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Escola Superior de Enfermagem de São José de Cluny

ENFERMAGEM:
A sua evolução ao longo do tempo

Gabriela Batista nº 2451


João Ribeiro nº 2453
Joana Nascimento nº 2410
Maria Alexandra Figueira nº 2415
Sofia Gonçalves nº 2435

Trabalho elaborado no âmbito da unidade curricular de História,


Epistemologia e Fundamentos da Enfermagem, no 1º ano do Curso de
Licenciatura de Enfermagem.

Funchal,
2023
Escola Superior de Enfermagem de São José de Cluny

ENFERMAGEM:
A sua evolução ao longo do tempo

Gabriela Batista nº 2451


João Ribeiro nº 2453
Joana Nascimento nº 2410
Maria Alexandra Figueira nº 2415
Sofia Gonçalves nº 2435

Docente: Professora Patrícia Câmara

Trabalho elaborado no âmbito da unidade curricular de História,


Epistemologia e Fundamentos da Enfermagem, no 1º ano do Curso de
Licenciatura de Enfermagem.

Funchal,
2023
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

SNS – Serviço Nacional de Saúde


DGS – Direção Nacional de Saúde
DGCSP – Direção Geral dos Cuidados de Saúde Primários
REPE – Regulamento de exercício profissional dos enfermeiros
CIPE – Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem
ÍNDICE

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4

1. ATIVIDADES CUIDADTIVAS INFORMAIS E OS SEUS LEGADOS .................. 5

1.1. Pré-históricas................................................................................................................. 5

1.2. Papel da mulher ............................................................................................................ 5

1.3. História da arte de cuidar ............................................................................................ 6

2. CIVILIZAÇÕES E OS SEUS LEGADOS.................................................................... 6

2.1. Civilização egípcia ........................................................................................................ 6

2.2. Assírios e Babilónia....................................................................................................... 7

2.3. Civilização grega ........................................................................................................... 7

2.4. Judeus ............................................................................................................................ 7

2.5. Roma .............................................................................................................................. 8

3. A ENFERMAGEM, A IDADE MÉDIA, O RENASCIMENTO E O


CRISTIANISMO ................................................................................................................. 9

3.1. Idade Média ................................................................................................................... 9

3.1.1. Enfermagem na Idade Média .................................................................................. 9

3.2. Renascimento .............................................................................................................. 11

3.2.1. Enfermagem no Renascimento ............................................................................. 11

3.3. Cristianismo ................................................................................................................ 12

3.3.1. Enfermagem no Cristianismo ................................................................................ 12

3.3.3. “Período Negro” da Enfermagem ......................................................................... 13

4. FLORENCE NIGHTINGALE .................................................................................... 15

4.1. Biografia de Florence Nightingale ............................................................................. 15

4.2. Atividades de Florence Nightingale pós-guerra – Crimeia ..................................... 15

4.3. Influência de Florence Nightingale na reforma da Enfermagem, no ensino de


Enfermagem, na Saúde Pública ........................................................................................ 16

5. A EVOLUÇÃO DOS CONTEXTOS ASSISTENCIAIS EM PORTUGAL ............ 17


5.1. Década 50 ..................................................................................................................... 17

5.2. Década 60 ..................................................................................................................... 17

5.3. Década 70 ..................................................................................................................... 18

5.4. Década 80 ..................................................................................................................... 18

5.5. Década 90 ..................................................................................................................... 19

5.6. Século XXI e perspetivas futuras para a Enfermagem ........................................... 20

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 22


ENFERMAGEM: A sua evolução ao longo do tempo | 2023

INTRODUÇÃO

O presente trabalho foi elaborado por alunos do primeiro ano do curso de


licenciatura em Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem São José de Cluny. O
referido trabalho foi elaborado, no primeiro semestre, no âmbito da Unidade Curricular
História, Epistemologia e Fundamentos da Enfermagem I e orientado pela regente
Professora Patrícia Câmara.
O tema que irá ser abordado será a evolução da enfermagem, sendo esta uma
ciência que visa o tratamento de doenças e do Homem seja, individualmente, na família ou
na comunidade, de modo que cada indivíduo atinja o bem-estar físico, psicológico e
emocional.
A partir da execução deste trabalho, temos como objetivo ficar a conhecer o
passado da história da enfermagem, de modo que possamos, a partir deste estudo e pesquisa,
ter consciência de que os modos como é feita a prestação de cuidados de saúde estão em
constante evolução e temos de evoluir com estes, para que possamos prestar os melhores
cuidados de saúde aos utentes.
Para a realização deste trabalho recorremos a documentos fornecidos e através de
pesquisa, a análises de artigos científicos, bem como aos conteúdos lecionados nas aulas.
Este portefólio encontra-se dividido em cinco capítulos. Primeiramente, iremos
abordar as atividades informais e os seus legados. Seguidamente, falar-se-á acerca das
diferentes civilizações e dos seus legados, sendo estas a civilização egípcia, os Assírios e
Babilónia, civilização grega, Judeus e Roma. Por sua vez, serão desenvolvidos os temas
cuidados de enfermagem na idade média, no renascimento e cristianismo e a peste negra na
enfermagem. Posteriormente, falaremos acerca de Florence Nightingale, mais precisamente,
sobre a sua biografia, as suas atividades na Crimeia e a sua influência no ensino de
enfermagem e na saúde pública. Por fim, iremos falar sobre a evolução dos contextos
assistenciais em Portugal, nomeadamente, desde a década de 50 até os dias de hoje, fazendo
referência a um futuro próximo.

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1. ATIVIDADES CUIDADTIVAS INFORMAIS E OS SEUS LEGADOS

1.1. Pré-históricas

Na pré-história a mulher desempenhava um papel importante na sociedade, nomeadamente


no cuidado da saúde, a manutenção da vida, colaborar para o alívio do sofrimento, assim como para
o aumento do instinto de sobrevivência. Por outro lado, os homens iam à procura de alimentos
recorrendo à pesca e à caça de animais, bem como à recolha de frutos e outras plantas. Na época
supracitada, também a mulher recorria ao que a natureza produzia para realizar as suas práticas (Cruz
et al., 2005).

