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Unidade II
Nesta unidade, vamos discutir as patologias neurológicas comumente encontradas na prática clínica
do paciente neurológico adulto e suas consequências funcionais. Serão subdivididas entre as que afetam o
sistema nervoso central e periférico.
É importante ressaltar que essas patologias variam com relação à natureza e à etiologia, e
consequentemente à evolução e ao prognóstico. Destacaremos aquelas de natureza traumática,
degenerativas e progressivas.
Com a leitura desta unidade será possível você concluir como são complexas as fisiopatologias que
englobam as lesões do sistema nervoso, e, assim, como são variados os quadros clínicos respectivos,
tanto quando o acometimento for no sistema nervoso central como quando for periférico.
Começaremos pelo traumatismo cranioencefálico (TCE), uma situação grave e cada vez mais comum
nos grandes centros urbanos.
5.1.1 Definição
O TCE pode ser definido como uma lesão causada por uma força física externa (trauma) aplicada
sobre os elementos anatômicos que compõem crânio, couro cabeludo, meninges, encéfalo ou seus vasos,
gerando um comprometimento funcional que pode ser temporário ou definitivo.
Segundo dados divulgados pelo Datasus em 2013, corresponde à principal causa de morte entre
5 e 44 anos no mundo, sendo equivalente a 10% da população (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
De maneira geral, os dados epidemiológicos não são diferentes no Brasil, sendo também crescentes
a cada ano. Prevalência no sexo masculino, tendo como principal causa acidentes automobilísticos e
situações relacionadas à violência urbana. Outras causas são associadas a essa situação clínica, como a
prática de esportes radicais e quedas, abrangendo indivíduos de qualquer faixa etária, como crianças e
idosos. Em idosos é comum a evolução para o óbito.
Nitrini e Bacheschi (2015) relatam que no ano de 1993, no Estado de São Paulo, foram 57 mil óbitos
devido ao TCE. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), em um acompanhamento de 8 meses
realizado no Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo, foram identificadas 6.125 vítimas
de TCE, sendo que 1.054 necessitaram de hospitalização, 320 de procedimentos neurocirúrgicos e 89
evoluíram para o óbito.
Uma classificação em leve, moderado ou grave pode ser realizada baseada no grau e intensidade
da força física, sendo uma das principais características clínicas o comprometimento cognitivo e
comportamental que está presente em 75% dos casos (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
O quadro clínico frequentemente é diversificado devido à ação difusa da força física externa sobre o
encéfalo. De maneira geral, são frequentes alterações musculoesqueléticas e distúrbios cardiovasculares,
endócrinos, visuais, respiratórios e sensoriais.
5.1.2 Fisiopatologia
Uma vez instalada a lesão encefálica, há a evolução de uma série de eventos fisiopatológicos que
podem durar dias ou semanas e que podem levar o paciente ao óbito.
As lesões primárias são aquelas resultantes diretamente da força causadora do TCE, e serão
dependentes do momento de sua ocorrência. Nelas estão inclusas as fraturas de crânio, as contusões e
lacerações da substância cinzenta e a lesão axonal difusa.
De maneira geral, as forças físicas causadoras da lesão traumática do encéfalo podem ser de impacto
(figura 17, A e B), quando a força é aplicada diretamente sobre o crânio e seus componentes. Nesse tipo
de força podemos citar um projétil de arma de fogo, a implantação de uma arma branca ou até mesmo
um golpe aplicado ao crânio.
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Unidade II
A) B) C)
Figura 17 – Representação da ação de uma força de impacto sobre o crânio (A e B) e inercial (C)
Mas também há a possibilidade de a força ser do tipo inercial (figura 17C), devido à diferença de
densidade entre o encéfalo e o crânio; observada durante os movimentos de aceleração e desaceleração
da cabeça, e sendo o encéfalo mais lento em relação à calota craniana, poderá gerar lesões graves do
tecido cerebral, como ruptura de vasos cerebrais e choque do parênquima cerebral contra a própria
calota craniana.
Quando não há exposição externa do conteúdo encefálico após o trauma, o TCE é denominado
fechado. Porém, quando após a implantação de um projétil de arma de fogo ou branca houver a abertura
da calota craniana e consequente exposição do parênquima cerebral, o TCE é dito aberto.
Segundo Nitrini e Bacheschi (2015), a região central do encéfalo, representada pelo tronco encefálico,
é mais rígida quando comparada às regiões periféricas, como, por exemplo, o cerebelo e os lobos
cerebrais frontal e occipital, sendo essas estruturas mais móveis. Essa diferença de mobilidade pode ser
responsável pelo estiramento e até ruptura de axônios e de vasos cerebrais.
Dependendo da severidade do TCE, poderá haver um intervalo entre a ocorrência das lesões primárias
e secundárias. Porém, em um TCE grave, o paciente pode chegar ao pronto atendimento com sinais de
evolução das lesões secundárias.
A seguir, apontamos alguns dos distúrbios que podem estar presentes no momento inicial do trauma
ou após um determinado intervalo, ou seja, as lesões secundárias do TCE são:
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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
• hipotensão arterial;
• hipoglicemia;
• hipercarbia;
• hipóxia respiratória;
• hipóxia anêmica;
• distúrbios hidroeletrolíticos;
• hidrocefalia;
A situação clínica do TCE é geralmente uma emergência médica, e compreender os seus mecanismos
fisiopatológicos é de extrema importância para a adoção rápida de estratégias adequadas de tratamento.
As lesões encefálicas ainda podem ser ditas difusas e focais. Para a maioria dos pacientes, ocorre a
presença das duas formas de lesão, sendo possível o predomínio de evolução de uma delas.
A lesão axonal difusa (LAD) é a causa de quase 1/3 das mortes pós-TCE. A concussão é uma forma
mais leve, em que há alteração na excitabilidade do neurônio, sem ocorrer lesão estrutural da célula. A
LAD equivale, então, a casos mais graves de lesão primária.
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A causa da LAD (figura a seguir) está relacionada à tração rotacional (cisalhamento) dos axônios
durante a instalação do TCE. Assim, é considerada uma lesão primária, sendo consequência de
movimentos de aceleração e desaceleração da cabeça.
• Lesões focais hemorrágicas no tronco encefálico próximas dos pedúnculos cerebelares superiores.
• Lesões hemorrágicas assimétricas na substância branca na porção superior dos hemisférios cerebrais.
Com o passar das semanas, os axônios lesados sofrerão degeneração walleriana, sendo substituídos
por um tecido cicatricial na substância branca, que favorecerá o aumento dos sulcos cerebrais corticais
e das cavidades ventriculares, sugerindo uma retração da substância branca.
Com relação às lesões focais, são representadas principalmente por fraturas, hematomas intra ou
extracerebrais e lesão cerebral isquêmica.
Não será objetivo neste capítulo abordar todos os tipos de fraturas de crânio, porém, de maneira
geral, elas podem ser lineares, uma vez que mesmo sem provocar acometimento do encéfalo podem
ser acompanhadas de rupturas de vasos levando a complicações. Quando associadas ao afundamento
de crânio com ruptura da dura-máter, haverá o risco de evolução para fístula liquórica e infecção
dos tecidos.
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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Quando a coleção de sangue está alojada no espaço entre a dura-máter e a calota craniana (espaço
epidural), temos o hematoma epidural, figura a seguir, sendo resultado de ruptura de vasos localizados
nesse espaço e é comum estar associado a fraturas cranianas.
A) B)
C) D)
No hematoma subdural agudo (HSDA), presente na figura a seguir, a principal causa é a ruptura de
veias corticomeníngeas devido aos movimentos de aceleração-desaceleração da cabeça. Nem sempre há
a associação com fraturas cranianas. O sangue no espaço subdural, além de efeito compressivo, poderá
provocar a excitoxidade celular.
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Diante de tração e ruptura de vasos profundos que penetram o tecido cerebral, há o hematoma
intraparenquimatoso, em que além da compressão tecidual haverá o efeito tóxico do sangue sobre
os neurônios.
A hipertensão intracraniana (HIC) corresponde a uma das principais causas de óbito após o TCE. No
TCE, a HIC é considerada uma forma de lesão secundária, resultado geralmente do desequilíbrio entre
os componentes de sangue, liquor e parênquima cerebral. Além disso, com o TCE é ativada uma cascata
de eventos celulares metabólicos e inflamatórios, os quais podem favorecer o edema cerebral, que por
sua vez provoca mais elevação da HIC e que irá colaborar para o agravamento do quadro neurológico
do paciente (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
As contusões e as lacerações cerebrais são outros exemplos de lesão primária observados no TCE.
As regiões mais suscetíveis ao desenvolvimento da contusão cerebral após o TCE são a base do lobo
frontal, temporal e a região da foice (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
O paciente com TCE será submetido a uma avaliação neurológica inicial baseada nos danos
neurológicos presentes. Com frequência precisará de procedimentos específicos para a estabilização
clínica hemodinâmica e respiratória. Outra função neurológica a ser avaliada é o nível de consciência
(MENDES et al., 2012).
A avaliação do nível de consciência exige uma observação atenta dos seguintes itens:
• nível de consciência;
• padrão respiratório;
Nível de consciência
É utilizada, na maioria dos grandes centros hospitalares, a escala de coma de Glasgow (ECGI), que
desde 1974 oferece uma avaliação sucinta e confiável do nível de consciência. Ela foi desenvolvida
por Teasdale e Jennett, na Universidade de Glasgow em 1974, e possui como objetivo padronizar as
observações clínicas de pacientes adultos com TCE grave e com alterações da consciência (OLIVEIRA;
PEREIRA; FREITAS, 2014).
De modo geral, a ECGI utiliza estímulos verbais e dolorosos para a observação das respostas motoras,
verbais e oculares nos pacientes com TCE (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Na aplicação da escala, a melhor resposta para cada item é pontuada. Os pontos dos três itens
observados são somados, sendo a pontuação mínima 3 e a máxima 15.
Espontânea: 4
Ao comando verbal: 3
Abertura ocular
À dor: 2
Ausente: 1
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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Obedece a comando: 6
Localização da dor: 5
Flexão inespecífica (retirada): 4
Resposta motora
Flexão hipertônica: 3
Extensão hipertônica: 2
Sem resposta: 1
Orientado e conversando: 5
Desorientado e conversando: 4
Resposta verbal Palavras inapropriadas: 3
Sons incompreensíveis: 2
Sem resposta: 1
Em 2018, houve uma modificação na escala de coma de Glasgow, com a inclusão da observação do
comportamento da pupila. A escala modificada varia de 1 a 15 pontos. Sendo a pontuação da resposta
pupilar subtraída do total encontrado (quadro a seguir).
Espontânea: 4
Ao comando verbal: 3
Abertura ocular
À dor: 2
Ausente: 1
Obedece a comando: 6
Localização da dor: 5
Flexão inespecífica (retirada): 4
Resposta motora
Flexão hipertônica: 3
Extensão hipertônica: 2
Sem resposta: 1
Orientado e conversando: 5
Desorientado e conversando: 4
Resposta verbal Palavras inapropriadas: 3
Sons incompreensíveis: 2
Sem resposta: 1
Nenhuma: 2
Resposta pupilar Apenas uma reage ao estímulo luminoso: 1
Reação bilateral ao estímulo luminoso: 0
Padrão pupilar
Os reflexos pupilares à luz são testados em cada pupila individual para observar o reflexo fotomotor,
que geralmente está comprometido nas herniações e lesões do tronco cerebral, então sua alteração
indica lesão estrutural nessa região (CLAUDINO-SUKYS, 2015).
É importante ressaltar que para uma avaliação e interpretação adequadas, o médico deverá
verificar a medicação do paciente, uma vez que vários tipos de drogas podem interferir no padrão de
resposta pupilar.
Pupilas Definição
Midriáticas Pupilas dilatadas
Mióticas Pupilas contraídas
Isocóricas Pupilas simétricas e reagentes à luz
Anisocóricas Pupilas assimétricas
Puntiformes Sugerem lesão simpática no hipotálamo ou encefalopatia metabólica
Médio-fixas Reflexo fotomotor ausente, sugestão de lesão estrutural no mesencéfalo
Motricidade ocular
A motricidade extrínseca ocular é realizada por músculos inervados pelos nervos oculomotor (III par
nervo craniano), troclear (IV par nervo craniano) e abducente (VI par nervo craniano), cujos núcleos
estão localizados no tronco encefálico. Assim, sua avaliação auxilia na identificação de lesões no tronco
encefálico, próximas ao mesencéfalo e à ponte. Essa avaliação não será possível diante de casos de
coma, devido à redução de respostas aos estímulos do paciente (MENDES et al., 2012).
• desvio do olhar;
• movimentos reflexos.
De acordo com Mendes et al. (2012), os desvios do olhar podem ser conjugados ou desconjugados.
Os desvios conjugados do olhar lateral são geralmente resultados de lesões entre o córtex e a formação
reticular parapontina. Já os desvios desconjugados laterais sugerem lesões do nervo oculomotor,
abducente ou por causas intrínsecas do tronco cerebral. Alterações no olhar vertical são menos
frequentes em pacientes em coma. O desvio dos olhos para baixo pode indicar lesões no mesencéfalo
ou coma metabólico.
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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
A avaliação dos movimentos oculares espontâneos permite observar a integridade das vias
oculomotoras, enquanto que os movimentos reflexos são verificados através das respostas
oculocefálicas e oculovestibular (MENDES et al., 2012).
Com a integridade do tronco encefálico haverá o movimento conjugado dos olhos para o lado
oposto ao do movimento da cabeça (MENDES et al., 2012).
Para a pesquisa dos reflexos oculovestibulares, é aplicada a prova calórica, através de uma injeção
de 50 mL a 200 mL de água gelada nos condutos auditivos externos do paciente. Para o teste, o paciente
deve estar posicionado no leito com uma elevação do tronco em torno de 30°. No paciente consciente
será observado nistagmo com batimento rápido para o lado oposto do ouvido estimulado, sugerindo
uma causa psicogênica para o coma (MENDES et al., 2012).
