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DISFUNÇÃO TIREOIDIANA NA

GESTAÇÃO
Marcus Miranda – Unidade de
Doenças Endócrinas e Metabólicas da
Maternidade Escola (UFRJ)

Maio 2021
Adaptações fisiológicas durante a gestação

• Aumento da produção hormonal

• Aumento nas necessidades de iodo

• Aumento da TBG

• Efeito do HCG estimulando receptor de TSH >


redução do TSH na 1ª metade da gestação
(semanas 9-13).
HCG e TSH

β β
TSH hCG
α α

TSH R
Williams Textbook of Endocrinology
Interpretação dos exames laboratoriais

• T4 livre- 5-10% mais elevados que os valores fora da


gestação (10ª semana) com redução gradual chegando a
valores 10-30% mais baixos no final do 3º tri.

• T4 total- Aumento de 5% por semana (semanas 7-16).


Após esse incremento de 50%, permanece estável até o
final da gestação. VALOR DE REFERÊNCIA – 1,5X OS
VALORES DAS NÃO GESTANTES.

• TSH – Redução no primeiro trimestre


Soldin OP e cols.Thyroid.14:1084-90,2004
Adaptações fisiológicas durante a gestação
O que ultrapassa a barreira
placentária?
Hipotireoidismo na gestação
Prevalência:
Hipotireoidismo clínico – 0,3 a 0,5%
Hipotireoidismo subclínico – 2 a 3%
Autoanticorpos – 5 a 15%
Etiologia:
No Brasil, a principal é a doença auto imune da
tireóide.
Repercussões materno-fetais do
Hipotireoidismo

FEBRASGO, 2022
Repercussões materno-fetais do
Hipotireoidismo subclínico
Rastreio universal x Fatores de risco
FEBRASGO POSITION STATEMENT 2022
Avaliação laboratorial na investigação
do Hipotireoidismo na gestação
Hipotireoidismo diagnosticado na Gestação
(Tratamento)

OBJETIVO DO TRATAMENTO: TSH < 2,5 mU/l


Como conduzir o Hipotireoidismo prévio à Gestação
Hipotireoidismo no Puerpério
Autoimunidade na gestante
eutireoidiana

• 31 estudos com 12.126 gestantes


• ↑ risco de abortamento (OR 3,9 IC 95% 2,48-6,12
p<0,001)
• ↑ risco de prematuridade (OR 2,07 IC 95% 1,17-3,68
p<0,01)
Autoimunidade na gestante
eutireoidiana

• Pesquisa de Anti TPO em 19.585 mulheres com história de


abortamento e/ou que estivessem tentando engravidar nos
últimos 12 meses – 952 randomizadas
• Objetivo primário: Nascidos vivos após 34ª sem.
• Placebo x LT4 50 mcg dose fixa
• Sem diferença entre os grupos
Causas de hipertireoidismo na
gestação
Doença de Graves - DG (95%)
- causa mais comum
Tireotoxicose transitória gestacional - TTG (5%)
- principal diagnóstico diferencial de DG
- limitada a 1ª metade da gestação pelos altos níveis
de HCG >> estimula a tireóide >> pode estar
associado a hiperêmese gravídica
- condições que aumentam o risco de TTG: gestação
gemelar, mola hidatiforme, coriocarcinoma
Outras causas: adenoma tóxico, tireoidite subaguda,
BMN
Causas de hipertireoidismo na gestação
Clínica do hipertireoidismo na gestação

● Palpitações e/ou taquicardia


● Irritabilidade, agressividade e/ou inquietação
● Tremores finos
● Sudorese, pele quente
● Perda de peso ou ganho de peso inferior ao
esperado.
● Bócio, oftalmopatia e mixedema pré-tibial >>
sugestivos de DG
Diagnóstico laboratorial
TSH
- 1° trimestre: LIN = 0,1 mUI/L
- 2° e 3° trimestre: LIN = 0,4 (igual ao valor fora da gestação)
T4 total - aumenta gradativamente até a 16ª semana e então, até o
parto, considera-se 1,5x o valor de referência fornecidos pelos
laboratórios para pessoas não gestantes
T4L - acima do LSN do valor de referência do laboratório usado
TRAb - importante para definir diagnóstico de doença de Graves,
porém quando negativo → T3 > T4 sugere DG
Graves na gestação - Complicações

Obstétricas Fetais / RN
• Hipertensão • Hipertireoidismo fetal e
neonatal (passagem do
• Abortamento TRAB)
• Crise tireotóxica • Hipotireoidismo fetal e
• ICC neonatal (Uso de DAT)
• Hipotireoidismo central
• Prematuridade
(hiper materno mal
• Baixo peso controlado)
• RCIU
ATA, 2017
Hipertireoidismo fetal
• 1% dos neonatos nascidos de mulheres com D de
Graves (Polak M, 1998)
• Passagem placentária do TRAB – valores > 3x LSN
• RCIU, taquicardia fetal, bócio, idade óssea avançada,
parto prematuro e morte fetal
TAPAZOL X PROPIL
TAPAZOL PROPIL

✓ Má formações – 2-4% ✓ Má formações – 2-3%


✓ Mais graves e bem ✓ Menos graves (cistos
documentadas (atresia cervicais,
de coana e de esôfago, anormalidades do trato
onfalocele, aplasia urinário masculino)
cutis) ✓ Risco de hepatopatia
aguda em 1:10.000
Tratamento - recomendações
• Até 16 semanas: usar preferencialmente PTU

• A partir de 16 semanas, trocar para TPZ.


• A equivalência de doses entre MMZ e PTU é de 1:20
(5 mg de MMZ equivale a 100 mg de PTU).
• Beta bloqueadores: Evitar uso prolongado (pelo risco
de CIUR).
Preferencialmente – Propranolol 10-20 mg a cada 8h
Metoprolol 100 mg/dia
Tratamento
• Monitorar função tireoidiana a cada 2-4 semanas

• Objetivo: Manter T4 total no LSN na gestação ou


discretamente acima e TSH abaixo do valor de
referência

• Usar a menor dose possível de DAT (para não causar


hipotireoidismo fetal)
Tratamento

• Tireoidectomia total – indicações:


1. Reação grave a DAT
2. Uso de doses altas de DAT
3. Paciente não aderente e com hipertireoidismo não
controlado

Idealmente no 2º trimestre.
No pós parto...
• PTU e TPZ são excretados em pequena quantidade
no leite materno

• Uso de doses menores e após a mamada

• Não contra-indica a amamentação!


OBRIGADO!
marmiranda.oliveira@gmail.com

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