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DEFENSORIA PÚBLICA

DISTRITO FEDERAL
Núcleo de Assistência Jurídica de Defesa da Saúde

INSTRUÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DE PETIÇÕES INICIAIS:

(EXCLUIR QUADRO ANTES DE IMPRIMIR)

✅ FAVOR NÃO ALTERAR ESTE ARQUIVO - IMEDIATAMENTE APÓS ABRIR ESTE


ARQUIVO, SALVE UM NOVO ARQUIVO EM SUA PASTA, COM O SEGUINTE PADRÃO:
"PETIÇÃO INICIAL - NOME DA PESSOA - NOME DA PROVIDÊNCIA PLEITEADA".

✅ ANTES DE ELABORAR A PETIÇÃO, CONSULTE O PJE E VERIFIQUE SE JÁ EXISTE


PROCESSO ATIVO EM NOME DA PARTE AUTORA BUSCANDO A MESMA
PROVIDÊNCIA (https://pje-consultapublica.tjdft.jus.br/consultapublica/ConsultaPublica/
listView.seam ).

✅ 1 - DOCUMENTOS NECESSÁRIOS:

O ajuizamento de ações judiciais para fornecimento de consultas, cirurgias,


medicamentos e aparelhos necessita da apresentação dos seguintes documentos:

🔵 Documento de Identidade e CPF do(a) paciente e do(a) representante;

🟢 Declaração de Hipossuficiência + Formulário Socioeconômico totalmente


preenchidos, de forma legível, e assinados. Acesse:
http://www.defensoria.df.gov.br/formularios/

🟡 Comprovante de Renda (exemplo: carteira de trabalho, declaração de


rendimentos, extratos de aposentadoria ou benefícios; se a pessoa interessada
não tiver, deverá providenciar cópia do extrato bancário dos últimos 3 meses).
Caso a soma da renda familiar seja superior a 05 salários-mínimos (R$6.600,00),
será necessário apresentar a última declaração de imposto de renda e
comprovantes de despesas com moradia (aluguel/financiamento), saúde
(remédios/tratamentos), educação (mensalidades escolares) ou outras despesas
essenciais que comprovem a impossibilidade de pagamento das despesas
processuais;

🟠 Comprovante de Residência;

🔴 Relatório Médico legível, que aponte a urgência e as consequências da demora,


que tenha sido expedido há menos de dois meses;
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SAÚDE

🟤 Indicação do valor da providência, caso ela esteja prevista na Tabela SIGTAP do


SUS: http://sigtap.datasus.gov.br/tabelaunificada/app/sec/inicio.jsp

✅ 2 - DOCUMENTOS ADICIONAIS PARA SITUAÇÕES ESPECIAIS:

📌 CONSULTAS, EXAMES E PROCEDIMENTOS REGULADOS: A ação deverá estar


acompanhada de “print” em PDF da certidão que mostra a inserção do paciente
no sistema da regulação (SISREG). Acesse: https://sisregiii.saude.gov.br/

✅ 3 – COMO PROCEDER SE NÃO HOUVER URGÊNCIA PARA A OBTENÇÃO DA


CONSULTA, DO EXAME, DA CIRURGIA OU DO TRATAMENTO?

Caso não se trate de providência de natureza oncológica nem haja indicação de


urgência para a obtenção de ações e serviços de saúde e a espera do paciente
seja inferior a 100 (cem) dias para consultas e exames, e inferior a 180 (cento e
oitenta) dias para cirurgias e tratamentos, CONSULTE o(a) defensor(a) público(a)
antes de qualquer providência, pois pode não ser recomendável ajuizar a ação ou
ser adequado ajuizá-la sem pedido de tutela de urgência.

PRAZOS DE REFERÊNCIA – TEMPO DE ESPERA – PROCEDIMENTOS NÃO-


URGENTES:

- CONSULTAS E EXAMES: 100 DIAS

- CIRURGIAS E TRATAMENTOS: 180 DIAS

✅ 4 - COMPETÊNCIA JURISDICIONAL:

A petição inicial deverá ser ajuizada à Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal
quando a parte autora for incapaz (menor de idade ou interditada) ou quando o
valor da causa ultrapassar 60 (sessenta) salários-mínimos (R$ 79.200,00). Fora
desses casos, a petição inicial deverá ser endereçada a um dos Juizados de
Fazenda Pública do Distrito Federal.

No Juizado de Fazenda Pública do Distrito Federal não é admitida a representação


de pessoas capazes. A própria pessoa autora da demanda deverá assinar a
declaração de hipossuficiência e o formulário de avaliação socioeconômica,
exceto em casos de UTI.

✅ 5 - VALOR DA CAUSA:

O valor da causa deverá corresponder ao custo estimado da providência que o(a)


paciente pretende. Nos casos de consultas, exames, cirurgias e tratamentos:

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consulte o valor do tratamento na Tabela SUS ((http://sigtap.datasus.gov.br/tabela-


unificada/app/sec/inicio.jsp).

✅ 6- PEDIDO DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS


SUCUMBENCIAIS:
Esse pedido deverá ser excluído caso o processo seja proposto perante um dos
Juizados Especiais da Fazenda Pública do DF.

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DESTINATÁRIO: JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO


FEDERAL

OU

JUÍZO DA 5ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA E DA SAÚDE PÚBLICA


DO DISTRITO FEDERAL

Obs: A Competência será da Vara da Fazenda Pública nos seguintes


casos: (i) incapacidade da parte autora; (ii) tratamentos não
padronizados; (iii) valor da causa superior a 60 salários-mínimos
(R$79.200,00).

SUMÁRIO DA AÇÃO:
AÇÃO DE CONHECIMENTO – OBRIGAÇÃO DE FAZER
COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

PRETENSÃO: - Fornecimento de _

CLASSIFICAÇÃO - emergência ou urgência ou não urgente


DE RISCO:

TEMPO DE - desde _
ESPERA:

JUSTIFICATIVA: - urgência/emergência: - risco de vida - risco de perda


permanente de funções vitais - risco de intensificação do
sofrimento físico - risco de intensificação do sofrimento psíquico -
risco de comprometimento da eficácia do tratamento.
ou
- demora no fornecimento de providência eletiva: enunciado
n. 93 das jornadas de direito da saúde do conselho nacional de
justiça: “nas demandas de usuários do sistema único de saúde –
sus por acesso a ações e serviços de saúde eletivos previstos nas
políticas públicas, considera-se excessiva a espera do paciente por
tempo superior a 100 (cem) dias para consultas e exames, e de
180 (cento e oitenta) dias para cirurgias e tratamentos”.
ou
- procedimento de natureza oncológica: lei federal nº
12.732/12: prazo de 60 (sessenta) dias para a realização do
primeiro tratamento no sus e prazo de 30 (trinta) dias, para a
realização de exames para a elucidação do diagnóstico.

PRIORIDADE - pessoa idosa (maior de 80 anos) (art. 1.048, inc. I, do CPC)


LEGAL:
- pessoa idosa (maior de 60 anos) (art. 1.048, inc. I, do CPC)
- pessoa com doença grave (art. 1.048, inc. I, do CPC)
- pessoa com câncer (art. 4º, §2º, inc. IV, da Lei nº

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14.238/2021)

PROCESSO/SEI -_
DE REFERÊNCIA:

QUALIFICAÇÃO DA PARTE REQUERENTE:

NOME, data de nascimento: _ (_ anos de idade); nacionalidade: _; estado civil:_;


profissão: _; filiação: filho(a) de _ e de _; titular do CPF nº _, e do Documento de Identidade
n. _ SSP-DF; domicílio residencial: _; CEP: _; telefone(s): (61) 9.xxxx-xxxx e (61) 9.xxxx-
xxxx; e-mail: _.

QUALIFICAÇÃO DA PARTE REQUERIDA:

DISTRITO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno, inscrito no CNPJ


sob o n. 00.394.601.0001/26, que deverá ser intimado e citado na pessoa do(a)
Procurador(a)-Geral do Distrito Federal, com domicílio no SAM, Projeção I, Edifício Sede da
Procuradoria-Geral do Distrito Federal, CEP 70620-000, telefone (61) 3325-3367, e-mail:
procuradoria@pg.df.gov.br.