Com o Cristianismo surge outra crença no que concerne aos cuidados dos doentes. Estes
passam a ser vistos como um dever sagrado adquirido, um sentido de ajuda e ato de misericórdia.
Mais uma vez as mulheres desempenharam um trabalho social através das instituições, congregações,
irmandades e ordens criadas com o objetivo de se dedicarem aos cuidados dos doentes carecidos.
(Cruz et al., 2005)

Com a queda do Império Romano a Europa sofreu várias guerras, foi invadida pelos bárbaros
e vivenciou várias epidemias. Nesta fase, a Igreja, como protetora dos pobres, peregrinos e doentes,
criou dois grupos de cuidadores que foram as mulheres dos senhores feudais e monges (Cruz et al.,
2005).

1.2. Papel da mulher


Posteriormente, foi atribuído o título de enfermeira às mulheres que exerciam o papel de
cuidadoras e a referida atividade passou a ser considerada uma profissão (Carvalho et al., 2009).

Na altura havia a ideia de que a mulher seria uma excelente enfermeira, no entanto, Florence
Nightingale contestou essa ideia alegando que isso se devia ao facto de confundirem o papel da
mesma com a maternidade e caridade. Esta ideia contraditória foi justificada pela necessidade de
haver uma formação através do estudo (Carvalho et al., 2009).

As primeiras referências à imagem da enfermagem surgiram no antigo testamento bíblico,


aonde a mulher se dedicava aos cuidados dos doentes e, por sua vez, demonstrava habilidade e
vontade em realizar essas atividades. Os conhecimentos que possuíam foram transmitidos ao longo
das gerações. Esse conceito manteve-se ao longo de alguns séculos, tanto que o papel de enfermeira
foi, primeiramente, realizado pelas religiosas que cuidavam pelo amor fraterno e carinho. Estas não
tinham qualquer tipo de ensino para exercer a profissão (Carvalho et al., 2009).

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A mulher romana, ao prestar cuidados aos doentes, obteve uma subida na posição social,
passou a ter a doutrina cristã de igualdade, tal como os homens, perante Deus, porém, o hospital não
era considerado o local adequado para exercer a prática de cuidar. Tanto a própria mulher como a
religião tiveram uma função primordial na subida de posição social da profissão de enfermagem,
apesar de terem desempenhado diferentes papéis. A profissão de enfermeira ficou conotada com os
seguintes adjetivos: bondosas, obedientes, dedicadas, etc. que eram atribuídos às mulheres, tanto
nessa época como atualmente, e não ao ofício, propriamente dito. Saliente-se que uma mulher
romana, chamada Fabíola, criou, no seu palácio, o primeiro hospital público cristão da Europa. Esta
mulher, depois de se converter ao cristianismo, dedicou-se a cuidar de doentes. A partir daqui, foram
também criadas muitas instituições com o propósito de cuidar dos doentes e necessitados. Estas
instituições facultaram inovações consideráveis a nível dos cuidados de saúde (Cruz et al., 2005).

Uma das causas para o surgimento da enfermagem moderna foi a guerra, sendo que a
principal impulsionadora foi Florence Nightingale ao executar um fantástico trabalho na organização
e seleção de profissionais, nos hospitais militares (Carvalho et al., 2009).

1.3. História da arte de cuidar


Podemos concluir que a ideia de enfermagem nasceu com o propósito de ajudar a curar
doenças, aliviar o sofrimento, melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevivência. Refira-se
que a participação feminina foi fundamental e contribuiu para a criação da profissão de enfermagem.
Saliente-se que Florence Nightingale, como referido anteriormente, desempenhou uma função fulcral
para a criação da profissão de enfermeira. O seu trabalho incansável e dedicação ao cuidado de
doentes moldaram a enfermagem como a conhecemos hoje. A participação feminina desempenhou
um papel crucial na construção da profissão de enfermagem, muitas vezes, liderando esforços para
melhorar os cuidados de saúde (Carvalho et al., 2009).

2. CIVILIZAÇÕES E OS SEUS LEGADOS

2.1. Civilização egípcia


Relativamente a medicina no Egito, esta estava interligada com a magia, por exemplo,
rituais, feitiços e amuletos. Na época, não eram claros os limites entre a ciência e a religião. Assim,
no Egito, havia uma relação grande entre os religiosos e a medicina, onde os sacerdotes se formavam
médicos, e na altura não havia registo de enfermeiros (Oguisso, 2007).
Os egípcios faziam hipnotismo e interpretavam sonhos, acreditavam na influência dos
astros sobre a saúde, faziam prática de mumificação, onde passaram a visualizar os órgãos,

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facilitando o estudo e a interligação entre estes. Este povo classificava o coração como centro da
circulação e a respiração como sendo mais importante, conheciam os métodos contracetivos e técnica
de gravidez. Realizavam, também, vários cuidados de higiene, vários óleos e cremes, tratamentos
naturais e hipnose (Oguisso, 2007).
O papel das parteiras era utilizar as amas de leite para que as mulheres do mais alto posto
social, como as rainhas, não tivessem de amamentar e não ficassem amenorreicas, para continuarem
férteis. Por sua vez, os médicos e curandeiros eram associados à religião e tinham conhecimentos
sobre a cirurgia, a mutilação, a circuncisão, as próteses e os tratamentos dentários (Oguisso, 2007).
Por fim, o sistema médico era controlado pelo governo, no qual estavam presentes institutos
que treinavam os médicos, cujos eram educados segundo um currículo específico (Oguisso, 2007).