Padrão respiratório
A formação reticular do bulbo é o local do centro de controle respiratório, porém há a ação integrada
com outras áreas como o córtex cerebral, o sistema límbico (hipotálamo e septo) e o cerebelo, que
também influenciam no padrão respiratório em resposta a estímulos visuais, emocionais, dolorosos ou
a movimentos voluntários.
No corpo carotídeo e bifurcação das artérias carótidas, há quimiorreceptores sensíveis aos níveis
de oxigênio, dióxido de carbono e pH do sangue arterial, cujos impulsos são conduzidos ao centro
respiratório pelos respectivos nervos cranianos glossofaríngeo e vago.
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Unidade II
Através do comando verbal, o médico solicita ao paciente consciente que realize movimentos ativos
e resistidos bilateralmente. Diante de casos em que o paciente se encontrar inconsciente, a contração
muscular poderá ser observada através de estimulação dolorosa.
Os locais para essa estimulação geralmente incluem o supraorbitário (margem medial das órbitas) e
leito ungueal nos membros. Pode-se também comprimir o osso esterno para estímulos mais vigorosos
e deve-se evitar a compressão dos mamilos, uma vez que não oferece vantagem semiológica (BERTOLUCCI
et al., 2016).
Assimetrias entre os hemicorpos, como uma hemiparesia, podem sugerir uma lesão expansiva
intracraniana contralateral ao comprometimento motor.
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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Essa classificação é necessária por possibilitar a adoção de medidas terapêuticas adequadas, além de
permitir uma visão de prognóstico clínico do paciente pós-TCE.
Observação
5.1.5 Tratamento
Para Nitrini e Bacheschi (2015), o objetivo principal da abordagem médica para o TCE é a adoção
de procedimentos específicos visando à proteção cerebral, que poderá incluir a oxigenação adequada,
sedação e tratamento para a hipertensão intracraniana.
Além disso, a prevenção de processos como hipóxia, distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos está
relacionada com o óbito do paciente.
O tratamento da HIC envolve múltiplas medidas terapêuticas, nas quais o fisioterapeuta pode
contribuir através do posicionamento do paciente com a monitorização para a hipertensão intracraniana,
que consiste na manutenção do decúbito dorsal, associado a uma elevação de 30° do tronco superior,
e a cabeça deverá estar em posição neutra, para evitar compressões vasculares ao nível do pescoço que
possam dificultar o retorno venoso. Além do posicionamento, a aspiração das vias aéreas irá colaborar
para o controle da HIC. (A abordagem fisioterapêutica junto ao paciente com história de TCE será
discutida detalhadamente na unidade III deste livro-texto.)
A intervenção cirúrgica nos pacientes com TCE se faz necessária diante da maioria das lesões
focais como os hematomas cerebrais, bem como em contusões e lacerações corticais, devido à elevada
probabilidade do desenvolvimento de efeito compressivo sobre as estruturas cerebrais.
Diante das lesões difusas, a monitorização da pressão intracraniana (PIC) se faz necessária nos casos
graves de TCE, além das medidas terapêuticas específicas de uma unidade de terapia intensiva como
a sedação, eventualmente uso de barbitúricos e em casos de hipotermia (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
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Unidade II
Para a monitorização da PIC, é utilizado o cateter ventricular, que além de possibilitar a drenagem
de liquor, oferece uma análise sobre a necessidade de derivações ventrículo-peritoniais e da pressão de
perfusão cerebral (PPC). Outros locais podem ser utilizados para o posicionamento do cateter, como no
espaço subdural ou diretamente no tecido cerebral (figura a seguir), porém é orientado que o paciente
permaneça com o cateter, no máximo, durante 5 dias, devido ao risco de infecção.
Ventriculostomia Intraparenquimatoso
Subdural
Pele
Osso
Dura
Subdural
Aracnoide
Ventrículo
lateral
De maneira geral, diante da LAD, os pacientes deverão ser submetidos à terapia de suporte em
unidade de terapia intensiva e monitorização da PIC.
O estado de coma pode ser compreendido como uma alteração na excitabilidade de neurônios
corticais associada ao comprometimento do alerta comportamental. Os termos estupor e coma são
estados clínicos caracterizados pelo comprometimento do nível de consciência e redução de respostas
diante de estímulos externos.
Os parâmetros utilizados pelos médicos estão fundamentados pela resolução do Conselho Federal de
Medicina de 1997. Uma vez constatada e documentada a morte encefálica, caberá ao responsável pelo
centro hospitalar a comunicação aos responsáveis pelo paciente e à Central de Notificação, Captação e
Distribuição de Órgãos (CNCDO) (CLAUDINO-SUKYS, 2015).
Durante muitos anos a situação clínica vinculada à lesão na medula espinal esteve associada
diretamente ao conceito de morte. Foi a partir da utilização de antibióticos e técnicas cirúrgicas mais
desenvolvidas que aconteceu uma mudança nessa visão, porém ao mesmo tempo um novo desafio
surgiu com relação à necessidade de programas de reabilitação para as pessoas com histórico de lesão
medular; sobretudo no período após a Segunda Guerra Mundial, em que milhares de soldados jovens
retornaram para casa com sequelas de traumatismo raquimedular (NEVES; JESUS, 2007).
A medula espinal é um dos componentes do sistema nervoso central (SNC) e suas funções são
complexas, envolvendo aspectos sensoriais, motores e autonômicos. Embora possa ser comparada a
uma porta de entrada de informações sensoriais, através das vias aferentes, da periferia (ossos, pele,
músculos e vísceras) para o SNC, sua organização interna possibilita a geração de comportamentos
motores reflexos.
O conhecimento sobre anatomia e fisiologia da medula espinal permite a compreensão das variáveis
que irão determinar o quadro clínico do indivíduo com lesão medular.
Então vamos recordar, de forma geral, os principais aspectos anatômicos da medula espinal.
A medula espinal está localizada no interior do canal vertebral estendendo-se até a vértebra lombar L2,
onde dá origem à cauda equina e suas raízes nervosas.
De acordo com a relação com as regiões da coluna vertebral, é dividida nos segmentos cervical,
torácico, lombar e sacral. Dos forames intervertebrais são originados os 31 pares de nervos espinais
(figura a seguir), sendo estes mistos, isto é, compostos de fibras nervosas sensitivas, motoras
e autonômicas.
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Unidade II
Raiz sensorial
Gânglio da
raiz dorsal Tronco cerebral
Medula espinal
Coluna vertebral
Disco vertebral
Cauda equina
Vértebra
Medula
espinal
Ao longo de toda superfície possui os sulcos longitudinais: sulco mediano posterior, fissura mediana
anterior, sulcos laterais anterior e posterior. Na região da cervical ainda é possível observar o sulco
intermediário posterior. A presença desses sulcos é utilizada como referência para classificar a substância
branca em funículos anterior, lateral e posterior. Ao longo dos funículos, há a passagem de vias ou
tratos ascendentes e descendentes que conectam os neurônios medulares aos encefálicos (MACHADO;
HAERTEL, 2000).
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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Pequenos filamentos radiculares originados dos sulcos laterais anterior e posterior se unem para
a formação das raízes ventral ou anterior (motoras) e dorsal ou posterior (sensitivas) (MACHADO;
HAERTEL, 2000).
Os nervos espinais resultam da junção das raízes nervosas ventral e dorsal. A conexão com os nervos
espinais caracteriza a segmentação da medula espinal. São 31 pares de nervos espinais, sendo oito
cervicais, doze torácicos, cinco lombares, cinco sacrais e um coccígeo. Vale lembrar que o primeiro par
cervical (C1) emerge acima da primeira vértebra cervical, e o oitavo par (C8) emerge abaixo da sétima
vértebra. O mesmo ocorre com os nervos espinais localizados abaixo de C8, que se originam, de cada
lado, sempre abaixo da vértebra correspondente (MACHADO; HAERTEL, 2000).
Lembrete
As raízes nervosas que conduzem informações sensoriais chegam pela coluna dorsal da medula
espinal. A denominação das raízes é baseada no forame através do qual entram ou saem da coluna
vertebral. A raiz que recebe informações sensitivas das áreas da pele é chamada de dermátomo. O
mesmo ocorre diante da raiz que inerva um grupo de músculos, o miótomo. Enquanto um dermátomo
representa uma discreta área da pele, a maioria dos músculos é inervada por mais de uma raiz (MACHADO;
HAERTEL, 2000).
Com relação à substância cinzenta medular, está localizada na parte interna e se apresenta na forma
de “H”. Também é dividida em coluna anterior, lateral e posterior. Importante recordar que na substância
branca estão localizados os axônios mielinizados, e na substância cinzenta, os corpos dos neurônios
distribuídos em núcleos.
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Unidade II
O cone medular é a porção final da medula espinal e está localizado no nível da vértebra lombar L2,
onde também ocorre a formação da cauda equina, conjunto de raízes nervosas responsáveis pela
inervação da cintura pélvica e dos membros inferiores.
Embora as causas da lesão medular sejam variadas, são aquelas associadas aos traumas da coluna
vertebral as mais frequentes.
Para Bertolucci et al. (2011), os traumas raquimedulares são resultados da ação de forças traumáticas
agudas que promovem carga excessiva sobre as estruturas ósseas, ligamentares e podem causar lesão
neurológica medular ou radicular.
Qualquer região da coluna vertebral pode ser sede de lesão, porém são a coluna cervical e em seguida
a toracolombar (T11, T12, L1 e L2) as mais suscetíveis, uma vez que do ponto de vista biomecânico
possuem maior grau de mobilidade (BERTOLUCCI et al., 2011).
Epidemiologia
O trauma raquimedular (TRM) ocorre mais na população jovem, compreendendo a faixa etária entre
15 e 30 anos, sendo mais comum no sexo masculino, e as causas mais relevantes incluem os acidentes
automobilísticos, quedas de altura, violência urbana e mergulho.
Nos Estados Unidos, a incidência anual foi estimada entre 4 e 5,3 a cada 100 mil habitantes. Além
disso, há relevância para o impacto econômico gerado após um TRM, sendo a hospitalização de um
paciente tetraplégico aproximada em 100 mil dólares e a reabilitação em 75 mil dólares (BERTOLUCCI
et al., 2011).
No Brasil, a incidência dessa lesão na medula espinal não é totalmente conhecida, mas é estimada a
ocorrência anual de mais de 10 mil novos casos (CAMPOS et al., 2008).
No estudo sobre epidemiologia do TRM, Campos et al. (2008) relatam como principal causa queda
geral (40%), seguida por acidentes automobilísticos (25%), quedas da laje (23%), ferimentos por arma
de fogo (7%), mergulhos em água rasa (3%) e agressões (2%). Os indivíduos mais propensos ao TRM
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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
também foram homens (86%). Porém aponta tendência crescente de aumento da lesão em mulheres,
sendo estas mais propensas à lesão cervical.
Fisiopatologia
Uma vez lesado, o sistema nervoso central (SNC) tenta recuperar suas funções, sendo estas
dependentes da reorganização dos circuitos neurais intactos. Mecanismos plásticos envolvidos
com a formação de novas conexões e ativação de células preexistentes são descritos. No SNC, em
especial na medula espinal, tais mecanismos são menos conhecidos e eficientes (DEL BEL; SILVA;
MLADINIC, 2009).
De maneira geral, esse período agudo tem duração de 4 a 6 semanas, com o seu término há o
desenvolvimento da espasticidade e de reflexos patológicos devido à perda do controle supraespinal
(DEL BEL; SILVA; MLADINIC, 2009).
De maneira didática, o TRM pode ser subdividido em lesão primária e secundária. A lesão primária
combina os fatores de impacto e compressão causados pela ruptura de disco intervertebral, fragmentos
ósseos e fraturas com deslocamento, ou impacto associado à compressão transitória (hiperextensão,
distensões ocasionadas por forças relacionadas à flexão, extensão, rotação), que compromete o fluxo
sanguíneo e pode gerar laceração ou até mesmo transecção (DEL BEL; SILVA; MLADINIC, 2009).
Entre essas alterações devem ser citadas mudanças no fluxo sanguíneo e isquemia, edema, acúmulo
de cálcio intracelular e de potássio no espaço extracelular, formação de radicais livres, liberação de
glutamato e aspartato, migração de células inflamatórias, ativação da micróglia e presença de fatores
inibitórios (DEL BEL; SILVA; MLADINIC, 2009).
Ainda é possível que neurônios distantes do local da lesão traumática possam sofrer axotomia,
absorvendo assim os efeitos da lesão secundária e evoluindo para atrofia e morte.
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Unidade II
O prognóstico da lesão medular dependerá, portanto, dos efeitos da lesão secundária, bem
como do tipo e intensidade do acometimento medular. Um dos fatores limitantes para o processo
de regeneração no SNC é a cavitação, também denominada siringomielia, que surge após os
eventos da lesão secundária na medula espinal.
A lesão primária ativa eventos locais como inflamação vascular, além da excitocidade, que agravam
a lesão primária mecânica. Além da necrose secundária, pode ocorrer apoptose causada tanto pela
isquemia como pelo trauma (DEL BEL; SILVA; MLADINIC, 2009).
Ainda não há terapia ou fármacos que consigam curar a lesão medular, sendo necessária a
adoção de métodos eficientes que garantam possibilidades de regeneração dos neurônios e axônios
medulares lesados, principalmente drogas que reduzam os efeitos da lesão secundária. Uma utilizada é a
glicocorticoide metilprednisolona, que pelo seu efeito anti-inflamatório, se for aplicada imediatamente
após a lesão, auxilia na melhora no déficit sensório-motor dos pacientes (DEL BEL; SILVA; MLADINIC, 2009).