DIREITO DE ACESSO GRATUITO À JUSTIÇA:

A parte autora não possui condições de arcar com os custos financeiros do processo
e os honorários advocatícios, em caso de eventual sucumbência, conforme declaração de
hipossuficiência anexa. Diante disso, registra-se essa informação para que haja a oportuna
concessão dos benefícios da gratuidade judiciária, nos moldes preconizados pelo art. 98 do
CPC.

FUNDAMENTOS FÁTICOS: (A) DESCRIÇÃO DO QUADRO DE SAÚDE DA PARTE


AUTORA E DAS PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS AO RESTABELECIMENTO DE SUA
SAÚDE.

A presente ação judicial pretende a obtenção de providência prevista na Relação


Nacional de Ações e Serviços de Saúde (RENASES), comumente ofertada pelo SUS e,
portanto, prevista nas políticas públicas nacionais de saúde, mas que não está sendo
oferecida com a celeridade exigida pelo quadro clínico da parte autora. Dessa forma, o
provimento judicial pretendido implica apenas em determinar que a Administração Pública
observe a disciplina de política pública que já existe.

As informações descritas em relatório médico anexo, subscrito pelo(a) médico(a)


que assiste a parte requerente, possuem o detalhamento do quadro clínico da parte
requerente e descrevem as seguintes informações relevantes:

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I - Diagnóstico clínico da parte requerente:

A parte requerente possui _ anos de idade e foi diagnosticada com [descrever a


doença e as comorbidades, se houver; descrever, ainda, as condições clínicas
atuais].

II – Providência prescrita para a recuperação da saúde da parte requerente:

O(a) médico(a) assistente, dr(a). Nome (CRM/DF XXX), indicou a realização de


[descrever a providência pretendida nesta ação].

III - Classificação de risco:

De acordo com as informações anexas, a providência vindicada deve ser realizada


com emergência/urgência/eletividade, tendo em vista a classificação de risco realizada
pelos profissionais da SES/DF que atuam no Sistema de Regulação:
vermelha/amarela/verde/azul.

IV – Tempo de espera pela providência:

O pedido da parte autora consta em lista de espera do Sistema de Regulação da


SES/DF desde _. Portanto, há espera, no momento, é de _ dias. [Acesse:
https://www.contadordedias.com.br/contador-de-dias/ ].

V – Riscos decorrentes da demora no oferecimento da providência:

De acordo com as informações anexas, a demora na realização da providência


vindicada acarreta os seguintes riscos:

🟥 risco de vida,

🟥 risco de perda permanente de funções vitais,

🟥 risco de comprometimento da capacidade laboral,

🟥 risco de intensificação do sofrimento físico,

🟥 risco de intensificação do sofrimento psíquico,

🟥 risco de comprometimento da eficácia do tratamento.

FUNDAMENTOS FÁTICOS: (B) DESCRIÇÃO DAS TENTATIVAS DE RESOLUÇÃO

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EXTRAJUDICIAL DO CONFLITO, DA RESPOSTA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DO


INTERESSE DE AGIR.

Antes do ajuizamento desta ação, houve a requisição extrajudicial da prestação do


serviço demandado para a resolução do problema de saúde apresentado pela parte
requerente, mas a Administração Pública não apresentou informações claras, precisas e
conclusivas sobre a previsibilidade concreta de atendimento da pretensão, podendo a omissão
perdurar por tempo indeterminado (cf. docs. anexos).

Destaca-se, da resposta apresentada, a seguinte justificativa para o não-


atendimento da pretensão:

“[descrever os trechos relevantes da resposta ao ofício ]”.

Portanto, restou infrutífera a tentativa de resolução extrajudicial da controvérsia.

A parte autora segue sem ter a sua demanda atendida, convivendo com os
desconfortos gerados por sua enfermidade e com o risco provável de agravamento de seu
quadro de saúde.

A parte autora e seus familiares não possuem condições de prover, com seus
recursos econômico-financeiros, o tratamento de saúde prescrito. Eles dependem da Rede
Pública de Saúde para o custeio e a obtenção dos cuidados necessários para o
restabelecimento da saúde da parte demandante.

Em razão da ausência de previsão de atendimento de sua demanda em tempo


razoável, a judicialização da controvérsia se tornou necessária.

FUNDAMENTOS JURÍDICOS: (A) JUSTICIABILIDADE DO DIREITO DE ACESSO À


SAÚDE.

O direito ao recebimento de serviços públicos de saúde, a serem prestados de


modo universal, integral e igualitário - com eficiência, qualidade, acessibilidade,
disponibilidade e aceitabilidade -, possui respaldo nas seguintes normas:

🟩 arts. 5º, caput, e 196, da Constituição Brasileira;

🟩 art. 25, item I, da Declaração Universal dos Direitos Humanos;

🟩 art. 26, da Convenção Americana de Direitos Humanos;

🟩 art. 12, do Pacto Internacional de Proteção dos Direitos Econômicos Sociais e


Culturas;

🟩 arts. 204 e 205, da Lei Orgânica do Distrito Federal;

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🟩 art. 7º, da Lei Federal n. 8.080/1990, que dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento
dos serviços correspondentes;

🟩 julgados da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) [entre


outros, caso Poblete Vilches vs. Chile; cf. sentença disponível em:
https://biblioteca.corteidh.or.cr/documento/53887];

O Supremo Tribunal Federal, em diversos precedentes (cf. ADPF 45, STA 175, RE
367.432-AgR, RE 543.397, RE 556.556 e RE 574.353), fixou o entendimento de que o acesso
universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde
possui as seguintes características:

🟩 constitui norma de aplicabilidade direta e eficácia plena revestida de caráter


cogente e vinculante;

🟩 consubstancia norma que obriga o Poder Público a garantir o direito à saúde


mediante políticas sociais e econômicas, bem como a exercer ações e serviços de
forma a proteger, promover e recuperar a saúde de quem necessita;

🟩 não está sujeito a avaliações meramente discricionárias da Administração Pública


nem se subordina a razões de pragmatismo governamental;

🟩 permite que eventual inércia administrativa inaugure a possibilidade de proteção


desse direito na via judicial, inclusive por meio de ações individuais;

🟩 autoriza que a incumbência de fazer implementar políticas públicas fundadas na


Constituição deva, excepcionalmente, ser exercida pelo Poder Judiciário, se e
quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-
jurídicos que sobre eles incidem em caráter vinculante, vierem a comprometer a
eficácia e a integridade e direitos individuais e/ou coletivos impregnados de
estatura constitucional;

🟩 garante que a sua implementação não seja obstaculizada pela ineficiência


administrativa, pelo descaso governamental com direitos básicos do cidadão, pela
incapacidade de gerir os recursos públicos, pela incompetência na adequada
implementação da programação orçamentária em tema de saúde pública, pela falta
de visão política na justa percepção, pelo administrador, do enorme significado
social de que se reveste a saúde, ou pela inoperância funcional dos gestores
públicos;

🟩 afasta a invocação da cláusula da “reserva do possível” pelo Estado, com a


finalidade de exonerar-se, dolosamente, do cumprimento de suas obrigações
constitucionais, ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível;

🟩 permite a responsabilidade solidária dos entes federativos (União, Estados,


Distrito Federal e Municípios), podendo figurar no polo passivo qualquer um deles

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em conjunto ou isoladamente. O chamamento ao processo da UNIÃO nas
demandas propostas contra os demais entes federativos responsáveis para o
fornecimento de medicamentos ou prestação de serviços de saúde não é
impositivo, mostrando-se inadequado opor obstáculo inútil à garantia fundamental
do cidadão à saúde.