2.2. Assírios e Babilónia


Na população de Assírios e Babilónia existiam amas-de-leite, para o caso de lhes ser
entregue uma criança para amamentar e se a ama amamenta-se mais do que uma criança, se uma
destas morresse, a ama era punida com o amputar da mama (Oguisso, 2007).
Existia também a cirurgia, cuidados médicos e magia e as pessoas que o exerciam
prestavam cuidados muito semelhantes ao enfermeiro, ou seja, os cuidados eram feitos por feiticeiros
e sacerdotes. A terapêutica usada era a natural para tratar as doenças (Oguisso, 2007).

2.3. Civilização grega


Na Grécia destaque-se a medicina e a filosofia, por isso no período pré-Hipócrates havia
uma grande ligação mitológica, onde Apolo era o deus do sol, da saúde e da medicina, o seu filho
Asclépio era médico e as deusas Higia, Panaceia e Meditrina eram deusas da saúde. Já possuíam
conhecimentos anatómicos, patológicos e cirúrgicos: ossos, músculos e articulações; patologias
como: epidemias, lesões, ferimentos em superfície e profundos. Os tratamentos eram feitos com
massagens, sangrias, purgativos e dietas (Oguisso, 2007).
Hipócrates é considerado o pai da medicina e insistia sobre a observação cuidadora para o
doente. Para Hipócrates a natureza é o melhor médico, criando a Teoria Humoral, onde a saúde é o
equilíbrio dos humores: sangue, linfa, bílis branca e bílis negra, catarro, enemas para limpar o
intestino, e o desequilíbrio entre eles é a doença (Oguisso, 2007).

2.4. Judeus
Relativamente aos Judeus, estes só acreditavam num só Deus, eram monoteístas e o seu
contributo na área da enfermagem foram as regras profiláticas e de higiene pessoal, os responsáveis
pelo comprimento das mesmas eram os sacerdotes, que eram os mentores da saúde pública. Quando

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apareceu a lepra, as pessoas que estavam infetadas tinham de especificar a sua situação ao sacerdote
e o doente era isolado do resto da comunidade (Oguisso, 2007).

2.5. Roma
Em Roma só os mais ricos tinham acesso aos cuidados de saúde. Os romanos tinham
escravos, muitos deles gregos e estes tinham muito conhecimento sobre a saúde e medicina. Deste
modo, Asclepíades trouxe os medicamentos calmantes, a música e o canto, Cláudio Galeno foi
considerado o “pai” da farmácia e trouxe vários medicamentos, Celso trouxe o processo de
inflamação para o tumor e dor, e Musa trouxe a hidroterapia. Haviam cuidados de saúde pública,
como por exemplo o cuidado das águas prestadas aos cidadãos e para os hospitais militares. Tinham
técnicas cirúrgicas e tratamento de feridas para tratar os guerreiros (Oguisso, 2007).

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3. A ENFERMAGEM, A IDADE MÉDIA, O RENASCIMENTO E O


CRISTIANISMO

3.1. Idade Média

3.1.1. Enfermagem na Idade Média


Durante a Idade Média ou época medieval, a enfermagem praticada, chamada “enfermagem
medieval” atraía os sábios e as mulheres da nobreza. Esta era praticada em mosteiros e conventos
cristãos, e resumia-se a administrar alimentos simples e medicamentos preparados com plantas
medicinais, ao ato de fazer as camas e à lavagem das feridas. Deste modo, as freiras e os leigos eram
muito valorizadas pela sua dedicação e trabalho pela comunidade e igreja (Câmara, 2023).
A palavra “enfermeiro” é originada através da palavra “infirmarius” usada durante a época
anteriormente referida. Por sua vez, este último termo proveio de uma criação medieval, na qual a
expressão “officium monasticum” dizia respeito ao monge responsável pelos cuidados ou tratamentos
dos doentes, cujos eram chamados de “enfermos”. Já a palavra enfermagem originou--se a partir do
cuidado materno dado às crianças indefesas. Deste modo, a palavra inglesa “nurse” naquela época
era associada à palavra “ama”, isto é, uma enfermeira era associada aos cuidados não só ao doente,
como é atualmente, mas também aos cuidados maternos, espirituais, psicológicos, médicos e de
enfermagem, entre outros (Carvalho, 2016).
Os cuidados informais prestados ocorreram antes dos cuidados formais, visto que os
cuidados informais, tal como hoje-em-dia, são todos aqueles mais frequentes, feitos em contexto de
casa, seja por doença, debilidade ou pelo início do desenvolvimento da mesma. Por outro lado, os
cuidados formais são aqueles que são desempenhados por profissionais de saúde, ou seja, são
específicos de acordo com as expectativas da sociedade. Estas são as funções sociais ou
socioinstitucionais, desempenhadas tendo conta a especialidade do profissional e o tipo de cuidados
que precisam de ser prestados (Carvalho, 2016).
Nos finais do século X surgem documentos, que na Idade Média eram chamados de
“costumeiros”, nos mosteiros beneditinos, maioritariamente, nos de maior dimensão, tais como os
de Bernardo de Cluny, daí o termo “beneditinos”. Cluny escreveu o seu documento “Ordo
Cluniacensis”, era um regulamento escrito acerca de funções e materiais a ser desempenhadas e
utilizados, respetivamente, na enfermaria do mosteiro e sobre os direitos e deveres dos doentes
(Carvalho, 2016).
O oficial tinha também como função, neste século, a gestão do cozinheiro e da cozinha da
enfermaria. Já, o enfermeiro estava encarregue de fornecer e prestar os cuidados que fossem
necessários para a recuperação de cada monge doente ou ferido, mais precisamente os medicamentes,

