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MOMIGLIANO, Arnaldo. A tradição Herodoteana e Tucidideana. In: MOMIGLIANO, Arnaldo.

As
Raízes Clássicas da Histerografia Moderna. Bauru: Edusc, 2004, p. 53-85.

1- Sobre os estudos Gregos

“A conservação da memória do passado, o quadro cronológico e uma interpretação dos


acontecimentos, são elementos de uma historiografia que são encontradas em muitas civilizações.
[...] O que me parece tipicamente grego é a atitude crítica em relação ao registro de
acontecimentos, isto é, os desenvolvimentos de métodos críticos que nos permitem distinguir entre
fatos e fantasias. Até aonde vão meus conhecimentos, nenhuma historiografia anterior á dos gregos
ou independente desta, desenvolveu estes métodos críticos; e nós herdamos os métodos gregos.”
(p. 55)

2- Pensamento de Heródoto evidenciando com Hecateu

O tipo de análise de Hecateu “não era aquela de um homem que conhece as suas dificuldades de
recolher a documentação, mas aquela do homem que pressupõe que a documentação é conhecida.
Ele começou por declarar que os relatos dos gregos eram muitos e ridículos. O seu sucessor
Heródoto começou com a declaração que era seu propósito preservar a lembrança de que os
homens tinham feito e impedir que as grandes e maravilhosas ações dos gregos e dos bárbaros
tivessem que renunciar ao tributo de glória que lhes era devido.” (p. 60)

Existe a possibilidade de Heródoto ter dado continuidade ao tipo de análise de Hecateu. “O


instrumento da crítica usado por Hecateu nunca tinha sido muito claro. Usado por Heródoto para
todos os tipos de tradições, estava fadado a tornar-se ainda mais impreciso.” (p. 61)

A diferença de Heródoto e Hecateu está nos princípios do registro e da crítica, distinguir o que viu do
que ouviu com confiança que depositava nos informantes.

“Mas Heródoto voa claramente além de Hecateu tanto na questão dos princípios quanto na questão
dos interesses. Os dois princípios aos quais Heródoto mantém-se constantemente fiel não
encontrados em Hecateu. O primeiro é o dever de dar prioridade a registar e não a de criticar [...] O
segundo princípio é a separação daquilo que ele viu com os próprios olhos daquilo que ele ouviu [...]
em outros casso, quando registra o relato de alguma outra pessoa, ele se dá o trabalho de indicar o
grau de confiabilidade de seus informantes.” (p. 62-3)

“Juntos comportavam uma nova abordagem metodológica em que a confiabilidade da


documentação era mais importante do que a avaliação racional das probabilidades.” (p.63)

Nesse contexto, Heródoto enfrentava alguns problemas, “ao combinar a pesquisa com a crítica da
documentação, Heródoto ampliar os limites da investigação histórica para abraçar a maior parte do
mundo então conhecido. Nesta pesquisa tão complexa, a cronologia torna-se um problema maior.
Ele tinha que construir um quadro cronológico capaz de incluir várias tradições tradicionais
diferentes que nunca tinham sido colocadas lado a lado e para as quais não havia medida comum no
tempo [...] outro problema era como recolher a documentação quando os registros escritos não
eram acessíveis ou não existiam.” (p. 64)

3- Reviravolta dos estudos Históricos de Tucídides

“Heródoto não teria tido esse destino se Tucídides não tivesse dado uma reviravolta nos estudos
históricos; reviravolta que envolvia o repúdio ao seu precessor. Os fatores que contribuíram para os
descréditos de Heródoto foram muitos, mas um deles é o principal: Tucídides colocou-se entre
Heródoto e seus leitores.” (p. 67)
Tucídides focava a história em termos de história política, para ele o passado era “[...] o início da
situação política que existia no presente; e o presente era a base para a compreensão do passado.”
(p. 68). Acreditavam na imutabilidade na natureza humana e que os fatos tem valor se estiverem
ligados a política, pois as pessoas querem poder e o poder está no estado (68-9). Diferentemente de
Heródoto, “[...] ele nunca se contentava em simplesmente registrar algo sem assumir
responsabilidade pelo que registra.” (p. 70)

Sua metodologia de pesquisa baseava-se em dados arqueológicos, a etnografia comparativa e a


intepretação histórica de textos literários. Ele descreve o passado de modo diferente do presente,
pois o passado não é significativo por si só, pois procede do presente de maneira linear, ou seja, o
presente é importante.

4-Influência de Heródoto e Tucídides na Renascença

Se pesarmos na Renascença, podemos deduzir que Políbio( sucessor de Tucídides) tinha mais
consideração que Tucídides, e de fato até o fim o séc. XVII ele permaneceu o mestre do saber
políticos, diplomático e militar.

De acordo com Momigliano, Tucídides só tem prestígio pelos historiadores do séc. XVIII, “em
seguida, o movimento romântico elevou Tucídides á posição que ainda ocupa e o tornou o modelo
do historiador filósofo.” (p.79)

No sec. XVI Heródoto tornou-se um autor renomado e respeitado. Foi Heródoto que resgatou
Tucídides nessa época e ganhou muitos admiradores. A descoberta da América era assemelhada ás
observações de Heródoto sobre o estrangeiro e somente ele ajudava na compreensão da história
bíblica e quando as análises de Heródoto não eram suficientes Tucídides entrava em cena.

“[...] Hoje Heródoto é mais apreciado de modo geral, e certamente mais amado, do que Tucídides”.
A necessidade de uma história mais abrangente, extrapolítica é admitida por todos. Heródoto nos
parece muito mais humano do que Tucídides” [...] são reconhecidos como os dois grandes
fundadores da pesquisa histórica. Heródoto talvez não se importasse, mas Tucídides ficaria
horrorizado com essa associação

Heródoto e Tucídides contribuíram significativamente.

Heródoto com seu método de escrever apenas o que lhe é dito e não criticar. Outro princípio é o de
separar aquilo que ele viu com os próprios olhos daquilo que ele ouviu: até agora, tudo o que eu
disse é resultado da minha própria visão. De agora registrarei as crônicas de acordo com o que eu
escutei.

O destaque da confiabilidade de sua informação é um dos traços mais característicos do método


crítico de Heródoto (fala do Momigliano).Tuc

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