Avaliação clínica
A imobilização poderá ser retirada com segurança somente após a confirmação de exames de
imagem radiológicas e complementares. No hospital, os pacientes são inicialmente abordados como
politraumatizados, sendo enfatizados os cuidados para estabilização hemodinâmica, além do trauma da
coluna vertebral.
No exame físico, quando há fratura de vértebra, porém sem acometimento medular, o paciente
refere dor local, com possibilidade de irradiação para os membros, incapacidade funcional e
espasmo muscular adjacente. Nos casos de acometimento medular, pode ser observada respiração
diafragmática, ausência de resposta ao estímulo doloroso e movimento voluntário, alteração no
controle de esfíncter. Ainda pode ocorrer queda da pressão arterial associada à bradicardia (choque
neurogênico) (DEFINO, 1999).
Ainda na avaliação da sensibilidade, observa-se a distribuição dos dermátomos, podendo ser utilizada
a relação com algumas regiões como a dos mamilos (T4), processo xifoide (T7), umbigo (T10), região
inguinal (T12-L1) e região perineal (S2-S3-S4).
Com relação à função motora, são recrutados os miótomos (quadro a seguir) para observação da
integridade do trato corticoespinal, sendo aplicado o teste de força muscular, segundo Kendall, Kendall
e Wadsworth (1979), cuja força pode variar de zero a cinco (quadro 23).
Quadro 22 – Miótomos
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Unidade II
• bicipital (C5);
• braquiorradial (C6);
• tricipital (C7);
• patelar (L4);
• aquileo (S1).
Para os reflexos superficiais, os que são observados envolvem os abdominais e os cremastéricos, cuja
resposta positiva indica integridade do neurônio motor superior. A ausência dessas respostas sugere
lesão do neurônio motor superior e a perda assimétrica está relacionada à lesão do neurônio motor
inferior (DEFINO, 1999).
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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Para a classificação da lesão medular, podem ser utilizados diferentes critérios, sendo essa
classificação necessária para a compreensão dos diferentes quadros clínicos possíveis dos pacientes
com lesão medular.
O quadro clínico do paciente com lesão medular dependerá das variáveis: nível, tempo e tipo
(grau) de lesão.
Dependendo da localização da lesão medular em relação às porções da coluna vertebral, pode ser
dita cervical, torácica, lombar e sacral.
O tempo da lesão caracterizado como agudo é denominado choque medular, que tem instalação
imediata após a lesão traumática e pode durar entre 4 e 6 semanas. Durante esse período o paciente
apresenta uma ausência das respostas motoras, sensitivas e autonômicas, inclusive as de natureza
reflexa. Essa ausência de respostas pode ser explicada pelo processo inflamatório e principalmente pelo
edema, efeito da lesão secundária.
À medida que o edema é absorvido, a atividade neural passa a retornar e então o quadro clínico
é modificado, sendo possível a partir desse momento a classificação da lesão medular em completa
ou incompleta.
Com relação ao tipo ou grau, a lesão medular pode ser dita completa (total) ou incompleta (parcial).
Na lesão medular completa há perda total da sensibilidade e motricidade abaixo do nível da lesão,
sendo possível a presença de alguns reflexos medulares, como o reflexo de retirada, extensão cruzada
e reflexos tendíneos. Na lesão incompleta, após o período de choque medular, dependendo do local da
lesão na medula espinal poderá ocorrer retorno da sensibilidade e/ou motricidade, o que dará origem
às síndromes medulares.
Síndromes medulares
109
Unidade II
Síndrome de Brown-Séquard
Trato corticoespinal
A síndrome medular central é uma condição clínica específica da região central da medula cervical,
resultado de processos degenerativos ósseos dessa região. Nessa lesão, há comprometimento motor de
membros superiores e preservação dos reflexos miccionais.
110
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Outra forma de síndrome medular é a posterior, caracterizada pela lesão do funículo posterior,
causando perda da propriocepção e preservação da função motora, sensitiva dolorosa e tátil. Porém,
devido à ausência da propriocepção, haverá prejuízo da coordenação e do equilíbrio, sobretudo durante
a marcha (ataxia sensitiva).
A lesão da medula espinal no nível sacral, geralmente no nível ósseo de T12-L1, é denominada
síndrome do cone medular e resulta em incontinência fecal, vesical e alteração da função sexual. A
sensibilidade está alterada nos 3 a 4 segmentos sacrais distais e segmentos coccígeos (anestesia em
cela), e o reflexo cavernoso encontra-se ausente (DEFINO, 1999).
O acometimento das raízes nervosas da cauda equina é denominado síndrome da cauda equina,
que com frequência está associada a fraturas distais de L1-L2. O quadro clínico será dependente da raiz
nervosa acometida, sendo observada paresia do membro inferior, arreflexia, distúrbio da sensibilidade e
incontinência fecal e vesical (DEFINO, 1999).
Do ponto de vista funcional, a lesão medular poderá gerar uma tetraplegia ou paraplegia.
A tetraplegia é caracterizada clinicamente pela perda da motricidade e/ou sensibilidade dos quatro
membros e tronco devido à lesão nos segmentos cervicais e início da torácica (T1). A paraplegia é
resultado de lesão a partir de T2, e o paciente perde a motricidade e/ou a sensibilidade dos segmentos
torácicos em direção aos membros inferiores.
Tanto a tetra como a paraplegia associadas à lesão medular, excluem-se situações clínicas
envolvendo lesões dos plexos braquial e lombossacral e dos nervos periféricos (DEFINO, 1999).
111
Unidade II
Defino (1999) explica que a avaliação do TRM pela ASIA é baseada na observação da sensibilidade
e da função motora, e posteriormente é determinado o nível neurológico da lesão, nível motor e
sensitivo, obtidos através de números que fornecem um escore. A avaliação da sensibilidade profunda,
propriocepção e dor profunda comportam em avaliação opcional, mas que podem oferecer informações
clínicas importantes.
A avaliação da sensibilidade tátil e dolorosa é feita pela inspeção dos 28 dermátomos bilateralmente,
atribuindo-se valores numéricos: 0-ausente, 1-alterada, 2-normal e NT (não testada), diante da
impossibilidade de avaliação do dermátomo. Com relação ao esfíncter anal externo, pode ser testado
através da introdução do dedo do examinador no orifício anal, para determinação de lesão completa ou
incompleta (DEFINO, 1999).
Para avaliação da função motora, são testados o grau de força muscular para os denominados
músculos-chave, segundo padronização da ASIA. O músculo-chave é aquele agonista principal para
uma atividade funcional. O quadro aponta os músculos-chave determinados pela ASIA e que devem
112
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
ser pesquisados bilateralmente. Para a integridade do nível medular do respectivo músculo-chave, sua
força deve ser no mínimo igual a 3.
Músculos Miótomos
Flexores do cotovelo C5
Flexores de punho C6
Extensores de cotovelo C7
Flexores do quadril L2
Flexores de joelho L3
Dorsiflexores do tornozelo L4
Após as avaliações, é dada a somatória dos diferentes valores referentes à força muscular,
sensibilidade tátil e dolorosa, cujo valor máximo é 100 para avaliação motora e 112 para a sensitiva
(DEFINO, 1999).
Com relação à observação da deficiência, a ASIA modificou a escala de Frankel et al. (1969), que
consiste em 5 graus de incapacidade, conforme é possível verificar no quadro.
113
Unidade II
É importante ressaltar que a classificação neurológica da lesão medular pode ser alterada durante
a fase de recuperação, em especial com o término da fase de choque medular (fase aguda da lesão).
Então torna-se necessário o acompanhamento contínuo do quadro clínico do paciente durante essa
evolução, sendo possível a evolução de uma lesão completa, na fase aguda, para um quadro de lesão
incompleta (NEVES; JESUS, 2007).
Observação
114
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Em especial, as vértebras cervicais devem ser observadas de maneira detalhada, assim também como
a transição toracolombar, regiões mais suscetíveis de TRM.
5.2.6 Tratamento
O ideal da abordagem terapêutica ao paciente com TRM é que seja iniciada, se possível, no local do
acidente, onde deverá ser enfatizada a imobilização e o transporte adequado do indivíduo de maneira a
evitar lesões adicionais ou aumentar as já instaladas. Não é raro a instalação da lesão na medula ocorrer
de forma definitiva durante o socorro do paciente por pessoas não informadas sobre a adequação
desses procedimentos.
Conforme descrito anteriormente, a coluna cervical deve ser prioridade, principalmente para
os pacientes politraumatizados, cuja imobilização poderá somente ser retirada no hospital, após
confirmação da ausência de lesão (DEFINO, 1999).
Segundo Defino (1999), a utilização de metilprednisolona no período de até 8 horas após a lesão
possibilita melhora neurológica significativa, devido a sua ação para reduzir o edema (DEFINO, 1999).
A intervenção sobre a lesão objetivará, de forma geral, preservação da medula espinal, restauração do
alinhamento da coluna vertebral, estabilização do segmento vertebral lesado, prevenção de complicações
gerais e locais, desde que o paciente esteja estável, caso contrário, será realizada a tração da coluna
vertebral (DEFINO, 1999).
115
Unidade II
Saiba mais
Sua biografia, intitulada Ainda sou eu, é uma verdadeira aula sobre
lesão medular e suas repercussões clínicas, físicas e psicológicas, além de
ser uma lição de vida. Christopher Reeve morreu em 2004, devido a uma
parada cardíaca, aos 52 anos.
116
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
A definição anatômica dos núcleos ou gânglios da base engloba um conjunto de núcleos localizados
entre o diencéfalo e o tronco cerebral, e que devido a sua relação com a função motora, durante muito
tempo, esteve associado à terminologia sistema extrapiramidal.
Esse termo foi introduzido por Samuel Alexander Kinnier Wilson, e o critério para sua utilização
era diferenciar estruturas anatômicas com função motora que não incluísse o sistema piramidal.
Vale lembrar que este é composto, principalmente, de trato corticoespinal, que na região do bulbo
(pirâmides) ocorre a decussação de suas fibras em relação à linha média. Esse comportamento justifica
o princípio da neuroanatomia sobre a motricidade voluntária que é cruzada, isto é, os movimentos
voluntários planejados no hemisfério cerebral direito sendo realizados por músculos localizados no
hemicorpo esquerdo.
Porém, com a evolução do conhecimento da neurociência, essa terminologia entre esses dois
sistemas não é mais utilizada, uma vez que os estudos atuais mostram a existência de integração
funcional entre as estruturas anatômicas que compõem os sistemas.
Com relação aos distúrbios de movimento gerados pela lesão dos gânglios da base, há um grupo
diversificado e que pode ser observado na classificação a seguir (NITRINI; BACHESCHI, 2015, p. 232):
• parkinsonismo;
• coreia;
• balismo;
• distonia;
• atetose;
• tique;
• tremor;
• estereotipia;
• ataxia;
• mioclonia;
117
Unidade II
Distúrbios de movimento são caracterizados como pobreza ou lentidão dos movimentos voluntários
na ausência de paresia ou plegia, ou por atividade involuntária representada pelas hipercinesias.
Para entendermos esses distúrbios, vamos relembrar os principais aspectos da anatomia e fisiologia
dos gânglios da base.
A anatomia e fisiologia dos gânglios da base é muito complexa. Essa complexidade contribui para a
dificuldade na compreensão de processos fisiopatológicos de doenças extrapiramidais, como a doença
de Parkinson e coreia de Huntington.
Do ponto de vista anatômico, os gânglios da base compõem: núcleo lentiforme (putâmen e globo
pálido), núcleo caudado, substância negra (pars compacta e pars reticulata) e núcleo subtalâmico de
Luys. O conjunto funcional composto dos núcleos caudado e putâmen recebe o nome de estriado
ou neoestriado.
O globo pálido é composto de dois segmentos: interno (medial) e externo (lateral). Esses núcleos
formam um complexo funcional de redes neurais entre si e com as áreas motoras corticais (NITRINI;
BACHESCHI, 2015).
A principal via de entrada das informações (originadas no córtex motor e em áreas associativas)
destinadas aos gânglios da base é através do estriado. Essas aferências possuem ação excitatória sobre
o estriado, e o neurotransmissor presente é o glutamato.
No estriado, parte dessas aferências se dirige para o núcleo caudado, enquanto aquelas originadas
no córtex sensório motor se dirigem para o putâmen.
Além do córtex cerebral, a substância negra (pars compacta) envia informações aferentes ao estriado,
sendo a dopamina o neurotransmissor liberado. As aferências da substância negra atuam sobre os
receptores dopaminérgicos de tipo D, inibem neurônios estriatais, que se projetam para o globo pálido
externo (primeira estação de via indireta), e assim excitam neurônios estriatais, que, por uma via direta,
se destinam ao complexo pálido interno/substância negra pars reticulata (corresponde à via de saída dos
gânglios da base) (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
118
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Se o estriado é o ponto de entrada de informações que chegam aos gânglios da base, o segmento
interno do globo pálido e a pars reticulata da substância negra constituem a via de saída do sistema.
Entre as vias de entrada e saída dos gânglios da base há duas internas: a via direta e a via indireta.
A primeira recebe esse nome porque praticamente une a via de entrada a de saída. Já a via indireta
possui estações intermediárias com o pálido externo e o núcleo subtalâmico de Luys antes de chegar à
via de saída (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
As eferências do segmento externo do globo pálido são inibitórias, mediadas pelo GABA, e se dirigem
ao núcleo subtalâmico de Luys, que, por sua vez, envia neurônios excitatórios glutamatérgicos para o
segmento interno do globo pálido e a substância negra (pars reticulata).
As principais eferências dos gânglios da base se encaminham para as áreas motoras do córtex
cerebral, principalmente para as áreas pré-motora, motora suplementar e motora primária. Porém,
antes de chegarem ao córtex, elas projetam-se sobre o tálamo (núcleos talâmicos ventral lateral e
ventral anterior).
