em Nobre, Freitas. João Cordeiro: abolicionista e republicano. São Paulo, Letras Editora, 1943.
66 As cartas solicitando passagens pertencem à Inspetoria Geral de Emigração. Trata-se da relação de
emigrantes Norte-Sul, 1888-1889, e estão no Arquivo Público do Estado do Ceará.
67 Villa, Marco Antônio, op. cit., p. 54-58.
68 Neves, Frederico de Castro, op. cit., p. 81.
69 Villa, Marco Antônio, op. cit.
70 Idem, ibidem.
71 Weinstein, Bárbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência. 1850-1920. São Paulo, Hucitec/
Edusp, 1993.
72 Parte Especial “Dos crimes contra a propriedade imaterial”, do Código Penal Brasileiro de 1940,
comentado por Ribeiro Ponte, Código Penal Brasileiro, Editora Guaíra Limitada, 1942, vol. ii, p.
51.
73 Os dados sobre a quantidade de borracha consumida por cada soldado durante a Primeira e a
Segunda Guerra Mundial foram extraídos do site: http://www.exordio.com/1939-1945/civi-
lis/industria/caucho.html
74 Pinto, Nelson Prado Alves. Política da borracha no Brasil. A falência da borracha vegetal. São Paulo,
Hucitec, 1984, p. 101. Celso Furtado se dedicou à região amazônica no capítulo “O problema da
mão-de-obra iii: a transumância amazônica”, em Formação econômica do Brasil, op. cit.
75 Dean, Warren. A ferro e fogo. A história e a devastação da mata Atlântica brasileira. Tradução Cid Knipel
Moreira. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.
76 Worster, Donald. “Para fazer história ambiental”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, no 8,
1991, p. 199.
77 Amazonia sin mitos. Comisión Amazónica de Desarrollo y Medio Ambiente, Banco Interamericano
de Desarrollo. Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo, Tratado de Cooperación Ama-
zónico, s/l, s/d.
78 Weinstein, Bárbara. A borracha na Amazônia, op. cit., p. 250.
79 Moog, Vianna. Bandeirantes e pioneiros. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978, p. 18-21.
80 Reis, João e Aguiar, Márcia. “‘Carne sem osso e farinha sem caroço’: o motim de 1858 contra a
carestia na Bahia”. Revista de História, no 135, 2o semestre, 1996, p. 134.
81 A produção de borracha sintética nos Estados Unidos passou de 60 mil toneladas em 1941 para 1
milhão de toneladas em 1945.
82 Dean, Warren. A luta pela borracha no Brasil: Um estudo de história ecológica. São Paulo, Nobel, 1989,
p. 133-136.
83 Sinal fechado: a música brasileira sob censura (Rio de Janeiro, Obra Aberta, 1994), de Alberto Ribeiro
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Soldados da borracha
da Silva, é um livro de história comparada que aborda a censura na música popular brasileira sob o
Estado Novo e a ditadura militar.
84 Souza, José Inácio Melo, apud Capelato, Maria Helena. Multidões em cena – Propaganda política no
varguismo e no peronismo. Campinas, Papirus, 1998, p. 173-191.
85 Goulart, Silvia. Sob a verdade oficial. São Paulo, Marco Zero/mct/cnpq, 1990.
86 Capelato, Maria Helena, op. cit., p. 36.
87 Ginzburg, Carlo. “‘Your country needsYou’: a case study in political iconography”. HistoryWorkshop
Journal, 2001.
88 Aby Warburg: crítico e historiador da arte, não teve uma obra sistemática, a qual se concentrou em
conferências e trabalhos em congressos. Herdeiro de uma imensa fortuna, formou uma biblioteca
com mais de 60 mil exemplares e numerosa quantidade de imagens, que, em 1933, depois de sua
morte em 1929, foi transferida para Londres, constituindo a base do Warburg Institut. Em 1932,
um discípulo seu organizou sua obra em dois volumes, reimpressa recentemente, em 1998.
89 Moles, Abraham. O cartaz. São Paulo, Perspectiva, 1974, p. 25.
90 Velloso, Mônica. “Cultura e poder. Uma configuração do campo intelectual”. In: Estado Novo. Ideologia
e poder, op. cit., p. 71-108.
91 Carvalho, Péricles Mello. “A concretização da ‘Marcha para o Oeste’”, Cultura Política, 1941
92 Fotografia publicada em GetúlioVargas: 1983. Exposição de fotografias. Museu de Arte Moderna do
Rio de Janeiro, cpdoc/fgv, 1983..
