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JOGOS E BRINCADEIRAS E SUA CONTRIBUIÇÃO O DESENVOLVIMENTO

DOS ALUNOS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Márcia Cardoso Gomes1


RESUMO

Este trabalho tem como objetivo mostrar como os jogos e brincadeiras


contribuem para o desenvolvimento dos alunos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, pois além dos aspectos motores e cognitivos, também auxiliam no
desenvolvimento de atitudes de respeito, cooperação, solidariedade, entre outras.
Dessa forma, a escola deve propiciar momentos em que o professor de Educação física
possa desenvolver jogos e brincadeiras infantis para facilitar a aprendizagem e que os
alunos se sintam protagonistas nesse processo. Para isso, a presente monografia se
embasou em pesquisas bibliográficas, especialmente em autores que estudam o
assunto para assim trazer mais profundidade ao estudo e novos olhares para a prática
docente.

Palavras-chave: Jogos. Brincadeiras. Aprendizagem. Desenvolvimento

1
Bacharelado em Nutrição, graduanda em Educação Física pela Faculdade Campos Elíseos. E-mail:
marcinhanutricaotupa@hotmail.com
INTRODUÇÃO

Os jogos e brincadeiras fazem parte do universo infantil e também dos adultos. A


criança, quando joga ou brinca executa atividades espontâneas que ao mesmo tempo
lhe dá prazer e permite compreender melhor o mundo que a cerca. Através dos jogos e
brincadeiras, a criança cria e recria situações de seu cotidiano.
Dada a importância dos jogos e brincadeiras, surge a seguinte questão: como
explicar a razão pela qual alguns professores não utilizam os jogos para a formação de
conceitos?
A hipótese é que, para muitos professores o jogo e a brincadeira ainda não são
vistos como instrumento de contribuição e enriquecimento para o desenvolvimento do
aluno; é usado isoladamente e desvinculado de objetivos, mas apenas como recreação.
Dentro dessa perspectiva, justifica-se a escolha do tema na tentativa de
possibilitar aos professores de Educação Física a compreensão de que os jogos
propiciam conhecimentos aos alunos, e sua utilização deve ser considerada como um
instrumento integrado ao processo de ensino-aprendizagem, pois além de contribuir
para o desenvolvimento cognitivo, garante também, de forma prazerosa, o
desenvolvimento pessoal, social, afetivo, físico e psicomotor.
Pensando nisso, o presente estudo tem como objetivo mostrar como so jogos e
brincadeiras contribuem para o desenvolvimento dos alunos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental e para isso, a metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica a partir da
busca em periódicos nacionais disponíveis na internet e em publicações de autores que
abordam o assunto para que assim haja um bom desenvolvimento do artigo.
Para isso, o estudo está organizado da seguinte forma: na Introdução é
apresentado o tema, a justificativa, os objetivos e a metodologia utilizada. No
Desenvolvimento é apresentado o conceito de jogo e como ele é utilizado na Educação.
Finalizando, nas Considerações Finais há a conclusão a que se chegou por meio deste
estudo e as contribuições para professores e outros pesquisadores.
Dessa forma, esperamos trazer contribuições para a prática docente, além das
aulas tradicionais.
1.1 Conceito de jogo e de brincadeira

O autor Huizinga, (2005), em seu livro Homo Ludens, afirma que “o jogo é uma
categoria absolutamente primária da vida, tão essencial quanto o raciocínio (Homo
sapiens) [...], então a denominação Homo ludens, quer dizer que o elemento lúdico está
na base do surgimento e desenvolvimento da civilização.”
Huizinga, (2005, p. 2) quando o homem não como “Homo sapiens” e sim como
“Homo ludens”, considera o jogo como: “Toda e qualquer atividade humana. [...] e ainda
como um fator distinto e fundamental, presente em tudo o que acontece no mundo, que
é no jogo e pelo jogo que a civilização humana surge e se desenvolve”. E ainda
(op.cit.p.3) o jogo é: “uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados
limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente
obrigatórias”.
Dessa forma, o jogo é um fato humano mais antigo que a cultura, uma vez que
esta última pressupõe sempre a sociedade humana. Contudo, os animais brincam e
sempre brincaram, mesmo antes do ser humano iniciar a atividade lúdica. Huizinga nos
faz lembrar um grupo de cachorrinhos brincando num jardim, como bem descreve:
Convidam-se uns aos outros para brincar mediante um certo ritual de atitudes e
gestos. Respeitam a regra que os proíbe morderem com violência, a orelha do
próximo. Fingem ficar zangados e, o que é mais importante, eles, em tudo isto
experimentam evidentemente imenso prazer e divertimento. (HUIZINGA, 2005,
p. 3)