As vias que saem do pálido interno/substância negra (pars reticulata) que se dirigem para o
tálamo são inibitórias (mediadas pelo GABA), e as que formam a via tálamo-cortical são excitatórias
(neurotransmissor glutamato) (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
A descrição geral das conexões externas e internas dos gânglios da base confirma sua complexidade
neural e funcional. As funções dos gânglios da base ainda não são totalmente conhecidas, mas além
da associação com o controle motor, suas demais conexões sugerem que estejam envolvidos na função
cognitiva e no comportamento emocional.
As lesões dos gânglios da base (GB) ocasionam dois tipos de síndromes extrapiramidais: as
hipocinéticas (representadas principalmente pelo parkinsonismo) e as hipercinéticas (caracterizadas
por movimentos involuntários como balismo e coreia).
Essas síndromes são resultado do desequilíbrio no funcionamento interno dos GB, envolvendo as
vias direta e indireta.
119
Unidade II
No caso do parkinsonismo, acredita-se que haja uma disfunção da via dopaminérgica nigroestriatal,
o qual irá gerar uma redução da atividade inibitória sobre a via indireta e da atividade excitatória sobre
a via direta. Além disso, com a progressão da doença, os neurônios degeneram e há o desenvolvimento
de corpos citoplasmáticos presentes na substância negra, denominados corpos de Lewy (SOUZA
et al., 2011).
Com isso, ocorrerá o aumento da atividade excitatória do núcleo subtalâmico sobre a via de saída
(pálido interno/substância negra pars reticulata). Por outro lado, haverá redução da atividade inibitória
da via direta sobre os núcleos de saída. O resultado global será o predomínio de atividade inibitória desses
núcleos sobre o tálamo, e dessa forma, diminuição da estimulação cortical das vias tálamocorticais,
resultando em redução da iniciativa motora, denominada bradicinesia, um dos principais sintomas dos
pacientes com doença de Parkinson (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Na unidade III, veremos que a bradicinesia é uma das principais causas das limitações funcionais
desses pacientes. Assim, mesmo com a complexidade do funcionamento dessas vias, é importante para
o fisioterapeuta seu conhecimento geral, para dessa forma conseguir elaborar estratégias adequadas
de tratamento.
Nas síndromes hipercinéticas, como balismo e coreia, devido às alterações estriatais dos
neurônios que liberam GABA + encefalina, há uma redução da inibição do estriado sobre o pálido
externo (via indireta). Assim, haverá o predomínio da atividade inibitória do pálido externo sobre o
núcleo subtalâmico de Luys, e, assim, redução da atividade excitatória exercida por essa estrutura na via
de saída dos GB.
Embora as lesões dos GB sejam responsáveis por diferentes tipos de distúrbios de movimento, vamos
abordar as formas mais frequentes na prática clínica do fisioterapeuta neurofuncional.
Esse termo é equivalente a parkinsonismo, e corresponde a várias situações clínicas com diferentes
etiologias, sendo a forma mais comum a doença de Parkinson (DP).
Souza et al. (2011) relatam que a DP engloba seis estágios, de acordo com o envolvimento de
estruturas anatômicas:
120
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
A DP é uma das formas mais frequentes de acometimento da função motora no sistema nervoso
central. Sua prevalência varia entre 50 e 150 casos por 100 mil pessoas; entretanto, quando é
considerada a população acima de 60 anos, é acompanhada pelo aumento em cerca de dez vezes,
equivalendo a 1% dos indivíduos (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Souza et al. (2011) relatam que a prevalência em pessoas com idade entre 60 e 69 anos é de
700/100.000. No entanto, 10% dos pacientes possuem menos de 50 anos e 5% têm menos de 40 anos.
Além disso, 36 mil novos casos surgem a cada ano no país.
Assim, é uma doença universal, com elevada prevalência, sendo no mundo inteiro mais de dez milhões
de portadores.
Quadro clínico
Barbosa e Sallem (2005) afirmam que além da manifestação motora, a DP pode apresentar distúrbios
do sistema nervoso autônomo, alterações do sono, de memória e depressão.
Do ponto de vista social, as pessoas associam a DP ao sintoma do tremor, porém estudos mostram
que é a somação da acinesia com a rigidez que responde pelas limitações funcionais que a doença
acarretará à vida do portador.
121
Unidade II
A acinesia pode ser definida como uma pobreza de movimentos e lentidão para iniciar e executar
atos motores voluntários e automáticos. Esse distúrbio é observado principalmente na dificuldade
progressiva de realização das trocas posturais, das atividades de vida diária e durante a marcha.
Para Nitrini e Bacheschi (2015), o termo bradicinesia ou oligocinesia refere-se mais especificamente
à lentidão na execução de movimentos. A hipocinesia está associada à pobreza de movimentos
observada pela diminuição da expressão facial (hipomimia), da expressão gestual corporal, incluindo a
mobilidade de tronco e dissociação de membros durante a marcha, da deglutição automática da saliva,
o que ocasionará o seu acúmulo, e a perda pela comissura labial (sialorreia).
A acinesia também pode ser súbita, sendo denominada congelamento ou freezing, ou seja, uma
perda abrupta da capacidade de iniciar ou sustentar uma atividade motora específica, mantendo-se
as demais inalteradas. É comum durante a realização da marcha, em que o paciente pode apresentar
hesitação para iniciar ou determinar uma frenação súbita dos membros inferiores, o que favorecerá a
ocorrência de quedas.
O paciente deve ser orientado que determinados estímulos sensoriais ou motores podem auxiliar na
melhora da acinesia súbita, sendo um fator importante a ser utilizado, por exemplo, durante a marcha,
como forma de prevenção das quedas.
Lembrete
É durante a realização da marcha que se torna possível a observação do grau de evolução da doença.
O padrão da marcha na DP é chamado festinada, sendo caracterizada por passos curtos e pequenos, em
122
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
que há o arrastar dos pés, hesitação para iniciar, parar ou mudar de direção. A dissociação entre tronco
superior e inferior está reduzida e ainda pode ser acompanhada por aceleração involuntária.
A manifestação da doença não se faz presente apenas durante a marcha, a escrita também sofre
modificações, uma vez que as letras se tornam cada vez menores (micrografia).
Com a progressão da doença, o paciente passa a apresentar a disfagia, fator que pode colaborar para
a broncoaspiração da própria saliva e predispor o paciente a complicações respiratórias.
123
Unidade II
O tremor é de repouso, porém diante de atividades como marcha, esforço mental ou estresse
emocional pode aumentar. Além disso, pode ser uni ou bilateral e predomina nos segmentos distais
dos membros, sendo comparado nos membros superiores ao movimento de contar nota de dinheiro
ou enrolar pílulas, devido à alternância entre os movimentos de pronação e supinação de antebraço
e dos dedos.
Com a evolução do processo de degeneração da DP, poderá ocorrer uma tendência de não
desaparecimento do tremor durante os movimentos voluntários, podendo ser observado também nas
regiões da cabeça, pescoço e até mandíbula.
A instabilidade postural é um dos últimos sinais clínicos a se apresentar no paciente com DP. É
resultado da perda de reflexos que permitem a readaptação postural. Somado às alterações observadas
na postura e na marcha também corresponde um fator preditivo de maior risco de quedas.
Diagnóstico
De acordo com o quadro clínico clássico na síndrome parkinsoniana, para a maioria dos pacientes, a
confirmação do diagnóstico não é um processo complexo, porém pode haver certa dificuldade sobretudo
nas fases iniciais da doença.
A classificação das formas possíveis de parkinsonismo inclui a forma primária (doença de Parkinson
idiopática e as formas hereditárias), a secundária e o parkinsonismo plus (ou atípico) (BARBOSA;
SALLEM, 2005).
O parkinsonismo plus ou atípico é aquele caracterizado por quadros neurológicos em que uma
síndrome parkinsoniana, expressa por acinesia e rigidez (sem tremor), está associada a distúrbios
autonômicos, cerebelares, piramidais, de neurônios motor inferior ou, ainda, de motricidade ocular
extrínseca (BARBOSA; SALLEM, 2005).
124
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Para o diagnóstico das síndromes parkinsonianas, além dos sinais clínicos verificados no exame
neurológico, a anamnese e os exames de imagem como tomografia de crânio e ressonância magnética,
análise do liquor e avaliação metabólica auxiliam na confirmação do diagnóstico.
Na DP, ou parkinsonismo primário, exames de imagem podem ser solicitados, porém com o objetivo
de excluir outras doenças do SNC.
• traumatismo cranioencefálico;
125
Unidade II
Ainda segundo Nitrini e Bacheschi (2015, p. 229), as causas de parkinsonismo plus são:
• degeneração corticobasal.
Nitrini e Bacheschi (2015) apontam que a tomografia por emissão de pósitrons permite a observação
da atividade dopaminérgica e sua insuficiência no estriado, mesmo em indivíduos assintomáticos. Porém
trata-se de um exame de difícil acessibilidade aos pacientes, sendo muitas vezes utilizado como método
de investigação científica.
Tratamento
Embora ainda não haja uma compreensão total sobre as causas da degeneração dos neurônios
dopaminérgicos da substância negra, acredita-se que a origem inicial dos sinais clínicos seja decorrente
do desequilíbrio entre a dopamina e a acetilcolina no estriado.
126
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Por essa característica da levodopa, o médico necessitará administrar uma dosagem mais elevada,
cerca de 3-4 g por dia. Atualmente, há inibidores periféricos da dopa-descarboxilase (carbidopa e
benserazida), que auxiliam no controle dos efeitos colaterais e redução da dose para 1 g por dia (NITRINI;
BACHESCHI, 2015).
A maioria dos pacientes utiliza a levodopa, e dependendo da gravidade do quadro clínico, seu uso
será combinado a outras drogas. Em longo prazo, sua eficácia reduz e simultaneamente ocasiona efeitos
colaterais como flutuações motoras, alucinações e alterações psíquicas e movimentos involuntários.
A perda da eficácia na ação da levodopa parece estar associada à própria evolução da doença,
com a progressiva morte dos neurônios dopaminérgicos. Para Nitrini e Bacheschi (2015), entre dois e
cinco anos após o início do tratamento com levodopa, 50% dos pacientes desenvolvem flutuações do
desempenho motor relacionadas ao fármaco. Essas oscilações são associadas a fatores farmacocinéticos
e farmacodinâmicos, e um deles acredita ser a estimulação intermitente dos receptores dopaminérgicos
exercida pela dopamina gerada a partir da droga.
127
Unidade II
Com relação às complicações motoras associadas ao uso crônico da levodopa é importante ressaltar
a deterioração do fim de dose (wearing off) e as discinesias que são os movimentos involuntários do
tipo coreico e distônico (NITRINI; BACHESCHI, 2015). Em fases avançadas, há ainda as oscilações entre
os períodos em que o paciente flutua em estado sob efeito da levodopa (estado on) a outro em que o
efeito da droga diminui e os sinais do parkinsonismo voltam com gravidade (estado off).
Essas oscilações decorrentes do uso prolongado da levodopa podem ocorrer durante as sessões de
fisioterapia, e assim o fisioterapeuta precisa ficar atento a sua ocorrência para orientar o paciente e seu
cuidador sobre a necessidade de adequação das dosagens dos medicamentos utilizados.
Conforme Nitrini e Bacheschi (2015, p. 229), é possível verificar as principais complicações motoras
relacionadas ao uso prolongado da levodopa:
• acinesia noturna;
• acinesia matinal;
• bloqueio (freezing).
128
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Alguns efeitos colaterais do uso dos anticolinérgicos apontados são constipação intestinal,
dificuldade visual devido à midríase e retenção urinária. No que se refere ao SNC, ainda podem ocorrer
quadro confusional e alucinações, devendo ser evitados em pacientes idosos com declínio cognitivo
(NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Terapia protetora
Atualmente, há drogas cuja ação neuroprotetora é prevenir alguns eventos celulares relacionados
ao processo de degeneração dos neurônios dopaminérgicos. Entre estes estão os inibidores seletivos da
monoamino oxidase (IMAO) tipo B (selegilina e rasagilina), os antagonistas de glutamato e os próprios
agonistas dopaminérgicos.
Tratamento cirúrgico
Procedimentos cirúrgicos para a redução de alguns sintomas, como o tremor e a rigidez, têm sido
realizados já há algum tempo, porém o objetivo inicial era voltado para o trato corticoespinal. Somente
a partir dos anos 1940, passou-se a enfatizar os GB, também visando a redução dos mesmos sintomas,
mas sem as consequências da espasticidade.
Com a utilização da levedopa e dos avanços neurocirúrgicos, hoje é possível maior acesso às
estruturas anatômicas a serem atingidas durante as intervenções cirúrgicas.
O eletrodo implantado possui vários polos, os quais possibilitam ajustes em relação à direção,
frequência e intensidade de estímulo. Tais ajustes são possíveis através da aplicação externa sobre
gerador de estímulos instalado na região subcutânea e abaixo da clavícula. Porém a DBS apresenta
alguns inconvenientes, como risco de infecção, custo elevado e necessidade de ajustes periódicos
(NITRINI; BACHESCHI, 2015).
129
Unidade II
O sucesso desse recurso dependerá de indicação precisa ao paciente, que deve apresentar uma
resposta insatisfatória do controle dos sintomas motores, predomínio de tremor no quadro clínico, que
deve ser unilateral, e também ter menos de 75 anos (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Dessa forma, a abordagem terapêutica da DP também será marcada pela necessidade da intervenção
multidisciplinar. O tratamento medicamentoso deve ser individualizado de acordo com as condições
clínicas de cada paciente, e fatores devem ser considerados, como idade, grau de acometimento e
condições mentais do paciente.
A reabilitação, que será discutida mais a seguir, associada ao tratamento medicamentoso tem se
mostrado eficiente como forma de oferecer melhor qualidade de vida aos portadores da doença de
Parkinson. A fisioterapia é um importante suporte aos pacientes no que diz respeito às limitações
motoras características da doença.