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caso o mesmo tivesse cura. Também tinha como responsabilidade manter a disciplina e o
funcionamento litúrgico (Carvalho, 2016).
O documento escrito por Bernardo de Cluny foi utilizado por um monge e arcebispo de
Cantuária, Lanfranc, para renovar o mosteiro. Assim sendo, no documento de Lanfranc o
“infirmario”, em Cluny, era designado por “De Infirmario”, este tinha a função de desempenhar as
seguintes funções: cuidar da casa dos doentes, servi-los; ter o seu cozinheiro e cozinha à parte, se
tiver condições, para que na hora certa fossem preparadas todas as refeições e cuidados necessários
ao doente; deitar água benta em todas as camas, todos os dias, depois do jantar, fazer três orações,
circular à volta da cama de todos os doentes, em silêncio, observando se estão todos na cama;
manifestar e impor todas a negligências de todos os moradores daquela casa; recomendar aos seus
ajudantes que aqueçam a água para lavar o doente, caso este esteja perto de falecer; cuidar do caixão
e a organização de uma tabela da administração; transportar o defunto no mosteiro; purificar e
renovar o local onde esteve o doente; o responsável dê tudo o que é necessário para este serviço falta-
se naquela casa; que o servidor dos doentes ouvisse missas e que nelas comungasse; entre outras
regras que visavam a prestação de cuidados ao doente. Estas regras foram passando de instituição
em instituição passando estas regras a serem de aplicação obrigatória nos mosteiros da obediência
(Carvalho, 2016).
O trabalho dos monges e as monjas, mais tarde chamados de “infirmarius”, começou a ser
reconhecido como uma profissão, com as suas respetivas funções, entre 1070 e 1080, no mosteiro de
Cluny. A enfermagem como profissão foi depois sendo reconhecida como tal pela Europa, quer pelas
instituições que faziam parte da congregação de Cluny, como pelas que não faziam parte. “No
território do Condado Portucalense, a adoção das formas cluniacenses de organização da vida
monástica, como modelo exclusivo de outras obediências, concretizou-se a partir de 1080” (2016, p.
71).
O nome do “infirmario” /responsável monástico dependia tendo em conta a localidade do
mosteiro onde estes se encontravam. Para este autor as regras, anteriormente enumeradas, não eram
específicas desta função, visto que tanto os monges como as monjas adoeciam e nesse momento
passavam a ser os doentes (2016).
Por outro lado, com as regras parecidas havia o documento de Melón, inspirado no
documento de Cluny. Melón, ao contrário de Cluny chamava ao cuidador “enfermeyro”, na língua
Galaico-Portuguesa (Carvalho, 2016).
Assim segundo o autor António Carvalho, o estatuto profissional de enfermeiro surge,
durante o período da Idade Média, através da sociedade, instituição ou grupo, tendo como ponto de
partida a divisão e organização do trabalho, sendo o objetivo a escolha de um indivíduo ou grupo,
para o desempenho de um papel social associado a funções que pretendem a satisfação das
necessidades de quem necessita, sendo depois recompensado ou não (2016).

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Atualmente, o significado da palavra inglesa “nurse” usada durante a Idade Média já não
é o mesmo de antes, visto que apesar da função do enfermeiro ser a prestação de cuidados ao utente,
nessa época este conceito abrangia um número maior de cuidados, sendo estes os cuidados maternos,
espirituais, psicológicos, médicos, de enfermagem, entre outros.
Deste modo, com o passar dos anos e a passagem de língua em língua originou-se a palavra
enfermeiro, atualmente utilizada, representando uma profissão onde a base é assegurar bem-estar do
doente com empenho, dedicação e os bens materiais necessários à melhor prestação de cuidados
possível.

3.2. Renascimento

3.2.1. Enfermagem no Renascimento


O renascimento foi um período da história europeia caracterizado pela renovação/evolução.
Este movimento reformulou a vida medieval e deu início à Idade Moderna e, desta forma, abriu
novos horizontes perante os europeus atingindo marcos revolucionários quer na agricultura, no
comercio, na indústria, nas ciências, nas artes, entre outros (Câmara, 2023).
Esta foi uma altura em que o pensamento mudou, o Homem deixou de ser o centro do
universo, fartaram-se de ficar limitados, invés disso, começaram a expandir, a conhecer, a aprender,
a descobrir e a criar. Galileu, Copérnico, Leonardo da Vinci são só algumas das grandes mentes que
ultrapassaram o esperado e deixaram um legado nos seus nomes, merecedores de serem conhecidos
mundialmente (Câmara, 2023).
E como não podia faltar, nesta época revolucionária do Renascimento também se abriu
horizontes em relação à enfermagem. De início, a enfermagem mantinha-se uma profissão
maioritariamente feminina, sendo completamente desvalorizada e sem qualquer reconhecimento,
ainda assim, continuou a ser visto como um trabalho doméstico invés de uma profissão de facto.
Além disso, as enfermeiras tinham dificilmente acesso à educação e treinamentos adequados aos seus
trabalhos, o que limitava os seus conhecimentos e habilidades de lidar com situações mais
complexas, acabando por serem sujeitas a aprender à base das suas próprias experiências práticas
(Sou Enfermagem, 2023).
No entanto, ao longo do Renascimento, ocorreu “o início do reconhecimento da
enfermagem”, pelo surgimento das damas e irmãs de Caridade de São Vicente de Paula, na França,
que introduziram os princípios modernos de enfermeiras visitadoras e de serviço social que
enfatizavam o conceito “ajudar as pessoas a se ajudarem”. Consistia em jovens solteiras, inteligentes
e refinadas, para além de possuir real interesse pelo doente. Ainda assim, um programa era oferecido
que ajudava a desenvolver a experiência hospitalar, visitar as casas e cuidar dos doentes (Sou
Enfermagem, 2023).