Ressalte-se, ainda, que a pretensão da parte requerente está incluída na relação


nacional de ações e serviços de saúde (Renases), compondo, portanto, o conjunto de políticas
públicas assistenciais e terapêuticas que o Poder Público se comprometeu a fornecer de modo
universal e igualitário, para promover a preservação da autonomia e da integridade física e
moral das pessoas (art. 2º, §1º; art. 6º, I, “d”; art. 7º, art. 19-M, incs. I e II, da Lei Federal
nº 8.080/1990).

FUNDAMENTOS JURÍDICOS: (B) DIREITO À PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS


EFICIENTES.

A existência de fila de espera pelo serviço postulado também não pode ser
argumento suficiente para se ignorar o dever constitucional e supralegal de concretização do
direito à saúde dentro de um prazo razoável e compatível com a gravidade da enfermidade,
com as condições clínicas do paciente e com os riscos ocasionados pela espera.

Os serviços públicos devem ser fornecidos com equidade - de modo a priorizar as


pessoas mais necessitadas - mas também devem ser providos com eficiência.

O atendimento eficiente nos serviços públicos é direito do cidadão brasileiro,


disposto no art. 37, caput, da Constituição Brasileira; e no art. 22, do Código de
Defesa do Consumidor.

A Carta dos Direitos e Deveres da Pessoa Usuária da Saúde, instituída pela


Resolução nº 553/2017, aprovada pelo Plenário do Conselho Nacional de Saúde, no uso
de suas atribuições conferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e homologada
pelo Ministério da Saúde, também acolhe o princípio da eficiência na prestação dos
serviços de saúde, ao dispor as seguintes normas:

“🟩 Primeira diretriz: toda pessoa tem direito, em tempo hábil, ao acesso a bens e serviços
ordenados e organizados para garantia da promoção, prevenção, proteção, tratamento e
recuperação da saúde.

[...]

🟩 Segunda diretriz: toda pessoa tem direito ao atendimento integral, aos procedimentos
adequados e em tempo hábil a resolver o seu problema de saúde, de forma ética e
humanizada.

Parágrafo único. É direito da pessoa ter atendimento adequado, inclusivo e acessível, com
qualidade, no tempo certo e com garantia de continuidade do tratamento, e para isso deve ser
assegurado:

I - atendimento ágil, com estratégias para evitar o agravamento, com tecnologia apropriada,
por equipe multiprofissional capacitada e com condições adequadas de atendimento;

[...]

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🟩 Terceira diretriz: toda pessoa tem direito ao atendimento inclusivo, humanizado e acolhedor,
realizado por profissionais qualificados, em ambiente limpo, confortável e acessível.

[...]

§3º Os serviços de saúde serão organizados segundo a demanda da população, e não


limitados por produção ou quantidades de atendimento pré-determinados.

[...]

§5º Haverá regulamentação do tempo de espera em filas de procedimentos”.

Como visto, de acordo com a Carta dos Direitos e Deveres da Pessoa Usuária
da Saúde, as políticas públicas essenciais devem acompanhar o crescimento da demanda
pelo serviço e superar as dificuldades administrativas existentes.

A mera inserção do nome do paciente em uma lista de espera pela prestação


dos serviços necessários para resguardar a sua integridade física e psíquica, muitas vezes
aguardando por dias ou meses, é, muitas vezes, insuficiente para proteger os direitos
fundamentais à vida e à saúde, garantidos por normas constitucionais, supralegais e
legais, conforme exposto anteriormente nesta petição.

A existência de lista de espera para procedimento de natureza eletiva, não urgente,


é legítima e garante respeito ao princípio da isonomia, quando a prioridade de acesso é
ordenada de acordo com os critérios clínicos de cada paciente, a classificação de risco e o
tempo de espera.

Respeitar a fila de espera gerenciada pelo Sistema de Regulação de Saúde é


importante porque é uma forma de garantir a justiça e a igualdade de oportunidades para
todos, independentemente da posição social de recursos financeiros. Além disso, preservar a
ordem na fila ajuda a evitar conflitos e é uma questão de boa educação e respeito aos
demais.

Todavia, quando resta demonstrado que a fila de espera para a realização do


serviço extrapola o prazo razoável, bem como que a demora no atendimento do paciente
que necessita do procedimento pode ocasionar-lhe risco de prejuízo grave, impõe-se,
excepcionalmente, a intervenção do Poder Judiciário, com a fixação de prazo para o
atendimento da demanda em tempo razoável, com o intuito de garantir a efetivação do
direito constitucional à saúde. Essa intervenção é legítima, sobretudo quando o Poder Público
não fornece estatísticas sobre a movimentação da fila de espera e permanece, ano após ano,
disponibilizando recursos muito mais expressivos para rubricas orçamentárias de menor
relevância e urgência.

Nesse cenário, a intervenção jurisdicional não caracteriza violação aos princípios da


isonomia e da impessoalidade, uma vez que não inibe a atuação do ente distrital em buscar
solucionar, pelas vias administrativas, os problemas relacionados à espera imposta a outros
usuários do Sistema Único de Saúde.

De fato, de muito pouco adiantaria, para pacientes em situação crítica de


saúde, um provimento jurisdicional que tão-somente determine que a Administração Pública
garanta a vida e a saúde dos pacientes, quando puder, de acordo com uma fila de
espera, pretensamente organizada por critérios clínicos de prioridade. Na prática, um
provimento jurisdicional dessa natureza não garante aos pacientes a prestação de serviços
de saúde com a qualidade e a eficiência determinados pela Constituição Brasileira e pelas
leis. Por consequência, um provimento dessa natureza implicaria descumprimento ao art.

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4º, do CPC, segundo o qual “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”.

Nesse cenário, a intervenção jurisdicional para fixar prazos para a realização de


ações e serviços de saúde devidos pelo Poder Público não caracteriza violação aos
princípios da isonomia e da impessoalidade, uma vez que não inibe a atuação do ente
distrital em buscar solucionar, pelas vias administrativas, os problemas relacionados à espera
imposta a outros usuários do Sistema Único de Saúde.

É imperativo perceber que a satisfação do direito da parte recorrente à providência


por ela pretendida neste processo não implica necessariamente prejuízo a pacientes que
aguardam com quadro clínico mais urgente ou há mais tempo na fila de espera.

O serviço prestado a um usuário, por força de uma ordem judicial, não é


necessariamente um serviço que deixou de ser prestado a outro usuário. Isso porque a
Administração Pública pode dispor de diversas alternativas para cumprir a determinação
judicial sem prejudicar outros pacientes, tais como:

📌 recursos adicionais: A Administração Pública pode dispor de recursos


adicionais, como contratar mais profissionais de saúde, ampliar a capacidade de
atendimento, inclusive em contraturnos e mediante mutirões de atendimento, para
cumprir a determinação judicial sem prejudicar outros pacientes.

📌 ampliação da equipe: A Administração Pública pode contratar mais profissionais


de saúde para atender a demanda dos pacientes e reduzir a sobrecarga dos
profissionais atuais.

📌 investimento em infraestrutura: A Administração Pública pode investir em


instalações médicas, equipamentos e tecnologia pode aumentar a capacidade de
atendimento, melhorar a qualidade dos serviços prestados e tornar o sistema de
saúde mais eficiente.

📌 integração de tecnologia: A Administração Pública pode utilizar tecnologia de


telemedicina ou consultas remotas para aumentar a quantidade de atendimentos a
pacientes e diminuir o absenteísmo a consultas previamente agendadas.

📌 melhora na gestão dos processos: A Administração Pública pode aperfeiçoar a


gestão de processos para que os pacientes sejam atendidos de forma mais
eficiente, com o uso de ferramentas digitais para acompanhamento de
agendamentos e encaminhamentos, de modo a garantir melhor aproveitamento de
consultas e procedimentos.

📌 parcerias com outras instituições públicas e privadas: A Administração


Pública pode estabelecer parcerias com outras clínicas, hospitais e prestadores de
serviços de saúde para compartilhar recursos e atender a demanda de pacientes
com mais agilidade.