Para Kishimoto (2010, p.16) o jogo é “o resultado de um sistema linguístico que


funciona dentro de um contexto social; um sistema de regras; e um objeto”. Assim,
esses três aspectos possibilitam a compreensão do jogo, pois diferencia os significados
atribuídos por culturas diferentes, pelas regras e objetos que o caracterizam.
Podemos afirmar que são jogos: o faz-de-conta; os jogos simbólicos; os motores;
os sensório-motores; os intelectuais; os cognitivos; os individuais e coletivos; os
verbais; os de palavras; os de adultos; os de crianças; os de animais; os jogos de salão;
entre outros. O que vai diferenciar um do outro é a ‘forma de jogar’, pois cada um tem
suas especificidades, dependendo do contexto sociocultural no qual estão inseridos.
(KISHIMOTO, 2003, p. 32), com relação à criança afirma que:
Assim, entende-se que no início da vida da criança, sua ação sobre o mundo é
determinada pelo contexto social em que vive e pelos objetos nele contidos. As
crianças aprendem a jogar e/ou brincar dentro de um processo histórico
construído, onde aprendem com os outros membros de sua cultura, e suas
brincadeiras são determinadas pelos hábitos, valores e conhecimento de seu
grupo social.

Isso porque, parafraseando Negrine (1994, p. 20), quando a criança chega à


escola, já traz consigo toda uma bagagem construída a partir de suas vivências que
surgem em grande parte, através da atividade lúdica.
Para a criança o jogo é uma forma de atividade que visa a satisfação de uma
necessidade, pois quando está jogando ou brincando, a criança precisa resolver
diferentes problemas, sem que se perca o sentido lúdico. Jogando, a criança consegue
atribuir diferentes significados aos objetos; começa a abstrair e a agir de forma diferente
do que vê, mudando sua percepção sobre os objetos.
Baseando-se em Kishimoto (2010, p.3), como há muitos fenômenos que podem
ser considerados como jogo, há uma grande dificuldade para sua definição e,
dependendo do contexto social e cultural, um mesmo comportamento pode ser visto
como jogo ou não, como por exemplo, uma criança indígena que “luta” com outra pode
ser vista como se estivesse jogando por uma pessoa não indígena, mas para seu povo
isso não é visto como brincadeira e sim uma preparação para a vida adulta, pois a
passagem da infância para a vida adulta tem um significado que é importante para a
tribo.
Através desse exemplo fica fácil perceber como é difícil definir o que é jogo,
brincadeira e brinquedo, mas segundo Kishimoto (2010, p. 3) todos são descritos “como
elementos da cultura, excluindo o jogo dos animais”.
Como o jogo é uma atividade voluntária do ser humano, quando está sujeito à
regras explícitas, às ordens, ele deixa de ser jogo. A criança quando brinca está no seu
mundo imaginário, não está preocupada com a aquisição de conhecimento ou com o
desenvolvimento de habilidade mental ou física.
Sendo assim, o jogo por ser uma atividade voluntária da criança, não visa um
resultado final, pois a criança está concentrada na atividade e não em seus efeitos.
Por isso, o jogo educativo, usado em sala de aula, segundo Kishimoto (2010, p.
6), muitas vezes o descaracteriza, pois a prioridade é o resultado final, a aprendizagem
de noções, de conceitos ou o desenvolvimento de habilidades. O autor afirma “o jogo só
pode ser jogo quando selecionado livre e espontaneamente pela criança.”
A definição de brincadeira não é fácil, pois depende muito do contexto onde se
realiza e muitas vezes a brincadeira é confundida com jogo ou, dependendo da
situação, pode não ser entendida como brincadeira e outra vez citando o exemplo da
criança indígena se diverte com arco e flecha pode ser vista como se estivesse