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No final do Renascimento, a enfermagem começou a ganhar maior reconhecimento e


respeito pela sociedade, especialmente pelo seu papel em situações de guerra e epidemias. Um grande
exemplo desta situação foi, sem dúvida, o louvável nome de Florence Nightingale, a mãe da
enfermagem, que ganhou a sua popularidade pela sua atuação durante a guerra da Crimeia no final
desta época. Todas estas mulheres, também com o seu sacrifício e trabalho contribuíram para o
reconhecimento da enfermagem e trouxeram avanços significativos para a profissão (Sou
Enfermagem, 2023).
Deste modo, esta época forneceu importantes conquistas à enfermagem, como a sua
valorização e importância para a sociedade, e não só, também contribuiu para uma melhor formação
e qualificação das enfermeiras, e, por conseguinte, para a evolução da profissão ao longo do tempo,
tornando-se uma profissão organizada e padronizada (Sou Enfermagem, 2023).
A nosso ver, atualmente, a enfermagem é uma profissão vital na área da saúde,
desempenhando um papel fundamental na sua promoção, prevenção de doenças e no cuidado de
pessoas doentes ou feridas, tendo esta um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas e
na saúde pública.

3.3. Cristianismo

3.3.1. Enfermagem no Cristianismo


A missão salvadora de cristo para os doentes e moribundos era a proposta da igreja que
contrapunha o que era costume na sociedade. Tanto a igreja como a religião tiveram um grande
impacto na evolução da enfermagem pela sua mundialmente conhecida doutrina de “Amar o
próximo”. Esta acreditava que todos aqueles que se convertiam ao cristianismo encaravam a missão
de confortar os aflitos, tratar dos doentes, socorrer os pobres, entre outros. Defendendo que cuidar
dos doentes podia ajudar a salvar as suas almas (Cruz et al., 2005).
Como já visto anteriormente, diferentes civilizações que existiram ao longo dos tempos
eram extremamente crentes nos seus deuses e ideais. Efetivamente, sobressaiu uma tríade de
Senhoras reconhecidas como das primeiras heroínas da Caridade Cristã pela sua bondade e dedicação
aos doentes e aos pobres: Marcela, Fabíola e Paula. Estas abriram palácios, hospitais, conventos e
albergues para acolher e cuidar dos mais necessitados (Câmara, 2023).
Além disso, temos o exemplo da mundialmente conhecida Florence Nightingale, a “mãe”
da enfermagem, uma pessoa com fortes crenças em Deus, que proclamou que este tinha sido o
responsável por chamar-lhe ao serviço de cuidar dos outros. (Nunes, 2007)
Segundo Patrícia Câmara, naquela altura, uma mulher consagrada devia ser magra, pálida,
ter uma pele malcuidada e usar um véu como símbolo de obediência, humildade e serviço ao outro.

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Ou seja, consistia basicamente, em ser uma serva total, ter desprezo por si mesma, o que implicava
uma pobreza do saber e do seu próprio desenvolvimento pessoal. Além disso, mantinham certas
obrigações perante a sociedade tais como, manterem-se sempre ocupadas, pois qualquer descanso
era visto como um pecado e serem submissas a Deus e aos seus representantes diretos (Câmara,
2023).
Ainda assim, a igreja tomou várias medidas de modo a preservar a vida, respeitando os
direitos humanos e a igualdade de género. Por outras palavras, defendiam que toda a vida humana
tem um caracter sagrado e inviolável, nomeadamente, a abolição da pena de crucifixão, à luta de
gladiadores e ao trato dos escravos, sendo que estes fossem libertados, o reconhecimento da
dignidade da mulher e proteção de todas as crianças. Deste modo, o cuidar dos doentes passou a ser
um dever sagrado criando-se várias instituições que se dedicavam ao cuidado dos mais necessitados
como congregações, irmandades e ordens (Câmara, 2023).
Com o passar do tempo, a doença deixou de ser vista como um castigo, mas sim como um
modo de redenção e purificação. O atendimento a doentes era feito por mulheres, diaconisas (servas
cristãs que se dedicavam à enfermagem, tratavam com ervas medicinais, banhos e tratamentos
caseiros, auxiliadas por viúvas), senhores feudais e monges, sendo a caridade e misericórdia eram os
objetivos dos cuidados. Naturalmente, todos os hospitais eram construídos junto a um mosteiro ou
catedral destinados a classes mais baixos e desfavorecidas (Câmara, 2023).
Até chegar ao Período da Baixa Idade Média em que houve vários progressos na arte,
escrita, arquitetura e medicina. Além disso, deu-se o aparecimento das cruzadas (movimentos
militares de aspiração cristã que possibilitaram um forte intercambio de ideias produtos) (Câmara,
2023).
Entretanto, o protestantismo (uma religião que proclamava como o meio de salvação a fé)
ganhou força e fez as pessoas perder interesse em que qualquer tarefa que implicasse algum sacrifício
pessoal. Deste modo, o trabalho em hospitais acabou por ficar a cargo de mulheres marginalizadas
que procuravam trabalho para assegurar alimento e abrigo, sendo os seus conhecimentos e
sentimentos humanitários nulos (Cruz et al., 2005).
Nos finais do século XVIII, os hospitais passaram a ser uma instituição civil, a obrigação
do estado cuidar dos doentes, todos tem direito a assistência à sua saúde, os profissionais
continuavam a ser religiosos (Cruz et al., 2005).

3.3.3. “Período Negro” da Enfermagem

O período negro da enfermagem dá-se até ao fim do século XVIII, no qual a enfermagem
e as condições das enfermeiras diminuíram drasticamente. Nesta época as mulheres ficavam
responsáveis pela vida doméstica, mas se, por outro lado, quisessem trabalhar teriam de fazê-lo como

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empregada doméstica. Os hospitais começaram a ser locais condensados de pessoas, sem condições
de higiene. O trabalho era cansativo, trabalhavam durante várias horas, sendo que recebiam um
salário muito baixo e não tinham as condições necessárias para um alojamento (Câmara, 2023).
Deste modo, este período ocorreu devido ao facto de a enfermagem ter começado a ser
praticada por vigilantes ou criadas em vocação, sem conhecimentos, tendo como consequência a
diminuição da prestação de cuidados de saúde (Câmara, 2023).