📌 ampliação quantitativa de serviços contratados: A Administração Pública


pode ampliar a quantidade de serviços já contratados, mediante aditamentos nos
contratos já existentes (cf. arts. 124 e 125 da Lei de Licitações e Contratos

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Administrativos – Lei Federal n. 14.133/2021), sem postergar o tempo de espera
de outros pacientes.

📌 contratação de outros agentes econômicos: A Administração Pública pode


realizar novos contratos, com outros agentes econômicos, para prestar os serviços
demandados, sem postergar o tempo de espera de outros pacientes.

📌 requisição administrativa de serviços particulares: A Administração Pública


pode realizar a requisição administrativa de bens e serviços particulares, em casos
de iminente perigo público, assegurada ao proprietário a indenização posterior, se
houver dano (cf. art. 5º, inciso XXV, da Constituição Federal; e art. 3°, inc. VII, da
Lei Federal n. 13.979/2020).

📌 disponibilização de recursos públicos para aquisição direta de bens e


serviços pelos pacientes: A Administração Pública pode custear, a preços
razoáveis, os serviços a serem obtidos diretamente pelos pacientes, mediante
apresentação de múltiplos orçamentos, inclusive mediante sequestro de verbas
públicas, com utilização de recursos orçamentários da reserva de contingência ou
da fonte geral do Tesouro, sem consumir recursos orçamentários previamente
afetados à Saúde Pública, e, portanto, sem prejudicar outros pacientes.

Ademais, se faltam recursos para a saúde pública, a eventual insuficiência


orçamentária pode ser suprida pelos próprios Poderes Legislativo e Executivo,
mediante contingenciamento, remanejamento de verbas orçamentárias que haviam sido
destinadas gastos de menor relevância social, ou mesmo a compensação de gastos
particulares com créditos fiscais ou financeiros do Estado com o prestador privado.

As leis financeiras e orçamentárias não são ferramentas inalteráveis.


Frequentemente, por lei e por decreto, ocorrem remanejamentos nas programações
orçamentárias. Com notável constância, ocorrem anulações e cancelamentos de dotações
orçamentárias e gerações de créditos suplementares voltados para o atendimento de
necessidades mais relevantes ou urgentes para a sociedade. Nesse contexto, admitir a falta
de recursos geradora da longa fila de espera pelo recebimento do serviço como motivo para
negar o direito dos pacientes necessitados é ser condescendente com a omissão
administrativa em cumprir suas obrigações constitucionais e legais e em implementar as
medidas ao seu alcance para que direitos mais elementares sejam observados pelo Poder
Público.

O Estado não pode, legitimamente, invocar o seu próprio descaso com o


direito à saúde, que origina o déficit na prestação do serviço e as longas listas de
espera, para forjar a ofensa ao princípio da isonomia.

Tal argumentação se baseia em uma lógica insidiosa, segundo a qual, por existirem
outras pessoas que não têm o seu direito respeitado, nenhuma outra pode obter em juízo o
reconhecimento do seu próprio direito subjetivo.

O acolhimento dessa argumentação penalizaria os pacientes pela ineficiência


administrativa, pelo descaso governamental com direitos básicos do cidadão, pela
incapacidade de gerir os recursos públicos, pela incompetência na adequada implementação
da programação orçamentária em tema de saúde pública e pela inoperância funcional na
concretização das imposições constitucionais estabelecidas em favor das pessoas carentes.

Ao se analisar o tema, não se pode deixar de considerar o progressivo


desfinanciamento público dos gastos com saúde que está em curso no país. De acordo

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SAÚDE
com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), “embora o
Brasil gaste muito com saúde (9,6% do PIB em 2019 – mais do que a média da OCDE de
8,8%), 60% desse gasto é privado, por meio de plano de saúde privado voluntário ou
pagamentos diretos pelas famílias, deixando o Sistema Único de Saúde subfinanciado. Em
2019, 25% das despesas com saúde foram financiados por desembolsos diretos das famílias
(acima da média da OCDE de 20%), enquanto apenas 9% de todos os gastos no varejo
farmacêutico foram financiados por dispositivos públicos no Brasil”. Na maioria dos países da
OCDE, os gastos com a saúde pública representam uma parcela significativamente maior do
seu PIB que no Brasil (Estudos da OCDE sobre os Sistemas de Saúde: Brasil 2021,
OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/f2b7ee85-pt , pp. 68-69).

Como explicam Mauro Serapioni e Charles Dalcanale Tesser, os gastos com


desembolsos diretos para aquisição de produtos e serviços de saúde e com planos de saúde
são amplamente subsidiados pelo Poder Público, por meio de deduções no imposto de
renda. Essas deduções constituem gastos públicos indiretos, via renúncia de receitas
governamentais, e estão focalizados em grupos restritos de contribuintes. As deduções de
gastos com despesas de saúde do IRPF são o maior bloco dos gastos públicos em saúde,
quase metade do total (46,8%). Destas deduções, 70% são relativas a planos de saúde, e o
restante é referente ao desembolso direto dos contribuintes. É importante destacar que essas
deduções tributárias beneficiam apenas 25% das famílias brasileiras, situadas entre as mais
ricas da população. Somando-se as deduções fiscais das pessoas físicas e jurídicas com saúde
e as outras renúncias fiscais no setor, chega-se a um valor dos gastos tributários em saúde
correspondente a 30% do orçamento federal da saúde. Os gastos privados em saúde, com
planos de saúde e desembolsos diretos, chegam a quase 60% dos gastos totais em saúde no
Brasil, o que representa um custo proporcionalmente maior do que o realizado pelos EUA,
que não possuem um sistema público universal de saúde. Portanto, as despesas públicas com
saúde se encontram fortemente no quartil populacional mais rico, que tem planos de saúde, é
fortemente subsidiado pelo Estado e a Lei dos cuidados inversos, enunciada por Hart,
produtora de grandes iniquidades em saúde: deixado às forças do mercado, o cuidado médico
tende a ser inversamente proporcional à necessidade das pessoas – quem mais precisa tem
menos acesso a ele, porque pode pagar menos ou não pode pagar (O Sistema de Saúde
brasileiro ante a tipologia internacional: uma discussão prospectiva e inevitável.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/RkRyQQTL4TWMr7F8k8SFcjq/?
format=pdf&lang=pt ).

Note-se a contradição: cerca de 75% da população depende


fundamentalmente do SUS para receber cuidados de saúde, mas os gastos públicos
com o SUS são muito inferiores aos gastos diretos e indiretos em saúde no País, que
são fortemente subvencionados pelo Estado e beneficiam apenas quem possui
condições de contratar planos de saúde. A consequência disso é evidente e leva ao
subfinanciamento do SUS.

Nesse contexto, a preponderar o uso distorcido do princípio da isonomia, para


obstar o acesso à satisfação de direitos, em contextos de subfinanciamento dos gastos
públicos de saúde e lentidão no atendimento, todos serão tratados com igual desdém e
descaso. Basta que todo o atendimento de saúde seja interrompido para que o
Poder Público passe a não ter obrigação nenhuma com a saúde dos seus cidadãos,
pois estariam todos em situação igual: igual desassistência, igual dor, igual esquecimento,
igual indignidade, classificados de acordo com critérios de prioridade e organizados
em uma fila de espera que não conduz ninguém a lugar nenhum. O princípio da
isonomia estaria devidamente prestigiado. De que isso valeria a quem necessita de imediatos
cuidados de saúde?

Como afirma o art. 30 da Declaração Universal dos Direitos Humanos,


nenhuma disposição da Declaração pode ser interpretada de maneira a praticar algum ato
destinado a destruir os direitos e liberdades enunciados.

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SAÚDE
Mas é exatamente isso o que se faz quando se invoca o princípio da isonomia para
converter o direito fundamental à saúde em uma mera promessa constitucional, vazia,
infértil e inconsequente, desprovida de proteção jurisdicional, que deva observar,
indefinidamente, a fila de espera para a prestação do serviço, independentemente de prazos
para a sua realização.

O princípio da isonomia não pode ser o único princípio jurídico a ser considerado
quando depreendemos uma situação de desassistência pela enorme fila de espera por um
serviço que é previsto nas políticas públicas. Os serviços públicos devem ser fornecidos
com equidade - de modo a priorizar as pessoas mais necessitadas - mas também devem
ser providos com eficiência.

A eficiência na prestação de serviços está relacionada à qualidade da prestação e


ao tempo de espera pela obtenção da prestação devida, como reporta a doutrina sobre o
tema:

🟩 “Identifica-se no princípio constitucional da eficiência três ideias: prestabilidade, presteza e


economicidade. Prestabilidade, pois o atendimento prestado pela Administração Pública deve ser útil ao
cidadão. Presteza, porque os agentes públicos devem atender o cidadão com rapidez. Economicidade, porquanto
a satisfação do cidadão deve ser alcançada do modo menos oneroso possível ao Erário público. Tais
características dizem respeito quer aos procedimentos (presteza, economicidade), quer aos resultados
(prestabilidade), centrados na relação Administração Pública/cidadão” (COSTODIO FILHO, Ubirajara. A Emenda
Constitucional 19/98 e o Princípio da Eficiência na Administração Pública. Em: Cadernos de Direito
Constitucional e Ciência Política, São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 27, p. 210-217, abr./jul. 1999, p. 214).

🟩 “O princípio da eficiência tem sido relacionado pela doutrina com diferentes significados e abrangências:

a) rendimento funcional e produtividade de todo o agente público, que deve realizar suas atribuições com
presteza, perfeição e adequação técnica aos fins visados pela Administração. Inserem-se nessa ótica as
avaliações de desempenho funcional e os procedimentos para perda do cargo do servidor estável, em caso de
comprovada insuficiência de desempenho;

b) celeridade (rapidez na conduta administrativa) com qualidade;

c) atendimento suficiente em quantidade e adequado em qualidade (esta envolvendo confiabilidade,


precisão, cortesia, segurança e conforto) das necessidades sociais de serviços, obras e bens públicos;

d) baixo custo, sem perda da qualidade técnica, na aquisição de materiais de escritório, equipamentos e outros
bens materiais necessários e suficientes para os serviços públicos (economicidade);

e) otimização do manejo dos recursos disponíveis, de forma a aumentar os resultados sem aumentar
custos;

f) simplicidade, transparência, moralidade, impessoalidade, imparcialidade, eficácia, consensualidade e


participação da população nos procedimentos e atos administrativos, sem perda da qualidade técnica dos
serviços e bens fornecidos, e com a eliminação do desperdício;

g) vinculação da discricionariedade a padrões técnicos ou científicos de eficiência, caso em que restará


ao administrador apenas a opção de escolher entre aquelas medidas que sejam aprovadas de acordo com os
critérios técnicos ou científicos pertinentes;

h) organização da estrutura das entidades administrativas de forma a criar uma disciplina voltada para o
trabalho;

i) serviço de fácil acesso à população, prestado no momento oportuno, com frequência regular e
prazo de resposta atendido;

j) equiparação com a regulação jurídica promovida pelo princípio da proporcionalidade, apenas exigindo o

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SAÚDE

princípio da eficiência um grau de análise mais rigoroso e técnico-científico na escolha da medida a ser adotada”
(GAMA, Eduardo Pereira Nogueira da. O princípio constitucional da eficiência administrativa: a
construção possível de seu conteúdo jurídico. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 25,
n. 6034, 8 jan. 2020. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/78816).

No tocante à saúde suplementar, a necessidade de observância de padrões de


eficiência na prestação de serviços aos beneficiários de planos de saúde levou a Agência
Nacional de Saúde (ANS) a estabelecer prazos máximos para que consultas, exames e
cirurgias sejam realizados.

Uma vez vencido o período de carência contratual, ao tentar marcar uma consulta,
um exame ou um procedimento, o(a) beneficiário(a) precisa conseguir um retorno da
operadora do plano de saúde dentro do prazo máximo estabelecido pela ANS.

Nos termos do artigo 3º, da Resolução Normativa nº 259/2011, da ANS, os prazos


de atendimento para exames, consultas, terapias e cirurgias são os seguintes:

“Art. 3º A operadora deverá garantir o atendimento integral das coberturas referidas no art. 2º nos seguintes
prazos:
I – consulta básica - pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia: em até 7 (sete) dias
úteis;
II – consulta nas demais especialidades médicas: em até 14 (quatorze) dias úteis;
III – consulta/sessão com fonoaudiólogo: em até 10 (dez) dias úteis;
IV – consulta/sessão com nutricionista: em até 10 (dez) dias úteis;
V – consulta/sessão com psicólogo: em até 10 (dez) dias úteis;
VI – consulta/sessão com terapeuta ocupacional: em até 10 (dez) dias úteis;
VII – consulta/sessão com fisioterapeuta: em até 10 (dez) dias úteis;
VIII – consulta e procedimentos realizados em consultório/clínica com cirurgião-dentista: em até 7 (sete) dias
úteis;
IX – serviços de diagnóstico por laboratório de análises clínicas em regime ambulatorial: em até 3 (três) dias
úteis;
X – demais serviços de diagnóstico e terapia em regime ambulatorial: em até 10 (dez) dias úteis;
XI – procedimentos de alta complexidade - PAC: em até 21 (vinte e um) dias úteis;
XII – atendimento em regime de hospital-dia: em até 10 (dez) dias úteis;
XIII – atendimento em regime de internação eletiva: em até 21 (vinte e um) dias úteis; e
XIV – urgência e emergência: imediato.
§ 1º Os prazos estabelecidos neste artigo são contados a partir da data da demanda pelo serviço ou
procedimento até a sua efetiva realização.
§ 2º Para fins de cumprimento dos prazos estabelecidos neste artigo, será considerado o acesso a qualquer
prestador da rede assistencial, habilitado para o atendimento no município onde o beneficiário o demandar e,
não necessariamente, a um prestador específico escolhido pelo beneficiário.”

A ANS considera que períodos de espera que extrapolem esses parâmetros colocam
em risco a saúde e o bem-estar das pessoas, configurando ato ilícito, sujeito, inclusive, a
multas administrativas.

De acordo com a própria Resolução Normativa nº 259/2011, se o(a) beneficiário(a)


não encontrar um profissional conveniado para fazer o atendimento no período solicitado, é
dever da operadora:

(i) indicar outro profissional ou estabelecimento conveniado, caso o


beneficiário não encontre, por conta própria, alguém para realizar o atendimento
necessário;

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SAÚDE
(ii) garantir atendimento em outro município, caso não exista um profissional
ou estabelecimento disponível para atender o beneficiário, em sua cidade, no
período escolhido. Em alguns casos, inclusive, a operadora tem a obrigação de
providenciar o transporte do beneficiário; ou

(iii) fazer o reembolso integral do atendimento feito fora do convênio, caso


nenhuma das soluções acima seja possível e o beneficiário precise buscar
atendimento particular.

Vale ressaltar que o TJDFT possui diversos precedentes compreendendo haver dano
moral em razão do descumprimento desses prazos em situações de urgência ou
emergência. Compreende-se haver “quebra injustificada de expectativa que rouba a
tranquilidade e retira a paz de espírito de quem necessita de tratamento de saúde urgente,
gerando situação de desespero e sofrimento em quadro emergencial que envolve riscos à
saúde”. Trata-se de “situação que manifestamente extrapola os limites dos meros
aborrecimentos, vicissitudes e dissabor do cotidiano a que estão sujeitos todos os membros
do corpo social tendo em conta o modo de vida da sociedade contemporânea” (TJDFT,
Acórdão nº 1401364). Sendo assim, “em casos de urgência ou emergência (art. 35-C, I, da
Lei n. 9.656/98), a operadora do plano de saúde é obrigada a garantir a cobertura
assistencial no prazo de 24 horas a contar do prazo de vigência previsto em contrato. A
injusta recusa do plano de saúde para cobertura de procedimento indispensável ao
restabelecimento da saúde do beneficiário do plano ultrapassa o simples
descumprimento contratual e enseja a obrigação de reparar o dano moral. Afigura-se
proporcional e razoável o valor requerido a título de dano moral (R$10.000,00), em
observância às finalidades compensatória, pedagógica e preventiva da condenação” (TJDFT,
Acórdão nº 1348209).