5.3.4 Hipercinesias
As hipercinesias também são resultantes do desequilíbrio das interconexões dos GB, sendo as mais
frequentes a coreia, o hemibalismo, a atetose, a distonia e o tremor.
O termo coreia tem origem grega e significa dança. Trata-se de movimentação involuntária de
início abrupto, explosivo, de curta duração com intensidade e topografia variáveis, além disso, com
caráter migratório.
De maneira geral, embora possua diferentes etiologias, a coreia é resultado da disfunção no estriado
com redução na atividade do GABA e da acetilcolina, e relativa preservação da atividade dopaminérgica.
130
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Hereditárias
Doença de Huntington
Coreia hereditária benigna
Ataxias espinocerebelares
Doença de Wilson
Neuroferritinopatia
Autoimunes
Lúpus eritematoso sistêmico
Síndrome de anticorpo antifosfolípide
Artrite reumatoide
Parainfecciosas (imunomediadas)
Coreia de Sydenham
Coreia gravídica
Encefalite pós-infecciosa e pós-vacinal
Coreias paraneoplásicas
Infecciosas
Encefalopatia pelo HIV
Meningite tuberculosa
Toxoplasmose
Endocardite bacteriana
Encefalite viral (sarampo, varicela, rubéola)
Metabólicas
Hipertireoidismo
Hipocalcemia
Hiper/hipoglicemia
Doenças mitocondriais
Induzidas por drogas/toxinas
Antagonistas dopaminérgicos
Abstinência
Anticonvulsivantes
Antiparkinsonianos
Cocaína
Intoxicações por mercúrio
Vasculares
AVCH, AVCI
A atetose ou coreoatetose é mais frequente em crianças, que sofreram agressões anóxias do SNC.
Corresponde a movimentos mais lentos, sinuosos e acomete os segmentos distais.
O tratamento dessas hipercinesias visa à reposição do equilíbrio entre as vias dos GB. A cirurgia
estereotáxica também pode ser indicada, em especial àqueles que não apresentarem resposta
aos medicamentos.
A eletrofisiologia mostra que na distonia há uma excessiva coativação dos músculos antagonistas
durante o movimento voluntário, acompanhada de propagação de contração de músculos distantes e
não envolvidos no movimento voluntário (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
De maneira geral, no tratamento das distonias são utilizados anticolinérgicos, mas em idosos pode
provocar como efeito colateral a perda cognitiva. A utilização de toxina botulínica é prescrita para as
distonias focais (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
132
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Lembrete
Durante o tremor, ocorre uma contração alternada de músculos agonistas e antagonistas que resulta
em oscilação rítmica de um segmento do corpo.
O tremor pode ser fisiológico ou patológico, sendo exemplos aquele observado no parkinsoniano,
o fisiológico de amplitude aumentada, o cerebelar, o essencial e os secundários a lesões no tronco
encefálico. O médico que fará a investigação diagnóstica precisará levar em conta alguns fatores,
como a história clínica, algumas características como frequência, se ocorre durante o repouso ou no
movimento voluntário.
Com relação à frequência, Nitrini e Bacheschi (2015) relatam uma variação de 2 hertz até 12 hertz,
considerando de baixa frequência e indicativo de natureza cerebelar (2-4 Hz). O tremor parkinsoniano
tem faixa superior, de 4 Hz a 6 Hz. No tremor essencial, sua frequência é mais elevada (6 Hz a 8 Hz), e o
fisiológico se encontra entre 8 Hz e 12 Hz.
A identificação dos fatores que influenciam seu surgimento também auxilia no diagnóstico.
O tremor parkinsoniano é de repouso, predominantemente, embora em alguns pacientes possa
ocorrer o tremor postural. O tremor cerebelar é observado durante o movimento voluntário, sendo
por isso também chamado de ação ou intencional.
Com relação ao tratamento medicamentoso, de maneira geral, o tremor parkinsoniano pode ser
controlado através da utilização de agonistas dopaminérgicos e anticolinérgicos. Para o tremor essencial,
há resposta satisfatória diante dos betabloqueadores adrenérgicos e álcool. O tremor cerebelar é o que
possui menos controle diante de medicamento, mas pode reagir com agonistas GABA (isoniazida, ácido
valproico e clonazepam).
O tremor fisiológico é normalmente subclínico, mas pode ser influenciado por alguns componentes
capazes de torná-lo até incapacitante, e que para seu tratamento precisam ser controlados ou eliminados.
Segundo Nitrini e Bacheschi (2015, p. 237), os fatores que aumentam essa condição são:
• fadiga muscular;
• hipoglicemia;
• tireotoxicose;
133
Unidade II
• hipotermia;
• abstinência de álcool;
• ácido valproico;
• neurolépticos;
• antidepressivos tricíclicos;
O tremor essencial, mais frequente em idosos, possui algumas características, como ausência no
repouso, sendo observado com os membros superiores estendidos, e não apresenta piora diante do
movimento, não está associado a doenças de Parkinson ou cerebelar, e 30% a 50% dos casos associam‑se
à história familiar (NITRINI; BACHESCHI, 2015). Sua fisiopatologia não é conhecida, porém acredita‑se
no envolvimento da alça olivo-cerebelo-rubral, e possui resposta diante de medicamentos como
betabloqueadores, benzodiazepínicos, primidona e fenobarbital.
Saiba mais
134
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Você deve recordar a composição do sistema nervoso central (SNC) pelas substâncias branca e
cinzenta. Essa definição está relacionada aos componentes do neurônio: na substância cinzenta há
maior densidade de corpos celulares dos neurônios, enquanto na substância branca há os axônios
mielinizados, o que confere o aspecto esbranquiçado dessa região (LIMA et al., 2006).
Além dos neurônios, o SN é composto das células da glia, tanto de macróglia (astrócitos e
oligodendrócitos) quanto de micróglia (macrófagos residentes). São os oligodendrócitos mais
frequentes na substância branca central, uma vez que são responsáveis pela produção da bainha de
mielina. No sistema nervoso periférico, a bainha de mielina é produzida pelas células de Schwann
(LIMA et al., 2006).
Nos últimos anos, boa parte dos estudos anatomopatológicos têm dado ênfase à correlação de
diferentes processos patológicos do sistema nervoso à substância cinzenta, porém, atualmente, têm sido
crescente o interesse na substância branca como sede de patologias agudas e crônicas do SNC.
A bainha de mielina é uma estrutura presente, de forma intermitente, nos axônios dos neurônios do
sistema nervoso central e periférico, agindo como uma capa lipoproteica. Essa capa funciona como um
isolante que favorece a propagação do impulso nervoso.
135
Unidade II
Dendritos
Bainha de
mielina
Corpo celular
Axônio
Neurotransmissor
Receptor
Terminais
nervosos
Sinapse
A esclerose múltipla (EM) é a doença desmielinizante mais frequente, sendo caracterizada por um
processo inflamatório que acomete a bainha de mielina de estruturas anatômicas pertencentes ao
sistema nervoso central.
A causa da doença é desconhecida, porém uma hipótese provável é que seja resultado de uma
conjunção de uma predisposição genética e um fator ambiental, que quando presentes provocam
uma disfunção do sistema imunológico. Essa disfunção imunológica é focada à substância branca do
sistema nervoso central, com lesão da bainha de mielina e dos oligodendrócitos (MOREIRA et al., 2000).
136
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Os sintomas clínicos são originados a partir da alteração na condução do impulso nervoso devido à
bainha de mielina (MOREIRA et al., 2000).
Moreira et al. (2000) relatam que as células T autorreativas são mantidas em latência durante um
período de 10 a 20 anos, sendo ativadas por um fator sistêmico ou local (infecção viral, puerpério), e
uma vez expostas novamente a esse autoantígeno, iniciam uma reação inflamatória, denominada surto.
Relatos de pessoas com a doença são encontrados ao longo da história, como a de uma freira alemã,
do século XIV, cuja doença começou aos 16 anos, sendo considerado o caso mais antigo (OLIVEIRA;
SOUZA, 1998).
Em 1868, foi Charcot que realizou a primeira correlação de achados clínicos com a topografia das
lesões desmielinizantes. Seu diagnóstico é essencialmente clínico, não havendo um exame laboratorial
específico, porém os exames de imagem, em especial a ressonância magnética, colaboram para a
identificação das placas de desmielinização (OLIVEIRA; SOUZA, 1998).
Epidemiologia
Durante muito tempo houve a descrição de maior prevalência nas áreas de clima temperado,
principalmente com relação a uma diferença associada à latitude na distribuição da doença, com
destaque para o norte da Europa e dos Estados Unidos, sul do Canadá e Nova Zelândia. Porém, a partir de
1990, houve alteração na distribuição, considerada não real por novos estudos (OLIVEIRA; SOUZA, 1998).
No Brasil, dados epidemiológicos sobre a doença são difíceis, principalmente devido ao diagnóstico
e à grande variabilidade inicial dos sintomas clínicos. De maneira geral, o país é considerado de baixa
prevalência, com uma estimativa aproximada na cidade de São Paulo de 5/100.000 habitantes.
Com relação aos critérios de sexo e grupo étnico, a EM é mais comum no sexo feminino e em
caucasianos, embora alguns estudos brasileiros relatarem que 30% dos portadores são negros.
Anatomia patológica
Embora o processo inflamatório possa ocorrer em qualquer área da substância branca central,
algumas regiões são mais suscetíveis devido a maior distribuição vascular (justificando a concentração
de citoquinas e células inflamatórias), como nervo óptico, área periventricular, transição entre substância
branca e cinzenta, medula espinal, tronco encefálico e cerebelo (OLIVEIRA; SOUZA, 1998).
137
Unidade II
Essas placas variam em tamanho e forma e podem ser analisadas tanto em nível macro como
microscópico. Macroscopicamente podem ser observadas em regiões preferenciais, com uma coloração
rósea acinzentada de contornos nítidos, contrastando com a coloração da substância branca. Os
tamanhos variam entre pouco milímetros até centímetros de diâmetro (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Do ponto de vista microscópico, o aspecto da placa dependerá do momento da lesão. Na fase aguda,
devido ao processo inflamatório, a desmielinização predomina na região das vênulas, com presença de
macrófagos contendo produtos de degradação da mielina. Nesse período, há preservação de axônios e
acúmulo de células linfocitárias associadas a plasmócitos (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Nas lesões crônicas, não há presença de células, mas o surgimento de um processo cicatricial,
denominado gliose, sendo a explicação para a utilização do termo esclerose múltipla (NITRINI;
BACHESCHI, 2015).
A) B)
C) D)
Segundo Oliveira e Souza (1998), a atividade inflamatória das lesões pode ser caracterizada pelos
seguintes eventos:
138
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Nas fases iniciais, é observada uma reação imune mediada por células T, determinando inflamação
e desmielinização. Nas fases mais crônicas, verificam-se reações imunes específicas que resultam não
somente em lesão da bainha de mielina, mas também dos oligodendrócitos.
Quadro clínico
Em 45% dos casos, o primeiro surto costuma envolver o sistema motor na forma de monoparesia
ou paraparesia. As alterações sensitivas, sejam na presença de parestesias ou da sensibilidade
superficial ou profunda, correspondem a 30%. O nervo óptico também pode ser comprometido a
partir do primeiro surto.
• surto-remissiva;
• progressiva primária;
• progressiva secundária;
• surto-progressiva.
139
Unidade II
Tempo
A forma progressiva (primária progressiva) apresenta piora contínua e gradual dos sinais neurológicos,
presentes por seis meses ou mais. Pode até ocorrer estabilização do quadro. Quando a fase progressiva
ocorre após um início em surtos, chamamos forma progressiva secundária (OLIVEIRA; SOUZA, 1998).
Baseado nas estruturas anatômicas mais acometidas nos surtos, podemos citar a presença dos sinais
clínicos mais frequentes, como a síndrome piramidal, sinais sensitivos, cerebelares, medulares e visuais.
140
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
O quadro a seguir mostra as principais manifestações clínicas decorrentes dos surtos da EM.
A fadiga é apontada pelos pacientes (em 87%) como uma das principais manifestações clínicas da
EM, com características importantes como baixa tolerância às atividades de vida diária e sendo muitas
vezes o sintoma mais limitante.
Trata-se de um sintoma subjetivo, caracterizado por sensação de cansaço físico ou mental profundo.
Acomete de 53% a 92% dos portadores, e em torno de um terço dos pacientes corresponde ao primeiro
sintoma, podendo agravar os demais, sendo assim, de importância fundamental para o estado geral dos
pacientes (PAVAN et al., 2007).
Observação
Predisposição à depressão e alterações de sono também são descritas pelos pacientes. A função
cognitiva pode ser comprometida, principalmente a memória. Além das complicações físicas, os aspectos
psicológicos podem estar presentes, como alterações de humor, euforia, depressão e apatia, sendo já
descritos por Charcot (OLIVEIRA; SOUZA, 1998).
Durante a gestação, a doença fica mais branda, sendo observada uma redução de até 80% da taxa
de surtos. Porém, no primeiro trimestre, pode retornar com risco de surtos mais graves. Há dúvidas em
relação à amamentação, sendo de maneira geral não aconselhada (BRASIL, 2021a).
Embora não possua caráter fatal, formas graves são possíveis em pacientes jovens, sendo necessários
cuidados especiais principalmente durante o período dos surtos.
141
Unidade II
Diagnóstico
Assim, o diagnóstico está baseado na junção dos dados obtidos na anamnese e no exame físico,
que demonstrará diferentes sinais clínicos relacionados a estruturas anatômicas diferentes, sugerindo a
existência de surtos.