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4. FLORENCE NIGHTINGALE

4.1.Biografia de Florence Nightingale


Florence Nightingale nasceu a 12 de maio de 1820, em Florença na Itália, durante uma das
viagens que a sua família costumava fazer pela Europa. Pertencia a uma família de aristocratas o que
lhe permitiu usufruir de uma educação e vivência ricas em ideias e saberes pouco comuns nos jovens
dessa época. Tinha um espírito irreverente, que em conjunto com a boa informação que possuía
contradizia os planos que os seus pais tinham para si, isto é, esperavam que se dedicasse a ser uma
dama vitoriana, preocupada com a casa e com a família, típica da classe alta a que pertencia (Silva
ET at., 2007). Ao longo da sua vida ganhou prémios como “Real cruz vermelha” (1883), “Ordem de
são João” (1904) e escreveu 2 livros “Administração Hospitalar do exército” e “Comentários sobre
questões relativas à saúde”. Florence Nightingale continuou a trabalhar até aos oitenta anos e faleceu
durante o sono a 13 de agosto de 1910, em casa (Silva et at., 2007).
Era muito crente e durante algum tempo achava que seguir Deus era o seu propósito. Foi
este propósito que a levou a dizer aos seus pais que queria dedicar-se ao “cuidar” dos outros, o que
não foi bem recebido pela sua família. Deste modo, enviaram-lhe numa viagem pela Europa para que
pensasse melhor no assunto. Foram dois anos onde esteve em várias instituições hospitalares de
Ordem Religiosa, na qual se dedicavam à formação em enfermagem. Quando regressou estava
convicta e começa a trabalhar como voluntária num Hospital de Londres (Silva et at., 2007).

4.2.Atividades de Florence Nightingale pós-guerra – Crimeia


Nessa altura deu-se a guerra que opôs a Rússia à França, Inglaterra, Turquia e Piemonte,
levou por consequência a que aumentasse o número de mortos do exército inglês em relação ao
exército francês. Florence é convidada a ser chefe de um grupo de mulheres enfermeiras para
organizar os hospitais de Campanha Ingleses e parte para Scutari na Crimeia (Silva et at., 2007).
Os atos curativos, cuidados de higiene, preparação de alimentos, arranjo de roupas e
cuidados de saneamento foram das primeiras medidas tomadas por si, visto que maior parte dos
feridos não morria pelos ferimentos, mas sim por causa das infeções causadas por falta de condições
sanitárias. Por consequência das suas medidas, houve uma redução evidente da mortalidade do
exército britânico e passou a usufruir de bens materiais, tais como, uma bicicleta, uma lavandaria,
um sistema bancário que ajudava a guardar poupanças, e um pequeno hospital para apoio às famílias
que acompanhavam os soldados (Silva et at., 2007).
Volta a Inglaterra, sendo considerada como uma heroína, dedicando-se à reorganização de
Hospitais principalmente para os militares. Esta achava ainda que era importante que a colheita
sistemática de dados em conjunto com uma observação persistente, eram necessárias para melhorar
os cuidados a prestar (Silva et at., 2007).

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4.3. Influência de Florence Nightingale na reforma da Enfermagem, no ensino de


Enfermagem, na Saúde Pública
Como referido anteriormente, ao invés de Nightingale focar-se exclusivamente no
tratamento dos doentes, sendo que tomou várias medidas que revolucionaram os cuidados de saúde
naquela época. Um exemplo destas medidas foi a higienização das mãos e das roupas, atualmente é
uma coisa lógica e banal de se fazer, mas naquela altura era algo impensável e, no final das contas,
foi uma das mais importantes medidas tomadas por Florence que contribuiu para a redução da taxa
de mortalidade de 40% a 2% (Silva et al., 2007).
A realidade é que Florence não influenciou somente a saúde pública, ela também teve um
papel fundamental no ensino. Esta fundou a primeira escola de enfermagem da Inglaterra no Hospital
Saint Thomas, apostando numa formação de enfermeiros exigente e rigorosa, coordenada pela
própria Florence, cuja apelava ao melhor tratamento e cuidado possível por parte dos enfermeiros ao
doente. Este evento histórico serviu de inspiração a novas instituições que aderiram a esta mesma
forma de ensino aos enfermeiros (Silva et al., 2007).
Florence foi fiel ao que queria e com a sua bondade, altruísmo e conhecimento, dedicou a
sua vida a cuidar das pessoas mais necessitadas e doentes, deixando um legado a ser respeitado e
reconhecido na história da enfermagem que irá perdurar para sempre (Silva, 2007; Coats, 1998)
Assim, todos os trabalhos de Florence Nightingale foram considerados os pioneiros
trabalhos de “Investigação de Enfermagem”. Florence está ainda ligada à criação da primeira escola
de enfermagem em 1860, no Hospital de S. Thomas, em Londres, servindo de exemplo a várias
outras escolas que começaram a espalhar-se pelo Mundo (Silva et al., 2007).