Infelizmente, neste país em que impera uma situação de profunda desigualdade -


em que 125,2 milhões de pessoas convivem com algum grau de vulnerabilidade
econômica e insegurança alimentar (cerca de 58,7% da população brasileira) -,
enquanto os usuários do sistema de saúde suplementar gozam da necessária proteção
normativa contra a omissão das operadoras de planos de saúde, os usuários do sistema
de saúde pública não possuem a mesma rede de proteção legal em face da omissão
do Estado.

De acordo com a Agência Nacional de Saúde, em dezembro de 2022, havia 50


milhões de usuários e usuárias de planos de saúde no país. Isso significa que, dos quase 218
milhões de brasileiros e brasileiras, 168 milhões (77%) dependem exclusivamente de seus
próprios recursos financeiros e do Sistema Único de Saúde para a obtenção de ações,
serviços e produtos indispensáveis ao seu bem-estar.

Por paradoxal que seja, muito embora haja absoluta prevalência do SUS como
instrumento de acesso a saúde, em regra, não existem leis que estabeleçam prazos
máximos para que consultas, exames, tratamentos e cirurgias sejam realizados para
usuários de serviços de saúde pública.

Uma relevante exceção, criada para dar concretude ao princípio da eficiência em


ações e serviços de saúde voltados ao tratamento oncológico, é a Lei Federal nº
12.732/12. Essa Lei estabeleceu que "o paciente com neoplasia maligna tem direito de se
submeter ao primeiro tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), no prazo de até 60
(sessenta) dias contados a partir do dia em que for firmado o diagnóstico em laudo
patológico ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso registrada em
prontuário único". Por outro lado, "nos casos em que a principal hipótese diagnóstica seja a
de neoplasia maligna, os exames necessários à elucidação devem ser realizados no prazo
máximo de 30 (trinta) dias, mediante solicitação fundamentada do médico responsável".

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SAÚDE
Todavia, para a disponibilização das demais categorias de serviços prestados pelo
SUS, não existem parâmetros legais objetivos de eficiência temporal para a prestação de
serviços de saúde pública.

Para suprir a omissão legislativa sobre critérios objetivos de eficiência nos


demais serviços públicos de saúde, o Enunciado nº 93, do Conselho Nacional de
Justiça, aprovado pela magistratura brasileira em 21/03/2019, afirma que "nas demandas
de usuários do Sistema Único de Saúde - SUS por acesso a ações e serviços de saúde
eletivos previstos nas políticas públicas, considera-se excessiva a espera do paciente por
tempo superior a 100 (cem) dias para consultas e exames, e de 180 (cento e oitenta)
dias para cirurgias e tratamentos."

Observe-se que esses parâmetros servem para procedimentos eletivos. Em casos


de urgência e de emergência, tais prazos não devem ser aplicados, pois o atendimento
deve ser imediato, como dispõe a Resolução do Conselho Federal de Medicina - CFM nº
1.451, de 1995: “a) Define-se por urgência a ocorrência imprevista de agravo à saúde com
ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata; e b)
Define-se por emergência a constatação médica de condições de agravo à saúde que
impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo portanto,
tratamento médico imediato.” A Lei Federal n. 9.656, de 03/06/1998, que dispõe
sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde, define atendimentos de
emergência e de urgência nos seguintes termos: a) emergência: aqueles que implicam “risco
imediato de vida ou de lesões irreparáveis para o paciente, caracterizado em declaração do
médico assistente”; e b) urgência: aqueles que resultam “de acidentes pessoais ou de
complicações no processo gestacional” (cf. art. 35-C, com a redação dada pela Lei nº 11.935,
de 2009).

A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios tem adotado


esses parâmetros e, em diversos julgados, tem salientado que tendo sido demonstrado
que a fila de espera para a realização do serviço na rede pública do Distrito Federal
extrapola o prazo considerado como razoável pelo Conselho Nacional de Justiça,
impõe-se a intervenção do Poder Judiciário, com a imposição de prazos para o
atendimento da demanda reprimida em tempo razoável, com o intuito de garantir a
efetivação do direito constitucional à saúde (TJDFT, Acórdão 1327233, Processo n.
07000638020218070000, Relator Des. Esdras Neves, 6ª Turma Cível, Data de Julgamento:
17/03/2021).

Portanto, em resumo o entendimento que vem se consolidando nesse Tribunal de


Justiça é, em suma, o seguinte:

🟩 (i) as ações e serviços de saúde de urgência e de emergência exigem dos


profissionais da saúde prioridade absoluta no cuidado a esses pacientes, sob risco
de configurar risco de vida ou de lesões irreparáveis e, por conseguinte, omissão
de socorro;

🟩 (ii) o paciente com neoplasia maligna tem direito de se submeter ao primeiro


tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), no prazo de até 60 (sessenta) dias
contados a partir do dia em que for firmado o diagnóstico em laudo patológico ou
em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso registrada em
prontuário único;

🟩 (iii) nos casos em que a principal hipótese diagnóstica seja a de neoplasia


maligna, os exames necessários à elucidação devem ser realizados no prazo

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SAÚDE

máximo de 30 (trinta) dias, mediante solicitação fundamentada do médico


responsável;

🟩 (iv) quanto às demais ações e serviços de saúde eletivas (não-urgentes), de


acordo com os parâmetros fixados pelo Conselho Nacional de Justiça, estes
devem ser prestados pelo Poder Público no prazo de 100 (cem) dias para
consultas e exames, e de 180 (cento e oitenta) dias para cirurgias e tratamentos,
de acordo com os critérios administrativos de classificação de risco à saúde e a
precedência na lista de espera; e

🟩 (v) a intervenção do Poder Judiciário, para garantir a efetivação do direito


constitucional à saúde, é legítima quando a Administração Pública deixa de seguir
os parâmetros acima mencionados e a excessiva demora para o atendimento do
paciente provoca riscos de morte, de dano irreparável ou de agravamento do seu
estado de saúde.

Fixadas essas premissas, deve-se constatar que, no presente caso, não há


controvérsia quanto ao delicado estado de saúde da parte autora nem quanto à
recomendação médica da providência solicitada por meio desta causa. A cientificidade e a
necessidade da medida encontram-se justificadas pelos relatórios médicos acostados aos
autos.

Observa-se, por outro lado, a omissão da prestação do serviço público de saúde,


pois o DISTRITO FEDERAL não se dignou a dar previsão concreta de atendimento à presente
demanda, limitando-se à tentativa de se eximir do dever de concretizar as medidas
necessárias para garantir à parte requerente o direito à saúde e ao bem-estar.

O relatório médico anexado à petição inicial deixa clara a necessidade da


providência pretendida, bem como os riscos de agravamento do estado de saúde da parte
requerente devido à espera pela sua realização.

O direito fundamental dos pacientes do SUS a serviços de saúde prestados com


integralidade, eficiência, qualidade, acessibilidade, disponibilidade e aceitabilidade deve ser
respeitado pelo Poder Público. A missão institucional do Poder Judiciário impõe o
compromisso de fazer prevalecer os direitos fundamentais da pessoa, dentre os quais
avultam, por sua inegável precedência, o direito à vida e o direito à saúde. Tais direitos não
se expõem, em seu processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da
Administração Pública nem se subordinam a razões de puro pragmatismo governamental.
Subtrair as políticas públicas na área da saúde ao controle jurisdicional apenas contribuiria
para agravar o presente quadro de violação massiva e persistente de direitos fundamentais.

Caso não tenham sido observados os parâmetros acima mencionados, a


intervenção do Poder Judiciário, para garantir a efetivação do direito constitucional à saúde, é
legítima, sobretudo quando a excessiva demora para o atendimento do paciente provoca risco
de dano irreparável ou de agravamento do seu estado de saúde (TJDFT, Acórdão 1327233,
Processo n. 07000638020218070000, Relator Des. Esdras Neves, 6ª Turma Cível, Data de
Julgamento: 17/03/2021).

