Você está na página 1de 1

FCSHA. Semiótica da Comunicação, I Sem., 2023/2024.

2º Ano CC e TMC
Por uma Semiótica Sevagem e Poética do Signo no Contexto da Semiótica da Informação e Comunicação
E diante dessa espessura resistente (o facto de o signo ser formado necessariamente por um
verso e um reverso), a única semiótica viável seria uma semiótica selvagem...uma semiótica
que vê, que exercita uma atenção flutuante (na construção do sentido e da significação a partir
do pré-sentido comunicacional), que negligencia os princípios, os sistemas e o instituído para
entregar-se à flutuação dos quase-signos com as variadas bóias eventualmente à mão”.
(NETTO, J. T. C.1980:113).

Nos estudos de Teoria da Informação costuma-se fazer uma distinção entre informação e significação. De acordo com
esse enfoque, a questão da significação é vista como algo dependente do juízo interpretativo, do juízo valorativo, da
opinião, da subjectvidade, sendo por isso mesmo deixada de lado por uma teoria que pretende ocupar-se apenas com
dados objetivos capazes de serem transcritos quantitativamente numa linguagem (a numérica) «isenta». Assim, a análise
informacional de um dado texto não se preocuparia com o significado (tradicionalmente entendido) nele presente, com o
seu conteúdo semântico, com as suas consequências para o receptor do texto ou com as motivações do produtor da
mensagem (i.e, com a intensidade das mudanças transmitidas nas mensagens codificadas, através de canais físicos -,
telegrafo, rádio, etc.). Ao invés disso, essa análise – através de um algoritmo – procuraria traduzir esse texto numa
relação numérica, que indicaria a quantidade de informação nele contida e não a qualidade de informação. Em outras
palavras...a análise informacional indicaria quanto e não o quê. Mas isto não explica muito, ainda, onde está a diferença
entre informação e significação. Para distinguir entre elas, será necessário deixar de lado o aspecto do significado e ver a
informação como ligada à dúvida, à incerteza. O que interessa à ánalise informacional, assim, não é saber o que diz uma
mensagem, mas quantas dúvidas ela elimina. O ponto de partida, portanto, é que as mensagens existem para eliminar
dúvidas, reduzir a incerteza em que se encontra um indivíduo (...) Pressupõe-se ser finalidade específica de um texto, de
um informador, mudar o comportamento do seu receptor, e... a informação surge como agente dissipador de incertezas
e cujo objetivo é provocar uma alteração no comportamento das pesssoas.
A teoria (matemática) da Informação (e da comunicação), portanto, preocupa-se antes demais com a eleboração de uma
dada mensagem capaz de promover em seus receptores uma alteração do comportamento. E o que é uma mensagem?
Segundo A. Moles (Teoria da Informação e Percepção Estética, 1969), a mensagem é um grupo ordenado de elementos
de percepção extraídos de um repertório e reunidos numa determinada estrutura. Dessa descrição participam alguns
conceitos que merecem um exame em separado, embora rápido: ordenado (i.e, com relativa ordem significativa),
repertório (i.e, uma espécie de vocabulário/código, de estoque de signos conhecidos e utilizados por um indivíduo que
pode ser emissor ou receptor) e estrutura (i.e, uma espécie de máximo divisor comum entre os diferentes elementos, ou
ainda, aquilo que permite identificar o idêntico na diferença ou a diferença no idêntico)... Sem estrutura não há mensagem
ou informação (...). Já foi observado acima que a mudança no comportamento do receptor de uma mensagem depende do
carácter de novo (originalidade) desta mensagem, de tal modo que...quanto maior a taxa de novidade de uma mensagem,
maior seu valor informativo, sendo maior a mudança de comportamento provocada (como acontece inovação na
comunicação publicitária e no marketing). Usando a noção de repertório, pode-se dizer que o conceito de informação é o
conceito de medida de complexidade, de modo a propor que a taxa de informação de uma mensagem aumenta quanto
mais complexa ela se apresentar. Com base na noção de novo, diz-se agora que a taxa de informação de uma mensagem é
função de sua originalidade, sendo a imprevisibilidade a medida da originalidade:
Ou seja, ₊ originalidade = - previsibilidade = ₊ informação / - previsibilidade = - originalidade = - informação
Assim, o recurso para aumentar o grau da inteligibilidade desejada é a redundância (dito verbal ou graficamente em
demasia, i.e, o que é dito a mais a fim de garantir-se a inteligibilidade/compreensão da mensagem)... Em outras palavras,
a função da redundância é absorver os ruidos na mensagem (pois ruídos são signos indesejáveis que entrando no canal
informativo perturbam a inteligibilidade da mensagem e a função fática da comunicação)... Cada canal terá assim um
código, que pode ser entendido como um conjunto de signos e as suas regras de utilização. Uma tela, uma escultura, um
filme podem perfeitamente ser descritos como grupos de elementos de percepção extraídos de repertórios determinados e
com uma estrutura certa. Esses mesmos grupos de elementos significantes, no entanto, talvez fiquem melhor sob o rótulo
de forma (i.e, o material significante ou o conjunto significativo apresentado por um processo sígnico como espécie de
hipersigno passível de se constituir por várias mensagens – mensagens múltpliplas, ou seja, que chegam através de vários
veículos ou media simultaneamente, como acontece nos cartazes publicitários em vias públicas (out-door), anúncios
televisivos, cinema, teatro, etc. (...)
“Mais informação” (na perspectiva do signo e da interpretação como uma questão meramente técnica de quantificação
de informação) não pode, por si só, ser considerado como “melhor informação”. Não pode ser deixada de lado a
questão do valor da informação transmitida (i.e, da significação)..., pois na comunicação, o que se tem é uma
atividade de representação, visando transmitir um certo sentido (fonte <== receptor ou receptor ==> fonte). A
leitura do modelo (proposto por Claude Shannon e Warren Weaver em A Teoria Matemática da Informação, 1969)
passaria a ser então a seguinte: ao invés de ser estimulado pela fonte, o receptor estimula a fonte ao necessitar de uma
informação, utilizanfdo-a conforme seus próprios interesses. O processo de comunicação seria posto a andar sobre seus
verdadeiros pés ao invés de arrastar-se sobre a própria cabeça. Inversões deste tipo parecem impor-se em mais de um
domínio e em mais de uma época (...) Nestas circunstâncias, o discurso sobre a significação pode surgir como uma
aventura tão criativa e transformadora quanto a própria produção primeira do signo. (Texto adaptado in NETTO, J. T. C.
Semiótica, Informação e Comunicação, Perspectiva, 1980, pp. 119-214).

Você também pode gostar