• dois surtos com duração mínima de 24 horas, separados por um período de no mínimo um mês;
Na ressonância magnética, as placas são visualizadas nas regiões periventriculares, com aspecto
irregular e rugoso, maiores que 6 mm, com localização infratentorial. É possível observá-las nas regiões
de transição entre substância branca e cinzenta.
O potencial evocado é outro exame que pode evidenciar sinais de desmielinização em algumas vias
centrais, como no nervo óptico, sugerindo a existência de surtos passados não observados no exame
físico do paciente.
Tratamento
A abordagem de tratamento global proposto aos pacientes com EM inclui componentes curativo,
profilático, sintomático e de reabilitação. Até o momento não é possível a cura ou a profilaxia, uma
142
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
vez que sua fisiopatologia ainda não é totalmente conhecida. A reabilitação envolve a participação de
diferentes profissionais, devido à diversidade dos sintomas e necessidades funcionais dos pacientes.
Os interferons são proteínas produzidas por quase todas as células de vertebrados e atuam na função
celular e na imunorregulação, sendo utilizadas além da EM, em várias doenças, como lúpus eritematoso
disseminado, artrite reumatoide e linfomas (TILBERY et al., 2000).
Durante o surto, o médico prescreve corticoides endovenosos sob forma de pulsoterapia, com o
objetivo de aumentar o intervalo entre os surtos. Sua função é reduzir a atividade inflamatória e os
sintomas. Com a redução do edema, há tendência de retorno da atividade nas vias nervosas lesadas.
Porém o corticoide não possui capacidade de evitar novos surtos, além de ocasionar efeitos colaterais
(NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Callegaro (2001) aponta como principais efeitos dos imunomoduladores a leucopenia, alteração das
enzimas hepáticas, hipersensibilidade e depressão. Assim, com a abordagem medicamentosa espera‑se a
melhora sintomática, redução da frequência e gravidade das recorrências e da necessidade de internações
hospitalares (BRASIL, 2021a).
Há diferentes tipos de TCTH, mas o utilizado em pacientes com EM é o denominado autólogo, que é
caracterizado pelo fato de o doador ser o próprio paciente, cujas células-tronco são retiradas durante o
processo de remissão da doença (SACCARDI et al., 2005).
Esse TCTH foi proposto aos pacientes com EM nos anos 1990. Vários estudos apontam resultados
favoráveis, principalmente para as formas progressiva primária e secundária, entre eles, sobrevida livre
de progressão e melhora dos sintomas, com redução das lesões observadas na ressonância magnética.
Porém, em estágios mais avançados, foi observada piora da função neuronal (TYNDALL; SACCARDI, 2005).
No Brasil, uma referência de TCTH em pacientes com EM é o Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, sendo possível sua realização pelo Sistema
Único de Saúde (SUS).
143
Unidade II
É importante ressaltar que esse recurso é um procedimento de alto risco, que assim como pode
oferecer resultados positivos esperados, pode gerar efeitos adversos, inclusive o óbito, devido à
imunossupressão presente nas etapas que antecedem o próprio transplante.
Há outra doença que apresenta também o termo “esclerose”. Trata-se da esclerose lateral amiotrófica,
cuja sigla é ELA. É também uma doença desmielinizante?
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) foi descrita inicialmente por Charcot em 1874. Não se trata de
uma doença desmielinizante, pois sua característica fisiopatológica principal é a degeneração progressiva
dos neurônios motores. Diante do acometimento do neurônio motor superior, serão observados os
sinais clínicos de espasticidade, clônus muscular e sinal de Babinski, porém, se o acometimento for
do neurônio motor inferior, estarão presentes sinais de fraqueza muscular progressiva, fasciculações e
amiotrofia muscular, sinônimo de atrofia (PALLOTTA; ANDRADE; BISPO, 2012).
• Lateral: localização no funículo lateral da medula espinal do trato do neurônio motor superior.
De maneira geral, está relacionada a fatores genéticos (20%), sendo o padrão da herança autossômica
dominante, o que determina a forma familiar da ELA, e o restante à forma esporádica (80%). Uma vez
diagnosticada, o prognóstico de vida é dado em média de cinco a dez anos.
ELA esporádica
Há indícios de que a ELA corresponda a uma síndrome caracterizada por diferentes agressões do SNC
que geram um resultado único, sendo a lesão inicial responsável por ativar uma cascata de eventos que
levam à morte seletiva de populações de neurônios susceptíveis.
144
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Embora questionado, acredita-se que o início do processo de degeneração possa ocorrer no próprio
motoneurônio, nos astrócitos, interneurônios e nos neurônios motores corticais. Mas uma das hipóteses
mais prováveis é aquela que associa o início da degeneração no neurônio motor superior, uma vez que
essa célula é capaz de inervar muitos neurônios motores inferiores.
ELA familiar
Essa forma da doença é genética e sua herança autossômica dominante. Corresponde de 5% a 10%
dos casos, a idade média de início é entre 10 e 15 anos, mais cedo do que a forma esporádica, podendo
ser observado um início juvenil ou no adulto jovem.
Sua evolução e manifestação clínica não se distinguem da forma esporádica e acredita-se que 10%
dos pacientes tenham uma mutação no gene da enzima de cobre/zinco superóxido desmutase (SOD1)
no cromossomo 21.
Acredita-se que a redução dessa enzima ocasione aumento do íon superóxido, que se liga ao óxido
nítrico (NO) para formar os radicais livres peroxidonitrila e hidroxila. Esses radicais livres são lesivos para
a célula, uma vez que provocam perioxidação das membranas e modificação de proteínas, resultando
na morte dos neurônios motores.
Já foram descritas mais de 100 mutações na SOD1, sendo a substituição de valina por alanina na
posição 4 (A4V), a mutação mais comum. Outros genes também podem sofrer mutações como 9q34,
9q21-22, 2q33, 15q15-22.
Devido as suas implicações clínicas, e principalmente ao seu prognóstico, a ELA é alvo de estudos
constantes, havendo diferentes teorias atualmente em investigação. Vamos citar, de forma resumida,
algumas delas:
145
Unidade II
• Fatores tróficos: deficiência de fatores tróficos transportados por fluxo axoplasmático anterógrado
ou retrógrado.
• Estresse oxidativo: indícios de que o motoneurônio tenha reduzida capacidade de defesa contra
o estresse oxidativo.
• Lesão mitocondrial: parece ser um fator importante no processo de morte dos motoneurônios
nas formas da ELA.
• Meio ambiente: ainda não foi encontrada uma relação entre um fator ambiental e a ELA, com
exceção da ilha de Guam, em que houve uma associação inicial com o número de casos e um fator
exógeno, ou seja, uma palmeira do grupo cica, utilizada como fonte de alimento no preparo de
farinha ou para abrasão da pele. Suas sementes possuem BMAA (beta-n-metilamino-l-alanina),
cuja ação excitatória sobre os receptores NMDA (N-metil-d-aspartato) é semelhante à ação
do glutamato.
• Infecções virais: teoria de que a doença seja resultado tardio de uma infecção subclínica de
alguns vírus, como a poliomielite.
Sendo assim, sua causa ainda não é esclarecida, e quando é observado o primeiro sintoma, grau de
degeneração dos neurônios motores, encontra-se em grau avançado (80%) (BRASIL, 2020).
A incidência da ELA está entre 1 e 5 casos para 100 mil habitantes, sendo mais frequente no sexo
masculino. Como fator preditivo da doença, está a faixa etária compreendida entre 55 e 75 anos de
idade (BRASIL, 2020).
O quadro clínico será dependente do neurônio motor envolvido, sendo então os sintomas resultados
da topografia de degeneração bulbar, cervical, torácica e lombar. Importante ressaltar que na ELA não
há comprometimento sensitivo, sendo um critério para a exclusão do diagnóstico da doença.
O quadro bulbar é caracterizado pelos sintomas disartria e disfagia, que podem ser decorrentes da
degeneração do neurônio motor inferior (paralisia bulbar), ou superior (paralisia pseudobulbar) ou até
mesmo de ambos.
146
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
A paralisia bulbar está associada à paralisia facial inferior e superior e dificuldades de movimento
palatal, com atrofia, fraqueza e fasciculações da língua. Na paralisia pseudobulbar há labilidade
emocional (risada ou choro patológicos), aumento do reflexo mandibular e disartria (BRASIL, 2020).
A ELA de início cervical possui comprometimento predominante nos membros superiores, uni ou
bilateralmente, sendo observadas fraqueza muscular e atrofia, presentes na realização das atividades
funcionais com movimentos de ombro e segmentos distais. Essas limitações decorrem da degeneração
do NMI, NMS ou de ambos (BRASIL, 2020).
Na ELA de manifestação lombar, a degeneração dos neurônios motores dessa região ocasiona em
sintomas como dificuldade em subir e descer escadas, devido à fraqueza proximal e presença de pé caído
(fraqueza distal).
Assim, o quadro clínico da ELA é complexo, sendo que seus sintomas podem, de maneira geral, serem
subdivididos em (BRASIL, 2020):
São considerados fatores de risco para o desenvolvimento da ELA, que reforçam a relação de
prevalência entre o sexo masculino: trauma físico, mecânico, elétrico ou até mesmo cirúrgico.
Há indícios de que haja uma relação entre a ELA e a prática de atividade física intensa, sendo que
até um tempo atrás, era aconselhado aos pacientes com doença neurodegenerativa a redução de sua
prática devido ao risco de progressão acelerada da degeneração.
Na literatura, há a descrição de casos de ELA entre praticantes de atividades como futebol e beisebol;
nos EUA, a doença recebe o nome de um famoso jogador da década de 1940, Lou Gehrig. A necessidade
aeróbica intensa nesses esportes poderia favorecer microtraumas musculares, liberação de substâncias
tóxicas, que ao serem absorvidas pelo botão terminal do nervo periférico, levam ao corpo celular do
neurônio motor a ativação do processo degenerativo e morte celular.
147
Unidade II
Diagnóstico
O diagnóstico da ELA é essencialmente clínico para 95% dos casos, mas pode ser auxiliado através de
exames, como eletromiografia para verificação do acometimento do neurônio motor inferior (NMI) e a
estimulação magnética do córtex para confirmação do comprometimento do neurônio motor superior
(NMS) (PALLOTTA; ANDRADE; BISPO, 2012).
O quadro a seguir resume algumas condições clínicas que auxiliam no diagnóstico diferencial da ELA.
148
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Outras doenças do NM: esclerose lateral primária, atrofia muscular progressiva, atrofia muscular espinal
Doenças tóxicas/metabólicas: hipertireoidismo, intoxicação por metais pesados
Doenças infecciosas: infecção por HIV
Fasciculações benignas
Amiotrofia monomélica: doença de Hirayama
Tratamento
O tratamento deve ser iniciado precocemente, logo após o diagnóstico, embora não haja
cura, evidências demonstram que a intervenção precoce possibilita melhora na qualidade de vida
dos pacientes.
A abordagem terapêutica vem sendo testada em diferentes ensaios clínicos, porém apenas um
medicamento, o Riluzol, tem evidenciado resultados como leve melhora de sintomas bulbares e da
função motora dos membros e aumento da sobrevida.
Do ponto de vista sintomático, algumas drogas podem amenizar e trazer alívio aos pacientes:
Das medidas não farmacológicas, com o avançar da doença, o paciente evolui com fraqueza da
musculatura inspiratória, sendo necessário suporte ventilatório não invasivo em suas diferentes
modalidades, possibilitando aumento na sobrevida e qualidade de vida nesse período. O suporte
ventilatório deve ser associado ao treino de força da musculatura inspiratória (BRASIL, 2020).
Embora seja considerada uma doença relativamente rara, 1 caso para 100.000 pessoas/ano,
representa um grande impacto pessoal e social para o indivíduo e a sociedade.
149
Unidade II
A abordagem de reabilitação junto aos pacientes com ELA é complexa, multidisciplinar e envolve
reavaliações periódicas. A combinação da terapêutica medicamentosa e a reabilitação possibilitam
aumento na sobrevida do paciente. Discutiremos a intervenção fisioterapêutica na unidade III.
A Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABrELA) é uma referência aos pacientes
portadores da ELA e aos seus familiares, pois oferece atendimento realizado por assistente social,
principalmente aos que não possuem orientação a respeito do diagnóstico. Além disso, são
atribuições da ABrELA:
• Empréstimo e doação de material, como cadeira de rodas, de banho, fraldas descartáveis, cama
hospitalar e outros.
A ABrELA não realiza atendimento multiprofissional, mas auxilia na identificação dos recursos mais
próximos do paciente.
Saiba mais
Do ponto de vista anatômico, o sistema nervoso pode ser classificado em central e periférico. O
sistema nervoso central (SNC) é composto de encéfalo e medula espinal, contidos, respectivamente, na
calota craniana e no canal vertebral.
O sistema nervoso periférico (SNP) está relacionado com nervos cranianos, espinais, terminações
nervosas livres, gânglios e sistema nervoso autônomo periférico.
150
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
• Velocidade de instalação: a neuropatia pode ser aguda (menos de uma semana), subaguda
(menos de um mês), crônica (mais de um mês).
• Tipo de fibra nervosa envolvida: a neuropatia pode ser motora, sensitiva, autonômica ou mista.
Com relação ao padrão de envolvimento do SNP, pode-se dizer que na polineuropatia ocorre o
acometimento simétrico, bilateral e distal dos nervos.
Geralmente as causas das polineuropatias estão associadas a agentes que atuam difusamente no
SNP, como substâncias tóxicas, doenças carenciais, metabólicas sistêmicas e reações imunes.
A lesão pode ser focal (mononeuropatia) quando envolve apenas um nervo ou, então, multifocal
(mononeuropatia múltipla). No caso dessa última, com a evolução do quadro, poderá haver
acometimento simétrico e bilateral, simulando uma polineuropatia, porém os exames demonstrarão
acometimentos em diferentes fases e estágios, o que confirma a mononeuropatia múltipla (NITRINI;
BACHESCHI, 2015).
