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- Parte 1 -
Exemplo 1:
Apelação cível nº 0001127-69.2013.8.16.0042, do TJPR
Atenção: Não vamos questionar aqui se a tese jurídica é ou não procedente, usando apenas como
exemplo para a estruturação do REsp, ok?
Houve afronta ao contraditório e à ampla defesa porque os terceiros prejudicados não foram
intimados da audiência, não se lhe aplicando o art. 278 do CPC, que se refere somente à
manifestação das partes, e não a terceiros prejudicados.
O problema dessa alegação é que não foi impugnado fundamento autônomo e suficiente para ma-
nutenção do acórdão, que está no seguinte parágrafo do acórdão:
Esse fundamento, por si só, seria capaz de manter o acórdão recorrido “de pé”, por isso deveria ter
sido impugnado, conforme Súmula n. 283/STF. Então, poderia ser feito da seguinte maneira:
Houve afronta ao contraditório e à ampla defesa porque os terceiros prejudicados não foram
intimados da audiência, não se lhe aplicando o art. 278 do CPC, que se refere somente à
manifestação das partes, e não a terceiros prejudicados.
Também não prospera o fundamento de ser necessária a manifestação na apelação, pois
o vício não se convalida com o tempo ou com subsequentes atos processuais.
O art. 278 do CPC foi violado (manifestando-se ofensa ao contraditório e à ampla defesa),
porque os terceiros prejudicados não foram intimados da audiência e a obrigatória mani-
festação na primeira oportunidade na qual falar nos autos é exclusiva das partes e não de
terceiros.
Veja como não é só uma tese jurídica, e sim demonstra-se de cara qual a norma jurídica violada, o
motivo e a análise normativa pertinente! Mesmo que para um parágrafo introdutório, tem-se um
resumo bem colocado da controvérsia.
O art. 237 do CPC foi violado (manifestando-se ofensa ao contraditório e à ampla defesa),
porque os terceiros prejudicados não foram intimados da audiência e a obrigatória mani-
festação na primeira oportunidade na qual falar nos autos é exclusiva das partes e não de
terceiros.
Também não prospera o fundamento de ser necessária a manifestação na apelação, pois o
vício não se convalida.
Aqui também incide a Súmula n. 284/STF por motivo diverso: o dispositivo tido por violado não
coincide com a tese jurídica.
Exemplo 2:
Apelação criminal nº 0099880-59.2020.8.19.0001, do TJRJ
Atenção: Não vamos questionar aqui se a tese jurídica é ou não procedente, usando apenas como
exemplo para a estruturação do REsp, ok?
Você poderia pensar em três estratégias para essa tese jurídica. Afronta:
Sempre que possível, sugiro maior objetividade, então eu iria na hipótese c. Se quiser ter mais
certeza, pesquise julgados do STJ sobre o tema (especialmente os que tiveram essa matéria anali-
sada no mérito) e identifique no REsp quais os artigos indicados.
Veja que nos itens II e III da ementa fica claro que a matéria foi analisada, embora com a ressalva
da multirreincidência (especificidade da matéria).
Então, verificando na íntegra do voto, adivinha qual o art. violado!? Exato, só o art. 67 do CP.
Nesse caso, o REsp foi provido, sendo recorrente o MP. De qualquer forma, isso mostra como a
tese jurídica corresponde ao art. 67 do Código Penal. Logo, basta, em linhas gerais, indicar esse
artigo como violado.
Buscando a clareza, objetividade e ponto jurídico principal, uma sugestão de redação para o REsp,
nesse capítulo, seria:
O art. 67 do Código Penal foi violado porque o TJ entendeu que não se compensam
as circunstâncias de reincidência (agravante) e de confissão espontânea (atenuante),
o que viola a própria ideia de individualização da pena.
Portanto, deve ser reconhecida a violação ao art. 67 do CP para que a confissão es-
pontânea e a reincidência sejam inteiramente compensadas, reajustando-se a pena
aplicada.
- Parte 2 -
Art. 105, III, c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
Todos esses 36 tribunais podem ter seus acórdãos objeto de dissídio jurisprudencial. Qualquer
outro tribunal do país não pode:
• TRE
• TRT
• TST
• TSE
• STM
• STF
Digamos que você esteja recorrendo de um acórdão do TJSP. Esse é o acórdão recorrido, também
raramente chamado de paragonado (nome horrível, não acha?).
O(s) acórdão(s) utilizado(s) como referência para o dissídio são os paradigmas. Você pode usar
como paradigma acórdãos de todos os tribunais da Justiça Comum (TJs, TRFs, TJs Militar e o STJ),
exceto do mesmo tribunal recorrido.
Isso está no art. 105, III, c, da CF/88: der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja
atribuído outro tribunal.
Numa brincadeira matemática, quantos tribunais podem ser indicados como paradigma? 35.
Paradigma = (27 TJs + 5 TRFs + 3 TJsM + STJ) – 1 recorrido
Paradigma = (27 + 5 + 3 +1) - 1
Paradigma = 36 – 1 = 35 tribunais
Olha o número de decisões do STJ não conhecendo do REsp porque foi indicado como paradigma
acórdão do mesmo tribunal recorrido:
Acórdãos (649)
Decisões Monocráticas (19.015)
Então, para começar, o dissídio não é um mundo à parte! Todas as regras, exigências e óbices
aplicáveis à alínea a do art. 105, III, da CF são aplicáveis à alínea c também. Tudo, sem exceção!
Propósito maior do dissídio: Mostrar que uma questão de direito foi julgada com interpreta-
ção da lei federal de maneira diferente entre 2 ou mais tribunais.
Você pode usar quantos paradigmas quiser, de quantos tribunais quiser (exceto do recor-
rido).
Se recorrer no TJSP, e quiser usar como paradigma 3 acórdãos do TJPR + 2 dos TJAC + 5 do
TRF3 + 1 do TJPB + 12 do STJ = 23 acórdãos paradigmas (o céu é o limite).
O trabalho que você terá é porque precisará fazer demonstração e comprovação de cada um
deles (23 vezes diferentes, portanto).
e. Ao fazer a demonstração, você precisa dizer claramente qual o artigo de lei fede-
ral acerca do qual teria havido divergência jurisprudencial (até mesmo para fins
da fase 2 da demonstração. Se não disser claramente, Súmula n. 284/STF. Vide
AgInt no AREsp 1576556/SP e AgInt no REsp 1695516/RS.
CPC art. 1.029, § 1º. Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará
a prova da divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, ofi-
cial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão
divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computado-
res, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circuns-
tâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
a certidão à expedida pela secretaria, comprovando que realmente ocorreu aquele julga-
mento, naquele tribunal, daquela forma.
oficial à Base de dados própria do Judiciário. Os repositórios oficiais estão previstos no art.
255, § 3º, do RISTJ:
credenciado à Base de dados particular e que foi reconhecida como fidedigna pelo STJ. No
próprio site do STJ consta a lista de repositórios credenciados.
inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente à CD-
ROM (oi, alguém ainda usa isso?) ou edições digitais do repositório.
com indicação da respectiva fonte, à Indicar de onde você tirou o acórdão, com o link.
Exemplo: http://www4.tjrj.jus.br/ejud/ConsultaProcesso.aspx?N=2021.050.03216.
Vamos ser sinceros: dissídio é complexo, chato e muito burocrático, não é mesmo?
RESUMO: