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JOGOS E BRINCADEIRAS NA
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Nesta aula, você terá um panorama referente aos jogos, seus elementos e
características. Com base nisso, perceberá a importância que os jogos possuem
na história e o quanto foram surgindo novos formatos para o ato de jogar, sendo
este um elemento da nossa cultura. Você aprenderá conceitos de autores
clássicos, bem como a caracterização e classificação dos jogos, para que tenha
subsídios para compreendê-los e inseri-los em sua prática pedagógica.
Por meio desta aula, você perceberá que os jogos têm um grande potencial
educacional para o desenvolvimento de experiências significativas de
aprendizagem, seja na área da Educação Física, seja em outras áreas do
conhecimento. Portanto, é essencial que possamos conhecer um pouco desse
universo caracterizado pela ludicidade.
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praticada dentro de limites espaciais e temporais próprios, segundo uma
certa ordem e regras. (Huizinga, 1971, p. 13)
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• Fictícia: o jogador tem consciência específica da realidade do jogo e a
realidade do mundo real.
Quando falamos em jogo, alguns autores são essenciais para
compreensão dos conceitos cunhados em cada uma das épocas em que esses
estudiosos viveram. Para isso, trazemos um breve esquema (Quadro 1), que visa
dar um panorama dos principais nomes associados ao estudo dos jogos:
Quadro 1 – Jogo
Para Huizinga (1971), o jogo é mais antigo que a cultura, sendo uma
realidade autônoma. Isso pode ser comprovado com base na interação entre os
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animais, pois eles brincam e jogam entre si, inclusive com regras (como não
morder com força, por exemplo) (Santos, 2018).
Em relação aos aspectos culturais, “os jogos são fatores e imagens de
cultura, daí decorre que, uma civilização e uma época, que pode ser caracterizada
pelos seus jogos” (Caillois, 1990, p. 102). Assim, os jogos podem demarcar certas
culturas e a forma como a cultura vai sendo perpetuada pela sociedade.
É fato que os jogos têm diversas origens e a cultura pode ser transmitida
pelos diferentes jogos e formas de jogar. Para Kishimoto (1994), isso acontece
estabelecendo regras, critérios e sentidos que possibilitam um convívio mais
social, porque enquanto manifestação espontânea da cultura popular, os jogos
tradicionais têm a função de perpetuar a cultura e desenvolver formas de
convivência social.
Existem também as diferenças culturais em relação aos jogos, seja na
própria organização do jogo e como ele se concebe ou ainda nas formas de jogar
(as regras envolvidas, os desafios propostos). Por exemplo, um jogo realizado
pelas crianças aqui no Brasil pode ser diferente de um jogo com o mesmo nome
realizado na África ou Europa. Essa diferença pode ser também percebida na
nomenclatura dos jogos, que têm nomes diferentes, mas são jogados da mesma
forma, com as mesmas regras e número de participantes envolvidos.
Figura 1 – Jogos
Créditos: Alteron/Shutterstock.
Nesse sentido, Brougère (1998) chama atenção de que o ludus latino não
é igual ao francês, pois cada cultura, em função das analogias que estabelece,
vai construir uma delimitação. Para o autor, o que caracteriza o jogo não é a busca
de que modo se joga ou brinca, mas sim o estado de espírito com que se joga ou
brinca.
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Quando estudamos sobre a história dos jogos, percebemos que ela está
fortemente associada à própria cultura. Em relação aos aspectos históricos, tem-
se que os primeiros jogos surgiram 5.000 a.C em regiões da Mesopotâmia e Egito.
Esses jogos seriam de tabuleiro e eram utilizados para ensinar aos mais novos
valores, conhecimentos, normas e padrões (Anjos, 2013).
Já na Idade Média, os jogos foram considerados profanos pela Igreja e só
na época do Renascimento é que voltaram a ter um destaque, quando foram
utilizados pelos jesuítas. A partir do século XVIII, foi ressaltado o valor educativo
dos jogos e isso se intensifica ao longo do tempo, sobretudo através dos trabalhos
desenvolvidos por Piaget e Vygotsky, entendendo o jogo como uma forma de
desenvolvimento e aprendizagem.
De acordo com esse breve panorama histórico, o próprio conceito de jogo
inserido na cultura sofre um processo de transformação no qual costuma se
expandir de forma dinâmica (Gallo, 2007). Assim, entende-se o jogo em si como
fenômeno cultural e sua importância para o desenvolvimento da cultura e da
civilização: jogo como forma significante, como função social (Gallo, 2007). Além
disso, eles são sistemas de representação que refletem, refratam e produzem a
cultura (Santos, 2018).
Callois (1990) defende que o jogo é um fenômeno humano,
cuidadosamente isolado do resto da existência, realizado em geral dentro de
limites precisos de tempo e lugar (o tabuleiro, o estádio, o ringue, a arena), o que
Huizinga conceitua como círculo mágico.
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O espaço em que o jogo acontece é como um verdadeiro círculo mágico:
um local, espaço e tempo com regras específicas, que as pessoas entram por
vontade própria e abrem mão de uma vida real para estarem presentes por inteiro
durante o jogo (Medeiros, 2018). Dessa forma, as preocupações do mundo real
são deixadas “do lado de fora” do círculo mágico, no qual o jogador se entrega de
forma completa para a experiência que está sendo vivenciada.
O círculo mágico ressignifica o que acontece no mundo real. Por exemplo,
podemos chutar uma bola no mundo real – um movimento normal, simples e sem
emoção. No caso de estar inserido no contexto do círculo mágico, o chutar uma
bola e fazer um gol se torna algo significativo, emocionante e complexo. Além
disso, podemos pensar no círculo mágico como um local seguro, longe das
preocupações reais da vida, em que o jogador pode errar e voltar atrás, refazer
jogadas, simular novos caminhos, alcançar metas complexas, entre outros
aspectos.
Com relação às questões físicas, o círculo mágico de um jogo pode ter um
componente físico, como um tabuleiro, um campo de jogo, por exemplo, mas
deixando claro que os jogos não têm limites físicos, pois em casos, o jogo
simplesmente começa quando um ou mais jogadores decidem jogar (Salen;
Zimmermann, 2004).
O círculo mágico é produzido pelo ato de jogar, de entrega ao jogo. Mas
você já parou para pensar que, quando falamos sobre jogo, estamos abordando
a multiplicidade e a diversidade de uma área muito grandiosa? Podemos pensar
nos diferentes jogos que passaram e passam por nossas vidas, que são inúmeros.
Para nos ajudar na organização, vamos conhecer a categorização dos jogos.
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ousado, livre, improvisado e ludus, que representa o jogo ligado às regras,
regulamentado e formalizado (Salen; Zimmermann, 2004).
O autor cruza as quatro categorias fundamentais com os conceitos de paida
e ludus, resultando em uma grande variedade de atividades lúdicas, por exemplo,
um jogo de azar vinculado a regras, a roleta, fica na seção alea/ludus. Já um jogo
não estruturado de faz de conta, como vestir uma máscara, ficaria na categoria
mimicry/paida (Salen; Zimmermann, 2004).
Nesse momento da disciplina, é importante que você conheça essas quatro
categorias fundamentais já mencionadas: Agon, Alea, Mimicry e Ilinx.
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(2004), os jogos da categoria Alea são os baseados na sorte, com base em jogos
de probabilidade.
No contexto escolar, são comuns os jogos da cultura popular como pedra,
papel e tesoura, batata quente, dança das cadeiras, entre outros.
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cultura popular como o carrinho de rolimã, perna de pau e pé de lata (Andrade et
al., 2020).
Figura 2 – Jogos
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5.1 Jogos de exercício
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percebemos os jogos de exercício nas brincadeiras de saltar, correr, pular, entre
outras e que não precisam de um objeto (brinquedo) para se consolidarem.
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Os jogos de acoplagem representam os de construção por meio de peças
para encaixes, mosaicos, modelagem, recortes e colagens, além dos jogos de
ordenação simples como o uso de blocos lógicos, materiais para justaposição,
entre outros (Gonçalves, 2014).
Como exemplos dessa categoria, há os jogos de construção (peças para
encaixar, acoplar, parafusar, sobrepor, justapor, blocos), jogos de ordenação
(puzzles, encaixes, mosaicos), jogos de montagem (acoplagem de peças, molas,
pilhas), jogos de acoplagem científica (experiência de caráter científico: química,
física, biologia) e jogos de acoplagem artística (instrumentos de jogo como
tesouras, materiais de modelagem, colagem, escultura).
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Como exemplos de jogos de regras simples, temos também os jogos de
dominó, jogos de sequência, jogos de circuito, jogos de destreza, jogos esportivos,
jogos de estratégia e sorte, jogos de pergunta e resposta, jogos de vocabulário,
matemática e teatro.
Já os jogos de regras mais complexas estão fortemente associados aos
adolescentes e adultos, tomando uma forma mais elaborada que mobiliza ações
baseadas em raciocínios e combinações bastante lógicas, relacionadas a
hipóteses, estratégias e deduções (Garon, 1992).
As regras estabelecem os movimentos a serem conferidos no jogo e,
dependendo do jogo, as jogadas dos adversários também representam um
limitador, definindo uma interdependência entre as várias jogadas, o que destaca
a construção de uma estratégia do jogo na qual o jogador faz o planejamento de
suas ações (Moratori, 2003).
Como exemplos de jogos com regras complexas, há o xadrez, bridge, jogos
de estratégia complexos, jogos esportivos complexos, jogos de sorte, jogos de
vocabulário e de matemática complexos, jogos de acoplagem complexa e jogos
digitais mais complexos.
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REFERÊNCIAS
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MEDEIROS, F. Narrativas (e narradores) de RPG-roleplaying games como
base para as práticas didáticas de professores. 193 f. Dissertação (Mestrado)
– Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.
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