A etiologia das lesões focais geralmente está relacionada a situações de compressão, lesão mecânica,
térmica ou elétrica, radiação, lesão vascular ou neoplásica.
151
Unidade II
O acometimento da bainha de mielina pode ser primário ou secundário, após uma doença axonal. A
desmielinização segmentar é o processo em que a bainha é lesada de forma focal, importante reforçar
que é muito suscetível a lesões; no acometimento secundário, o axônio é lesado e é desenvolvida a
degeneração walleriana.
Função motora
Um dos achados clínicos mais frequentes nas neuropatias é a redução da força associada à perda do
trofismo muscular.
Em decorrência da lesão do neurônio motor inferior ainda é observada a hipotonia muscular, bem
como a redução ou abolição dos reflexos tendíneos.
De acordo com o tipo de neuropatia, pode existir um padrão na distribuição do acometimento. Por
exemplo, na polineuropatia o acometimento motor inicial é distal, sendo evidente nos músculos de
pernas e pés, e mais tardiamente, porém menos grave, nos músculos de mãos e antebraço, é o caso das
neuropatias nutricionais, metabólicas e tóxicas (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Outros sinais, como fasciculações e cãibras, não são frequentes nas polineuropatias.
Função sensitiva
152
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Lembrete
Ataxia sensitiva
Ocorre diante do comprometimento das fibras nervosas grossas que são responsáveis pela condução
da informação proprioceptiva. Quando está presente nos membros superiores, pode ser observada na
forma de movimentos pseudoatetoicos nos dedos quando os membros são mantidos estendidos e os
olhos fechados.
Alterações no trofismo muscular ocorrem principalmente devido à perda gradativa da inervação motora.
Deve haver um cuidado especial diante da analgesia distal dos membros, devido ao risco de
desenvolvimento de úlceras e até amputações. A osteartropatia neurogênica, também conhecida
como juntas de Charcot, caracteriza-se pela instalação rápida de grandes deformidades articulares
e analgesia.
153
Unidade II
Alterações autonômicas
• ausência de lágrimas;
154
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
• inexistência de saliva;
• impotência sexual;
6.1.3 Diagnóstico
O diagnóstico das neuropatias periféricas é em grande parte favorecido pela identificação das
manifestações clínicas. Alguns exames são solicitados para o diagnóstico, para determinação das estruturas
anatômicas comprometidas e a respectiva etiologia.
• eletromiografia (EMG);
• biópsia;
Entre estes, a eletromiografia é um dos mais confiáveis, uma vez que possibilita a observação da
atividade elétrica dos músculos.
Em situações normais e de repouso não é observado no EMG atividade elétrica muscular, o que
em condições patológicas, as unidades motoras podem apresentar atividade espontânea, como, por
exemplo, nas fasciculações e descargas miotônicas.
Observação
155
Unidade II
Outro aspecto clínico a ser observado é a velocidade de condução nervosa, que pode ser realizada
através do exame do potencial evocado. O potencial evocado é uma técnica de estimulação dos nervos
que objetiva a produção de um potencial de ação através da utilização de eletrodos. Para verificar a
velocidade de condução, estimula-se dois pontos do nervo e divide-se a distância entre os pontos pela
diferença entre seus tempos de latência. Considera-se tempo de latência o tempo mínimo verificado
entre a estimulação e a resposta do nervo estimulado.
A determinação do diagnóstico das neuropatias periféricas não é um processo fácil, devido a sua
grande variabilidade, e em 24% dos casos pode ser não conclusivo. A seguir, vamos abordar as mais
frequentes, e, cuja instalação do quadro clínico é agudo.
Sua incidência anual é de 1-4 casos por 100 mil habitantes, e a principal faixa etária está entre 20 e
40 anos de idade, sendo o maior acometimento no sexo masculino (BRASIL, 2021b).
O quadro clínico é agudo e caracterizado por um déficit motor ascendente, com acometimento
dos nervos distais e posteriormente das raízes nervosas, com redução da força muscular e arreflexia
tendínea. Para a maioria dos pacientes, o quadro se apresenta com parestesia nas extremidades dos
membros inferiores e em seguida para os membros superiores. Cerca de 50% dos pacientes relatam dor
neuropática na região lombar e pernas. Um dos principais sintomas é a fraqueza muscular nos músculos
distais e proximais dos membros inferiores, superiores e em seguida os do tronco. Geralmente ocorre a
preservação do controle esfincteriano (BRASIL, 2021b).
156
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Os músculos da mastigação, do palato e da face também podem ser envolvidos, e cerca de 5% a 15%
apresentam paresia oftálmica e ptose.
Embora seja uma neuropatia desmielinizante, apenas 15% dos pacientes não permanecerão com
comprometimento sensitivo ou motor. Há possibilidade de recorrência para 3% dos casos, não tendo
sido observada relação com as estratégias de tratamento utilizadas durante a fase aguda. A recuperação
tende a ser total para a maioria dos pacientes, com exceção dos casos em que houver lesão axonal.
Um pior prognóstico geralmente está relacionado com pacientes acima dos 50 anos e com instalação
aguda e grave da fraqueza muscular.
• Clínicos:
— dor;
— disfunção autonômica;
157
Unidade II
• Análise do liquor:
• Estudos eletrofisiológicos:
Saiba mais
SGB e COVID-19
Outra neuropatia de instalação aguda é a diftérica. Trata-se de uma doença infecciosa causada pelo
Corynebacterium diphtheriae. Nessa neuropatia há desmielinização sem reação inflamatória de raízes
espinais, gânglio sensitivo e nervos espinais adjacentes. Não há comprometimento dos axônios.
158
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
O envolvimento do sistema nervoso inicia com a paralisia do palato (a voz se torna anasalada,
acompanhada de regurgitação e disfagia) entre o quinto e o décimo segundo dia da doença. Pode haver
acometimento de outros nervos como trigêmeo, facial, vago e hipoglosso.
Com relação à visão, geralmente a partir da segunda semana pode ocorrer perda da acomodação e
borramento da visão, porém não é comum o comprometimento dos músculos oculares externos.
Após esse período, poderá ocorrer a regressão do quadro, porém também pode haver o
desenvolvimento da polineuropatia sensitivo motora por volta da quinta e da oitava semana de
doença. A neuropatia pode ser caracterizada por fraqueza muscular discreta e parestesias distais,
mas em alguns casos, o quadro pode ser mais grave, com evolução progressiva da fraqueza nos
quatro membros e até da musculatura respiratória. O óbito pode ser resultado das complicações
respiratórias ou da insuficiência cardíaca, caso contrário, é observado para a maioria uma regressão
total dos sintomas.
Os sinais clínicos incluem parestesias, dor muscular, atrofia e fraqueza muscular, ausência dos
reflexos profundos e diminuição da sensibilidade.
Dois fatores estão associados ao seu desenvolvimento: o abuso de álcool e o déficit nutricional.
Cerca de 9% dos pacientes alcoólatras desenvolvem essa neuropatia, sendo mais frequente no sexo
feminino (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
O fator nutricional envolvido não é definido, porém os sinais clínicos podem estar associados com a
deficiência de tiamina, piridoxina, ácido pantotênico ou cobalamina.
Há uma distribuição simétrica das alterações motoras e sensitivas, sendo predominantes nos
membros inferiores, onde são observadas abolição dos reflexos profundos e fraqueza muscular. O padrão
de distribuição da alteração sensitiva segue na forma em bota e luva.
Também são verificadas alterações tróficas na pele, como edema, hiperpigmentação, espessamento,
úlcera perfurante plantar e artropatia. Não há acometimento dos nervos cranianos.
É comum a associação com outras manifestações clínicas relacionadas ao alcoolismo, como anemia,
insuficiência hepática, degeneração cerebelar e doença de Wernicke-Korsakoff.
159
Unidade II
A deficiência da vitamina B12 leva ao acometimento da medula espinal, na região da coluna posterior
e lateral, o que é denominado degeneração combinada subaguda. Mas, pode ocorrer evolução para
uma polineuropatia, composta de alterações sensitivas (parestesias dos dedos dos pés e das mãos, ataxia,
perda da sensibilidade profunda, hipoestesia térmica e dolorosa), arreflexia patelar e aquiliana, fraqueza
muscular e atrofia.
Segundo Nitrini e Bacheschi (2015), a absorção ativa da vitamina B12 no íleo depende de sua ligação
com um fator intrínseco produzido na mucosa gástrica. Seguem algumas condições que podem resultar
na deficiência dessa vitamina:
• Redução na oferta.
Há uma variação na prevalência em torno de 7,5% quando na descoberta da doença e de 50% após
25 anos. Cerca de 15% dos pacientes com diabetes apresentam manifestações de neuropatia, mas é rara
em crianças diabéticas.
De acordo com a apresentação dos sinais clínicos, as neuropatias periféricas decorrentes do diabetes
podem ser classificadas da seguinte forma:
160
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
• Polineuropatia simétrica:
Observação
Moreira et al. (2005) apontaram que, de modo geral, 61% dos pacientes diabéticos com
amputação de extremidades apresentam neuropatia, 46% isquemia, 59% infecção, 81%
ferida com dificuldade de cicatrização, 84% úlceras cutâneas, 55% gangrena e 81% pequeno
traumatismo com fator desencadeante.
161
Unidade II
A neuropatia autonômica é caracterizada por sinais clínicos, como disfunção pupilar e lacrimal,
hipotensão postural, alteração da sudorese e reflexos vasculares, atonia do trato gastrointestinal, diarreia,
atonia vesical, ejaculação retrógrada e impotência sexual. Uma evolução possível é a hipoglicemia sem
a presença de sinais clínicos usuais, que pode levar o paciente ao coma.
A neuropatia de nervos cranianos é mais comum em pacientes idosos, em que a alteração do terceiro
nervo é mais frequente, sendo seu início abrupto e podendo ser indolor ou estar associada à cefaleia.
O diabetes mellitus também pode acometer os nervos de maneira isolada, sendo possível a lesão
dos nervos dos membros e do tronco. Os mais acometidos são: nervo ulnar, mediano, radial, femoral e
cutâneo lateral da coxa. Seu quadro clínico é agudo e a dor é uma das principais manifestações.
A neuropatia motora proximal, também conhecida como amiotrofia diabética, causa fraqueza
muscular e atrofia de maneira assimétrica nos músculos proximais de membros inferiores, região lombar
e perínea. Os músculos dos membros superiores são preservados. Além da atrofia, observa-se ausência
dos reflexos tendíneos e a dor, quando presente, é predominante no período noturno.
A lesão axonal tende a ser progressiva, sendo predominante nos pacientes com maior grau de
dificuldade no controle glicêmico (MOREIRA et al., 2005).
Como são inúmeras as etiologias das neuropatias periféricas, o quadro a seguir exibe, de maneira
geral, alguns outros tipos, bem como sua respectiva etiologia.
162
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Ainda é importante citar que há um grupo de neuropatias resultado de herança genética. Geralmente
a evolução desse grupo tende a ser crônica e com comprometimento dos nervos simétricos (NITRINI;
BACHESCHI, 2015).
O grupo das neuropatias com caráter hereditário pode ser subdividido em:
Agora, vamos abordar o acometimento de outras estruturas periféricas que também podem ser
envolvidas em lesões e patologias específicas.
Plexo braquial
O plexo braquial dá origem aos nervos periféricos responsáveis pela inervação dos músculos dos
membros superiores. Sua formação ocorre pela junção dos ramos anteriores das quatro últimas raízes
cervicais e da primeira torácica.
163
Unidade II
As mais frequentes causas de lesão no plexo braquial envolvem traumatismo por ferimento por
arma de fogo ou branca, torções do membro superior, traumatismo durante o nascimento (paralisia
obstétrica), compressão direta por alterações posturais na região da cervical, fáscias ou tumores, lesão
cirúrgica e lesão pós-radioterapia.
A paralisia braquial mais comum é aquela observada diante do estiramento das raízes superiores
do plexo C5 e C6 (paralisia braquial superior), geralmente após traumatismo obstétrico. No quadro
clínico, há paralisia proximal do membro superior dos músculos deltoide, supraespinal, infraespinal,
bíceps braquial, romboide e braquiorradial. Diante disso, o paciente é incapaz de abduzir ou rodar
externamente o braço, fletir e supinar o antebraço. Há ausência dos reflexos tendíneos braquiorradial
e bicipital, e há hipoestesia na região lateral do antebraço e mão (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
Na paralisia braquial inferior, lesão das raízes C8-T1 ocasiona paralisia, atrofia e hipotonia dos
músculos intrínsecos da mão, região tenar e hipotenar e dos interósseos e lumbricais, associada à
ausência dos reflexos dos flexores dos dedos; anestesia ou hipoestesia do dedo mínimo, face medial
do anular, mão e antebraço. As dificuldades funcionais presentes estão nos movimentos de flexão
de punho e dedos e os dependentes dos músculos intrínsecos da mão. As causas dessa paralisia são
traumatismo por arma branca ou de fogo, tumores no ápice do pulmão (síndrome de Pancoast) e
tumores extradurais (neurinomas).
Plexo lombossacro
Os ramos anteriores das raízes lombares e das três primeiras raízes sacrais compõem o plexo
lombossacral, responsável pela inervação dos músculos dos membros inferiores.
A lesão das primeiras raízes lombares (L1-L4) provoca paralisia no músculo quadríceps (dificuldade no
movimento da extensão do joelho) e do músculo íleopsoas (dificuldade na flexão do quadril), associada
à ausência do reflexo patelar, hipoestesia na coxa e face anteromedial da perna. O paciente apresentará
limitação funcional para levantar da cadeira e subir escadas.
A lesão de L5 gera paralisia dos músculos glúteos, posteriores da coxa, dorsiflexores do tornozelo e
pé. O paciente não realiza o movimento de dorsiflexão do tornozelo (marcha escarvante) e é incapaz de
andar nos calcanhares (NITRINI; BACHESCHI, 2015).