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5. A EVOLUÇÃO DOS CONTEXTOS ASSISTENCIAIS EM


PORTUGAL

5.1. Década 50
Nos anos 50 Portugal era um país rural, mas com o desenvolvimento industrial a população
começou a migrar para as cidades, com o objetivo de melhores condições de vida e emprego.
Consequentemente, a classe operária aumenta e o número de trabalhadores nas zonas rurais diminui
(Lourenço et al., 2007).
Deste modo, é no final desta década que se dão as mudanças decisivas para Portugal na
década de 60, sendo estas: crescimento da classe operária, da cidade e das classes médias, boas
condições económicas e industriais e diminuição da agricultura latifundiária (Lourenço et al., 2007).
A nível da saúde, o casamento era proibido por lei para as enfermeiras, mas esta regra não
era apoiada nem pelos médicos nem pela igreja. Algum tempo depois sai um decreto de lei que afirma
que a enfermagem era uma profissão cujo exercício da mesma era maioritariamente vocação, sendo
necessário a melhoria da preparação da técnica dos enfermeiros e apostar a nível social e profissional
para a saúde. Este decreto levou a que houvesse uma reorganização e disciplina nas escolas,
principalmente nos métodos de ensino (Lourenço et al., 2007).
As escolas passaram a ser totalmente autónomas a nível técnico e administrativo, estando
integradas em institutos religiosos ou nas misericórdias. O plano de estudos consistia em aulas
teóricas, práticas e estágios obrigatórios, e no final faziam um exame chamado Exame de Estado.
Para este curso era preciso ter no mínimo 18 anos e, ser fisicamente robustos e ter um comportamento
moral quase perfeito. Posteriormente, foi também criado um Curso Complementar de Enfermagem
que visava a melhoria da formação dos monitores (Lourenço et al., 2007).
Em 1958 é criado o Ministério da Saúde com uma nova fase de organização da saúde em
Portugal (Lourenço et al., 2007).
Por fim, foi na década de 50 que se formou os pilares da enfermagem e onde se tentou
compreender o que estava a acontecer com a enfermagem em Portugal e tentar mudar o que estava
menos bom (Lourenço et al., 2007).

5.2. Década 60
A década 60 foi considerada como o ponto de viragem na evolução da enfermagem, assim
sendo iremos enumerar as datas e acontecimentos mais importantes, sendo estes: em 1961 é criada a
Direção Geral dos Hospitais; em 1964 surge o Setor de Ensino de Enfermagem e é neste ano que se
criaram grupos de estudo para a revisão dos planos e programas de estudo; em 1967 surge a
enfermagem é dividida em 3 carreiras, nomeadamente, a de saúde pública, a hospitalar e a do ensino,
esta divisão permite a distinção entre a escola e o hospital; em 1968 dá-se a Associação Portuguesa
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de Enfermeiros; e, em m 1969 as auxiliares poderiam ter a formação para passarem a enfermeiros,


por este motivo, foi-lhes posta muita pressão, levando a que as auxiliares se recusassem a colocar
soros e a administrar medicação endovenosa, levando a uma perturbação nos serviços (Santos et al.,
2007).
Em suma, nesta década surge a apreensão de elaborar um projeto de estatuto de enfermagem,
apostando assim na formação dos enfermeiros sobre todos os temas tendo não só praticas, mas
também teóricas aprofundadas, a opção de auxiliares de enfermagem para enfermeiros foi retirada e
houve uma maior valorização da profissão.

5.3. Década 70
Na década 70, a maior parte dos cuidados de enfermagem eram prestados por auxiliares,
substituindo assim as enfermeiras na sua função prática, sem a valorização da sua função (Rosado et
al, 2007).
No começo desta década Portugal apresentava valores desfavoráveis em relação à taxa de
mortalidade infantil, número de médicos e de partos hospitalares. Assim, criou-se o sistema de Saúde
e da Assistência, isto é, os Centros de Saúde. Houve, em 1972, um grande aumento na criação de
Centros de Saúde, criou-se um curso de promoção de auxiliares e um Curso Superior de Enfermagem,
e, inauguraram-se várias escolas. Foi neste momento que se começou a falar na criação de uma
Ordem dos enfermeiros (Rosado et al, 2007).
Em 1974 a 1976, com o 25 de abril e a constituição, houve a criação do Sistema Nacional de
Saúde (SNS), na qual todos tinham direito a receber cuidados de saúde, sendo este geral e gratuito.
O ensino continuava fora do sistema nacional educativo e os enfermeiros foram notados nos quadros
da função pública (Rosado et al, 2007).
Por sua vez, é em 1978 que se origina o conceito de saúde, sendo este designado, pelos
autores Rosado et al., como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
simplesmente a ausência de doença” (2007, p.20).
Ultimamente, no final desta década, as escolas passam a ser Escolas Superiores de
Enfermagem, são aprovados novos planos de estudo para o curso, para qual os candidatos tinham de
ser muito bem escolhidos com exigência. Por conseguinte, houve uma melhoria em relação à
qualidade do desempenho dos docentes e na alteração da execução da profissão de enfermagem,
levando a uma estabilidade, autonomia e desenvolvimento das competências (Rosado et al, 2007).

5.4. Década 80
Primeiramente, em 1981, é concebido um documento, no qual estão contidos os seguintes
parâmetros: a carreira de enfermagem é consagrada como tal, não havendo preconceitos em relação
a área ou local de trabalho; os enfermeiros são divididos em várias categorias, sendo estas,

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Enfermeiro, Graduado e monitor, Especialista chefe e assistente, Supervisor e professor e Técnico


de enfermagem; os enfermeiros só podem ser avaliados pelos mesmos; e, são definidas as
competências e funções dos enfermeiros chefes (Quintas et al., 2007).
Deste modo, a enfermagem torna-se: muito organizada; exigente, visto que é preciso fazer
provas escritas e orais e formações de modo a serem promovido na sua carreira; e, rompem os
Departamentos de Educação Permanente dos hospitais. Com o intuito das pessoas progredirem na
sua carreira, a formação pós-básica em enfermagem (Quintas et al., 2007).
Em 1983 são criadas especialidades, tais como, a obstetrícia, a reabilitação, a saúde pública,
mental e psiquiátrica e infantil e pediátrica, e é criada a Direção Geral dos Cuidados de Saúde
Primários. Nos anos seguintes, por sua vez, forma-se uma nova especialidade, a Médico-Cirúrgica
(Quintas et al., 2007).
Em síntese, a enfermagem nos anos 80 foi marcada por várias mudanças num curto período,
sendo estas fundamentais, pois servirão de bases para as futuras décadas (Quintas et al., 2007).