Não se pode desprezar o relevante fato de que a omissão do Estado na


prestação de serviços públicos de saúde considerados imprescindíveis à garantia da vida e
da saúde de pacientes configura falha na prestação do serviço e enseja o dever de
indenizar por danos morais decorrentes da perda de uma chance de cura, na hipótese
em que essa falha tenha reduzido possibilidades concretas e reais de obtenção de vantagens
ou de evitação de prejuízos, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça (REsp

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SAÚDE
n. 1.104.665-RS, Segunda Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 09/06/2009), e que
subtraia do lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura esperada (AgRg
no REsp n. 1.220.911/RS, Terceira Turma, julgado em 17/03/2011).

Portanto, nas linhas precedentes, inicialmente, buscou-se demonstrar que o


direito fundamental dos pacientes do SUS a serviços de saúde prestados com integralidade,
eficiência, qualidade, acessibilidade, disponibilidade e aceitabilidade possui respaldo em
normas constitucionais, supralegais e legais, e deve ser respeitado pelo Poder Público.

Por segundo, como visto, pretendeu-se demonstrar que, de acordo com o


entendimento do Supremo Tribunal Federal, a missão institucional do Poder Judiciário impõe
o compromisso de fazer prevalecer os direitos fundamentais da pessoa, dentre os quais
avultam, por sua inegável precedência, o direito à vida e o direito à saúde, razão pela qual
subtrair as políticas públicas na área da saúde pública ao controle jurisdicional contribuirá
para agravar o presente quadro de violação massiva e persistente de direitos fundamentais.

Em terceiro lugar, objetivou-se evidenciar que a jurisprudência do Tribunal de


Justiça do Distrito Federal e Territórios tem adotado o entendimento segundo o qual, tendo
sido demonstrado que a fila de espera para a realização do serviço na rede pública de saúde
do Distrito Federal extrapola o prazo considerado como razoável frente à gravidade das
condições clínicas dos pacientes, a intervenção do Poder Judiciário, com a imposição de
limite temporal para o atendimento da demanda reprimida, em tempo razoável, faz-se
necessária, com o intuito de garantir a efetivação do direito constitucional à saúde. As
ações e serviços de saúde de urgência e de emergência exigem dos profissionais da saúde
prioridade absoluta e intervenção imediata no cuidado a esses pacientes, sob risco de
configurar-se risco de vida ou de lesões irreparáveis e, por conseguinte, omissão de socorro
(cf. Resolução do Conselho Federal de Medicina - CFM nº 1.451/1995).

Por fim, em quarto lugar, neste capítulo, pretendeu-se o reconhecimento de que


a satisfação do direito da parte recorrente à providência por ela pretendida neste processo
não implica, necessariamente, violação à isonomia nem provoca prejuízo a
pacientes que aguardam com quadro clínico mais urgente ou anteriores à sua
posição na fila de espera, uma vez que a ordem judicial que fixa prazo para cumprimento
da obrigação imposta ao Poder Público não inibe a atuação do ente distrital em buscar
solucionar, pelas vias administrativas, ante um amplo espectro de alternativas
disponíveis, os problemas relacionados à espera a que estão sujeitos outros usuários
do SUS.

PEDIDO LIMINAR DE TUTELA DE URGÊNCIA:

Com base nos fundamentos fáticos e jurídicos apresentados, pede-se a esse Juízo a
concessão da tutela de urgência.

O art. 300, do CPC, dispõe que “a tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo”.

Conforme será exposto a seguir, os elementos necessários para a concessão da


tutela de urgência encontram-se suficientemente caracterizados no presente caso.

🟩 1º REQUISITO: PROBABILIDADE DO DIREITO ALEGADO

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A probabilidade do direito alegado pela parte requerente nesta causa decorre:

(i) do fato de que as garantias à vida e à saúde se encontram alçadas na


Constituição Federal (art. 196) e na Lei Orgânica do Distrito Federal (art.
207) à categoria de direitos fundamentais, e, portanto, de aplicabilidade e
eficácia imediatas, cabendo ao DISTRITO FEDERAL velar por sua promoção e
proteção;

(ii) da comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado,


expedido por médico(a) que assiste a parte requerente, do diagnóstico e da
imprescindibilidade/necessidade da providência pleiteada neste processo;

(iii) da presença dessa mesma providência em listas de


ações/serviços/medicamentos padronizados e devidos pelo SUS para o
enfrentamento da doença;

(iv) da demonstração da incapacidade financeira da parte requerente (e de seus


familiares) de arcar com os custos de aquisição da providência pleiteada neste
processo, que pode ser inferida a partir do relatório de avaliação da hipossuficiência
socioeconômica apresentado nos autos e dos documentos que o acompanharam; e

(v) de reiteradas decisões, sentenças e acórdãos provenientes desse Juízo e do


Tribunal de Justiça favoráveis ao acolhimento da pretensão, em demandas
similares.

🟥 2º REQUISITO: PERIGO DE DANO

Por sua vez, o perigo de dano à parte requerente decorre:

(i) do risco de agravamento do quadro geral de saúde da parte requerente,


inclusive com afetação de outras áreas e sistemas do corpo, tornando o tratamento
mais difícil e com menos chance de sucesso, caso não seja iniciado o quanto antes;

(ii) do risco de danos irreversíveis e irreparáveis à saúde da parte requerente,


diminuindo significativamente a qualidade de vida e a capacidade produtiva da
parte requerente, mesmo com a realização do tratamento posteriormente;

(iii) do risco de diminuição da eficácia e da segurança dos resultados que


podem obtidos com o tratamento de saúde que se faz necessário, caso haja
demora no atendimento da pretensão;

(iv) do risco de sofrimento adicional ao paciente, incluindo dor, ansiedade e


estresse, provocados pela demora em obter o tratamento de que necessita;

(v) do risco de aumento do custo do tratamento, no caso de agravamento do


quadro clínico em razão da demora em realizar o tratamento; e

(vi) do risco de perda de oportunidades de tratamento, especialmente se a


sua condição de saúde se agravar a ponto de não mais ser possível realizar o
procedimento.

Está bem clara a necessidade de que a parte requerente receba o tratamento o


mais rápido possível, para minimizar os prejuízos e as sequelas da doença e
maximizar as chances de recuperação e a melhoria da qualidade de vida.

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SAÚDE
Por outro lado, é absolutamente preocupante a ausência de previsibilidade
concreta do atendimento da pretensão, por parte do DISTRITO FEDERAL, em prazo
razoável e proporcional à gravidade da condição clínica da parte requerente.

A Constituição Federal prevê que a saúde é um direito fundamental do ser


humano e que o Estado tem o dever de garantir o acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Dessa forma, o tratamento médico
necessário para a melhoria da saúde do paciente é um direito que deve ser garantido, em
tempo e modo adequados.

🟧 3º REQUISITO: RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO

Demais disso, há as seguintes evidências de risco ao resultado útil do


processo:

(i) sensibilidade ao tempo: O tratamento pretendido pela parte requerente –


como costumam ser os tratamentos de saúde - é sensível ao tempo (time-
sensitive), e, se este permanecer sendo adiado, poderá causar danos graves e
irreparáveis à parte requerente;

(ii) risco de agravamento do quadro de saúde e de comprometimento da


saúde da parte requerente: O excessivo tempo de espera por tratamentos de
saúde contribui para complicações e agravamentos do quadro de saúde dos
pacientes, gerando ainda maior gasto público para a realização de tratamentos que
se tornam mais complexos e onerosos do que aqueles previstos inicialmente; e

(iii) quanto maior a demora, menores os efeitos benéficos do tratamento,


maiores as chances de comorbidades e complicações em seu estado de saúde e
maiores os custos a serem futuramente absorvidos pelo sistema único de
saúde.

Aqui, há de incidir os princípios da prevenção e da precaução em favor dos


pacientes, já que os danos à saúde podem ser irreversíveis.