brincando por uma pessoa não indígena, mas para seu povo isso não é visto como
brincadeira e sim uma preparação para a caça, que é importante para a tribo, ou seja
uma mesma atividade pode ser brincadeira ou não, dependendo do significado a ela
atribuído.
Segundo o dicionário Aurélio a palavra brincadeira significa, entre outras,
“entretenimento, passatempo, divertimento.” Esta pode ser uma brincadeira recreativa
ou pode significar um gracejo.
As brincadeiras recreativas possuem regras simples e flexíveis e, por causa
disso, geralmente são praticadas por crianças, embora algumas brincadeiras sejam
também praticadas por adultos e adolescentes.
A brincadeira de criança por ser livre, solta e despreocupada, sem regras e
objetivos, possibilita certa liberdade. Huizinga (2005) analisa essas atividades da
criança, apontando algumas características: o prazer, o caráter “não sério”, a liberdade,
a separação dos fenômenos do cotidiano, as regras, o caráter fictício e sua limitação no
tempo e no espaço.
Com relação ao caráter “não sério”, o autor afirma que isso não quer dizer que a
brincadeira infantil deixa de ser séria, pois quando a criança brinca, ela o faz com muita
concentração. O que faz parecer que a brincadeira não é séria está relacionado ao fato
de que há muito riso e isso faz com que o ato lúdico seja visto como contrário ao
trabalho, que é considerado uma atividade séria.
Para o adulto, a brincadeira não tem o mesmo sentido, pois ele a vê como forma
de recreação, ocupação do tempo livre, afastamento da seriedade da vida real.
Contudo, brincar para a criança não é ficar sem fazer nada, pois para a criança esse é
seu “trabalho”, pois brincando ela desenvolve potencialidades, descobre papéis sociais,
limites, experimenta habilidades, forma conceitos, aprende a viver e avança para novas
etapas de seu desenvolvimento, conhecendo melhor o mundo que a cerca
(KISHIMOTO, 2010).
Esse empenho da criança ao brincar aparece quando observamos atentamente
uma criança brincando de “médico”, de “dar aula”, pois ela incorpora o papel e o faz
com muita seriedade que muitas vezes nem percebe o que se passa a sua volta. Além
disso, as crianças não gostam de ser interrompidas em suas brincadeiras e não aceita
que os outros zombem delas. Se isso acontece, elas reagem ignorando a interrupção
ou até mesmo de forma agressiva.
Por isso, é possível afirmar que para a criança, essa atividade não é apenas
divertimento, é atividade séria. A criança se afasta do ambiente real e se torna
personagem da brincadeira em questão e essa absorção do papel que representa, faz
com que a criança se projete no imaginário da brincadeira, criando seu próprio mundo.
Sendo assim, quando brinca, a criança se destaca, pois sai do mundo dos
adultos onde é pequena e submissa e passa para outro mundo onde é soberana,
adquire poderes e esse afastamento pode ser involuntário.
Porém, o afastamento do mundo pode ser voluntario, quando a criança decide
fazer parte da brincadeira, pois nessa atividade ela cria regras, tem poder, pode criar e
isso tudo tem valor para ela, o que não tem no mundo dos adultos.
Portanto, brincadeira é atividade séria para a criança e através dela ela afirma
seu ser, se torna autônoma, explora o mundo, compreende e assimila regras e padrões
e absorve o mundo real paulatinamente. Dessa forma, nenhuma criança brinca
somente para passar o tempo, pois sua escolha é motivada por processos internos,
ansiedades, desejos. O que está acontecendo com a mente da criança determina a
brincadeira e é por isso que o professor e familiares fiquem atentos para oferecer
possibilidades e situações de brincadeiras (KISHIMOTO, 2010).
1.2 A importância dos jogos e brincadeiras na educação