5.5. Década 90
Nestes anos 90, dão-se alterações essenciais para a autonomia da profissão de enfermagem.
Desta forma, os enfermeiros docentes foram incluídos como professores do ensino superior,
passando para a subordinação do Ministério da Educação (Russiano et al., 2007).
A profissão de enfermagem tinha três áreas de atuação, sendo a prestação de cuidados, a
gestão e a assessoria técnica (Russiano et al., 2007).
Em 1992 são adicionados aos hospitais gerais, os Centros de Saúde Mental. Um ano depois,
é elaborada uma Carta Deontológica do Serviço Público com os valores e deveres dos funcionários
e agentes de administração pública (Russiano et al., 2007).
Por sua vez, no ano de 1966, foi publicado o regulamento de exercício profissional dos
enfermeiros (REPE) que regulamentou o exercício da profissão, clarificou conceitos, intervenções e
funções autónomas e interdependentes, bem como os direitos e deveres dos profissionais. Sendo o
seu objetivo a promoção da saúde, a prevenção da doença, o tratamento, a reabilitação e todas as
áreas para além da parte clínica (Russiano et al., 2007).
Em 1997 os cursos passam a ter grau académico da Licenciatura, há uma proteção e
preocupação com os direitos do homem e as aplicações da biologia e da medicina e os deficientes
hospitalizados passam a poder ter acompanhamento familiar (Russiano et al., 2007).
Em 1998, originou-se o Tratado de Bolonha e a Ordem dos Enfermeiros na qual os objetivos
eram a promoção da qualidade dos cuidados, regulamentar e controlar o exercício da profissão e
controlar e manter o cumprimento das regras éticas e a deontologia profissional (Russiano et al.,
2007).

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Afinal a década de 90 ficou guardada como a época que teve uma evolução imprescindível
não só ao exercício da profissão, mas também ao seu estudo, que é fundamental para um boa
execução e bem-estar do utente (Russiano et al., 2007).

5.6. Século XXI e perspetivas futuras para a Enfermagem


No decorrer do ano 2000 surgiram algumas discussões na prática da enfermagem, assim foi
feita uma avaliação e ao longo do século XXI, apostando-se na melhoria da educação. As apostas
foram as seguintes: processos de acreditação, cujos consistem no reconhecimento profissional e
internacional; implementação de novos sistemas de informação e documentação nas organizações e
serviços a nível nacional; implementação do CIPE (Classificação Internacional para a prática de
Enfermagem); linguagem comum na prática clínica, com o objetivo de melhorar a comunicação entre
enfermeiros e outros profissionais de saúde; e, a ordem dos enfermeiros passa a reconhecer o título
de enfermeiro especialista como competência científica técnica e humana para prestar além de
cuidados gerais, cuidados especializados na área clínica da sua especialidade (Saraiva ET al., 2007).
Ao longo do séc. XXI apostou-se no conhecimento e no desenvolvimento da formação na
área das ciências de enfermagem (Saraiva et al., 2007).
Em suma, hoje ao olhar a trajetória da profissão denota-se que enfermagem vem percorrendo
vários caminhos, porém ao longo desse processo constrói-se e sedimenta conhecimentos apostando-
se na educação e formação impondo-se como profissão que procura e constrói a sua própria história
(Saraiva et al., 2007).
Numa perspetiva futura enfermagem irá continuar a apostar na educação salientando a
importância da pessoa como promotor desse desenvolvimento. Formando assim enfermeiros que
para além dos cuidados gerais, serão capazes de participar e gerir unidades de saúde (Machás et al.,
2007).

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CONCLUSÃO

Com a execução deste trabalho podemos concluir que a evolução da enfermagem ocorreu
a nível económico-social, sendo as primeiras descobertas uma base que permitiu que o estudo dos
cuidados e da sua prestação esteja em constante evolução e que estes possam ser prestados com a
melhor qualidade possível, pelos muito bem formados enfermeiros e estudantes em Portugal.
O nosso objetivo foi alcançado, pois ficamos a conhecer melhor o passado da
enfermagem, dando-nos a noção de como é feita a prestação de cuidados de saúde, sendo que esta
está em constante evolução, visto que a cada dia que passa a ciência evolui mais e são descobertas e
estudadas cada vez mais doenças e situações novas no nosso dia-a-dia. Consequentemente, os
cuidados a serem prestados e o seu estudo irão evoluir, de modo que as doenças possam ser tratadas
da melhor forma e quando possível evitadas.
Durante a pesquisa destes temas, sentimos dificuldade em encontrar documentos
científicos que fossem de encontro a alguns destes temas, que eram específicos. Por sua vez, no
início, também sentimos dificuldade em perceber como fazer bem as referências bibliográficas.
Em suma, foi a partir do papel da mulher, como ama que cuidava das crianças, que as
atividades, que uma enfermeira exerce hoje, começaram a surgir. Florence Nightingale foi uma das
pessoas mais importantes para que houvesse uma base segura e educativa, tanto para a execução de
tarefas de enfermagem, como para o ensino dos tratamentos, gestão, higiene e cuidados gerais de
saúde. Podemos verificar que a evolução destes aspetos foi possível devido à junção de várias
culturas e indivíduos, que com a sua empatia e conhecimento contribuíram para a descoberta e
organização das funções de um enfermeiro. Deste modo, os cuidados feitos pelas várias culturas e
indivíduos, o apoio socioeconómico e a criação de várias organizações, foram a base para que, nos
dias de hoje, possam ser prestados os melhores cuidados de saúde através. Esta profissão está em
constante evolução, logo nós continuaremos a evoluir com esta, procurando conhecer cada vez mais
acerca das diversas situações que possam surgir enquanto enfermeiros, que prestam os cuidados de
saúde aos utentes das várias unidades, das diversas instituições de saúde.

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