Quando houver a certeza ou a ameaça de danos graves de difícil reparação em


decorrência da omissão estatal em prover os cuidados de saúde necessitados pelo paciente, a
inexistência de sentença favorável com trânsito em julgado não deve ser utilizada como razão
para o adiamento de medidas efetivas eficazes e economicamente viáveis para
prevenir a degradação da saúde dos pacientes.

Nesse contexto, aguardar a demora normal do desenvolvimento da marcha


processual configuraria risco à saúde da parte requerente.

O grau de sucesso e eficácia do processo judicial, em matérias como esta, se


mede "não no terreno do enfrentamento de prejuízo já ocorrido, mas exatamente pelo
impedimento ou mitigação de ameaça de degradação porvindoura". Do contrário,
"drenar-se-ia a relevância profilática do próprio Poder Judiciário, relegando-se a jurisdição
ao infecundo e ineficiente papel de simples gestor de perdas consumadas e até irreversíveis:
um juiz de danos, constrangido a somente olhar para trás, em vez de um juiz de riscos,
capaz de proteger o futuro e sob seu influxo realizar justiça preventiva e precautória".
Compreensão diversa dificultaria inclusive a possibilidade de corrigir vícios e alterar rumos da
política pública, economizando tempo e recursos materiais e humanos escassos (cf. STJ, REsp
1.616.027).

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SAÚDE
De outra parte, não se vislumbra perigo de lesão grave e de difícil reparação ou
incerta reparação que poderá ser ocasionada ao réu com o deferimento da tutela de urgência,
porque, apesar de seu caráter satisfativo, dano expressivamente maior poderá ser
experimentado pela parte autora caso não realize o tratamento prescrito.

DOS PEDIDOS:

Com essas considerações, pede-se:

a) a concessão dos benefícios da gratuidade judiciária, quando necessária, pois a parte


autora não possui condições de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios,
sem prejuízo de seu sustento próprio e familiar, em caso de sucumbência;

b) a concessão da tutela de urgência para determinar ao DISTRITO FEDERAL que


forneça à parte requerente, imediatamente: <DESCREVER A PRETENSÃO>, nos termos da
prescrição médica apresentada, em qualquer hospital da rede pública, ou, no caso de
impossibilidade, em qualquer hospital da rede particular, com todo o tratamento que vier a
se fazer necessário (transferência, cirurgia, medicamentos, insumos, exames, apartamento,
enfermaria, acompanhamento, assistência etc.), às expensas do Réu, até a plena
recuperação da saúde da parte autora;

c) a realização de diligência de intimação para cumprimento da tutela de urgência,


inclusive em horário especial, nos termos do art. 212, § 1º, do CPC;

d) a citação do requerido, na pessoa do seu representante legal para que apresente


resposta no prazo legal, sob pena de incidência dos efeitos da revelia;

e) a intimação do NÚCLEO DE JUDICIALIZAÇÃO (NJUD) DA ASSESSORIA LEGISLATIVA


DA SECRETARIA DE SAÚDE DO DF: I - para que esclareça, em 05 (cinco) dias úteis: a) quais
são os obstáculos fáticos e jurídicos ao cumprimento da obrigação no prazo fixado; b) se há
alguma previsão de cumprimento da obrigação (na rede pública ou na rede privada) e, na
hipótese afirmativa, quando o cumprimento ocorrerá; e c) caso não seja possível o
cumprimento da obrigação, que informem as medidas em curso para a regularização da
oferta do serviço pretendido; e II – para que seja cientificado de que, na hipótese de
descumprimento da obrigação, poderá ser determinada a realização de medidas eficazes à
efetivação da decisão judicial, podendo, se necessário, ser realizado o sequestro de valores
do devedor (bloqueio), conforme entendimento vinculante do STF (Tema Repetitivo nº 289)
e do STJ (Tema Repetitivo nº 84), até o limite do valor contido no orçamento de menor valor
contido nos autos;

f) a intimação do(a) representante do Ministério Público;

g) a prolatação de sentença que confirme a tutela de urgência (ou que a conceda, caso
não tenha sido concedida initio litis), para que o DISTRITO FEDERAL seja condenado a
fornecer à parte autora, imediatamente: <DESCREVER A PRETENSÃO>, nos termos da
prescrição médica apresentada, em qualquer hospital da rede pública, ou, no caso de
impossibilidade, em qualquer hospital da rede particular, com todo o tratamento que vier a se
fazer necessário (transferência, cirurgia, medicamentos, insumos, exames, apartamento,
enfermaria, acompanhamento, assistência etc.) às expensas do Réu, até a plena recuperação
da saúde da parte autora; e

h) a condenação do DISTRITO FEDERAL ao pagamento dos encargos sucumbenciais em


prol do Fundo de Apoio e Aparelhamento da Defensoria Pública do DF, de conformidade com

2
DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL NÚCLEO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA DE DEFESA DA
SAÚDE
o decidido na Ação Rescisória nº 1937, julgada pelo STF, e nos termos do artigo 3º,
inciso I, da Lei Complementar Distrital nº 744/2007, e do Decreto Distrital nº 28.757/2008.

PEDIDO DE PRODUÇÃO DE PROVAS:

Caso os documentos anexados aos autos não sejam suficientes para demonstram o
fato constitutivo do direito alegado pela parte autora, pede-se o deferimento do pedido de
produção de prova documental complementar e de pericial (ou prova técnica simplificada),
acerca (i) da necessidade da intervenção jurisdicional para assegurar o tratamento de saúde
vindicado na petição inicial, frente às condições clínicas especificamente apresentadas pela
parte autora, bem como (ii) sobre a impossibilidade de aguardar o desenrolar da eventual
lista de espera pelo serviço requisitado, devido aos riscos e problemas de saúde a que a parte
autora está exposta. Quanto à prova técnica simplificada, de acordo com o art. 464, §§ 2º e
3º, do CPC, "o juiz poderá, em substituição à perícia, determinar a produção de prova técnica
simplificada, quando o ponto controvertido for de menor complexidade"; e a prova técnica
simplificada "consistirá apenas na inquirição de especialista, pelo juiz, sobre ponto
controvertido da causa que demande especial conhecimento científico ou técnico". No caso de
deferimento do pedido de produção de prova pericial, pede-se que esse Juízo faculte às
partes a apresentação de quesitos, no prazo de 15 dias, após a nomeação de perito ou
especialista (art. 465, §1º, inc. III, do CPC).

INDICAÇÃO DO VALOR DA CAUSA:

Atribui-se à causa o valor de R$ _, conforme previsão da Tabela SIGTAP do SUS


(http://sigtap.datasus.gov.br/tabela-unificada/app/sec/inicio.jsp).

A Câmara de Uniformização do TJDFT, no julgamento do Incidente de Resolução de


Demandas Repetitivas nº 2016.00.2.024562-9, firmou a tese de que as ações que têm como
objeto o fornecimento de serviços de saúde, inclusive o tratamento mediante internação,
encartam pedido cominatório, e, por isso, o valor da causa deve ser fixado de forma
estimativa. Como a presente demanda cominatória não possui conteúdo econômico
imediatamente aferível, atribui-se à causa, por estimativa, o valor anteriormente
mencionado.

Caso o entendimento desse Juízo divirja quanto ao valor dado à causa, pede-se que
este seja corrigido de ofício, nos termos do art. 292, §3º, do CPC.

Brasília/DF, _ de _ de 2023.

Assinatura do(a) requerente ou representante:

__________________________________________________________________________

DIGITE AQUI O NOME DO(A) REQUERENTE/REPRESENTANTE

Assinatura do(a) responsável pelo atendimento:

__________________________________________________________________________

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SAÚDE
DIGITE AQUI O NOME DO(A) RESPONSÁVEL PELO ATENDIMENTO –
ESTAGIÁRIO/SERVIDOR/COLABORADOR / DPDF

Assinatura do(a) Defensor(a) Público(a):

__________________________________________________________________________

DIGITE AQUI O NOME DO(A) DEFENSOR(A) PÚBLICO(A)

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