A aprendizagem envolve o desenvolvimento biológico (movimento e percepção)


e também o cultural, uma vez que a criança se apropria dos símbolos culturalmente
produzidos e isso provoca mudanças no funcionamento psíquico. As representações,
os conceitos e uso dos símbolos têm uma Bse orgânica para que possam ser
realizados, mas só ocorrem efetivamente nas relações sociais e culturais. Por isso, os
jogos e brincadeiras são importantes para a construção da aprendizagem da criança
(KISHIMOTO, 2010).
Portanto, o desenvolvimento da criança depende do meio social e cultural no
qual está inserida, seja na família, na comunidade ou nas instituições escolares,
dependendo também do acesso às informações que há em seu contexto e as
interações estabelecidas entre a criança e o ambiente físico, biológico, cultural e social.
Através do jogo, da brincadeira e do pensar que os alunos vão desenvolver suas
estruturas psíquicas e construir seu conhecimento para se relacionar com a realidade
que o cerca, pois além de ser uma forma de lazer, e proporcionar prazer também auxilia
na construção de conhecimentos. Por isso, é preciso considerar o jogo como parte
integrante da atividade educativa (KISHIMOTO, 2010).
Sendo assim, a escola deve levar os alunos a obter experiências e informações
que vão enriquecer suas estratégias e seu repertório que lhes permitam integrar
continuamente os novos conhecimentos aos que já possui, desenvolvendo as formas
de apreender e de intervir no real com o imaginário que o ser humano vai adquirindo ao
longo da vida (WAJSKOP, 2005).
A escola deve oferecer experiências que auxiliam a construção dos conceitos de
espaço e tempo; a interação social; a consciência de si e dos outros; o uso de
diferentes linguagens (gestual, oral, lúdica, visual, corporal, musical, gráfica e literária).
Para ANTUNES (2004, p.31), “brincando a criança desenvolve a imaginação,
fundamenta afetos, explora habilidades e, na medida em que assume múltiplos
aspectos, fecunda competências cognitivas e interativas”.
Além de permitir o exercício das capacidades próprias do processo de
desenvolvimento e da aprendizagem, brincar é uma situação em que a criança forma
significados, sendo uma forma, tanto para a assimilação dos papéis sociais e
compreensão das relações afetivas que ocorrem em seu meio como para a construção
do conhecimento.
Se a natureza espontânea do jogo for respeitada, sua utilização pedagógica
deixa de ser polemica, pois qualquer jogo usado na escola parece ser um recurso
educativo e também elemento essencial para o desenvolvimento infantil.
Kishimoto (2003, p. 23), afirma que alguns jogos aparecem frequentemente, na
Educação. São os tradicionais infantis, os jogos de regras, os de construção, e os de
faz-de-conta, que serão apresentados a seguir:
A).Jogos Tradicionais Infantis- há muito tempo fazem parte da cultura infantil e
guardam a produção espiritual de um povo; incorporam a mentalidade popular e se
expressam pela oralidade, transmitidos de geração para geração através de
conhecimentos empíricos, vindos de fragmentos de romances, poesias, mitos e rituais
religiosos.
B) Jogos de Regras - entre os quatro e sete anos esses jogos começam a se
manifestar e se desenvolvem entre os sete e os doze anos. Nesses jogos as atividades
são mais socializadas e as regras aplicadas são efetivas e as relações de cooperação
entre os jogadores são essenciais.
C) Jogos de Construção - auxiliam na busca do conhecimento físico porque
desenvolvem a criatividade, as habilidades manuais, potencializam a experiência
sensorial, favorecem a sociabilidade e a autonomia.
Kishimoto (2003, p. 25), afirma que nesses jogos a ideia de criança é de um ser
criativo, imaginativo e autosuficiente e a brincadeira é vista como a única forma de
expressão livre, e ainda: “O jogo tradicional tem a função de perpetuar a cultura infantil
e desenvolver formas de convivência social; é um jogo livre, espontâneo e a criança
brinca pelo prazer de fazê-lo, com um fim em si mesmo e preenche plenamente a
necessidade de jogar da criança”.
Freidmann (1996, p. 51) ainda ressalta que o jogo é:
A atividade essencial das crianças e seria interessante que constituísse um dos
enfoques básicos para o desenvolvimento dos programas pré-escolares e de 1º
Grau, enquanto meio para atingir os objetivos de ensino, e que o professor deve
e pode utilizá-lo nas suas atividades cotidianas de ensino através do lúdico.
Neste caso, quando o autor fala em pré-escolar e 1º Grau, devemos lembrar que
hoje se utiliza os termos Educação Infantil e Ensino Fundamental.
Esses jogos podem ser vistos em grupos de crianças e de adolescentes de
bairros, praças e nas escolas.
Vários pesquisadores têm elaborado estudos de caráter pedagógico destinados
a educar crianças de determinada faixa etária. Nesta categoria, destaca-se o
acervo organizado pelo Laboratório de Brinquedos e Materiais pedagógicos da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP (1992), composto
por cerca de mil jogos destinados à formação de professores e profissionais da
educação infantil e das séries iniciais, do Ensino Fundamental). (KISHIMOTO
2010, p. 26)

A autora afirma que a discussão da utilização pedagógica desses jogos são


embasadas pelas teorias de Piaget e Vygotsky, que abordam a importância deles para
o entendimento da utilização pedagógica de tais jogos, pois estas mostram a
importância dos jogos para a compreensão das relações sociais da criança.
No caso do professor de Educação Física, este não pode apenas focar no
aspecto físico e corporal, pois observando um jogo ou brincadeira e as inter-relações
entre as crianças durante sua realização, o professor pode aprender muito sobre seus
interesses, além de perceber o nível em que se encontram, suas possibilidades de
interação, sua habilidade para se conduzir, de acordo com as regras do jogo, assim
como suas experiências do cotidiano e as regras de comportamento reveladas pelo
jogo.
Partindo dessas observações, o professor poderá programar atividades
pedagógicas que desenvolva conceitos matemáticos, de linguagem oral e escrita, de
artes visuais e de conhecimento de mundo que as crianças já estão constituindo, que
sejam adequadas às possibilidades reais de interação e compreensão que os alunos
apresentam em determinado estágio de seu desenvolvimento. A ação do professor
deve ser, antes de tudo, refletida, planejada e, uma vez executada, avaliada e também
é importante que ele se oriente para poder ampliar o repertorio das crianças não
somente nos aspectos conceituais, mas também culturais.
A especificidade dos anos iniciais do Ensino Fundamental é o recorte que é feito
do conhecimento a ser ensinado, de maneira que ele se ajuste às possibilidades reais e
potenciais das crianças. Entretanto, essa etapa da escolaridade não deve ser diferente
dos outros níveis de ensino na forma de encarar o conhecimento, uma vez que a
aprendizagem geralmente ocorre, quando se problematiza o conhecimento para o
aluno.
Neste caso, problematizar significa colocar, para a criança, uma questão básica
que dê origem a um processo de aprendizagem. Com relação ao jogo, significa
apresentá-lo de forma que constitua uma questão real para o aluno, um problema a ser
solucionado, seja este de natureza linguística, científica ou estética. A forma de
apresentar o jogo será uma opção do professor, pois há inúmeras maneiras de fazer a
problematização dos conteúdos.
Já o processo de aprendizagem implica na realização de atividades que levem à
construção dos conceitos, que formam o referido conteúdo, mediante as informações
que o jogo contém, ou seja, todo conteúdo possui uma série de informações, fatos e
dados articulados entre si segundo uma ordem interna, que deverá ser compreendida
pelo aluno. Através do domínio desses elementos que compõem o conteúdo, a criança
desenvolve o pensamento e assim forma noções de tempo, espaço, direção, entre
outras.
Portanto, o pensamento vem das atividades desenvolvidas e essas atividades
são: observação, experimentação, reflexão e apresentação do conhecimento adquirido.
É a partir dessa perspectiva mais abrangente do processo de constituição do sujeito,
como ser social e afetivo, que se deve pensar o papel do jogo e da brincadeira nos
anos iniciais do ensino Fundamental.
Por isso, é certo afirmar que a escola não é um local como outro qualquer, é uma
instituição que tem como objetivo oferecer condições ao aluno para que possa adquirir
o conhecimento formal e desenvolver os processos do pensamento, pois é nela que a
criança aprende a forma de relacionar-se com o próprio conhecimento.
Brincar e/ou jogar, na escola, não é a mesma coisa que brincar em outras
ocasiões, porque na escola há algumas normas que regulam as ações das pessoas e
as interações entre elas e, naturalmente, estas normas estão presentes, também, nas
atividades diárias da criança e é por isso que as brincadeiras e os jogos têm uma
especificidade quando ocorrem na escola, pois, são mediados pelas normas
institucionais (KISHMOTO, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando os autores que abordam o papel dos jogos e brincadeiras na


educação se pode concluir que a educação tem a preocupação de fornecer às crianças
um desenvolvimento integral e dinâmico. Dentro desse contexto, os jogos e
brincadeiras ocupam um lugar de destaque na aprendizagem de crianças.
Sem dúvida nenhuma, brincar é um importante recurso pedagógico que estimula
e desenvolve as funções mentais superiores, as funções psicomotoras e participa no
processo de construção do conhecimento. Pelo brincar, a criança se desenvolve e
aprende; adquire experiências e conhecimentos; pensa e raciocina; descobre e
apreende o mundo e a si própria; constrói-se física, social, cultural e psicologicamente.
Com relação à pesquisa realizada se percebeu que a concepção de jogo
associada à atividade física ainda está muito presente e há também as imposições do
sistema que impedem inovações. Além disso, é mais cômodo aceitar que deve ser
assim do que correr o risco de inovar, pois inovações exigem embasamento e reflexão,
coisas que os professores, pela falta de tempo que dispõem, não estão dispostos a
aplicar.
Por causa disso, a ação do professor deve ser antes de tudo, refletida,
planejada e nesse planejamento é preciso que sejam explicitados os conceitos a serem
desenvolvidos, os conteúdos a serem trabalhados e as expectativas de realização das
crianças. Então, cabe ao professor, tendo em vista a compreensão e o conhecimento
da evolução das crianças, pensar que tipo de atividade propor, pois ele sabe o que o
que as crianças podem desenvolver com a atividade proposta.
Diante do exposto, neste trabalho, fica evidente que as atividades lúdicas
permitem que sejam alcançados os objetivos educacionais que norteiam o trabalho
pedagógico, desde que sejam aplicadas de forma correta, pois senão, corre-se o risco
de utilizar os jogos somente como forma de completar a aula.
REFERÊNCIAS

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