93 Benchimol, Samuel. “O cearense na Amazônia. Inquérito antropogeográfico sobre um tipo de
imigrante”. Revista de Imigração e Colonização, ano vi, no 4, dez. 1945, p. 367.
94 Furtado, Celso. Formação econômica do Brasil, op. cit., p. 121.
95 Benchimol, Samuel, op. cit.
96 Como exemplo de grande imprensa, podemos citar a entrevista realizada com o ministro Antônio
Camillo de Oliveira no Correio da Manhã, em 28 de abril de 1942, e, com circulação mais restrita,
na Revista de Imigração e Colonização, de agosto de 1942.
97 Tanto a carta como a frase do funcionário recrutador pertencem a documentos do Fundo Paulo
Assis Ribeiro, do Arquivo Nacional (Rio de Janeiro)
98 Sobre a forma tradicional de realizar o recrutamento, ver Morales, Lúcia Arraias. Vai e vem, vira e volta.
As rotas dos soldados da borracha. São Paulo/Fortaleza, Annablume/Secult, 2002. Sobre a resistência
da classe dominante do Nordeste para “abrir mão” dos trabalhadores, ver Secreto, María Verónica.
“Ceará: a fábrica de trabalhadores”. Trajetos, vol. 2, no 4, 2003, p. 48-50.
99 Gomes, Angela de Castro. “A construção do homem novo: o trabalhador brasileiro”. In: Oliveira,
Lippi de; Velloso, Mônica Pimenta e Gomes, Angela de Castro. Estado Novo. Ideologia e poder, op.
cit.
100 French, John. Afogados em leis. A clt e a cultura política dos trabalhadores brasileiros. São Paulo, Editora
Fundação Perseu Abramo, 2001, p. 13-21..
101 Lenharo, Alcir. Sacralização da política, op. cit.
102 Depoimento de Paulo Assis Ribeiro ante a Comissão de Inquérito da Campanha da Borracha, pu-
blicado no Diário da Assembléia, em 24 de agosto de 1946.
103 Cópias dos formulários do contrato encontram-se no Fundo Paulo Assis Ribeiro, no Arquivo Na-
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história do povo brasileiro
cional.
104 Pinto, Nelson Prado Alves. Política da borracha no Brasil. A falência da borracha vegetal. São Paulo,
Hucitec, 1984, p. 96-97.
105 Utilizando como fonte dados do recenseamento de 1920, Samuel Benchimol organizou os nomes
dos seringais em cinco categorias toponímicas: 1) messiânica de salvação; 2) do sucesso e fortuna;
3) da misericórdia e do desespero; 4) da paisagem e do chão e 5) da lembrança e saudade. Com o
nome “Paraíso”, como o que trabalhou Ferreira de Castro, registrou 44 estabelecimentos. Benchi-
mol, Samuel. “Seringais. sítios e fazendas: um estudo da toponímia messiânica”. In: Romanceiro da
batalha da borracha. Manaus, Imprensa Oficial do Estado Amazonas, 1992.
106 Guillén, Isabel. “Cidadania e exclusão social: a história dos soldados da borracha em questão”. In:
Trajetos, no 2, 2002, p. 69-82.
107 Fundo Paulo Assis Ribeiro do Arquivo Nacional.
108 Fundo Paulo Assis Ribeiro do Arquivo Nacional.
109 Morales, Lúcia Arraias, op. cit., p. 294-295.
110 Ferreira, Jorge. Trabalhadores do Brasil. O imaginário popular 1930-1945. Rio de Janeiro, Fundação
Getúlio Vargas, 1997.
111 Relatório da Comissão de Encaminhamento de trabalhadores para Amazônia. s/l, s/e, dezembro de 1945,
p. 2
112 Sobre o significado do “trabalho” no governo Vargas, ver Gomes, Angela de Castro. “A construção
do homem novo: o trabalhador brasileiro”. In: Oliveira, Lúcia Lippi de; Velloso, Mônica Pimenta
e Gomes, Angela de Castro. Estado Novo, op. cit.; e Capelato, Maria Helena. Multidões em cena, op.
cit., especialmente p. 173-180. Gomes, Angela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro,
Vértice, Editora Revista dos Tribunais/iuperj, 1988, p. 246-254.
113 Dean, Warren. A luta pela borracha, op. cit., p. 148.
114 Depoimento de Bartolomeu Guimarães para a Comissão de Inquérito da Campanha da Borracha.
Diário da Assembléia de 17 de agosto de 1946.
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História do povo brasileiro
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