A lesão das raízes S1-S2 resulta em paralisia dos músculos extensores dos pés e dedos, com ausência
do reflexo aquileo, e o paciente apresenta dificuldade em manter a postura bípede com apoio na
ponta dos pés.
Geralmente as causas dessas lesões estão associadas a processos degenerativos como hérnias de
disco, tumores intrarraquianos, traumas por arma de fogo ou branca, fratura da pelve e trauma obstétrico.
164
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Nervo mediano
Nessa paralisia, haverá limitação para pronação do antebraço, flexão dos três primeiros dedos e
na oponência do polegar, além de hipoestesia na região terminal de distribuição do nervo, isto é, lado
externo da face palmar da mão.
Nervo ulnar
A lesão do nervo ulnar geralmente está associada a situações como fraturas e artropatias crônicas
do cotovelo, traumatismos por arma de fogo ou arma branca e neurite leprosa.
Haverá limitações para os movimentos de flexão-adução do punho, flexão das falanges proximais,
abdução e adução dos dedos, adução do polegar e movimentos do dedo mínimo. Há atrofia muscular
entre o polegar e o indicador, entre os tendões extensores no dorso da mão e na eminência hipotenar.
Os dedos anular e quinto dedo mantêm-se com a falange proximal em extensão e as outras em flexão
(garra ulnar).
Hipoestesia pode ser observada no dedo mínimo e na metade interna do dedo anular (NITRINI;
BACHESCHI, 2015).
Nervo radial
Lesões do nervo radial acarretam comprometimento dos músculos extensores de cotovelo, punho e
dedos, além do braquiorradial, sendo resultantes de fratura do úmero ou compressão do nervo, quando
durante o sono, o membro superior pode ser mantido pendente e em extensão; também pode ser
resultante de intoxicação por chumbo. A mão caída é acompanhada por hipoestesia no dorso da falange
proximal do polegar e primeiro espaço interósseo.
O nervo fibular comum pode ser acometido diante de processos de compressão do nervo sobre a
cabeça da fíbula, traumatismo por arma de fogo ou fraturas da fíbula e neurite leprosa.
Limitações no movimento de flexão dorsal, abdução do pé e extensão dos dedos estão presentes.
Hipoestesia ocorre na região lateral da perna e do dorso do pé.
165
Unidade II
O prognóstico de recuperação de uma lesão periférica depende dos fatores, tipo e local da lesão, mas
também da estrutura anatômica envolvida.
De modo geral, as lesões em que a bainha de mielina é a parte comprometida, costumam apresentar
bom prognóstico, devido à capacidade de regeneração da bainha de mielina pela ação das células de
Schwann. Já aquelas em que o axônio é lesado, a recuperação total nem sempre é possível. Além disso,
os nervos são altamente suscetíveis a processos isquêmicos.
A composição estrutural dos nervos periféricos envolve a presença de axônios, células de Schwann
e tecido conjuntivo.
Inicialmente, os axônios são agrupados em feixes paralelos, denominados fascículos, que são
revestidos por bainhas de tecido conjuntivo frouxo, que auxiliará na regeneração axonal.
O endoneuro reveste cada axônio de forma individual, possui uma matriz de colágeno frouxo, cujas
fibras formarão as paredes de proteção dos tubos endoneurais.
O perineuro é o próximo tecido conjuntivo que reveste um feixe de axônios, e separa as fibras
nervosas em fascículos em fibroblastos, macrófagos, mastócitos, linfócitos e adipócitos.
O epineuro, composto de tecido conjuntivo frouxo é o que engloba todo o tronco nervoso por toda
sua extensão.
As células de Schwann são responsáveis pela produção da bainha de mielina, complexo lipoproteico,
que possui papel importante nos processos degenerativo e regenerativo. Durante a regeneração, essas
células auxiliam o crescimento das fibras nervosas em regeneração, além disso, a bainha de mielina
favorece a velocidade de condução nervosa.
Além da bainha de mielina, os axônios são altamente vascularizados, sendo as artérias ricas em
vasos colaterais.
Tipos de lesão
central. Nessa comparação, é apontada a grande capacidade das células nervosas periféricas em
se recuperar diante de alguns tipos de lesão. Porém é importante ressaltar que fatores como tipo,
localização e estruturas envolvidas na lesão também contribuem para um maior ou menor grau de
recuperação funcional.
O interesse pelas lesões nervosas periféricas, assim como por técnicas de reparo, é descrito na história
da medicina há muito tempo. Galeno foi o primeiro a distinguir nervos e tendões em 130‑200 d.C.
Mas foi durante, e principalmente, após a Segunda Guerra Mundial que Mitchell descreveu suas
observações clínicas sobre as lesões nervosas periféricas e incluiu suas descrições de causalgia, ou
dor em queimadura. A nomenclatura utilizada diante das lesões traumáticas até hoje empregada foi
estabelecida por Seddon, em 1975. Segundo esta, a lesão traumática dos nervos pode ser dos tipos
neuropraxia, axonotmese ou neurotmese (SIQUEIRA, 2007).
As causas traumáticas são as mais frequentes para as lesões nervosas periféricas. Dependendo do
grau de acometimento do nervo, essa lesão pode ser classificada em:
• Neuropraxia: é uma lesão discreta em que não há perda estrutural do nervo, porém ocorre perda
sensitiva e motora. Possui bom prognóstico de recuperação funcional.
• Neurotmese: essa lesão é caracterizada pela transecção total do nervo, havendo necessidade
de intervenção cirúrgica como forma de tratamento e cuja recuperação possui menor
prognóstico, devido ao surgimento de tecido cicatricial entre os segmentos proximal e distal
do nervo transeccionado.
De maneira geral, podemos concluir que quanto maior o grau do acometimento das estruturas que
compõem o nervo, mais lenta e difícil será a recuperação funcional.
Vamos relembrar os processos celulares que se instalam após uma lesão axonal.
Essa degeneração será realizada em 48-96 horas após a transecção do nervo, sendo esse processo
denominado degeneração walleriana ou anterógrada.
167
Unidade II
Cromatólise
Lesão
Fragmentos axonais
e de mielina
Células de Schwann permissivas da
regeneração axonal: Bandas de Büngner
Cone de crescimento
A fagocitose da bainha de mielina e dos segmentos distais do axônio será realizada pelas células de
Schwann e pelos macrófagos liberados pela corrente sanguínea no local da lesão.
No segmento proximal, haverá degeneração retrógrada até o próximo nodo de Ranvier, que por
permanecer unido ao corpo, será uma degeneração restrita. Lesões muito próximas do corpo podem
ocasionar a morte da célula.
Ao nível do corpo celular, também são observadas alterações como edema e deslocamento do núcleo
em direção à periferia acompanhado de uma dispersão dos corpúsculos de Nissl. Essas alterações no
corpo celular são denominadas cromatólise.
É importante ressaltar que mesmo que a lesão ocorra em um neurônio do circuito neural, a
transmissão do impulso elétrico ficará comprometida ao longo de toda a extensão do nervo. Uma vez
cessado o processo de fagocitose dos fragmentos do axônio no coto distal à lesão, as células de Schwann
proliferam e, de maneira geral, passam a se alinhar dentro do tubo de lâmina basal para formar as bandas
de Büngner, que funcionarão como guia aos brotos de axônio em regeneração no segmento proximal.
Nesse segmento proximal, as alterações iniciais seguidas à lesão desaparecem, ou seja, o corpo celular
volta a assumir o tamanho original, o núcleo assume seu posicionamento central. Simultaneamente,
inicia-se um processo de síntese de proteínas que servirão como base para o surgimento de brotos de
axônio a partir do coto proximal.
168
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Assim, podemos afirmar que o axônio estará regenerado quando um dos brotos de axônio conseguir
se direcionar ao tubo da nova bainha de mielina, produzida pelas células de Schwann no segmento
distal, e realizará novamente conexão com a célula-alvo, que nesse caso, vem a ser a fibra muscular.
Com relação ao músculo, cujo nervo foi lesado, então é observada a atrofia e a substituição por
tecido conjuntivo das fibras musculares denervadas durante a primeira semana após a lesão. Já para a
reparação sensorial, não há um período definido para sua ocorrência.
Porém, para que o processo de regeneração possa realmente acontecer, não pode ocorrer a barreira
cicatricial entre os cotos proximal e distal do axônio e substâncias tróficas específicas denominadas
fatores de crescimento neural, que funcionam como sinalizadores dos brotos em direção à nova bainha.
Um dos primeiros fatores de crescimento neural é o NGF (nerve growth factor), porém há outros,
conhecidos como neurotrofinas (NT-3, NT-4/5, GDNF, BDNF). Embora vários brotos de axônio sejam
direcionados à nova bainha, somente um será o substituto do axônio lesado, e os demais, uma vez que
tenha ocorrido a conexão do novo broto com a fibra muscular, irão atrofiar e degenerar.
A regeneração final do axônio pode levar meses, uma vez que o broto proximal em regeneração
cresce, em média, 1-2 mm/dia.
Segundo Siqueira (2007), as complicações mais frequentes que podem ocorrer após o reparo
cirúrgico incluem o neuroma doloroso no local doador do enxerto nervoso, tensão na linha de sutura, a
qual estimulará a formação de tecido cicatricial, e hematoma no local do enxerto, que poderá destruí-lo.
169
Unidade II
Resumo
Nesta unidade foram discutidas as patologias neurológicas mais
encontradas no sistema nervoso central e periférico em pacientes adultos.
A maioria, por apresentar uma consequência sobre a função motora,
necessitará da atuação do fisioterapeuta neurofuncional.
Das patologias de natureza traumática, como o traumatismo
cranioencefálico e raquimedular, foi possível verificar as consequências
funcionais graves que podem ser resultado dessas lesões, em especial diante
de pessoas jovens. Mesmo com a existência de mecanismos neurais plásticos,
essas lesões poderão levar ao óbito, ou então gerar sequelas definitivas que
impeçam o indivíduo de retornar às suas atividades ocupacionais.
Doenças degenerativas e progressivas como a doença de Parkinson,
mesmo sendo mais frequente em idosos, são extremamente limitantes do
ponto de vista funcional, sendo fonte de muitas pesquisas, voltadas para a
compreensão de sua fisiopatologia e sua cura.
Embora apresentem o termo esclerose em comum, a esclerose múltipla
e a esclerose lateral amiotrófica possuem substrato anatomopatológico
muito diferente, mas ambas são formas graves de acometimento
neurológico que necessitarão da intervenção do fisioterapeuta.
As patologias e lesões periféricas possuem grande variedade de
causas e consequentemente prognóstico funcional. Algumas apresentam
um início agudo, podendo evoluir até para o óbito, como a síndrome de
Guillain-Barré, e outras com início e evolução mais lentos e crônico, como
a neuropatia diabética.
A complexidade da fisiopatologia encontrada nas patologias descritas,
assim como o respectivo tratamento médico, permite a você concluir
que haverá a necessidade da atuação multidisciplinar no programa de
reabilitação para os pacientes neurológicos portadores dessas condições
clínicas. Nesse contexto, o papel do fisioterapeuta neurofuncional como
membro ativo junto à equipe multidisciplinar será fundamental.
E ainda pode haver a dúvida: se a fisioterapia atua no programa de
reabilitação, há necessidade do conhecimento da fisiopatologia e do
tratamento médico e medicamentoso? Embora não haja a intervenção
direta do fisioterapeuta nas decisões médicas, ao conhecer os mecanismos
patológicos da doença, os medicamentos e principalmente seus efeitos
colaterais, será possível compreender a evolução do paciente nas sessões
de fisioterapia e orientar tanto ele como o cuidador e familiares sobre os
efeitos colaterais da medicação.
170
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
Exercícios
I – Para avaliar o nível de consciência, pode-se utilizar a escala de coma de Glasgow modificada,
que se baseia na observação das respostas motoras, verbais e oculares após a aplicação de estímulos
pelo terapeuta.
II – O reflexo da pupila à luz geralmente está comprometido nas herniações e nas lesões do
tronco cerebral.
A) I e II, apenas.
C) I e III, apenas.
D) II e III, apenas.
I – Afirmativa correta.
171
Unidade II
na avaliação das respostas motoras, verbais e oculares após estímulo verbal ou doloroso oferecido
pelo terapeuta. Em 2018, a observação do comportamento da pupila foi incluída aos parâmetros
observados, o que deu origem à escala de coma de Glasgow modificada.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: no paciente com TCE, os reflexos das pupilas à luz são testados para se observar se o
reflexo fotomotor está mantido. Esse reflexo geralmente se encontra comprometido nas herniações e
nas lesões do tronco cerebral que ocorrem no mesencéfalo, pois tal estrutura é responsável por controlar
o reflexo pupilar.
Justificativa: o exame da motricidade ocular extrínseca envolve a avaliação dos desvios do olhar, da
presença de movimentos espontâneos e dos movimentos reflexos. Nas lesões entre o córtex e a formação
reticular parapontina, os desvios do olhar lateral são conjugados. Nas lesões dos nervos oculomotor e/ou
abducente, os desvios são desconjugados.
IV – Afirmativa incorreta.
A) O quadro clínico é agudo e caracterizado por déficit motor ascendente, com acometimento dos
nervos distais e das raízes nervosas.
172
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
A) Alternativa correta.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: na maioria dos pacientes, o quadro apresenta-se com parestesia nas extremidades dos
membros inferiores, que evolui para os membros superiores. Cerca de 50% dos pacientes relatam dor
neuropática na região lombar e nas pernas.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a maioria dos pacientes com síndrome de Guillain-Barré evolui bem e se recupera
totalmente, pois, após a fase inicial, observa-se um período de estabilização, durante o qual ocorre a
regeneração das bainhas de mielina.
E) Alternativa incorreta.
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